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Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso
O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E SUAS
CONSEQUÊNCIAS PSICOSSOCIAIS: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA.
Autora: Sandra dos Reis de Castro
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Virginia Turra
Brasília - DF
2014
SANDRA DOS REIS DE CASTRO
O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
PSICOSSOCIAIS: UMA REVISSÃO SISTEMÁTICA.
Monografia apresentada ao curso de graduação em
Psicologia da Universidade Católica de Brasília,
como requisito parcial para obtenção do Título de
Bacharelado em Psicologia.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Virginia Turra
Brasília
2014
DEDICATÓRIA
Em especial a Deus, por tudo em minha vida;
Ao meu pai Albino e minha mãe Enícia que mesmo
estando longe, me apoiaram nos momentos mais
difíceis;
À minha irmã Simone, pela amizade e carinho;
Ao meu irmão Leandro e minha cunhada Shirley,
pela amizade e companheirismo;
Ao meu filho, Eduardo, pelo carinho e compreensão
nessa longa caminhada.
AGRADECIMENTOS
A Deus
Um agradecimento, especial, a Deus, pelo conhecimento, pela força e coragem que a
cada dia me iluminava ao caminho a ser percorrido.
Às Professoras Lilian Maria Borges e Virginia Turra
Agradeço pela colaboração da Dra. Lilian Maria Borges e minha orientadora, Dra.
Virginia Turra, pela confiança depositada em mim e pelas orientações que tornaram possíveis
a construção desse trabalho.
Um agradecimento especial à minha orientadora, Dra. Virginia Turra pela dedicação
do seu tempo e pela partilha de sua experiência para que minha formação fosse também
aprendizado de vida. Agradeço, ainda, pela sabedoria e experiência que me ajudou não apenas
a superar os desafios do estudo, mas também o medo e a insegurança que envolve um trabalho
de conclusão de curso.
À Família
Agradeço aos meus familiares pelo incentivo e apoio recebido, em especial aos meus
pais, Albino e Enícia, meus maiores exemplo de vida, deixando muitas vezes de viver a
própria vida para tornar meus sonhos possíveis. Obrigada por cada incentivo e orientação,
pelas orações em meu favor. Meus irmãos, Leandro e Simone, obrigada pelo companheirismo
e força que me permitiram acreditar que seria possível chegar ao final dessa graduação. Ao
meu amado e querido filho Eduardo, que ainda criança soube compreender e ter sabedoria
para atravessar os momentos mais difíceis e esperar o tempo para uma brincadeira, um
carinho.
Às Colegas e Amigas
Agradeço, ainda, às minhas colegas: Erlanda Maia, Eudiléia de Fátima e Flávia Adami
que ao longo desta graduação foram fonte de companheirismo e amizade. Além de me
apoiarem nos momentos mais difíceis.
RESUMO
Referência: CASTRO, S. R. O infarto Agudo do Miocárdio e suas consequências
psicossociais: Uma Revisão Sistemática. 2014. 57f. Monografia (Psicologia) – Universidade
Católica de Brasília, Brasília, 2014.
As doenças coronarianas representam um grave problema de Saúde Pública, com índices
significativos de morte e comprometimento permanente. Sabe-se que os comportamentos de
saúde, os fatores emocionais e psicossociais estão diretamente ligados aos fatores de risco,
desencadeamento e reabilitação, demonstrando ligações entre cardiopatia e vida psíquica,
portanto cresce a necessidade de publicações acessíveis ao Psicólogo brasileiro que possam
subsidiar a crescente inserção do profissional Psicólogo na crescente demanda por
atendimento na área. Este estudo tem como objetivo verificar se há um volume significativo
de publicações recentes Qualis A das áreas de Psicologia e de Cardiologia, em língua
portuguesa, que abordem os aspectos psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do
Miocárdio - IAM. Foi realizada uma revisão sistemática da literatura em três revistas Qualis A
de Psicologia e em uma revista com publicações significativas da área de Cardiologia, em
vista da escassez de publicações específicas sobre o IAM, ampliou-se a pesquisa de forma a
considerar as publicações que estejam relacionadas às doenças cardiológicas, e foram
selecionadas oito publicações, segundo os critérios de inclusão. Os resultados encontrados
revelam escassez de publicações atuais sobre os aspectos psicossociais específicos ao IAM.
No entanto, o IAM é uma ramificação das doenças cardiológicas, e, portanto, as publicações
evidenciaram a relação entre fatores de riscos, aspectos emocionais e psicossociais com as
doenças cardiológicas. Percebe-se que as atividades físicas (dança e atividade sexual) e a rede
de apoio têm se mostrado benéficos na reabilitação e retorno à vida cotidiana de pacientes
cardiovasculares.
Palavras-chave: Infarto; Psicologia; Cardiologia; Consequências Psicossociais.
ABSTRACT
Coronary heart disease represent a serious public health problem, with significant rates of
death and permanent impairment. We know that health behaviors, emotional and psychosocial
factors are directly related to risk, development and rehabilitation factors, demonstrating links
between heart disease and mental life, so increase the need for affordable publications to
Psychologist that can support the integration professional Psychologist in increasing demand
for care in the area. This study aims to determine whether there is a significant volume of
recent publications Qualis A the areas of Psychology and cardiology, in Portuguese, that
address the psychosocial aspects related to Acute Myocardial Infarction - IAM. A systematic
literature review was performed in three Qualis A the Psychology and a magazine with
significant publications in the field of Cardiology in view of the scarcity of publications
focusing on the IAM has expanded the research in order to consider the publications that are
related to cardiac diseases, and eight articles were selected according to the inclusion criteria.
The results showed lack of current publications on the psychosocial aspects specific to IAM.
However, the IAM is a branch of cardiac disease, and therefore the publications showed the
relationship between risk factors, emotional and psychological aspects with cardiac disease. It
is noticed that the physical activities (dance and sexual activity) and support network have
proven beneficial in the rehabilitation and return to everyday life of cardiovascular patients.
Keywords: infarction; psychology; Cardiology; Psychosocial consequences.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 11
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO.............................. 11
2.2 FATORES DE RISCO PARA O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ..................... 13
2.3 REABILITAÇÃO E TRATAMENTO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ..... 16
2.4 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ................ 19
2.5 MANEJO EMOCIONAL ............................................................................................... 25
3 OBJETIVO .......................................................................................................................... 27
3.1. OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 27
4 MÉTODO ............................................................................................................................. 28
5 RESULTADOS .................................................................................................................... 30
6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 44
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 54
8
1 INTRODUÇÃO
O tema de interesse central desta pesquisa centra-se na relação entre doença coronária
e emoções, tendo em vista a crença do papel do coração como centro das emoções e da vida.
Será abordado principalmente o que se tem produzido em termos de pesquisas científicas
disponíveis em língua portuguesa que abordam aspectos psicológicos ligados às doenças
cardíacas, mais especificamente, ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM).
Desde a antiguidade, o coração é entendido como órgão da vida e das emoções, o
motor da existência (SOARES, 2005). Nessa perspectiva, devido à carga simbólica desse
órgão, o cardiopata ao saber-se “doente do coração” pode atribuir um significado peculiar ao
seu diagnóstico (LAMOSA, 1990). Sendo assim, torna-se essencial compreender como a
pessoa vivencia a cardiopatia e que impacto isso tem na sua vida psíquica e reabilitação
psicossocial.
As doenças cardiovasculares representam um grave problema de Saúde Pública
(NIEMAM, 1999; BERRY; CUNHA, 2010). Nas últimas décadas, observa-se um aumento
significativo deste tipo de adoecimento, que constitui uma das principais causas de
mortalidade no mundo. Atualmente, doenças desta natureza ocupam uma das principais
causas de morte no Brasil, atingindo todas as faixas etárias (SOUSA; OLIVEIRA, 2005).
Segundo dados do IBGE (2009), o país tem experimentado uma transição
epidemiológica, com alterações relevantes no quadro de morbimortalidade. As doenças
infectocontagiosas, em 1950, representavam 40% das mortes registradas, hoje são
responsáveis por menos de 10%. O oposto ocorreu em relação às doenças cardiovasculares
que, naquele ano, representavam 12% das causas de mortes e, atualmente, representam mais
de 40%. De acordo com dados do Ministério da Saúde apurados no período de 2010, cerca de
320 a cada 100.0000 pessoas morreram devido a doenças do aparelho circulatório, destas
170/100.0000 eram do sexo masculino e 150/100.0000 do sexo feminino (BRASIL, 2011).
Embora a doença coronária seja frequentemente relacionada ao processo de
envelhecimento, este perfil vem sendo modificado, pois a população mais jovem também
pode ser acometida pela doença, que tem atingido um número cada vez maior de pessoas em
uma faixa etária cada vez mais baixa (SOARES, 2005). Segundo os dados do Ministério da
Saúde apurados no período de 2010, cerca de 110 a cada 100.0000 pessoas morreram de
doenças do aparelho circulatório na faixa etária de 40-59 anos, já com faixa etária acima de 60
anos esse número é cerca de 1.400 a cada 100.0000 pessoas (BRASIL, 2011).
9
Segundo Conti et al. (2002 apud Soares, 2005), no Brasil, durante o ano de 2000,
4.549 pacientes com menos de 45 anos de idade foram hospitalizados com Infarto Agudo do
Miocárdio (IAM). Geralmente os pacientes mais jovens quando sofrem esta doença costumam
ter consequências mais severas, tanto psicossociais como econômicas, em virtude de estarem
em suas fases mais produtivas de vida.
Segundo Kubzansky e Kawachi (2000, apud BONOMO; ARAÚJO, 2009), já foram
reunidas evidências de determinantes biológicos, comportamentais e psicossociais como
fatores de risco identificados para doenças do coração, mas sabe-se que, atualmente, fatores
orgânicos como hipertensão, hipercolesterolemia, obesidade e diabetes explicam 40% das
ocorrências de doenças cardíacas.
Sendo assim, este tipo de adoecimento está relacionado a fatores comportamentais,
tais como sedentarismo e hábitos alimentares incorretos, bem como a fatores emocionais, tais
como estresse e irritação. As pessoas vivem em ritmo acelerado, com urgência em tudo que
vão fazer. Por esses e outros motivos, os hábitos alimentares incorretos e o estilo de vida
sedentário são fenômenos que tendem a aumentar cada vez mais a incidência de doenças desta
natureza (SOUSA; OLIVEIRA, 2005).
Segundo Sousa e Oliveira (2005), as doenças cardiovasculares interferem de forma
significativa no desempenho físico, mental e emocional das pessoas em suas fases produtivas
de vida. Para Gomes et al. (2011), esta doença pode limitar o indivíduo em uma série de
atividades diárias, dentre elas o trabalho. Como o trabalho é visto como uma fonte de
atividade física e intelectual, além de potencial fonte de prazer, à medida que a pessoa
percebe-se incapaz de trabalhar por limitação da doença isso pode acarretar prejuízos
relevantes à sua dinâmica psíquica e subjetiva.
Levando em consideração que esta doença tem sido cada vez mais causa de morbidade
e mortalidade em todo mundo, e que além do comprometimento biológico gera consequências
psicossoais que afeta de forma significativa o contexto de vida das pessoas, torna-se
necessário, nesse sentido, estudos que melhor evidenciem esse impacto e que ajude a
compreender como as pessoas podem manejá-los com um mínimo de prejuízo à qualidade de
vida.
Segundo Colombo e Aguillar (1997), dentre as doenças cardiovasculares, a de maior
incidência é a doença arterial coronária (DAC). As principais manifestações clínicas da
doença coronariana são a angina instável, a morte súbita e o infarto agudo do miocárdio IAM. O IAM constitui uma condição mórbida geradora de importantes consequências na
vida diária das pessoas. Ou seja, além de todo comprometimento e limitações impostas pela
10
doença, há exigências de adesão ao tratamento, incluindo o uso de uma série de
medicamentos, assim como de adaptações na rotina necessárias para reduzir o risco de novos
episódios da doença. Tudo isso afeta as pessoas em seus aspectos psicológicos e sociais
(SOUSA; OLIVEIRA, 2005).
Apesar de constituir importante problema de saúde pública, ainda são poucos os
estudos que apresentam, em perspectiva qualitativa, as percepções e experiências de pessoas
que vivenciaram o IAM, em especial no que se refere à análise da relação entre doenças
cardiovasculares e emoções. Em face dessa realidade, esta pesquisa tem como objetivo
levantar as publicações científicas das revistas de melhor qualificação disponíveis em língua
portuguesa que abordam aspectos psicológicos ligados às doenças cardíacas, mais
especificamente, o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM).
Estudos desta natureza poderão dar subsídio para os profissionais de saúde ampliarem
a compreensão dos processos que são vivenciados pelo paciente coronário e que interferem de
forma significativa na adesão a seus planos de tratamento. Com isso, espera-se possibilitar,
sobretudo a compreensão do que tange aos aspectos subjetivos vivenciados por tais pessoas,
tendo em vista que a DAC é uma doença crônica que costuma afetar de forma significativa a
rotina de vida da pessoa e suas expectativas para o futuro.
O interesse pelo tema em estudo, além de significativa necessidade de pesquisas
científicos que possam subsidiar a crescente inserção do profissional Psicólogo na crescente
demanda por atendimento na área, aliou-se a uma vivência pessoal de uma doença cardíaca na
família, o que tem despertado em mim interesse em compreender a relação entre cardiopatia e
vida psíquica, visto que os aspectos psicossociais têm sido abordados como algo que interfere
em doenças desta natureza.
Em decorrência da importância das doenças coronarianas como grave problema de
saúde pública e com aumento significativo de mortalidade ligada ao IAM, colocamos a
questão: há um volume significativo de publicações recentes de Qualis A das áreas de
Psicologia e de Cardiologia, em língua portuguesa, que abordam os aspectos psicossociais que
estão ligados ao Infarto Agudo do Miocárdio?
11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Apresentam-se os conceitos teóricos relacionados ao tema a ser desenvolvido, nesse
estudo é o Infarto Agudo do Miocárdio e serão destacados a caracterização, os fatores de
risco, a reabilitação e tratamento, os aspectos psicossociais e o manejo emocional
relacionados ao IAM.
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
As doenças cardiovasculares constituem uma preocupação em termos de saúde
pública. Segundo Nieman (1999), este é o termo genérico para diferentes doenças do coração
e de seus vasos, cujos tipos mais comuns são Apoplexia ou Acidente Vascular Encefálico,
Doenças Hipertensivas e Coronariopatia (POLLOCK, 1991 apud VARELA, 2004). Este
último inclui o ataque cardíaco, também denominado de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM),
que constitui o foco deste estudo.
