Ciência Animal 2000, 10(1):43-48
INFLUENCIA DO SYNCRO-MATE B E DO GNRH SOBRE A ATIVIDADE
OVARIANA DE VACAS 5/8 GIROLANDO NO INÍCIO DO PÓS-PARTO
(Influence of sycro-mate b and GnRH on the ovarian activity of 5/8 girolando cows at the
beginning of post-partum)
João Gustavo Luz CALDAS1, Marcos Antonio Lemos OLIVEIRA1* ,
Paulo Fernandes de LIMA1 & Antonio Santana dos SANTOS FILHO2
1
Universidade Federal Rural de Pernambuco – Programa de Pós Graduação em Ciência Veterinária, 2Empresa
Pernambucana de Pesquisa Agropecuária
RESUMO
Objetivou-se acompanhar, através da ultra-sonografia, a atividade ovariana de vacas Girolando no
pós-parto depois da administração, associada ou não, de progestágeno e gonadorelina. Foram
utilizadas 15 vacas Girolando com 20 dias de paridas, apresentando escore corporal 2,5 e idade
entre quatro e dez anos. Os animais, distribuídos ao acaso e de forma eqüitativa em três grupos
experimentais, tiveram seus ovários examinados do 20º até o 60º dia do pós-parto através de duas
observações semanais para verificar a existência de folículos dominantes ( 10 mm de diâmetro) e
ocorrência de ovulações. No grupo SMB+GnRH, os animais receberam um implante subcutâneo
auricular com 6 mg de norgestomet no 20º dia após o parto durante 11 dias e os que não manifestaram
estro até o 40º dia receberam, via intramuscular (i.m.), 500 µg de GnRH. No grupo GnRH+GnRH,
os animais receberam, via i.m., uma dose (500 µg) de GnRH no 20º dia após o parto e os não
detectados em estro até o 40º dia receberam uma segunda aplicação, com igual dose e via de
administração, de GnRH. No grupo controle, os animais não receberam tratamento hormonal, mas,
foram observados quanto a atividade ovariana entre o 20º e o 60º dia do pós-parto. O folículo
dominante foi observado, em média, nos dias 23,2 ± 5,2 (SMB+GnRH); 25,2 ± 5,4 (GnRH+GnRH)
e 26,6 ± 3,2 (controle) e as ovulações nos dias 39 ± 5,5 (SMB+GnRH), 37 ± 9,8 (GnRH+GnRH) e
46 ± 8,6 (controle). Não foi observada nenhuma prenhez nos três grupos. De acordo com as
observações realizadas pode-se concluir que o tratamento com SMB e GnRH, realizado no início
do pós-parto, não exerceu influência sobre o desenvolvimento folicular e tampouco incrementou a
porcentagem de fertilidade de vacas 5/8 Girolando.
PALAVRAS-CHAVE: anestro, bovino, ciclicidade.
ABSTRACT
The objective of this study was to accompany the ovarian activity of Girolando cows in post-partum
using ultrasound, after the management of associated or unassociated progestagen and gonadorelin.
Fifteen Girolando cows presentinga body score of 2.5 and aged between four and ten years ikd were
used 20 days after calving. The animal were distributeds randomly but equally into three experimental
groups. They had their ovaries examined from the 20th until the 60th day post-partum by two weekly
observations to verify the existence of dominant follicles ( 10 mm of diameter) and occurrence of
ovulation. In the SMB+GnRH group, the animals received an auricular subcutaneous implant with
6 mg of norgestomet on the 20th day after partum during 11 days and those that did not manifest
estrus until the 40th day received 500µg of GnRH by intramuscular application (i.m.). In the
GnRH+GnRH group, the animals received, one dose (500 µg i.m.) of GnRH on the 20th day after
partum and those not detected in estrus until the 40th day received a second identical application
and GnRH management. In the Control group, the animals did not receive hormone treatment, but,
43
they were observed so that the ovarian activity could be followed between the 20th and the 60th day
post-partum. The dominant follicle was observed, on average, on days 23.2 ± 5.2 (SMB+GnRH);
25.2 ± 5.4 (GnRH+GnRH) and 26.6 ± 3.2 (Control) and ovulation on days 39 ± 5.5 (SMB+GnRH),
37 ± 9.8 (GnRH+GnRH) and 46 ± 8.6 (Control). No pregnancy was observed on the three groups.
