Caso 1: Silicon Graphics - O esforço para chegar ao pódio do ciberespaço Poucas são as empresas que conseguem ser inovadoras, ágeis e ditar as regras do mercado, como a Silicon Graphics (SG). Tudo o que nela se faz é feito tendo em mente um objetivo: manter a empresa sempre à frente da concorrência. Diz o presidente, Ed McCracken: “nossa filosofia e nosso segredo para obtermos vantagem competitiva não é reagir ao caos; mas gerar o caos. E o segredo para um gerador de caos é ser um líder em inovação”. Em 1982, o fundador da empresa, James H. Clark, trouxe o primeiro chip de silício do mundo contendo um código gráfico. Esse chip forneceu a velocidade necessária para as imagens computadorizadas tridimensionais. Desde então, a SG vem mantendo sua posição, recusando totalmente a ortodoxia que governa a indústria da informática. Empresas bem estabelecidas – e ameaçadas – como a IBM e a DEC tradicionalmente perseguiam mercados massivos e economias de escala para superar tempos difíceis de recessão. Isso levou a baixas margens, redução de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e conseqüente diminuição na capacidade de inovar. A SG escolheu uma estratégia totalmente nova. Atacou um nicho de mercado com muito valor agregado e quase customizado para produzir estações de computador para cientistas, engenheiros e outros profissionais na fronteira de P&D. Com vendas de US$1,5 bilhões e uma margem de lucros 10% superior à dos concorrentes, a SG cometeu a luxúria de gastar 12% do faturamento em P&D. Isso não significa que a empresa não esteja interessada em mercados massivos. Ela introduziu o Indy, um computador para o mercado de consumo, que custava menos de US$5 mil. Para assegurar que o hardware da SG sempre estabeleça o padrão para a indústria, a empresa seleciona os clientes mais exigentes e sofisticados que encontra para contribuições sobre o que o equipamento atual não pode fazer e o que a próxima geração deve tornar possível. Dessa forma, a SG não responde às tendências de mercado. Ela as dita. Para reforçar essa estratégia, o feedback do cliente é incorporado à ponta do ciclo de desenvolvimento, para assegurar que sua tecnologia esteja sempre na porta de entrada. A capacidade de conceber inovações extremamente modernas, repetidas vezes, é a arma mais formidável da empresa para gerar o caos entre os concorrentes. E parece que está funcionando. A SG mantém os funcionários constantemente envolvidos, criando uma cultura de diversão e liberdade, e fazendo o elitismo ser parte da mitologia. O recado é: se você é o melhor na sua área, somos a empresa certa para você. A constante inovação provoca a canibalização de produtos existentes, o que não tem nada de errado para McCracken. Ele declara: não prestamos muita atenção no fato de determinado produto ainda estar ou não ganhando aceitação no mercado quando decidimos lançar um produto novo. Esta abordagem é a única maneira de assegurar que ninguém chegue ao mercado primeiro com um produto mais rápido, melhor e mais barato. Quando alguém nos supera no mercado, o que ocorreu algumas poucas vezes, ficamos muito constrangidos. Pode ser difícil acreditar que uma empresa com pouco mais de uma década de existência já teve de reinventar a si própria, mas a vida será assim no mundo do século XXI, onde irá imperar a hiperconcorrência global. Assim como muitas outras empresas, a SG havia se concentrado em vender para o departamento de defesa americano computadores de milhões de dólares com capacidade tridimensional para simular testes de hardware militar. Mais adiante, a empresa voltou-se ao maior simulador de todos: Hollywood. A tecnologia tridimensional da SG garantiu aos filmes Jurassic Park: Parque dos Dinossauros, O Máscara e Os Flintstones uma boa parte da venda de ingressos. A SG procura preservar as virtudes de se manter pequena, mesmo crescendo. Qualquer trabalho não considerado uma competência essencial é rapidamente dispensado. Parcerias com a Time Warner e Nintendo permitiram entrar nos mercados de videogame e TV interativa, sem acrescentar nada de substancial para si. Mas ninguém, nem mesmo a SG terá uma carona garantida para