medica
Ano XIV | Agosto de 2015 | Nº 69
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2 | VOX Medica | Agosto 2015
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EDITORIAL
A luta é por todos nós
A
rotina da luta sindical costuma ser árdua e, até por isso, estimulante.
Arquivo SIMERS
É preciso cultivar a fibra para seguir enfrentando as enormes
dificuldades e, simultaneamente, saber manter a serenidade na
celebração das eventuais vitórias, pois elas são consequência de muito
trabalho e da capacidade de não desanimar.
O ano de 2015 tem se mostrado especialmente desafiador. Os rotineiros
atrasos nos repasses de recursos aos hospitais gaúchos resultam em uma
crescente onda de restrições nos atendimentos, deixando a população ainda
mais desassistida e muitos dos colegas médicos sem receber pelos serviços
prestados. Situação que tem nos mobilizado.
Nem tudo são notícias sombrias. A decisão do CREMERS, de editar uma
resolução a respeito do parto hospitalar, após amplo debate capitaneado pelo
Sindicato Médico, é uma conquista digna de nota, assim como saudamos
a suspensão da desospitalização dos pacientes da área asilar do Hospital
Psiquiátrico São Pedro (HPSP), instituição que é referência na saúde mental.
Para concluir, foi com satisfação que recebemos uma mensagem no Facebook
enviada pela internauta Ana Maria Longaray. Disse ela: “Sou fã do Simers,
atuam efetivamente, fiscalizam, criticam, divulgam. Parabéns. Vocês são um
exemplo para outras entidades de classe. Infelizmente, não pertenço a essa
categoria.” Obrigado pelo retorno, Ana Maria. O fato de não seres médica nos
dá ainda mais força para continuarmos na nossa luta. Afinal, ela não é apenas
em nome da categoria, mas sim pela saúde, pela sociedade, por todos nós.
Paulo de Argollo Mendes
Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul
VOX Medica | Agosto 2015 | 3
humor
expediente
A VOX Medica é uma publicação
do Sindicato Médico do Rio Grande
do Sul.
Rua Cel. Corte Real, 975, Petrópolis
Porto Alegre/RS – CEP 90.630-080
Telefone (51) 3027-3737
Sindicato Médico do Rio Grande do Sul
Diretoria 2013/2015
Diretoria executiva
Presidente: Paulo de Argollo Mendes
Vice-presidente: Maria Rita de Assis Brasil
Secretária-geral: Ana Maria Martins
2ª Secretária-geral: Gislaine S. de Vargas
1º Tesoureiro: André Luiz Borba Gonzales
2ª Tesoureira: Ariadene Beatriz Duarte
Diretoria-geral
Bruno Mendonça Costa, Carlos
Antônio Madalosso, Clarissa Coelho
Bassin, Cristina Helena Targa Ferreira,
Fernando Starosta de Waldemar, Flávio
José Petersen Velho, Francisco Carlos
Luciani, Germano Mostardeiro Bonow,
Gisele Rodrigues Lobato, Jorge Luiz
Eltz de Souza, José P. Rotunno Corrêa,
Marcelo Marsillac Matias, Maurício
Alberto Goldbaum, Pedro Gus, Roberto
Assumpção Gaffrée, Ronaldo Guimarães
Lerch, Volnei Santos Malheiros
Conselho Fiscal
Balduíno Tschiedel, Edmundo Lima
Zagoury, Júlio César Simon, Luiz Roberto
de Fraga Brusch, Rivail Cunha de Abreu
4 | VOX Medica | Agosto 2015
Conselho Consultivo
Airton Getelina, Alcides José Zago,
Aline Ferreira Marcon, André Luis
Kowalski Dias, Aroldo João Schmitt,
Ary Poerscke, Beatriz Valiati, Carlos
Augusto Cornetet Júnior, Carlos
Humberto Cereser, Daniel Leonardo
Boéssio, Dirceu Francisco de Araújo
Rodrigues, Enrique Falceto de Barros,
Fábio Vieira de Faria, Fernando
Ferreira Bernd, Flávio Pechansky,
Giovani Kopacek, Gustavo Vasconcelos
Alves, Henrique Luiz Oliani, Ivan Carlos
Ferreira Antonello, Justo Antero Sayão
Lobato Leivas, Lemuel Silva Paredes,
Luciana Souza Balinhas, Luciane Maria
Barbosa Peixoto, Luiz Fernando Ribeiro
de Menezes, Maria Ângela Bongers
Alexandretti, Mário Golin da Costa,
Mário Lucio Machado, Mário Strelow,
Milton Luiz da Rocha, Nívia Teixeira
de Souza, Nívio Lemos Moreira Júnior,
Oscar Medeiros Blanco, Osvaldo
Catarino Barcellos, Patrícia Miranda
do Lago, Paulo Roberto H. Steger,
Protógenes da Cunha Nunes, Rafael
Alencastro Brandão, Regenio Mahfuz
Herbstrith, Renan Luiz Marchant
Gomes, Rodrigo Marquetoti Esteves,
Rogério de Barros Macedo, Rogério
Wolf de Aguiar, Rudah Jorge, Sérgio
Fabris Júnior, Susilene Mendonça
Gonçalves, Túlio Miguel Schein Wenzel,
Umberto de Oliveira Nunes, Walter Ite
Ardenghi, Wernher Schwanbach
Conselho de Representantes
Alcir Martins Iuppen, Aloyzio Cechella
Achutti, André Avelino Steffens,
Carlos Armando Antonello Difini,
Carlos Roberto Lagomarsino Beck,
Carlos Roberto Pavani Flores, Carlos
Roberto Schwartsmann, César Augusto
Trinta Weber, Charles Pan, Cíntia
Lufchitz Pilczer, Cristiano Carapeto
Francisco, Daniel Heisler Tassinari,
Desidério Fülber, Edmundo Vinícios
Gimenez Persiani, Fernando Aloísio
Faccini Bergmanni, Fernando Luís
Medina Francisco, Flávio Veríssimo
da Fonseca, Geraldo Arthur Bischoff,
Gilberto Luís Federle, Hermes
Wilagran Cattani, Ieda Terezinha da
S. Bataioli, Iolanda Mello de Faria,
Janice Venina Masera Rotava, João
Álvaro Machado Filho, João Carlos
Kabke, Jorge Humberto Frota Tusi,
José Abruzzi Neto, José Accioly Jobim
Fossari, José Francisco Bortolotto,
José Francisco Fagundes Valls, Juliano
Nunes Chibiaque de Lima, Leda Maria
Lazzaretti Silveira, Luciana Slongo
Coiro, Lúcio Borges Barcelos, Marco
Antônio Spolidoro, Mauro Fett Sparta
de Souza, Oly Lobato, Paulo Francisco
de Azeredo, Paulo Ricardo C. Cardoso,
Pedro Bandarra Westphalen, Remir
Brackmann, Renato Menezes de Boer,
Renato Sampaio Azambuja, Rodney
Zinn de Carvalho, Ronaldo Nicanor
Castro e Silva, Sérgio H. Martins Costa,
Telmo Manoel de Souza Cruz
REVISTA VOX MEDICA
Equipe de Comunicação: Amália Ceola,
Cláudia Barbosa, Juliane Soska,
Kamyla Medeiros, Katherine D´Ávila,
Letícia Heinzelmann, Patrícia
Comunello, Pryscila Silva e Sérgio
Schüler.
Estagiárias: Luísa Gerchman e Valentina
Osório
Núcleo de Pesquisa: Carolina Dorneles
dos Passos, Guilherme Silva de Farias
e Renata Dalazen Foletto
Supervisão editorial: Paulo de Argollo
Mendes
Coordenação editorial: Letícia
Heinzelmann
Execução: ALMA DA PALAVRA
Textos: Comunicação SIMERS,
Fernanda Pacheco e Ricardo Bueno
Edição: Fernanda Pacheco
Editoração: Gilson Rachinhas e
Hannah Beineke
Revisão: Press Revisão
Comercialização: EDITORA MERCADO
Paulo Moraes – (51) 9128-2888
[email protected]
Impressão: Gráfica e EDITORA PALLOTTI
Tiragem: 27 mil exemplares
Última atualização: 11/7/2015
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as edições anteriores da Vox Medica.
SELO FSC
VOX Medica | Agosto 2015 | 5
Índice
Lucas Azevedo / M3 Fotoconceito
seções
8
3
4
6
8
11 12
18
28
52
56
60
61
62
136
138
editorial
expediente
índice
grupo de estudos
curiosidades
governo tarso
parto hospitalar
saúde Mental
formação
doação de sangue
reconhecimento
números
panorama
serviços
HUMOR
DESTAQUES
8
18
52
56
GRUPO DE ESTUDOS
Saúde pública vive
situação de colapso
parto hospitalar
Movimento encabeçado pelo
SIMERS e pela SOGIRGS pelo parto
seguro colhe os primeiros frutos
FORMAÇÃO
SIMERS estabelece parceria com a
Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
doação de sangue
Campanha homenageia doadores e incentiva
este importante ato de cidadania
6 | VOX Medica | Agosto 2015
Lucas Azevedo / M3 Fotoconceito
56
Lutas
66
74
78
82
87
90
ATRASO NOS repasses
96
100
104
111
112
114
116
120
122
131
134
CANOAS
Agência RBS
TRÊS PASSOS
ERECHIM
OSÓRIO
TORRES
SÃO LEOPOLDO
PEDIATRA NA SALA DE PARTO
MUNICIPÁRIOS
66
Arquivo SIMERS
CONCEIÇÃO
pacS
RESIDENTES
Violência
NOTAS
POLOS REGIONAIS
SANTA CRUZ DO SUL
uruguaiana
87
DESTAQUES
atraso nos repasses
Médicos do interior sofrem
com falta de pagamento em dia
pediatra na sala de parto
Ministério da Saúde põe em risco a
saúde de mães e bebês ao retirar o
profissional da sala de parto
municipários da capital
Katherine D’Ávila
104
Mobilização busca incorporação
da Gratificação de Incentivo
Médico (GIM)
polos regionais
Presença do SIMERS no interior protege médicos
66
100
104
134
VOX Medica | Agosto 2015 | 7
Grupo de Estudos Médicos
Colapso
da saúde pública
A situação vivenciada pelo SUS, com atrasos em repasses e cortes de recursos tanto
em nível estadual como federal, foi tema de evento promovido pelo Sindicato Médico
A
saúde pública gaúcha vive
– E pior: não há solução a curto ou
a pior crise da história do
médio prazo, segundo o relato e os
SUS. Esta é a avaliação
números das finanças estaduais –
do presidente do Sindicato Médico,
Paulo de Argollo Mendes.
disse o presidente do SIMERS.
Em sua fala, Gabbardo informou
– O quadro é de colapso – sintetizou
sobre as ações a serem adotadas
Argollo, após conhecer os números
pelo governo. A primeira, que
apresentados pelo titular da
deve contar com a mobilização de
Secretaria Estadual da Saúde
diversos setores, será buscar mais
(SES), João Gabbardo dos Reis, que
recursos da União, que repassa
palestrou em evento promovido pelo
cada vez menos verbas a estados
SIMERS.
e municípios. Outras medidas em
avaliação incluem empréstimos do
O quadro é de calamidade.
Gabbardo apontou que o déficit
na pasta vai alcançar R$ 1 bilhão
em 2015. O saldo negativo soma
compromissos deste ano e, ainda,
valores que não foram saldados
pelo governo Tarso Genro.
8 | VOX Medica | Agosto 2015
Banrisul a hospitais e otimização
da gestão e operação dos
estabelecimentos nas regiões.
Imagens: Lucas Azevedo / M3 Fotoconceito
Presidente do SIMERS cobra providências do secretário estadual da Saúde
Papel da União
– A saúde está em colapso, mas os
O presidente do Sindicato observou
bancos estão muito bem – comentou
que as iniciativas não têm efeito
o dirigente sindical, lembrando da
imediato e criticou fortemente o
luta do SIMERS pela garantia da
governo federal, que aplica apenas
aplicação de 10% das receitas da
tão grave na saúde
4% do orçamento no SUS, enquanto
União para o SUS.
pública do Estado. O
Argollo disse ainda que outros custos
quadro é de calami-
repassa 48% no pagamento de juros
aos bancos.
pressionam a necessidade de elevar
– A União respondia, em 2002, por
os investimentos em saúde – a
52,05% das verbas do SUS, e estados
energia elétrica, por exemplo, subiu
e municípios, juntos, por 47,95%.
700% nos últimos anos, enquanto
Em 2013, o quadro se inverteu, pois
a tabela do SUS foi reajustada em
o governo federal aplicou 42,93%
apenas 95%.
Nunca vivemos uma situação
dade.
Paulo de Argollo Mendes,
presidente do SIMERS
em saúde, e estados e municípios
chegaram a 57,07% – detalhou.
VOX Medica | Agosto 2015 | 9
Grupo de Estudos Médicos
Em queda
livre
A União
respondia por
52,05%
das verbas
do Sistema
Único de
Saúde em
2002.
Onze anos
Gabbardo prevê déficit de R$ 1 bilhão na saúde gaúcha em 2015
gesto de Coragem
– Talvez os médicos tenham
Atrasos no pagamento de médicos
de se retirar dos hospitais
que atuam em hospitais em
para fortalecer suas receitas,
diversos municípios já provocam
buscando outras alternativas,
redução ou restrições no
como atender em consultórios –
atendimento. A situação atinge
completou Argollo.
depois,
tanto os profissionais prestadores
em 2013,
carteira assinada. Veja a partir da
o governo
federal
aplicou
42,93%
no SUS
10 | VOX Medica | Agosto 2015
de serviço quanto aqueles que têm
página 66.
– Esperamos que a população
se sensibilize, pois os médicos,
como outros trabalhadores, têm
compromissos que precisam
ser pagos e dependem da
remuneração pela assistência
que já prestaram – explica o
presidente do Sindicato Médico.
O presidente do SIMERS
destacou também que há
grande descontentamento dos
médicos em todo o Estado
e admitiu que Gabbardo foi
corajoso ao enfrentar uma
plateia adversa, pois a categoria
está extremamente insatisfeita
com a situação da saúde.
Curiosidades
Título: UROLITHOBENZOL
Data de impressão: 1910-1916
Título: AS PILULAS CATHARTICAS
DO DR. AYER
Data de impressão: 1890
Fonte: livro Museu da Farmácia – Farmácia Portuguesa, de Maria Paula Basso. Edições Inapa Lisboa, 2000
VOX Medica | Agosto 2015 | 11
GOVERNO TARSO
Gestão precária
da saúde
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Tribunal de Contas da União realizou auditoria na Secretaria Estadual da Saúde e apontou
irregularidades na contratação de serviços com verbas federais no governo anterior
O jornalista Tulio Milman publicou
Após esclarecimentos e
em sua coluna Informe Especial no
informações por parte do
jornal Zero Hora informações sobre
secretário da Saúde e do diretor
irregularidades no processo de
do Departamento de Assistência
contratação de serviços de saúde
Hospitalar e Ambulatorial à época,
com recursos federais durante
o ministro relator do processo
o governo Tarso Genro. Na lista
considerou que as medidas
apurada pelo Tribunal de Contas
anunciadas não eram suficientes
da União (TCU), constam falhas
para solução da situação
como pagamento a prestadores de
e/ou não havia comprovação
serviços de saúde da rede privada
da efetiva implantação das
sem a formalização do competente
mesmas. Em maio de 2013,
contrato, pagamento indevido a
foram feitas 12 recomendações à
entidades filantrópicas que aderiram
Secretaria Estadual da Saúde. Em
ao processo de contratualização e
fevereiro de 2015, foi instaurado
falhas na seleção das instituições
processo de monitoramento das
privadas de assistência à saúde,
determinações, mas ainda não
em razão da inobservância de
houve apreciação do caso.
requisitos necessários para
assegurar a legalidade e
a transparência, entre
outras (confira no
quadro).
