A RTIGOS COCA-COLA® – UMA IMAGEM DE MARCA Ana Paula Esteves Departamento de Química, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, Braga [email protected] Coca-ColaTM – a brand image – In this paper a short overview of the chemical composition of Erythroxylum coca and Cola acuminata, one of the most common varieties of Kola tree, is presented. Both are related to the history of Coca-ColaTM, the most well-known refreshment beverage all over the world. It was invented in the late nineteenth century as a patented medicine whose original formulation was based on coca leaves and kola nuts. Some aspects of the history of the beverage are also mentioned. N este artigo faz-se uma apresentação breve da composição química das plantas Erythroxylum coca e Cola acuminata, uma das variedades mais comuns da planta da &ROD$PEDVHVWmRDVVRFLDGDVjKLVWyULDGD&RFD&ROD® da qual se faz uma abordagem sucinta neste artigo. Sendo este o refrigerante mais famoso em todo o Mundo, foi inicialmente SDWHQWHDGRFRPRXPPHGLFDPHQWRFXMDIRUPXODomRRULJLQDOLQFOXtDIROKDGHFRFDHQR]GHFROD. A Coca-Cola® EHELGD JDVHL¾FDGD SURGX]LGD SHOD The Coca-Cola Company, Atlanta, EUA - é comercializada em todo o mundo, sendo apreciada pela maior parte das pesVRDV$ VXD KLVWyULD UHPRQWD jV GXDV ~OWLPDV GpFDGDV GR VpFXOR;,;WHQGRVLGRLQYHQWDGDHPSRU-RKQ6WLWK 3HPEHUWRQ)LJXUDXPIDUPDFrXWLFRTXHPRUUHXSREUH e sem ter testemunhado a fama e o enorme impacto que a VXDQRYDEHELGDXP²WyQLFRFHUHEUDO³WHULDQRPXQGR>@ SURGXWRIRLDQXQFLDGRFRPRVHQGRFDSD]GHFXUDU²WXGR³ desde a prisão de ventre a doenças crónicas, actuando tamEpPFRPRDIURGLVtDFR>@)LJXUD$&RFD&RODpHVVHQcialmente uma versão não alcoólica do French Wine Coca, FRPR FRQVHTXrQFLD GD SURLELomR GH FRQVXPR GH iOFRRO tendo mantido a cocaína na sua composição até ao início GDGpFDGDGH>@ Figura 1°-RKQ6WLWK3HPEHUWRQ>@ 3HPEHUWRQHUDYLFLDGRHPPRU¾QDFRPRFRQVHTXrQFLDGH ferimentos sofridos durante a guerra civil americana, e procurava um substituto para este analgésico narcótico. Em WLQKD FRQVHJXLGR DOJXP VXFHVVR FRP XPD ²EHELGD LQWHOHFWXDO³ H ²HVWLPXODQWH GR VLVWHPD QHUYRVR³ R French Wine Coca de Pemberton – um vinho de coca europeu, FULDGRSRU$QJHOR0DULDQLHPHLQVSLUDGRQR9LQKR 0DULDQLVin Mariani7UDWDYDVHGHXPDPLVWXUDGHDo~FDUYLQKRWLQWRIROKDGHFRFDHQR]GHFRODFRQWHQGRFDIHtQDIDPRVDSHODVVXDVSURSULHGDGHVPHGLFLQDLV>@(VWH Q UÍMICA 138 - J UL -S ET 15 Figura 2°8PGRVSULPHLURVDQ~QFLRVGD&RFD&ROD>@ As primeiras vendas da Coca-Cola tiveram lugar na FarPiFLD-DFRE)LJXUDHP$WODQWDVHQGRRSURGXWRSDWHQWHDGRYHQGLGRDFRSRSHORSUHoRGHFLQFRFHQWDYRVGH GyODU>@ 31 A RTIGOS FRPSDWtYHOFRPHVVHWLSRGHJDUUDIDV$VVLPHPIRL FULDGDDJDUUDIDWDOFRPRDLQGDKRMHVHFRQKHFHWHQGRVLGR LQWURGX]LGDQRPHUFDGRHP>@ INGREDIENTES DA COCA-COLA A mistura exacta de ingredientes e extractos vegetais que entram