UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS João Gabriel Burmann da Costa ANÁLISE CRÍTICA-DESCRITIVA DA OBRA “HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL” DE CAIO PRADO JÚNIOR Porto Alegre 2011 HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2006. 1. Introdução A obra História Econômica do Brasil, escrita em 1945, pelo historiador paulista Caio Prado Júnior é uma das principais obras historiográficas da economia brasileira. Abordando desde os tempos em que éramos colônia, sob comando de Portugal, até o processo de industrialização e de estabelecimento de nossa economia de mercado interno, a obra se constitui fonte fundamental para se compreender a formação e o desenvolvimento da economia brasileira. Considerando a importância da obra, este trabalho tem por objetivo fazer uma análise tanto crítica, quanto descritiva da obra de Caio Prado Júnior. No que diz respeito à parte crítica, procurar-se-á ressaltar os métodos de observação e de explicação dos fatos pelo autor, quando possível recorrendo a comparação com outro grande economista brasileiro, Celso Furtado. Descritivamente, buscar-se-á rever a análise temporal e causal apresentada pelo autor durante a obra. Estas duas etapas de análise justificam-se por serem etapas importantes na tentativa de entender quais aspectos na história do Brasil foram, na perspectiva do autor, fundamentais para determinar o tipo de desenvolvimento pelo qual nosso país passou em algumas décadas do século XX. 2. Revisão crítica dos métodos de análise do autor Caio Prado Júnior (1907-1990) foi um importante historiador, geógrafo, político e escritor brasileiro. Com formação acadêmica na área das ciências jurídicas e sociais, e um interesse particular por geografia – foi um dos fundadores da Associação dos Geógrafos Brasileiros na década de 1930 – Prado Júnior identificava-se fortemente com as idéias socialistas. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro, chegou a ser eleito deputado federal em 1945. Esta aproximação das idéias socialistas, mais especificamente da filosofia política marxista, é o que caracterizará as obras do autor, inclusive História Econômica do Brasil. Em alguns momentos este marxismo irá se mostrar explícito, como nos capítulos dedicados à transição do Império para a República e as relações com o capital estrangeiro - principalmente inglês - e no capítulo que se refere ao imperialismo econômico. Contudo, a presença deste caráter marxista exacerbado, é totalmente justificável considerando-se a época em que o livro foi escrito e as idéias em voga nos círculos intelectuais daquele período. Assim, o autor nos apresenta os fatos sob um ponto de vista teórico diferente, que nos incita a pensar sobre a real exploração que nosso país sofreu. Exploração esta não tanto por parte de Portugal - nossa metrópole e figura de segundo escalão na economia mundial desde o século XVIII - mas sim pelos países de capitalismo desenvolvido, possuidores de capital suficiente para se arriscarem em atividades especulativas exteriores e ávidos por recursos largamente disponíveis em nosso país. O interesse do autor pela geografia será um ponto marcante na obra, inclusive que a diferenciará da outra obra referência no assunto, Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado. Os fatores geográficos do Brasil já se mostram presentes no primeiro capítulo da obra, quando o autor recorre a uma explanação da geografia regional do país. Enquanto isto, Furtado tratará em seu primeiro capítulo sobre os processos das “Grandes Navegações”, da conquista do “Novo Mundo” por espanhóis e portugueses, da primeira atividade econômica realizada no Brasil, até o estabelecimento da empresa agrícola produtora de cana-de-açúcar. A utilização da geografia será um recurso freqüente de Prado Júnior, como por exemplo, quando se refere aos ciclos dos produtos – açúcar, ouro, café -, onde influenciarão questões relacionadas ao clima e ao solo; e na localização geográfica dos centros populacionais e produtivos, intrinsecamente ligados ao problema dos sistemas de transporte. A presença deste caráter geográfico de análise pode ser interpretado, por alguns, como uma forma de determinismo, expresso em condições que estariam naturalmente impostas ao país e que, portanto irão influenciar no seu posterior desenvolvimento. Este é um risco a que o autor se sujeita, mas que considerando a inovação no método de análise, deve ser valorizada na leitura. Temporalmente, Caio Prado Júnior desenvolve uma análise bem estruturada, partindo de antes do descobrimento do Brasil, com os motivos que levaram aos processos de “descobrimento do Novo Mundo’, passando pela fase de pura exploração