Universidade Federal do Amapá - UNIFAP Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA-AP Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológicas do Estado do Amapá – IEPA Conservação Internacional do Brasil – CI-Brasil Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical - PPGBIO GRACILIANO GALDINO ESTRUTURA POPULACIONAL DE ÁRVORES PIONEIRAS EM BORDAS FLORESTAIS DE DUAS REGIÕES NA AMAZÔNIA BRASILEIRA Macapá - AP 2008 GRACILIANO GALDINO ESTRUTURA POPULACIONAL DE ÁRVORES PIONEIRAS EM ÁREAS DE BORDA DE DUAS REGIÕES NA AMAZÔNIA BRASILEIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Biodiversidade Tropical. Orientador: Dr. Marcelo Tabarelli Co-orientador: Dr. Henrique E. M. Nascimento Macapá - AP 2008 ii GRACILIANO GALDINO ESTRUTURA POPULACIONAL DE ÁRVORES PIONEIRAS EM ÁREAS DE BORDA DE DUAS REGIÕES NA AMAZÔNIA BRASILEIRA Aprovada em 21/11/2008 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração em Ecologia. Orientador: Dr. Marcelo Tabarelli Co-orientador: Dr. Henrique E. M. Nascimento ____________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Marcelo Tabarelli (UFPE) ____________________________________________________ Co-Orientador: Prof. Dr. Henrique E. M. Nascimento (INPA) _____________________________________________________ 1° Examinador: Prof. Dr. Marcelino Guedes (EMBRAPA) _____________________________________________________ 2° Examinador: Dr. Christoph Bernhard Jaster (IBAMA) _____________________________________________________ 3° Examinador: Prof. Dr. Arley José Silveira da Costa (UNIFAP) iii AGRADECIMENTOS Agradeço ao Dr. Marcelo Tabarelli, meu orientador, por ter topado essa orientação à distância. Ao meu co-orientador, Dr. Henrique E. M Nascimento, principalmente pela ajuda em período integral na finalização da dissertação. Aos financiadores, Conservação Internacional do Brasil, pela bolsa de mestrado concedida, ao programa PROCAD, pela passagem cedida para que eu pudesse analisar meus dados em Manaus e a CAPES, pela verba cedida através do programa SAUX. Aos membros da banca pelas importantes considerações que melhoraram significativamente o produto final deste trabalho. Aos meus pais, que me apoiaram muitíssimo emocionalmente, moralmente e principalmente, financeiramente. Pois eles sabem que vida de estudante “estrangeiro” na Amazônia não é fácil! Aos meus irmãos, pela companhia extremamente divertida e inteligência sem igual! À Coordenação do PPGBIO, representada pela coordenadora Dra. Helenilza Cunha e a secretária Rejane Peixoto, pela ajuda com os problemas acadêmicos e nãoacadêmicos. Ao IBAMA, em especial aos analistas do Parque Nacional do Cabo Orange, pelo apoio logístico e tempo cedido para me ajudar a realizar o campo no Oiapoque. Aos irmãos Jacó e Deusdete, por serem extremamente gentis em permitir que eu morasse por vários meses na fazenda do Oiapoque para coletar meus dados. Aos amigos e colegas feitos nesses dois anos em Macapá, principalmente os ppgbianos que sempre tinham um tempo pra uma cervejinha na sexta feira. Essa história de ser cobaia acabou servindo pra alguma coisa né? iv Aos compadres de Recife, que independente de onde estiverem, sempre que possível me quebram uma castanha. À turma de Belém, em especial ao Márcio e Goreti, pelas diversas hospedagens e boa companhia durante minhas passagens por lá. Enfim, agradeço a todos que ajudaram de forma indireta e direta na realização desta dissertação. v RESUMO Neste trabalho, nós avaliamos como os efeitos de borda em grande escala podem afetar diferentes grupos de árvores pioneiras, as de ciclo de vida curto e as de ciclo longo. Para isso, selecionamos quatro espécies, duas de ciclo de vida curto (Bellucia grossularioides e Cecropia sciadophylla) e duas de ciclo longo (Goupia glabra e Laetia procera). Nós utilizamos 20 parcelas de 1 ha (100 x 100 m) em cada uma das duas áreas de estudo (Oiapoque e Manaus), sendo 10 parcelas alocadas na borda e 10 parcelas no interior da floresta. Nestas parcelas todos os indivíduos ≥ 1 cm de DAP foram inventariados. Como esperado, foi observado diferença significativa na densidade de indivíduos entre borda e interior da floresta em ambos os locais. Porém, quando analisamos as densidades de jovens (< 10 cm de DAP) e adultos (> 10 cm de DAP) separadamente e comparamos entre os ambientes, as áreas de borda apresentam maior densidade de adultos em C. sciadophylla e B. grossularioides e maior densidade de jovens em G. glabra e L. procera. A distribuição dos indivíduos em classes de diâmetro também mostrou populações com maior parte de indivíduos adultos em áreas de borda para C. sciadophylla e B. grossularioides e populações jovens em G. glabra e L. procera. Após os 23-27 anos de formação de bordas em Manaus, com exceção de C. sciadophylla, todas as espécies sofreram incremento negativo de indivíduos adultos. Quando comparamos a estrutura populacional das espécies nas parcelas de borda entre os sítios, vimos que a resposta foi muito semelhante com exceção da B. grossularioides, que sofreu o colapso populacional (desaparecimento) nas parcelas estudadas em Manaus. Os resultados deste estudo indicam que os efeitos de borda causam alterações significativas na estrutura populacional (densidade e distribuição de tamanho dos indivíduos) de árvores pioneiras, independentemente do sítio florestal. De forma geral, as espécies pioneiras proliferam na borda, todavia, nossos resultados indicam que espécies pioneiras efetivamente podem apresentar respostas totalmente diferenciadas aos efeitos de borda. Palavras-chave: degeneração florestal; grupos ecológicos; pioneiras de ciclo curto; pioneiras de ciclo longo; PDBFF; Escudo das Guianas. vi ABSTRACT Here we assessed how large-scale edge effects may affect two groups of pioneer trees with different life spans - short- and long-lived pioneers. To accomplishing this, we selected four species, two short-lived (Bellucia grossularioides and Cecropia. sciadophylla) and two long-lived (Goupia glabra and Laetia procera), which had all individuals ≥1 DBH surveyed within 20 1-ha plots (10 plots established at the edges and 10 plots in the forest interiors) in each study site (Oiapoque and Manaus sites). As expected, the density of trees ≥1 DBH was significantly higher in edge than interior plots in both sites. However, when separately analyzed, the saplings (< 10 cm DBH) and adults (> 10 cm DBH) densities showed different responses between edge and interior. C. sciadophylla and B. grossularioides had higher densities of adult individuals in edges, while G. glabra and L. procera had higher densities of saplings in the same environment. The specie’s individual distribution in diametric classes reinforced the idea of older short-lived and younger long-lived pioneer populations on forest edges. Also, when the two sites were compared, we found very similar responses in demographic structure of all species, excepting for B. grossularioides, which collapsed at Manaus site. Overall, these results indicates that edge effects causes significantly changes in pioneer tree populations structure (density and individuals size distribution), independent of site characteristics. Also showed that pioneer tree species proliferate in edge-affected environments, but indicates totally different responses between species. Keywords: forest degeneration; ecological groups; short-lived pioneer; long-lived pioneer; BDFFP; Guianan Shield. vii SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT Lista de Tabelas Lista de Figuras 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. Efeitos de borda sobre a vegetação 1 1.2. Sucessão e grupos ecológicos 4 2. MATERIAIS E MÉTODOS 8 2.1. Áreas de estudo 8 2.2. Espécies de árvores investigadas 10 2.3. Desenho amostral e dados demográficos 12 2.4. Análises de dados 15 3. RESULTADOS 15 4. DISCUSSÃO 21 5. CONCLUSÕES 25 REFERÊNCIAS 26 viii Lista de Tabelas Tabela 1 Lista das principais características utilizadas por Swaine e Whitmore (1988) para divisão dos dois grandes grupos de árvores tropicais. 