Espaço de Práticas em Sustentabilidade
Casos Práticos / Brascarbon Crédito de Carbono
Dos chiqueiros ao
mercado de carbono
Biodigestor, equipamento que transforma o gás metano em gás carbônico (CO2)
e água e reduz as emissões de gases de efeito estufa
Acabar com a emissão de 700 mil toneladas de gás metano emitida pelos porcos. Com esse claro
objetivo, nasceu a Brascarbon. Dois dos três sócios, Luiz Lasas e Mário Pacífico da Silva, vieram de
grandes empresas do ramo de ração animal e escolheram o mercado de suínos por conhecer bem
os seus problemas. “Percebemos que esse era o momento tanto no mercado de carbono, quanto no
suíno”, conta Ivaí João Campos de Almeida, o único que não veio do setor agropecuário, mas da área
de finanças.
“
Percebemos que
esse era o momento
tanto no mercado de
carbono, quanto no
suíno”
Ivaí João Campos de Almeida,
socio da Brascarbon
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O negócio da empresa exige um conhecimento bastante
específico sobre esses dois mercados. Para que seja captado
gás metano (CH4) é preciso um biodigestor, um equipamento
semelhante a uma piscina coberta por uma lona que é usada
para armazenar fezes e outros dejetos dos porcos. Por meio
do biodigestor, acontece uma reação química que transforma
o gás metano em gás carbônico (CO2) e água. Com isso, é
possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa, já que o
CO2 tem um potencial de efeito estufa 21 vezes menor que o
CH4 (metano).
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O fato de se evitar a emissão dos gases de efeito estufa possibilita a emissão de certificados de carbono
equivalentes à quantidade de gás de efeito estufa deixada de ser lançada na atmosfera, dentro das
normas do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), baseado no Protocolo de Kyoto.
O Protocolo de Kyoto foi assinado por uma série de países industrializados e determina que entre 2008
e 2012 sejam reduzidas em 5,2% das emissões de gases poluentes em relação aos níveis de 1990.
Como parte das ações para a conquista desta meta,
os países signatários podem adotar medidas para o
cumprimento das metas fora de seus territórios. Por
meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), é feita a comercialização de créditos de
carbono, uma espécie de moeda internacional que
permite que nações desenvolvidas financiem projetos
de redução ou captura de gases de efeito estufa
implementados em países em desenvolvimento.
Em 2009, o mercado de carbono movimentou US$
Com os biodigestores, o resultado final é uma
136 bilhões. Com 8% dos projetos registrados, o Brasil
matéria orgânica inodora, que é usada como adubo
é o terceiro lugar entre os países que mais contribuem
para a redução de emissões. No entanto, está muito
aquém do primeiro lugar, China (36,76%), e segundo, Índia (23,54%). Do lado dos investidores, GrãBretanha e Irlanda do Norte são responsáveis por 27,6% dos projetos investidos. Seguido por Suíça
(20,25%), Holanda (11,8%) e Japão (11,53%).
Os investimentos e o trabalho nesse setor são lentos, mas promissores. Para iniciar a comercialização
dos primeiros créditos em 2010, a Brascarbon precisou de um trâmite de quase dois anos, entre as
instalações dos equipamentos e as rigorosas fiscalizações dos consultores do Banco Mundial. O Banco
Santander financiou o início da operação. “Eles precisavam de capital de giro e dependiam de um prazo
longo para começar a gerar receita. Decidimos apoiá-los”, afirma a gerente do Santander, Mara Christina
Fagundes de Mello.
Com o financiamento, a Brascarbon conseguiu começar
a investir nos equipamentos, já que a empresa se
responsabilidade por toda a operação. Os produtores
que aderem ao programa só lucram com os benefícios.
“Nosso acordo com eles é o seguinte: entramos com o
equipamento, instalamos e monitoramos as emissões.
Em seguida, vendemos os créditos”, explica Ivaí. Além
de receber 10% do total de créditos vendidos, os
Mara Christina Fagundes de Mello,
produtores se beneficiam com a adequação de sua
gerente do Santander
criação às legislações ambientais e de saneamento.
Muitos desses produtores sofrem com reclamações
dos vizinhos por causa do mau cheiro e dos perigos de doenças por causa dos dejetos. Com os
biodigestores, o resultado final é uma matéria orgânica inodora, que pode ser usada como adubo, uma
terceira vantagem para os produtores. Além disso, esse produtor pode usar o gás captado durante o
processo como fonte de energia para a sua propriedade, a partir de um motor gerador.
“
Eles precisavam de capital
de giro e dependiam de
um prazo longo para
começar a gerar receita.
Decidimos apoiá-los”
O produtor José Ovídio Sebastiani, da Fazendo dos Palmares, de Boituva, foi um dos que topou o
desafio há aproximadamente dois anos. Com cerca de mil matizes de suínos na sua propriedade de 250
hectares, Sebastiani, que atua na suinocultura há 30 anos, se livrou de um problema antigo que era a
reclamação dos vizinhos por causa do mau cheiro e moscas. “Não há comparação”, diz o produtor.
Além disso, Sebastiani usa o produto do biodigestor para sua outra atividade econômica.
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O material composto, após a retirada do metano, é usado para fertilizar e irrigar sua pastagem de gado.
“O que sobra é um material rico em nitrogênio”, afirma o produtor.
Em processo de certificação internacional, Sebastiani espera ainda receber algum dinheiro com a venda
dos créditos. “Mas isso será no longo prazo. No curto prazo já estou satisfeito com a eliminação do gás
poluente”, analisa. Num futuro mais próximo, o empresário quer implantar um motogerador à base de
gás metano para aquecer o berçário dos leitões.
Até agora, cerca de 130 produtores já aderiram ao programa da Brascarbon, o que representa cerca
de 300 mil toneladas de carbono resgatadas. Outras 100 propriedades estarão no mesmo patamar em
2010. As empresas estão espalhadas pelo Brasil, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste.
Com esse mercado se consolidando, a Brascarbon já planeja atuar em outros setores, como em aterros
sanitários e efluentes.
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