FOLHAS – HISTÓRIA - PDE Autor: Valmir Biaca NRE: Curitiba Escola: Colégio Estadual do Paraná Disciplina: História ( x ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio Disciplina da relação interdisciplinar 1: Ensino Religioso Disciplina da relação interdisciplinar 2: Geografia Conteúdo estruturante: Dimensão Cultural Conteúdo específico: História e Cultura Afro-brasileira O LEGADO RELIGIOSO DOS AFRO-DESCENDENTES (BIACA, Valmir. 2007) O professor, em sala de aula, expondo sobre a História da África, é interpelado por um aluno que questiona o por quê de tanto batuque durante os rituais das religiões afrodescendentes: é que este aluno mora próximo a um terreiro de candomblé e se sente incomodado com o som produzido freqüentemente neste local. Já outro aluno não concorda com a afirmação, pois considera o som nos rituais afro algo sagrado que deve ser respeitado por todos, o que gera questionamentos na aula. Neste instante, o professor aproveita a motivação e propõe que a turma investigue a questão que envolve a cultura e a religiosidade dos afro-descendentes. É essencial se observar a importância do respeito à diversidade cultural e religiosa, que é uma característica marcante do Brasil. A liberdade de consciência e de crença é um dos direitos e garantias fundamentais do cidadão existentes na Constituição do Brasil, bem como o livre exercício dos cultos religiosos, conforme Art. 5º , §VI. Os alunos podem iniciar a investigação da cultura afro-descendente, em especial o legado religioso, fazendo alusões a alguns contos populares brasileiros (ou narrativas efetivamente encontradas nos cultos) relativos às tradições religiosas predominantes na cultura e na história do Brasil, no caso, a cristã; como, por exemplo, as parábolas (narrativas alegóricas que contém um preceito moral) dos evangelhos. Ou, ainda, a história de algumas pessoas que tiveram uma vida voltada para a religiosidade e que posteriormente foram consideradas pela Igreja Católica como santificadas. É o caso, por exemplo, de São Francisco de Assis e Santa Clara, reconhecidos pelo zelo pelas coisas da natureza ou as histórias de anjos. ( Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br ) Atividades: 1 1- Você conhece algum conto ou narrativa ligada à sua religião? Reproduza-o em seu caderno. 2- Faça uma pesquisa sobre contos de outras tradições religiosas que não seja a sua, caso conheça algum. 3- Confronte a sua lista com a de alguns colegas em sala de aula. Quantas foram repetidas e quantas só você achou? 4- Em casa, pergunte aos seus pais se eles conhecem outros relatos que possam aumentar esta lista de contos religiosos. 5- Expor, na aula seguinte, a relação destes contos relacionados à religião. 2 Apresentar aos colegas de turma as respostas das questões iniciais e as histórias pesquisadas com os pais, enfocando a importância de se conhecer a história dos povos e de suas culturas, com destaque ao respeito à diversidade e aos diferentes legados culturais e religiosos de cada povo. As tradições religiosas possuem vários contos e histórias. Por meio deles, é possível conhecer um pouco mais sobre outras tradições religiosas que não seja a sua, já que no Brasil a diversidade cultural e religiosa é uma característica muito marcante e que deve ser estudada e compreendida para superar toda e qualquer forma de discriminação. A vinda dos negros para o Brasil (BIACA, Valmir. 2007) A origem da humanidade teve seu marco na África e foi lá que esse ser, chamado de “primata” pelos antropólogos, iniciou uma marcha que levaria a vida humana até ao Homo sapiens, o atual estágio biológico e antropológico do desenvolvimento humano. Esse começo faz com que todos nós sejamos africanos de origem. Já na História Moderna, a forte presença dos africanos no Brasil se deveu ao tráfico de escravos, trazidos e submetidos à escravidão, desde o século XVI até o século XIX. Foram cerca de quatro milhões de pessoas forçadas a migrar nesse período, provenientes de várias regiões da África. Os negros eram capturados pelos europeus ou comprados em regiões de intenso comércio escravagista. E, também, eram vendidos os prisioneiros de nações inimigas