do pau-brasil brasileiro; a ocupação efetiva do território; os ciclos do açúcar, mineração e café; até o início da industrialização do país e a crise do sistema cafeeiro. Apesar disto, em alguns momentos a transição de um período para outro se torna um pouco confusa, com as causas de algum fato sendo apresentadas em outro capítulo ou sessão. Esta dificuldade na transição temporal fica mais clara quando comparada à obra de Furtado, onde a organização temporal dos fatos é bem distribuída nos capítulos e partes do livro. Característica importante na escrita de Caio Prado Júnior é a presença de fatores que vão além da esfera puramente econômica. Ao tratar do desenvolvimento da economia brasileira, o autor consegue com grande mérito, abordar também a situação política e social da época tratada. Esta relação história- economia- sociedade é bem explorada nas passagens acerca da chegada da família real portuguesa ao Brasil e principalmente na transição Império – República e escravidão - assalariamento, quando há o nascimento de um proto-modelo de capitalismo nacional, com grandes mudanças nos ideais e objetivos dos homens de negócio e uma dinâmica social de classes completamente distinta do período de escravidão. Neste aspecto a obra de Prado Júnior consegue abordar melhor os campos político e social da história brasileira do que Formação Econômica do Brasil, preferenciando a segunda, dinâmicas, causas e conseqüências mais diretamente econômicas. Talvez a característica que mais aproxima Prado Júnior de Furtado quanto ao método de análise seja o grande valor dado às relações do Brasil com a economia mundial, isto é, o papel de fatores externos como condicionantes do posterior processo de desenvolvimento econômico brasileiro. Junto com Simonsen, – citado como umas das principais fontes em Furtado – os dois autores formam uma linha de interpretação da história brasileira que se difere da outra mais tradicional, que privilegiava em sua análise os fatores internos do país, vendo nele características semelhantes ao feudalismo europeu. Apesar de privilegiar fatores externos ao país em suas análises, nem Furtado nem Caio Prado Júnior caem no problema de apresentar uma análise incompleta. Pelo contrário, conseguem passar aos leitores um panorama bastante abrangente do Brasil, relacionando os fatores externos com implicações na organização interna do país, e vice-versa. Narrativamente, História Econômica do Brasil é muito bem escrito, com longas passagens descritivas, que o tornam de uma leitura fácil, dedicada a um público mais abrangente, leigo, do que a obra de Celso Furtado – com passagens bastante econômicas e que podem afastar o leito comum. Porém, Formação Econômica do Brasil apresentará uma síntese melhor dos acontecimentos, detendo-se em descrições nos capítulos destinados a conceitos considerados chave para o autor, geralmente aqueles de caráter puramente econômico. Destaca-se durante o texto de Prado Júnior, a capacidade do autor em descrever alguns processos específicos como o plantio das diversas culturas que ocorreram no Brasil, e o desenvolvimento de tecnologias que provocaram mudanças em técnicas de cultivo e de produção, como o descaroçador de algodão e os vulcanizadores da borracha. De modo comparativo a obra de Caio Prado Júnior aborda algumas práticas econômicas de menor expressão na história do Brasil, que são apenas mencionadas – quando isto – na obra de Celso Furtado. Temos como exemplo: o plantio de tabaco; a exploração de diamantes e de minério de ferro; a especificidade nos gêneros de plantio destinados a alimentação da população; a pesca da baleia; a coleta de ovos de tartaruga; as práticas manufatureiras do final do século XVII; a extração de erva- mate nas províncias sulinas; etc. Cientes da relação existente entre Caio Prado Júnior e Celso Furtado quanto a seus métodos de análise e quanto à problemática teórica básica – a saber, a transição do país de uma ordem colonial para uma economia nacional, atentando para as dinâmicas desta transição e a estrutura de cada uma destas fases – podemos compreender melhor a importância destes dois autores para a historiografia não só econômica, mas também política e social, do Brasil. Escrevendo em um período anterior a Furtado, é notável o quanto o pensamento de Caio Prado Júnior influenciou no pensamento do primeiro. Apesar de Formação Econômica do Brasil possuir um caráter econômico, com linguagem mais técnica, acentuado, Furtado de muito – e reconheceu isto em sua tese de doutorado – ao exame anterior da sociedade, da política e da história brasileira, realizado por Caio Prado Júnior 3. Análise descritiva da obra: o processo de formação da economia brasileira