O Reino de Deus
Os fundamentos de uma Igreja em células
Atos 5:42
Valdir Stephanini1
Palavras Iniciais
Depois de termos estudado o sermão do monte no qual Jesus estabelece os principais
valores do reino de Deus, refletido sobre a Igreja nos últimos três domingos, queremos agora
mergulhar num dos temas mais efervescentes e contagiantes que envolvem as Igrejas Cristãs
em nossos dias. Trata-se da configuração das Igrejas Locais em pequenos grupos, que tem
recebido diversas nomenclaturas tais como “grupos familiares”, “grupos de comunhão”, “PGs”
“Pequenos Grupos Multiplicadores” e que em nossa Igreja chamamos de células.
Das muitas abordagens que se poderia fazer sobre o tema, que é amplo e extremamente
relevante para o cristianismo contemporâneo, elegemos a questão dos fundamentos. Ao longo
deste estudo, procuraremos responder à questão: Em que se fundamenta a Igreja em células?
1. A Igreja em Células fundamenta-se na Palavra de Deus
Como cristãos, que cremos na Bíblia como a Palavra de Deus, a primeira coisa que
queremos saber quanto à fundamentação de uma doutrina, princípio ou filosofia de ministério,
é o que a Bíblia afirma sobre o assunto.
Claro que a Bíblia não utiliza a expressão Igreja em células, porém tudo o que o sistema de
Igreja em células propõe está plenamente fundamentado na Palavra de Deus. Ed René Kivitz 2,
teólogo batista destacado, pastor da Igreja Batista Água Branca, em São Paulo, afirmou:
“Pequenos Grupos não nasceram ontem, existem desde a eternidade, passaram por Jetro e
Moisés, perduraram durante todo o período apostólico e chegaram à atualidade sem perder
seu vigor”.
Jesus, o mestre por excelência, utilizou-se da estratégia dos pequenos grupos. Valberto da
Cruz e Fabiana Ramos3 entendem que “[...] relacionarmos o pequeno grupo e o ministério de
Jesus é, sobretudo, reconhecermos que grande parte deste ministério se deu nos lares e em
contexto de pequeno grupo, embora Jesus tenha pregado também na sinagoga e ao ar livre.
Tal fato já se evidenciava na própria escolha do grupo de homens que iria desfrutar da
convivência íntima com Jesus e, consequentemente, propagar o seu reino. Um pequeno grupo
de doze apóstolos, discípulos, foi o meio que Jesus utilizou para estender seu cuidado às
multidões errantes e aflitas”. Jesus iniciou seu ministério com um pequeno grupo de 12
discípulos - Mc 3:13-14; Com este grupo Jesus desenvolveu intimidade, comunhão num nível
mais profundo como consequência da convivência. Alicerçou seu ministério em
relacionamentos, entre outras atividades que desenvolveu para estar presente com seus
discípulos. Pode-se vê-lo conversando, comendo e dormindo com eles durante o seu
ministério, que era muito ativo - Jo 1:39; 2:2; 4:7; Lc 6:12; 11:1. Andaram juntos em estradas,
visitaram cidades, viajaram de barco, pescaram no mar da Galiléia, oraram juntos, foram às
sinagogas e ao templo. Fizeram viagens a Tiro e a Sidom - Mc 7:24; Mt 15:21, para o
“...território de Decápolis...” -Mc 7:31; Mt 15:29 - e para as “...regiões de Dalmanuta”, a sudeste
da Galiléia -Mc 8:10; e também para as “...aldeias de Cesaréia de Filipe...” - Mc 8:27, no
1
Pastor da Primeira igreja Batista da Cidade da Serra, Graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil e Universidade Presbiteriana Mackenzie, Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal
do Espírito Santo, Mestrado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e Escola Superior de
Teologia de São Leopoldo, Doutorando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
2 KIVITZ, Ed René. Quebrando paradigmas. São Paulo: Abba Press, 2002, p.58.
3 CRUZ, Valberto da; RAMOS, Fabiana. Pequenos grupos: para a igreja crescer integralmente. Viçosa:
Ultimato, 2007, p.32.