5 Tabela 2 Lista das parcelas selecionadas na área do PDBFF, Manaus. 13 Tabela 3 Parcelas utilizadas no levantamento de indivíduos juvenis (1-9,9 cm de DAP) na área do PDBFF. 14 Tabela 4 Densidade média (± EP) por hectare de indivíduos jovens (< 10 cm de DAP), adultos (> 10 cm de DAP) e o valor médio de todos os indivíduos nos sítios de estudo no Oiapoque e em Manaus (10 parcelas de borda e 10 parcelas de interior por sítio). Dentro de cada espécie, valores médios com a mesma letra não diferem significativamente (teste Mann-Whitney). 16 Tabela 5 Resultado das comparações nas densidades através do teste MannWhitney entre as espécies de árvores pioneiras de ciclo curto e ciclo longo nos sítios de estudo no Oiapoque e em Manaus 16 Tabela 6 Resultado das comparações na distribuição de indivíduos de quatro espécies de árvores dentro de cinco classes de diâmetro nos sítios de Oiapoque e Manaus. Comparações através do teste KolmogorovSmirnov 18 Tabela 7 Comparação das taxas de mortalidade e recrutamento entre as pioneiras (ciclo curto vs. ciclo longo) nas parcelas de borda de 21 Manaus ix Lista de Figuras Figura 1 Modelo de recuo das bordas para o interior da floresta 2 Figura 2 Distância de penetração na floresta dos efeitos de borda 3 Figura 3 Desenho amostral na região do Oiapoque. Parcelas em branco são as de borda florestal e as em azul são as parcelas de interior 9 Figura 4 Imagem satélite da área experimental do PDBFF – Manaus. Em verde claro e vermelho as áreas que sofreram pressão antrópica 10 Figura 5 Distribuição de indivíduos de B. grossularioides, C. sciadophylla, Goupia glabra e L. procera em cinco classes de DAP (A = ≤ 2 cm; B = 2,1-9,9 cm; C = 10-19,9 cm; D = 20-40 cm; E > 40 cm) em 10 parcelas de borda no Oiapoque 17 Figura 6 Distribuição de indivíduos de C. sciadophylla e G. glabra em cinco classes de DAP (A = ≤ 2 cm; B = 2,1-9,9 cm; C = 10-19,9 cm; D = 20-40 cm; E > 40 cm) em 10 parcelas de borda em Manaus 18 Figura 7 Taxa de incremento percentual de adultos das espécies (com exceção de C. sciadophylla) 23-27 anos após a fragmentação no 19 PDBFF/Manaus Figura 8 Mortalidade e recrutamento anual médio (± EP) de adultos (DAP > 10 cm) das quatro espécies de árvores pioneiras na borda e no interior da floresta no sitio de Manaus, com base em censos quadri-anuais iniciados no momento da fragmentação nas 20 parcelas selecionadas. Dentro de cada espécie, valores médios com a mesma letra não diferem significativamente (teste Mann20 Whitney) x 1. INTRODUÇÃO 1.1. Efeitos de borda sobre a vegetação A perda e a fragmentação de hábitats constituem uma das mais sérias ameaças a diversidade biológica das florestas tropicais (LAURANCE; PERES, 2006) e nas próximas décadas grandes trechos de floresta contínua serão convertidos em arquipélagos de fragmentos florestais (AIDE; GRAU, 2004; WRIGHT, 2005), os quais tenderão a permanecer imersos em matrizes dominadas por culturas agrícolas ou pastoris (TABARELLI et al., 2004). Desta forma, a conservação da biodiversidade em paisagens fragmentadas dependerá de nossa habilidade de identificar como a fragmentação afeta diferentes grupos de organismos e suas assembléias e que medidas de manejo devem ser adotadas para mitigar os seus efeitos negativos (TABARELLI et al., no prelo). Um dos fenômenos resultantes da fragmentação de sistemas florestais é a formação de “áreas de borda” que funcionam como ecótono entre o ambiente florestal e a nova matriz antrópica circundante (HARPER et al., 2005). A formação dessas bordas é geralmente feita de forma abrupta, pela derrubada de florestas para implantação de pastagens ou monoculturas (SAUNDERS et al., 1991; LOVEJOY et al., 1986), o que reduz a umidade do ar e solo (YOUNG; MITCHELL, 1994; CAMARGO; KAPOS, 1995), aumenta a penetração lateral de luz (ZUIDEMA et al., 1996) e a exposição aos ventos (LAURANCE, 1991) e facilita a penetração de fogo oriundo da matriz circundante (MURCIA, 1995). A partir dessas alterações microclimáticas, ocorre o aumento da taxa de mortalidade de grandes árvores (LAURANCE et al., 2000; OLIVEIRA et al., 2008), redução do potencial reprodutivo de algumas espécies de árvores (ALVAREZ-BUYLLA et al., 1996), aumento na densidade de lianas (OLIVEIRA FILHO et al., 1997), redução no recrutamento de plântulas de espécies tolerantes à sombra (BENÍTEZ-MALVIDO, 1998) e aumento da riqueza e abundância de espécies pioneiras, ruderais e generalistas (TABARELLI et al., 1999; LAURANCE et al., 2006a). 1 A matriz, que de acordo com a Ecologia de Paisagem é a unidade de paisagem predominante (FORMAN, 1995), em áreas fragmentadas é de origem antrópica e tem um papel fundamental na intensidade dos efeitos de borda sobre a vegetação (LAURANCE et al., 2002). Em áreas onde a floresta foi destruída para utilização antrópica e que foram posteriormente abandonadas possibilitando o crescimento de vegetação secundária (áreas de regeneração), os efeitos de borda agem mais suavemente, pois essa nova vegetação serve para amortecer a entrada lateral de luz e incidência de ventos. Já em matrizes de áreas produtivas onde a floresta não pode avançar sobre as áreas degradadas, os remanescentes de floresta são atingidos diretamente pela alta incidência de luz e fortes ventos (KAPOS, 1989), alterando drasticamente as condições microclimáticas por centenas de metros em direção ao interior da floresta (LAURANCE et al., 1997). Gascon et al. (2000) prevê que em tais áreas, os efeitos de borda podem causar o recuo das bordas para o interior das florestas (Figura 1). Figura 1. Modelo de recuo das bordas para o interior da floresta (Gascon et al., 2000). No caso das árvores tropicais, a criação de bordas florestais parece deflagrar mudanças rápidas na abundância de vários grupos ecológicos, o que resulta em modificações drásticas na estrutura e na assinatura funcional das assembléias (LAURANCE et al., 2006a). Especificamente, a criação de bordas e as mudanças micro-climáticas decorrentes (veja HARPER et al., 2005) alteram drasticamente a estrutura demográfica de populações de árvores e as respostas às alterações estão claramente relacionadas com a história de vida das espécies (Figura 2). Logo após a criação da borda, as árvores tolerantes