Conhecendo as características gerais do sistema analítico de Caio Prado Júnior, partiremos a uma análise mais conceitual e teórica da obra. O objetivo mais do que sintetizar as idéias desenvolvidas pelo autor durante todo o livro, é organizar os principais conceitos presentes na obra. Portanto tentar-se-á compreender como se deu a dinâmica do desenvolvimento econômico do Brasil, passando de pura e simples colônia de exploração e exportação a uma economia de considerável mercado interno até a época em que o livro aborda. Como já mencionado o autor dedica uma atenção especial as características geográficas do Brasil. Assim, a primeiras observações da obra se dão acerca do meio geográfico como fator condicionante da fixação populacional nas regiões do país. Sobre a região Nordeste, Caio Prado nos diz que a faixa litorânea da região é extremamente favorável ao povoamento, graças ao clima propício e qualidade do solo, que beneficiam a cultura de produtos tropicais. Na mesma região, destaca que o clima semi-árido do sertão nordestino foi um fator que conteve a expansão do colonizador em um primeiro momento. Em oposição ao interior nordestino apresenta-se o planalto centro meridional, com condições naturais esplêndidas para povoamento, uma vez que conta com regime regular de chuvas, solos férteis, boa hidrografia, e, além disso, grande quantidade de recursos minerais. Dividida em três sub-regiões – setentrional ( Minas Gerais), meridional (de São Paulo ao Rio Grande do Sul) e ocidental – o planalto centro meridional será posteriormente o local onde se desenvolverão atividades econômicas diversas, desde a mineração, passando pela agricultura, até a pecuária. Por último, nos é apresentada a região do Extremo-Norte, caracterizada pela grande floresta Amazônica e pela existência de uma extensa rede hidrográfica. Ao contrário de Furtado, Caio Prado Júnior fala a respeito do contexto internacional na época dos descobrimentos posteriormente na primeira sessão de seu livro. Após tratar rapidamente sobre a revolução comercial ocorrida na Europa, e da expansão portuguesa em direção às ilhas do Atlântico e à costa da África, o autor diz que o principal foco de interesse para Portugal era as Índias Orientais, de onde comercializavam especiarias. Mesmo após o descobrimento do Brasil, de acordo com o autor, tentou-se através do Pacífico, descobrir uma rota que os levassem para lá. Após se mostrar irrealizável este objetivo, voltaram-se as atenções para o que as novas terras poderiam oferecer de lucrativo. Neste momento, o entendimento por “colonizar” ainda possuía o caráter de simples exploração mercantil, como acontecia nas colônias da costa africana ou nas Índias. Além disso, a baixa população européia não possibilitava que se promovesse um povoamento das novas terras, principalmente por parte de Portugal. Assim, é natural que o primeiro produto que se comercializou da nova colônia fosse algo que não exigisse uma grande mobilização nem de mão-de-obra, nem de capital. Nestes moldes, a extração do pau-brasil foi a primeira atividade econômica do Brasil colônia. Ainda que menos expressivas, o autor menciona também a extração de peles e a atividade da pesca. Apesar de altamente rentável, - visto especialmente pela curta duração do ciclo de extração deste produto, que logo se tornou cada vez mais escasso – esta atividade econômica, o autor menciona a sorte que tiveram os espanhóis a se destinarem para os territórios com grande disponibilidade recursos minerais de fácil exploração como Peru e México. Nestes locais a exploração propriamente dita irá perdurar por tempo maior do que no Brasil, o que se por um lado rendeu maiores lucros para a Espanha, por outro manteve estes países em situação econômica de subdesenvolvimento durante um tempo maior. Outra região com que há freqüentes comparações nesta parte do livro é a parte norte da América, que ficaram sob colonização inglesa. Sobre esta região a análise de Caio Prado Júnior é semelhante à de Furtado, que diz que o clima temperado da região – semelhante ao da Europa – e os processos de cercamento das terras na Inglaterra – que liberou uma grande quantidade de trabalhadores disponíveis – propiciavam e possibilitavam o povoamento precoce da região. Desta primeira parte de História Econômica do Brasil podemos compreender o surgimento do Brasil para o resto da economia global. Surgimento este que foi de acordo com as condições das economias européias do momento, de despertar do capitalismo mercantil. É neste momento que segundo o autor surge o chamado Antigo Sistema Colonial, ou seja, um sistema pré-capitalista de produção ( na visão marxista) onde há um Estado que controla as