na composição da Coca-Cola constitui, muito provavelmente, a fórmula secreta mais famosa do mundo. Pode chegar-se perto da sua decifração, mas nunca se saberá ao certo. A fórmula da Coca-Cola contém uma comELQDomRGHLQJUHGLHQWHVHVSHFt¾FRV(VVHVLQJUHGLHQWHVVmR >@ Figura 3 – )DUPiFLD-DFRERQGHD&RFD&RODIRLYHQGLGDSHODSULPHLUD YH]FRPRPHGLFDPHQWR>@ (QWUHH$VD&DQGOHUXPKRPHPGHQHJyFLRV de Atlanta que veio a ser o primeiro presidente da Coca-Cola Company, assegurou os direitos sobre este produto e transformou-o num negócio de sucesso fazendo uso de técnicas de marketingDJUHVVLYDVjpSRFDGHXFXS}HVSDUD primeiras provas desta nova bebida refrescante e distribuiu EULQGHVGLYHUVRVSHORVIDUPDFrXWLFRVFRPDPDUFD&RFD&ROD>@(VWDVWpFQLFDVGHmarketing estiveram na génese do domínio que a Coca-Cola conquistou no mercado mundial de refrigerantes ao longo do século XX. A popularidade crescente desta bebida aumentou a procura HIDFHjVYHQGDVUHDOL]DGDVQDVXDORMDHP-RVHSK Biedenharn procedeu ao primeiro engarrafamento da CoFD&ROD>@&RQWXGR&DQGOHUQmRWHUiGDGRJUDQGHLPSRUWkQFLDDHVWHIDFWRSURYDYHOPHQWHSRUQmRVHWHUDSHUFHELGR que o futuro da Coca-Cola passaria pelo seu engarrafamento, tornando possível o consumo desta bebida em qualquer ORFDO &LQFR DQRV PDLV WDUGH HP GRLV DGYRJDGRV %HQMDPLQ7KRPDVH-RVHSK:KLWHKHDGDGTXLULUDPRVGLreitos de engarrafamento e venda da Coca-Cola por apenas XPGyODU>@PDLVXPDYH]VHP&DQGOHUWHUHQWHQGLGRD vantagem deste processo. Desde então foram desenvolviGRVGLYHUVRVPRGHORVGHJDUUDID)LJXUDWHQGRFRPHoDGRFRPD²WUDGLFLRQDO³JDUUDIDGHOLQKDVGLUHLWDV$SRSX- L água; LL Do~FDUSDUDFRQIHULUVDERUGRFHXPDSRUomRGH P/FRQWpPFHUFDGHJGHDo~FDUVHQVLYHOPHQWHD mesma quantidade de açúcar presente num volume LJXDOGHVXPRGHODUDQMD LLL adoçantes zero calorias ou de baixas calorias tais FRPR DFHVVXOIDPH GH SRWiVVLR $FH. DVSDUWDPH sacarina, ciclamato e sucralose, os quais proporcionam um sabor doce com poucas ou nenhumas calorias; LY caramelo para dar cor. O caramelo é uma das cores mais antigas utilizadas mundialmente em alimentos e bebidas e tem sido usado como corante na Coca-Cola GHVGH2FDUDPHORQmRH[LVWHQDQDWXUH]DHQD 8QLmR (XURSHLD D FRU GH FDUDPHOR QmR p FODVVL¾FDGDFRPR²QDWXUDO³SRUTXHpFULDGRDSDUWLUGHRXWURV LQJUHGLHQWHV2FDUDPHOR(GFDUDPHORGHVXO¾WR GHDPyQLRFODVVH,9pXPDGDVTXDWURFDWHJRULDVGH caramelo que são aprovadas para uso como corantes alimentares na União Europeia; Y aroPDVQDWXUDLVD&RFD&RODFRQWpPDURPDVQDWXUDLV obtidos de uma mistura complexa de plantas. EmboUD RV LQJUHGLHQWHV EiVLFRV GD &RFD&ROD VHMDP EHP conhecidos, o que a torna especial é a mistura única de sabores; YL FDIHtQDSDUDGDUJRVWRRVDERUDPDUJRGDFDIHtQDSUHsente na Coca-Cola é responsável pelo gosto característico de que as pessoas gostam; YLL iFLGR IRVIyULFR SDUD R VDERU R iFLGR IRVIyULFR TXH contém fósforo, é