Nordeste. Neste grupo Jesus investiu a maior parte dos seus poucos mais de três anos aqui
na terra, durante seu ministério.4
Embora Jesus estivesse muitas vezes cercado de multidões, como menciona várias vezes o
evangelista Marcos (ex. Marcos 3:8, 12:37), jamais perdeu de vista os indivíduos, como fez
com Zaqueu, a mulher samaritana, etc. e utilizou o pequeno grupo como estratégia de
discipulado e capacitação de liderança para a continuidade da sua Igreja a fim de expandir o
reino de Deus depois de seu retorno para o céu, utilizando-se das casas para isso, como se
pode ver também nas narrativas de Marcos (Marcos 4:10-20; 7:17; 9:28; 9:33-37; 10:10-12;
14:17-25; 16:14-18). “Cabe aqui evidenciarmos que o grupo de discípulos constituído por
Cristo apresenta-se como o melhor exemplo neotestamentário de pequeno grupo. Isto porque,
segundo a narrativa dos Evangelhos, podemos encontrar no pequeno grupo de Jesus
características que definem um grupo como tal: objetivo comum, interação, dinamismo
específico e comunhão”5
Os primeiros cristãos viveram e ensinaram uma igreja de duas asas, ou seja, uma Igreja
que tenha duas dimensões, aquilo que tem sido chamada de asa do atacado, em que se
enfatiza a importância da comunidade como um todo, das grandes celebrações e asa do
varejo, em que são destacadas as comunidades de base, os pequenos grupos. No livro de
Atos dos Apóstolos temos várias menções deste fato, como pode-se ver sintetizado em Atos
5:42: “E todos os dias, no pátio do Templo e de casa em casa, eles continuavam a
ensinar e a anunciar a boa notícia a respeito de Jesus, o Messias”. No templo dos judeus,
até o ano 70, quando o templo foi destruído pelos romanos, se reuniam para adorar a Deus,
para ouvirem os ensinos e a pregação das Sagradas Escrituras. Nos lares, os recémconvertidos eram acolhidos e alimentados espiritualmente. Ali aprendiam a respeito de Jesus,
suas necessidades eram supridas, recebiam cuidados e acompanhamento até se sentirem
aptos para cuidarem com carinho de outros.
O Novo Testamento menciona pequenas comunidades que se reuniam nas casas. Vejamos
alguns exemplos: Em Jerusalém (Atos 12:12) : Casa de Maria, mãe de João Marcos; Em
Filipos (Atos 16:14 e 40) : Casa de Lídia. Em Trôade /Ásia Menor (Atos 20:7. Em Roma
(Romanos 16:3-5) : Casa de Áquila e Priscila. Em Corinto (Romanos 16:23) : Gaio. Em Éfeso
(I Coríntios 16:19) Casa de Áquila e Priscila. Em Laodicéia (Colossenses 4:15) : Casa de
Ninfa. Em Colossos (Filemon 2) : Casa de Filemon.
Estes e muitos outros fatos mostram com clareza que a utilização dos pequenos grupos tem
respaldo bíblico e se constituem algo legítimo e devem fazer parte da Igreja de Jesus Cristo
em todos os tempos e em todos os lugares.
2. A Igreja em Células fundamenta-se na História do Cristianismo
É sabido que a Igreja de Jesus Cristo reuniu-se em pequenos grupos ao longo de toda a sua
história, com mais ou menos intensidade. Depois do ano 70 AD, quando os romanos
destruíram o templo em Jerusalém, até o início do quarto século, os cristãos não utilizavam
templos para suas reuniões. Como afirma Howard Snyder6: “Teologicamente, a igreja não
precisa mais de templos. Edifícios não são essenciais para a verdadeira natureza da igreja,
pois o tabernáculo simbolizava a habitação de Deus, e Deus já habita dentro da comunidade
humana dos crentes cristãos. As pessoas são o templo e o tabernáculo, um tabernáculo ‘não
feito por mãos’, ‘maior e mais perfeito’, do qual o tabernáculo de Moisés era apenas uma cópia
(Hebreus 9:11) [...] O cristianismo não possui lugares santos, apenas povo santo”. O mesmo
4
BECKHAM, William A. A segunda reforma: A Igreja do Novo Testamento no Século XXI. Curitiba: Ministério
Igreja em Células no Brasil, 2007, p.203.