12 | VOX Medica | Agosto 2015
De acordo com o jornalista Tulio
Em seu voto, o ministro Valmir
Milman, o secretário da Saúde à
Campelo entendeu oportuno observar
época, ao comentar o relatório do
que a maior parte das situações
TCU, afirmou que todas as questões
levantadas de fato se constituem em
foram respondidas de forma
problemas crônicos do Estado, as
satisfatória e que o relator do processo
quais, se por um lado justificam a
reconheceu o esforço de sua gestão
necessidade de adoção de medidas
para sanar eventuais distorções, que
mais incisivas, por outro excluem a
eram resultado de práticas iniciadas
possibilidade de aplicação de algum
em governos anteriores.
tipo de penalidade aos responsáveis
da então gestão da saúde no Estado,
de forma isolada.
Entenda o caso
1
O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a realização de auditoria na Secretaria da Saúde do Rio
Grande do Sul (SES) com o objetivo de examinar a regularidade do processo de contratação de serviços de
saúde com recursos federais. A auditoria foi realizada entre 15 de outubro e 14 de dezembro de 2012.
2
Em razão da relevância dos fatos apurados, o TCU determinou que fossem ouvidos o então secretário da
Saúde, Ciro Simoni, e o diretor do Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial, Marcos Antonio
de Oliveira Lobato, para que se pronunciassem acerca das impropriedades/irregularidades.
O processo foi relatado pelo ministro Valmir Campelo, que em seu voto, durante audiência na Primeira
3
Câmara do TCU, em 21 de maio de 2013, elencou 12 providências a serem adotadas pela SES. O TCU
determinou, ainda, que fosse encaminhada cópia da deliberação, bem como do relatório e voto que a
fundamentam, ao Ministério da Saúde, à Secretaria Estadual da Saúde do Estado, ao Conselho Estadual de
Saúde/RS, ao Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus), ao Tribunal de Contas do Rio Grande
do Sul e à Secretaria de Controle Externo da Saúde.
4
5
Em 24 de fevereiro de 2015, foi aberto processo pela Secretaria de Controle Externo (Secex-RS)
do TCU para monitoramento das determinações da Primeira Câmara.
O pronunciamento da Secex-RS foi concluído em 30 de março e encaminhado ao ministro Bruno Dantas
Nascimento, mas ainda não houve apreciação. Os documentos não estão disponíveis, em razão do
caráter confidencial do processo.
VOX Medica | Agosto 2015 | 13
GOVERNO TARSO
As irregularidades/impropriedades
apontadas pela auditoria do tcu
1
Pagamento a prestadores de serviços de saúde da rede privada sem a formalização do
competente contrato, em afronta às disposições da Portaria MS nº 1.034/2010, arts. 3 e 12.
Continuidade de pagamento dos serviços de média complexidade por valor global e do
2
Incentivo à Contratualização (IAC) a hospitais filantrópicos que não atingiram o limite mínimo de
produção, sem reformulação dos respectivos Planos Operativos, conforme definido na Portaria
MS nº 3.123/2006, em seu art. 8º.
3
4
Pagamento indevido a entidades filantrópicas que aderiram ao processo de contratualização, uma vez
que os quantitativos globais de serviços executados ficaram aquém daqueles fixados nos respectivos
contratos, contrariando as orientações contidas na Portaria GM/MS nº 3.123/2006.
Não designação das comissões de avaliações dos contratos firmados com entidades hospitalares
filantrópicas e de ensino, conforme previsto na Portaria MS nº 635/2005, Portaria Interministerial
MEC/MS nº 1.006/2004, Portaria MS nº 1.702/2004 e respectivos Termos de Contratos.
Ausência ou deficiência no acompanhamento, controle e avaliação dos serviços contratados junto
5
aos prestadores, tanto da área ambulatorial como hospitalar, especialmente no caso dos hospitais
filantrópicos e de ensino, conforme definido nas Portaria MS nº 635/2005, Portaria Interministerial
MS/MEC nº 1.006/2004, Portaria MS nº 1.702/2004 e Manual de Orientações para Contratação
de Serviços no Sistema Único de Saúde.
6
Ausência de ampla divulgação, como regra geral, das necessidades de serviços a serem contratados,
especialmente na área ambulatorial, em afronta às disposições da Lei 8.666/1993, art. 3º e Manual de
Orientações para Contratação de Serviços no Sistema Único de Saúde.
Inconsistência do planejamento da contratação de serviços de saúde uma vez que o dimensionamento
e a distribuição da oferta entre os municípios estão baseados na denominada ‘PPI/2008’, elaborada a
7
partir de critérios estritamente populacionais, contrariando as orientações contidas na LC nº 141/2012,
vigente atualmente, e nos demais normativos existentes por ocasião da formalização dos respectivos
processos - art. 35 e seu § 1º da Lei nº 8.080/1990, Lei nº 8.142/90, NOB 01/93, NOB 01 de 1996 e
portarias regulamentadoras.
14 | VOX Medica | Agosto 2015
Definição genérica do objeto dos contratos firmados com prestadores de serviços hospitalares e
ambulatoriais pagos por produção e ausência do respectivo Plano Operativo, em inobservância
às orientações contidas na Portaria GM/MS 1034/2010, art. 7º, e Manual de Orientações para
8
Contratação de Serviços no Sistema Único de Saúde.
Falhas na formalização dos procedimentos de seleção das instituições privadas de
assistência à saúde mediante chamamento público, em razão da inobservância de alguns
requisitos necessários para assegurar a legalidade e transparência do certame, na forma
preconizada pelo Acórdão 2657/2007, TCU, Plenário, Lei 8.666/1993, arts. 27, 40 e 57,
e Portaria 1034/2010, MS, art. 2º, tais como: ampla divulgação do certame em jornais
de grande circulação; definição clara dos critérios de distribuição dos serviços a serem
contratados entre os prestadores habilitados; ausência de formalização de reunião de
abertura; apreciação da habilitação jurídico/fiscal e das propostas com a lavratura da
9
respectiva ata, de modo a conferir maior transparência aos atos praticados; divulgação
do rol de prestadores interessados; comprovação do atendimento aos requisitos previstos
na Portaria GM/MS nº 1.034/2010 para a contratação com a rede privada, a exemplo
da impossibilidade de ampliação dos serviços públicos e da preferência às entidades
filantrópicas e sem fins lucrativos.
Pagamento de serviços gerados na atenção básica, realizados por unidades básicas/postos
de saúde municipais, com recursos federais do Bloco da Média e Alta Complexidade.
Ausência de definição nos contratos de prestação de serviços de saúde, tanto
ambulatoriais como hospitalares, ou de designação formal, dos responsáveis pela
fiscalização da sua execução, conforme determina a Lei nº 8.666/93, em seu art.67.
10
11
Pagamento a consórcios municipais em desacordo com a Resolução CIB nº 86/2010, haja
vista que os serviços prestados por intermédio de terceiros contratados pelos consórcios
possuem a mesma natureza dos serviços executados por prestadores contratados
12
diretamente pela SES/RS na mesma área de abrangência.
Distribuição dos serviços hospitalares e ambulatoriais contratados não está
compatível com os quantitativos estimados para população de cada município.
13
Fonte: TCU
VOX Medica | Agosto 2015 | 15
16 | VOX Medica | Agosto 2015
VOX Medica | Agosto 2015 | 17
Parto Hospitalar
Trabalho conjunto
SIMERS / SOGIRGS
A posição e as ações do Sindicato Médico em defesa do parto seguro, realizado em
ambiente hospitar, têm mobilizado os médicos, as entidades da área e a sociedade
A
exaltação do parto em
vidas de gestantes e de crianças
casa e a disseminação da
quando os partos são realizados
ideia de que o ambiente
por profissionais preparados, com
hospitalar é desumano fizeram do
capacidade técnica e experiência,
chamado parto humanizado um
em hospitais bem equipados.
modismo que coloca em risco a
vida de mães e bebês. Apoiada em
exemplos de mulheres famosas,
como Gisele Bündchen, que teve
seus filhos em casa, a glamourização
do parto domiciliar desconsidera
as estatísticas e o fato de que a
preservação da vida vem em primeiro
lugar. Hoje, salvam-se milhares de
Em maio, o Sindicato Médico
aproveitou o Dia das Mães para
defender o parto hospitalar em
espaços de rádios, jornais e
televisão e em entrevistas. O tema
foi debatido em plenária convocada
pelo SIMERS e pela Associação de
Obstetrícia e Ginecologia do Rio
Grande do Sul (SOGIRGS).
Prática de dar à luz em ambiente adequado, com procedimentos
feitos por profissionais preparados e usando todos os recursos
disponíveis na medicina, o parto hospitalar tem sido o responsável
direto pela diminuição da mortalidade de mães e bebês
18 | VOX Medica | Agosto 2015
Imagens: Shutterstock
Na pauta, estiveram os temas parto
suplementar, em parceria com
seguro versus parto dito humanizado,
secretarias de Saúde.
bem como a responsabilidade civil
e criminal de profissionais que
trabalham em hospitais onde são feitos
partos por enfermeiras.
Atendendo ao movimento e
respondendo a ansiedades dos
profissionais obstetras, o Conselho
Regional de Medicina do Estado
Também foi criada uma comissão
do Rio Grande do Sul (CREMERS)
encarregada de trabalhar iniciativas
publicou no final de maio a
que divulguem não apenas no
Resolução nº 02/2015, que dispõe
ambiente médico, mas também
sobre as providências que devem
entre as pessoas leigas e pacientes,
ser tomadas quando do atendimento
o fato de existir uma exacerbação no
envolvendo complicações em casos
romantismo do parto dito humanizado.
de partos domiciliares e de partos
A ideia é produzir materiais impressos,
hospitalares ou realizados em outras
como manuais ou cartilhas, e realizar
instituições de saúde.
ações de comunicação junto ao
SUS e a pacientes da área de saúde
VOX Medica | Agosto 2015 | 19
Parto Hospitalar
– Percebemos a necessidade de
amparada por dados científicos, tão
uma providência no sentido de
necessários para dimensionar os
defender a gestante e o recém-
riscos que envolvem o parto fora do
nascido – explicou o presidente
ambiente hospitalar.
do CREMERS, destacando que a
campanha do parto domiciliar não é
RESOLUÇÃO CREMERS Nº 02/2015
Abaixo, os artigos da resolução do
Artigo 4º Os serviços de prestação de
Conselho Regional de Medicina do Estado
assistência médica (hospital, UPA’s,
do Rio Grande do Sul sobre parto seguro.
UBS e outros) devem comunicar ao
O documento na íntegra está disponível no
CREMERS, através de relatório, no prazo
site do CREMERS.
máximo de 72 horas após o atendimento,
Artigo 1º É atribuição do Diretor Técnico
assegurar à gestante e ao recém-nascido
atendimento com uma equipe médica
completa e permanente de obstetras,
pediatras e/ou neonatologistas e
complicações de “partos domiciliares”
ou de partos hospitalares ou realizados
em outras instituições de saúde por não
médicos.
anestesistas, bem como os equipamentos
Artigo 5º Ocorrendo o óbito da gestante,
necessários ao acompanhamento
óbito fetal ou infantil, nas circunstâncias
obstétrico.
previstas no artigo 3º e seus parágrafos,
Artigo 2º É atribuição do Diretor Técnico
do estabelecimento de saúde tomar as
providências cabíveis para que a gestante
e o recém-nascido, durante o período de
e artigo 4º, caput, os médicos que
prestaram assistência aos pacientes não
são obrigados a emitir Declaração de
Óbito.
internação, tenham médico assistente
Artigo 6º O Diretor Clínico deve orientar
responsável, desde a internação até a alta.
os médicos que compõem o Corpo
Artigo 3º Nos hospitais nos quais o parto
e o atendimento do recém-nascido são
realizados por profissionais não médicos
autorizados pela Administração e Direção
Clínico a respeito do cumprimento da
presente Resolução, cabendo à Comissão
de Ética da instituição fiscalizar seu fiel
cumprimento.
Técnica do hospital, o Diretor Técnico
Artigo 7º Esta Resolução entra em vigor
assume a responsabilidade médica pelo
na data de sua publicação.
atendimento e internação hospitalar.
20 | VOX Medica | Agosto 2015
sempre que atenderem gestantes com
Vitória do parto seguro
6 de maio de 2015
7 de maio de 2015
Minuto SIMERS veiculado pelo
O parto seguro foi levado a debate em
Sindicato Médico nas rádios de Porto
assembleia geral inédita na sede do
Alegre. Aponte seu smartphone para
Sindicato Médico. A plenária foi uma
o QR Code e conheça o conteúdo da
convocação conjunta do SIMERS e da
mensagem. Antes, é preciso baixar
Associação de Obstetrícia e Ginecologia
um aplicativo leitor de QR Code.
do Rio Grande do Sul (SOGIRGS).
7 de maio de 2015
11 de maio de 2015
Foi formada uma comissão
Comercial veiculado pelo SIMERS
que dará continuidade às
em horário nobre na Rede Globo de
discussões.
televisão, por ocasião da passagem do
Dia das Mães, defendeu o parto seguro.
21 de maio de 2015
CREMERS edita a Resolução nº 02/2015
sobre parto seguro, em defesa das
gestantes e dos recém-nascidos.
VOX Medica | Agosto 2015 | 21
Parto Hospitalar
Parto humanizado em hospital
Rosane de Oliveira
Editora e colunista do jornal Zero Hora, âncora da Rádio Gaúcha e comentarista da TVCOM
Artigo publicado em 13 de junho de 2015 no jornal Zero Hora
Na casa da minha infância havia
Cortava-se o cordão umbilical com
uma imagem de Nossa Senhora do
a mesma tesoura usada para cortar
Bom Parto, rodeada de bebês em
tecidos, sem esterilização e, na
seus bercinhos. A ela minha mãe
maioria das vezes, sem uma gota de
é grata por ter tido cinco filhos de
álcool para descontaminar.
parto natural, em casa, com a ajuda
de parteiras que exerciam o ofício
por intuição, com conhecimentos
rudimentares de anatomia,
transmitidos de geração em geração.
A fé em Nossa Senhora se justificava:
era comum a mulher morrer de
parto. Como eram comuns nos
cemitérios do interior do Rio Grande
do Sul os pequenos túmulos de
crianças que pereciam ao nascer
ou antes de completar um ano.
22 | VOX Medica | Agosto 2015
Boa parte morria de uma doença
naquele momento: a confiança de
conhecida como “mal dos sete dias”
que, se alguma coisa desse errada,
que, hoje se sabe, nada mais era
estaríamos em boas mãos.
do que infecção no umbigo. Com
frequência, circulava a notícia de
uma mulher que “teve uma recaída”
e morreu dias depois do parto.
Quatro anos depois, nasceu a Luiza,
em outra cesárea humanizada,
dessa vez no Hospital Moinhos de
Vento, com o dr. Dullius no bisturi e
Não era por opção que as mulheres
o pediatra Mário Galvão esperando
tinham seus bebês em casa. Era
para receber a menina de 3,945 kg,
por falta de médicos e de hospitais.
enquanto a assistente comentava
Hoje, como diz uma propaganda do
uma crônica da colega Martha
Sindicato Médico, não se ouve mais
Medeiros.
falar em “morreu de parto”, mas é
crescente o número de mulheres
que pregam o “parto humanizado”,
como se ele só fosse possível fora do
ambiente hospitalar.
Conto essa experiência preocupada
com a glamourização do parto em
casa e com a disseminação da
ideia de que o ambiente hospitalar
é desumano. Contribuem para esse
Tenho dois filhos, nascidos do
fascínio as histórias de mulheres
que eu chamaria de “cesáreas
famosas, como a modelo Gisele
humanizadas”. O primeiro, hoje
Bündchen, que teve os dois filhos
com 24 anos, estava com o cordão
em casa – mas com todas as
enrolado no pescoço e, com a bolsa
possibilidades de acesso a uma
rompida e a perspectiva de um longo
UTI neonatal, se fosse preciso. O
trabalho de parto, meu obstetra,
que precisamos, especialmente no
Luiz Fernando Dullius, sugeriu a
SUS, é de vagas nas maternidades
cesárea. Eduardo não nasceu ao
e de relações mais humanas entre
som de Chopin, mas o dr. Dullius e
médicos e pacientes, e não de
sua equipe no Hospital Mãe de Deus
modismos que coloquem em risco a
me deram o que mais precisava
vida de mães e bebês.
