1 Título: Problemas Gerais de Interpretação: Dos Modelos Explicativos da Economia Colonial Bibliografia: FRAGOSO, João e FLORENTINO, Manuel. Arcaísmo como projeto de mercado Atlântico, sociedade agrária e elite mercantil no Rio de Janeiro – 1790 – 1840. RJ. Diadorim, 1993. Palavras-chaves: Colonização; Economia; Comércio; Escravista João Fragoso e Manuel Florentino têm como objetivo promover uma discussão historiográfica sobre os modelos explicativos da economia colonial. Para tal, os autores analisam as duas correntes historiográficas de maior vulto sobre o assunto. A primeira delas, inaugurada na década de 30 por Caio Prado Júnior, ficou conhecida como escola do “sentido da colonização” e posteriormente foi abordada e defendida por Celso Furtado e Fernando Novais. A segunda, oriunda da década de 70, teve como base o “modo de produção escravista colonial”, sendo abordada por Ciro Cardoso e Jacob Gorender. A colonização do Brasil teve seu início em 1530 quando Portugal preocupado com as invasões francesas às terras não ocupadas por portugueses e espanhóis, as dificuldades comerciais com o Oriente devido à grande concorrência e o êxito da Espanha na exploração de ouro e prata com a ocupação dos territórios americanos, resolveu ocupar a terra visando abastecer a Metrópole com produtos manufaturados a baixo custo. Daí os autores, ao analisar Caio Prado, compreendem que o descobrimento do Brasil e sua posterior colonização tratam-se de uma extensão da expansão comercial européia. A Colônia possuía um tipo de estrutura que se fundamentava na “contínua transferência de excedentes para a Metrópole lusitana, o que por certo só poderia traduzir-se numa economia de base agrária”. Apesar de não negar a existência de uma economia interna, Caio Prado defende a preponderância do capital mercantil metropolitano sobre a produção colonial, ou seja, a Colônia existia para abastecer a Metrópole através da exportação. Assim toda economia colonial estaria polarizada social e politicamente para a plantation, os senhores e seus escravos, que reduziriam os gastos e aumentariam os lucros. Como figuras secundárias havia também homens livres pobres. Mas, as elites agrárias permaneciam no topo da hierarquia social e econômica submetidas apenas ao Pacto Colonial. Tais 2 circunstâncias conduziram à afirmação de que a Colônia não tinha capacidade de gerar circuitos internos de acumulação de capital gerando dependência da relação comercial monopolizada pela Metrópole. Na mesma linha de Caio Prado Júnior, Celso Furtado utiliza o comércio exterior para compreender o funcionamento da economia escravista. Toda a economia da Colônia deveria ser analisada à luz da exportação. Entretanto. Furtado amplia sua concepção quando afirma que na economia colonial, voltada majoritariamente para o comércio externo, a queda dos preços fazia com que esta se voltasse para a produção interna. Escravos se voltavam para a economia de subsistência. Surgiu então uma brecha através da qual se desenvolveria um mercado interno. Em Fernando Novais, a economia Colônia foi dividida em dois setores básicos: a plantation e a subsistência. Novais adota as idéias de Caio Prado e Celso Furtado, mas, também amplia um pouco a questão quando mostra um tipo de capitalismo monárquico, ou seja, a Metrópole não investia na industrialização, fazendo com que seu comércio dependesse da relação com outros Estados. Na década de 70, Ciro Cardoso critica a escola do sentido da colonização. Apesar não discordar da importância da exportação para se entender a economia colonial, Ciro visava romper com a tradição de que o comércio exterior explicaria e condicionaria tudo. Assim ele propõe um novo modelo defendendo: “a existência de dois setores agrícolas, o sistema escravista dominante, produtor de bens exportáveis, e o camponês, exercido pelos escravos; que as forças produtivas teriam um nível relativamente baixo, marcado pelo uso extensivo dos recursos naturais e da mão-de-obra; que do ponto de vista econômico, a lógica do sistema e do capital seriam inseparáveis; que em termos micro-econômicos, a rentabilidade da empresa escravista dependeria da redução dos custos de produção, buscando-se auto-suficiência; e que os principais mecanismos de produção seriam o tráfico de africanos e diversos fatores extra-econômicos”. Posteriormente visando levar às últimas conseqüências a idéia de um modo de produção escravista colonial Gorender também questionou a ênfase dada por caio Prado e seus seguidores à transferência de excedente colonial, chegando a defender a possibilidade de acumulações de capital no interior da 3 Colônia. O escravismo para ele não geraria um mercado interno compatível com o mercado externo, assim ele aponta para mais um modo de produção colonial. Como o mercado externo sofria muitas variações era imprescindível a existência de um mercado interno. Diante do quadro esboçado pode-se perceber que as visões historiográficas são bem distintas. A primeira procura utilizar o comércio com a metrópole para explicar toda economia colonial, não abrindo precedentes para uma economia interna independente. A segunda, embora não despreze a visão de tal escola, discorda da idéia de um olhar singular através da exportação e adota uma visão mais global da economia colonial identificando mais um modo de produção, o escravista.