à sombra sofrem alta taxa de mortalidade em todos os estágios de desenvolvimento, i.e. plântulas, juvenis e adultos, devido às 2 alterações fisiológicas causadas pelas mudanças nas condições microclimáticas (LAURANCE et al., 1998; LAURANCE, 2001; BENÍTEZ-MALVIDO, 1998; CAMARGO; KAPOS, 1995). Já espécies pioneiras tendem a aumentar suas taxas de germinação, de sobrevivência de plântulas (BENÍTEZ-MALVIDO, 1998) e de crescimento de adultos (LAURANCE et al., 2006a), o que resulta em crescimentos populacionais expressivos e dá origem a assembléias de árvores dominadas por pioneiras ao longo de bordas e pequenos fragmentos (OLIVEIRA et al., 2004; LAURANCE et al., 2006b; MICHALSKI et al., 2007). Figura 2. Distância de penetração na floresta dos efeitos de borda (LAURANCE et al., 2002) 3 1.2. Sucessão e grupos ecológicos A idéia de mudanças na composição de comunidades biológicas em relação ao tempo (sucessão ecológica) é uma das mais antigas e principais linhas de pensamento na Ecologia (COWLES, 1899; CLEMENTS, 1936; BAZZAZ, 1979). Nessa teoria, as espécies iriam gradualmente se sucedendo no domínio dos recursos de certa área, até que a comunidade atingisse um estágio final e estável, o clímax (CLEMENTS, 1936; HORN, 1974). Apesar de hoje sabermos que não existe na natureza estágios (ou estádios) sucessionais bem definidos e que o clímax é, na verdade, um estado em equilíbrio de constantes distúrbios de pequenas proporções, a idéia da divisão das espécies em grupos ecológicos foi muito útil para estudarmos o comportamento de um grande número de espécies simultaneamente. Em florestas tropicais, que possuem altíssima diversidade e complexidade, estudos com tal abordagem se fazem necessários para melhor compreensão de padrões e processos importantes para sua conservação. Os grupos vegetais foram essenciais para a compreensão do desenvolvimento desses estágios sucessionais, principalmente por serem mais facilmente observados. Trabalhos feitos em áreas que haviam sofrido distúrbios recentes, onde ouve remoção total ou parcial da vegetação, como em áreas sob influência do avanço sazonal de geleiras, dunas e áreas afetadas por lava vulcânica, estão entre os exemplos de trabalhos que descreveram tais padrões (CROCKER; MAJOR, 1955; COWLES, 1899; KAMIJO et al., 2002). Já em florestas tropicais, onde os distúrbios geralmente têm proporções menores e são mais freqüentes, existem mosaicos de áreas em regeneração, as clareiras, e áreas de floresta madura. Devido a tal complexidade, só recentemente trabalhos em florestas tropicais descreveram tais padrões de vegetação e suas características (BUDOWSKI, 1965; HARTSHORN, 1980; DENSLOW, 1980). Estes mesmos trabalhos foram essenciais para discussão da importância de distúrbios na estrutura da floresta, mostrando que não existe um clímax e sim ciclos de distúrbios e regeneração, que ajudam na manutenção das espécies (KOHYAMA, 1993). Analisando características morfológicas e fisiológicas, Swaine e Whitmore (1988) propuseram a separação de árvores tropicais em dois grandes grupos ecológicos: pioneiras e tolerantes à sombra (Tabela 1). O termo “pioneira” foi inicialmente proposto 4 por Budowski (1965), baseado em estudos feitos em clareiras de florestas tropicais, ao observar o processo de sucessão ecológica das espécies e suas estratégias para colonização áreas perturbadas. Além dessa classificação, diversas outras classificações têm sido propostas literatura (veja HARTSHORN, 1980; DENSLOW, 1980; KAGEYAMA; VIANA, 1989; PIÑA-RODRIGUES et al., 1990). Porém, a divisão em dois grandes grupos é clara, tem grande suporte empírico e experimental e, desta forma, tem sido largamente empregada. Tabela 1. Lista das principais características utilizadas por Swaine e Whitmore (1988) para divisão dos dois grandes grupos de árvores tropicais (MARTINI, 1996) Características Tamanho de semente Formação de banco de sementes Ambiente de germinação das sementes Dormência e longevidade de sementes Quantidade de sementes produzidas Freqüência de produção de sementes Mecanismo de dispersão Formação de banco de plântulas Ambiente de estabelecimento de plântulas Taxa de fixação de carbono/ ponto de compensação em plântulas Ambiente de estabelecimento de jovens Velocidade de crescimento Densidade da madeira Padrões de enraizamento Padrões de ramificação Deciduidade Longevidade foliar Defesas químicas Longevidade da planta Idade de início de reprodução Posição no dossel Plasticidade fenotípica Distribuição geográfica Árvores Pioneiras Geralmente pequeno (> 0,1 cm³) Sim Com alta incidência de luz Longa > 3 meses Muitas (chegam a centenas por fruto) Anual a Contínua Vento ou animais Não Com alta incidência de luz Árvores Não-Pioneiras Médio a Grande Não Com baixa incidência de luz Curta < 3 meses Poucas (de uma a pouco mais de dez por fruto). Supra-anual a Anual Animais Sim Com baixa incidência de luz Alta Baixa Com alta incidência de luz Com baixa incidência de luz Alta Leve Superficial Esparso Sim Curta Fraca Curta (maioria) a longa Poucos anos Dossel ou Emergentes Alta Ampla Baixa Pesada Profundo Denso Não Longa Forte Longa Muitos anos Sub-dossel a Emergentes Baixa Geralmente local Swaine e Whitmore (1988) observaram que espécies pioneiras são aquelas capazes de germinar e crescer sobre incidência direta de luz, conforme também constatado por outros autores (BROWN, 1993; POPMA et al., 1988), possuem sementes pequenas e com dormência (HARTSHORN, 1980), apresentam chuva de 5 sementes contínua (SWAINE; WHITMORE, 1988) e têm crescimento rápido (LAURANCE et al., 2004). Por outro lado, espécies não-pioneiras germinam e crescem em áreas com pouca incidência de luz e para isso apresentam grandes sementes nutritivas que auxiliam no crescimento das plântulas (FERRAZ et al., 2004). Por ser uma classificação ampla, dois subgrupos foram estabelecidos para melhor representarem as características demográficas e do ciclo de vida das árvores pioneiras: as pioneiras de ciclo de vida longo, que vivem mais de 50 anos e são na maioria consideradas árvores emergentes ou de dossel e as de ciclo de vida curto, que vivem até 50 anos e são árvores de crescimento rápido e madeira leve (WHITMORE, 1989). Já as tolerantes à sombra parecem ser mais difíceis de serem subdivididas. Na Malásia, são classificadas pela densidade da madeira (leve ou pesada), mas o grau de intolerância à luz é a característica mais utilizada na literatura (SPIES; FRANKLIN, 1989; VEBLEN, 1989; WHITMORE, 1989). Muitas características das populações vegetais podem ser compreendidas quando conhecemos a história de vida das espécies. A distribuição de adultos das pioneiras de ciclo longo é principalmente explicada pela formação de clareiras no passado (CLARK; CLARK, 1996), pois além de apresentarem taxa de crescimento rápido em condições de alta luminosidade, também atingem grandes alturas (> 40 m, LAURANCE et al., 2004). Por outro lado, as espécies pioneiras de ciclo curto têm sua distribuição relacionada a clareiras recentes, pois, apesar de apresentarem alta taxa de germinação de sementes e elevado crescimento na presença de luz (BENÍTEZ-MALVIDO, 