INFLUÊNCIA DA SALINIDADE SOB A QUALIDADE DE CULTIVARES DE MELÃO F. A. de L. Pereira1; M. S. de M. Souza2; R. O. de Souza3; D. C. de Medeiros4; I. B. do Nascimento5; J. F. Medeiros6 Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade de cultivares de melão submetidas a irrigação com diferentes concentrações de sais. O delineamento utilizado foi em blocos casualizados com quatro repetições. Os tratamentos constaram de concentrações de sais na água de irrigação por gotejamento (0,54; 1,48; 2,02; 3,03 e 3,9 dS m-1). Foram avaliados os seguintes parâmetros: para as análises de sólidos solúveis (SS) e Firmeza (FP). Conclui-se que, houve um aumento do SST com o incremento da salinidade da água de irrigação em todas as cultivares avaliadas e a salinidade não interferiu na firmeza de polpa dos frutos. PALAVRAS-CHAVE: Cucumis melo L., águas salinas, qualidade INFLUENCE OF SALINITY IN THE QUALITY OF MELON CULTIVARS Abstract: The objective of this study was to evaluate the quality ofmelon cultivars subjected to irrigation with different salt concentrations. The experimental design was randomized blockswith four replications. Treatments consisted of salt concentrations in the water drip irrigation (0.54, 1.48, 2.02, 3.03 and 3.9 dS m-1). We evaluated the following parameters: for analysis of soluble solids(SS) and firmness (PF). It is concluded that there was an increase in TSS with increasing salinity of irrigation water in all cultivars and salinity did not affect the firmness of fruit. KEYWORD: Cucumis melo L., saline waters, quality INTRODUÇÃO No Brasil, no ano de 2010 foram produzidos 495.323 toneladas de melão em 21.576 ha plantados (FNP, 2010), sendo a região nordeste responsável por 86% da produção nacional. O 1 Mestre em Irrigação e Drenagem pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA Graduanda em Agronomia, Universidade Federal Rural do Semi-árido - UFERSA. , Avenida Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN, Cep; 59.625-900. E-mail:[email protected] 3 Graduando em Agronomia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN 4 Profª Drª Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Natal , RN 5 Bolsista de Pós-doutorado em Fitotecnia - UFERSA 6 Pesquisador do CNPq, Profº. Dr, Depto de Ciências Ambientais, UFERSA, Mossoró, RN 2 F. A. de L. Pereira et al. Estado do Rio Grande do Norte é o principal produtor e exportador dessa hortaliça fruto. Ultimamente nessa região é cultivada a maioria das variedades melão. Praticamente toda área cultivada com meloeiro está localizada no Agropolo Mossoró-Assu em região localizada sob o aqüífero Arenito. Apesar de essas águas apresentarem baixa concentração de sais, seu custo de capacitação muito elevado, e ainda a competição para o consumo humano, assim despertando interesse para o uso de outras fontes, de forma a viabilizar o uso na produção agrícola. Uma das alternativas tem sido o uso de poços rasos, que apresentam menor custo de captação e com maior potencial de uso, no entanto, essas águas podem apresentar níveis muito altos de salinidade da água, podendo reduzir produção e qualidade dos frutos do meloeiro (Medeiros et al., 2003). Apesar de o meloeiro ser considerado medianamente tolerante ao estresse salino, a tolerância das culturas a salinidade é variável em função das condições ambientais e do material genético utilizado (Medeiros, 2007). Estudo realizado nas condições climáticas do presente trabalho tem constatado essa variação (Pereira, 2010), sendo que existem poucas informações sobre várias cultivares exploradas comercialmente e manejo com relação a utilização de água salinas, uma vez que a maioria das pesquisas são voltadas para o melão Amarelo. Por isso, a importância de se conhecer os níveis de salinidade da água que cada cultivar de meloeiro tolera, bem como os efeitos desse estresse para minimizar os efeitos dos sais na qualidade dos frutos. Assim, este trabalho objetivou avaliar a qualidade de cultivares de melão submetidas a irrigação com diferentes concentrações de sais. