PSEUDO-ANEURISMA DE TRONCO CELiACO Nelio Cezar Munhoz' Wilson Nunes" Platao Fischer-Ptihler'" Akemi Koyaishi···· Fernando Luis Soma···· Os autores apresentam Um caso de aneurisma de tronco celfaco rota p6s-trauma e transformado em pseudoaneurisma de gran des propon;:oes_ 0 tratamento realizado constituiu em aneurismectomia e ligadura da arteria na sua emergencia sem revascularizac;ao. Os autores fazem uma revisao do quadro clfnico e da ocorrencia do aneurisma de tronco celfaco. Professor de Cirurgia Vascular da Faculdade de Medicina do Triangulo Mineiro (FMTM). Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela A.M.M. e C.F.M .. Medico do Servico de Urgencia do Pronto Socorro do Hospital Escola da FMTM •• Chefe da Disciplina de Angiologia e Cirurgia Vascular da FMTM ••• Professor da Disciplina de Cirurgia Geral, Setor de Figado Vias BiHares da FMTM •••• Residentes de Cirurgia Geral da FMTM INTRODU<;:Ao Aneurismas de tronco celiaco sac uma ocorrencia infreqtiente na pratica clinica. Ocorrendo urn em cada 8.000 necropsias3,8. Deterling, em 1970, relatou 50 casos em 1424 pacientes com aneurismas de arterias digestivas1. Ha 48 casos re1atados entre 1950 e 1985, numa revisao feita par Graham2. A primeira cirurgia realizada com exito foi feita par Schumaker em 19587. A causa mais freqtiente e a arteriosclerotica, sendo menos freqtientes as causas traumaticas, micoticas ou congenitas8.9. Transtornos gastrointestinais, desconforto epigastrico e, as vezes, angina visceral sac os sintomas mais comuns das lesoes do tronco celiaco sintomaticas, podendo haver dor epigastrica, hemorragia gastrointestinal, angina e ictericia obstrutiva quando 0 aneurisma envolve a arteria mesenterica superior e a arteria hepatica. Dificilmente se palpa massa no abdome ou se consegue ouvir sopro. Eventualmente observa-se alguma calcificac,;aona projec,;aodo aneurisma na radiografia simples, quando se trata de patologia arteriosclerotica. A evoluc,;aodestas lesoes pode ser fatal quando 0 diagnostico nao e precoce. Com 0 advento da ultrassonografia, os riscos de rotura sac menores devido aodiagnostico da lesao e sua correc,;aoa tempo. Conforme dados obtidos par Kraft e cols.5, antes do ultrassom, angiografia ou tomografia computadorizada, 31 entre 39 pacientes morriam pela rotura do aneurisma e 0 diagnostico era estabelecido em necropsia. E.M.V., 56 anos, masculino, branco, pedreiro, com queixa de "caroc,;ona barriga" ha 8 meses. Historia Pregressa da Molestia: Refere que ha 2 anos vem apresentando dor epigastrica, tipo queimac,;ao,que melhora com alcalis e piara com acidos. Teve 2 episodios de hematemese e enterorragia. Ha 8 meses sofreu agressao (soco) na regiao epigastrica de forte intensidade. Apos alguns dias comec,;oua notar aparecimento de tumorac,;ao no epigastrio, enfisematoso, eupneico. Corac,;aoritmico a 80 s.p.m. Presnotou dor e aumento da tumorac,;ao.Nega nauseas, vomitos ou alterac,;oesintestinais. Antecedentes pessoais: Tabagista por 40.arios, etilista social, hipertensao arterial sem tratamento. Exame fisico: Hidratado, corado e anicterico. Torax: enfisematoso, eupneico. Corac,;aoritmico a 80 s.p.m., Pressac arterial: 160 x 100 mmHg. Abdome: sem cicatrizes anteriores, massa pulsatil no epigastrio e hipocondrio esquerdo, movel e expansivel, presenc,;ade sopro sistolico, com dimensoes aproximadamente de 8 x 10 em. Ruidos hidroaereos presentes e normoativos. Giordano negativo. Pulsos universalmente palpaveis. Exames laboratoriais: Hc: 4.300.000/mm3, Hb: 12,9 g%, Ht: 39%, Glicemia: 74 mg%, Na: 145 mEqll, K: 4,5 mEqll, Ureia: 72 mg%, Creatinina: 0,6mg%. Tipo sanguineo: B(+), TS: 1'30", TC: 6830", Atividade protrombinica: 63%. Exames Radiologicos: Rx de torax e abdome simples: n.d.n. Ultrassonografia abdominal (Fig I): massa justaaortica, cistica com fluxo arterial em seu interior correspondendo ao tronco celiaco ou arteria hepatica. Angiografia: arteria mesenterica superior. Feita abertura da parede do pseudo-aneurisma com retirada de grande quantidade de trombos de seu interior e realizada ressec<;;ao do mesmo (Fig. 3); realizada rafia com chuleio simples em do is pIanos com fio inabsorvivel, tomando-se 0 cuidado de nao se realizar ligadura justaa6rtica. 