1.6 Descrição Macroscópica de um Gás ideal As propriedades dos gases são muito importantes numa série de processos térmicos. Nosso clima diário é um exemplo perfeito dos tipos de processos que dependem do comportamento dos gases. Se introduzirmos gás num recipiente, ele se expande para encher uniformemente o recipiente. Assim, o gás não tem volume fixo ou uma pressão fixa. Seu volume é o do recipiente e a sua pressão depende do tamanho do recipiente. Nesta secção estudaremos as propriedades de um gás com uma pressão P e temperatura T, confinado num recipiente de volume V. É útil saber como essas grandezas estão relacionadas. Em geral, a equação que as relaciona, chamada equação de estado, pode ser complicada. Entretanto se o gás for mantido à uma pressão muito baixa (ou densidade baixa), a equação de estado encontrada experimentalmente é relativamente simples. Um gás de densidade tão baixa geralmente é denominado um gás ideal. A maioria dos gases na temperatura ambiente e pressão atmosférica comporta-se aproximadamente como um gás ideal. Adoptaremos um modelo de simplificação, chamado de modelo de gás ideal, para esses tipos de estudos. Um gás ideal é um conjunto de átomos ou moléculas que se movem aleatoriamente, não exercendo nenhuma força de longo alcance um sobre o outro, e ocupa uma fracção insignificante do volume de seu recipiente. É conveniente expressar a quantidade de gás num determinado volume em termos do número de moles. Um mol de qualquer substância é a massa dessa substância que contém o número de Avogadro, N A = 6.022 × 10 23 , de moléculas. O número de moles de uma substância numa amostra, n, relaciona-se com a sua massa mamostra de acordo com a expressão n= mamostra M (1.8) onde M é a massa molecular da substância, geralmente expressa em gramas por mol. Por exemplo, a massa molecular da molécula de oxigénio, O2, é de 32.0 g/mol. A massa de um mol de oxigénio é, consequentemente 32,0 g. Podemos calcular a massa de uma molécula dividindo a massa molecular pelo número de moléculas, que é o número de Avogadro. Sendo assim, para o oxigénio, n= M 32.0 × 10 −3 kg/mol = = 5.32 × 10 − 26 kg/molécula 23 N A 6.02 × 10 molécula/mol Suponha agora que um gás ideal está confinado num recipiente cilíndrico cujo volume pode ser variado por meio de um pistão móvel, como na Figura 1.15. Vamos supor que o cilindro não vaza e, assim, que o número de moles permanece constante. Para tal sistema, experimentos fornecem a seguinte informação. Primeiramente, quando o gás é mantido numa temperatura constante, sua pressão é inversamente proporcional ao volume (esse processo é conhecido historicamente como lei de Boyle). Em segundo lugar, quando a pressão do gás é mantida constante, o volume é directamente proporcional à temperatura (esse processo é conhecido historicamente como lei de Charles ou Gay-Lussac). 13 Estas observações podem ser resumidas pela seguinte equação de estado, conhecida como lei do gás ideal: PV = nRT (1.9) Nesta expressão R é uma constante para um gás específico que pode ser determinada experimentalmente e T é a temperatura absoluta em kelvins. Figura 1.15 Gás ideal num recipiente cilíndrico cujo volume pode variar através do pistão (ou êmbulo) móvel. Experimentos com diversos gases demonstram que, quando a pressão se aproxima de PV zero, a grandeza se aproxima do mesmo valor de R para todos os gases. Por essa nT razão R é chamada de constante universal dos gases. Em unidades do SI, onde a pressão é expressa em pascal e o volume em metros cúbicos, R tem o valor R = 8.315 J/mol ⋅ K (1.10) Se a pressão for expressa em atmosferas e o volume em litros (1 L= 103 cm3=10-3 m), então R tem o valor R = 0.0821 L ⋅ atm/mol ⋅ K Utilizando este valor de R e a equação 1.9, encontramos que o volume ocupado por 1 mol de qualquer gás à pressão atmosférica e 0 °C (273 K) é 22.3 L. A lei do gás ideal é frequentemente expressa em termos do número total de moléculas N. Como o número total de moléculas iguala o produto do número de moles pelo número de Avogadro NA, podemos escrever a equação 1.9 como 14 PV = nRT = N RT NA PV = Nk BT (1.11) onde kB é chamado de constante de Boltzmann e tem o valor kB = R = 1.38 × 10 − 23 J/K NA (1.12) Exemplo 1.3. Comprimindo um Tanque de Gás. Coloca-se hélio puro gasoso num tanque que contém um pistão móvel. O volume, a pressão e a temperatura iniciais do gás são 15.0 × 10 −3 m 3 , 200 kPa e 300 K, respectivamente. Encontre a temperatura final do gás se o volume passar para o volume 12.0 × 10−3 m3 (volume menor ) e a pressão aumentar para 350kPa. Exemplo 1.4. Quantos moles? Um gás ideal ocupa um volume de 100 cm3 a 20.0 °C e 100 Pa. Encontre o número de moles do gás no recipiente. 15