According to the current observations, it is possible to conclude that the treatment with SMB and
GnRH, performed at the beginning of post-partum, does not influence either the follicular
development or increase the percentage of fertility of 5/8 Girolando cows.
KEY WORDS: anoestrus, bovine, ciclicity.
INTRODUÇÃO
O anestro pós-parto é influenciado por
diversos fatores e dentre eles ressaltam-se a
nutrição e a amamentação (SHORT et al., 1994),
os quais estão relacionados com longos períodos
de inatividade ovariana que, por reduzir a
eficiência reprodutiva, contribui para o baixo
desempenho produtivo do rebanho (FERREIRA,
1991).
A utilização de gonadotropinas (NASH
et al.,1980; IRVIN et al.,1981) e de fatores
liberadores (OLIVEIRA et al., 1999), associados
ou não a esteróides (SMITH et al.,1983;
OLIVEIRA et al.,1999a) vem sendo
implementada para restabelecer a ciclicidade
ovariana. Entretanto, tem apresentado resultados
inconsistentes, fato que pode estar relacionado a
fatores como, momento do início do tratamento
(RABELO et al., 1998), condição corporal das
matrizes ao parto (PINTO ANDRADE et al.,
1995) e relação mãe/cria (RIVERA et al., 1994).
A realização de exames ultrasonográficos tem contribuído para o
conhecimento detalhado da dinâmica folicular
na espécie bovina. Este fato permite estabelecer
as ondas foliculares e os mecanismos de seleção
e dominância dos folículos, favorecendo assim,
a manipulação artificial da função ovariana
(ADAMS, 1994). Apesar de fêmeas bovinas
* Endereço para correspondência
Rua Dom Manoel de Medeiros, s/nº - Dois Irmãos
52171-900 Recife, Pernambuco
44
terem permanecido em anestro por um período
superior a 80 dias, foi possível diagnosticar que
a atividade ovariana teve início em torno do 14º
dia do pós-parto (STAGG et al.,1995).
Diante do exposto, teve-se o objetivo de
acompanhar, através da ultra-sonografia, a
atividade ovariana de vacas 5/8 Girolando,
durante o pós-parto, após a administração,
associada ou não, de GnRH e progestágeno.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido entre os meses
de dezembro de 1998 e janeiro de 1999, na
Estação Experimental da Empresa
Pernambucana de Pesquisa Agropecuária. A
propriedade, localizada no Município de
Arcoverde, Agreste de Pernambuco, apresenta
coordenadas geográficas de 8o25’00" de latitude
sul e 37 o 03’15" de longitude oeste de
“Greenwich” com altitude média de 664 m e
precipitação pluviométrica média anual de 586
mm. A temperatura média anual é de 23,7oC e o
tipo climático é o semi-árido megatérmico.
Os animais foram submetidos a regime
semi intensivo com pastejo formado por capim
Brachiaria decumbens, local onde tinham acesso
a água e a sal mineral ad libitum. Duas vezes ao
dia (manhã – 5:00 às 7:00 horas; tarde – 15:00
às 17:00 horas) eram recolhidas ao estábulo para
serem ordenhadas e amamentarem suas crias.
Foram utilizadas 15 vacas 5/8 Girolando
a partir do 20º dia pós-parto, apresentando escore
corporal de 2,5, segundo EDMONSON et al.
(1989), e idade entre quatro e dez anos, as quais
foram distribuídas ao acaso e de forma eqüitativa
em três grupos experimentais. Os animais
tiveram os ovários observados do 20º até o 60º
dia do pós-parto através de dois exames semanais
por meio de aparelho ultra-sonográfico 1
mediante abordagem transretal com o objetivo
de avaliar a função dos ovários, principalmente
quanto a existência de folículos dominantes
(•10mm de diâmetro) e ocorrência de ovulações.