VOX Medica | Agosto 2015 | 23
Parto Hospitalar
Audiência pública debate
“parto humanizado”
Projeto de lei leva o tema parto hospitalar versus parto domiciliar para o Legislativo
A
udiência pública na
– No artigo 2 do PL há um claro
Assembleia Legislativa
estímulo ao parto domiciliar.
avaliou o projeto de lei
Esta prática é adotada há
do deputado federal Jean Wyllys
várias décadas em
(Psol-RJ) sobre a “humanização”
países desenvolvidos da
do parto. O Sindicato Médico e
Europa e nos Estados Unidos,
a Sociedade de Ginecologia e
mas após análise de grandes
Obstetrícia do Rio Grande do Sul
estudos e das fortes evidências
(SOGIRGS) estiveram presentes
científicas contrárias ao parto
e defenderam o parto da forma
domiciliar, este vem sendo
mais segura e humana possível.
desaconselhado nestes
No entanto, da forma como
o projeto está redigido e
frente à realidade da atual
assistência obstétrica brasileira,
concluíram que este não
acrescentará melhorias no
atendimento às gestantes
e poderá colocar em
risco a saúde das
Shutterstock
mulheres e seus bebês.
24 | VOX Medica | Agosto 2015
países pelo risco aumentado
de morte do recém-nascido –
alertou o diretor da SOGIRGS
Gustavo Steibel.
Com base nestas evidências
científicas, o SIMERS e a
SOGIRGS apresentaram
posicionamento contrário
ao parto domiciliar pelo
risco de morte e agravos ao
recém-nascido.
Katherine D’Ávila
SIMERS e SOGIRGS estiveram representados no evento realizado na Assembleia gaúcha
– Não há dúvida de que o
ao desejo de uma cesárea,
lar é mais confortável que o
caso tenha cesárea prévia ou
hospital, porém tornar o
apresentação fetal pélvica.
hospital mais acolhedor é uma
tarefa muito mais fácil que
tornar o lar um lugar seguro
para o nascimento de um
filho – completou Steibel.
– A SOGIRGS e
o SIMERS defendem o respeito
à autonomia da paciente de
forma integral, quer seja na
escolha do parto normal
O diretor aproveitou o debate
ou da cesárea. Mas é
para esclarecer o que se
preciso considerar também
refere à autonomia da gestante
a autonomia do médico que
e o que propõe o texto.
assistirá ao parto e seu direito de
Segundo ele, o projeto trata o
não aceitar escolhas que possam
assunto de forma parcial,
colocar em risco o binômio
uma vez que só considera a
mãe e feto. Este direito/dever
autonomia da gestante em
é previsto no Código de Ética
decisões relacionadas ao
Médica – ponderou Steibel.
parto vaginal e não menciona
em nenhum momento a
autonomia da paciente frente
VOX Medica | Agosto 2015 | 25
Parto Hospitalar
Tornar o
hospital mais acolhedor
é muito mais
fácil que
tornar o
lar um lugar seguro para o
nascimento
de um filho
Em relação ao Plano de Parto,
estimulará a cisão da equipe
Steibel define como distorcida a
assistencial com a parturiente
apresentação do tema no PL. – disse.
De acordo com o especialista,
esta prática, quando realizada
em conjunto (paciente/
equipe de pré-natal/equipe de
assistência ao parto), contribui
muito com a satisfação da
paciente e o desfecho favorável
do parto. Sobre o índice de cesáreas
realizadas no Brasil, o PL
contempla que o procedimento
não deveria ultrapassar os 15%
preconizados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS)
e que, excedido este número,
as maternidades serão proibidas
– Do modo como está colocado
de realizar cesarianas. Para
no texto do projeto de
o diretor da SOGIRGS, este
lei, ele será construído
item coloca em grave risco as
pela gestante, de forma
gestantes e recém-nascidos.
unilateral, sem participação da
Steibel também criticou as altas
equipe assistencial, tornando
taxas de cesariana praticadas
este um instrumento frágil e
em nosso País, embora
muitas vezes inexequível, o
entenda que as metas de 10%
que fatalmente acarretará em
a 15% preconizadas pela OMS
frustação da gestante e
sejam inalcançáveis em nossa
sociedade.
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26 | VOX Medica | Agosto 2015
VOX Medica | Agosto 2015 | 27
saúde mental
O flagelo do crack
Consumo ganhou caráter de epidemia e comprova que
política antimanicomial é um fracasso. Legislação precisa
ser revista com urgência, em prol da saúde pública
Imagens: Shutterstock
VOX Medica | Agosto 2015 | 29
saúde mental
J
O número de usuários de crack no
País gira em torno de 1,2 milhão, e
a média de idade para início do uso
da droga é de apenas 13 anos.
não apenas à noite, mas, também,
A estimativa tem base em dados
durante o dia. Onde? Em qualquer
do censo do Instituto Brasileiro
lugar: deitados pelas calçadas,
de Geografia e Estatísticas (IBGE)
sozinhos ou em grupos. As vítimas
e foi apresentada no lançamento
do crack vêm perdendo a condição
da Frente Parlamentar Mista de
de seres humanos ao se reunirem
Combate ao Crack, na Câmara
no seu ambiente particular, as
Federal.
chamadas cracolândias, que se
– O vício em crack tornou-se um
espalharam rapidamente pelas
caso de saúde pública que está
grandes cidades do País.
beirando níveis epidêmicos e é um
Os números assustam: o Brasil
enorme desafio para as autoridades
ocupa o terceiro lugar no ranking de
brasileiras. E desafios têm que ser
maior consumidor mundial de crack,
enfrentados. Os gestores da saúde
segundo dados da Junta Internacional
pública, contudo, estão parados,
de Fiscalização a Entorpecentes
inertes, nada fazem – alerta o
(Jife), órgão ligado à Organização das
presidente do Sindicato Médico,
Nações Unidas (ONU).
Paulo de Argollo Mendes.
á vai longe o tempo em
que zumbis eram apenas
personagens de livros e
filmes. Hoje, eles estão
nas ruas e podem ser avistados
O crack, droga derivada da cocaína, adaptada
para ser fumada, tem um efeito rápido e
devastador no organismo do consumidor
30 | VOX Medica | Agosto 2015
O fechamento de leitos
dedicados a doentes mentais, a
crescente desospitalização dos
pacientes e a falta de centros
psicossociais de álcool e
drogas só agravam o problema
da saúde mental do Brasil e
no Rio Grande do Sul, e vão
na contramão do aumento da
população e do crescimento da
epidemia de crack.
Revisão da lei
A revisão da chamada Lei
Antimanicomial gaúcha (Lei nº
9.716, de 7 de agosto de 1992) é
uma luta do Sindicato Médico.
– Havia uma previsão de análise
em cinco anos, mas passaram-se
mais de 20, estamos caminhando
para os 25 anos, e esta revisão
não foi feita – lamenta Argollo.
O Sindicato Médico, junto com a
Associação Brasileira em Defesa
dos Usuários de Sistemas de
Saúde (Abrasus) e a Sociedade
de Apoio ao Doente Mental
(Sadom), solicitou à Ordem dos
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Advogados do Brasil (OAB-RS)
Cracolândias se espalham
pelo País expondo uma
dura e triste realidade: o
desamparo
VOX Medica | Agosto 2015 | 31
saúde mental
estudos da lei estadual e também da
– Em minha opinião, não existe
Lei Federal 10.216, que é de 2001. A
polêmica. Não adianta nos
ideia é, a partir deste estudo, pleitear
dividirmos em grupos a favor e
junto à Assembleia Legislativa a
contra a hospitalização. Precisamos
revisão da legislação em vigor.
desarmar as ideias conflitantes
O tema é polêmico e o debate,
acirrado, com opiniões contra e a
favor, como se constatou em recente
audiência pública na Assembleia
Legislativa.
O Sindicato Médico defende
que é preciso recuperar
estabelecimentos como o Hospital
Psiquiátrico São Pedro (HPSP),
que é referência em saúde mental,
inclusive na formação de médicos
residentes, e saúda as medidas
neste sentido que têm sido
adotadas pelo governo do Estado.
e melhorar o atendimento aos
pacientes – defende o diretor do
SIMERS Germano Bonow.
A grande preocupação do
SIMERS e dos médicos é com a
desassistência que se verifica
atualmente.
Nos Estados Unidos, pelo menos 4,1
milhões de pessoas usam cocaína de
forma inalada ou fumada
32 | VOX Medica | Agosto 2015
Imagem: jornalismoatodahora.com.br
Verdades assustadoras
1
2
Segundo dados da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), a
3
O perfil do usuário de crack vem
mudando a cada ano, atingindo todas
mortalidade associada ao crack é de
as classes sociais. Segundo dados da
30%, sendo que metade das vítimas
Secretaria de Saúde do Estado de São
morre em confrontos violentos com
Paulo, entre 2006 e 2008 o número
traficantes ou policiais.
de usuários de crack com renda
O avanço da droga na infância, segundo
um levantamento da Secretaria de
Saúde de São Paulo, mostra que, em
dois anos, dobrou o número de crianças
e adolescentes em tratamento contra
a dependência de crack. Há casos de
familiar acima de R$ 10 mil aumentou
139,5%. Em algumas das mais caras
clínicas particulares de tratamento de
dependências químicas em São Paulo,
cerca de 60% das internações são de
usuários de crack.
crianças com 10 ou 11 anos viciadas na
droga, o que está levando a outro grave
problema: mães desesperadas estão
prendendo seus filhos com correntes e
cadeados para afastá-los do crack.
VOX Medica | Agosto 2015 | 33
saúde mental
Entenda a situação no Brasil e no Estado
O diretor do SIMERS Germano
Em paralelo, também em meados
Bonow, que tem vivenciado a
da década de 1980, surgiu no País
questão da saúde mental no Estado
um movimento nacional contra os
e no Brasil desde a década de
manicômios. O deputado federal
1970, resumiu durante entrevista
Paulo Delgado (PT-MG) fez um
para a TV SIMERS a política de
projeto de lei por meio do qual
saúde mental nos últimos 50 anos e
desapareceriam os grandes hospitais
explicou por que o SIMERS é contra
psiquiátricos. O documento deu
a desospitalização de pacientes.
entrada no Congresso Nacional em
Em 1972, mais de 5 mil pacientes
estavam internados no Hospital
Psiquiátrico São Pedro (HPSP).
A situação era semelhante em todo
o País. Os chamados manicômios
estavam lotados e alguns locais não
ofereciam condições adequadas à
vida humana.
No Rio Grande do Sul, foi
implantado um plano para que as
pessoas pudessem ser tratadas em
suas casas. Caiu drasticamente o
número de pacientes internados: na
década de 1980, eram pouco mais
de mil.
Ao invés de buscar reestruturar
esses hospitais, a solução
encontrada pelo governo foi bem
mais simples: mandar os doentes
para casa.
34 | VOX Medica | Agosto 2015
1989 e somente no ano de 2001,
após 12 anos de tramitação, a Lei
Federal 10.216 foi sancionada.
Enquanto isso, em diferentes
Estados, inclusive no Rio Grande do
Sul, surgiam leis estaduais.
A legislação gaúcha é de 1992
e tem um artigo que impede a
construção e reforma de novos
hospitais.
A chamada Lei da Reforma
Psiquiátrica instituiu um novo modelo
de tratamento aos transtornos
mentais no Brasil. Qual a proposta?
Desativar o hospital psiquiátrico,
oferecer leito no hospital geral e
criar ambulatórios especializados, os
chamados Centros de Atendimento
Psicossocial (CAPs).
Nos últimos anos, foram fechados 90 mil leitos
Juliane Soska
psiquiátricos no País. Hoje, são pouco mais de 30 mil. Enquanto
isso, a população cresceu o equivalente a uma Argentina,
em 40 milhões. Será que colocamos à disposição da nossa
população os vários métodos alternativos necessários – como
a residência terapêutica e os Caps?
Germano Bonow, diretor do SIMERS
Para os pacientes que estavam
Até 2011, por exemplo, não
há muitos anos nos hospitais
havia no País nenhum CAPs
e não tinham para onde ir,
AD (Álcool e Drogas) 24 horas.
seriam criadas as residências
Eles fechavam no final da tarde
terapêuticas.
e nos finais de semana. Hoje,
A desospitalização aconteceu.
O atendimento e acolhimento
aos pacientes ficou apenas na
proposta. Não existem leitos
psiquiátricos em hospitais
são menos de 2 mil CAPs em
todo o País – que tem 5,5 mil
municípios. CAPs de nível 3, com
psiquiatra 24 horas, há apenas
dois no Rio Grande do Sul.
gerais e nem CAPs em número
E, apara agravar tudo, a
suficiente.
sociedade foi atropelada pela
epidemia das drogas.
A questão é de velocidade.
O fechamento dos hospitais
psiquiátricos foi muito rápido,
enquanto a criação de CAPs,
muito lenta. Resultado:
desassistência. Esta é a
situação que o País vive no
momento.
Para minimizar a situação,
criaram-se comunidades
terapêuticas, algumas
sob controle de
pessoas não
habilitadas
para a difícil tarefa.
Mais uma vez a ausência
e a omissão do Estado expõem
os doentes às mais diversas
O vício
no crack
acontece
em
velocidade
absurda.
Pesquisas
apontam
que em
apenas
um mês
o usuário
passa de
eventual a
dependente
situações de risco.
VOX Medica | Agosto 2015 | 35
saúde mental
Política estadual
em debate
Estratégia articulada e baseada em conhecimento científico é elogiada e
sinaliza para mudança no cenário atual de desalento
A
utoridades da saúde no
As iniciativas estão centradas na
Estado, representantes
prevenção de suicídios.
de entidades médicas
O tema será objeto de
e funcionários do Hospital
capacitação de 8 mil agentes
Psiquiátrico São Pedro (HPSP)
comunitários de saúde, por
acompanharam a apresentação
meio do ensino à distância.
da Política Estadual de Saúde
Também será implantado o
Mental do Estado, realizada
sistema de georreferenciamento
pelo atual coordenador da
das tentativas de suicídio, para
área e médico psiquiatra,
embasar programas de prevenção
Luiz Carlos Illafont Coronel.
e controle que terão ênfase nas
Estavam presentes a secretária
regiões onde os índices são mais
extraordinária de Políticas
preocupantes.
Sociais e primeira-dama do
Estado, Maria Helena Sartori, e
o secretário estadual da Saúde,
João Gabbardo dos Reis, além
de médicos psiquiatras e do
presidente do Sindicato Médico,
Paulo de Argollo Mendes.
36 | VOX Medica | Agosto 2015
Imagens: Amália Ceola
Drogas e álcool
A postura é elogiada pelo
Coronel afirmou também que o
Sindicato Médico e por outras
foco está no enfrentamento das
entidades da área da saúde,
epidemias, como as do crack e
que vêm lutando em defesa da
da violência. Neste sentido, ele
preservação das instituições de
propõe ações como o aumento
acolhimento.
Enfrentamento da
epidemia de crack e
do suicídio são duas
prioridades do governo
Sartori
do número de equipes de
Estratégia de Saúde da Família
e dos Centros de Atendimento
Psicossocial Álcool e Drogas
(CAPs AD). A ideia é capacitar
equipes multidisciplinares.
– A massa desassistida será
o foco da atenção, e vamos
incluir os excluídos no sistema
de saúde – prometeu o
coordenador de Saúde Mental
do Estado.
Para o presidente do SIMERS,
Paulo de Argollo Mendes, depois
da fracassada política de saúde
mental implantada na União e
no Estado, é alentador ver uma
estratégia articulada e baseada
no conhecimento científico. Ele
lembrou, ainda, a importância
do Hospital São Pedro, que
é hoje uma referência de
qualidade em assistência e
ensino.
