Influência do Amarelão no Grau Brix de Frutos de Melão. Sandra Maria Morais Rodrigues1; Ervino Bleicher1; Sávio Gurgel Nogueira2 Universidade Federal do Ceará 1 - Departamento de Fitotecnia; 2 Engenheiro Agrônomo. E-mail: [email protected]. RESUMO A mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) vem afetando, constantemente, os plantios de melão no semi-árido nordestino. Além de sugar a seiva da planta, transmite o Carlavirus, causador do amarelão no meloeiro (“MYaV”), que está associado à redução do grau Brix do fruto. Assim, este trabalho teve por objetivo verificar se frutos provenientes de plantas com amarelão e sem amarelão apresentam teor de sólidos solúveis totais (grau Brix) diferentes. O experimento foi instalado no vale do Baixo Jaguaribe (Russas-Ce) em uma área plantada com o híbrido Acclaim (C. melo cantalupensis Naudin). Aos 63 dias após o plantio, primeira colheita, foram coletados aleatoriamente, em uma área de 1344 m2, frutos de plantas sem sintomas de amarelão e frutos de plantas com sintomas de amarelão, e levados para o Laboratório de Melhoramento Genético do CNPAT/EMBRAPA onde fez-se a medição do grau brix utilizando-se um refratômetro digital. O experimento foi conduzido em esquema de delineamento inteiramente casualizado (DIC) com 2 tratamentos e 16 repetições. O teor de sólidos solúveis totais (º Brix) nos frutos provenientes de plantas que não apresentavam sintoma de amarelão foi de 9,8 e de 9,4 nos frutos oriundos de plantas com sintoma de amarelão, esses valores não diferiram entre si pelo teste t (P<0,05); portanto, a redução do grau Brix nos frutos não é causada pela incidência do amarelão. PALAVRAS-CHAVES: Cucumis melo, Carlavirus, Bemisia tabaci biótipo B, sólidos solúveis totais. ABSTRACT Effect of the yellowing virus on fruit melon total soluble solids (Brix). The whitefly, Bemisia tabaci Biotype B, is a constant insect pest of melons in the dry Northeast Brazil region. Besides a sap feeder, it is also a Carlavirus transmitter, causing the symptom called melon yellowing (MyaV), witch is said to reduce melon total soluble solids (ºBrix). This work aimed to verify fruit melon total soluble solids from plants with and whitout MyaV symptoms. Research was set at Baixo Jaguaribe valley (Russas-Ce, Brazil) in an area planted with the Acclaim (C. melo cantalupensis Naudin) hibrid. Sixty three days after planting, during the first harvest, fruits were collected randomilly from plants with and without symptoms in an area or 1344m2 and taking to the EMBRAPA/CNPAT breeding laboratory, where fruits were evaluated for total soluble solids (ºBrix) using an digital refractometer. The experiment was analyzed in a completely randimized design with two treatments and 16 replicates. The total soluble solids (ºBrix) was 9.8 and 9.4 for fruits collected from plants with and without symptoms, respectivelly. Those values did not differ as analyzed by t test (P<0.05). So it is suggested that MyaV does not reduces melon total soluble solids (ºBrix). KEY WORDS: Cucumis melo, Carlavirus, Bemisia tabaci Biotype B, total soluble solids. A área cultivada com o meloeiro (Cucumis melo Naudin) no Brasil passou de 5.661 para 15.000 ha, no período de 1980 a 1999. A região Nordeste responde por cerca de 95% da produção nacional de melão, sendo os estados do Rio Grande do Norte e do Ceará os principais produtores e exportadores. Os grandes mercados consumidores são a Europa, Estados Unidos e Japão. Os frutos podem ser consumidos in natura ou na forma de suco, são ricos em sais minerais e vitaminas (Silva & Costa, 2003), e para que tenham valor comercial o teor de sólidos solúveis totais (Brix) deve ser de pelo menos 9Brix (Menezes et al., 2000). Os insetos-praga estão entre os fatores que podem atuar tanto na redução da produtividade do meloeiro como na redução da qualidade dos frutos. Atualmente o inseto que mais tem afetado os plantios de melão no semi-árido nordestino é a mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B). Este inseto além de sugar a seiva da planta é também o responsável pela transmissão do Carlavirus, causador do amarelão no meloeiro, essa doença está sendo chamada experimentalmente de “MYaV” (Melon yellowing-associated virus) e segundo alguns autores esse vírus está associado à redução do grau Brix do fruto (Siva et al., 2002; Nagata et al., 2003). Este trabalho teve por objetivo verificar se frutos provenientes de plantas com amarelão e sem amarelão apresentam teor de sólidos solúveis totais (Brix) diferentes. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em uma área produtora de melão, no vale do Baixo Jaguaribe no município de Russas (Ceará), com antecedentes de ocorrência de amarelão. A área foi plantada com o híbrido Acclaim (C. melo cantalupensis Naudin), em julho de 2003; o espaçamento utilizado foi de 2,0m x 0,4m com uma planta/cova, que foi irrigada no sistema de gotejo. A cultura recebeu os tratos culturais necessários ao seu desenvolvimento. A temperatura variou de 20 a 35C, com média geral de 27C, e a umidade relativa variou de 29 a 89%, com média de 62%. A coleta dos frutos foi feita em uma área de cerca de 1344 m2, constituída por quatro fileiras de 168 m de comprimento. Para a avaliação do grau Brix foram coletados aleatoriamente na área acima descrita, no dia da primeira colheita (63 dias após o plantio), 16 frutos de plantas sem sintomas de amarelão e 16 frutos de plantas com sintomas de amarelão. Esses frutos foram levados para o Laboratório de Melhoramento Genético do CNPAT/EMBRAPA para serem analisados. De cada fruto foi retirada uma fatia e desta, removeu-se das extremidades e do centro um pedaço de cerca de 3 cm; em seguida esses pedaços foram espremidos usando-se um espremedor manual de limão, o suco obtido foi homogeneizado e posteriormente colocado em um refratômetro digital (ATAGO) para que se procedesse a leitura do grau Brix. O experimento foi conduzido em esquema de delineamento inteiramente casualizado (DIC) com 2 tratamentos e 16 repetições. Antes de se proceder a ANAVA os dados foram transformados em x 0,5 e as médias comparadas pelo teste t (LSD) (P<0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO O teor de sólidos solúveis totais (º Brix) nos frutos provenientes de plantas que não apresentavam sintoma de amarelão (FPSA) foi de 9,8 e de 9,4 nos frutos oriundos de plantas com sintoma de amarelão (FPCA) (Figura 1), esses valores não diferiram entre si pelo teste t (P<0,05). Mesmo com a incidência do amarelão (“MYaV”) na cultura os frutos apresentaram um °Brix adequado para serem comercializados. Com esses resultados podese inferir que, esse vírus não é o responsável pela redução no teor de sólidos solúveis nos frutos do meloeiro, mas sim o seu vetor (mosca-branca). Em trabalhos que estão sendo desenvolvidos pela equipe de Fitopatologia (CNPAT/EMBRAPA) também estão sendo obtidos resultados semelhantes (Apoliano Santos, comunicação pessoal). Neste experimento a população de mosca-branca esteve sob controle, o que sugere que em um plantio no qual se faz um bom manejo da cultura não se terá problemas com a redução dos sólidos solúveis totais nos frutos do meloeiro. 9,4 10,0 9,8 º Brix 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 FPCA FPSA Figura 1. Grau Brix de frutos de melão (C. melo cantalupensis) proveniente de plantas com sintoma de amarelão (FPCA) e de plantas sem sintoma de amarelão (FPSA), no Vale do Baixo Jaguaribe. Russas-Ce. 2003. Os tratamentos não diferiram entre si pelo teste t (P<0,05). AGRADECIMENTOS À Dra. Waldelice Oliveira de Paiva (CNPAT/EMBRAPA) por ceder o Laboratório de Melhoramento Genético para as análises laboratoriais. Ao CNPq pela concessão da bolsa de Recém-Doutor ao primeiro autor (No 300023/2003-0). À Fazenda Agrosagno (Russas-Ce) pela concessão da área e apoio logístico para a execução deste trabalho. LITERATURA CITADA SILVA, H.R.; COSTA, N.D. (eds). Melão, Produção Aspectos Técnicos. Embrapa. Brasília: Embrapa Hortaliças/Embrapa Semi-Árido/Embrapa informação tecnológica, 2003, 144p.; (Frutas do Brasil; 33). MENEZES, J.B.; FILGUEIRAS, H.A. C.; ALVES R.E.; MAIA, C.E.; ANDRADE, G.G.; ALMEIDA, J.H.S.; VIANA, F.M.P. Características do melão para exportação. In: Melão. Pós-colheita. Alves, R.E. (org.). Embrapa. Brasília: Embrapa Agroindústria Tropical (Frutas do Brasil; 10). 2000, cap. 2, p.13-22. NAGATA, T.; KITAJIMA, E.W.; ALVES, D.M.T.; CARDOSO, J.E.; INOUE-NAGATA, A.K.; TIAN, T.; ÁVILA A.C. 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