1998; LAURANCE et al., 2006a), o sombreamento causado pela recuperação da estrutura da vegetação inibe o recrutamento com o tempo e leva ao declínio populacional (UHL et al., 1988). Apesar de diversos estudos advogarem que espécies pioneiras se beneficiam com as condições criadas pela formação de bordas e, desta forma, proliferam nesses ambientes, não existem trabalhos que analisem as respostas diferenciadas entre as pioneiras de ciclo de vida longo e curto nesse cenário. Diferente das árvores pioneiras de ciclo curto, muitas espécies de pioneiras de ciclo longo são grandes árvores do dossel ou do estrato emergente e, desta forma, podem se tornar susceptíveis aos efeitos negativos da fragmentação. Laurance et al. (2000) mostraram que, em geral, árvores de grande porte (> 60 cm de DAP) têm maior taxa de mortalidade em bordas florestais do que no interior dos fragmentos, o que pode levar ao desaparecimento destas espécies em 6 ambientes fortemente afetados pelos efeitos de borda, e.g. bordas, pequenos fragmentos e paisagens severamente fragmentadas (NASCIMENTO; LAURANCE, 2004; OLIVEIRA et al., 2008). Contudo, elas também apresentam as características intrínsecas às árvores pioneiras, tais como germinação a partir do banco de sementes e crescimento rápido nos ambientes iluminados das bordas. Assim, este trabalho teve por objetivos (1) avaliar as alterações causadas pela criação de borda na estrutura populacional de árvores pioneiras de ciclo curto e de ciclo longo e (2) comparar tais alterações em duas diferentes regiões da Amazônia brasileira. As principais hipóteses referem-se a: (1) as espécies pioneiras são muito mais abundantes nas bordas do que no interior da floresta; (2) nas bordas, as espécies pioneiras de ciclo de vida curto são mais abundantes do que as de ciclo longo; (3) nas bordas, as espécies de ciclo curto apresentam uma proporção de indivíduos adultos (> 10 cm DAP) maior do que as de ciclo longo (i.e. diferenças na estrutura etária), (4) as espécies pioneiras recrutam mais e morrem menos nas bordas do que no interior da floresta; (5) nas bordas, as pioneiras de ciclo curto apresentam recrutamento superior e mortalidade inferior em comparação com as de ciclo longo, e (6) a resposta é consistente dentro de cada grupo ecológico e independe da área de estudo. 7 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Áreas de estudo Com o objetivo de avaliar a consistência da resposta das pioneiras, o estudo foi realizado em duas áreas em diferentes regiões da Amazônia. A primeira esta localizada no estado do Amapá, no Escudo das Guianas e a segunda no estado do Amazonas, na região central da floresta Amazônica. No Amapá, o trabalho foi realizado em uma propriedade particular de criação de gado localizada 40 km ao sul da cidade do Oiapoque (Figura 3). Segundo o Projeto RADAM (BRASIL, 1974), o chamado Bloco de Macapá, que está situado entre os paralelos 0º00’ e 4º30’ N e 49º30’ e 54º00’ O, é composto por três regiões ecológicas: Formações Pioneiras, Cerrado e Floresta Densa. A área de estudo está localizada na região ecológica de floresta densa (ou floresta ombrófila densa), numa sub-região classificada como Superfície Dissecada Guianense. Esta sub-região engloba terrenos ondulados e forte-ondulados, com predominância de latossolo vermelho-amarelo distrófico e argissolo vermelho-amarelo, altitude média de 100 m e precipitação anual de 2.500 mm, com pronunciada estação seca de agosto a janeiro. Em geral, a floresta forma um dossel muito fechado sob o qual se desenvolve uma vegetação escassa, constituída por plântulas e palmeiras acaules (a maioria espécies de Astrocarium). Dentre as espécies de árvores mais freqüentes, destacam-se: faveira (Vataireopsis speciosa), tachis (Sclerolobium sp.), tauari (Couratari pouchra), jaranas (Holopyxidium jarana), cupiúba (Goupia glabra), maçaranduba (Manilkara huberi), acariquara (Minquartia guianensis), breus (Protium spp.), abioranas (Pouteria spp.) e ingás (Inga spp.) (BRASIL, 1974). 8 Figura 3. Desenho amostral na região do Oiapoque. Parcelas em branco são as de borda florestal e as em azul são as parcelas de interior. A segunda área é a paisagem experimental fragmentada do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF; Figura 4). O PDBFF é administrado pelo Smithsonian Institute (SI) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). A área do PDBFF está localizada na Amazônia Central brasileira cerca de 80 km ao norte da cidade de Manaus, estado do Amazonas (2º 30’S, 60ºO). A vegetação local é denominada como floresta de terra-firme ombrófila densa (não sazonalmente inundada) e está a uma elevação de 100-150 m acima do nível do mar. A precipitação média anual é de 2.200 mm, com uma pronunciada estação seca de julho a outubro. O dossel da floresta está cerca de 30-37 m de altura, com algumas árvores emergentes podendo alcançar 55 metros. Os solos são latossolos amarelos distróficos, altamente intemperizados, argilosos, ácidos e muito pobres em nutrientes como P, Ca e K e com relativamente baixa capacidade de retenção de água (LAURANCE et al., 1999). A riqueza de espécies arbóreas (≥ 10 cm de DAP) pode exceder 280 espécies por hectare (OLIVEIRA; MORI, 1999). 9 Figura 4. Imagem satélite da área experimental do PDBFF – Manaus. Em verde claro e vermelho as áreas que sofreram pressão antrópica. No Oiapoque a área de pasto foi aberta há 15 anos e as bordas têm sido mantidas desde então através de queimadas anuais. Em Manaus, no geral as áreas de pastagem foram abertas no início da década de 80 e utilizadas por poucos anos. No início dos anos 90 foram abandonadas, mas a forma como a floresta foi derrubada influenciou na vegetação que colonizou a matriz circundante. Em áreas onde a floresta foi derrubada e queimada, plantas do gênero Vismia dominaram a paisagem (área da fazenda Dimona); por outro lado, onde só houve o corte raso da floresta, espécies de Cecropia colonizaram a área (fazenda Porto Alegre; MESQUITA et al., 1999). 2.2. Espécies de árvores investigadas Para testar a hipótese de que as espécies pioneiras respondem de forma diferencial a criação de bordas foram selecionadas quatro espécies, sendo duas pertencentes às pioneiras de ciclo de vida curto e duas às pioneiras de ciclo de vida longo sensu Whitmore (1989). Bellucia grossularioides (L.) Triana (Melastomataceae) e 10 Cecropia sciadophylla Mart. (Cecropiaceae) são de vida curta e Goupia glabra Aubl. (Celastraceae) e Laetia procera (Poepp.) Eichler (Salicaceae) de vida longa. Embora o número de espécies seja reduzido, o que obviamente limita um pouco o poder de generalização dos padrões encontrados, quatro espécies podem fornecer evidências empíricas importantes sobre o impacto da criação de bordas florestais sobre a demografia de grupos ecológicos de árvores, principalmente pelo fato de se avaliar a reposta em dois sitos e regiões biogeográficas distintas. Obviamente que limites de tempo e de logística também limitaram o número de espécies que foram investigadas. Bellucia grossularioides ocorre do sudeste do México à Bolívia e a leste ocorre até o estado do Maranhão, no