atividades de exportação de produtos agrícolas da colônia para atender os interesses das classes mercantilistas. Neste contexto, a ocupação da colônia servia apenas como forma de sanar a necessidade expansionista do capital mercantil europeu. A segunda sessão do livro se dedicará a explicar o contexto, os interesses e o modo em como se deu a ocupação efetivas do território brasileiro a partir de 1530. Neste período, já cientes das riquezas contidas nas novas terras, os países que ficaram de fora da “partilha da América”, França e Holanda, irão voltar seus interesses para a região. Com a ameaça externa próxima do seu território, há o entendimento em Portugal de que só a pequena ocupação promovida pela extração de madeira, ou o direito divino concedido pelo Papa, não eram suficientes para se garantir a posse das terras. Assim, começará a se ocupar o território brasileiro. Essa ocupação acontecerá basicamente nas áreas litorâneas, devido a motivos já apresentados. Sendo o território, mesmo o costeiro, uma área de grandes extensões será necessário um grande contingente de pessoas para ocupá-lo. Porém, Portugal dispunha de pouco ou quase nenhum – o autor menciona apenas doze - interessado em se aventurar neste tipo de investimento pouco seguro. Este fator justificará a histórica característica latifundiária brasileira. Mesmo com grandes quantidades de terras, era necessário que a Coroa portuguesa concedesse diversas vantagens aos administradores das “capitanias hereditárias”, em sua maioria indivíduos de pequena expressão social e econômica. O pau-brasil já começava a se tornar escasso e não condizia com as novas características de ocupação. A expectativa de retorno do investimento por parte destes novos senhores de terra, encontrava-se na cultura da cana-de-açúcar. Este era um produto de grande valor comercial na Europa, escasso nos mercados mundiais, e que os portugueses já possuíam alguma experiência no cultivo e no comércio. Além disso, o clima e o solo brasileiro eram propícios a esta cultura, e ainda havia a abundante mão-de-obra indígena disponível, que já havia sido utilizada na extração do pau-brasil. A cana-de-açúcar foi cultivada em toda a extensão da costa brasileira, tendo se destacado nas capitanias de Pernambuco e Bahia. O regime latifundiário e quem as terras foram distribuídas também era adequado as técnicas de cultivo do produto, somente lucrativo quando cultivado em extensão. A produção de açúcar seria toda ela destinada aos mercados europeus, o que novamente demonstra o sistema colonial brasileiro como dependente do sistema europeu. A expansão do cultivo de cana-de-açúcar durante os séculos XVII e XVII, que acabou por tornar este o principal produto de nossa economia, só se tornou viável após a utilização do escravo africano como mão-de-obra. De acordo com o autor – e este pensamento de cunho racista é presente tanto em Prado Júnior quanto em Furtado – o índio era menos capacitado para o trabalho do que o negro africano. Estes últimos eram mais resistentes as árduas condições de trabalho, propiciando uma maior produtividade do que o indígena, que irá preferir sobrevir da coleta e de sua agricultura de subsistência do que se submeter ao trabalho escravo. A introdução do escravo africano ocorrerá por volta do início do século XVII, e irá resolver todos os problemas posteriores de mão-de-obra. Porém ele terá um alto custo, devido à necessidade de transporte da África para a América. Este alto custo o viabilizará apenas naqueles engenhos de alta produtividade, enquanto que nos de menos lucratividade frequentemente o índio será utilizado como escravo. A descrição do ciclo do açúcar de Caio Prado Júnior se assemelha bastante a de Celso Furtado. Ambos explicam as características gerais deste ciclo de acordo com as características do produto, da estrutura fundiária do país e da disponibilidade de mão-de-obra. É frisada por ambos a dependência do mercado externo desta economia de simples exportação de produtos agrícolas. Esta dependência é mais bem abordada por Furtado, que destaca o papel do capital holandês como financiador tanto das lavouras, quanto da mão-de-obra escrava africana, e dos engenhos de açúcar, ponto que Caio Prado não menciona. Ainda dentro da economia do açúcar o autor mencionará o tabaco como segundo produto de exportação do país, usado principalmente para trocar por escravos na África. Juntamente com a economia açucareira se desenvolverão outras economias, em diferentes regiões do país. Estas terão papel principalmente de subsistência, não cabendo a elas promover mudanças dinâmicas no todo econômico do país. Na região do interior nordestino se desenvolverá uma agricultura destinada a