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Fazenda Pedra Preto, situada à margem direita da BR 304, no Km 13, localizada no município de Mossoró- RN. De acordo com Carmo Filho et al. (1991), as características climáticas do município são: temperatura média de 27,4°C, a precipitação pluviométrica média anual de 673,9 mm, e umidade relativa média de 68,9%. O solo da área experimental foi classificado como Argissolo Amarelo (EMBRAPA, 1999). O delineamento utilizado foi blocos casualizado com quatro repetições. Os tratamentos constaram de cinco concentrações de sais na água de irrigação equivalentes as seguintes condutividades elétricas (S1-0,54; S2-1,48; S3-2,02; S4-3,03 e S5-3,9 dS m-1). Para obtenção destes níveis salinos foram utilizadas duas águas, a primeira proveniente do aqüífero Arenitoaçu, correspondente a água de menor salinidade (0,54 dS m-1); e a outra proveniente do aqüífero localizado no Calcário Jandaíra, correspondente a água de maior salinidade (3,90 dS m-1). Os demais níveis salinos foram obtidos pela mistura dessas duas águas e suas condutividades elétricas monitoradas antes das irrigações. Cada parcela foi formada por quatro fileiras, com 6 m de comprimento e espaçadas 2 m. As duas fileiras centrais foram consideradas como parcela útil, as duas fileiras externas foram consideradas bordadura, o espaçamento entre plantas foi de 0,4 m totalizando 15 plantas em cada fileira, das quais foram ainda eliminadas duas plantas de cada extremidade da linha como bordadura, ficando assim 11 plantas úteis por fileira e 22 foram consideradas para medição da produção e qualidade dos frutos. F. A. de L. Pereira et al. A água de menor salinidade (S1) foi oriunda de poço artesiano profundo, com a seguinte concentração química: CE (dS m-1) = 0,54; Ca2+ = 1,8; K+ = 0,53; Mg+ = 0,5; Na+ = 0,79; Cl-= 1,6; CO3 - = 0,35; HCO3 - = 4,1; pH = 7,15. A água de maior salinidade CE (dS m-1) = 3,90; Ca2+ = 15,2; K+ = 0,15; Mg+ = 2,8; Na+ = 19,00; Cl- = 25,20; CO3 - = 0,20; HCO3 - = 4,8; pH = 6,90. Foram avaliados os seguintes parâmetros: para as análises de sólidos solúveis (SST) foram selecionados frutos que possuíssem características para comercialização. Foi utilizado um refratômetro digital com correção automática de temperatura e o resultado expresso em percentagem; para determinar a firmeza de polpa (FP), os frutos foram divididos longitudinalmente e em cada um dos pares procederam-se leituras nos dois lados com um penetrômetro com Pluger de 8 mm de diâmetro, sendo os resultados obtidos em libra (lb), convertidos para Newton (N), utilizando-se do fator de conversão 4,45. Os dados foram interpretados respeitando-se o delineamento experimental adotado, As análises de variância e de regressão das variáveis avaliadas foram realizadas utilizando-se o programa Table Curve. RESULTADO E DISCUSSÃO No resumo da análise de variância (Tabela 1) observa-se que os sólidos solúveis (SST) foram significativos a 1% para salinidade e para o efeito linear na regressão. A salinidade não tem influência sobre a firmeza de polpa. O SST das cultivares teve uma variação de 8 a 10 sendo a cultivar considerada mais doce foi a Néctar com 10,9 sendo considerada estatisticamente a cultivar Sancho. As duas cultivares de pele de sapo foram consideradas iguais com valores de 9,60 e 8,95 respectivamente para a cultivar Sancho e Medellín e ainda semelhante a cultivar Sedna. A menos doce foi o melão do tipo amarelo, cultivar Mandacarú, com valores médios de 8,03. Analisando as médias do SST em relação a salinidade, observa-se que os melões das cultivares tendem a ficar mais doces com o incremento da salinidade da água de irrigação (Figura 1). As médias das cultivares pele de sapo foram de 9,60 e 8,95% respectivamente. Neste caso, somando-se as 2 unidades, os valores SST ficariam 11%, que será o mínimo para os peles de sapo. As cultivares de melão amarelo o SST recomendado é de 10%, então podemos