A principal forma de doença cardiovascular é a Doença Arterial Coronária (DAC),
também conhecida como doença isquêmica cardíaca. Nesta doença as artérias que suprem o
coração são restringidas ou entupidas devido à aterosclerose ou à arteriosclerose. A
aterosclerose é resultado do acúmulo de gorduras e colesterol nas paredes das artérias
coronárias. Na medida em que as paredes dos vasos engrossam e endurecem, ocorre a
restrição de fluxo sanguíneo para áreas que normalmente são supridas pela artéria. Na
arteriosclerose ou “endurecimento das artérias” ocorre à perda da elasticidade das artérias
coronárias, dificultando a expansão e elasticidade destas, o que restringe o transporte dos
volumes de sangue necessários durante os esforços físicos. Além da probabilidade de um
coágulo de sangue se formar e bloquear uma das artérias coronárias que perdeu sua
elasticidade devido à arteriosclerose (STRAUB, 2005).
Para Soares (2005), a DAC é caracterizada pela formação de placas de gordura na
camada íntima das artérias que irrigam o coração e, dessa forma, ocorre à redução da
passagem do fluxo sanguíneo. Uma das causas da lesão aterosclerótica é o consumo
exagerado de gorduras. As gorduras associam-se ao colesterol, triglicerídeos, fosfolipídios e
lipoproteínas e ficam retidos nas artérias. Tal processo tem o seguinte percurso: as enzimas
que se encontram nas paredes dos vasos transformam as gorduras em colesterol e ácidos
graxos. Estes últimos causam irritação nas artérias, gerando um processo inflamatório e
formando um tecido conjuntivo rígido e esclerótico, que endurece a parede do vaso.
12
Um dos maiores agravantes da DAC é que ela instala-se de forma progressiva,
podendo ser assintomática ou sintomática (através de crises anginosas), que podem levar ao
infarto. As principais manifestações clínicas da DAC são a angina estável, o IAM e a morte
súbita (COLOMBO; AGUILLAR, 1997; ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008). De acordo
com Soares (2005), o que ocorre no IAM é uma privação de fluxo sanguíneo e oxigênio em
uma área do músculo cardíaco por um período prolongado, geralmente de 20 a 30 minutos.
Dessa forma, se o fluxo sanguíneo não se estabelece rapidamente, as células do músculo
cardíaco irrigadas por essa artéria começam a morrer devido à isquemia.
A principal etiologia do IAM é a obstrução de uma artéria coronária por uma placa de
aterosclerose ou por um coágulo de sangue. Essa obstrução impede a passagem de sangue
para uma determinada área do coração irrigada pela coronária. Esta área se torna isquêmica e
pode evoluir para uma necrose (morte das células). Se o paciente sobreviver ao infarto, a área
é substituída por fibrose, sendo esta área infartada não mais funcionante (VARELA, 2004;
STRAUB, 2005). Em termos médicos, o IAM “é definido como um foco de necrose
resultante de baixa perfusão tecidual, com sinais e sintomas consequentes da morte celular
cardíaca” (ZORNFF, 2001, p.235).
No IAM, a isquemia dá-se de forma intensa e contínua, levando assim, a morte de
algumas células do músculo cardíaco devido à interrupção do suprimento de sangue no
miocárdio. A maioria dos infartos ocorre por obstrução de artérias com pequenas placas de
colesterol, que podem passar despercebidas nos exames preventivos. Já a angina estável é
uma condição caracterizada por dor no peito extrema causada pela restrição do suprimento de
sangue, geralmente associada a momentos de esforço incomum, excitação emocional e
refeições exageradas (SCHERR, 1992; SOARES, 2005; ABREU-RODRIGUES; SEIDL,
2008).
Os principais sintomas do IAM, segundo Rocha et al. (2012, p. 3), são “dor ou forte
pressão no peito, dor no peito refletindo nos ombros, braço esquerdo, pescoço e maxilar, dor
abdominal, suor, palidez, falta de ar, perda temporária da consciência, sensação de morte
iminente, náuseas e vômitos”.
Existem três maneiras principais de diagnosticar um infarto, podendo elas ser
realizadas juntas ou separadamente. Uma destas formas é através do eletrocardiograma, que
mostra as alterações características da fase aguda, podendo deixar sinais permanentes
mediante uma cicatriz. Já em infartos menores, nem sempre o eletrocardiograma apresenta as
alterações clássicas. Outra forma é através da identificação de curva característica observada
nas enzimas (substâncias liberadas na corrente sanguínea) por ocasião da morte celular,
13
embora em pequenos infartos possa não haver alteração. E, finalmente, a última forma é o
sintoma da dor, que quando é típica coronariana, geralmente duram mais de 30 minutos
consecutivos (SCHERR, 1992; ROCHA et al, 2012).
Entretanto, conforme relata Straub (2005), com a evolução da tecnologia, duas novas
técnicas de diagnósticos têm sido utilizadas, o ecocardiograma e a angiografia coronariana. O
ecocardiograma é uma técnica de varredura que usa a reflexão ou o eco de ondas sonoras
lançadas contra o peito para criar uma imagem do coração, podendo, assim, revelar se há
alguma lesão no miocárdio. A outra técnica é a angiografia coronariana, sendo esse um dos
meios mais precisos para diagnosticar a doença coronariana atualmente. Consiste na
introdução de um pequeno cateter por uma artéria (normalmente na virilha) até a aorta, e daí
para uma artéria coronária suspeita de estar bloqueada por uma placa. Nesse cateter, injeta-se
um corante para que a artéria torne-se visível em raios x e possa assim revelar a extensão do
bloqueio.
De acordo com Sousa e Oliveira (2005), a dor é o sintoma específico da ocorrência da
doença, com uma sensação de aperto no peito na altura do coração. A dor usualmente é tão
intensa que provoca suores frios, náuseas, vômitos e vertigens e se irradia para ombros e
braços (geralmente o esquerdo), para a mandíbula, as costas e a projeção do estômago no
abdômen. Esta dor é relatada como uma sensação jamais experimentada.
Entretanto, segundo Scherr (1992), a dor do infarto do miocárdio não é igualmente
sentida por todos. Para alguns, pode ser intensa e para outros mais moderada ou às vezes nem
existir. Em alguns casos, pode ser interpretada erroneamente como indigestão, gastrite ou
úlcera, em especial no infarto da parede inferior do coração, sendo esse acompanhado de
vômitos, náuseas e dor abdominal.
Sabe-se atualmente que a instalação e o prognóstico do IAM podem estar relacionados
a fatores de riscos, sendo assim torna-se importante conhecer os fatores de riscos que
predispõe à doença, sendo esse o próximo assunto a ser abordado.
2.2 FATORES DE RISCO PARA O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
A DAC geralmente está associada ao processo de envelhecimento, entretanto, esse
perfil vem se modificando, pois as pessoas mais jovens também têm sido acometidas pela
doença. O IAM tem incidência mais frequente entre os 40 e os 70 anos, mas atualmente,
devido à maior exposição a fatores de riscos como sedentarismo, colesterol e hipertensão
14
arterial, a doença tem, cada vez mais, acometido pessoas de faixas etárias menores (SOARES,
2005).
Para Varela (2004), o IAM pode ainda estar associado a períodos em que o indivíduo
tenha passado por situações com fundo emocional e estresse psicológico intenso, tais como
problemas relacionados ao contexto de trabalho, morte de familiares, preocupações
financeiras e acidentes de automóveis.
Dentre os fatores de risco para o IAM estão os fatores não modificáveis e os
modificáveis. Os ditos não modificáveis são relacionados a variáveis pessoais, como sexo,
idade, história familiar de doenças coronarianas e raça. Já os ditos modificáveis incluem estilo
de vida, como sedentarismo e tabagismo, bem como outras doenças já existentes, sobretudo
Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, colesterol total alto, LDL (colesterol alto), HDL
(colesterol baixo) e obesidade (SCHERR, 1992; STRAUB, 2005; ABREU-RODRIGUES;
SEIDL, 2010; ROCHA et al, 2012).
No que se refere ao sexo, os homens estão mais propensos a estes fatores de risco a
partir dos 40 anos. Já nas mulheres, geralmente este risco é cerca de 10 a 15 anos mais tarde
que nos homens, com exceção daquelas que fumam, as quais têm uma probabilidade maior
em relação às demais. Especialistas acreditam que essa discrepância entre gêneros possa estar
relacionada às diferenças entre os hormônios sexuais testosterona e estrógeno. A testosterona
parece estar mais relacionada à agressão, à competição e a outros comportamentos que
contribuem para a doença, além disso, esse hormônio ainda contribui para o aumento do
colesterol ruim, o LDL. Já o estrógeno parece proteger as mulheres contra a doença antes da
menopausa, pois a menstruação implica em 20% menos de sangue no corpo do que os
homens, proporcionando assim menos concentração de íons de ferro e menores teores deste
podem levar à menor incidência da doença, explicando assim o fato das mulheres estarem
exposta aos riscos mais tardiamente (STRAUB, 2005).
O histórico familiar do IAM, conforme afirma Straub (2005), é um grande preditor já
que a doença acomete mais comumente homens com parentes próximos que sofreram IAM
antes de 55 anos ou mulheres com histórico de parentes com IAM antes de 65 anos de idade.
A idade avançada, geralmente a partir dos 65 anos, como já foi sinalizado, também é
considerada um fator de risco. A prevalência quanto à raça e etnia pode variar entre grupos
raciais e étnicos.
Nos fatores modificáveis, no que se refere ao estilo de vida, dois aspectos parecem ter
carga significativa quanto ao risco de IAM. O tabagismo duplica as chances da doença e
15
geralmente está associado a uma das cinco mortes decorrentes de DAC1 (STRAUB, 2005).
Outro aspecto é o sedentarismo. De acordo com Nieman (1999), a inatividade física é um
fator de risco significativo de ocorrência do IAM, mesmo que outros fatores estejam
relacionados, aumentando duas vezes mais o risco, igualando assim ao tabagismo, hipertensão
e colesterol. Para Berry e Cunha (2010), os efeitos de exercícios físicos regulares são de
grande importância na manutenção da saúde pós-infarto, atuando de forma favorável sobre os
seguintes fatores de riscos: Hipertensão Arterial, Dislipidemia, Diabetes, obesidade,
sedentarismo, insegurança e depressão. Além disso, diminui o risco de distúrbios
ateroscleróticos.
Quanto à influência de doenças já instaladas, destaca-se a hipertensão, pois a pressão
arterial quando muito alta pode danificar os vasos e causar aterosclerose, sendo esta uma das
principais causas do IAM. Já na obesidade, o aumento de peso aumenta o risco de hipertensão
e de doenças cardiovasculares, geralmente devido à associação com o colesterol. E, por fim, o
colesterol é um dos principais ingredientes da placa aterosclerótica, sendo essa a principal
causa da doença (STRAUB, 2005).
Os fatores psicológicos também podem contribuir para originar ou alterar a evolução
da doença coronariana. Dentre os fatores de risco, o perfil psicológico é mencionado devido
às características de personalidade relevantes que podem influenciar a doença. Segundo
Diamond, Lynch e Johnston (apud MACIEL, 1994), há um tipo de personalidade,
denominado “tipo A”, cujas características de reação emocional da pessoa podem ser
consideradas como fatores de risco para doenças isquêmicas, infarto e hipertensão. Essas
características envolvem agressividade, dominação, autoconfiança, extroversão, impaciência,
alta motivação profissional e competitividade, além de pensamento rápido, fala rápida e alta e
hostilidade facilmente precipitada (SCHERR, 1992; MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994;
BURNETT; BLUMENTHAL, 2003).
As pessoas com personalidade do “tipo A” têm sido relacionadas à maior
probabilidade de incidência do IAM em comparação às pessoas que apresentam personalidade
do “tipo B”, que são caracterizadas, em geral, como mais relaxadas, possuidoras de fala e
gestos suaves, não apressadas e menos propensas à raiva (SCHERR, 1992; RUSCHEL,
1994). Entretanto, estudos conduzidos nas últimas décadas, conforme Burnett e Blumenthal
(2003) têm mostrado inconsistência nos resultados quanto ao valor preditivo da personalidade
1
As principais manifestações da DAC são: a angina estável, o IAM e a morte súbita. Sendo vários os fatores de
risco como: tabagismo, sedentarismo, sexo, idade, história familiar, obesidade, Diabetes Mellitus, Hipertensão
Arterial, perfil psicológico, entre outros.
16
“tipo A” para o desenvolvimento de DAC. Mas, a despeito disso, o valor de prognóstico deste
perfil psicológico continua sendo considerado (MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994; STRAUB,
2005).
Para Ruschel (1994), outro aspecto a se considerar como fator de risco é a negação da
doença pelo paciente, evidenciada, por exemplo, pela continuidade de um estilo de vida
estressante ou pouco saudável e pela falta de controle de fatores de risco como tabagismo e
alimentação rica em gorduras e sal, embora possam receber orientações claras e suficientes da
equipe de saúde. Nestes casos, presume-se que o paciente esconde essa realidade de si próprio
como forma de poupar-se de um sofrimento natural a estas situações. O Coronariopata
infartado, ao negar essa situação põe em risco a ocorrência de novos episódios ou
agravamento dos sintomas. O controle dos fatores de riscos requer que o paciente aceite sua
fragilidade e adote os cuidados necessários, adaptando-os a sua rotina diária.
As ações preventivas são as mais recomendadas no caso do IAM, segundo Berry e
Cunha (2010), mediante a redução dos fatores de riscos que estão associados à ocorrência da
doença. Como prevenção secundária, busca-se evitar a progressão e recorrência da doença
coronária, além de minimizar suas sequelas. Entretanto, ocorrido o episódio, a reabilitação é o
próximo passo e visa reintegrar o indivíduo às suas atividades sociais e laborativas e preservar
sua qualidade de vida, aspecto esse que será tratado a seguir.
2.3 REABILITAÇÃO E TRATAMENTO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
Uma das principais estratégias na abordagem da cardiopatia isquêmica, em especial
após um IAM, é o Programa de Reabilitação Cardíaca, sendo este definido como um processo
de manutenção das capacidades fisiológicas, psicológicas e sociais do indivíduo e retorno a
uma vida ativa e produtiva (ROMANO, 1994). Os programas de reabilitação segundo Berry e
Cunha (2010) consistem numa abordagem individualizada ao paciente envolvendo o exercício
físico, orientações nutricionais e psicossociais, bem como mudança dos hábitos de vida.
Tais programas são delineados a fim de minimizar os efeitos fisiopatológicos e
psicológicos envolvidos na doença, atuando assim, na modificação dos fatores de risco,
estabilizando ou até mesmo revertendo o processo aterosclerótico (BROWN, 2006; LEAR et
al, 2006 apud BERRY; CUNHA, 2010). Entretanto, apesar de diversos trabalhos científicos
enfatizarem os benefícios e a eficácia destes programas, apenas 10% a 20% da população
americana participam dos mesmos e no Brasil não é diferente, apesar desse serviço no Brasil
17
encontrar-se aquém da demanda de indivíduos que poderiam ser beneficiados (BERRY;
CUNHA, 2010).