Brasil. É uma espécie arbórea (atinge até 20-25 m de altura) e na Amazônia Central é uma das espécies mais abundantes do gênero (RENNER, 1987). Produz frutos carnosos dispersos por aves, primatas, morcegos e ungulados (ROOSMALEN, 1985; RENNER, 1987). Cecropia sciadophylla é uma das árvores pioneiras mais citadas em estudos nos trópicos (NASCIMENTO et al., 2005, 2006; MESQUITA et al., 1999, 2001; KNOGGE et al.,2003; ZALAMEA et al., 2008). Ela é distribuída por toda Amazônia e fora dela até o México, sendo comumente encontrada em capoeiras e áreas degradadas de terra firme (RIBEIRO et al., 1999; MESQUITA et al., 1999). É uma árvore que atinge até 30 m de altura (ZALAMEA et al., 2008), produz frutos mais de uma vez por ano e é dispersa por diversos grupos de vertebrados (e.g., aves, morcegos, primatas; STEVENSON, 2000; LOBOVA et al., 2003; ROOSMALEN, 1985). Goupia glabra é uma espécie que ocorre em toda floresta Amazônica em áreas de terra firme (SCHWENGBER; SMIDERLE, 2005). Seus indivíduos atingem até 40 m de altura e crescem em capoeiras e clareiras, sendo assim considerada uma pioneira de ciclo de vida longo (WHITMORE, 1989). É uma espécie semi-decídua que floresce e frutifica durante a estação seca, tendo seus frutos pequenos e de coloração vermelha dispersos por pássaros e algumas espécies de macacos (SCHWENGBER; SMIDERLE, 2005). Laetia procera é uma árvore de dossel (atinge até 35 m de altura) freqüente nas florestas de terra firme da Amazônia. É encontrada em vertentes e em platôs e está distribuída pela América Central e norte da América do Sul (RIBEIRO et al., 1999). 11 2.3. Desenho amostral e dados demográficos O desenho básico desta investigação consistiu em utilizar parcelas de 1,0 ha alocadas em áreas de borda e no interior da floresta contínua; desenho básico adotado pelo PDBFF. No Oiapoque foram alocadas 20 parcelas de 1 ha (100 x 100 m), sendo 10 parcelas na borda e 10 no interior. A primeira parcela de borda foi selecionada aleatoriamente e as seguintes foram alocadas a 300 m de distância entre si, garantindo independência das amostras, pois esta distância excede em muito o diâmetro médio das clareiras naturais, principal força modeladora da demografia das árvores tropicais (WHITMORE, 1991). As parcelas de interior foram dispostas pareadamente às parcelas de borda e distantes 1000 m da borda mais próxima. As parcelas de borda tinham sempre um lado posicionado exatamente no início da borda florestal (Figura 3). Nestas parcelas foi medido o DAP de todos os indivíduos das quatro espécies estudadas com altura ≥ 1,30 m. Os dados foram coletados entre os meses de setembro a dezembro de 2007. Na área do PDBFF vem sendo realizado um estudo de longo prazo sobre dinâmica da vegetação arbórea em florestas fragmentadas e contínuas desde seu início em meados dos anos 80 (entre julho de 1980 e abril de 1985). Até o momento, cerca de 65.000 árvores vem sendo monitoradas em inventários periódicos de quatro a seis anos dentro de 66 parcelas permanentes de 1 ha (100 x 100 m) de tamanho (RANKIN-DEMERONA et al., 1990; LAURANCE et al., 1998). As parcelas estão estabelecidas em quatro fragmentos florestais de 1 ha, três fragmentos de 10 ha e dois fragmentos de 100 ha de tamanho e em áreas controles dentro da floresta contínua. Durante os inventários, a mortalidade, os danos, o crescimento e o recrutamento dos indivíduos arbóreos são registrados. A vantagem deste estudo é que o primeiro inventário nas parcelas realizouse antes dos fragmentos serem isolados. A seleção das parcelas para este estudo se deu através da aleatorização de 20 do total das 66 parcelas permanentes: 10 parcelas de um total de 27 localizadas na borda e 10 parcelas de 39 localizadas no interior da floresta. Das 10 parcelas de borda escolhidas aleatoriamente, seis parcelas estão alocadas em fragmentos de 100 ha, três parcelas em fragmentos de 10 ha e apenas uma parcela (parcela 1301.2) localizada na 12 borda de uma área não fragmentada. Para as 10 parcelas controles (interior), foram selecionadas em cada sítio do PDBFF uma a três parcelas, a partir da aleatorização das parcelas em cada sítio (Tabela 2). Apesar da amostragem no PDBFF envolver fragmentos florestais e não apenas borda e interior de uma floresta contínua (caso do Oiapoque), os critérios de proximidade da borda e distanciamento entre as parcelas foram mantidos, com exceção da parcela 3304.6 no PDBFF que estava a 30 m da borda, porém a tal distância os efeitos da borda ainda são muito influentes (LAURANCE et al., 2002). Tabela 2. Lista das parcelas selecionadas na área do PDBFF, Manaus. Parcela Sítio Tamanho Hábitat 1102.1 1105.1 1109.1 1113.1 1201.3 1202.6 1301.2 1301.3 1301.9 2206.4 2303.1 2303.2 2303.6 2303.7 3209.5 3304.4 3304.5 3304.6 3304.8 3402.5 Gavião KM34 KM34 Florestal Gavião Colosso Florestal Florestal Florestal Dimona Dimona Dimona Dimona Dimona Porto Alegre Porto Alegre Porto Alegre Porto Alegre Porto Alegre Cabo Frio Mata Contínua Mata Contínua Mata Contínua Mata Contínua Mata Contínua 10 ha Mata Contínua Mata Contínua Mata Contínua 10 ha 100 ha 100 ha 100 ha 100 ha 10 ha 100 ha 100 ha 100 ha 100 ha Mata Contínua Interior Interior Interior Interior Interior Borda Borda Interior Interior Borda Borda Borda Interior Borda Borda Borda Borda Borda Interior Interior Nos dois sítios e para as quatro espécies de árvores, todos os indivíduos com DAP ≥ 0,1 cm foram considerados, num total de 876 indivíduos, e os mesmos foram classificados dentro de cinco classes de DAP: ≤ 2 cm, 2,1-9,9 cm, 10-19,9 cm, 20-40 cm, > 40 cm. Com base nestas informações, a estrutura de tamanho dos indivíduos das populações das quatro espécies foi caracterizada. Exclusivamente para o PDBFF, as taxas de mortalidade e recrutamento foram calculadas conforme descrito. (A) árvores 13 com ≥ 10 cm de DAP para as quatro espécies: dados do primeiro inventário (antes do isolamento dos fragmentos) e do inventário mais recente de 2002 - 2004 (após 23 - 27 anos) conduzidos nas 20 parcelas selecionadas neste estudo. (B) árvores com DAP entre 1,0 e 9,9 cm de C. sciadophylla e G. glabra com base em inventários de 2007 e 2008 em 15 parcelas das 20 parcelas utilizadas neste estudo (Tabela 3). Tabela 3. Parcelas utilizadas no levantamento do PDBFF. Parcela Sítio 1101.1 Gavião 1201.2 Gavião 1202.7 Colosso 1301.2 Florestal 1301.4 Florestal 1301.8 Florestal 2206.4 Dimona 2303.2 Dimona 2303.4 Dimona 3209.1 Porto Alegre 3209.5 Porto Alegre 3304.2 Porto Alegre 3304.9 Porto Alegre 3402.2 Cabo Frio 3402.7 Cabo Frio de indivíduos juvenis (1-9,9 cm de DAP) na área Tamanho Mata Contínua Mata Contínua 10 ha Mata Contínua Mata Contínua Mata Contínua 10 ha 100 ha 100 ha 10 ha 10 ha 100 ha 100 ha Mata Contínua Mata Contínua Hábitat Interior Interior Borda Borda Interior Interior Borda Borda Interior Borda Borda Borda Interior Interior Interior 2.4. Análises de dados Diferenças na densidade de indivíduos das quatro espécies nos ambientes de borda e de interior, considerando os sítios de Manaus e do Oiapoque, foram examinadas através do teste de Mann-Whitney uma vez que as densidades não apresentaram distribuição normal. Da mesma forma, diferenças nas taxas de mortalidade e de recrutamento foram analisadas através desta prova. Para avaliar diferenças na distribuição de indivíduos dentro das cinco classes de DAP foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov. Estes dois testes estatísticos estão adequadamente descritos em Sokal e Rohlf (1995). Para as análises de densidade, a unidade amostral foi sempre a 14 parcela; no caso da distribuição em classes de DAP a unidade amostral é o indivíduo, utilizando-se para cada espécie o conjunto de indivíduos amostrados no conjunto das parcelas. Este mesmo procedimento foi utilizado para calcular a taxa de incremento das populações de adultos para cada espécie. No caso das taxas médias de recrutamento e mortalidade medial anual de adultos, a parcela também foi utilizada como unidade amostral. 