Ressalta-se que os animais após manifestarem
estro acompanhado de ovulação, eram
artificialmente inseminados. No grupo
SMB+GnRH, os animais receberam um implante
subcutâneo auricular de norgestomet2 (6 mg) no
20º dia após o parto por 11 dias e os que não
manifestaram estro até o 40º dia receberam, via
intramuscular, 500 µg de gonadorelina3 . No
grupo GnRH+GnRH, os animais receberam uma
primeira dose de gonadorelina (500 µg) no 20º
dia após o parto e aqueles que não apresentaram
estro até o 40º dia receberam uma segunda
aplicação de GnRH em igual dose e via de
administração. No grupo controle, os animais não
receberam tratamento hormonal, mas, foram
observados quanto a atividade ovariana entre o
20º e o 60º dia do pós-parto.
Os dados foram analisados pelo teste não
paramétrico de Friedman, com nível de
significância de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apresentados na Fig. 1
mostram não existir diferença significativa entre
os grupos experimentais no que concerne ao
intervalo entre o parto e a observação do primeiro
folículo dominante, observado, em média, nos
dias 23,2 ± 5,2; 25,2 ± 5,4 e 26,6 ± 3,2 nos grupos
SMB+GnRH, GnRH+GnRH e Controle e com
relação a incidência de ovulações, as quais
ocorreram nos grupos SMB+GnRH e
GnRH+GnRH num tempo médio de 39 ± 5,5 e
37 ± 9,8 dias, respectivamente. Ressalta-se que
um animal do grupo GnRH+GnRH apresentou
nova ovulação, de um estro silencioso, no
Scanner 480 Pie Medical com transdutor linear de 5 e
7,5 Mhz
2
Syncro-Mate-B, Rhodia Mérieux Veterinária Ltda.
3
Profertil, Tortuga Companhia Zootécnica Agrária
1
intervalo de dez dias. No grupo controle, as
ovulações, foram diagnosticadas no período de
46 ± 8,6 dias, não havendo diferença significativa
entre os grupos.
Ainda com relação a incidência de
ovulações, três animais nos grupos SMB+GnRH
e GnRH+GnRH e quatro no grupo controle
apresentaram ovulações, não havendo diferença
entre os referidos grupos.
No que concerne ao número de animais
em estro entre o 20º e o 60º dia, obteve-se um
índice de 20% para os grupos SMB+GnRH e
GnRH+GnRH, enquanto que no controle o índice
foi de 40%. (Fig. 2).
É necessário esclarecer que os exames
ultra-sonográficos somente foram iniciados 20
dias após o parto e, por isso, é provável que
alguns folículos já tivessem alcançado o estádio
de dominância e regredido, pois as ocorrências
de folículos dominantes foram anteriormente
diagnosticadas aos seis dias pós-parto por
SÁVIO et al. (1990) e a de ovulações por
RAJAMAHENDRAN & TAYLOR (1990) aos
14 dias após o parto. Das 15 vacas utilizadas
neste experimento, seis delas já mostravam um
folículo dominante no primeiro dia dos exames
ultra-sonográficos.
Em relação ao desenvolvimento folicular
no pós-parto, os resultados estão em acordo com
os descritos por STAGG et al. (1995) quando
afirmaram que o prolongamento do anestro pósparto é devido a falhas na ovulação do folículo
dominante e não a ausência do desenvolvimento
folicular. Apesar de poucos animais terem
manifestado estro neste experimento, todos
apresentaram desenvolvimento de folículos
dominantes que posteriormente regrediram sem
ocorrer ovulação. Atividade ovariana sem
manifestação de sinais clínicos de estro também
foi observada por RAJAMAHENDRAN &
TAYLOR
(1990),
ao
constatarem
desenvolvimento folicular durante período
anovulatório, bem como por SÁVIO et al. (1990)
ao verificarem que 94% das primeiras ovulações
ocorrem sem sinais de estro.