Esses programas têm se mostrado ferramenta fundamental para que as mudanças no
estilo de vida se concretizem, além de criar hábitos de vida mais saudável e auxiliar na
redução de novos episódios da doença. Entretanto, deve-se estar ciente de que educar é algo
desafiador, reeducar é ainda mais, mas na reabilitação essa é a ferramenta para se atingir os
objetivos (BERRY; CUNHA 2010). Nessa perspectiva Castro et al (1995) afirmam que o
ambiente onde ocorre a reabilitação deve proporcionar uma atmosfera adequada para que o
paciente se sinta motivado a se adaptar a um estilo de vida mais saudável, com controle da
ansiedade e da depressão.
No tratamento de pessoas acometidas pelo IAM, inicialmente é necessário repouso
físico e mental por, pelo menos, 04 a 06 semanas. Posteriormente, a pessoa tomará
medicações e receberá orientações do médico sobre o seu novo estilo de vida, incluindo o
controle dos fatores de risco. E, se houver outras comorbidades, como hipertensão arterial ou
diabetes, o controle deve ser feito paralelamente. Em casos mais graves da doença, pode haver
a necessidade de cirurgia para a Revascularização do Miocárdio (MILLER, 1974; SOARES,
2005).
Dessa forma, é de crucial importância a adesão ao tratamento, que, refere-se à
disposição do paciente a adotar e seguir o tratamento proposto e sua realização conforme as
orientações e prescrições recebidas da equipe de saúde. O tratamento oferecido ao paciente
que teve uma doença coronariana pode ser desde a medicação para tratar ou prevenir o mau
funcionamento cardíaco até a necessidade de uma possível cirurgia, cujos mecanismos
utilizados são transplante de ponte da artéria coronária, angioplastia coronária e aterecotomia.
Entre as medicações estão à nitroglicerina, os betabloqueadores e os bloqueadores de canais
de sódio, os vasodilatadores e anticoagulantes. E, nesse caso, se o IAM for diagnosticado nas
primeiras horas, a prática comum é a infusão intravenosa de um agente trombolítico para
dissolver quaisquer coágulos sanguíneos o mais rápido possível (STRAUB, 2005).
Em casos de intervenção cirúrgica, segundo Ruschel (1994, p. 46), tem-se observado
que o fato de ter sido operado, cortado, mexido, faz o paciente se sentir um “coitado”, fazendo
o mesmo fantasiar-se dessa fragilidade. E esse risco torna-se mais grave quando a família
reforça tal comportamento. Esse aspecto interfere de forma significativa na reabilitação do
paciente e acaba por dificultar esse processo.
Para Castro et al (1995), em um terço dos pacientes os problemas psicológicos
permanecem sendo uma barreira para reabilitação, impedindo assim a melhora física.
18
Portanto, o pavor da morte, o medo de um novo infarto ou a incapacidade de assumir os
padrões da vida anterior devem ser abordados na reabilitação, visto que durante essa
recuperação tanto o paciente quanto a família necessitam fazer inúmeros reajustes
psicológicos e sociais.
Os aspectos psicológicos têm um papel significativo na reabilitação do paciente que
vivenciou um IAM, incluindo a forma como o paciente percebe a si mesmo. Assim se o
paciente não se percebe como tendo uma limitação física, isto pode melhorar sua autoestima,
autoconfiança, tornando-se menos depressivo e ansioso e com maior probabilidade de retorno
às suas atividades rotineiras de forma mais satisfatória, com melhor qualidade de vida (LA
MENDOLA; PELLEGRINI, 1979 apud ROMANO, 1994).
Outro aspecto que contribui na reabilitação é o fornecimento de informações ao
paciente ao sair do hospital sobre a doença, o histórico natural e as possibilidades de
tratamento em longo prazo. Além disso, há necessidade de envolver o cônjuge nesse processo
de reabilitação, visto que este também pode ter dificuldades em lidar com a situação
(CASTRO et al, 1995). Por outro lado, o cônjuge tem um papel fundamental na reabilitação
do paciente coronariopata, pois esse apoio favorece uma reintegração em menor tempo do
paciente à vida cotidiana (OLIVEIRA, 1998 apud CAETANO; SOARES, 2007).
Para Dantas, Aguillar e Barbeira (2001), a participação da rede de apoio,
principalmente da família, nos programas de reabilitação é de extrema importância. Após a
constatação da doença e com as intervenções terapêuticas, o suporte recebido tem sido
gratificador e facilitador na reabilitação do paciente, possibilitando na medida do possível o
retorno às atividades diárias, além de diminuir os níveis de ansiedade e depressão.
Nos casos de hospitalização, o indivíduo fica destituído de um convívio familiar e
passa a conviver com um grupo social específico, o que, de certa forma, pode se tornar um
ambiente hostil e pode desfavorecer a efetiva recuperação em alguns casos, além da
possibilidade do aparecimento de outras enfermidades. Sendo assim, a família deve ser peça
essencial e parte integrada da equipe de saúde no caso do paciente hospitalizado (GOMES et
al. 2011).
Portanto, conforme afirma Abreu-Rodrigues e Seidl (2008), existem fortes evidências
da relação positiva entre disponibilidade de suporte social e melhora no quadro de doenças
coronarianas, pois à medida que há falta de suporte social isso parece interferir na adesão aos
comportamentos que promovem a saúde e o bem estar do paciente, dentre eles, atividade
física, alimentação adequada e cessação do hábito de fumar.
19
Outro aspecto que tem sido considerado como benéfico na reabilitação do IAM é o
retorno à atividade sexual, pois contribui significativamente para melhora psicológica do
paciente. Uma ideia falsa que se tem é de que a relação sexual seja um pesado esforço para o
coronariopata. Ao contrário do que se pensa, na atividade sexual a frequência cardíaca média
é 120 bpm, o que corresponderia ao esforço de não mais do que subir um a dois lances de
escadas ou caminhar por alguns quarteirões (CASTRO et al, 1995).
Cabe ressaltar ainda que os efeitos dos exercícios físicos regulares são de grande
importância na manutenção da saúde de pacientes que sofreram um IAM, pois geralmente
atua de forma favorável sobre os fatores de risco, como hipertensão arterial, dislipidemia,
diabetes, obesidade, sedentarismo, insegurança e depressão (BERRY; CUNHA 2010). O
exercício físico, segundo Varela (2004), tem sido apontado como um grande aliado na
prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares, visto que o sedentarismo é um fator de
risco da doença.
Outro aspecto que tem sido visto como benéfico na reabilitação é o retorno ao
trabalho. Sendo assim, Romano (1994) relata que o retorno ao trabalho deve ser avaliado no
sentido de qualidade de vida para o paciente, pois um trabalho que gera prazer pode ser muito
benéfico para reabilitação do paciente, no entanto, se o trabalho anteriormente já não era algo
satisfatório ou incompatível com a nova situação física, talvez seja mais benéfico recolocá-lo
em outra função.
Portanto, os cuidados requeridos pela reabilitação e os riscos envolvidos na doença,
tendem a gerar impactos na vida cotidiana do paciente no que se refere à dinâmica conjugal e
familiar, ao trabalho e à integração social. Dessa forma, torna-se necessário entender a
simbologia que permeia essa temática de adoecer do coração e quais impactos podem implicar
na vida psicossocial do indivíduo, sendo esse o próximo tema a ser destacado.
2.4 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
O coração é tido como órgão vital, o motor da circulação do sangue e também é
associado à sensibilidade moral, paixões, sentimentos e afeto. Comumente escutamos
expressões como: “Quer me matar do coração”, “Um golpe no coração”, “É de cortar o
coração”, “Coração partido”, “Essa pessoa tem um bom coração”, “Que coração mole”,
“Coração duro”, “Coração de pedra”, “Grande coração”, entre outras. Isso evidencia a
20
simbologia deste órgão como sede dos sentimentos e emoções (RUSCHEL, 1994, p. 40;
VARELA, 2004, p. 24).
No entanto, por outro lado, se voltarmos à expressão “Coração grande”, na medicina
seria aumento do músculo e sinal de doença. Nesse sentido, essa dualidade de significados
atribuída a esse órgão tanto de vida como de ameaça de morte gera impactos e se nossa
sociedade encarregou-se de mistificar o órgão do coração como fonte de vida, qualquer
problema que o afete é sentido como ameaça à vida, gerando angústia. Portanto, essa carga
atribuída ao coração interfere e se interliga com a mente quando da ocorrência de uma doença
cardíaca (RUSCHEL, 1994, p. 40).
Portanto, em se tratando de adoecer do coração, de acordo com Sousa e Oliveira
(2005), a cardiopatia coloca o paciente em confronto com a angústia da morte, tendo em vista
que o coração representa o motor da vida. Nesse sentido, a descrição do papel do coração,
como centro das emoções e da vida impede que este órgão seja representado como doente.
Quando consideramos o simbolismo atribuído ao coração, como fonte da vida e sede
das emoções, é possível compreender a utilização deste como fonte e veículo de expressão
simbólica mais do que qualquer outro órgão do corpo. Portanto, esta simbologia que envolve
o coração como sendo órgão central do funcionamento do corpo, órgão associado
indiscutivelmente à vida e não admite qualquer representação diferente para este órgão, pois
se assemelha a uma ameaça à vida (SOARES, 2005). Sendo assim, torna-se relevante
entender como o sujeito vivencia o fato do coração adoecer e as consequências psicossociais a
partir deste diagnóstico.
A ocorrência de um IAM gera consequências e geralmente interfere de forma efetiva
na vida cotidiana do paciente, em especial, na subjetividade. A doença coronariana implica
em um desgaste emocional, pois além de envolver a ameaça da morte, também envolve a
ameaça da limitação física. E isso representa uma perda, ou seja, o luto de não ter mais uma
saúde completa, significando uma negação da onipotência da pessoa, sendo essa uma das
características de personalidade do paciente coronariano (RUSCHEL, 1994).
A perda do sentimento de onipotência, conforme coloca Ruschel (1994), ameaça à
integridade da pessoa, ou seja, quando a pessoa já não se vê com capacidade de funcionar de
forma integrada, isto põe em risco seu bem estar físico, o que consequentemente provoca
desequilíbrio biopsicossocial. Esse sentimento faz com que a pessoa lance mão de
mecanismos de defesa como forma de proteção da ameaça sofrida. Nessas situações,
geralmente a negação, a regressão ou a racionalização aparecem como recursos adaptativos da
pessoa com intuito de manter o ego afastado da ameaça.
21
Um dos mecanismos de defesa muito evidenciado nesses casos é a negação,
geralmente o paciente passa por vários especialistas até chegar a um cardiologista, pois o fato
deste consultá-lo por último mostra que houve um grande esforço para esconder a doença ou
arranjar outra que a seu ver seria mais leve, já que a doença cardíaca tem uma carga simbólica
significativa, ou seja, envolve a conotação também das suas emoções, do amor e da
sensibilidade (RUSCHEL, 1994).
Entretanto, ao mesmo tempo em que a negação pode apresentar aspectos de proteção
para o paciente, por outro lado, segundo Ruschel (1994), pode ser um fator de risco, quando o
paciente procura curas mágicas ou miraculosas. Sendo assim, o risco destas atitudes é quando
optam pelo caminho de abandonar o tratamento e ficam sujeitos ao agravamento do quadro
que muitas vezes pode ser fatal.
O medo da finitude, segundo Sousa e Oliveira (2005), faz parte do discurso das
pessoas que vivenciaram o IAM. Tal acontecimento causa medo, pavor e repulsa, o que
sintetiza o que tende a ser percebido como o mais terrível na existência humana, a morte. Esse
acontecimento retrata um abalo na vida das pessoas, levando-as a interpretar o IAM como
uma doença trágica, que pode significar o fim da vida e proporcionar pensamentos negativos.
Além do medo da finitude, há o medo relacionado à possibilidade de ficar dependente e a
impossibilidade de voltar a trabalhar, despertando assim, preocupações a respeito de questões
financeiras e responsabilidades familiares.
Outro sentimento vivenciado pelos indivíduos que sofreram um infarto é o de
insegurança. Para Ruschel (1994), a representação que cada pessoa tem de si mesma está
vinculada à sua imagem corporal. E a identidade se constrói a partir de um corpo íntegro e
completo, assim sendo, quando a integridade física é abalada isto proporciona modificações
na identidade pessoal e, consequentemente, gera conflitos emocionais.
Além da insegurança, essas pessoas vivem constantemente amedrontadas e estafadas
devido à tensão que viveram com o infarto, além de estarem constantemente preocupadas e
ansiosas com a possibilidade de um novo infarto, cirurgias e a própria possibilidade de morte.
Em vista disto, ansiedade é a regra em vez da exceção para as pessoas que vivenciaram o
IAM. Dessa forma, explicações cuidadosas dos profissionais da área da saúde sobre os
procedimentos, equipamentos, cuidados, limitações e expectativas podem diminuir o estresse
e ajudar a tranquilizar o paciente, graduando assim sua ansiedade (SOUSA; OLIVEIRA,
2005).
Segundo Kubzansky e Kawachi (2000, apud BONOMO; ARAÚJO, 2009), o ser
humano convive diariamente com uma grande variabilidade de emoções e tanto o exagero
22
como a inibição acarretam consequências à saúde do indivíduo, como, por exemplo, a
inibição de emoções demanda esforço psicológico que com o tempo pode acarretar em
estresse cumulativo. Portanto, as emoções têm um papel relevante nas doenças coronárias.
As emoções negativas podem influenciar de forma indireta o risco e prognóstico do
paciente coronariano, pois tais aspectos influenciam a adesão a comportamentos prejudiciais a
saúde, como tabagismo, má alimentação, obesidade e sedentarismo, além dos efeitos sobre o
suporte e isolamento social (SIROIS; BURG, 2003 apud BONOMO; ARAÚJO, 2009).
Já quanto às emoções positivas poucos estudos demonstram o papel destas na doença
coronária, mas, de fato, as emoções positivas podem reduzir os efeitos do estresse sobre o
sistema cardiovascular. Portanto, otimismo e atitude positiva pode ser um alicerce para que os
fatos negativos possam ser encarados de forma mais confiante pelo paciente (BONOMO;
ARAÚJO, 2009).
De acordo com Soares (2005), o estresse constante ao qual o sujeito está exposto na
sociedade atual, como trabalho excessivo, urgência de tempo e competitividade, associados a
fatores de risco como vida sedentária, tabagismo e alimentação inadequada, têm sido
correlacionados com a alta incidência de doenças do coração. Portanto, essa correlação entre
estresse e fatores de risco ao qual o sujeito está exposto nos dias de hoje tem um papel
preponderante nas doenças desta natureza.