5 CRUZ; RAMOS, 2007, p.34.
6 SNYDER, Howard. Vinho novo, odres novos. São Paulo Aliança Bíblica Universitária, 1997, p.71.
autor afirma que nossos edifícios dão testemunho de nossa imobilidade, inflexibilidade, falta de
comunhão, orgulho, divisões de classes.7
Falando sobre os pequenos grupos na história da Igreja Márcio Tunala 8 coordenador do
ministério de Pequenos Grupos Multiplicadores e Integração na Igreja Batista do Bacacheri em
Curitiba afirma: Os pequenos grupos sempre estiveram presentes na história da igreja. Os
Valdenses, cristãos europeus seguidores de Pedro Valdo (1140-1218) perseguidos durante a
Idade Média, encontraram nas casas de família e até mesmo nas grutas e cavernas locais para
grupos de estudos da Bíblia e comunhão. Os Pietistas, cristãos fervorosos do fim do século XVI
influenciados especialmente pro Philip Jacob Spener (1635-1705), também enfatizaram as
reuniões em pequenos grupos como forma de promover a leitura, a comunhão e o debate
sobre a Bíblia”. Tunala faz menção também dos famosos grupos de John Wesley(1703-1791)
organizados para se tornar uma grande rede de cuidado. Nesses grupos “[...] os crentes
experimentavam o amor cristão, preocupavam-se uns com os outros. O pastoreio mútuo era
real e com isso a evangelização discipuladora se desenvolvia naturalmente”. 9 São apenas
alguns dos muitos exemplos de incidência de pequenos grupos nas igrejas cristãs ao longo da
sua história.
Um dos ícones mais recentes sobre pequenos grupos é Paul Youggi Cho, um sul-coreano
que se converteu do budismo. Em 1958 ele iniciou seu ministério num bairro pobre de Seul.
Utilizando a estratégia dos pequenos grupos familiares Cho viu sua igreja crescer a ponto de
se tornar hoje a maior igreja protestante do mundo, a Igreja do Evangelho Pleno de Yoido em
Seul, na Coréia do Sul. “Atualmente, as igrejas em pequenos grupos já se espalharam por todo
o mundo. Acredita-se que a China é onde existe o maior número de igrejas em pequenos
grupos do planeta. Também o continente africano tem experimentado o surgimento de
ministérios gigantescos que têm invadido os lares com o amor de Deus”. 10
Nota-se com isso que ao implantarmos células em nossa igreja não estamos querendo
inventar a roda. Estamos nos unindo aos cristãos de todos os tempos, inclusive o próprio
Jesus, na utilização e uma estratégia milenar e extremamente eficiente para o cultivo de
relacionamentos, prática dos valores do reino de Deus e expansão deste reino até os confins
da terra.
3. A Igreja em Células fundamenta-se na teologia cristã e nos valores do Reino de Deus
Depois de ter passado pelo sacrifício na cruz e deixar o túmulo vazio, antes de voltar para o
céu Jesus disse aos seus discípulos: “Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam com
que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai do Filho e do
Espírito santo e ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho ordenado a vocês. E lembrem
disto: eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”. (Mateus 28:19-20). Note-se
que nosso ingresso na Igreja Local deu-se através do batismo. E o batismo feito em nome da
Trindade divina. A Trindade divina oferece-nos a base teológica para os relacionamentos que
devem existir na Igreja de Jesus Cristo. Pai, Filho e Espírito Santo formam uma comunidade
perfeita, relacionando-se de maneira perfeita e se constituem no modelo para os seus filhos no
contexto da igreja cristã. Não há ciúmes, não há inveja, não há competição, não há rivalidade,
mas há amor, entendimento, relacionamento profundo entre as três pessoas da Trindade. Este
é o tipo de relacionamento que o Deus Triuno deseja ver presente na sua Igreja. Isso demanda
uma estrutura que facilite, oportunize este tipo de relacionamentos, tantas vezes mencionados
nas páginas das escrituras.
7
SNYDER,1997, p.79.
TUNALA, Márcio. Pequeno grupo multiplicador: compartilhando o amor de Deus por meio dos
relacionamentos. Rio de Janeiro: Convicção e Missões Nacionais, 2014, p.18.
9 TUNALA, 2014, p.18.
10 TUNALA, 2014, p.20.
8
Cruz e Ramos11 afirmam: “[...] a igreja necessita de uma nova estrutura de vida
congregacional que viabilize encontros genuínos entre pessoas, despidas de suas máscaras e
desconfianças, num ambiente em que os relacionamentos interpessoais se dão no nível da
verdadeira humanidade de Cristo”. Por sua vez, Kivitz12 afirma que “[...] somente os Pequenos
Grupos, que se reúnem regularmente para desenvolver a mutualidade, geram o espaço onde
os relacionamentos profundos podem acontecer. A Igreja não conseguirá outro meio de ser
Igreja a menos que fracione seu rebanho em pequenas células reprodutoras de
relacionamentos”.