atender as necessidades dos engenhos e dos pequenos centros populacionais, onde não havia espaço nem interesse de se dedicar a atividades que não dessem o lucro do açúcar. A mão-de-obra desta economia era dos próprios donos das terras, trabalhadores que haviam estado em regime servil-temporário. É mencionada também a atividade pecuária de quase nenhuma expressão na época e que ocorria no sertão do Nordeste e na porção setentrional do planalto centro meridional. Após explicar os princípios da ocupação do território brasileiro, situada basicamente na região litorânea, o autor irá expor o processo de expansão desta ocupação, para áreas do interior do país, como a região de Minas Gerais e da floresta amazônica. Após passar por um período sob o governo da Coroa espanhola, o governo português passa a dar ainda mais atenção a sua colônia americana. Na verdade, já naquela época a existência econômica de Portugal passava a depender do Brasil, uma vez que havia perdido suas possessões asiáticas, antes responsáveis pela maior parte do fluxo de renda para a colônia. Até mesmo as migrações de portugueses para o Brasil aumentaram neste período. É montada uma administração colonial mais elaborada, que defendesse melhor os interesses da metrópole. Houve um maior liberalismo com estrangeiros, porém um maior controle para que a colônia não competisse com produtos que a metrópole produzia, como especiarias, azeite de oliva, e aguardente – que competiria com o vinho do porto. Muitos monopólios a nacionais e a estrangeiros também foram concedidos. O objetivo de Portugal passa a ser retirar da colônia os produtos que melhor possam ser comercializados na Europa, gerando riqueza à metrópole. Os principais gêneros são o açúcar, o algodão e o cacau. No início do século XVII são descobertas primeiras jazidas de ouro na região de Minas Gerais. Estas descobertas iniciarão um período de grande prosperidade na economia da colônia. Deve-se principalmente às expedições dos bandeirantes o título de descobridores destes metais, uma vez que foram os responsáveis pela ampliação de boa parte dos territórios portugueses para além do Tratado de Tordesilhas, ao saírem atrás de índios para abastecerem as lavouras de cana de São Vicente. A estrutura produtiva da mineração irá girar em torno de dois agentes: os escravos das minas de lavra, abundantes na época áurea da mineração; e os faiscadores, trabalhadores livres que andavam de um local para outro praticando a mineração de baixa produtividade, tanto no tempo de prosperidade, quanto – principalmente – nos tempos de crise. Caio Prado Júnior destaca também a extração de diamantes como um processo concomitante ao do ouro. As minas de ouro provocaram o crescimento de outras regiões da colônia, uma vez que era necessário abastecer esta região com alimentos e produtos que não eram produzidos ali. A agricultura de subsistência e a pecuária tanto do nordeste quanto das províncias do sul irão ter importante desenvolvimento nesta época. Mudanças políticas também ocorrerão devido ao ciclo do ouro, como por exemplo, a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro já que dinâmico se deslocou da região do açúcar para a mineração, era necessária uma administração mais presente no local onde se exportava produção do ouro. A crise do ouro se deu basicamente pelo esgotamento das reservas do metal e pela técnica deficiente de exploração – em grande parte culpa da administração portuguesa que mantinha a colônia isolada das inovações tecnológicas, inclusive de produção. Uma vez que nos tempos prósperos as minas de ouro retiraram muita mão-de-obra escrava das plantações de cana-de-açúcar do Nordeste, pode-se dizer que a crise da mineração foi parcialmente responsável pela crise do açúcar. Já enfrentando altos preços do produto nos mercados internacionais, e a perda do monopólio para as Antilhas holandesas o açúcar entrará em uma crise momentânea. Para ressurgir algumas décadas depois, embora sem a mesma importância anterior. Um ponto interessante na análise do autor é o desenvolvimento e ocupação da região amazônica no Extremo-Norte do país. Esta se deu com o objetivo de expulsar os holandeses e ingleses da região, e aproveitou-se da hidrografia da região para vencer as dificuldades impostas pela floresta equatorial. Irá se desenvolver economicamente baseada na extração de produtos exóticos, como o cravo, a canela, a castanha, o cacau, e o peixe. Não foram utilizados escravos africanos apenas indígenas, já em processo de “domesticação” pelos jesuítas – os quais o autor se dedicará em explicar a função e o processo de expulsão destes daquela região. O período de apogeu colonial do Brasil será na fase que está