A personalidade do “tipo A” pode ser um fator que se associa ao estresse na medida
em que apresenta características como envolvimento excessivo com o trabalho, sentimentos
exagerados com urgência de tempo, agressividade, competitividade e alta ansiedade.
Entretanto, por mais que essas características psicossociais estejam claramente relacionadas às
DAC, estas vão repercutir nas pessoas de formas diferentes, ou seja, serão percebidos como
mais estressantes ou menos estressantes a depender da estrutura psicológica do indivíduo.
Portanto, a forma de enfrentar uma situação é peculiar de cada um, podendo ou não
representar estresse (SOARES, 2005).
As pessoas que vivenciaram o infarto, além das alterações físicas, convivem com as
alterações que permeiam o âmbito pessoal, tendo em vista que a ocorrência da doença
provoca mudanças abruptas na vida do doente coronariano, como a rotina diária e trabalho.
Além disso, há a questão da imprevisibilidade da doença, em que a pessoa, geralmente em sua
fase produtiva da vida, de repente depara-se com uma série de comorbidades, com
repercussões na sua subjetividade (SOUSA; OLIVEIRA, 2005).
Portanto, Ruschel (1994) afirma que as mudanças após um IAM geram preocupações
frente à possibilidade que o exercício físico, trabalho, responsabilidades no emprego, vida
23
sexual possam causar prejuízos à saúde agora restabelecida. Sendo assim, torna-se necessário
uma boa orientação da equipe de saúde ao paciente para que o mesmo possa retornar às
atividades o quanto antes, respeitando suas possibilidades e restrições. Acrescenta-se, em
alguns casos, a necessidade de um processo psicoterapêutico para que o indivíduo possa
trabalhar os sentimentos, fantasias e resistências despertadas nessas situações.
Os resultados da pesquisa de Soares (2005) demonstram que o fato de ter vivenciado a
doença no retorno à vida diária apresenta variação a depender de cada um. Alguns conseguem
readaptar ao cotidiano com facilidade, enquanto outros precisam de mais tempo e outros ainda
nem conseguem fazê-lo. A doença gera mudanças significativas no estilo de vida das pessoas,
a mais destacada no estudo foi o afastamento do trabalho, pois a maioria dos entrevistados
teve que abrir mão da sua profissão, devido as atividades não serem apropriadas à condição
atual da pessoa, o que agrega a essas pessoas a percepção de serem inválidas.
Mas, por outro lado, segundo Pollock e Schmidt (2003), há de considerar que muitos
pacientes com razoável capacidade funcional não retornam ao trabalho e nem reassumem as
atividades familiares, sexuais, recreacionais e da comunidade que participam, em virtude da
ansiedade e da depressão que limitam a reintegração social e ocupacional. Outra questão
ainda não alcançada é identificar os pacientes que têm alto risco às complicações
psicossociais no início da doença, pois isso permitiria realizar intervenções precoces.
A depressão constitui um fator de comorbidades entre os coroniopatas, demonstrando
clara associação com fatores de risco para DAC (MATTOS et al, 2005). Associado a essa
ideia, estudos citados por Lemos et al (2008) demonstram que a depressão quando não tratada
pode ser tanto fator de risco para o surgimento de um IAM quanto fator de pior prognóstico,
aumentando assim a morbidade e a mortalidade.
Um estudo foi realizado por Mattos et al. (2005) para investigar a prevalência de
depressão em pacientes com síndrome coronariana aguda e a interdependência dos fatores de
risco para DAC. Dos 135 pacientes investigados, 98 apresentavam diagnósticos de IAM e 37
de angina instável. A depressão foi encontrada em 53,3% dos pacientes, sendo mais
frequentes em pacientes do sexo feminino. A depressão evidenciou presença em duas
associações de maior número de risco: dislipidemia, sedentarismo e sexo (p=0,0259) e
dislipidemia, histórico familiar e hipertensão (p=0,0098). O estudo demonstra alta prevalência
de depressão entre os pacientes DAC, elevando o risco de mortalidade.
Para Ruschel (1994), na família também ocorrem modificações quando um membro
passa a possuir a doença. O grupo familiar passa a sentir-se ameaçado e muitas vezes culpado,
acarretando um abalo no sentimento de indestrutibilidade. Nesse sentido, é necessário que
24
aprendam a conviver com a situação, de forma a aceitá-la e que possam elaborar os
sentimentos dela decorrentes. Portanto, o trabalho de retorno à vida ativa e cotidiana deve
envolver o paciente e a família.
O acometimento da doença gera risco na vida do paciente, modificando assim a
dinâmica conjugal e da família pela situação de crise estabelecida. Geralmente nesses
momentos os papéis desempenhados por cada membro do grupo familiar são revistos,
podendo assim ocorrer acúmulo de tarefas e dos papéis (GIANORDOLI-NASCIMENTO;
TRINDADE, 2002).
Estudos citados por Ongaro (1994) mostram evidências que as mulheres encontram
maior dificuldade no ajustamento conjugal após o IAM. A respeito da vida sexual do casal
após o evento, os dados foram: 25% retomam a vida sexual, 25% não apresentaram alteração
e 50% diminuem a frequência das relações, sendo um dos motivos da alteração devido ao
receio de um novo infarto ocorrer nessa ocasião. Ao contrário do que se pensavam da
atividade sexual como um fator de risco a um novo episódio da doença, esta atividade tem se
mostrado um aspecto psicológico benéfico à reabilitação do paciente.
Por outro lado, o estudo realizado por Gianordoli-Nascimento e Trindade (2002)
mostrou que uma das transformações evidenciadas pelo infarto na dinâmica conjugal foi o
fortalecimento e proximidade do casal, visto a possibilidade da perda da vida, ocasionando
assim, valorização da presença do cônjuge. Outro aspecto destacado no estudo foi o papel do
homem auxiliando nas tarefas de casa, aspecto esse que possibilitou uma união revigoradora
com melhor convivência do casal e aumento da comunicação.
Em casos de hospitalização, existem nesses contextos uma ruptura com o ambiente
(casa, família) que pode influenciar no estado emocional do paciente. Geralmente essa
mudança de ambiente causa medo, ansiedade, tendo em vista os procedimentos terapêuticos
desconhecidos e desagradáveis impostos por essa situação. E, muitas vezes, surgem
sentimentos de que a doença é um castigo por algo que fez de errado, podendo muitas vezes
interferir e dificultar o tratamento (RUSCHEL, 1994). Além do medo e ansiedade, a solidão é
outro aspecto vivenciado por pessoas que sofreram IAM, em especial no processo de
hospitalização, ao ser internado o paciente percebe uma ruptura com seu cotidiano, e é nesse
momento que o sentimento da solidão aparece (ROMANO, 1994).
Outra consequência psicossocial evidenciada no IAM, segundo Soares (2005), é a
vivência do estigma, pois, em nossa cultura, uma vez diagnosticado como “doente do
coração”, a pessoa, geralmente vai viver cercada de cuidados excessivos de familiares e
amigos. O discurso passa a ser “você não pode pegar peso, é doente do coração”, “olha o
25
coração você não pode se aborrecer”. Essa condição do cardiopata passa a significar
invalidez, ou, no mínimo, limitação para a sociedade e ainda influencia o autoconceito do
paciente.
Portanto, essa condição envolve tanto aspectos positivos como negativos. Por um lado
pode envolver os ganhos secundários, em que o paciente passa a receber mais atenção e se
aproxima dos membros da família. Entretanto, os aspectos negativos de estigma, podem
afastar o paciente do convívio social pelo medo da morte, por se sentir inferior e incapaz.
Dessa forma, os profissionais da área da saúde podem contribuir com a saúde do paciente
dando atenção maior aos aspectos emocionais desta experiência de adoecer para que o
paciente retorne sua vida atuante e produtiva junto à família e à sociedade (SOARES, 2005).
Para Caetano e Soares (2007), geralmente o fato de sentir que a vida está difícil após o
IAM, tem a ver com a escassez de recursos econômicos, por mais que essa situação esteja
presente anteriormente à doença, só nesse momento geralmente adquire uma relevância
maior, pois ela coincide com a saída social do trabalho e com a aposentadoria. E na sociedade
atual, o ter traz referência às necessidades supridas, à possibilidade de bom estado de saúde e
à própria realização das atividades da vida diária.
Os impactos decorrentes da doença como foi destacado podem gerar implicações na
vida cotidiano do paciente, assim sendo é preciso entender quais mecanismo podem ser
viabilizados para o manejo emocional da pessoa que vivencia a doença para controle de
possíveis estressores que afeta a qualidade de vida do paciente.
2.5 MANEJO EMOCIONAL
Geralmente após um IAM, algumas pessoas conseguem restituir e retornar à maioria
das atividades anteriores. Enquanto isso, outros pacientes permanecem debilitados fisicamente
e psicologicamente por muito tempo, demonstrando aspectos como estresse, ansiedade ou
depressão. Nesse sentido, é preciso verificar os aspectos que podem contribuir e possibilitar o
manejo dessas variáveis, viabilizando um melhor controle de possíveis estressores que
possam influenciar na doença (ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008).
Um desses aspectos é o apoio social, sendo esse entendido como qualquer processo
em que as relações sociais promovam saúde e bem estar ao paciente. Esta forma de manejo
emocional tem uma importância significativa na medida em que disponibiliza escuta, atenção,
informação, companhia e promoção de saúde ao paciente (ABREU-RODRIGUES; SEIDL,
2008; GOMES et al, 2011).
26
Straub (2005) associa o apoio social como uma forma de manejo para lidar com a
doença, visto que os eventos estressantes de uma doença é especialmente difícil quando o
indivíduo sente-se isolado e/ou rejeitado socialmente. Sendo assim, estudos apontam que essa
forma de suporte pode diminuir o risco de agravamento da doença promovendo controle dos
comportamentos mais estressantes, para assim oportunizar melhor qualidade de vida ao
paciente.
Outro aspecto que tem sido utilizado como forma de manejo emocional segundo
Ruschel (1994), é o suporte psicológico. O psicólogo poderá acompanhar o paciente
permitindo que este se conheça e ajudá-lo a lidar com os seus aspectos emocionais. Nessa
perspectiva é importante auxiliar o paciente a enfrentar melhor a sua doença, tratamento e
recuperação.
O papel do psicólogo é muito importante para o paciente, na medida em que permite
clarificar as ansiedades, as fantasias e os sentimentos, possibilitando a desmistificação, além
de torná-los conscientes para assim trabalhar sua elaboração (RUSCHEL, 1994). Além disso,
é necessário desdramatizar a doença, lutar contra a instalação do sentimento de invalidez de
forma que o paciente retorne aos seus investimentos anteriores e melhore sua qualidade de
vida (ONGARO, 1994).
27
3 OBJETIVO
Em síntese, se por um lado há necessidade de compreender as ligações entre
cardiopatia e vida psíquica, uma vez que as doenças coronarianas representam um grave
problema de Saúde Pública, com índices significativos de morte e comprometimento
permanente, e os comportamentos de saúde, os fatores emocionais e psicossociais estão
diretamente ligados aos fatores de risco, desencadeamento e reabilitação, por outro lado
cresce a necessidade de publicações acessíveis ao Psicólogo brasileiro, que tenham pesquisas
científicas que possam subsidiar a crescente inserção do profissional Psicólogo na crescente
demanda por atendimento na área. Com esta base, foi traçado, para o presente levantamento, o
objetivo a seguir.
3.1. OBJETIVO GERAL
•
Verificar se há um volume significativo de publicações recentes Qualis A das
áreas de Psicologia e de Cardiologia, em língua portuguesa, que abordem os
aspectos psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio, nos últimos
cinco anos.
28
4 MÉTODO
O presente trabalho tem como foco a pesquisa de métodos mistos cuja abordagem
combina ou associa as formas qualitativas e quantitativas. Segundo Creswell (2010, p. 27):
A pesquisa de métodos mistos é uma abordagem da investigação que combina ou
associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições filosóficas, o uso de
abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura das duas abordagens em um
estudo. Por isso, é mais do que uma simples coleta e análise dos dois tipos de dados;
envolve também o uso das duas abordagens em conjunto, de modo que a força geral
de um estudo seja maior do que a da pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada.
Segundo Sampaio e Mancini (2007), a revisão sistemática disponibiliza um resumo
das evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, através da aplicação
de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese das informações
selecionadas na pesquisa. Portanto, as revisões sistemáticas são particularmente úteis na
medida em que integram as informações de um conjunto de estudos realizados separadamente
sobre determinada terapêutica/intervenção, que podem apresentar resultados conflitantes e/ou
coincidentes, assim como identificar temas que necessitam de evidência, de forma a auxiliar
nas futuras investigações.
Tal metodologia faz a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca,
portanto essa revisão bibliográfica sistemática cumpriu os passos descritos a seguir:
1) Inicialmente foi realizado acesso ao portal CAPES verificando quais revistas Qualis A
de Psicologia e de Cardiologia.
2) Foram selecionadas três revistas Qualis A na área da psicologia: Paidéia; Psicologia:
Teoria e Pesquisa; e Psicologia: Reflexão e Crítica.
3) Selecionada as três revistas Qualis A de Psicologia, buscaram-se as publicações dos
últimos cinco anos, no período de 2013-2009, em ordem decrescente, ou seja, das
publicações mais atuais para as menos recentes.
4) Na seleção das revistas brasileiras de Cardiologia descobriu-se que não havia revista
Qualis A, portanto, decidiu-se pelos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, em função
da significância de publicações. Em decorrência da revista de Cardiologia ter um
número de publicações mais significativo foram selecionados os últimos cinco
volumes, no período de 2014 a 2012. As revistas pesquisadas foram todas em língua
portuguesa por limitação de leitura em outras línguas.
5) Dos artigos selecionados elaborou-se uma tabela metodológica contendo os seguintes
quesitos: o nome da revista, ano, volume, número, título. E ao final procurou-se
responder as seguintes questões, quais artigos das revistas Qualis A de Psicologia
29
diziam respeito à cardiologia. E o inverso foi feito considerando os Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, ou seja, quais da Cardiologia diziam respeito à psicologia.
6) E, finalmente, foi feita a leitura dos artigos e uma análise comparativa dos conteúdos
abordado nos mesmos, de forma a fomentar a análise e discussão dos dados.
30
5 RESULTADOS
Com aumento significativo de mobi-mortalidade ligada ao IAM e às mudanças
relacionadas ao impacto da doença, bem como suas consequências psicossociais, investigouse o volume de artigos em três revistas Qualis A de psicologia e uma revista representativa da
área da cardiologia.