A teologia do sacerdócio universal dos crentes, ou seja, o ensino bíblico que afirma que
cada crente em Jesus Cristo é um sacerdote, um ministro, salvo por Jesus Cristo para servir,
para ministrar ao povo de Deus (I Pedro 2:5-10) e anunciar ao mundo as grandezas de Deus
justifica a existência de células na Igreja Local. Em sua tese de doutorado Mathias Quintela 13
afirma: “[...] a prática efetiva do sacerdócio universal dos crentes requer comunidades menores,
de base, nas quais os relacionamentos possam ser tão intensos que tornem possível a
verdadeira comunhão cristã. Essas comunidades, no entanto, precisam fazer parte de uma
comunidade maior; como as células, elas são partículas constitutivas de um organismo vivo.
Essa comunidade maior identifica-se com a igreja local que tenha as marcas da igreja de
Cristo”
Amor, compromisso, transparência, prestação de contas, mutualidade, evangelismo,
discipulado são valores inegociáveis ensinados pela Bíblia como integrantes no reino de Deus.
Sabemos ser impossível a prática destes valores num cristianismo superficial em que as
pessoas não desenvolvam relacionamentos significativos e a célula é uma grande
oportunidade que Deus nos tem dado para que possamos, através das células, viver os valores
do reino de Deus e cumprir a missão que Jesus deixou para que cada um de seus discípulos.
Podemos ainda mencionar os mandamentos de mutualidade, os chamados mandamentos
recíprocos, que aparecem 59 vezes no Novo Testamento e envolvem exortação,
aconselhamento, advertência, instrução, apoio na fraqueza, encorajamento, aceitação,
intercessão. É na dinâmica dos relacionamentos pessoais que as carências dos irmãos são
supridas e onde os cristãos são aliviados de suas pesadas cargas (Gálatas 6:1-10). É importante
lembrar que “[...] a salvação é individual, mas a vida cristã é comunitária [...] A saúde espiritual
de um cristão está na proporção direta da profundidade e qualidade de seus relacionamentos
interpessoais no corpo de Cristo”.14
4. A Igreja em Células fundamenta-se nos desafios da sociedade contemporânea
Os Pequenos Grupos em igrejas cristãs sempre foram e sempre serão viáveis em toda e
qualquer cultura, uma vez que eles oportunizam relacionamentos saudáveis e significativos entre
pessoas que fazem parte do Corpo de Cristo. Entretanto, na sociedade contemporânea, eles
não são apenas viáveis e desejáveis, são necessários e indispensáveis.
É através dos seus relacionamentos que o ser humano se realiza e se humaniza. Falando
sobre isso Mondin15 afirma: “O homem é essencialmente sociável; sozinho não pode vir a este
mundo, não pode crescer, não pode educar-se; sozinho não pode nem ao menos satisfazer suas
necessidades mais elementares nem realizar as suas aspirações mais elevadas; ele pode obter
tudo isso apenas em companhia dos outros”.
11
CRUZ; RAMOS, 2007, p.46.
KIVITZ, 2002, p.63.
13 QUINTELA., Mathias. O véu rasgado: a dinâmica do ministério do povo de Deus. Dissertação de mestrado
apresentada à Faculdade Teológica Sul-Americana, 2002, p.75.
14 KIVITZ, 2002, p.63.
15 MONDIN, Batista O homem, quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. São Paulo: Paulinas, 1980,
p.155.
12
Esta necessidade de relacionamentos significativos precisa ser suprida ao longo de toda a
vida e vem sendo buscada ao longo da história da humanidade. Em cada época, acontecem
iniciativas nesta direção. Com o advento das novas tecnologias, a possibilidade de
relacionamentos virtuais vem sendo celebrada como uma novidade que aproxima as pessoas e
facilita amizades e comunhão virtual. Entretanto, o que se observa é que ao mesmo tempo em
que as pessoas estão conectadas virtualmente, continuam sentindo falta do contato face-a-face.