usado para introduzir um sabor piFDQWH8PFRSRGHP/GH&RFD&RODIRUQHFH mg de fósforo enquanto que a mesma quantidade de OHLWHWHPFHUFDGHPJGHVWHHOHPHQWR YLLL GLy[LGR GH FDUERQR FRQIHUH R HIHLWR ERUEXOKDQWH j Coca-Cola. Figura 4°(YROXomRGDJDUUDIDGH&RFD&ROD>@ laridade crescente da Coca-Cola originou o aparecimento GHLPLWDo}HVSHORTXHVHWRUQRXLPSRUWDQWHFULDUXPIDFWRU distintivo deste produto e da marca, o qual não parecia ser 32 ALGUNS MARCOS IMPORTANTES NA GLOBALIZAÇÃO -COLA L DA COCA- $ FKHJDGD GD &RFD&ROD DRV -RJRV 2OtPSLFRV DFRQWHFHX HP HP $PVWHUGmR TXDQGR HVWD EHELGD ²DFRPSDQKRX³ D HTXLSD GRV (8$ SRU LQL- Q UÍMICA 138 - J UL -S ET 15 A RTIGOS FLDWLYD GH :RRGUXII j GDWD SUHVLGHQWH GD Coca-Cola Company>@ GRV$QGHV QRPHDGDPHQWHGD &RO{PELDGR (TXDGRU GR Peru e da Bolívia. LL com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, :RRGUXII RUGHQRX TXH WRGRV RV PLOLWDUHV WLYHVVHP acesso a garrafas de Coca-Cola a preço reduzido, independentemente de onde estivessem e do que pudesVHFXVWDUjHPSUHVD>@ A mastigação de folha de coca tem sido praticada pelos índios sul-americanos há mais de dois mil anos e é uma parte integrante da cultura nativa. A folha é misturada com óxido de cálcio, libertando assim o principal alcalóide, a cocaína, na forma de base livre, a qual pode então ser masWLJDGD>@2ULJLQDOPHQWHHVWDSUiWLFDHVWDYDOLPLWDGDDRV sumos-sacerdotes incas e pessoas de classes privilegiadas, mas generalizou-se após a conquista espanhola da América do Sul. LLL DSXEOLFLGDGHj&RFD&RODQXQFDIRLGHVFXUDGDWHQGR sido particularmente importante a década de setenta GRVpFXOR;;DTXDODVVRFLDYDDPDUFDjGLYHUVmRD DPLJRVHDWHPSRGHGHVFRQWUDomR>@ LY os anos oitenta do século passado assistiram a uma preocupação cada vez maior da sociedade com a VD~GH H D LPDJHP UH¿HFWLGD QD FUHVFHQWH LPSRUWkQcia atribuída ao exercício físico. A Coca-Cola, acompanhando os tempos, introduziu no mercado a Diet CokeGHEDL[RWHRUFDOyULFR>@ Y a primeira década do século XXI trouxe consigo um aumento nos esforços da Coca-Cola para criar um quadro sustentável para o futuro, com a assunção do compromisso público de redesenhar a maneira como WUDEDOKDFRPYLVWDjVXVWHQWDELOLGDGH$HPSUHVDFRQWLQXRXDFRQVWUXLUUHODo}HVH[LVWHQWHVFRPRVHYHQWRV desportivos globais, como o Campeonato do Mundo GD),)$HGHVHPSHQKRXXPSDSHOLPSRUWDQWHQRV-RJRV2OtPSLFRVGH/RQGUHVGHRVPDLVVXVWHQWiYHLVGDKLVWyULD>@ COCA-COLA VERSUS COCA E COLA As folhas de coca são obtidas de espécies de Erythroxylum (U\WKUR[\ODFHDH )LJXUD DUEXVWRV QDWLYRV GD UHJLmR Pemberton estava entusiasmado com as virtudes da planWDGDFRFDSHORTXHGHFLGLXLQFOXLODQRVHX)UHQFK:LQH Coca. O alcalóide activo da planta da coca, a cocaína, foi LVRODGRSHODSULPHLUDYH]HPGDVIROKDVGHFRFDSRU Friedrich Gaedcke. O psicanalista Sigmund Freud, que era consumidor de cocaína, no