Apesar de NASH et al. (1980) terem
observado que a administração de 250 µg de
GnRH no 14° dia do pós-parto induz o início da
45
Dias
Fgura 1. Valores médios do dia da emergência do primeiro folículo dominante e da ovulação.
atividade ovariana com subsequente aumento da
fertilidade e de que FONSECA et al. (1980)
tenham sugerido um prévio tratamento com
progesterona, antes do tratamento com GnRH
no início do pós-parto, por aumentar a resposta
ovulatória, foi registrado que os tratamentos
utilizados neste experimento não exerceram
influência sobre a atividade ovariana e
fertilidade. Esta ocorrência pode ser, em parte,
atribuída ao modo de ação da progesterona, pois
apesar de poder ativar o crescimento e a
sincronização folicular em estágios de
desenvolvimentos apropriados para responder ao
tratamento com GnRH, parece não atuar no
anestro lactacional, como afirmaram EDWARDS
et al. (1985), porque os opióides endógenos
inibem a liberação do LH em vacas lactantes, de
acordo com GREGG et al. (1986). Além disso,
o tratamento com GnRH, realizado no inicio do
pós-parto, pode induzir o aumento da
concentração dos hormônios gonadotrópicos e
da progesterona, porém, a atividade ovariana é
somente induzida quando o ovário abriga um
folículo apto para responder ao estímulo do
GnRH como referiram-se AMINU DEEN et al.
(1995).
Mesmo que RIVERA et al. (1998)
tenham reportado que animais, portadores de
folículo dominante na fase de crescimento ou no
início da fase estática, pré-tratados com
Figura 2. Porcentagem de estro dos animais tratados e do grupo Controle.
46
progesterona ovulam após a aplicação do GnRH.
Todavia, neste trabalho foi registrada, em um
único animal do grupo SMB+GnRH, ovulação
do folículo dominante após a aplicação do
GnRH, enquanto que outro manifestou estro,
seguido de ovulação, 72 horas após a retirada do
implante de SMB e em um terceiro animal
ocorreu ovulação de forma silenciosa sete dias
após a retirada do implante. Em outros animais
foi constatado que o GnRH não induziu a
ovulação do folículo dominante.
No que concerne a indução do estro, os
resultados aqui obtidos estão em acordo com os
de MUKASA-MUGERMA et al. (1997) que
constataram ineficiência dos progestágenos para
induzir a ciclicidade em animais que se
encontravam no início do pós-parto, bem como
que um percentual elevado de animais ovula sem
apresentar sintomas de estro. A ocorrência de
ovulações sem a manifestação de estro também
foi constatada por OLIVEIRA et al. (1999b) após
aplicarem um agente luteolítico em animais que,
aparentemente, permaneciam em anestro após o
tratamento com progestágeno.
No que concerne ao índice zero de
fertilidade nos três grupos experimentais, é
possível admitir que este fato tenha sido uma
conseqüência da recuperação uterina não ter
ocorrido plenamente ou devido a formação de
corpos lúteos subnormais após a primeira
ovulação no pós-parto, hipótese anteriormente
levantada por RIVERA et al. (1994). Esta
segunda hipótese também encontra respaldo nos
achados de WERT et al. (1996). Os resultados
deste trabalho ainda podem ser atribuídos a
diversos fatores que, direta ou indiretamente,
podem ter exercido influência negativa, todavia,
é preciso salientar que, devido ao estado
lactacional, fatores como inibição da liberação
de GnRH (ACOSTA et al., 1983; ZALESKY et
al., 1990; HAFEZ, 1995), balanço energético
negativo (STAGG et al., 1995; SANTOS &
AMSTALDEN, 1998) e condição corporal
(PRADO et al., 1990), não podem deixar de
serem ressaltados.
De acordo com as observações
realizadas pode-se concluir que o tratamento com
SMB, assim como sua associação ao GnRH no
início do pós-parto, não exerce influência sobre
o desenvolvimento folicular e tampouco
incrementa a porcentagem de prenhez de vacas
5/8 Girolando.
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