A Igreja foi a providência divina para que esta sede de comunhão seja saciada numa
dimensão que inclua mais pessoas além do círculo familiar e um nível mais profundo que
apenas questões sociais, que supra o ser humano na integralidade, incluindo todas suas
dimensões existenciais. Pessoas que partilham da mesma fé e de experiências semelhantes
com a Trindade divina, que desfrutam do mesmo amor e se deleitam na mesma esperança.
Não existe cristão isolado. A fé cristã é essencialmente comunitária. Como afirma Miranda:
“Pelo fato de sermos cristãos estamos necessariamente vinculados a uma comunidade de
homens e mulheres que professam a mesma fé”.16 E isto se reveste de importância ainda maior
quando sabemos como afirma Bruno Forte17, que “[...] os lugares privilegiados nos quais o
Espírito torna presente Jesus, Caminho para ir ao Pai, são a comunidade da salvação, a Igreja,
na variedade dos seus carismas e ministérios” e que “a comunhão e a corresponsabilidade dos
crentes constituem a forma mais densa da contemporaneidade de Cristo, Rei e Pastor, Servo e
Caminho de salvação, e devem ser vividas como empenho decisivo”. Trata-se de um chamado
ao diálogo e a uma participação efetiva na vida eclesial, sobretudo na construção de
relacionamentos saudáveis e significantes, que sirvam para saciar a fome e a sede de
comunhão profunda que todo o ser humano carrega dentro de si, sobretudo quando se encontra
com o Deus Trino, que é todo comunhão”.
Assim sendo, como afirma Shelley18 “[...] as igrejas deveriam fornecer oportunidades aos
membros e seus amigos para manifestações íntimas de suas lutas e vitórias pessoais”.
Certamente esta é uma lacuna aberta nas igrejas cristãs contemporâneas, carecendo, por isso
mesmo, ir à busca de caminhos que a preencham. Daí a importância da configuração das
Igrejas Locais em Pequenos Grupos (células), que oportunizam convivência, relacionamentos
significativos, laços profundos, vínculos de amor, amizade e companheirismo, pastoreio mútuo,
testemunho da fé e discipulado cristão.
Várias pesquisas têm sido feitas por estudiosos da Igreja de Jesus Cristo nos últimos anos.
Christian A. Schwarz19, Diretor do Instituto para o Desenvolvimento da Igreja, localizado na
Alemanha, fez uma pesquisa durante 10 anos em mais de mil igrejas espalhados ao redor do
mundo em 32 países dos cinco continentes. Seu objetivo era identificar os fatores que
contribuem para o desenvolvimento saudável das Igrejas Cristãs. Ele chegou àquilo que é
conhecido como as oito marcas de qualidade, oito princípios que influenciam no crescimento
natural da Igreja, dentre eles, a existência de Grupos Familiares. Segundo ele: “O fator decisivo
para um grupo familiar alcançar o seu objetivo é que ele seja um grupo holístico, ou seja,
completo em si mesmo. Isso significa que nesse grupo não só se estudam textos bíblicos, mas
as verdades bíblicas são constantemente relacionadas a fatos concretos da vida diária dos
cristãos. Os participantes desses grupos têm capacidade de levar à comunhão do grupo
questões que realmente mexem com eles no dia-a-dia”.20
16
MIRANDA, Mario de França. A igreja que somos nós. São Paulo: Paulinas, 2013, p.10.
FORTE, Bruno. Breve introdução à vida cristã. São Paulo: Paulinas, 2013, p.72 e 74.
18
SHELLEY, Bruce L. A igreja: o povo de Deus. São Paulo: Vida Nova. 1989. 142p.
19 SCHWARZ, Christian A. O desenvolvimento natural da Igreja.: Guia prático para cristãos e igrejas que se
decepcionaram com receitas mirabolantes de crescimento. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1996.
20 SCHWARZ, 199, p.32.
17
Outra pesquisa foi desenvolvida pelo teólogo americano Joel Comiskey 21, que atuou vários
anos como missionário na América Latina. Ele pesquisou sobre evangelismo em grupos
pequenos em oito igrejas diferentes localizadas em oito países deferentes e quatro culturas
distintas. Mais de 700 líderes de células preencheram sua pesquisa com 29 questões. Os
resultados de sua pesquisa estão publicados num livro e tem servido de subsídio para igrejas
que desejam dinamizar sua estrutura com a implementação de Pequenos Grupos. Ele afirma
que “[...] o ministério em células não é ‘mais um programa’; é o coração da igreja”.22 Esta é a
nossa proposta como Igreja na Serra. Configurar a Igreja de tal maneira que as células tornemse nossa filosofia principal de ministério e constitua-se em nossa grande estratégia de
evangelismo, discipulado, comunhão, edificação e pastoreio mútuo.