submetido ao pacto colonial português. Essa política estabelecia que a colônia deveria ofertar produtos agrícolas a metrópole, enquanto fica submetida a consumir somente a manufatura oriunda da metrópole. Esta política somada ao fato de o açúcar estar em crise – devido aos fatores supracitados e a técnicas ineficientes de uso do solo, e dos resíduos de produção – irá promover uma diversificação dos produtos agrícolas produzidos no Brasil. No contexto da época, de Revolução Industrial, principalmente nas indústrias têxteis, nos países desenvolvidos, o algodão irá assumir um importante papel na economia da colônia. Desenvolvido no interior do território – especialmente no Maranhão - não era um produção que exigisse muita mão-deobra. A exportação ocorrerá basicamente para a Inglaterra. Seguindo sua tendência de abordar processos de menor expressão, Prado Júnior também trata do cultivo do arroz ( Maranhão e Pará) que foi o segundo maior produto em importância no período; do anil; e do café, ainda expoente. Como no período da mineração com a ocupação da Amazônia, o autor prossegue com a explicação do processo de incorporação do Rio Grande do Sul. Contará economicamente após 1750, irá basear sua economia na atividade pecuária e em suas variações diretas: a exploração do couro; a venda de carne seca (charque); e a venda de muares e cavalos. O tipo de propriedade era o latifúndio, principalmente nas regiões próximas a fronteira com o território espanhol. A economia do sul foi muito importante, pois abasteceu os mercados do centro e te mesmo nordeste, e se constituía uma economia voltada para o abastecimento do mercado colonial, não de exportação metropolitana. No capítulo dedicado a fazer um balanço da era colonial do Brasil, Prado Júnior trata mais especificamente de algumas atividades, como as manufaturas ( muito pouco desenvolvidas); as indústrias extrativas de madeira, erva-mate, sal; dos transportes e comunicações dentro da colônia; entre outros processos. Cabe destacar neste capítulo o diagrama demonstrativo do caráter geral da economia colonial brasileira. Pode-se perceber que toda a organização econômica do país- seja esta estrutural, de trabalho, de propriedade – é elaborada para atender às exportações dos produtos coloniais e receber produtos manufaturados e fatores de serviço, como escravos. Nas palavras do autor, “ o regime colonial representa um obstáculo intolerável oposto ao desenvolvimento do país. O sucesso da Revolução Industrial nos países desenvolvidos e a conseqüente substituição do capital comercial pelo capital financeiro promoverão uma revolta contra os monopólios e a quebra do Pacto Colonial. Assim, Portugal e Espanha que ficaram para trás na corrida pela industrialização entrarão em grave declínio econômico, passando para uma condição de parasitismo de suas colônias. Todas estas mudanças para Caio Prado Júnior se constituem como “um primeiro passo nesta grande transformação que se ia operar no país”. A vinda da Família Real portuguesa para o Brasil e a Abertura dos Portos em 1809 são na visão do autor marcos da independência do país, pois ali se rompiam os laços que nos ligavam à metrópole. A Abertura dos Portos irá privilegiar enormemente a Inglaterra e a Brasil, já que a primeira que ficava livre para suprir nosso mercado com produtos manufaturados, dos quais necessitávamos e que Portugal não era capaz de nos suprir. Além disso, a infra-estrutura urbana, de comunicações e de transporte do Brasil irão melhorar consideravelmente. Estas mudanças físicas eram simultâneas a uma sofisticação das elites locais. Porém, como se já não fossem altos os volumes de importações de produtos básicos a subsistência haverá um aumento nos volumes de importação de produtos de luxo, o que colocará a economia brasileira em situações constantes de déficit orçamentário. Esses déficits não poderão ser cobertos por meio de impostos alfandegários, uma vez que os tratados com a Inglaterra os inviabilizavam. Outro fator que trazia déficits ao Brasil eram os grandes volumes de exportação como uma forma de conseguir excedente para programar melhorias na capacidade produtiva do país e atender uma demanda crescente por bens de consumo. Isto nos fazia recorrer a empréstimos internacionais. Será a situação inerente de déficit orçamentário da economia brasileira uma das grandes responsáveis pelo fim do regime de escravidão, que ainda permanecia como a mola mestra da nossa economia, mas que o capitalismo industrial exigia que se posse um fim. Como argumento econômico o autor expõem o caráter fundamental de se promover o comércio interno, algo somente possível em uma economia assalariada. Além do mais, havia uma perda da base