Na pesquisa verificou-se que os artigos não retratavam exclusivamente o IAM,
entretanto, relatavam as doenças cardiovasculares/doenças cardíacas/doenças cardiológicas,
portanto, relacionados ao IAM.
Cabe enfatizar que o IAM é uma ramificação da Doença Arterial Coronária que está
incluída como a principal Doença Cardiovascular. E esta última é o termo genérico para
diferentes doenças do coração e de seus vasos.
Portanto, a decisão por incluir esses artigos está pautada na desconcertante escassez de
publicações específicas, relativas ao IAM, ampliando a pesquisa de forma a considerar as
publicações que estejam relacionadas às doenças cardiológicas, tendo em vista que o estudo
pretende verificar o volume de publicações que de alguma forma enfatize as consequências
psicossociais decorrentes das doenças cardiológicas. Os resultados são apresentados na tabela
a seguir:
Tabela 01: Número de publicações analisadas e os artigos selecionados, no período de 2009-2014.
Revista
Total de publicações analisadas
Artigos Selecionados
Paidéia
214
01
Psicologia: Teoria e Pesquisa
337
01
Psicologia: Reflexão e Crítica
423
0
Arquivos Brasileiros de Cardiologia
503
06
Total
1.477
08
De acordo com os critérios de inclusão definidos, foi selecionado um artigo na revista
de Psicologia Paidéia, um na revista Psicologia: Teoria e Pesquisa e nenhum na revista
Psicologia: Reflexão e Crítica. Totalizando na área da psicologia duas publicações
relacionadas ao tema.
Na revista de Cardiologia, Arquivos Brasileiros de Cardiologia, foram selecionadas
sete publicações, com a ressalva de que uma publicação não está no formato de artigo. Um
31
artigo não retrata uma doença cardiovascular mais sim uma síndrome - a Cardiomiopatia de
estresse/Takotsubo (CT), a qual imita o infarto do miocárdio. E um artigo será excluído, pois
após a leitura do mesmo constatou-se não dizer respeito à Psicologia, e sim de um exame
específico da cardiologia. Desta forma, totalizaram-se na área da cardiologia seis publicações.
A seguir será representada uma tabela enfatizando o título/veículo de publicação, o
objetivo e os resultados das publicações:
Tabela 02 – Publicações selecionadas, com o título/veículo de publicação, objetivo e resultados.
Artigo/Veículo
de Publicação
Dependência
tabágica,
assertividade
e
alexitimia
em
doentes cardíacos.
Paidéia, Ribeirão
Preto (SP), v. 20, n.
46, p. 155-164.
Objetivo
Resultados
Caracterizar
a
dependência
tabágica
(fisiológica
e
comportamental),
a
assertividade
e
a
alexitimia, avaliando a
relação das variáveis
entre si em doentes
cardíacos.
Os resultados indicam que a alexitimia
esteve relacionada com a dependência
comportamental e com a assertividade,
sugerindo que os sujeitos menos assertivos
e com dificuldade de identificação e
comunicação das suas emoções podem
utilizar o tabagismo como um mecanismo
de enfrentamento. Nas intervenções tornase necessário enfatizar as competências
sociais e de regulação emocional.
Psicologia Aplicada
à Cardiologia: Um
Estudo
sobre
Emoções Relatadas
em
Exame
de
Holter. Psicologia:
Teoria e Pesquisa,
Brasília (DF), v. 25,
n. 1, p. 65-74, 2009.
Identificar no exame de
Holter
24
horas
emoções e episódios de
vida diária que ocorrem
simultaneamente
a
arritmias cardíacas
Foram verificadas diferenças significativas
entre gêneros: as mulheres apresentaram
mais arritmias que homens. Nas mulheres,
arritmias ventriculares ocorreram mais
simultaneamente à preocupação do que à
ansiedade e não se mostraram relacionadas
à raiva. A tristeza não se mostrou
relacionada a arritmias ventriculares em
nenhum dos gêneros.
Desfecho de Curto e
Longo Prazo na
Cardiomiopatia
Induzida
por
Estresse: O que
Podemos
Esperar?Arq. Bras.
Cardiol.,São Paulo
(SP), v. 102, n. 1, p.
80-85, 2014.
Avaliar a prevalência e
os preditores clínicos de
complicações de curto e
longo
prazo
em
pacientes com CT.
Analisaram-se 37 pacientes, sendo 35
mulheres. Os resultados indicam que a CT
foi precipitada na maioria dos casos por
eventos de estresse emocional (57%) e dor
torácica foi o sintoma mais frequente
(89%). O estresse físico, a disfunção
sistólica grave do VE e o valor de pico do
peptídeo natriurético cerebral (BNP) foram
preditores de complicações agudas.
32
Artigo/Veículo
de Publicação
Objetivo
Resultados
Validação
da Apresentação das três Dois
fatores
mostraram-se
mais
Versão Brasileira do fases de validação do interpretável, denominada de subescalas:
Questionário
de QAC brasileiro.
“Medo e Hipervigilância” (n = 9; alfa =
Ansiedade
0,88) e “Evitação” (n = 5; alfa = 0,82).
Cardíaca.
Arq.
Encontrou-se correlação significativa do
Bras. Cardiol. São
fator 1 com o escore total do ESC (p <
Paulo (SP), V. 101,
0,01), mas não com o fator 2. Os fatores do
n. 6, p. 554-561,
SPIN
apresentaram
correlações
2013.
significativas com as subescalas do QAC
(p < 0,01). Na fase 3, os escores dos
pacientes “Cardíacos com pânico” foram
maiores no fator 1 do QAC, mas não
significativamente diferentes, no fator 2.
Reabilitação
Cardiovascular,
Dança de Salão e
Disfunção Sexual.
Arq. Bras. Cardiol.
São Paulo (SP), V.
101, n. 6, p. 107108, 2013.
Avaliar a relação entre
dança de salão, disfunção
sexual e reabilitação
cardiovascular.
A dança de salão pode ser vista como uma
estratégia
terapêutica
as
doenças
cardiovasculares e disfunção sexual.
Principalmente pelas suas características
nas quais aproximam as pessoas, tanto na
forma física como nos aspectos
emocionais.
Avaliação
do
conhecimento
de
pacientes
de
reabilitação
cardíaca:
Brasil
versus Canadá
Arq.
Bras.
Cardiol. São Paulo
(SP), V. 101, n. 3,
p. 255-262, 2013.
O objetivo do estudo foi
descrever e comparar o
conhecimento sobre DAC
entre pacientes no Brasil e
no Canadá, incluídos em
programas de reabilitação
cardíaca.
Os
resultados
apontam
que
os
participantes canadenses apresentaram
conhecimentos significativamente maiores
que os participantes brasileiros. Em 13 das
19 questões, os canadenses demonstram
conhecimentos mais significativos que os
brasileiros. O domínio de conhecimento
mais esclarecido em ambas as amostras foi
sobre o exercício físico.
Redes sociais de
saúde como grupos
de suporte online
na
vida
de
pacientes
com
doenças
cardiovasculares.
Arq.
Bras.
Cardiol. São Paulo
(SP), V. 101, n. 2,
p. 39-45, 2013.
Apresentar os resultados
de uma revisão de
literatura
sobre
a
proliferação
das
comunidades
virtuais,
verificando
suas
influencias e impactos.
Os resultados encontrados revelam
aspectos positivos e relevantes em relação
à saúde, os quais podem trazer alguns
benefícios terapêuticos, como: fonte de
suporte emocional, maior adesão ao
tratamento,
compartilhamento
de
informação sobre as doenças e aquisição
de experiências de vida.
33
Artigo/Veículo de
Publicação
Desenvolvimento e
validação da versão
em Português da
Escala de barreiras
para
reabilitação
cardíaca.
Arq.
Bras. Cardiol. São
Paulo (SP), V. 98,
n. 4, p. 344-352,
2012.
Objetivo
Resultados
O objetivo deste estudo
foi
traduzir,
adaptar
culturalmente e validar a
Escala de Barreiras para
Reabilitação
Cardíaca
(CRBS) para a língua
portuguesa.
A versão em língua portuguesa da CRBS
apresentou alfa de Cronbach de 0,88, ICC
de 0,68. Na análise fatorial revelou cinco
fatores,
cuja
maioria
apresentou
consistência interna. Para os pacientes em
RC o escore médio foi 1,29 e para os
pacientes do ambulatório foi 2,39. Na
validade de critério apresentou diferenças
significativas nos escores totais por sexo,
idade e nível educacional.
A tabela acima descreveu uma breve síntese das publicações selecionadas com o título,
objetivo e resultados. A seguir, apresentamos uma descrição de cada publicação selecionada.
Artigo 01: Dependência tabágica, assertividade e alexitimia em doentes cardíacos
Um estudo realizado por Rocha, Guerra e Maciel (2013), sobre a relação da
dependência tabágica, assertividade e alexitimia em doentes cardíacos. Este estudo teve
como objetivos caracterizar e analisar a dependência fisiológica e a dependência
comportamental da nicotina, bem como a assertividade e a alexitimia numa amostra
diagnosticada com Infarto do Miocárdio.
O tabagismo é considerado o inimigo número um das doenças do coração. Este, além
de aumentar o risco de doenças coronárias e morte súbita, agrava outros fatores relacionados
às doenças cardiovasculares que contribuem para o desenvolvimento das doenças coronárias,
tais como, Hipertensão, Dislipidemia e Diabetes Mellitus.
A vivência pessoal do infarto envolve a sensação de ameaça a vida, e dessa forma o
doente começa a valorizar o papel que o tabagismo desempenha na sua doença. A história do
infarto constitui um momento em que o doente se revela receptivo a interrupção do hábito de
fumar. Com isso a severidade da doença passa a ser valorizada, bem como ocorre à motivação
para melhorar o prognóstico.
Dessa forma torna-se essencial que os profissionais da área da saúde estejam
informados acerca dos mecanismos físicos e psíquicos desta adição, ou seja, a dependência
fisiológica e comportamental do tabagismo.
34
A nicotina é responsável pela dependência fisiológica do tabagismo. A dependência
fisiológica implica que o fumante não consegue ter autocontrole sobre o uso do cigarro,
mesmo que esse esteja consciente dos sérios riscos que este hábito ocasiona a sua saúde.
Porém, a dependência tabágica é algo além dos efeitos fisiológicos, a evolução tabágica
implica explicações de fatores sociais e psicológicos que influenciam a percepção dos efeitos
físicos, o que aponta para uma dependência comportamental.
A dependência comportamental traduz a associação entre reforços subjetivos da
nicotina e as situações, emoções e contextos que tornam dissociados dos reforços físicos, ou
seja, as interpretações cognitivas e as associações afetivas no contexto antecedente ou
consequente do ato de fumar. As cognições e emoções têm um papel importante no
comportamento tabagista, dando evidências da influência de outras variáveis psicossociais
nesse âmbito, entre elas, a assertividade e a alexitimia.
A falta de assertividade tem sido correlacionada com o padrão de comportamento tipo
“A”, sendo esse um dos fatores de risco para ocorrência das doenças coronarianas. O padrão
de comportamento tipo “A” está relacionado a pessoas que se colocam em situações
estressoras, aumentando assim os riscos de doenças cardiovasculares. A hostilidade pode
torna-se uma forma de comunicação do doente cardíaco que apresenta esse padrão de
comportamento em especial quando se sente frustrado em algo não alcançado, demonstrando
assim déficit de assertividade na comunicação.
Identificou-se ainda que a personalidade tipo “D” que se caracteriza por altos níveis de
ansiedade, tensão crônica, emoções negativas e inibição social, aumenta o estresse emocional
provocando um baixo nível de bem estar psicológico. Estudos demonstram que a ansiedade e
depressão podem está associadas à incidência de doenças cardiovasculares. Segundo o autor,
indivíduos socialmente inibidos geralmente apresentam auto-expressão reduzida e tendem a
diminuir a disponibilidade de suporte social, visto que se sentem inseguros com os outros,
experienciando falta de assertividade.
Quanto à relação entre assertividade e o consumo de substâncias, estudos revelam que
a dificuldade em interagir socialmente e em lidar com situações de riscos podem se
correlacionar com dependência de drogas.
No que tange à alexitimia esta pode dificultar o estabelecimento de relações
interpessoais, devido os alexitímicos exibirem falta de empatia ou déficit em compreender e
experienciar as emoções dos outros. Tais características foram observadas em pacientes que
sofreram infarto mais do que na população saudável, demonstrando assim uma relação entre
alexitimia e este evento.
35
Contudo, a alexitimia pode ser percebida como consequência do infarto, devido à
própria modulação das emoções que pode ter sido afetada pelo mesmo. Tal aspecto pode
explicar a redução da satisfação com a vida dos doentes coronarianos, contribuindo assim
para o fardo psicossocial associado à doença.
O estudo foi realizado com 30 sujeitos do sexo masculino internados com infarto, na
faixa etária dos 40 aos 67 anos. Foi aplicado o Teste de Fagerström, o Questionário de
Glover-Nilsson, a Escala de “Rathus” e a TAS-20.
Os resultados indicam que a alexitimia encontra-se relacionada à dependência
comportamental e à assertividade, sugerindo que os sujeitos menos assertivos e com
dificuldade em gerir afetos negativos e situações de estresse, podem recorrer ao tabagismo
como mecanismo de enfrentamento. Nas intervenções voltadas à interrupção do hábito de
fumar em doentes infartados devem-se enfatizar as competências sociais e de regulação
emocional.
Artigo 02: Psicologia Aplicada à Cardiologia: Um Estudo sobre Emoções Relatadas em
Exame de Holter.
Estudo realizado por Bonomo e Araujo (2013), destacando o papel das emoções como
fatores de riscos associados às doenças cardiovasculares. O objetivo desse estudo foi
identificar no exame de Holter 24 horas, emoções e episódios de vida diária que ocorrem
simultaneamente a arritmias cardíacas.
Estudos têm demonstrado a relação entre doenças cardiovasculares e fatores
psicossociais, dentre os mais investigados estão: nível socioeconômico, suporte social, idade,
gênero, padrão de comportamento tipo “A”, estresse, depressão e emoções negativas e
positivas.
O gênero masculino está mais predisponente para as doenças do coração. Entretanto, a
ocorrência de óbitos é maior entre mulheres. A prevalência de altas taxas de mortalidade
feminina por doenças coronárias estão associadas à presença de fatores hormonais,
transmissão genética, diferenças de estrutura e funcionamento cerebral, assim como fatores
psicossociais, tais como: funcionamento psicológico, papel familiar e social.