15 3. RESULTADOS De forma, geral as espécies pioneiras foram muito mais abundantes na borda do que no interior da floresta nos dois sítios investigados, principalmente no que se refere aos indivíduos jovens (i.e. < 10 cm DAP). Especificamente, a densidade de jovens das pioneiras aumentou dezenas de vezes e no caso de G. glabra esse aumento foi superior a 1000%; de 0,1 para 23,6 jovens por hectare. Fato importante é que a densidade de adultos das pioneiras de ciclo de vida longo não diferiu significativamente entre os ambientes ou foi menor na borda (e.g. G. glabra). Tabela 4. Densidade média (± EP) por hectare de indivíduos jovens (< 10 cm de DAP), adultos (> 10 cm de DAP) e o valor médio de todos os indivíduos nos sítios de estudo no Oiapoque e em Manaus (10 parcelas de borda e 10 parcelas de interior por sítio). Dentro de cada espécie, valores médios com a mesma letra não diferem significativamente (teste Mann-Whitney). Espécies Ambiente Sítio Oiapoque Manaus < 10 cm DAP > 10 cm < 10 cm > 10 cm B. grossularioides Borda 3,2 ± 1,7a 4 ± 1,7a 0,0 ± 0,0 Interior 0,1 ± 0,1b 0,1 ± 0,1b 0,0 ± 0,0 C. sciadophylla Borda 3,9 ± 2,6a 14,8 ± 2,5a 0,8 ± 0,5a 15 ± 11,1a Interior 0,3 ± 0,2a 0,4 ± 0,1b 0,0 ± 0,0b 0,0 ± 0,0b G. glabra Borda 23,6 ± 10a 1,5 ± 0,7a 12,8 ± 9,5a 1 ± 0,3a Interior 0,1 ± 0,1b 1,3 ± 0,4a 0,75 ± 0,2a 2,5 ± 0,6b L. procera Borda 8,3 ± 2,2a 1,5 ± 0,4a 0,4 ± 0,4a Interior 0,0 ± 0,0 b 1,3 ± 0,4a 0,5 ± 0,4a As árvores pioneiras de ciclo curto e de ciclo longo apresentaram diferenças significativas na densidade de indivíduos jovens e adultos no ambiente de borda (Tabela 4). Dois padrões gerais emergiram: as espécies de ciclo longo apresentaram maiores densidades de jovens (veja Tabela 4 e 5), mas menor densidade de adultos, ou esta não diferiu significativamente, como no caso de L. procera. 16 Tabela 5. Resultado das comparações nas densidades através do teste Mann-Whitney entre as espécies de árvores pioneiras de ciclo curto e ciclo longo nos sítios de estudo no Oiapoque e em Manaus. Espécies Sítios Oiapoque Manaus < 10 cm DAP > 10 cm < 10 cm > 10 cm B. grossularioides vs. L. procera U = 15,5; p = 0,01 U = 63,5; p = 0,3 - U = 45; p = 0,3 B. grossularioides vs. G. glabra U = 13; p = 0,005 U = 67,5; p = 0,2 - U = 20; p = 0 C. sciadophylla vs. L. procera U = 18; p = 0,01 U = 94,5; p = 0,001 - U = 75; p = 0,03 C. sciadophylla vs. G. glabra U = 12,5; p = 0 U = 95,5; p = < 0.001 U = 14; p = 0,2 U = 59,5; p = 0,4 Em relação à distribuição dos indivíduos em classes de DAP no ambiente de borda, novamente dois padrões bem definidos foram observados tanto no Oiapoque quanto em Manaus: as duas espécies pioneiras de ciclo curto, B. grossularioides e especialmente C. sciadophylla, apresentaram uma maior proporção de indivíduos nas classes acima de 10 cm de DAP considerando todas as 10 parcelas de borda (Figuras 5 e 6). Esta assimetria na distribuição foi mais marcante para C. sciadophylla uma vez que 86,8% do total de seus indivíduos apresentaram DAP superior a 10 cm, mas mesmo B. grossularioides teve 55,5% dos indivíduos nessa classe. Todavia, para as espécies de ciclo longo G. glabra e L. procera a grande maioria dos indivíduos amostrados nas 10 parcelas pertenceu às classes menores de 10 cm de DAP; ca. 90% dos indivíduos destas duas espécies tiveram DAP menor que 10 cm. Essas diferenças na distribuição de indivíduos em classes de tamanho entre espécies pioneiras de ciclo de vida curto e longo provaram ser significativas (veja Tabela 6). Tabela 6. Resultado das comparações na distribuição de indivíduos de quatro espécies de árvores dentro de cinco classes de diâmetro nos sítios de Oiapoque e Manaus. Comparações através do teste Kolmogorov-Smirnov. Espécies Sítios Manaus Oiapoque B. grossularioides vs. L. procera B. grossularioides vs. G. glabra χ2 = 26,9 p < 0,01 - - 2 p < 0,01 - - 2 - χ = 55,01 C. sciadophylla vs. L. procera χ = 104,8 p < 0,01 - C. sciadophylla vs. G. glabra χ2 = 229,5 p < 0,01 χ2 = 173,1 p < 0,01 17 Figura 5. Distribuição de indivíduos de B. grossularioides, C. sciadophylla, Goupia glabra e L. procera em cinco classes de DAP (A = ≤ 2 cm; B = 2,1-9,9 cm; C = 10-19,9 cm; D = 20-40 cm; E > 40 cm) em 10 parcelas de borda no Oiapoque. Figura 6. Distribuição de indivíduos de C. sciadophylla e G. glabra em cinco classes de DAP (A = ≤ 2 cm; B = 2,1-9,9 cm; C = 10-19,9 cm; D = 20-40 cm; E > 40 cm) em 10 parcelas de borda em Manaus. 18 O incremento da população de adultos (DAP > 10 cm) das espécies pioneiras em resposta a criação de bordas no sítio de Manaus apresentou resultados interessantes (Figura 7). Com exceção de C. sciadophylla, as demais três espécies apresentaram incrementos negativos, ou seja, no momento da fragmentação havia muito mais indivíduos adultos tanto no local que foi transformado em borda como no interior, decorridos mais de duas décadas do processo de fragmentação. É digno de nota o incremento de 7.500% em C. sciadophylla; de 2 para 150 indivíduos nas 10 parcelas de borda. Infelizmente o número de adultos amostrados não permitiu comparar estas taxas de incremento entre ambientes (borda vs. interior) e entre as espécies de árvores. Figura 7. Taxa de incremento percentual de adultos das espécies (com exceção de C. sciadophylla) 23-27 anos após a fragmentação no PDBFF/Manaus. As quatro espécies pioneiras apresentaram uma enorme variação em suas taxas médias de recrutamento e mortalidade anual de adultos nos dois ambientes investigados em Manaus e, ao contrário do esperado, a maioria das espécies não apresentou diferenças significativas nestas taxas, com base nas 20 parcelas investigadas (Figura 8). Somente C. sciadophylla apresentou diferenças significativas, caracterizadas pela ausência de recrutamento e mortalidade no interior da floresta, porém com recrutamento expressivo nas bordas (0,8 indivíduos ha-1 ano-1) e pequena taxa (0,05 indivíduos ha-1 ano-1) de mortalidade de adultos (U = 75, p = 0,01; U = 80 p = 0,005), o que explica a elevada taxa de incremento de adultos desta espécie nas bordas florestais. Tanto em áreas de borda quanto de interior não foi registrado indivíduos de B. grossularioides 19 após 23-27 anos de criação das bordas devido à mortalidade dos dois indivíduos na borda e do único indivíduo adulto que habitava o