VOX Medica | Agosto 2015 | 37
saúde mental
Cerimônia foi prestigiada por autoridades, entidades
ligadas à saúde e profissionais do HPSP
Já o presidente da Sociedade de
do que deverá vir a ser uma
Psiquiatria do Rio Grande do Sul,
carreira de Estado em medicina,
Carlos Salgado, acredita que se
a qual incluirá, é claro, todas
deve pensar o leito psiquiátrico
as especialidades – explicou
como espaço a ser qualificado,
Salgado.
estando adequado ao melhor
conhecimento médico daquele
momento, de forma a que se
integre em uma rede complexa
de atenção ao doente mental em
todos os níveis.
38 | VOX Medica | Agosto 2015
Para o deputado federal e médico
Osmar Terra (PMDB-RS), a
política de saúde mental hoje,
no Brasil, não tem resultados
efetivos. Segundo o parlamentar,
é necessário reavaliar a política,
– E nesse sentido mais amplo,
fazer uma revisão baseada em
da inserção da psiquiatria na
conceito científico. Terra acredita
comunidade, temos que valorizar
que é necessário trabalhar com a
essa iniciativa do governo do
medicina baseada em evidências.
Estado, junto com o SIMERS, no
É a única maneira das políticas
sentido de planejar e de lançar
apresentarem resultados para
a estrada inicial, digamos assim,
toda a população.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
CAPs AD no Rio Grande do Sul
Estrutura brasileira e gaúcha
Município
Alegrete
1
Alvorada
1
Bagé
1
Bento Gonçalves
1
500 cidades –, a Secretaria Estadual de Saúde
Canguçu
1
informa que, em setembro de 2014, havia 28 CAPs
Erechim
1
No Brasil, existem atualmente – para os mais de 5 mil
municípios – 306 CAPs Álcool e Drogas (AD) e 72
CAPs AD 24h. No Rio Grande do Sul – com quase
AD e 16 CAPs AD 24h.
CAPs AD 24 horas no Rio Grande do Sul
Município
Esteio
1
Farroupilha
1
Gravataí
1
Ijuí
1
Lajeado
1
Nova Palma
1
Augusto Pestana
1
Novo Hamburgo
1
Canoas
2
Passo Fundo
1
Caxias do Sul
2
Pelotas
1
Cruz Alta
1
Porto Alegre
2
Porto Alegre
3
Rio Grande
1
Santa Cruz do Sul
1
Santa Maria
2
Santo Ângelo
1
Santana do Livramento
1
São Borja
1
Santa Rosa
1
São Lourenço do Sul
1
Santiago
1
São Luiz Gonzaga
1
São Leopoldo
1
Uruguaiana
1
São Sepé
1
Viamão
1
Sapucaia do Sul
1
16
Taquara
1
Fonte: Sala de Apoio à Gestão Estratégica do SUS
e SES-RS
Venâncio Aires
1
28
VOX Medica | Agosto 2015 | 39
saúde mental
Luta pelo
São Pedro
A desospitalização de pacientes, determinada em janeiro
de 2013, foi suspensa. Entidades de saúde haviam
protocolado ação na Justiça Estadual contra a medida
Foto: projetoreciclandovidas.files.wordpress.com
40 | VOX Medica | Agosto 2015
U
ma grande vitória para a saúde
Instituições da área da saúde haviam
mental foi conquistada em maio
protocolado ação na Justiça Estadual com o
com a revogação da Portaria
objetivo de suspender a determinação.
25/2013, da Secretaria Estadual da Saúde
Mas não foi preciso aguardar o final da ação:
(SES), que determinava a desospitalização
o governo do Estado foi sensível ao clamor e
dos pacientes da área asilar do Hospital
revogou a determinação anterior através da
Psiquiátrico São Pedro (HPSP).
Portaria 756/2015.
VOX Medica | Agosto 2015 | 41
saúde mental
– Esta é uma grande vitória na
luta contra o desmonte do São
Pedro e a desassistência aos
pacientes. Existem pessoas
que precisam de tratamento
hospitalar, e o São Pedro é
referência neste segmento –
comemorou Paulo de Argollo
Mendes.
Sao Pedro Hoje
Também participaram desta
breves. O hospital é referência
luta a Federação Sindical dos
de atendimento em saúde
Servidores Públicos no Estado
mental pelo SUS em uma área
do RS (Fessergs), o Sindicato
com população superior a 4
dos Servidores da Saúde do
milhões de habitantes (Região
RS (Sindissama), a Associação
Metropolitana e Litoral Norte).
O Hospital Psiquiátrico São
Pedro tem atualmente 130 leitos,
dos quais 30 para dependência
química de adultos e mais dez
para tratar menores usuários
de drogas. As vagas restantes
são destinadas a pacientes
com transtornos psiquiátricos e
que necessitam de internações
de Psiquiatria do RS (APRS)
e a Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP).
Imagens: Arquivo SIMERS
Momento em que foi protocolada
ação na Justiça Estadual
42 | VOX Medica | Agosto 2015
Em defesa do HPSP
A defesa do Hospital Psiquiátrico São Pedro tem sido uma luta do Sindicato Médico, junto com outras entidades
ligadas à saúde e, também, com apoio da sociedade. Veja algumas das ações realizadas em 2014:
JANEIRO de 2014
SIMERS publica apedido nos jornais de Porto Alegre denunciando
desmonte do São Pedro.
FEVEREIRO de 2014
Entidades médicas pedem ao Ministério
Público Estadual para que interceda
contra a redução de vagas de residência
médica no HPSP.
A pedido do MPE, o SIMERS elabora um
dossiê detalhando o assunto.
Maio de 2014
Promovido o Abraço ao São Pedro, que contou com
cerca de 300 participantes.
Manifestantes cobram mais respeito aos direitos
dos pacientes, valorização dos profissionais e
investimentos na estrutura.
Julho de 2014
Audiência pública na Assembleia
Legislativa defende que não seja diminuído
o número de vagas da residência médica
no São Pedro.
O ato denunciou o corte de vagas de formação
de psiquiatras, a transferência de pacientes e a
redução da assistência à população no Hospital
Psiquiátrico São Pedro.
NOVEMBRO de 2014
Entidades protocolam ação judicial contra a
desospitalização do Hospital São Pedro.
VOX Medica | Agosto 2015 | 43
M.Pansard (www.panoramio.com)
São Pedro: referência no atendimento em saúde mental pelo SUS para 4 milhões de habitantes
Hospital de excelência
Fundamental no tratamento da saúde mental, o São Pedro se destaca
por uma história de pioneirismo e acolhimento
O
dia 29 de junho de 1884
A ideia era que o Hospital Psiquiátrico
pode ser considerado um
São Pedro (HPSP), localizado na atual
divisor na história dos
avenida Bento Gonçalves, não fosse
cuidados com as vítimas de doenças
apenas um espaço de exclusão dos
mentais na capital gaúcha. Foi nesta
alienados, mas um local terapêutico e
data que o quinto hospício do País foi
que colaborasse para a redução dos
inaugurado e recebeu seus primeiros
transtornos mentais, o que era um
41 moradores (25 oriundos da Santa
diferencial para a época.
Casa e 16, da Cadeia Pública).
44 | VOX Medica | Agosto 2015
reconhecida e foram retirados da prisão.
– O Hospital São Pedro tem uma história
muito bonita. Adotou práticas inovadoras
para a época, importadas da França. Foi
referência para a América Latina desde
Neusa Lehugeuer / Panoramio
Muitos pacientes tiveram a sua doença
a sua fundação – conta Paulo de Argollo
Mendes, presidente do SIMERS.
Com o passar dos anos, o HPSP foi
estatizado, inaugurou a Colônia Agrícola,
transformou-se em hospital, implantou
farmácia própria, inseriu oficinas de
criatividade e horticultura. Também foi
de reciclagem, para gerar renda para
moradores do Residencial Terapêutico e
da Vila São Pedro.
– Infelizmente, no final dos anos 1980 e
Rafael Cabeleira / SOP
implantado, mais recentemente, o galpão
nos 1990, o Hospital São Pedro sofreu
uma campanha difamatória – lembra
Argollo.
No início dos anos 2000, em
cumprimento à Lei da Reforma
Psiquiátrica 9761/92, o Hospital São
Pedro foi dividido em uma área de
moradia, com a criação dos residenciais
terapêuticos, e uma área hospitalar, com
pouco mais de cem leitos.
Importante também é o papel da
instituição, ainda hoje uma referência
conceituada, na formação de novos
médicos, através da residência médica
Corredores dos HPSP estão repletos de história
em psiquiatria.
VOX Medica | Agosto 2015 | 45
saúde mental
Desumanidade
SIMERS debate falta de médicos e condições de
trabalho no Instituto Psiquiátrico Forense (IPF)
A
crise no Instituto Psiquiátrico
Bonow fez uma fala abrangente,
Forense (IPF), em Porto
contextualizando a problemática da
Alegre, passa inicialmente
saúde mental no Estado, ressaltando
por uma questão sanitária: há
que é inadmissível fechar leitos
problemas na infraestrutura básica e
sem oferecer alternativas para os
nas condições de higiene.
pacientes.
Contudo, a precariedade e a falta
de profissionais são dificuldades
importantes do local. Esta é a opinião
do diretor do Sindicato Médico
Germano Bonow, que participou do
Fórum Interinstitucional Carcerário
(FIC), realizado no Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul (TJ-RS).
De acordo com os médicos, o último
O debate foi consequência justamente
concurso público para psiquiatras foi
da situação em que se encontra o
realizado há mais de 20 anos.
IPF, que sofre com falta de servidores
e de profissionais da saúde, escassez
de recursos e problemas de estrutura
física, tudo amplamente divulgado
pela imprensa.
46 | VOX Medica | Agosto 2015
Ele lembrou, também, que é preciso
ampliar o número de médicos no
Instituto, que conta atualmente
com um quadro de 11 psiquiatras
e um clínico para realizar os
atendimentos.
Imagens: Juliane Soska
Visita ao IPF
Os médicos irão protocolar
O diretor do SIMERS Jorge Eltz
documento sobre o assunto
esteve reunido com o corpo
no Conselho Regional de
clínico do IPF e ouviu o relato das
Medicina (CREMERS) e também
condições de trabalho no local.
encaminharão o texto, contendo
De acordo com o grupo, eles
a descrição do estado em que se
são responsáveis também pela
encontra o IPF, incluindo a falta
elaboração de laudos, perícias
de condições de trabalho e a
internas e plantões no Instituto.
escassez de profissionais, para o
Ministério Público do Estado.
Fórum Interinstitucional
Carcerário, realizado no
Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul (TJ-RS)
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48 | VOX Medica | Agosto 2015
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50 | VOX Medica | Agosto 2015
VOX Medica | Agosto 2015 | 51
Amália Ceola
Argollo e Jobim firmaram parceria para realização de eventos de cunho científico
Formação
Parceria SIMERS e Academia
Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina e SIMERS promovem eventos
científicos periódicos no Estado. O primeiro foi realizado em junho
A
52 | VOX Medica | Agosto 2015
obesidade como fator de
cada mês, a Academia realiza uma
risco e sua relação com a
mesa de debates ou palestra com
saúde pública foi o tema
temas relevantes para profissionais
que marcou a estreia do Sindicato
e acadêmicos, tendo agora o
Médico como parceiro da Academia
SIMERS como apoiador da iniciativa,
Sul-Rio-Grandense de Medicina
contribuindo também na divulgação
em uma programação científica
dos eventos junto aos seus associados
periódica. No último sábado de
e estudantes.
– A iniciativa proporciona a médicos
No dia 25 de julho, o tema do encontro
e acadêmicos a oportunidade de
com Martin Ritter Whittle, diretor do
assistir a palestras de grandes nomes
Laboratório Genomic, de São Paulo,
sobre temas relevantes – explicou
foi O presente e o futuro da biologia
o presidente do SIMERS, Paulo de
molecular aplicada à Medicina. Com
Argollo Mendes.
formação em Bioquímica e Medicina
– Quero saudar a presença do
Argollo e agradecer o apoio do
Sindicato Médico, que traz uma
importante contribuição, inclusive
na divulgação da iniciativa, o que
já ocorreu com a veiculação de um
informativo nos jornais da capital –
registrou o presidente da Academia,
Luiz Fernando Jobim.
na Universidade de Oxford, Whittle
tem inúmeras contribuições na área
de estudos da Medicina Personalizada
na era do DNA. Seu último
desenvolvimento foi a implantação de
testes de última geração no diagnóstico
de tumores de mama, análise de
marcadores moleculares de doenças
do coração, entre outros estudos.
Obesidade e políticas públicas em debate
O oncologista e vice-presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, Gilberto
Schwartsmann, coordenou a mesa intitulada Obesidade: um fator de risco removível em
saúde pública, que contou com três palestras:
Obesidade e doenças cardiovasculares, com a médica Carisi Polanczyk (UFRGS)
Obesidade e doenças metabólicas, com a médica Lenara Golbert (UFCSPA)
Obesidade e câncer, com o médico Sérgio Lago (PUCRS)
VOX Medica | Agosto 2015 | 53
Formação
Ricardo Bueno
Acima, da esquerda para a direita: Lago, Lenara, Schwartsmann e Carisi. Na página ao lado, momentos das palestras
Obesidade e políticas públicas em debate
O sobrepeso e a obesidade são
– Como se trata de um fator de
fatores reconhecidos em saúde
risco removível em saúde pública,
pública como causadores de
ou seja, passível de controle por
morbimortalidade cardiovascular,
medidas preventivas e intervenções
relacionada à aterosclerose, diabete
pela equipe de saúde, consideramos
mélito, hipercolesterolemia e outras
que o tema merecia ser incluído em
anormalidades metabólicas. Mais
nosso programa científico – destacou
recentemente, uma associação entre
o professor e médico Luiz Fernando
obesidade e risco de neoplasias tem
Jobim, presidente da Academia Sul-
sido descrita, sobretudo em relação
Riograndense de Medicina.
ao câncer de endométrio, câncer
de mama na pós-menopausa,
câncer de rim, cólon, tireoide,
adenocarcinoma de junção esôfagogástrica, entre outros. Além disto, a
tolerância ao tratamento oncológico
e os índices de recidiva parecem
ser também afetados negativamente
pela obesidade.
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Em sua intervenção, Carisi
Polanczyk citou que a obesidade
atinge em torno de 12% da
população mundial. No Brasil,
os dados revelam que 43% da
população adulta têm excesso
de peso e em torno de 17,5% são
considerados obesos.
Imagens: Arquivo CREMERS
Segundo a médica, os benefícios da
– Criança obesa, em geral, se
perda de peso são inquestionáveis
transforma em adulto obeso –
na diminuição dos fatores de risco
afirmou a médica.
em doenças cardiovasculares.
Ao listar dieta, atividade física,
alterações comportamentais, uso de
fármacos e cirurgia como os fatores
que, nesta ordem, são os mais
importantes no manejo de doenças
cardiovasculares provocadas pela
obesidade, a médica enfatizou
que, atualmente, a prioridade deve
estar na prevenção, mais do que no
tratamento.
Por sua vez, Sérgio Lago destacou
que a partir de 2012 a batalha
os esforços contínuos nas questões
sobre o aumento da incidência de
adenocarcinoma de esôfago, nos
Exercício
físico já pode ser con-
nas mulheres, como doenças com
siderado um quimio-
risco bastante aumentado em razão
terápico importante.
da obesidade. Ao lembrar que,
uma pessoa obesa, o quadro será
como elemento essencial para se
ainda pior se este indivíduo não
detectar propensão às doenças
emagrecer, Lago não teve dúvidas
metabólicas provocadas pela
em afirmar:
que, atualmente, o tecido adiposo
Lenara Golbert
homens, e câncer de endométrio,
medida da circunferência abdominal
mulheres, de 88cm. Ao destacar
forma em adulto obeso.
oncológicas. Lago apresentou dados
uma vez diagnosticado câncer em
homens o limite é de 102cm e para
sa, em geral, se trans-
contra a obesidade passou a integrar
Já Lenara Golbert enfatizou a
obesidade, registrando que para os
Criança obe-
Sérgio Lago
– Exercício físico já pode ser
considerado um quimioterápico
importante.
é considerado um órgão endócrino,
Lenara frisou que é preciso atenção
especial à infância.