seu artigo Über Coca1 recomendava-a como estimulante mental e do apetite, como afrodisíaco e como anestésico local, bem como para o tratamento GHGLVW~UELRVGLJHVWLYRVGHDGLomRjPRU¾QDHDRiOFRROH WUDWDPHQWRGDDVPD>@ $ IROKD GH FRFD FRQWpP GH DOFDOyLGHV VHQGR D FRFDtQD1 XPGLpVWHUGHHFJRQLQDRSULQFLSDO FRPSRQHQWH FRPR UHIHULGR DQWHULRUPHQWH &LQDmoilcocaína 2ĭWUX[LOLQD3ȔWUX[LOLQD4 e metilecgonina 5 são constituintes minoritários e todos relacionados com a ecognina 6XPDOFDOyLGHWURSkQLFRTXHpXPPHWDEROLWRGR metabolismo da cocaína, podendo também ser um precurVRUGDPHVPD)LJXUD A Erythroxylum novogranatense tem uma maior quantidade de cocaína do que Erythroxylum coca, mas também uma maior quantidade de cinamoilcocaína, que impede a cristaOL]DomRGDFRFDtQDVHQGRSRULVVRPHQRVGHVHMiYHOSDUDD SURGXomRGHFRFDtQDLOtFLWD>@ (PPHGLFLQDDFRFDtQDHRVVHXVVDLVIRLRSULPHLURDQHVtésico local moderno, porque sendo rapidamente absorvida pelas membranas das mucosas paralisa as extremidades dos nervos sensoriais. Muito usada em estomatologia, tem sido substituída por compostos mais seguros devido aos VHXVHIHLWRVWy[LFRVHSURSULHGDGHVYLFLDQWHVHPERUDVHMD ainda usada nas cirurgias oftálmicas, do ouvido, do nariz e GDJDUJDQWD>@ A noz de cola é o fruto da árvore kolaXPJpQHURCola GHiUYRUHVTXHVmRQDWLYDVGDV¿RUHVWDVWURSLFDLVGDÇIULFD )LJXUD $VVHPHQWHVGH&RODFRQWrPDWpGHFDIHtQD7 e cerca de 1% de teobromina 8, parcialmente ligadas a taninos, ambas DOFDOyLGHVSXUtQLFRV>@ Figura 5 – Erythroxylum coca Q UÍMICA 138 - J UL -S ET 15 1 Publicado na revista Therapie, 2 33 A RTIGOS A secagem permite a oxidação parcial de polifenóis, com a formação de um pigmento vermelho e libertação da cafeína livre. À semelhança das folhas de coca, também as se- mentes frescas de cola são mastigadas em países tropicais, como estimulante. Figura 6 – Alcalóides da folha de coca REFERÊNCIAS >@ *<RXQJ:LW]HO0.:LW]HO²7KHVSDUNOLQJVWRU\RI&RFD&ROD³&UHVWOLQH1< >@ KWWSZZZEXVLQHVVLQVLGHUFRPLQYHQWRURIFRFDFRODZDV DPRUSKLQHDGGLFWL[]]I7XL\LIDFHGLGRD >@ KWWSZZZFRFDLQHRUJXNFRFDFRODDFHGLGRD >@ KWWSZZZEXVLQHVVLQVLGHUFRPLQYHQWRURIFRFDFRODZDV DPRUSKLQHDGGLFWDFHGLGRD >@ K W W S Z Z Z D G E U D Q F K F R P F R F D F R O D D G Y H U W L V LQJFRFDFRODBV\UXSBDQGBH[WUDFWBV DFHGLGRD >@ KWWSZZZFRFDFRODFRXNSDFNDJHVKLVWRU\KHULWDJH DFHGLGRD >@ KWWSSRSVRSFRPFRFDFRODFRQWRXUERWWOHFHOHEUDWHVLWVFHQWHQDU\GHVLJQVWRU\DFHGLGRD Figura 7 – Cola acuminata >@ <HDUB$/HD¿HWBY LQ KWWSZZZFRFDFRODKHOOHQLF FRPaPHGLD)LOHV&&&+%&GRFXPHQWV<HDUB $/HD¿HWBYSGIDFHGLGRD >@ 30'HZLFN²0HGLFLQDO1DWXUDO3URGXFWV°DELRV\QWKHWLF DSSURDFK³rdHG:LOH\&KLSSHQKDP >@ KWWSZZZDSSRDFRPEUGRZQORDG5HYLVWD 8EHUFRFDSGIDFHGLGRD Figura 8 – Alcalóides das sementes de Cola 34 >@ (YDQVLQKWWSZZZXVHOVHYLHUKHDOWKFRP PHGLDXVVDPSOHFKDSWHUV BSGIDFHGLGRD Q UÍMICA 138 - J UL -S ET 15