Palavras Finais
Diante de tudo o que tenho estudado sobre a Igreja nos últimos 38 anos fica a plena
convicção de que existem dois tipos de igrejas cristãs no mundo atualmente: As igrejas que já
estão configuradas em pequenos grupos e as que ainda vão se configurar em pequenos grupos.
Como nós estamos configurados em pequenos grupos, resta-nos viver os valores do reino de
Deus ensinados por Jesus Cristo aos seus seguidores a partir de sua própria célula, os
apóstolos, valorizar as células e glorificar a Deus cumprindo nossa missão de ser e fazer
verdadeiros/as e frutíferos/as discípulos/as de Jesus Cristo. Cada um deve fazer a sua parte .
A LIÇÃO NA VIDA
1. Você já faz parte de uma célula? Se já faz parte, o que você tem feito para que sua célula
cumpra os seus propósitos? Se ainda não faz parte, o que impede de integrar-se numa célula
uma vez que esta é a proposta principal do ministério da sua Igreja?
2. Célula não é um modismo apenas. Nem mais um programa da Igreja. Deve ser o carro chefe
de toda a estrutura e funcionamento da Igreja. Até que ponto você já entendeu o que significa
ser uma Igreja em células? O que tem feito para compreender melhor o que está acontecendo?
3. Para refletir em grupo: “No início, a igreja era uma comunhão de homens e mulheres
centradas no Cristo vivo. Então a igreja chegou à Grécia e tornou-se uma filosofia. Depois,
chegou até Roma e tornou-se uma instituição. Em seguida espalhou-se para o restante da
Europa e tornou-se uma cultura, chegou à América e tornou-se um empreendimento e ao
chegar ao Brasil a igreja tornou-se um evento. Através do sistema de células queremos resgatar
um cristianismo como um estilo de vida”.23 (Richard Halverson citado por Kivitz - adaptado)
REFERÊNCIAS
BECKHAM, William A. A segunda reforma: A Igreja do Novo Testamento no Século XXI. Curitiba: Ministério
Igreja em Células no Brasil, 2007, p.284p.
COMISKEY, Joel. Crescimento explosivo da igreja em células: Como seu pequeno grupo pode
crescer e se multiplicar. Curitiba: Ministério Igreja em Células no Brasil, 2000, 152p.
CRUZ, Valberto da; RAMOS, Fabiana. Pequenos grupos: para a igreja crescer integralmente.
Viçosa: Ultimato, 2007, 108p.
FORTE, Bruno. Breve introdução à vida cristã. São Paulo: Paulinas, 2013, 75p.
KIVITZ, Ed René. Quebrando paradigmas. São Paulo: Abba Press, 2002,101p.
MIRANDA, Mario de França. A igreja que somos nós. São Paulo: Paulinas, 2013, 262p.
MONDIN, Batista O homem, quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. São Paulo: Paulinas,
1980.
QUINTELA., Mathias. O véu rasgado: a dinâmica do ministério do povo de Deus. Dissertação de
mestrado apresentada à Faculdade Teológica Sul-Americana, 2002.
21
COMISKEY, Joel. Crescimento explosivo da igreja em células: Como seu pequeno grupo pode crescer e se
multiplicar. Curitiba: Ministério Igreja em Células no Brasil, 2000, p.15.
22 COMISKEY, 2000, p.17.
23 KIVITZ, 2002, p.56.
SCHWARZ, Christian A. O desenvolvimento natural da Igreja.: Guia prático para cristãos e igrejas que se
decepcionaram com receitas mirabolantes de crescimento. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1996,128p.
SHELLEY, Bruce L. A igreja: o povo de Deus. São Paulo: Vida Nova. 1989. 142p.
SNYDER, Howard. Vinho novo, odres novos. São Paulo Aliança Bíblica Universitária, 1997, 252p.
TUNALA, Márcio. Pequeno grupo multiplicador: compartilhando o amor de Deus por meio dos
relacionamentos. Rio de Janeiro: Convicção e Missões Nacionais, 2014, 131p.
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