interior da floresta no momento da fragmentação. Figura 8. Mortalidade e recrutamento anual médio (± EP) de adultos (DAP > 10 cm) das quatro espécies de árvores pioneiras na borda e no interior da floresta no sítio de Manaus, com base em censos quadri-anuais iniciados no momento da fragmentação nas 20 parcelas selecionadas. Dentro de cada espécie, valores médios com a mesma letra não diferem significativamente (teste Mann-Whitney). Em função do número reduzido de indivíduos amostrados e da grande variação anual nas taxas de mortalidade e de recrutamento de adultos houve poucas diferenças significativas entre as pioneiras de ciclo de vida curto e de vida longa. Novamente, as 20 diferenças mais robustas e significativas foram entre C. sciadophylla e as de ciclo de vida longo (Tabela 7). Tabela 7. Comparação das taxas de mortalidade e recrutamento entre as pioneiras (ciclo curto vs. ciclo longo) nas parcelas de borda de Manaus Espécie B. grossularioides vs. L. procera B. grossularioides vs. G. glabra C. sciadophylla vs. L. procera C. sciadophylla vs. G. glabra Mortalidade U = 40,5 p = 0,3 U= 35 p = 0,14 U = 59 p = 0,4 U = 55 p = 0,7 Recrutamento U = 45 p = 0,3 U = 30 p = 0,03 U = 75 p = 0,03 U = 70 p = 0,1 21 4. DISCUSSÃO Os resultados deste estudo indicam que os efeitos de borda causam alterações significativas na estrutura populacional (densidade e distribuição de tamanho dos indivíduos) de espécies pioneiras, independentemente do sítio florestal. De forma geral, as espécies pioneiras proliferam na borda, pois atingiram densidades elevadas de jovens e de adultos, após apenas algumas décadas da criação deste tipo de ambiente nos dois sítios investigados. Todavia, parece haver uma resposta diferencial entre as espécies: C. sciadophylla proliferou na borda e está restrita a este ambiente nos dois sítios enquanto que B. grossularioides parece estar em franco declínio em Manaus, independente do ambiente. Talvez haja diferenças, também, entre os grupos ecológicos representados pela dicotomia simples: espécies pioneiras de ciclo de vida curto vs. ciclo longo. Especificamente, embora a elevada variação natural e, em alguns casos, o pequeno número de adultos amostrados tenham limitado as análises, há alguma evidência empírica sugerindo que as espécies pioneiras de ciclo curto são capazes de manter/estabelecer populações de adultos mais abundantes do que as espécies de ciclo de vida longa nos ambientes de borda. Este padrão emerge, embora todas as espécies, com exceção de C. sciadophylla, possam enfrentar taxas negativas de incremento de adultos logo após a criação das bordas como observado para B. grossularioides, Goupia glabra e L. procera. Esta resposta diferencial das espécies pioneiras, medida em termos de estrutura populacional, reflete grandes diferenças entre algumas espécies em relação aos padrões de mortalidade e recrutamento de adultos nos ambientais florestais, como claramente demonstrado por C. sciadophylla em Manaus. Em diversos estudos feitos em paisagens fragmentadas, as alterações causadas pelos efeitos de borda sobre populações de árvores pioneiras parecem seguir um padrão semelhante de aumento na densidade populacional, claramente relacionado às alterações microclimáticas das áreas de borda (OLIVEIRA et al., 2004; NASCIMENTO et al., 2006; LAURANCE et al., 2006a). Apesar de também encontrarmos tais semelhanças quando analisamos as densidades populacionais como um todo, padrões diferenciados emergiram ao analisarmos juvenis e adultos separadamente. Observamos que as espécies de ciclo curto apresentam densidades de juvenis muito baixas em áreas de 22 borda, chegando a ser significativamente iguais à densidade no interior da floresta, como no caso de C. sciadophylla na região do Oiapoque. Já as pioneiras de ciclo longo, apesar de apresentarem alta densidade de indivíduos jovens em áreas de borda, não diferiram significativamente em relação à densidade de adultos quando comparadas entre os ambientes, chegando a apresentar densidade significativamente menor, como observado em G. glabra no PDBFF/Manaus. Além das variações entre as densidades, a dicotomia, ciclo curto e ciclo longo, também parece emergir quando comparamos as distribuições dos indivíduos em classes diamétricas. Sugerindo populações maduras e já estabelecidas entre as pioneiras de ciclo curto em contraste às pioneiras de ciclo longo, que têm grande parte de seus indivíduos em estágios juvenis. Estes resultados, além de mostrarem diferentes respostas aos efeitos de borda entre espécies estudadas, também apresentam evidências de possível declínio populacional das árvores pioneiras de ciclo longo em áreas de borda, como observado nas taxas negativas de incremento em indivíduos adultos. Essa variação entre grupos ecológicos, que inicialmente pode ser interpretada como relacionadas somente ao tempo de estabelecimento, ligada ao processo de regeneração de áreas degradadas (MESQUITA et al., 2001; FINEGAN; DELGADO, 2000), e diferenças na história de vida de cada espécie, também parece estar associada à forte influência que os efeitos de borda exercem sobre a assembléia de árvores (SANTOS et al., 2008; TABARELLI et al., no prelo). As características intrínsecas de cada espécie (histórias de vida) têm importante influência nas respostas observadas. É amplamente conhecido que a regeneração das espécies pioneiras advém predominantemente das sementes dormentes no solo, ou seja, do banco de sementes (GUEVARA SADA; GÓMEZ-POMPA, 1972; LAWTON; PUTZ, 1988; MÔNACO et al., 2003). Assim, quando as condições abióticas em um determinado local tornam-se favoráveis (p.ex., abertura de dossel), ocorre a germinação das sementes armazenadas no banco. É provável, portanto, que as quatro espécies pioneiras aqui estudadas se estabeleceram nas áreas de borda em ambos os sítios a partir dos bancos de sementes já existentes anteriormente à formação das bordas. Logo, a causa mais plausível que pode explicar a diferenciação na estrutura populacional dos dois grupos de árvores pioneiras aos efeitos de borda está relacionada à taxa de crescimento de cada espécie. Laurance et al. (2006a) mostraram que, dentre outras 23 variáveis testadas, a taxa média de crescimento diamétrico foi o melhor preditor da mudança no tamanho populacional de 30 espécies pioneiras em áreas de borda após 1822 anos de fragmentação no PDBFF. A taxa de crescimento foi correlacionada positivamente com a mudança populacional, indicando que as espécies que apresentaram alta taxa de crescimento tiveram maior incremento no tamanho populacional, considerando indivíduos ≥ 10 cm de DAP (LAURANCE et al., 2006a). Contudo, o incremento negativo em indivíduos adultos das pioneiras de ciclo longo sugere que a estrutura populacional destas espécies pode ter sido afetada negativamente pelos efeitos de borda. Estudos recentes feitos na Amazônia e floresta Atlântica (LAURANCE et al., 2000; GASCON et al., 2000; SANTOS et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2008) mostram que, em áreas afetadas pelos efeitos de borda, existe uma tendência clara ao colapso do estrato arbóreo emergente e substituição