0 paciente evoluiu bem no p6s-operat6rio, sem sinais clinico-laboratoriais de insuficiencia hepatica, recebendo alta no 109 P.O. sem outras intercorrencias. Resultado do anatomo-patoI6gico: material produto de ressec<;;ao de aneurisma de tronco celiaco com trombos intraluminares e parede neoformada. nao conseguiu visualizar 0 tronco celiaco, atingindo apenas contrasta<;;ao ao nivel das arterias renais, com arteria aorta com calibre preservado. Ato cirurgico: Paciente submetido a laparotomia com incisao tipo longitudinal mediana xifoumbilical. Acesso it massa aneurismatica atraves do pequeno omen to, evidenciada em posi<;;aosupra pancreatica de dimens6es aproximadas de 10 x 8 cm. Realizada identifica<;;ao das arterias esplenica, hepatica e mesenterica superior, com descolamento da massa aneurismatica (Fig. 2). Realizada ligadura da arteria hepatica, que se encontrava trombosada, e da arteria esplenica. Evidenciou-se tambem hipertrofia da o prop6sito da apresenta<;;ao desse caso e a relativa falta de comunica<;;ao de casos de pseudo-aneurism a de tronco celiaco na literatura. Alguma referencia e feita num relato de Melliere6 descrevendo 2 casos, porem de pequenas propor<;;6es e urn aneurisma p6s-esten6tico por compressao do ligamento arqueado. 0 presente caso, porem, sugere ter sido urn aneurisma verdadeiro do tronco celiaco e que na evolu<;;ao rompeu por trauma e deu origem a urn pseudo-aneurisma que cresceu e chegou ao servi<;;oem pre-rotura. Cabe discussao tambem it conduta cirurgica tomada de nao se fazer revasculariza<;;ao das arterias emergentes do tronco celiaco porque notou-se calibre muito pequeno da arteria hepatica. Colaborou tambem para esta conduta 0 fato de em toda a manobra de clampagem do aneurisma nao haver modifica<;;ao da colora<;;ao de al<;;as,figado ou ba<;;o;a hipertrofia da arteria mesenterica superior e a espessura da arteria hepatica e esplenica para uma possivel anastomose com tecido autologo (~afena) ou enxerto e tambem a ausencia do orificio de entrada arteria gastrica esquerda na mass a aneurismati- I. ca. Exames de func;ao hepatica e a evoluc;ao do quadro praticamente sem ileo adinamico comprovaram 0 acerto da medida da ligadura, com diminuic;ao do tempo cirurgico. Tomou-se 0 cuidado de fazer a ligadura ligeiramente distal e nao justaaortica, conforme sugesti'io de outros autores4. 2. 3. 4. 5. 6. SUMMARY CELIAC ARTERY PSEUDOANEURYSM The authors present a case of celiac artery aneurysm ruptured after trauma and turned into a pseudoaneurysm of great dimension. They also comment the treatment with aneurysmectomy without reconstruction of circulation and the results obtained. 7. 8. 9. DETERLING RA Jr: Aneurysms of the visceral arteries. J Cardiovasc Surg, 12:309, 1971. GRAHAM LM, STANLEY JC, WHITEHOUSE WM, ZELENOCK GB, WAKEFIELD TW, CRONENWETT JL & LINDENAUER SM - Celiac artery aneurysms: historic (1745-1949) versus contemporary (1950-1984) differences in ethiology and clinical importance. J Vasc Surg, 2:757, 1985. HAIMOVICI H: Vascular Surgery. Principles and techniques, Appleton-Century-Crofts, N .York, 1982. HAIMOVICI H, SPRA YREGEN S, ECKERSTEIN P, VEITH FJ: Celiac artery aneurysmectomy: case report with review of the literature. Surgery, 79:592, 1976. KRAFT RO & FRY WJ: Aneurysms of the celiac artery. Surg Gynec Obstet, 117:563, 1967. MELLIERE D, BECQUEMIN JP, KASSAB M & SOV ADA F: Aneurismes des arteres digestives. J Mal Vasc, 14:206, 1989. SCHUMAKER HB Jr & SIDEVYS H: Excisional treatment of aneurysms of celiac artery. 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