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Imagens: Lucas Azevedo / M3 Fotoconceito
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Homenagem aos
doadores
de sangue
O Sindicato Médico se iluminou de vermelho para
incentivar este importante ato de cidadania praticado
por apenas 1% dos brasileiros
D
oar sangue faz bem à saúde. Este foi o tema da campanha
realizada pelo Sindicato Médico no mês de junho.
Se de 3% a 4% da população tivessem o hábito de doar
sangue, não haveria dificuldades com estoques, afirma a Organização
Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, ainda estamos bem longe dessa
marca: segundo o Ministério da Saúde, pouco mais de 1% da população
pratica regularmente este ato de amor e cidadania.
Por isso, o SIMERS decidiu marcar o Dia Mundial do Doador de Sangue,
comemorado em 14 de junho, iluminando de vermelho a sua sede e,
também, o prédio do Museu de História da Medicina (MUHM).
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RESPONSABILIDADE SOCIAL
Mais do que chamar atenção para o tema, o objetivo foi prestar uma
homenagem à parcela da população que é solidária: “Se você é doador
de sangue, parabéns: você salva vidas!”
Através de ações como estas, o Sindicato Médico se posiciona como uma entidade
que representa não apenas os médicos, mas toda a sociedade, atuando em defesa
da saúde e pela vida. Assim, por meio de seu Sindicato, os profissionais da medicina
exercem seu protagonismo em prol da comunidade onde atuam.
Acima, o MUHM, e na página anterior, a sede do SIMERS: vermelho em homenagem aos doadores de sangue
Homenagem
Aponte o seu smartphone para o QR Code e escute o Minuto SIMERS que abordou a doação
de sangue. Antes, é preciso baixar um leitor de QR Code em seu aparelho.
58 | VOX Medica | Agosto 2015
58 | VOX Medica | Agosto 2015
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VOX Medica | Agosto 2015 | 59
Reconhecimento
Homenagem da imprensa
BandNews FM entrega placa de reconhecimento ao Sindicato Médico
O
Sindicato Médico foi
O presidente do SIMERS, Paulo
ao longo desses anos apenas
homenageado pela
de Argollo Mendes, recebeu uma
consagra essa verdade – disse.
rádio BandNews FM.
placa em homenagem aos 10
A cobertura midiática
combativa da rádio foi
decisiva para a cooperação
entre a entidade sindical e
a emissora, como definiu o
diretor de Jornalismo da Band,
Ricardo Martins.
anos de parceria das mãos do
jornalista Ricardo Boechat, que
elogiou a postura sempre firme
da instituição.
– Eu já conheço o trabalho do
Sindicato Médico em defesa da
população gaúcha. E a rádio
BandNews FM tem esse mesmo
objetivo, o que faz com que
se vejam como iguais. Nesse
um momento muito importante
de reconhecimento.
– São 10 anos em que o
SIMERS e a Band reforçam que
a verdade faz bem à saúde –
afirmou Argollo, citando o slogan
da instituição e destacando
a importância de um veículo
forte como a Band, que sempre
transmite as opiniões da
categoria médica.
Pryscila Silva
sentido, o apoio da entidade
Para o dirigente médico, este foi
Argollo recebeu
placa de Boechat
60 | VOX Medica | Agosto 2015
Números
É possível entender as prioridades de um governo observando seu
orçamento, ou seja, como planeja gastar o dinheiro dos impostos.
O que você acha desta priorização da União?
Só
4%
em saúde
48% em dívida pública e 48% em outras despesas
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Patrícia Comunello
panorama
Lasier Martins (esq.) e Argollo: crise econômica e subfinanciamento da saúde na pauta do encontro
62 | VOX Medica | Agosto 2015
Cláudia Barbosa
Pryscila Silva
Argollo (centro) na posse no CREMERS
Argollo (dir.) cumprimenta o novo diretor do Sistema Mãe de Deus
VOX Medica | Agosto 2015 | 63
Letícia Heinzelmann
panorama
Patrícia Comunello
Gus durante discurso. Ao fundo, Argollo, que integrou a mesa principal
Achutti (esq.) recebe os cumprimentos do presidente do SIMERS
64 | VOX Medica | Agosto 2015
Lutas
Médicos sofrem
com constantes
atrasos
Shutterstock
nos salários
Irregularidade nos repasses de
verbas estaduais e federais para
municípios e hospitais filantrópicos
tem sido a desculpa dos gestores
para não pagar em dia profissionais
em várias cidades do interior
VOX Medica | Agosto 2015 | 65
Lutas
ATRASO NOS REPASSES
Municípios sofrem com a
falta de recursos
Sindicato Médico rejeita corte de leitos e demissão de médicos em hospitais de
pequeno e médio porte no interior do Rio Grande do Sul e defende medidas judiciais
Leandro Osório/Especial Palácio Piratini
Gabbardo (segundo
da dir. para a
esq.) adiantou
que não existe
possibilidade de
aumentar verbas
para os hospitais
66 | VOX Medica | Agosto 2015
A
s notícias vindas do interior
este caminho) e demissões e atrasos
gaúcho são as piores
nos salários dos prestadores de
possíveis: os cortes nos
serviços são cada vez mais comuns.
atendimentos não param (mais de
O governo estadual, em meio a esse
dez hospitais já enveredaram por
caos, mantém-se impassível.
VOX Medica | Agosto 2015 | 67
Lutas
ATRASO NOS repasses
Durante coletiva de imprensa, o
de pagamento do funcionalismo em
titular da Secretaria Estadual da
dia, não existe solução, não há o
Saúde, João Gabbardo, disse que
que o governo possa fazer.
trata-se de uma racionalização
necessária. E adiantou que mais
instituições de saúde vão ter que se
O Sindicato Médico concorda que é
adequar às reduções.
preciso profissionalizar e qualificar
– Todos os hospitais vão precisar
passar por um processo de
mudança e fazer uma redução
em suas demandas. O que
A falta de
repasses caracteriza a
maior crise já vivida pela
saúde no Estado, que está
colocando o sistema em
colapso.
Paulo de Argollo Mendes,
presidente do SIMERS
precisamos é diminuir internações
desnecessárias de pacientes
que podem ser atendidos
ambulatorialmente. Quem não fizer
isso vai ter muita dificuldade para
enfrentar a crise – aconselhou.
Gabbardo também descartou
qualquer aumento de recursos para
as casas de saúde do Rio Grande
do Sul.
O orçamento é de R$ 1 bilhão
para toda a área, incluindo 245
unidades filantrópicas.
Para o secretário, o anúncio de
a gestão dos estabelecimentos. Boa
parte deles é ainda administrada
por pessoas da comunidade, sem a
formação e a capacitação exigidas
para atuar no segmento hospitalar,
de forma a se ofertar mais serviços
e com mais eficiência. Além disso,
não basta apenas direcionar verbas
a hospitais.
A ampliação da rede básica, com
a garantia de interiorização dos
médicos, por meio da criação
de uma carreira estadual, são
essenciais, caso o Estado deseje
realmente proporcionar os
cuidados que todos os gaúchos
necessitam e anseiam.
Fechamento de leitos
mais hospitais fechando leitos,
Não é admissível, contudo, o
restringindo atendimentos e,
fechamento de leitos.
inclusive, fechando as portas, torna
– O problema da saúde no Estado é
a situação dramática. Gabbardo
grave, há muitas dificuldades, mas
admitiu que deixou de repassar
fechar leitos seria estrangular ainda
R$ 70 milhões em junho. E afirmou
mais os municípios – defendeu o
que, com as determinações judiciais
diretor do SIMERS Jorge Eltz.
que obrigam o pagamento da folha
68 | VOX Medica | Agosto 2015
Posição do SIMERS
Ele esteve na sede da Federação
contra os cortes feitos pela
das Associações de Municípios
pasta dirigida por Gabbardo e
do Rio Grande do Sul (Famurs)
reivindicaram os repasses da
debatendo o assunto com o
União e do Estado. Segundo os
secretário estadual da Saúde, os
gestores, o repasse efetuado pelo
presidentes da Famurs, Seger
governo federal é insuficiente.
Menegaz, e da Comissão dos
Os hospitais de pequeno porte
Hospitais de Pequeno Porte e
dessas cidades atendem grande
prefeito de Chiapeta, Osmar Kuhn,
parte das necessidades da
além de diversos prefeitos.
população local.
Os gestores municipiais
aproveitaram e se manifestaram
Agência RBS
Superlotação é a dura realidade nas unidades de saúde que atendem ao SUS
VOX Medica | Agosto 2015 | 69
Lutas
ATRASO NOS repasses
70 | VOX Medica | Agosto 2015
Municípios vão à Justiça
Seguindo o caminho de diversas
Medida semelhante foi adotada pelo
categorias de servidores públicos,
Conselho das Secretarias Municipais
que recorreram à Justiça para
de Saúde do Rio Grande do Sul
impedir que o governo do Estado
(Cosems-RS), que teve o pedido
atrase ou parcele salários, as
de liminar para o pleito negado.
prefeituras se articularam para
Ação coletiva também pode ser
exigir repasses em dia para a
ajuizada pelo Ministério Público,
saúde. A Justiça do Rio Grande
representando os 497 municípios
do Sul concedeu liminar para
gaúchos.
que recursos destinados à saúde,
de responsabilidade do governo
do Estado, sejam repassados ao
município de Canoas. A prefeitura
da cidade havia ingressado com
mandado de segurança alegando
que o déficit de repasses ultrapassa
R$ 10 milhões.
O secretário de Saúde de Porto
Alegre, Fernando Ritter, anunciou
em coletiva de imprensa que o
município vai trilhar o mesmo
caminho.
De acordo com o secretário de
Saúde de Canoas e presidente
da Cosems-RS, Marcelo Bósio,
deveriam ter sido repassados
R$ 112,1 milhões, referentes
às transferências de recursos
diretos aos municípios e aos
pagamentos dos serviços prestados
por instituições privadas sem fins
lucrativos.
Segundo a Secretaria Estadual da
Saúde (SES), neste ano já foram
repassados R$ 922 milhões aos
hospitais, entre recursos estaduais e
federais.
VOX Medica | Agosto 2015 | 71
Lutas
ATRASO NOS repasses
Ronaldo Bernardi/Agência RBS
Hospital de Clínicas, em Porto Alegre: no dia 5 de julho, 93 pacientes para 49 vagas
Superlotação em Porto Alegre
O fechamento parcial ou total
Segundo o secretário da Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, esta
dos hospitais no interior agrava a
situação nunca havia ocorrido antes.
situação nas unidades de Porto
Alegre. A consequência é imediata:
as emergências estão cada vez mais
superlotadas. Ou seja, os pacientes
viajam enormes distâncias, sem
garantia de que terão atendimento.
No primeiro final de semana de julho,
todas as vagas nas Unidades de Pronto
Atendimento e em leitos do SUS do
– Muitas pessoas vão chegar nas portas das emergências e não serão
atendidas. A demora no atendimento é uma realidade. Mas, além
disso, vamos ter que pedir para que os casos menos graves retornem
para casa sem atendimento. E, certamente, vamos chegar ao ponto
de perder pacientes, porque não temos leitos clínicos suficientes –
lamentou Ritter.
Para piorar a situação, só em junho foram fechados 178 leitos do
Sistema Único de Saúde na capital.
município estavam ocupadas.
Situação em 5 de julho na capital
•
Hospital de Clínicas: superlotado, com 93 pacientes em área para 49
•
São Lucas, DA PUCRS: dobro da lotação na área de emergência, com 22 internados para 11 leitos
•
Santa Casa: emergência fechada por superlotação
•
Hospital da Restinga: emergência fechada por superlotação
Letícia Heinzelmann
Hospitais filantrópicos de todo o Estado se mobilizaram em um dia de paralisação exigindo o cumprimento dos repasses
Filantrópicos: repasses têm crescido
A respeito do Dia D, mobilização realizada pelos hospitais filantrópicos gaúchos
em maio para denunciar o corte de verbas por parte do governo gaúcho, o
SIMERS ressalta dois aspectos.
Primeiro: a luta por mais recursos para a saúde pública tem apoio irrestrito
dos médicos, pois é condição para se prestar a assistência adequada e para
o cumprimento da Constituição, que determina a aplicação no SUS de 12%
da receita corrente líquida de impostos e transferências, o que ainda não foi
alcançado.
Segundo: nos últimos anos, o volume de repasses à rede filantrópica é
crescente, tendo aumentado sete vezes entre 2010 e 2014. Foram R$ 153
milhões em 2010 contra R$ 1,16 bilhão no ano passado, segundo dados do
Tesouro Estadual. Entretanto, não houve aumento proporcional na produção e
nos atendimentos, nem tampouco o repasse desses aumentos aos médicos.
VOX Medica | Agosto 2015 | 73
Lutas
MaireM | www.panoramio.com
Roberto Martio | www.panoramio.com
www.trespassos-rs.com.br
TRÊS PASSOS
Três Passos, no Noroeste gaúcho, tem 24 mil habitantes
Recorde negativo
Cirurgias e partos realizados pelo Sistema Único de Saúde
não são pagos há 14 meses no Hospital de Caridade
74 | VOX Medica | Agosto 2015
Imagens: Arquivo SIMERS
M
édicos que atendem no
Hospital de Caridade de
Três Passos, município
do Noroeste gaúcho, estão há 14
meses sem receber por cirurgias
e partos realizados pelo SUS.
Diante da situação insustentável,
os profissionais, apoiados pelo
Sindicato Médico, suspenderam
Hospital de Caridade: atraso no pagamento dos médicos
levou à suspensão dos procedimentos eletivos
os procedimentos eletivos (não
urgentes). O hospital conta com 104
leitos, sendo 69 pelo SUS.
O quadro médico também não é
remunerado desde março pelos plantões
presenciais no pronto-socorro e na UTI e
pelo sobreaviso.
A direção do SIMERS esclarece que o
hospital não respondeu até agora aos
pedidos para uma solução.
– A recente e alegada dificuldade
financeira de hospitais filantrópicos
não pode ser usada para justificar
este descaso com os profissionais em
Três Passos – reage o presidente do
Sindicato Médico, Paulo de Argollo
Mendes.
A categoria médica não vai mais aceitar ser prejudicada
por eventual problema entre as instituições e os governos. É
perfeitamente justificável que alguém que faz seu trabalho seja
remunerado em dia, pois os médicos têm seus compromissos,
pagam contas, têm família e não podem alegar no supermercado
que não estão recebendo salários.
Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico
VOX Medica | Agosto 2015 | 75
Lutas
TRês passos
Entenda o caso
Pelo Portal da Transparência do Estado,
o hospital de Três Passos recebeu
As verbas são repassadas seguindo
R$ 7.943.496,54 em 2014. Este ano, os
o modelo de contratualização (com
recursos somam R$ 4.457.163,49 até
valor global para cobrir as despesas): o
junho. Nos últimos 18 meses, entraram
hospital recebe a verba e deve pagar os
nos cofres cerca de R$ 12,5 milhões.
prestadores. Anteriormente, os médicos
recebiam pelo código 7 (diretamente da
União). Há alguns especialistas mais antigos
no Hospital de Caridade que estão no
código 7 e recebem seus honorários.
– Queremos saber onde foram parar
as verbas que deveriam estar dando
condições ao atendimento médico. A
situação em Três Passos é revoltante.
Os médicos mantiveram os cuidados
aos pacientes por todo este tempo,
mas agora chega. Estão trabalhando
Situação se agravou a
partir de fevereiro
Em fevereiro, o SIMERS notificou
extrajudicialmente o Hospital de Caridade,
exigindo uma posição sobre os pagamentos.
Em fins de maio, acionou novamente o
estabelecimento e preveniu que, se não
houvesse aceno sobre a quitação dos
débitos, os serviços seriam suspensos.
O segundo documento também foi enviado
ao Ministério Público Estadual e aos
gestores municipais, advertindo sobre os
danos gerados pela conduta dos dirigentes
hospitalares.
76 | VOX Medica | Agosto 2015
de graça, enquanto as verbas são
repassadas ao hospital – adverte o
dirigente sindical.
O Sindicato Médico tem sido incansável
nos pedidos para negociação
e regularização dos valores por
atendimentos, formalização da relação
de prestação de serviço (hoje os
profissionais não têm nenhum contrato
assinado com o hospital) e reajuste dos
valores, bastante defasados.