afirmar que as cultivares Mandacaru de 8,03%, acrescentando-se as 2 unidades ficará no limite mínimo para entrar no tipo exportação. Para as cultivares nobres Néctar e Sedna os valores médios de SST foram 10,19 e 9,23% respectivamente, Neste caso observa-se que estão dentro da exigência para os melões Cantaloupe, no caso da cultivar Sedna, são de no mínimo 10%, a cultivar estuda acrescentando duas unidades ficou com SST de 11,23, ou seja, é recomendado para o mercado externo. Entretanto para a cultivar Néctar que é do tipo Gália, sendo o valor médio de 10,19 passaria para 12,19, ficando com o valor abaixo do mínimo de 13%. Porém como incremento da salinidade dá água de irrigação os SST tende a ficar mais elevado, com valores poderá ficar com SST acima do mínimo exigido, tornando-se uma garantia de qualidade e de exportação, quando trabalhar com água salina nessas cultivares. Com relação à firmeza de polpa (Tabela 1), a cultivar que apresentou a polpa mais firme é cultivar Néctar com média de 35,5 N foi a que apresentou a segunda maior firmeza foi a Mandacaru seguido pela cultivar Sedna. Os menores valores de firmeza foram encontrados na cultivares pele de sapo, não tendo variação significativa entre elas, sendo constatadas médias de F. A. de L. Pereira et al. 21,10 e 21,19 N, respectivamente, para as cultivares Sancho e Medellín. Esses valores não estão dentro das exigências do mercado para se conseguir exportar os frutos até a Europa. CONCLUSÃO Houve um aumento do SST com o incremento da salinidade da água de irrigação em todas as cultivares avaliadas e a salinidade não interferiu na firmeza de polpa dos frutos. Tabela 1. Resumo de análise de variância e médias de SST (sólidos solúveis totais) e Firmeza. Fonte de variação GL Bloco Quadrado médio SST FIRMEZA 3 6,64** 23,67 * Salinidade (4) 1,55** 5,32 ns Reg. Linear 1 5,65** 4.48 ns Reg. Quad. 1 0,00 ns 2.87 ns Desvio 2 Resíduo (A) 12 0,25 6.10 Cultivar Salinidade Cultivar Resíduo (B) 4 12,83** 879.47** 16 0,60 ns 5.89 60 0,62 5.93 CV 1 (%) 6,15 8.47 CV 2 (%) 8,56 8.92 x Fatores/Niveis ns Médias (%) (N) S1 - 0,54 dS m-1 Tratamentos 9,14 26,87 -1 S2 - 1,48 dS m 9,01 27,99 S3 - 2,02 dS m-1 8,88 27,59 -1 S4 - 3,03 dS m 9,45 26,74 S5 - 3,90 dS m-1 9,52 27,30 Sancho 9,60 ab 21,10 d Medellín 8,95 b 21,19 d Mandacaru 8,03 c 32,81 b Néctar 10,19 a 35,53 a Cultivares Sedna 9,23 b 25,86 c (**) Significativo a 0,01 de probabilidade, (*) Significativo a 0,05 de probabilidade, ( O) Significativo a 0,15 de probabilidade, (ns) não significativo a 0,05 de probabilidade, médias seguidas pela mesma letra na vertical não diferem entre si a 0,05 de probabilidade pelo Teste de Tukey. F. A. de L. Pereira et al. SST MÉDIA DAS CULTIVARES ( Brix) 10 9,6 9,2 8,8 y = 0,153x + 8,861 R² = 0,524 8,4 8 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 CEa (dS m-1) Parâmetros da equação (**) significativo a 0,01; Figura 1. Sólidos solúveis totais médios das cultivares em função da CEa de irrigação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FNP CONSULTORIA E COMÉRCIO. Melão: Agrianual. 2010. Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo, 2010. P. 397-400. MEDEIROS, J. F. de; LISBOA, R. de A.; OLIVEIRA, M. de. Caracterização das águas subterrâneas usadas para irrigação na área produtora de melão da Chapada do Apodi. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 7, n.3, p. 469-472. 2003. MEDEIROS, J. F. SILVA, M. C. C. SARMENTO, D. H. A. BARROS, A. D. Crescimento do meloeiro cultivado sob diferentes níveis de salinidade, com e sem cobertura do solo. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 11, n.3, p. 248-255. 2007 PEREIRA, F. A. de L. Tolerância de cultivares de melão à salinidade. 2010. 81p. Dissertação (Mestrado em Irrigação e Drenagem). Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró-RN.2010. EMBRAPA – Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). 1999. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – Brasília: EMBRAPA, 412p.