As diferenças de gênero na incidência de DAC e aterosclerose são decorrentes dos
efeitos do estrogênio e também dos papéis sociais. Os papéis sociais de gênero proporcionam
reações diferentes a uma mesma situação. Os homens tendem a expressar mais emoções
negativas, sendo a raiva a mais frequente e o medo a mais reprimida. Já as mulheres relatam e
36
expressão mais as emoções, sendo a raiva a mais reprimida. Portanto, percebe-se que o gênero
é um fator que influencia as respostas cardíacas a determinadas emoções, mas não a todas.
As emoções têm pelo menos duas dimensões, a intensidade e a frequência. E entre as
pessoas há uma grande variabilidade de emoções, e acredita-se que tanto o exagero quanto a
inibição das emoções têm repercussões na saúde das pessoas, como, por exemplo, a inibição
pode demandar um esforço psicológico que com o tempo pode significar estresse cumulativo.
Quanto à natureza, as emoções podem se agrupar em positivas e negativas, no entanto,
os pesquisadores ainda não chegaram a um consenso se são dois pólos de uma mesma
dimensão ou dimensões distintas, além disso, as pessoas podem vivenciar suas emoções de
forma diferentes.
Estudos evidenciam que as emoções negativas provocam alterações fisiológicas com
pior prognóstico para as doenças coronarianas. E ainda pode influenciar a adesão a
comportamentos prejudiciais à saúde como tabagismo, má alimentação, obesidade e
sedentarismo, além dos impactos sobre suporte social e isolamento social. As emoções
negativas como ansiedade e depressão podem afetar a estabilidade autonômica do coração.
Quanto às emoções positivas, os estudos são escassos, além do pouco consenso do que
pode ser considerada uma emoção positiva. Mas de fato, as emoções positivas têm o potencial
de reduzir efeitos do estresse sobre o sistema cardiovascular.
De fato, há evidências da associação entre emoções e doenças cardiológicas, ou seja,
pode influenciar no aparecimento ou ser consequência, e, assim, influenciar no prognóstico da
doença.
Realizou-se uma investigação com 30 pessoas com idade entre 48 e 69 anos,
submetidas ao exame de Holter 24 horas, em uma Clínica Cardiológica do Distrito Federal.
Acrescentou-se ao exame uma entrevista para levantar informações sobre as atividades diárias
auto-registradas e esclarecer aspectos da história de vida.
Portanto, verificou-se diferenças acentuadas entre gênero, as mulheres evidenciaram
mais arritmias que os homens. Nas mulheres as arritmias ventriculares ocorreram mais
relacionadas à preocupação do que a ansiedade e não se demonstrou relacionada à raiva. E,
ainda, essa emoção se diferenciou das demais, pois foram simultâneas às arritmias
supraventriculares nas mulheres e ventriculares nos homens.
A tristeza não se associou às arritmias ventriculares em nenhum dos gêneros, mas teve
maior número nas arritmias supraventriculares nas mulheres. Portanto, a compreensão de que
os fatores emocionais podem desencadear desequilíbrio funcional do coração pode ser
subsídio para estratégias terapêuticas mais eficazes em cardiologia.
37
Artigo 03: Desfecho de Curto e Longo Prazo na Cardiomiopatia Induzida por Estresse: O que
Podemos Esperar?
Um estudo realizado por Ribeiro e Cols. (2013), para avaliar a prevalência e os
preditores clínicos de complicações de curto e longo prazo em pacientes com Cardiomiopatia
de estresse /Takotsubo (TC).
A TC é uma síndrome caracterizada por uma disfunção sistólica transitória na ausência
de uma doença coronária obstrutiva, que imita o infarto do miocárdio. Um estressor
emocional ou físico geralmente precede os sintomas, mas a fisiopatologia é incerta.
Foram incluídos todos pacientes admitidos na Clínica Mayo, entre novembro de 2006
e agosto de 2011, totalizando 37 pacientes com CT que tinham sido submetidos a cateterismo
cardíaco esquerdo para Síndrome Coronariana Aguda.
A maioria dos pacientes apresentava fatores de risco cardiovascular (Hipertensão,
Dislipidemia e Diabetes). O sintoma mais comum na apresentação da síndrome foi a dor no
peito e o fator desencadeante foi o estresse emocional. Um gatilho físico esteve presente como
fator desencadeante. Sendo a maioria dos pacientes do sexo feminino, na faixa etária pósmenopausa.
A CT foi associada a uma alta taxa de complicações intra-hospitalares. O estresse
físico, a disfunção sistólica e o valor do pico do BNP2 foram preditores de desfechos
adversos. Portanto, o estresse físico, a fração de ejeção na admissão e os níveis de BNP são
ferramentas na estratificação de risco.
Portanto, mesmo que a CT seja considerada uma forma benigna de insuficiência
cardíaca, e o prognóstico a médio e longo prazo seja favorável à população, observou-se uma
alta porcentagem de pacientes que apresentou complicações cardíacas justificando a
importância do reconhecimento da CT, evitando assim a ocorrência de eventos
potencialmente fatais.
Artigo 04: Validação da versão Brasileira do Questionário de Ansiedade Cardíaca.
Estudo realizado por Sardinha e cols. (2013), para validação da versão Brasileira do
Questionário de Ansiedade Cardíaca (QAC). Os transtornos psíquicos parecem desempenhar
fator de risco para morbimortalidade cardiovascular, além do impacto negativo sobre a
estabilidade da doença, adesão ao tratamento e qualidade de vida de pacientes cardíacos.
2
Peptídeo natriurético cerebral (BNP) – hormônios secretados principalmente pelo miocárdio ventricular na
ocorrência de desarranjo hemodinâmico, como, por exemplo, elevação da pressão arterial.
38
Este estudo teve por objetivo a validação da versão brasileira do QAC de forma a
proporcionar aos clínicos um instrumento adaptado, válido e simples para avaliação de
Ansiedade Cardíaca (AC) em pacientes cardíacos brasileiros.
Nesse panorama torna-se necessário entender o conceito de AC, sendo esta
caracterizada pelo medo de estímulos e sensações a doenças cardíacas, percebidos como
perigosos. Essa síndrome se caracteriza por sensações aversivas ou dor precordial, na
ausência de alterações físicas. A síndrome, frequentemente leva indivíduos a uma variedade
de comportamentos hipocondríacos que podem proporcionar riscos de procedimentos
diagnósticos desnecessários.
A AC mostrou-se associada a uma série de doenças relacionadas à ansiedade, mas com
prevalência significativa nos pacientes cardíacos. Para abordar esses problemas foi
desenvolvido o QAC, para casos clínicos em cardiologia.
Na primeira fase, estrutura fatorial e confiabilidade, foram recrutados 98 pacientes
com idade entre 34 e 89 anos, sendo esses portadores de DAC em dois ambulatórios de
cardiologia do Rio de Janeiro. Nessa fase os pacientes foram submetidos ao QAC e uma
triagem quanto à presença de comorbidades psiquiátricas.
Na segunda fase, o objetivo foi explorar a validade convergente e divergente da escala.
Nessa fase foram recrutados 56 pacientes com diagnóstico formal de DAC de um programa
de reabilitação baseada em exercício. Os participantes preencheram o QAC e dois outros
questionários o ESC (Escala de Sensações Corporais) e o SPIN (Versão Brasileira do Social
Phobia Inventory).
Na terceira fase, o intuito foi determinar a validade discriminante da versão brasileira
de QAC, procurou testar se grupos diferentes de pacientes cardíacos apresentavam diferenças
significativas no escore do QAC.
Os resultados demonstram que o QAC parece medir mais adequadamente a ansiedade
cardíaca através das subescalas “Medo e Hipervigilância” e “Evitação”. Foi encontrado
correlação significativa entre o fator 13 e o escore total do ESC. Os fatores do SPIN
apresentaram correlações significativas com as subescalas do QAC. Na fase 3, os escores dos
pacientes “Cardíacos com pânico “ foram significativamente maiores no fator 1 do QAC, mas
não diferentes do fator 24.
Os dados forneceram a validação da versão Brasileira do QAC para avaliar AC em
pacientes com doenças cardiovasculares. Sabe-se que como qualquer outro instrumento
3
4
Fator 1 – “Medo e Hipervigilância”.
Fator 2 – “Evitação”.
39
psicométrico, o QAC requer novos estudos para verificar sua estabilidade em outros
contextos.
Portanto, espera-se que essa versão seja uma contribuição valiosa para ajudar
Cardiologistas e Clínicos a identificar as manifestações disfuncionais de ansiedade que podem
impactar negativamente no tratamento dessas doenças.
Artigo 05: Reabilitação Cardiovascular, Dança de Salão e Disfunção Sexual.
Um estudo de Carvalho e cols. (2013), sobre a relação entre dança de salão, disfunção
sexual e reabilitação cardiovascular. A disfunção sexual é um problema de saúde pública que
se relaciona com as principais doenças cardiovasculares. Embora a função sexual seja um
bom parâmetro para melhorar a qualidade do tratamento das doenças cardiovasculares e
qualidade de vida dos pacientes, as manifestações da sexualidade ainda costumam ser
subestimadas pelos médicos, amparadas pelas questões culturais, tabus e preconceitos.
Tais questões devem ser plausíveis de mudança, pois após um evento cardiovascular,
as orientações sobre atividade sexual são tão relevantes quanto às questões de trabalho e
retorno as atividades diárias. Historicamente, sabe-se que o tratamento farmacológico pode
estar associado ao pior desempenho sexual, no entanto a nova geração de medicamentos
parece contribuir para a melhora da função sexual.
Estudos demonstram que a atividade física diminui o risco de IAM e morte súbita
durante a relação sexual. E entre os homens mais jovens, a melhor aptidão cardiorrespiratória,
os tornam menos suscetíveis à disfunção erétil, dessa forma fica evidente que o exercício
físico deve ser incluído nas intervenções de forma a beneficiar a saúde cardiovascular e a
sexual. Os efeitos dos exercícios físicos sobre aptidão física e esfera emocional (ansiedade,
depressão, autoestima, etc.) têm um largo espectro de ações, demonstrando sua importância
no tratamento das doenças cardiovasculares e no manejo da disfunção sexual.
Desde 2007, os programas de reabilitação cardiovascular, na cidade de Florianópolis, a
dança de salão tem sido utilizada como meio de condicionamento físico, ou seja, como
atividade física. E se tem percebido uma vantagem significativa em relação aos exercícios
físicos convencionais, especialmente pelas características da dança, as quais aproximam as
pessoas, tanto na forma física como na forma emocional.
Nesse prisma, portanto, a dança de salão tem sido vista como uma estratégia
terapêutica concomitante das doenças cardiovasculares e disfunção sexual.
40
Artigo 06: Avaliação do Conhecimento de Pacientes de Reabilitação Cardíaca: Brasil versus
Canadá.
Estudo realizado por Ghisi (2013), com o objetivo de descrever e comparar os
conhecimentos de DAC5 entre pacientes do Brasil e do Canadá que participam de programas
de Reabilitação Cardíaca.
Com o aumento da prevalência da DAC, isso contribui para a crescente carga global
de doenças cardiovascular. Embora haja disponibilidade do diagnóstico e tratamento para
DAC nos diversos países, ainda é muito limitada as abordagens de prevenção secundária
como a Reabilitação Cardíaca (RC), nos países de alta renda e ainda mais nos países de baixa
renda.
A educação de pacientes tem sido considerada um papel essencial para a RC,
associado aos aspectos como: estilo de vida e tratamento do fator de risco médico, saúde
psicossocial, terapias cardioprotetoras e avaliação em longo prazo. Essa educação do paciente
desempenha um papel fundamental nas DAC, na medida torna-se um facilitador de mudanças
de comportamento.
Foi aplicado o Questionário de Educação de Doença Arterial Coronariana (DACE-Q)
para avaliar o conhecimento que os pacientes tinham sobre sua doença e fatores relacionados.
E foi feita a comparação entre duas amostras de pessoas, sendo 300 brasileiros e 300
canadenses. Os dados foram processados por meio de estatísticas descritivas, post-hoc e teste t
de Student.
O DACE-Q é um instrumento composto de 19 itens que incluem os seguintes
domínios de conhecimento: 1) fisiopatologia e sinais e sintomas da doença; 2) fatores de risco
e de estilo de vida; 3) diagnóstico, tratamento e medicação; 4) exercícios físicos.
Os resultados apontam que os entrevistados canadenses apresentaram pontuações
maiores no total de conhecimentos que os entrevistados brasileiros, sendo o domínio de
conhecimento mais esclarecido, sobre exercícios físicos. Os canadenses apresentaram
pontuações mais significativas que os brasileiros entre 13 dos 19 itens, sendo as maiores
disparidades nas perguntas: ‘definição de DAC’, ‘uso de nitroglicerina’, ‘quando evitar
exercício físico e respectivamente estresse psicológico’.
Os participantes mais jovens e do sexo masculino apresentaram conhecimento
significativamente maiores em ambos os países. No geral, o maior nível de escolaridade e
renda esteve relacionado à maior pontuação de conhecimento. Os resultados apóiam-se na
5
DAC – Doença Arterial Coronária.
41
hipótese que os entrevistados canadenses têm mais conhecimento sobre as suas condições de
saúde.
Percebe-se a partir dos resultados que os programas de reabilitação têm um currículo
educacional estruturado o que pode contribuir para o aumento do conhecimento do paciente e
em última instância quiçá facilitar mudanças de comportamentos aos participantes e melhorar
sua qualidade de vida.
Artigo 07: Redes Sociais de Saúde como Grupos de Suporte Online na Vida de Pacientes com
Doenças Cardiovasculares.
Estudo realizado por Medina e cols. (2013), sobre redes sociais de saúde como suporte
online em pacientes cardíacos. Esse estudo se propôs a identificar na literatura estudos sobre a
proliferação e impacto de Grupos de Suporte Online em contextos terapêuticos e identificar
suas influências e impactos (positivos ou negativos) em pacientes com doenças
Cardiovasculares.
No mundo, cerca de dois milhões de pessoas são diagnosticadas com doenças
Cardiovasculares. Tais pessoas que convivem com essa doença além de necessitarem de um
acompanhamento detalhado do estado de saúde, necessitam também de apoio emocional para
lidar com os problemas de difícil tratamento.
Nesse sentido, as redes sociais de saúde em ambiente virtuais podem criar
relacionamentos de pacientes com outras pessoas de interesses afins, e, ainda pode
proporcionar troca de experiências, dúvidas, opiniões e emoções.
Consequentemente, torna-se necessário analisar como esses ambientes influenciam
nos aspectos de saúde dos pacientes. Portanto, pensando nesses aspectos de saúde dos
pacientes, foram analisados estudos que retrataram as seguintes temáticas: a oportunidade
para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, análise de comportamentos e emoções
vinculados nos ambientes e oferecimento de suporte terapêutico. Portanto, aspectos benefícios
advindos da participação nesses ambientes.