moral da escravidão nos círculos intelectuais, que fazia grande pressão para a abolição da escravatura. Em 1850 será decretada a abolição do tráfico negreiro, o que coloca de vez o Brasil como um Estado soberano aberto à livre concorrência. No mesmo período e quem é abolido o tráfico de escravos, grandes inovações tecnológicas chegam a o Brasil, o que torna mais dinâmico o processo de desenvolvimento agrícola. Contudo, a abolição do tráfico, irá por em cheque a estrutura de produção extensiva, brasileira, especialmente do Nordeste. O sudeste do país – Rio de Janeiro, Vale do Paraíba, e interior de São Paulo - onde desde o final do século XVIII se cultivava o café – neste ponto Prado Júnior descreve todas as características do produto e sua evolução histórica – estava em uma situação mais próspera, já que possuía uma grande aceitação no mercado europeu, por isso não é tão afetado. O cultivo do café na região propiciou uma ascensão no padrão de vida da população, com a construção de manufaturas, estradas de ferro e a mecanização da indústria rural. O café – e a região sudeste- ocupava agora o posto de centro dinâmico da economia do país que no passado havia pertencido ao açúcar e ao ouro. Até mesmo superávits na balança comercial foram obtido graças a esse produto. Ao contrário da economia do açúcar no Nordeste, a economia cafeeira se beneficiou do tráfico de escravo, uma vez que pode comprar escravos da primeira região, e possuía condições que atraiam aos imigrantes que vieram para substituir os escravos nas ampliações das lavouras. A situação sem poder se ampliar os empreendimentos por falta de mão-de-obra estava ficando insustentável. Até mesmo a crescente leva de imigrante vinda para as lavouras de café- em regimes de parceira – a partir de 1850 não estavam sendo suficientes para atender a demanda por mão-de-obra. As manufaturas mais desenvolvidas que nasciam também exigiam mão-de-obra mais qualificada o que o escravo africano. Finalmente em 1888 é declarada a abolição da escravatura. Aqui o autor faz uma crítica a uma das leis anteriores a Lei Áurea, a Lei dos Sexagenários, que estabelecia que escravos acima dos 60 anos deveriam ser libertos. De acordo com ele, esta foi uma lei ineficiente, se não desnecessária, uma vez que dificilmente um escravo a chegava a esta idade, e mesmo que chegasse, por não conseguir arrumar seu sustento de modo livre, provavelmente preferiria continuar na escravidão. A Proclamação da República em 1889, para o autor não passa de um golpe militar, onde se rompeu com o equilíbrio conservador do império e desenvolveu na mente do homem de negócio a “ânsia de enriquecimento, e de propriedade material. Outro fato que beneficiou a criação deste ideal foi o Brasil ter passado a ser o maior produtor de matérias primas do mundo. Este novo agente da economia irá ter uma posição central na República. A introdução do trabalhador assalariado resolveu o problema da mão-de-obra, entretanto, não sem prejudicar a o regime de grande propriedade, principalmente no norte e nordeste. Todas estas mudanças trouxeram uma política de cunho liberal para a economia do país. Assim de não é de se surpreender que tenha acontecido uma grande crise econômica em nosso pai, causada por diversos fatores, como: a transição para uma economia assalariada que tornou necessária uma quantidade muito maior de moeda no mercado para pagar os trabalhadores; o incremento das lavouras de café, baseadas em empréstimos de capital internacionais; e a maior autonomia dos estados para dirigir suas próprias políticas de emissão de moeda e de tomada de empréstimos. Apesar destes desequilíbrios houve uma maior diversificação das atividades, o que motivou a indústria manufatureira principalmente em São Paulo, e tornou ainda mais próspera, as lavouras de café e de cacau ( Bahia). Mas ainda assim havia um déficit na balança exterior. Vivíamos uma crise externa. A solução do governo foi uma política monetária expansionista, o que não funcionou, porque os produtores continuavam a plantar café e a situação estava chegando a níveis de superprodução. A grande participação do Brasil nos negócios mundiais do café e a característica de inelasticidade do produto permitiam que a oferta fosse controlada pelo governo. Porém as vendas do estoque não acompanhavam o ritmo de produção das lavouras. O governo mantém este controle sobre a oferta do produto durante cerca de três décadas do século XX, onde se passam por momentos de crise e outros de maior tranqüilidade, como durante a Primeira Guerra Mundial. Todas estas ações do governo eram financiadas com capital estrangeiro. Às vésperas da Crise da Bolsa de Nova York em 1929, diminuem drasticamente a