o futuro. A concorrência da Hewlett-Packard é muito forte. Haja coração! Baseado em: Matthew J. Kierman, The Eleven Commandments of 21st Century Management, Englewood Cliffs, N.J., Prentice-Hall, 1996, p. 38-40. Caso 2: Vem aí a Pipoca On-line Caso prático do tópico: A nova lógica das organizações O que faz um pai que paga um curso de Administração de Empresas na Fundação Getulio Vargas, uma das mais conhecidas do país, banca uma especialização na famosa Universidade de Berkeley, na Califórnia, e depois vê o filho investir num negócio que leva o nome de Pipoca Online? Nada. Ou melhor, junta-se a ele. Foi exatamente o que fez o empresário Sergio Casarini, que vendeu uma torrefadora de café em São Paulo para trabalhar ao lado do filho, Eduardo, e da mulher, Fátima. Ela, uma talentosa decoradora de eventos e casamentos na cidade de São Paulo, inspirou a primeira empresa virtual da família: a Flores On-line, maior site de floricultura do país. O lado tecnológico ficou por conta do filho. “Entre um estágio numa multinacional e a floricultura virtual, fiquei com a segunda opção”, diz Eduardo, 28 anos. Agora, com o Flores On-line a todo vapor – tem 500 mil clientes cadastrados – ele quer repetir o sucesso oferecendo aluguel de DVDs pela Internet. Assim surge a Pipoca On-line, que nasce operando inicialmente na Grande São Paulo, mas já tem planos de chegar a outras capitais brasileiras até o final do ano. “É um mercado altamente promissor. Só nos Estados Unidos, a locação on-line movimenta US$9 bilhões ao ano”, conta Eduardo. A idéia surgiu quando Eduardo descobriu o site da americana Netflix, maior locadora on-line do mundo. O sistema funciona assim: o consumidor paga uma assinatura, anota os filmes favoritos no site da empresa e recebe o DVD em casa (em até 24 horas). O maior atrativo é que ele pode ficar com os DVDs o tempo que quiser, sem pagar multa – mas só receberá outros títulos quando fizer a devolução. “A Netflix conseguiu eliminar tudo o que o consumidor não gosta nas locadoras”, afirma Eduardo. Hoje, a empresa americana tem cinco milhões de clientes, filiais em 20 países e fatura US$700 milhões ao ano. O modelo americano animou o garotão de Berkeley. Eduardo importou até a fórmula para calcular o preço das assinaturas mensais. Por aqui, elas irão de R$39,90, com limite de retirada mensal de quatro DVDs (o equivalente ao preço da locação em lojas físicas, acrescido de taxa de entrega), ou R$99,00, com número de locação ilimitado. A única dificuldade da versão brasileira era definir o melhor sistema de entrega ao consumidor. O custo da logística no Brasil é alto. Nos Estados Unidos, o DVD é entregue pelo correio, uma opção mais barata e prática. Na maioria dos casos, o disco é colocado na caixa de correspondência do locatário - e ninguém rouba. Por aqui, a primeira opção seria utilizar motoboys. Mas Eduardo chegou à conclusão de que no final das contas sairia caro e poderia comprometer a qualidade do serviço. “O custo-benefício não era interessante”, afirma o empresário. Assim como fez com o Flores On-line, ele decidiu fechar uma parceria com a Direct Express, distribuidora que atende gigantes como a Americanas.com e Submarino. Outra vantagem é que Eduardo não precisou montar uma infra-estrutura. Os três mil títulos disponíveis ficam guardados na Direct Express. A locação por Internet vem fazendo tanto sucesso que a Blockbuster, dona de mais de 8,5 mil locadoras no mundo, se rendeu a ela. Hoje, sua divisão online tem 1,2 milhão de assinantes e o serviço deve chegar ao Brasil ainda este ano. Procurada, a Blockbuster não se pronunciou sobre o assunto. O que se sabe é que ela terá de se adequar a um novo modelo de negócios que, no início, pode tirar boa parte de suas receitas. Explica-se: é do atraso na devolução de DVDs que a Blockbuster tira 15% de seu faturamento. O sistema virtual não prevê multa nesse caso. Fonte: Isto é Dinheiro 31/05/2006. Pontos para discussão: 1. Você acredita que haverá uma mudança da estratégia da Blockbuster? Por quê? 2. Quais os benefícios do serviço de Pipoca On-line? 3. Em sua opinião, Quais os principais cuidados que a Pipoca On-line deve tomar?