Nesse estudo foi realizada uma revisão sistemática da literatura com artigos
publicados entre 2007-2012 e foram selecionados quatro artigos, sobre Grupos de Suporte
Online para pacientes com doenças Cardiovasculares.
Verificou-se que pacientes e familiares têm utilizado a internet como aliado
tecnológico para compreensão do processo saúde-doença, na busca de informações sobre
sintomas, medicamentos, abordagens terapêuticas e discutir preocupações em comum com
outros pacientes. Foram verificados implicações e potenciais benéficos como oportunidade de
42
vida social a pacientes que vivem isolados, a troca de experiências interpessoais entre
pacientes e a possibilidade de apoio emocional.
Entretanto, notou-se a necessidade de moderadores (especialistas) nos grupos para
ajudar a aproveitar/controlar/avaliar a qualidade de informação que circula nesses ambientes.
Os resultados apontam que o impacto destes ambientes virtuais na saúde são
promissores, pois pode atuar como terapias adicionais e contribuir para redução de transtornos
psicológicos, como ansiedade, depressão e estresse. No entanto, deve se analisar os riscos aos
pacientes mais sensíveis, advindos das informações expostas nesses ambientes.
Artigo 08: Desenvolvimento e Validade da Versão em Português da Escala de Barreiras para
Reabilitação Cardíaca.
O estudo realizado por Ghisi e cols. (2012), sobre a validação da Escala de Barreiras
para Reabilitação Cardíaca em português. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi traduzir,
adaptar culturalmente e validar a escala Cardiac Rehabilitation Barriers Scale (CRBS) para a
língua portuguesa.
As doenças cardiovasculares têm sido apontadas como uma das principais causas de
morte, além de contribuir para as altas taxas de morbidade. Entretanto, apesar dos benefícios
da reabilitação cardíaca, como: diminuição dos riscos cardiovasculares, redução da
recorrência de eventos cardíacos, aumento da qualidade de vida e redução da morbidade,
ainda assim, é pouco utilizada.
A literatura descreve a baixa participação e aderência aos programas de reabilitação
de Reabilitação Cardíaca (RC) como sendo barreiras, e estas podem ter caráter pessoal
(paciente), profissional (equipe multidisciplinar) ou público (sistema).
Os estudos destacam três escalas que avaliam as barreiras no que tange a participação
e a aderência à RC: uma inglesa - Crenças sobre Reabilitação Cardíaca – que avalia as
crenças, sendo aplicada a aderência e não a participação a RC; uma australiana – CREO
(Cardiac Rehabilitation Enrolment Obstacles) – que avalia os obstáculos a RC; e uma
canadense – CRBS (Cardiac Rehabilitation Barriers Scale) – que avalia as barreiras a
participação e aderência aos programas de RC.
Foram realizadas duas traduções iniciais independentes e após a tradução reversa,
ambas as versões foram revisadas por um comitê. A versão produzida foi aplicada em 173
pacientes com DAC, desses 139 eram participantes de RC. A versão piloto da CRBS contém
21 itens, sendo esses divididos em quatro subescalas: necessidades percebidas/fatores de
43
cuidado a saúde; fatores logísticos; conflito de trabalho/tempo; e comorbidades/estado
funcional.
A consistência interna foi avaliada pela alfa de Cronbach, a confiabilidade foi através
do teste-reteste e a validade de construto pela análise fatorial. E para avaliar a validade entre
participantes e não participantes de RC foram utilizados o Teste-t. E por fim, as características
dos pacientes (gênero, idade e escolaridade) foram avaliadas.
Os resultados da versão em português da CRBS apresentaram diferenças significativas
nos escores totais por idade, sexo e nível educacional. Através da validação pelo alfa de
Cronbach e ICC6 a versão revelou cinco fatores, sendo eles: comorbidades e estado funcional;
necessidades percebidas; problemas pessoais e familiares; viagem e conflito de trabalho; e
acesso. Sendo esses considerados consistentes internamente.
É notório que o processo de tradução e validação de um instrumento vai além da
análise idiomática e semântica, pois é necessário adaptar a linguagem do ponto de vista
cultural e conceitual, ou seja, mais próxima da realidade da população.
Os resultados apresentados no estudo são consistentes com os da versão original
contando com o mesmo número de itens (21). A versão original apresentou quatro fatores e a
versão em língua portuguesa cinco fatores, tais diferenças entre o número de fatores podem
estar relacionadas à diferença cultural.
Enfim, a versão em língua portuguesa da CRBS apresentou índices de confiabilidade e
validade adequados, sendo assim, este é primeiro instrumento que avalia as barreiras para a
participação e aderência em níveis múltiplos (pessoal, profissional e público) para
participantes ou não de RC. Tal instrumento poderá subsidiar estratégias para aumentar a
participação e aderência a RC com foco nas necessidades reais dos pacientes.
6
ICC – Coeficiente de correlação intraclasse.
44
6 DISCUSSÃO
Percebe-se que o número de publicações que relatam as doenças cardiovasculares com
enfoque nos aspectos psicológicos ainda é escasso. Dentro desse prisma, a título de
comparação, foi realizada pesquisa no Portal Periódicos Capes, rede assinada pela
Universidade Católica de Brasília (UCB), com os seguintes parâmetros: Busca avançada por
assunto; palavras ‘cardio’ AND ‘psico’ contidas (não exata, não começa com) no assunto;
sem limite de tempo; artigo (tipo de material); sem limite de língua. Como resultados,
obtivemos zero artigos.
A mesma busca em ‘qualquer’ lugar do material, obtivemos 58 referências em
espanhol (40), inglês (38), português (8) e italiano (1). Os assuntos listados dessas referências
foram: Heart Failure(3); Cardiovascular Disease(3); Sedation(2); Rehabilitation(2); Ec(2);
Elderly(2); Insuficiencia Cardiaca(2); Autopsy(1); Quality(1); Myocardial Ischemia(1);
Hepatic Metabolism(1); Nervous Tissue Metabolism(1); Midazolam(1); Causa De Muerte(1);
Bronchoscopy(1); Pregnancy-induced Hypertension(1); Scales(1); Length Of Stay(1); Cause
Of Death(1) e Polyvalent Intensive Care Service(1). Em nenhumas dessas referências a
atuação do Psicólogo foi assunto do artigo.
Tendo em vista artigos disponibilizados para o Psicólogo brasileiro, optamos pela base
primária Bireme (BVS) para nova pesquisa de comparação de dados. A palavra ‘cardio’,
buscada em título/resumo/assunto produziu 1.113 artigos, o que demonstra que o assunto é
altamente produtivo na literatura científica. A palavra ‘psico’em título/resumo/assunto,
produziu apenas 48 artigos, sendo 6 repetidos, apenas 24 em português. Nenhum dos artigos
(em qualquer língua) referiu-se às doenças cardíacas.
Na mesma base (BVS), a palavra ‘infarto’, pesquisada em título/resumo/assunto
produziu 186.912 referências, sendo 3.741 em língua portuguesa, o que demonstra novamente
que o assunto é central em pesquisas científicas, mesmo em língua portuguesa. Apostando
nessa produtividade da palavra ‘infarto’, buscamos o conjunto ‘infarto’AND ‘psico’, o que
produziu 3 artigos, sendo 1 repetido. Um deles, Reber (2008), sobre efeitos da cirurgia
cardíaca na mortalidade, e o outro, López, Araúxo, Páramo (2009), sobre aspectos cerebrais
do Transtorno Bipolar.
A expressão ‘acute coronary syndrome’ AND ‘psycho’, nesta mesma base, produziu
zero artigos. Em nova pesquisa, utilizando o descritor da própria base [Doenças
Cardiovasculares / Cardiovascular Diseases / Enfermedades Cardiovasculares (104.043)]
restringindo a pesquisa pelo aspecto ‘psicologia’, também produziu zero artigos. Retiramos o
45
aspecto ‘psicologia’, e nos voltamos para os 104.043 artigos classificados como pertinentes às
Doenças Cardiovasculares. Aplicamos os filtros: língua portuguesa, humanos, Brasil, e
ficamos com 541 artigos. Os 20 assuntos principais deste conjunto foram: Doenças
Cardiovasculares (400); Obesidade (59); Hipertensão (49); Síndrome X Metabólica (27);
Fatores de Risco (23); Hábitos Alimentares (18); Cardiologia (18); Diabetes Mellitus (16);
Hospitalização (16); Pressão Sanguínea (15); Estilo de Vida (14); Lipídeos (14); Atenção
Primária à Saúde (13); Índice de Massa Corporal (13); Transtornos Cerebrovasculares (13);
Doenças Respiratórias (12); Colesterol (11); Mortalidade (11), Diabetes Mellitus Tipo 2 (11)
e Hábito de Fumar (10).
Em que pese vários destes assuntos serem tema da Psicologia da Saúde, optamos por
investigar os 14 artigos que tinham como assunto principal o Estilo de Vida. Desses, 6 eram
repetidos, ficando então com oito artigos. Desses, um, Berwanger et al. (2013), é um estudo
sistemático chamado REACT para cálculo de evidências; e os sete outros, Jardim et al.
(2007); Lancarotte et al. (2010); Magalhães (2002); Monego e Jardim (2006); Nobre et al.
(2006); Oliveira et al. (2009); Romanzini et al. (2008), tratam de diferentes estudos de fatores
de risco, tais como pressão arterial, violência, sobrepeso, hábitos de vida, em crianças,
adolescentes e adultos. A palavra ‘psico’ ou ‘comport’ foi encontrada nestes artigos como
referências a fatores psicossociais e a comportamentos de risco. Os trabalhos apontam os
fatores de risco, mas não há menção de intervenções psicológicas ou de alguma intervenção
que venha a alterar, melhorar, mudar esses fatores.
Sabe-se que as doenças coronarianas representam um grave problema de Saúde
Pública, com índices significativos de morbimortalidade, e os comportamentos de saúde, os
fatores emocionais e psicossociais estão diretamente ligados aos fatores de risco,
desencadeamento e reabilitação das doenças cardiológicas. Nesse âmbito surge a necessidade
de compreender a relação entre cardiopatia e vida psíquica, portanto cresce a necessidade de
publicações acessíveis ao Psicólogo brasileiro, que tenham pesquisas científicas que possam
subsidiar a inserção do profissional Psicólogo na crescente demanda por atendimento na área.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi verificar se há volume significativo de publicações
recentes Qualis A da área de Psicologia e Cardiologia, em língua portuguesa, que aborda os
aspectos psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio.
Neste espectro a análise dos dados demonstrou que a Revista Arquivos Brasileiros de
Cardiologia publica mais artigos no geral quando comparado com as três revistas Qualis A de
Psicologia. Enquanto as três revistas de Psicologia publicaram entre 214 e 423 trabalhos
46
durante os últimos 5 anos (2009-2013), a revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia nos
seus últimos 5 volumes (2012-20147) publicou 503 trabalhos.
A análise das publicações do estudo evidenciou que a revista de Cardiologia publicou
mais trabalhos relacionados às questões relacionadas à psicologia que as próprias revista da
Psicologia. Cabe ressaltar que as publicações não tinham um viés totalmente relacionado aos
aspectos psicológicos, mas percebe-se a preocupação sobre como os aspectos psicossociais
podem estar associados às doenças cardiológicas, bem como podem influenciar no
prognóstico das doenças cardiológicas.
Nesse prisma vale lembrar que a revista de cardiologia tem um número mais
significativo de publicações que as revistas de psicologia. Enquanto a revista de cardiologia
evidenciou estudos relacionados às doenças cardiológicas, as revistas de psicologia têm
estudado e abordado vários temas significativos, tais como: validação de instrumentos
psicológicos, avaliação psicológica, temáticas nos vários ciclos de vida, finitude, doenças
ontológicas, parentalidade, violência, personalidade, comportamento e educação, dentre
vários outros temas.
No que pese a gravidade e aumento das doenças cardiológicas, bem como os impactos
destas doenças, não há um número crescente de publicações neste sentido. Evidenciando a
necessidade de trabalhos mais atuais que possam fornecer informações e conhecimentos aos
profissionais da saúde (médicos, enfermeiros e psicólogos), de forma a fornecer subsídios
para melhorar o prognóstico e tratamentos desta doença. O crescimento de publicações nesse
âmbito pode promover estudos e pesquisa na área da psicologia e melhorar a qualidade de
vida no que tange aos impactos psicossociais de uma doença crônica na vida do paciente.
Em relação à análise dos artigos obtidos, estes destacaram os seguintes aspectos
relacionados às doenças cardiológicas: a influência dos fatores de riscos; a relação das
emoções e estas doenças; a relação entre aspectos psíquicos e doenças dessa natureza; os
aspectos positivos das atividades físicas, como a dança e a atividade sexual, para reabilitação
e retorno a vida cotidiana de pacientes cardiovascular; os programas de reabilitação cardíaca;
e enfim as redes sociais de saúde em ambiente online como forma de suporte social e
emocional a pacientes com doenças cardiovasculares.
Os fatores de riscos relacionados às doenças cardiovasculares, foi um dos temas
evidenciados em um dos artigos analisados, como por exemplo, o tabagismo, fator esse que
aumenta acentuadamente o risco de um IAM. As consequências psicossociais associadas ao
7
Publicações selecionadas até março de 2014.
47
tabagismo, como alexitimia e a falta de assertividade geram impactos nos fatores de risco e no
prognóstico de doenças desta natureza. Vale enfatizar que as dificuldades associadas a essas
consequências psicossociais, como gerir afetos negativos e situações de estresse, podem
contribuir para que o paciente recorra ao tabagismo como mecanismo de enfrentamento.
A literatura aponta que os fatores de risco modificáveis, segundo Straub (2005), por
exemplo, o tabagismo tem uma carga significativa ao risco de IAM, duplicando as chances da
doença. Isso não apenas pelo ato em si, mas também pelas conseqüências associadas à
dependência como foi analisado no estudo, como, a alexitimia e falta de assertividade que se
mostrou relacionada à dependência tabágica.
A falta de assertividade mostrou-se relacionada ao padrão de comportamento tipo A,
na medida em que as pessoas com essas características de comportamento pode se colocar em
situações estressoras aumentando os fatores de riscos para as doenças coronárias. Portanto, a
hostilidade pode muitas vezes torna-se uma forma de comunicação do doente cardíaco, em
especial, quando sente frustrado em algo não alcançado, sendo assim essa forma de
comunicação pode associar aos aspectos emocionais é representar um estresse cumulativo
com influencia significativo nas doenças cardiológicas.
Vale acrescentar um novo fator de risco psicológico identificado no estudo, a
personalidade tipo D, esta se caracteriza por altos níveis de ansiedade, tensão crônica,
emoções negativas e inibição social, aspectos esses que aumenta o estresse emocional
provocando um baixo nível de bem estar psicológico. Além disto, indivíduos socialmente
inibidos podem apresentar auto-expressão reduzida e tendem a diminuir a disponibilidade de
suporte social, visto que se sentem inseguros com os outros, experienciando falta de
assertividade. E, portanto, esses fatores psicológicos podem influenciar no prognóstico das
doenças cardiológicas.