Como a direção do Hospital de
Caridade se nega a negociar, a única
alternativa que restou, infelizmente,
foi interromper os atendimentos.
Apedido divulgado em Três Passos
VOX Medica | Agosto 2015 | 77
Lutas
Erechim
Médicos se mobilizam
contra atrasos no Santa Terezinha
O Sindicato Médico encabeça movimento para cobrar o pagamento de atrasados que
alcançam mais de cem dias em algumas especialidades. Profissionais, em estado
permanente de assembleia, estão suspendendo os atendimentos gradativamente
Q
Imagens: Dioni Levandovski / Zardo Color Digital
Médicos se concentraram
em frente ao hospital para
esclarecer os pacientes sobre
o movimento
78 | VOX Medica | Agosto 2015
uase quatro meses
Terezinha, em Erechim, um dos
sem receber pela
mais importantes na região do
assistência prestada aos
Alto Uruguai e que abrange mais
pacientes pelo SUS. A situação
de 220 mil pessoas. São quase
insustentável levou os médicos a
200 profissionais médicos que
optar pela paralisação gradativa dos
atendem na instituição e sofrem
atendimentos no Hospital Santa
com a situação.
Patrícia Comunello
De Luca e Maria
Rita presidiram a
assembleia que
definiu as medidas
visando à cobrança
dos atrasados
Assembleia convocada pelo Sindicato
O movimento teve o aval dos
Médico definiu que haverá redução
gestores locais que decidiram
dos atendimentos, de acordo com
paralisar os atendimentos sem
os cuidados a serem prestados a
prazo para retomar. É um alerta
pacientes nas áreas de assistência e
à população sobre os prejuízos
os diferentes contratos dos médicos.
de repasses insuficientes do
A categoria também aprovou o
governo estadual. São mais de
estado de assembleia permanente.
R$ 7 milhões que deixaram de
Urgências e emergências estão
ser transferidos nos governos
mantidas. Tarso e Sartori.
VOX Medica | Agosto 2015 | 79
Erechim
Lutas
80 | VOX Medica | Agosto 2015
Erechim: apedido alerta para situação difícil
na Fundação Hospitalar Santa Terezinha
VOX Medica | Agosto 2015 | 81
Lutas
OSÓRIO
Prefeitura promete
acertar atrasados
Sindicato Médico recorreu ao Ministério Público devido aos atrasos nas remunerações
dos profissionais do Hospital São Vicente de Paulo. Município assinou TAC
R
eunião solicitada pelo Sindicato
Hoje, os serviços de urgência e emergência
Médico ao Ministério Público reuniu
do hospital funcionam nas dependências
o prefeito de Osório, Eduardo
do Posto de Saúde Dr. Flávio Silveira, sem
Aluísio Cardoso Abrahão, a diretoria e
as condições necessárias para esse tipo de
conselheiros do Hospital São Vicente de
atendimento, como o SIMERS já alertara
Paulo e representantes do SIMERS e do MP.
em visita anterior ao MP. Veja detalhes na
Em pauta, os problemas na saúde.
próxima página. Além disso, médicos e
funcionários estão há meses sem receber.
Prefeito de Osório recebe
representante do SIMERS
82 | VOX Medica | Agosto 2015
Pryscila Silva
Na tentativa de encaminhar soluções, o
questão do empréstimo para futuro pagamento. Isso
prefeito propôs que o município faça um
nós ainda iremos negociar e ver todas as questões
empréstimo ao hospital, com o objetivo de
legais, com a Câmara de Vereadores envolvida, para
sanar imediatamente os débitos com os
podermos garantir o pagamento dos servidores do
funcionários e evitar a greve. A proposta
hospital – esclareceu Abrahão.
foi acolhida pelos presentes e os termos
serão estabelecidos através de um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC).
O SIMERS continuará atuando na cidade de Osório
para garantir o atendimento adequado à população,
assim como os direitos dos médicos, inclusive os
– Serão dois TACs, um para que o hospital
contratados como pessoa jurídica, que não deverão
pague a sua dívida com o município, ainda
ser beneficiados pela medida.
Katherine D’Ávila
que não a reconheça, e o outro sobre a
André Gonzáles
(esq.) e o promotor
Luís Cesar Balaguez:
comprometimento
do MP
Primeiro contato com o MP
Em reunião anterior no Ministério Público, o diretor do SIMERS André Gonzáles
apontou as falhas na saúde pública de Osório ao promotor Luís Cesar Balaguez, que
se mostrou interessado na resolução das questões.
O mesmo não pode ser dito sobre a reunião que ocorreu no Hospital São Vicente
de Paulo. O setor jurídico da instituição não esteve presente no compromisso com a
entidade e os médicos.
O SIMERS oficiou a instituição solicitando o encaminhamento da remuneração em
atraso e das produções dos convênios que foram pagas ao hospital, mas não foram
repassadas aos médicos.
VOX Medica | Agosto 2015 | 83
Imagens: Letícia Heinzelmann
OSÓRIO
Lutas
Superlotação é regra em posto de saúde que substitui a emergência desde que o hospital de Osório passou por incêndio
Insalubridade
em emergência
Dezenas de pacientes aguardam por horas atendimento no posto de saúde de
Osório, que assumiu o serviço de urgência desde que o hospital local foi atingido
por incêndio. Mas a superlotação não é o pior. O local não tem as mínimas
condições para desempenhar tal serviço: faltam infraestrutura básica e higiene
84 | VOX Medica | Agosto 2015
P
assado um ano desde o incêndio que atingiu
Imagens que falam por si
o Hospital São Vicente de Paulo, o único da
cidade de Osório e que atende toda a região, o
Sindicato Médico constatou que o setor de emergência
que ainda funciona no Posto de Saúde Dr. Flávio
Silveira atende de forma precária. Sem a infraestrutura
adequada, a emergência improvisada põe à prova a
saúde de pacientes, médicos e demais funcionários.
– Vimos situações terríveis, difíceis tanto para os
médicos quanto para os pacientes. Há um grande
acúmulo de demanda e más condições de trabalho,
com muita sobrecarga. A deficiência é de tudo,
Condicionadores de ar danificados e paredes
manchadas pela umidade compõe o cenário
da área de atendimento
inclusive de condições de higiene – apontou o diretor do
SIMERS André Gonzáles.
Dentro da área de atendimento, foram constatados
condicionadores de ar danificados, paredes e colchões
mofados pelo excesso de umidade e armários com
materiais hospitalares completamente enferrujados,
compondo um cenário desolador.
Sem área de repouso, os plantonistas dormem em
colchões colocados no chão de uma pequena sala. Na
copa, uma pia com cuba dupla serve para a lavagem
Armários que guardam materiais
hospitalares estão enferrujados
de louça dos funcionários e do material hospitalar.
O curioso é constatar que a Secretaria da Saúde e a
Vigilância Sanitária municipais funcionam no mesmo
prédio.
– Basta descer as escadas e ver as condições de
trabalho a que estão submetidos esses profissionais –
constatou o dirigente.
O Sindicato notificou as vigilâncias de Osório e do
Estado e o Ministério Público do Trabalho quanto à
insalubridade no local.
Colchões para o repouso de
funcionários estão mofados
VOX Medica | Agosto 2015 | 85
Lutas
OSÓRIO
VIGILÂNCIA
O secretário substituto da Saúde, Márcio Rolim,
admitiu a precariedade e disse que o hospital da
cidade passa por grave crise financeira, que foi
aprofundada com a interrupção dos serviços de
cirurgia e obstetrícia, no início de junho. A maior
parte dos médicos da emergência estão com os
salários sendo pagos com atraso.
– É uma situação que beira a calamidade – resumiu
o secretário.
Apesar da crise, o SIMERS encontrou o Hospital
São Vicente aparentemente em bom estado. A
ampla área da Emergência reformada, ainda vazia,
contrasta com a superlotação flagrada no Posto
Em reunião com o diretor do SIMERS André Gonzáles
(esq.), secretário substituto da Saúde, Márcio Rolim,
admitiu que a situação beira a calamidade
Central. Já foram instalados os canos subterrâneos
por onde passará a fiação elétrica, parte mais
danificada e causa do incêndio. A rede também
fornecerá energia para o prédio da pediatria e para o
novo auditório. O Sindicato seguirá fiscalizando.
– Já estivemos várias vezes em Osório e voltaremos
quantas vezes mais forem necessárias. Convidamos
o Ministério Público a nos acompanhar – disse
Gonzáles.
O SIMERS notificou o município, que reconheceu
estar ciente da situação precária do atendimento.
Porém, alega que precisou manter a Emergência do
hospital funcionando no posto como medida urgente e
extrema, diante do risco de calamidade pública, para
garantir a continuidade no atendimento à população.
A prefeitura pediu mais prazo para solucionar o
problema, e garantiu que a transferência do serviço
para o hospital da cidade se daria em breve.
86 | VOX Medica | Agosto 2015
A área de Emergência do Hospital São Vicente foi
reformada, mas ainda aguarda instalação elétrica
Arquivo SIMERS
TORRES
Assembleia dos médicos realizada em Torres
Médicos ameaçam parar
SIMERS informa ao MP atrasos no Navegantes e aguarda resposta do hospital
M
édicos de três especialidades (pediatria,
traumatologia e medicina intensiva) que prestam
serviços no Hospital Nossa Senhora dos
Navegantes, em Torres, decidiram parar de atender, caso
os pagamentos não sejam colocados em dia. A medida foi
aprovada por assembleia coordenada pelo Sindicato Médico.
Os profissionais exigem a garantia da direção do hospital, único
da cidade e integrante do Sistema Mãe de Deus, de que pagará
sempre até o dia 15 os valores que correspondem ao mês
anterior.
VOX Medica | Agosto 2015 | 87
TORRES
Lutas
– Os médicos cansaram dessa situação de
incerteza. Querem receber pelo trabalho
realizado, o que é, no mínimo, justo – explicou o
delegado regional do SIMERS em Torres, Fábio
Vieira de Faria.
Os médicos da cirurgia e anestesia já
suspenderam a atuação em cirurgias eletivas
devido aos atrasos dos honorários. A notificação
sobre a paralisação foi feita aos gestores da
saúde.
Ministério Público
O Sindicato Médico foi ao Ministério Público em
Torres esclarecer a situação dos atrasos nos
repasses para os médicos. Em encontro com
o 2º promotor de Justiça no município, Márcio
Roberto Silva de Carvalho, o delegado regional
do SIMERS Fábio Vieira de Faria comunicou que
a direção do Navegantes recebeu notificação
extrajudicial do Sindicato Médico e externou
as expectativas dos profissionais em relação à
normalização dos compromissos.
Retomada do diálogo
– Os médicos estão sensíveis às demandas da
Os gestores realizaram a quitação de parte do
população, mas também estão preocupados
saldo não pago de abril e retomaram o diálogo
com a condição de manutenção, caso se
com vistas à definição da data do pagamento dos
agrave esse calendário de atrasos – ressaltou o
valores de maio. Também se comprometeram com
delegado.
o pagamento em dia daqui para frente, a ser feito
em duas parcelas dentro do mês do vencimento.
Na contraproposta dos médicos, que já foi
entregue pelo SIMERS ao Sistema Mãe de Deus,
que gere o hospital, exige-se o pagamento do
valor integral de abril e a quitação de maio.
Os profissionais, por outro lado, aceitaram a
oferta de receber em duas parcelas o fluxo
mensal de pagamentos. A categoria aguarda
pela posição do Mãe de Deus.
88 | VOX Medica | Agosto 2015
O promotor comentou que está atento
às dificuldades financeiras do hospital e
adiantou que irá oficiar os órgãos envolvidos
no sentido de obter explicações sobre a
situação.
Para o SIMERS, é importante manter uma boa
interlocução com o MP, em razão de possíveis
ações futuras.
Reestruturação do
atendimento de saúde
Médicos exigem melhores condições de trabalho e ajustes em cláusulas contratuais
R
epresentantes do Sindicato Médico estiveram em Torres
para reunião com os profissionais do Pronto Atendimento. A
cidade está vivendo um momento de negociações e acertos
envolvendo a saúde da região, e os médicos desejam negociar
melhores condições de trabalho e ajustar cláusulas contratuais.
O Sindicato Médico ouviu as demandas e agendará uma reunião com a
procuradoria do município.
Entenda o caso
O Hospital de Torres informou que não teria mais condições de atender
aos procedimentos de baixa complexidade, afirmando que estes são
de responsabilidade das unidades municipais. Entretanto, nenhum
dos Pronto Atendimentos existentes na região está equipado de forma
adequada para resolver os casos demandados. Torres e Arroio do Sal
possuem PA 24 horas, mas há a necessidade de mais funcionários e
de materiais para suprir a demanda.
Em função disso, por meio de decisão judicial, em ação ajuizada
pelo Ministério Público do Estado, foi determinado que o Hospital
Navegantes deve manter o atendimento de forma integral, por 90
dias. Neste período, os municípios atendidos no local devem realizar
um consórcio e equipar o prédio do PA de Torres para atendimento
adequado de baixa complexidade.
VOX Medica | Agosto 2015 | 89
Lutas
SÃO LEOPOLDO
Descaso absurdo
Atraso de salários leva médicos do Hospital Centenário e dos postos de saúde a aderir à
greve dos municipários. Argollo está disposto a dialogar com prefeitura e instituição
Presidente do
SIMERS e prefeito
de São Leopoldo:
conversa difícil
90 | VOX Medica | Agosto 2015
Patrícia Comunello
Julia
ne
S os
ka
VOX Medica | Agosto 2015 | 91
Lutas
Letícia Heinzelmann
Patrícia Comunello
são leopoldo
Escalonamento nos
pagamentos é divulgado
nos corredores do hospital
92 | VOX Medica | Agosto 2015
VOX Medica | Agosto 2015 | 93
Cláudia Barbosa
são leopoldo
94 | VOX Medica | Agosto 2015
Arquivo SIMERS
Equipe do Conselho
Regional de Medicina
vistoriou instalações da
emergência
Vistoria no Centenário
No Hospital
Centenário
faltam leitos,
remédios e
exames.
No inverno,
a incidência
de doenças
respiratórias
aumenta, além
das demais
enfermidades,
ea
superlotação
é rotina,
explicitando
o número
insuficiente de
médicos
VOX Medica | Agosto 2015 | 95
Lutas
CANOAS
Prefeitura prorroga
adesão a sistema remuneratório
Prefeito Jairo Jorge atende à reivindicação do SIMERS e prorroga o prazo para os
médicos optarem ou não pelo nova lei que muda a remuneração dos municipários
O
prefeito de Canoas, Jairo
– A medida é uma sensibilização da
Jorge da Silva (PT), atendeu
administração sobre a necessidade
à reivindicação do Sindicato
dos servidores de avaliar a melhor
Médico e prorrogou o prazo para médicos
opção remuneratória, de acordo com as
e demais servidores aderirem ao sistema
condições mais adequadas e vantajosas
remuneratório de Gratificação por
para a sua realidade – disse o chefe do
Resolutividade ou à Remuneração por
Executivo.
Subsídio. O novo prazo é 1º de dezembro
Pryscila Silva
de 2015.
Jairo Jorge (esq.) e Argollo: entendimento a caminho
96 | VOX Medica | Agosto 2015
remuneração em pauta
A nova forma de remuneração para a categoria médica também foi tema do encontro
entre o presidente do Sindicato Médico, Paulo de Argollo Mendes, e Jairo Jorge. Argollo
cobrou um posicionamento do gestor frente às reivindicações feitas pelo SIMERS e
ainda expressou preocupação com o andamento dos contratos dos médicos.
– A prefeitura apresentou detalhadamente o seu projeto e foi sensível às reivindicações
do Sindicato Médico. Espero que cheguemos a um entendimento em breve – resumiu
Argollo.
Outro ponto abordado pelo presidente foi a situação dos médicos que há alguns anos
fizeram a especialização em Saúde da Família e que, apesar disso, retroagiram no grau
de escolaridade. O prefeito se comprometeu a apresentar alternativas para a questão.