disponibilidade de capital estrangeiro para empréstimo. A política de financiamento do café é parada pelo governo, que tenta proceder com a quitação dos débitos. Em meio à análise da crise do café, Caio Prado Júnior ainda trata de outros três pontos muito importantes: o imperialismo dos capitais sobre o Brasil; o desenvolvimento de outros produtos agrícolas; e a industrialização. O primeiro ponto é na verdade, ponto de destaque durante boa parte de História Econômica do Brasil. O capital estrangeiro sempre teve uma posição central na economia brasileira, desde os empréstimos holandeses para financiar a estrutura produtiva do açúcar, até os capitais financeiros da Inglaterra. No geral, dentro da tradição do pensamento marxista estes capitais serão responsáveis por abrir mercados para nossa indústria nacional em troca da exploração da mais-valia, e por nos por a disposição matérias primas que precisávamos. O segundo ponto, diz respeito a uma visão geral da agricultura da República Nova, abordando mais produtos que não o café. Sobre o açúcar o autor nos diz que o fim da economia escravista, a queda dos preços internacionais e a concorrência do café por mão-deobra, aumentaram a crise no setor. Apesar disto o produto ainda era base em muitas regiões do país, que perdido o mercado externo, irão voltar sua produção para o mercado interno, especialmente a zona do café. A existência de donos de engenho com maiores produtividades do que outro acabará por criar usinas, onde o refino do produto é mais centralizado. Ainda havia a borracha, cuja produção mundial chegamos a possui 40%. Este produto desenvolvido na região do Extremo-Norte, especialmente no Acre, decolou na pauta de exportação brasileira a partir de 1880. A crise deste produto, proveniente da concorrência de países asiáticos, irá dissipar a riqueza acumulada na região e promover êxodo do povoamento que ali havia. Por último, Caio Prado Júnior nos traz sua visão sobre o processo de industrialização brasileira. Para ele, os principais deflagradores da indústria no Brasil foram: o declínio da taxa de câmbio – que favorecia a exportação e dificultava a importação e r promovida muitas vezes pelo governo; as altas tarifas alfandegárias – recurso para sanar déficit público; a disponibilidade de mão-de-obra barata – maior parte desta formada por imigrantes; e a produção de algodão – que propiciou o desenvolvimento da indústria têxtil. A Primeira Guerra Mundial também teria cumprido importante papel, ao diminuir a concorrência estrangeira. Os primeiros ímpetos industriais se derma na década de 1880 e 1890, com o surgimento de indústrias metalúrgicas depois da 1ª Guerra Mundial. Algumas dificuldades encontradas no desenvolvimento da nossa indústria de acordo com o autor teriam sido a falta de um mercado consumidor interno, e a concorrência das mercadorias estrangeiras. 4. Conclusão Cientes da relação existente entre Caio Prado Júnior e Celso Furtado quanto a seus métodos de análise e quanto à problemática teórica básica – a saber, a transição do país de uma ordem colonial para uma economia nacional, atentando para as dinâmicas desta transição e a estrutura de cada uma destas fases – podemos compreender melhor a importância destes dois autores para a historiografia não só econômica, mas também política e social, do Brasil. Escrevendo em um período anterior a Furtado, é notável o quanto o pensamento de Caio Prado Júnior influenciou no pensamento do primeiro. Apesar de Formação Econômica do Brasil possuir um caráter econômico acentuado, com linguagem mais técnica, Furtado deve muito – e reconheceu isto em sua tese de doutorado – ao exame anterior da sociedade, da política e da história brasileira, realizado por Caio Prado Júnior. 5. Referências DILLENBURG, Fabricio Gustavo. História econômica do Brasil: sobre a obra de Caio Prado Júnior e sua contribuição para a história brasileira. Disponível em <http://www.dominus3000.com/art-bra_caioprado.htm>. Acesso em: 18 de novembro de 2011. FABER, Marcos; WOLF, Ismael. Resenha de História Econômica do Brasil de Caio Prado Junior. Disponível em: <http://www.historialivre.com/brasil/caiopradojr.htm> Acesso em: 18 de novembro de 2011. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil, 34º. ed. São Paulo: Cia. Das Letras, 2007. LEÃO, Igor Zanoni Constant Carneiro . Economia colonial e economia nacional em Caio Prado Junior e Celso Furtado. In: VII Encontro Nacional de Economia Política / II Coloquio Latino Americano de Economistas Políticos, 2002, Curitiba. Disponível em: < http://www.sep.org.br/artigo/7_congresso_old/LEAO_IGOR.pdf>. Acesso em: 18 de novembro de 2011. PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2006.