No que se refere à alexitimia esta pode dificultar o estabelecimento de relações
interpessoais, pois os alexitímicos podem exibir falta de empatia ou déficit em compreender e
experienciar as emoções dos outros. Sendo essas características mais observadas em pacientes
que sofreram infarto do que na população saudável demonstrando assim uma relação entre
alexitimia e este evento. Além disso, os estudos têm demonstrado que pessoas com essas
características podem se beneficiar menos de suporte social em função da dificuldade em
estabelecer relações interpessoais.
As publicações mostraram evidências da relação entre doenças cardiovasculares e
fatores psicossociais, tais como: padrão de comportamento tipo A, depressão, estresse e
emoções positivas e negativas. E por mais que os estudos sobre os efeitos das emoções sobre
48
as doenças cardiovasculares sejam ainda escassos, em especial sobre as emoções positivas.
Acredita-se que tanto o exagero como a inibição das emoções tem impactos sobre a saúde de
pacientes em doenças desta natureza, por exemplo, a inibição pode demandar no paciente um
esforço psicológico que pode acarretar em um estresse cumulativo.
Sabe-se que as emoções têm papel importante de risco e prognóstico das doenças
coronárias, na medida em que pode influenciar o paciente a adotar comportamentos
prejudiciais, como: sedentarismo, má alimentação, tabagismo, isolamento social, ansiedade e
depressão. De acordo com a literatura, os fatores de riscos tais como: o tabagismo,
sedentarismo e fatores psicológicos parecem ter uma carga significativa quanto ao risco e
evolução das doenças coronárias, na medida em que tem uma relação com as emoções e pode
influenciar o indivíduo a adotar comportamentos desfavoráveis a manutenção da saúde
(NIEMAN, 1999; MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994; BURNETT; BLUMENTHAL, 2003;
STRAUB, 2005).
Acrescentando ainda sobre os fatores de risco, a literatura relata que o perfil
psicológico, personalidade “tipo A”, apresenta características de personalidade relevantes que
podem influenciar na doença. As características de reação emocional deste perfil de
personalidade podem associar-se as doenças cardiológicas por ter uma relação com as
emoções vivenciadas pelo paciente. (SCHERR, 1992; MACIEL, 1994; RUSCHEL, 1994;
BURNETT; BLUMENTHAL, 2003).
Os papéis sociais de gênero têm demonstrado diferenças numa mesma situação,
geralmente os homens tendem a expressar mais emoções negativas, sendo a raiva a mais
evidenciada e o medo a mais reprimida. Já nas mulheres observa-se mais expressão de
emoções, entretanto estas reprimem mais a expressão de raiva. Portanto, percebe-se que o
gênero é um fator que influencia as respostas cardíacas a determinadas emoções, mas não
outras. Percebe-se que as emoções negativas como ansiedade e depressão podem afetar a
estabilidade autonômica do coração. Enquanto as emoções positivas têm o potencial de
reduzir efeitos do estresse sobre o sistema cardiovascular.
Na publicação que aborda a Cardiomiopatia de estresse/Takotsubo (CT), sendo essa
uma síndrome caracterizada pela ausência de doença coronária, os resultados demonstraram
que a CT foi precipitada frequentemente por um gatilho emocional ou físico. Cabe enfatizar
que mesmo com a ausência da doença em si, o simples fato dessa síndrome imitar os sintomas
do IAM isso gera um impacto sobre o estado psíquico do indivíduo e no próprio estado de
saúde do mesmo. Os aspectos da sensação de medo, insegurança, ansiedade, onipotência e
isolamento relatado na literatura traduzem a vivência e percepção que se constrói a cerca da
49
doença e isso tem um impacto na vivencia subjetiva do indivíduo quando se traduz os
sintomas ligados a doença (RUSCHEL, 1994; SOUSA; OLIVEIRA, 2005). Sabe-se
atualmente que as características psicossomáticas têm um viés e impacto nas doenças
cardiológicas e pode influenciar no estado de saúde/doença de pacientes.
Vale ressaltar ainda, que por mais que a CT seja uma forma benigna de insuficiência
cardíaca e, portanto, o prognóstico seja favorável na população com CT, os resultados
demonstraram uma alta porcentagem de pacientes que apresentou complicações cárdicas
decorrentes da síndrome. E, portanto, torna-se necessário o reconhecimento e monitoramento
dessa síndrome como forma de evitar eventos potencialmente fatais nesses casos. Percebe-se
que o estado emocional, o medo, a ansiedade, a insegurança, que se constrói a cerca de uma
doença cardiológica tem impactos no estado de saúde de paciente conforme o estudo
demonstrou e será evidenciado no próximo estudo descrito abaixo.
O estudo sobre a validação da versão Brasileira do Questionário de Ansiedade
Cardíaca (QAC), a Ansiedade Cardíaca (AC) é caracterizada pelo medo de sensações
cardíacas. O QAC é um instrumento para avaliar AC, aspecto significativo para ampliação e
suporte aos profissionais da saúde na medida em que oferece uma ferramenta útil para auxílio
no tratamento das doenças cardiológicas, visto que os aspectos emocionais têm seu peso no
estado de saúde do paciente e poderia contribuir para melhora da qualidade de vida de
pacientes com ou sem doença cardiovascular.
E conforme destaca a literatura, os aspectos psicológicos tem um papel preponderante
na reabilitação do paciente que vivenciou um IAM, pois, a forma como o paciente percebe-se
a si mesmo, isto pode melhorar a autoestima, autoconfiança, minimizando os traços
depressivos e de ansiedade, e assim proporcionar uma melhor probabilidade de retorno as
atividades rotineiras e melhora da qualidade de vida ao indivíduo (LA MENDOLA;
PELLEGRINI, 1979 apud ROMANO, 1994).
Vale enfatizar que o questionário construído para a validação do QAC por mais que
seja apenas um instrumento psicológico, este tem um impacto direto na vida do paciente, em
especial na vida psíquica, na medida em que diz respeito ao cotidiano do indivíduo. As
perguntas têm um impacto na subjetividade do indivíduo e nas emoções vivenciadas pelos
mesmos.
Sabe-se que atualmente os programas de reabilitação cardíaca (enfatizado em dois
artigos do estudo), bem como o conhecimento da doença e do próprio processo de reabilitação
podem funcionar como um facilitador de mudanças de comportamento. Por exemplo, esses
programas transmitem informações aos pacientes que poderá alterar o comportamento de
50
saúde ou melhorar o seu estado de saúde. Tais aspectos vão de encontro com a literatura que
tem destacado os programas de RC como sendo ferramenta fundamental para que as
mudanças no estilo de vida se concretizem, além de criar hábitos de vida mais saudável e
auxiliar na redução de novos episódios da doença (BERRY; CUNHA 2010).
Entretanto, apesar do conhecimento dos benefícios com foco na prevenção secundária,
tais como: diminuição do risco cardíaco, redução da recorrência de eventos cardíacos e
aumento da qualidade de vida dos pacientes e redução da mortalidade, como é o caso da RC,
ainda assim a reabilitação cardíaca é pouco utilizada. Os estudos de Berry e Cunha (2010),
têm destacado os benefícios e a eficácia destes programas, no entanto, o engajamento e
aderências aos programas ainda é limitado e pouco utilizado.
Uma das publicações destacou que a melhora da função sexual, os exercícios físicos,
como por exemplo, a dança de salão tem um fundo benéfico na reabilitação das doenças
cardiológicas, pois contribui significativamente para melhora psicológica do paciente. A
dança de salão, em especial, tem uma característica vantajosa em relação aos demais
exercícios físicos convencionais, além de todos os benefícios da atividade física possibilita
ainda uma aproximação entre as pessoas tanto física quanto emocional, além de significativa
rede de suporte ao paciente. Portanto, a dança de salão tem sido vista como uma estratégia
terapêutica concomitante das doenças cardiovasculares e disfunção sexual.
A subestimação por profissionais da saúde no que diz respeito ao retorno a vida sexual
do paciente após o evento de doenças cardiológicas pode piorar a qualidade de vida do
paciente. Portanto, de acordo com a literatura, as orientações por profissionais da saúde que
enfatize o retorno ao trabalho, a vida sexual e o engajamento nos exercícios físicos são peças
chaves para o retorno do indivíduo a sua vida cotidiana, além de contribuir significativamente
para melhora psicológica do paciente. Vale ressaltar que a falsa ideia de que a relação sexual
seja um pesado fardo para o coronariopata está pautado em crenças e tabus construídos ao
longo da nossa cultura (CASTRO et al, 1995).
Corroborando com essas questões Straub (2005) aponta que as preocupações no
retorno a atividade física, ao trabalho e a vida sexual após uma doença cardiológica podem ser
minimizado através de uma boa orientação da equipe de saúde para que o indivíduo possa
retornar as atividades rotineiras, respeitando suas possibilidades e restrições.
Sabe-se que com o aumento significativo das doenças cardiovasculares, sendo essa
uma doença crônica, os pacientes necessitam de um monitoramento constante ao tratamento,
além de apoio emocional para lidar com problemas de difícil tratamento. Nesse contexto
surgem as Redes Sociais de Saúde em ambiente online, que desempenha o papel de suporte
51
social e emocional. Os grupos buscam interesses afins como, expor suas experiências,
dúvidas, opiniões e até emoções.
As Redes Sociais de Saúde em ambiente online tem se mostrado um potencial
benéfico nos grupos de pacientes com doenças cardiovasculares, na medida em que pode
significar um suporte de tratamento terapêutico, oportunidade de vida social aos pacientes que
vivem isolados, benefícios de troca de experiências e a possibilidade de apoio emocional.
Sabe-se que as pessoas mais sensíveis as informações que podem circulam nesses ambientes,
poderia se beneficiar da presença de moderadores (especialistas) para ajudar a
aproveitar/controlar/avaliar a qualidade das informações que circulam nesses ambientes.
Portanto nesse contexto de vivência de uma doença cardiológica, de acordo com a
literatura, o suporte social e emocional desempenha papel significativo na vida do paciente.
Geralmente as relações sociais promovem saúde e bem estar ao paciente, na medida em que
disponibiliza escuta, atenção, informação, companhia e promoção de saúde ao paciente
(ABREU-RODRIGUES; SEIDL, 2008; GOMES et al, 2011).
Além disso, após uma doença desta natureza os eventos estressantes decorrentes desta
podem levar o paciente a sentir-se isolado e/ou rejeitado, e, portanto o suporte social pode
diminuir o risco de agravamento da doença (Straub, 2005). O suporte social tem se mostrado
benéfico no processo de saúde/doença do paciente, diminuindo os comportamentos de riscos,
ajudando na adesão ao tratamento, além de melhora da qualidade de vida do paciente.
A literatura destaca ainda que a participação da rede de apoio, em especial a família,
tem sido ferramenta essencial na reabilitação do paciente, portanto esse suporte tem se
mostrado gratificador e facilitador no retorno do paciente as atividades cotidianas, além de
diminuir os níveis de ansiedade e depressão (DANTAS; AGUILLAR; BARBEIRA, 2001).
Enfim, mesmo com a escassez de estudos relacionados aos aspectos psicossociais
relacionados ao IAM, ainda assim, foi possível verificar evidencias da relação entre doenças
cardiológica e fatores de riscos, estado emocional na reabilitação e retorno a vida cotidiana,
demonstrando assim a necessidade de publicações recentes que abordem os aspectos
psicossociais relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio, tendo isto exposto, passaremos às
considerações finais.
52
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo evidenciou a escassez de artigos que abordem o tema, demonstrando assim
a necessidade de publicações que enfatizem os aspectos psicossociais relacionados às doenças
cardiovasculares, em especial ao IAM. Nesse âmbito, estudos e pesquisas podem contribuir
com os profissionais da saúde que poderam desempenhar um melhor atendimento aos seus
pacientes, na medida em que possam obter informações sobre a relação entre cardiopatia e
vida psíquica.
Ao longo da análise e discussão dos dados verificou-se que os aspectos psicossociais
têm sido interesse de estudo, inclusive na revista de cardiologia, visto o impacto destes no
estado de saúde/doença de pacientes com doenças cardiovasculares, como: adesão ao
tratamento, reabilitação e retorno a vida cotidiana e a qualidade de vida do sujeito.
Fazendo uma análise metodológica, em especial, das revistas Qualis A de Psicologia,
percebe-se que entre 2009-2010 houve uma preocupação com pesquisas relacionadas às
doenças cardiológicas e parece que mais recentemente, outros temas têm sido destaque e
objeto de estudo e pesquisa. Inversamente proporcional, a revista de Cardiologia demonstrou
um aumento nas publicações atuais, a partir de 2013-2014, portanto, o assunto parece está
despertando a consciência da gravidade e necessidade da busca pelo conhecimento da relação
entre aspectos psíquicos e doenças cardiológicas.
Embora as revistas de Psicologia manifestem conscientemente a gravidade e a
cronicidade das doenças cardiológicas, cabe mencionar que outras temáticas têm sido
preocupante no que tange a necessidade de estudos, tais como: instrumentos psicológicos,
intervenção psicológica, temática sobre vários ciclos de vida, finitude, doenças oncológicas,
questões de gênero, relações de trabalho, educação infantil e aspectos comportamentais.
Ademais, em novos estudos torna-se necessário ampliar o número de publicações e
aumento dos anos a ser pesquisados, além da inclusão de literatura em outras línguas. Para
assim verificar se o número de publicações pesquisadas foi uma amostra limitada de fato ou
se o tema ainda não havia despertado a gravidade e amplitude que de fato significa,
necessitando de estudos e pesquisa que aborde o mesmo. No que se refere à limitações dessa
pesquisa, torna-se necessário, para um próximo estudo, a comparação das linhas editoriais
brasileiras com as demais linhas editorias internacionais, verificando se a escassez de estudo
está associada às linhas editorias brasileiras ou se trata de aspectos mais globais.
Desta pesquisa, desdobram-se outras indagações que poderiam gerar novas pesquisas:
como investigar os efeitos da doença coronária sobre o estado emocional e a vida social de
53
pessoas que vivenciaram o infarto agudo do miocárdio, verificando suas percepções quanto
aos fatores de risco psicológico para a doença e conhecer seus esforços para lidar com os
estressores presentes em seu cotidiano como forma de melhorar o controle emocional sobre os
mesmos. Essa sugestão permitiria a ampliação de estudo acerca das doenças cardíacas e dos
fenômenos humanos envolvidos nesse processo de adoecimento.
54
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TCC - Sandra - Universidade Católica de Brasília