Também estiveram na reunião a diretora do SIMERS Clarissa Bassin; a vice-prefeita
de Canoas, Beth Colombo; o secretário da Saúde, Marcelo Bósio, e o advogado
Matuzalém Felipe Morales, representando a Comissão do Plano de Carreira.
Após mais de 30 dias, assembleia geral extraordinária da categoria, na sede do SIMERS,
avaliou a falta de retorno da prefeitura de Canoas e deciciu pela busca de uma posição
dos gestores.
Entenda o caso
O novo plano de remuneração para servidores da prefeitura de Canoas era alvo de grande
preocupação do Sindicato Médico. A lei aprovada modifica a forma de remuneração e os
valores recebidos pelos médicos. E, em uma primeira análise, o SIMERS identificou que
a maioria dos médicos terá prejuízo com a opção pelo subsídio. O plano de remuneração
não deixa clara a forma pela qual se dará a equivalência. Também geram preocupação
itens como a insalubridade e o recebimento da gratificação a concursados em diferentes
jornadas, como a de 40 horas semanais.
VOX Medica | Agosto 2015 | 97
Canoas
Lutas
Salários em dia
após pressão do SIMERS
Depois do Sindicato Médico denunciar, Sistema Mãe de
Deus, que administra três unidades de saúde em Canoas,
regularizou o pagamento dos médicos
U
m contingente de quase 400
médicos que atuam nos hospitais de
Pronto Socorro de Canoas (HPSC)
e Universitário (HU) e na Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) Rio Branco vinha sofrendo
com atrasos em sua remuneração. Eles são
contratados pelo Sistema Mãe de Deus, que faz
– Só os médicos não foram pagos, o que é
uma flagrante discriminação, justamente
contra quem lidera as decisões e realiza os
procedimentos para o cuidado dos pacientes.
Isso é um insulto – reagiu Paulo de Argollo
Mendes, presidente do Sindicato Médico.
a gestão das três unidades a partir de repasses
O dirigente lembrou ainda que Canoas tem uma
da prefeitura e atrasou os pagamentos,
das três maiores arrecadações estaduais.
alegando, por sua vez, recursos insuficientes do
– É um município muito rico, que poderia
Estado ao município.
manter em dia os salários enquanto aguarda
O SIMERS convocou assembleia extraordinária
para avaliar as medidas a serem adotadas
contra o atraso, entre elas a paralisação do
trabalho. E tornou pública a situação.
Depois da pressão, o Sistema Mãe de Deus
regularizou o pagamento dos salários.
o cumprimento da ordem judicial – cobrou
o dirigente do SIMERS, lembrando ainda da
liminar que a prefeitura buscou no Judiciário
para obrigar o Estado a colocar os repasses em
dia.
O grupo Mãe de Deus, ressaltou Argollo,
também é muito forte e deixou de recolher em
2013 (último dado disponível) R$ 93 milhões
em tributos, graças a isenções pela filantropia.
98 | VOX Medica | Agosto 2015
Patrícia Com
unello
Plenária decidiu pelo estado de assembleia permanente
– O Mãe de Deus não está fazendo caridade ao
Assembleia
atender o SUS, mas usando o nosso dinheiro,
O diretor do SIMERS Jorge Eltz destacou que
e também poderia manter os salários dos
a entidade ficará vigilante para agir, caso os
médicos em dia enquanto não recebe do
atrasos se repitam nos próximos meses.
município – concluiu o dirigente.
Para agilizar a tomada de qualquer medida, a
plenária aprovou ainda o status de assembleia
permanente.
VOX Medica | Agosto 2015 | 99
Circlephoto / Shutterstock.com
Lutas
pediatra na sala de parto
Andando de ré
Alegando diminuição de custos, Ministério da Saúde pensa em retirar o pediatra
da sala de parto, aumentando brutalmente o risco para bebês e mães
100 | VOX Medica | Agosto 2015
VOX Medica | Agosto 2015 | 101
Lutas
Shutterstock
pediatra na
sala de parto
102 | VOX Medica | Agosto 2015
VOX Medica | Agosto 2015 | 103
Katherine D’Ávila
Lutas
Argollo apresentou o projeto ao líder do governo na Câmara, vereador Kevin Krieger (esq.)
MUNICIPÁRIOS DA CAPITAL
Líder do governo
visita SIMERS
Executivo e Legislativo assumem compromisso com o encaminhamento e a
aprovação das medidas que beneficiam os médicos de Porto Alegre
104 | VOX Medica | Agosto 2015
Amália Ceola
Desde a greve dos médicos de Porto Alegre, em 2003, a prefeitura
da capital vem sendo cobrada pelo SIMERS para implantar um plano
que atraia profissionais e garanta mais assistência na cidade
VOX Medica | Agosto 2015 | 105
Lutas
Em 2005,
o SIMERS
propôs a
criação do
Plano de
Carreira,
Cargos e
Vencimentos
(PCCV) e
passou a
negociar a
carreira de
médico com
a prefeitura
106 | VOX Medica | Agosto 2015
Pryscila Silva
MUNICIPÁRIOS DA CAPITAL
Katherine D’Ávila
Vice-presidente do SIMERS, Maria Rita de Assis Brasil, na Tribuna Popular da Câmara de Vereadores
VOX Medica | Agosto 2015 | 107
Lutas
MUNICIPÁRIOS DA CAPITAL
Imagens: Letícia Heinzelmann
Professor Garcia (PMDB) prometeu cobrar
posição do vice-prefeito, Sebastião Melo
Fernanda Melchionna (Psol) disse que apoia o plano
de carreira para os médicos
Em busca do apoio dos vereadores
108 | VOX Medica | Agosto 2015
Katherine D’Ávila
Katherine D’Ávila
Letícia Heinzelmann
Ao lado, Clarissa Bassin e
Jorge Eltz com o vereador
professor Alex Fraga
(Psol). Abaixo, à esquerda,
Maria Rita e médicos do
HPS levam a reivindicação
ao vereador Reginaldo
Pujol (DEM). Abaixo, à
direita, Jorge Eltz com
o vereador Waldir Canal
(PRB)
VOX Medica | Agosto 2015 | 109
Lutas
MUNICIPÁRIOS DA CAPITAL
110 | VOX Medica | Agosto 2015
Juliane Soska
HOSPITAL CONCEIÇÃO
Encontro deu início às negociações com o grupo
Acordo coletivo com GHC
Assembleia geral deve definir pauta de reivindicações
A
Brasil, representantes das
outros itens, plano de carreira, plano
associações dos hospitais
de previdência complementar,
Conceição, Cristo Redentor
migração de contratos e
e Fêmina (Amehc, Amecre
manutenção das cláusulas previstas
encaminhamento sobre a
migração de contratos para as
gerências responsáveis dentro
da instituição e também o estudo
para implantação dos planos de
carreira e previdenciário, que já
estão em andamento.
e Amehf) e do Sindicato
no acordo anterior.
Barichello se comprometeu a dar
O diretor administrativo e
financeiro do GHC, Gilberto
Barichello, acenou com
alguns avanços, como o
uma resposta formal às demandas.
vice-presidente do
Esta foi a primeira reunião entre
Sindicato Médico,
profissionais e gestores. Os
Maria Rita de Assis
profissionais reivindicam, entre
dos Odontólogos estiveram
reunidos com a direção do
Grupo Hospitalar Conceição
para iniciar as negociações de
acordo coletivo.
Após esse retorno, os médicos do
GHC discutirão a pauta do acordo
coletivo em assembleia geral.
VOX Medica | Agosto 2015 | 111
Lutas
PA CRUZEIRO DO SUL
Muitos problemas
Dificuldade em transferir pacientes e realizar exames laboratoriais, superlotação
e escassez de profissionais. Estas são apenas algumas das precariedades
enfrentadas por pacientes e profissionais do PACS
O
Sindicato Médico participou
exames laboratoriais; a superlotação e a
de debate sobre o Pronto
escassez de profissionais.
Atendimento Cruzeiro do Sul
Eltz ressaltou que, enquanto isso, o
(PACS). A falta de recursos humanos
Hospital Materno-Infantil Presidente
foi apontada pelo SIMERS como um
Vargas (HMIPV) está com leitos
dos principais problemas da unidade
fechados.
de saúde. A reunião foi promovida
pela Comissão de Saúde e Meio
Ambiente (Cosmam) da Câmara de
Vereadores de Porto Alegre e reuniu
funcionários de entidades da área da
saúde para discutir a situação.
O grupo também realizou uma
vistoria no local.
O diretor do SIMERS Jorge Eltz
lembrou que o PACS é uma das
maiores emergências da capital e
está trabalhando no limite. Entre as
precariedades listadas por ele, que
também é pediatra do PA, estão a
dificuldade em transferir pacientes,
especialmente os de psiquiatria, e realizar
112 | VOX Medica | Agosto 2015
– Qual a justificativa para que um
hospital do município, referência na área,
esteja fechado, enquanto nesse pronto
atendimento mães ficam com os filhos
no colo e recebendo medicação sem
nenhuma condição? – questionou.
O dirigente lembrou ainda que com a
chegada do inverno e o frio rigoroso a
situação se agrava.
A superlotação, somada à sobrecarga
dos funcionários, resulta em
atendimentos inadequados, horas de
espera e até violência. O PACS realiza,
em média, 800 atendimentos diários.
Os servidores relataram que há
– Já os que ficam internados não têm as
anos enfrentam situações adversas,
condições ideais de atendimento porque
especialmente devido à falta de recursos
a equipe de enfermagem é insuficiente
humanos, mas também em razão de
– completou.
fatores como insegurança, violência,
O diretor-geral do PACS, Luis Henrique
ameaças e agressões.
Tarragô, acompanhou o debate e
declarou que o déficit de pessoal é
de 20 técnicos de enfermagem, dado
contestado pelos funcionários presentes,
para os quais o problema é bem maior.
Juliane Soska
A enfermeira Rosane Metrangolo
disse que, diariamente, cerca de 200
pessoas desistem do atendimento
devido ao tempo de espera, que pode
chegar a aproximadamente 10 horas.
Diretor do SIMERS Jorge Eltz (esq.) enumera os principais problemas do PACS durante reunião promovida pela Cosman
VOX Medica | Agosto 2015 | 113
Lutas
RESIDÊNCIA MÉDICA
Exaustão
é rotina para os recém-formados
SIMERS e NAS defendem descanso durante a jornada de trabalho e
apoiam campanha dos profissionais veiculada nas redes sociais
C
om um regime de trabalho que pode
De acordo com o presidente da Associação
ultrapassar cem horas semanais
dos Médicos Residentes do Rio Grande do
e plantões de mais de 36 horas
Sul (Amerers), Paulo Ricardo Mottin Rosa,
independentemente da área de atuação, seja
é estafante e, por isso, o Sindicato Médico e o
clínica ou cirúrgica, o tempo de dedicação
Núcleo Acadêmico SIMERS (NAS) defendem
ultrapassa as 60 horas descritas no Decreto
o direito do grupo de ter alguns instantes de
80.281/1977, que regulamenta a residência
descanso durante a jornada de trabalho.
médica no Brasil.
Shutterstock
ininterruptas, a rotina dos médicos residentes
114 | VOX Medica | Agosto 2015
#EuTambémDormi
Criticados por dormir em plantões que duram
até 72h, médicos postam fotos simulando que estão dormindo.
O período em que os residentes estão no hospital, que inclui
verificar a situação dos pacientes na rotina hospitalar e o
plantão, pode durar 36 horas ininterruptas, sem intervalo ou
horário definido para as refeições.
O presidente da Amerers, residente em Medicina Interna
no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre,
afirma que o formato não beneficia o aprendizado, como
uma pós-graduação habitual. Além da exaustão, Rosa diz
ter conhecimento de casos de desvio de função – quando,
devido à demanda excessiva, o residente cumpre as tarefas
de médico contratado sem receber por isso e respondendo
legalmente, em caso de problemas.
A história da campanha
Tudo começou após críticas a uma residente mexicana,
que foi fotografada cochilando e teve sua imagem
divulgada. Médicos responderam em “apoio ao cochilo”,
e então milhares de profissonais na América Latina
começaram a compartilhar nas redes sociais fotos em
que eles próprios ou algum colega aparecem dormindo
durante plantões em hospitais. Assim se iniciou a
Nas páginas do Facebook do SIMERS e do NAS,
dezenas de estudantes, residentes e médicos se
manifestaram a favor da campanha, lembrando que o
cansaço atrapalha, mas é uma das menores aflições de
um residente ou médico plantonista, que enfrenta um
sistema bastante precário.
campanha #YoTambienMeDormi, que ganhou a sua
Para participar da campanha, poste no Facebook,
versão brasileira nas redes sociais com a hashtag
Twitter ou Instagram uma foto do seu cochilo no plantão
#EuTambémDormi.
e use a hashtag #EuTambémDormi.
VOX Medica | Agosto 2015 | 115
Lutas
VIOLÊNCIA
Rotina de ameaças
e agressões físicas e verbais
Posto Bom Jesus paralisa atendimentos em protesto por falta de segurança
M
édicos e demais
funcionários
fecharam o Pronto
Atendimento (PA) da Bom Jesus,
em Porto Alegre, durante 12
horas.
A mobilização ocorreu em reação
à violência crescente contra os
profissionais da unidade. Os
funcionários não aguentam mais
ameaças e agressões físicas e
Shutterstock
verbais, que viraram rotina.
116 | VOX Medica | Agosto 2015
O Sindicato Médico apoia
integralmente a medida
e adverte que a falta de
estrutura é a principal causa
da situação: as instalações
são precárias, o pessoal
insuficiente, a realização de
exames e procedimentos é
demorada e difícil e os postos
na região são escassos.
Pryscila Silva
Médicos e demais funcionários prestaram esclarecimentos à comunidade
O presidente do SIMERS, Paulo de
Argollo Mendes, defende a melhoria
da estrutura, contratação de mais
médicos e demais funcionários por
concurso e construção de área física
para atendimento.
Superlotação
Segundo os funcionários, a média
tem sido de dois casos de ameaça e
Shutterstock
agressão por dia. Falta de infraestrutura. Falta de pessoal
A prefeitura de Porto Alegre age de forma temerária ao se manter inerte diante
da gravidade de fatos como os que ocorrem no PA da Bom Jesus. É imperativa
a imediata contratação de mais médicos e funcionários. A equipe é insuficiente
para o volume de atendimentos. É imprescindível a imediata construção de outros
prédios, pois os atuais têm área física incompatível com a procura, além de serem
insalubres.
VOX Medica | Agosto 2015 | 117
Lutas
VIOLÊNCIA
Entrevista Argollo
Shutte
rstock
Minuto Simers
118 | VOX Medica | Agosto 2015
A prefeitura de Porto Alegre age de forma temerária ao se manter
inerte diante da violência nas unidades de saúde do município
VOX Medica | Agosto 2015 | 119
Lutas
Cláudia Barbosa
notas
SAÚDE CAIXA E DOCTOR CLIN
O Sindicato Médico recebeu os representantes de duas operadoras de planos de
saúde: Saúde Caixa e Doctor Clin. Durante a reunião, o coordenador da Saúde Caixa,
Leandro Araújo, solicitou auxílio para o fortalecimento da transmissão eletrônica dos
formulários. O plano de saúde cuida de 20 mil vidas no Estado e utiliza a 5ª edição
da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM). Em
2014, a operadora pagava R$ 68,00 a consulta. Agora, o valor passou para R$ 77,00,
chegando a R$ 92,00 em áreas de menor disponibilidade. Com 90 mil beneficiários,
a Doctor Clin contabiliza 200 mil consultas por ano. São 600 médicos credenciados.
A operadora também utiliza a 5ª edição da CBHPM e o valor praticado nas consultas
só será reajustado em novembro, conforme explicou Marcos Cabral, gerente de
Relacionamento da empresa.