de uma rica comunidade vegetal por um conjunto de espécies pioneiras cada vez menos diverso e com menor capacidade de reter biomassa. Como indivíduos adultos de espécies pioneiras de ciclo longo fazem parte do estrato emergente e dossel, as taxas de incremento negativo nesses 23-27 anos de formação das bordas, provavelmente está relacionada ao aumento na influência de ventos, que causa a quebra e desenraizamento de grandes árvores (D’ANGELO et al., 2004). Já o colapso de B. grossularioides em Manaus parece ter outras razões. A baixa densidade desta espécie em áreas de borda, após 23-27 anos de fragmentação florestal no PDBFF, foi uma resposta inesperada principalmente por se tratar de uma pioneira de ciclo curto. B. grossularioides apresenta distribuição agregada em áreas de vegetação secundária na área do PDBFF (BENTOS, 2006), o que indica que o estabelecimento desta espécie ocorre somente em áreas altamente favoráveis para sua germinação e crescimento. Esta afirmativa baseia-se no fato de que espécies pioneiras são dispersas por uma variedade de espécies de pássaros e morcegos que podem carregar suas sementes para diferentes áreas, ou seja, não há uma escolha para a deposição de sementes. Além disso, esta espécie apresenta um padrão irregular de frutificação ao longo do ano (RENNER, 1987; BENTOS et al., no prelo), que sugere que a irregularidade pode diminuir a visitação de dispersores. Por outro lado, a espécie simpátrica B. dichotoma, que é uma das espécies mais comum e se distribui uniformemente em áreas de floresta secundária no PDBFF (BENTOS, 2006), tem 24 frutificação constante ao longo ano (BENTOS et al., no prelo; RENNER, 1987) e que portanto pode ser melhor dispersada. Esta espécie não foi vista durante os trabalhos de campo no Oiapoque, porém nas bordas dos fragmentos florestais no PDBFF estava entre as 10 espécies de maior densidade após 23-27 de isolamento dos fragmentos (NASCIMENTO et al., 2006). Portanto, provavelmente o maior fitness reprodutivo de B. dichotoma pode limitar a ocorrência de B. grossularioides na área do PDBFF. A partir dos resultados, podem-se delinear algumas importantes implicações com respeito aos padrões gerais nas respostas de espécies pioneiras em áreas de bordas florestais. Considerando as diferenças e as particularidades de cada sítio estudado, as espécies responderam de forma muito similar aos efeitos de borda, o que pode indicar que o estabelecimento de espécies pioneiras em bordas florestais apresente padrões semelhantes em outras áreas recém-fragmentadas. De fato, as alterações microclimáticas associadas às mudanças na estrutura florestal podem ocorrer em grandes escalas espaciais e não apenas em uma determinada região, pois as características da matriz parecem ser as principais delimitadoras da intensidade dos efeitos de borda sobre a floresta (WILLIAMSON et al., 1998; MESQUITA et al., 1999; WILLIAMSON; MESQUITA, 2001). No geral, as variações estruturais existentes entre as populações parecem corroborar a classificação de árvores pioneiras em dois grupos e esta diferenciação sugere o declínio populacional de adultos de pioneiras de ciclo longo nos anos subseqüentes a formação de bordas. Mesmo com maioria populacional composta por indivíduos jovens, o que indicaria altas chances de restabelecimento populacional, um estudo feito por Laurance et al. (2000) sugere que ao se tornarem adultos, indivíduos que emergirem do dossel estarão mais susceptíveis aos fortes ventos e infestação por lianas, aumentando as chances de tombamento ou quebra do caule, ou terão estatura menor que indivíduos do interior da floresta (ENNOS, 1997), não atingindo os estratos superiores da vegetação. Em circunstâncias onde a matriz circundante cria condições microclimáticas mais agressivas e o avanço da floresta sobre a matriz é contido, como em áreas em contato com plantações, e.g. plantio de cana-de-açúcar, e pastagens, os efeitos de borda parecem desencadear o processo de degeneração na comunidade vegetal (SANTOS et al., 2008), devido a substituição da complexa estrutura de florestas primárias, por uma 25 empobrecida (taxonômica e estruturalmente) vegetação secundária composta por pequenas árvores pioneiras e vegetação arbustiva (GASCON et al., 2000). Somada a depauperação da comunidade vegetal e alterações drásticas em sua estrutura, a incapacidade de indivíduos adultos de pioneiras de ciclo longo e de outras grandes árvores sobreviverem e se restabelecerem nos estratos superiores devido às alterações causadas pela criação de bordas (OLIVEIRA et al., 2008) causa a quebra de diversas relações existentes entre outros grupos e o estrato emergente da floresta. Grandes árvores têm papel fundamental em vários mecanismos responsáveis pela manutenção de florestas tropicais. Na Costa Rica, elas representam 27% da biomassa vegetal acima do solo sendo importantes armazenadoras de carbono (CLARK; CLARK, 1996; NASCIMENTO; LAURANCE, 2004), são as principais agentes na formação de novas clareiras e servem de hábitat para diversas espécies de bromélias (SIQUEIRAFILHO; TABARELLI, 2006), nidificação de harpias (RIDGELY; GWYNNE 1993) e suas flores, frutos e seiva são os principais recursos alimentares de vários animais (GRIBEL et al., 1999; CURRAN; LEIGHTON, 2000; NEWBERY et al., 2006; PERES, 2000). 26 5. CONCLUSÕES Em síntese, observamos que os efeitos de borda causam alterações drásticas nas populações de árvores pioneiras. Em geral, as espécies estudadas apresentaram maiores densidades nas parcelas de borda em ambos os sítios, indicando que árvores pioneiras proliferam em áreas de borda, porém com respostas diferenciadas, como exemplo das pioneiras de ciclo de vida longo, que apresentaram altas densidades de jovens e baixas densidades de adultos e C. sciadophylla que teve aumento de 7500% no tamanho populacional. E apesar de poucos indivíduos analisados, o declínio populacional de adultos das espécies (com exceção de C. sciadophylla) nesses 23-27 anos de criação das bordas, evidencia padrões diferentes dos descritos para árvores pioneiras em bordas florestais. Num futuro próximo, onde paisagens florestadas da Amazônia serão substituídas por fragmentos florestais, principalmente em áreas não-protegidas pelo governo, o possível declínio populacional de espécies pioneiras (com algumas de ciclo de vida longo), devido aos efeitos de borda, poderá ter implicações drásticas na manutenção de outros grupos funcionais/taxonômicos que dependem exclusivamente dos recursos fornecidos por estas espécies (cascata trófica). Sendo assim, compreender os processos que determinam a manutenção de árvores pioneiras e de outras espécies vegetais em paisagens antrópicas é necessário para formação de diretrizes que servirão de base para conservação da biodiversidade na floresta Amazônica e outras florestas tropicais fragmentadas. 27 REFERÊNCIAS AIDE, T. M., GRAU, H. R. Ecology, globalization, migration, and Latin American ecosystems. Science, v. 305, p. 1915–1916, 2004. ALVAREZ-BUYLLA, E.R., GARCIA-BARRIOS, R., LARA-MORENO, C., MARTINEZ-RAMOS, M. 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