120 | VOX Medica | Agosto 2015
Letícia Heinzelmann
SAMU
Sul América debate
reajuste
A sobrecarga de trabalho dos profissionais do Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é um tema
A operadora Sul América Saúde
que preocupa o Sindicato Médico. A vice-presidente da
esteve reunida com representantes
entidade, Maria Rita de Assis Brasil, levou a demanda ao
do SIMERS para discutir o reajuste
conhecimento da Promotoria de Justiça de Defesa dos
do valor da consulta médica, tendo
Direitos Humanos de Porto Alegre. A insuficiência do
em vista a aproximação da data-
serviço acaba repercutindo nos setores de emergência, o
base que ocorre em setembro. Hoje,
que prejudica os profissionais da saúde e a população.
a remuneração está em R$ 72,00
– Este serviço precisa de 88 médicos e, atualmente,
por consulta. Com o ajuste do Índice
só tem 55 profissionais. Isto fatalmente significa
Nacional de Preços ao Consumidor
desassistência, e na emergência pode significar a morte
Amplo (IPCA), deve se aproximar do
– alertou a vice-presidente do SIMERS à promotora Liliane
valor de pleito das entidades médicas.
Dreyer da Silva Pastoriz.
Outro ponto debatido no encontro
foi a aplicação da Lei 13.003/2014,
contratos escritos entre as operadoras
e seus prestadores de serviços.
A Sul América se comprometeu em
encaminhar, até o final de agosto,
Cláudia Barbosa
que torna obrigatória a existência de
o contrato de cada um dos 1,3 mil
médicos referenciados, para análise
do SIMERS.
VOX Medica | Agosto 2015 | 121
Lutas
POLOS REGIONAIS
Arquivo SIMERS
A estrada é a rotina dos representantes do Sindicato Médico.
A atuação do SIMERS abrange todo o Estado, e por isso a equipe está sempre viajando,
percorrendo centenas de quilômetros e visitando todas as cidades em que os médicos
demandam assessoria, informação ou posicionamento político
109
Km
ESTRELA
Formalização de
contratos dos
anestesistas
Os médicos anestesistas da
cidade de Estrela solicitaram
auxílio do Sindicato Médico para
elaborar o contrato de trabalho,
a fim de formalizar a relação
com o Hospital Estrela, que está
pendente há dois anos. Após
a reunião, o SIMERS propôs
algumas mudanças no texto,
as quais estão sob avaliação da
instituição.
122 | VOX Medica | Agosto 2015
366
Km
BAGÉ
Demanda de exames periciais a plantonistas é irregular
Denúncia de que os médicos da Santa Casa de Bagé estavam recebendo
solicitações para realizar exames de corpo de delito durante plantões levou
representantes do SIMERS até o município. A Resolução 18/2009 veta
75
Km
Hartzpor plantonistas. A competência é do Departamento Médico
essaNova
atividade
Legal.
Questionado
Pauta
definida pelo Sindicato, o delegado da Polícia Federal local se
comprometeu a não mais solicitar os laudos aos médicos plantonistas.
O Sindicato Médico
Durante a visita à cidade, os representantes do SIMERS também
esteve em Nova Hartz
esclareceram questionamentos dos médicos da Santa Casa, que pediram
para reunião com os
um relato sobre a assembleia realizada na sede da entidade, em Porto
médicos municipários.
Alegre, sobre parto seguro versus parto dito humanizado. Os profissionais
O debate do plano
mostraram interesse em participar da comissão formada pelo Sindicato e pela
de carreira médica
Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs).
e a negociação
para a redução da
carga horária de
trabalho, vinculada a
metas e atividades,
foram os temas do
encontro. Outro
objetivo da categoria
é o reenquadramento
funcional
considerando a
qualificação técnica.
O SIMERS solicitou
Roque Oliveira | www.panoramio.com
uma reunião com o
secretário da Saúde
do município para
apresentação da
proposta desenvolvida
pelo grupo de
médicos.
VOX Medica | Agosto 2015 | 123
Lutas
Arquivo SIMERS
POLOS REGIONAIS
Secretaria Municipal da Saúde destacou importância de conscientizar
população sobre limites da atividade dos optometristas
DOM PEDRITO
439
Km
Público, o Sindicato Médico debateu a suspeita de exercício ilegal da medicina
Negociação evita
suspensão das
atividades
por optometristas. O assunto foi tema de apedidos publicados em março (veja
O Sindicato Médico
abaixo). O problema é enfrentado também em Bagé e em Santana do Livramento.
conseguiu evitar
O promotor informou que irá investigar o fato, enquanto a secretaria se mostrou
a suspensão das
disposta ao diálogo, apontando a importância de se conscientizar a população
atividades médicas
sobre as restrições legais às atividades dos optometristas.
nas áreas de
Encontros debatem exercício ilegal da medicina
Em reuniões com a Secretaria da Saúde de Dom Pedrito e com o Ministério
obstetrícia, pediatria
e cirurgia na Santa
Casa de Dom Pedrito.
A instituição se
comprometeu a
efetuar o pagamento
do sobreaviso aos
profissionais dessas
especialidades assim
que o Estado quitar
os valores em atraso.
124 | VOX Medica | Agosto 2015
Imagens: Cláudia Barbosa
124
Km
TRAMANDAÍ
Cirurgiões atuam sem médico auxiliar
Os médicos cirurgiões do Hospital de Tramandaí, administrado pela Fundação Hospitalar Getúlio
Vargas (FHGV), estão atuando sem médico auxiliar em procedimentos cirúrgicos. O problema foi
detalhado em encontro na sede do SIMERS, em Porto Alegre. Na oportunidade, foram discutidas as
medidas a serem tomadas diante da situação, que afronta a Resolução 1.490, de 1998, do Conselho
Federal de Medicina (CFM). O SIMERS enviou ofício à administração da FHGV cobrando uma solução
imediata, diante dos prejuízos à população.
Diretor do SIMERS André Gonzales (esq.) se comprometeu a cobrar providências do hospital
VOX Medica | Agosto 2015 | 125
Lutas
Arquivo SIMERS
POLOS REGIONAIS
SIMERS negocia remuneração e condições de trabalho de anestesistas do Hospital Ivan Goulart
594
Km
SÃO BORJA
Em busca de melhorias para anestesistas
O Sindicato Médico, junto com seu conselheiro Ary Poerscke, esteve em
São Borja para negociar questões de remuneração e melhores condições de
trabalho para os médicos anestesistas que atuam no Hospital Ivan Goulart.
O SIMERS se reuniu com os profissionais e a direção da instituição.
Também foi debatida a dívida da instituição com o pagamento de honorários
de um de seus profissionais, referentes a fevereiro, março e abril. O hospital
reconheceu o problema e foi elaborado cronograma para pagamento dos
valores.
126 | VOX Medica | Agosto 2015
649
Km
Nova Hartz
Pauta definida
75
Km
O Sindicato Médico esteve
em Nova Hartz para
URUGUAIANA
reunião com os médicos
Ex-gestora condenada por omitir vínculo empregatício
municipários. O debate do
A Justiça Federal condenou uma ex-administradora do Hospital Santa
Casa de Caridade de Uruguaiana pela prática de atos de improbidade
administrativa. A ré foi acusada de omitir informações relativas ao
contrato de trabalho mantido com a instituição ao Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS). A sentença, da juíza federal substituta Aline
Ludwig Corrêa de Barros, publicada em junho, acatou denúncia do
Ministério Público Federal (MPF).
A ex-gestora estaria buscando junto ao INSS a concessão de
aposentadoria por invalidez, decorrente de um acidente trabalhista
ocorrido em Porto Alegre, e, para tanto, teria ocultado a relação de
emprego junto ao hospital de Uruguaiana para que sua argumentação
de incapacidade laboral não fosse prejudicada. Em consequência, os
cofres públicos teriam deixado de arrecadar R$ 20.812,49, a título de
e a negociação para a
redução da carga horária
de trabalho, vinculada a
metas e atividades, foram
os temas do encontro. Outro
objetivo da categoria é o
reenquadramento funcional
considerando a qualificação
técnica. O SIMERS
solicitará reunião com
o prefeito do município para
debater melhores condições de
trabalho para os médicos.
Imagem: uruguaiana.rs.gov.br
contribuição previdenciária.
plano de carreira médica
VOX Medica | Agosto 2015 | 127
Lutas
POLOS REGIONAIS
496
Km
Santa Vitória do Palmar
Alerta sobre prescrição para óculos e saúde do paciente
183
Km
NOVA PRATA
Negociação com Hospital São João Batista
O Sindicato Médico esteve reunido com médicos do Hospital São João Batista, de Nova Prata. Os
profissionais pedem o reajuste do valor do sobreaviso. A ideia é que a remuneração se aproxime da que
é praticada na maioria dos hospitais do Estado. O acordo que prevê a remuneração atual se encerra
em dezembro, mas o grupo espera iniciar desde já o diálogo com a direção do hospital. O SIMERS já
encaminhou documento com as reivindicações dos profissionais.
128 | VOX Medica | Agosto 2015
Arquivo SIMERS
100
Km
TRÊS COROAS
Intervenção do SIMERS mantém atendimentos
Médicos do hospital de Três
Coroas não recebiam sobreaviso e
produções
Os médicos do Hospital Oswaldo Diesel, de Três Coroas, estavam sem receber por
sobreaviso e produções – alguns não eram pagos há nove meses. Após o Sindicato
Médico conversar com os profissionais e notificar a instituição, a direção do hospital
Templo Budista em Três Coroa – Imagem: Kellen Maragno
efetuou o pagamento de quatro meses e se comprometeu a quitar o restante, de
acordo com cronograma apresentado. A proposta garantiu que os serviços não fossem
suspensos. O SIMERS também se reuniu com a promotoria do Ministério Público, para
informar sobre o acordo.
VOX Medica | Agosto 2015 | 129
Lutas
POLOS REGIONAIS
489
Km
santana do livramento
Em apedido, SIMERS esclarece suspensão de atendimentos eletivos
130 | VOX Medica | Agosto 2015
SANTA CRUZ DO SUL
Preocupação
com os cortes na saúde
Situação de precariedade tensiona médicos, que temem pelo atraso nos salários
O
impacto dos cortes nos repasses
ambiente de dificuldades que se espalha pelo
da saúde pelo governo estadual
Rio Grande do Sul, em razão de atrasos de
para o atendimento a pacientes em
meses nos pagamentos de profissionais.
Santa Cruz do Sul é uma preocupação para
Em Santa Cruz do Sul, Maria Rita ouviu de
o Sindicato Médico.
colegas a preocupação com a manutenção da
A vice-presidente da entidade, Maria Rita de
assistência, desde a rede básica até serviços
Assis Brasil, esteve no município em encontros
de ponta implantados na região, como o de
com médicos e dirigentes da categoria nos
oncologia, e que atraiu muitos especialistas
hospitais Santa Cruz e Ana Nery e confirmou o
para se fixar na cidade.
Imagens: Patrícia Comunello
Encontro reuniu os médicos de Santa Cruz do Sul e região
VOX Medica | Agosto 2015 | 131
Lutas
SANTA CRUZ DO SUL
– Vivemos um momento muito grave, e não
é só no Estado, mas no País, considerando
que o orçamento da União para o SUS está
condicionado ao crescimento do PIB, que
será negativo este ano – observou Maria
Rita.
A dirigente sindical lembrou que a atuação da
entidade busca garantir que os profissionais
recebam seus honorários pela assistência
prestada aos pacientes, dentro do contratado,
Maria Rita (esq.) e o delegado
Boessio com a diretora clínica
do Hospital Santa Cruz do Sul
e que sejam valorizados.
– Estamos acompanhando e agindo em
cada localidade, pressionando os gestores –
explicou a dirigente sindical.
deficiências de cobertura na rede de postos
na especialidade, aumenta a pressão de
Médicos atentos
demanda no hospital.
No Hospital Santa Cruz do Sul, Maria Rita
– A situação da saúde pública vem piorando, e
e o delegado regional do SIMERS Daniel
os gestores acabam tomando decisões sobre
Leonardo Boessio conversaram com a
formas de contratação que não garantem a
diretora clínica, Tatiane Kurtz. A gestora
estrutura adequada – exemplificou a diretora
ressaltou a importância da presença
clínica, relatando que o município está
do Sindicato e lembrou que, entre as
terceirizando a disponibilidade de médicos da
preocupações na instituição, que funciona
especialidade, por meio de empresas.
como hospital-escola da Faculdade de
No Hospital Ana Nery, os dirigentes do
Medicina da Universidade de Santa Cruz do
SIMERS conversaram com o diretor-executivo
Sul (UNISC), está a área de pediatria. Com as
da instituição, Lídio Irineu Rauberec, e com
132 | VOX Medica | Agosto 2015
Encontro no
Hospital Ana
Nery: serviço de
oncologia está
ameaçado
o diretor clínico, Fabio Girardi. Rauberec falou
Girardi, possibilitou a composição de uma
sobre os impactos negativos para o hospital
remuneração dos especialistas, contornando
pelo fato da instituição não estar recebendo
os baixos valores tradicionalmente pagos
os recursos de incentivos financeiros criados
pelo SUS e viabilizando a instalação da
no governo passado para a assistência ao
assistência com alto nível de qualidade
SUS. O diretor-executivo citou, ainda, que
de recursos humanos, área física e
o aumento de custos, como o de energia
equipamentos.
elétrica, fazem com que o déficit em alguns
Profissionais vieram de outras regiões e
serviços seja insuportável.
montaram suas vidas profissionais e pessoais
– Mesmo assim, teremos de manter a
em Santa Cruz do Sul.
operação, pois fizemos grandes investimentos
– Vivemos um clima de incerteza. Muitos,
– justificou Rauberec.
como eu, transferiram-se para cá para levar
O diretor clínico falou sobre o temor vivido
à população um serviço de ponta, e que não
pelo corpo clínico diante de repasses
poderá ser mantido nas condições originais –
menores de verbas, o que inviabilizará
alerta o diretor clínico.
a manutenção de algumas estruturas,
como a da oncologia. O incentivo, explicou
VOX Medica | Agosto 2015 | 133
Lutas
Uruguaiana
Médicos festejam
carteira assinada
Profissionais do corpo clínico da Santa Casa comemoram
a conquista, reivindicada há anos e finalmente alcançada
134 | VOX Medica | Agosto 2015
Domênikos Fotografias
Em evento em Uruguaiana, Maria Rita (de preto) comemorou com médicos conquista de contratos formais
VOX Medica | Agosto 2015 | 135
Serviço
Cronograma para o
livro-caixa
Novo procedimento prevê prazos máximos para recebimento de documentos e
organiza com antecedência e periodicidade a contabilidade dos médicos
136 | VOX Medica | Agosto 2015
Zim bra
Cronograma
08/06/2015
Prazos
Meses de referência
Entrega até
15/6/2015
Documentos dos meses
de janeiro a maio
Entrega até
15/8/2015
Documentos dos meses
de junho e julho
Entrega até
15/10/2015
Documentos dos meses
de agosto e setembro
Entrega até
15/12/2015
Documentos dos meses
de outubro e novembro
Entrega até
15/1/2016
Documentos de
dezembro
2/3
&xim =1
ssage?id=109597
imbra/h/printme
ers.org.br/z
http://webmail.sim
O serviço de assessoria de Imposto de Renda do SIMERS atende,
em média, 70 pessoas diariamente, entre contatos presenciais
e por telefone. Além do Imposto de Renda, a equipe também é
especializada para tratar de assuntos como livros-caixa, ganhos
de capital, carnê leão, parcelamentos e malha fina.
VOX Medica | Agosto 2015 | 137
humor
Reflexões sobre erros
Errar é humano.
Botar a culpa nos outros também.
Assumir o poder é o começo do erro.
Errata
Há inúmeras vezes em que um cão ladra
e logo em seguida arranca um pedaço da
perna da pessoa.
Erro de Deus. Se o mundo fosse de vidro o
pessoal tomava muito mais cuidado.
Entre o certo e o errado há sempre espaço
para mais erros.
Um acerto, uma vez acertado, raramente
pode ser melhorado. Um erro, porém, tem
sempre a possibilidade de ser mais errado.
Imagens: Shutterstock
“Errando é que se aprende”. A errar.
A Bíblia do Caos, de Millôr Fernandes
Textos utilizados sob autorização
VOX Medica | Agosto 2015 | 139
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140 | VOX Medica | Agosto 2015
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