ou porque pertenciam a facções rivais dentro das próprias nações. Os afro-descendentes brasileiros não tinham quase nada de seu, nem posses, nem direitos. De si eles só tinham a sua memória, a memória de um povo inteiro. Eles sabiam as 3 suas histórias, que se perpetuavam como lendas sagradas na cultura de seus povos, e as contavam para seus filhos e netos, que as transmitiam oralmente às gerações seguintes, como a “chave”, o segredo, a sagrada constituição da existência do povo, de seus sistemas de vida. Quando conquistaram a liberdade, no final da escravidão, eles já haviam se tornado brasileiros. Suas histórias, seus heróis e sua religião de suas origens não tinham, contudo, evaporado no esvair do tempo.Quase tudo fora preservado, mesmo que adaptado, mas estava vivo. E, até hoje, essa lembrança está acesa e pertence aos descendentes de antigos escravos africanos e aos demais brasileiros, que, mesmo não sendo afro-descendentes de sangue, aprenderam a amar as suas histórias, um rico legado deixado para nós, por meio de uma forte tradição oral. Atividades: 2 1- Faça um desenho livre sobre o texto: “A vinda dos negros para o Brasil.” 2- Exponha o desenho para os colegas da sala de aula, explicando a sua idéia. ( Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br ) Investigar também a importância da Inserção dos conteúdos de História e Cultura Afro-brasileiras nos currículos escolares, conforme Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Prevê esta lei que, nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre a História e a Cultura Afrobrasileira, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando as contribuições do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. A lei busca valorizar devidamente a história e a cultura do povo negro, na perspectiva de não apenas elevar a auto-estima e a compreensão de sua etnia, mas de todas as etnias, na perspectiva da afirmação de uma sociedade multicultural e pluriétnica. Iremos, agora, investigar imagens e contos populares de origem afro-descendente, como exemplo de herança histórico-cultural, realizando leituras e discutindo com os colegas de turma como e quando estes contos chegaram ao Brasil e qual a influência na cultura e 4 religiosidade do povo brasileiro. Utilizar o mapa mundi para orientação espacial e contextualização. Conhecendo os contos (lendas) de origem afro Conto Afro ( Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br ) O nascimento de um rio não acontece quando a água brota da terra. Antes disso, uma seqüência de fatos desencadearam e influenciaram esse processo. Existe, por trás do nascimento de um rio, um enorme fundamento. Primeiro, Olorum, através do sol, aquece a água dos lagos e oceanos. Oxumaré, com seu arco-íris, leva a água em forma de vapor para as nuvens que ficam carregadas. Xangô anuncia, com seu trovão, que Iansã está juntando as nuvens com o vento mágico, que surge quando ela balança suas saias. Quando as nuvens estão todas arrumadas, Xangô lança o Edun-Ará (pedra de raio) sobre a terra avisando a ela, Odudúa, que prepare seu ventre, pois a chuva virá. Ossãe pendura suas cabaças em iroko para conter o líquido maravilhoso da vida. O momento sublime acontece. Numa sintonia perfeita de toda a natureza, a chuva cai, trazendo consigo toda a força do céu e alimentando a terra. Odudúa absorve todo o líquido e cria um enorme lago no interior da terra, seu ventre. Quando a água acumulada se enche da força mineral (Axé), Odudúa abre seu ventre e dá vida à majestosa Oxum, que brotará do solo e deslizará sobre seu leito levando vida sobre toda a superfície da terra. Mais à frente, a água se acumulará de novo e tudo começará novamente. (Fonte: Conto de Tradição Oral) 5 ORIXÁ - (BIACA, Valmir. 2007) Atividades: 3 Tendo como base o conto, pesquise: o que são orixás? Quem são eles? Por que são importantes para os afro-descendentes? Registrar as respostas em seu caderno. Outro conto Afro Conta-se, na tradição oral de matriz africana, que no princípio havia uma única verdade no mundo. Entre o Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aiyê (mundo natural) existia um grande espelho. Assim, tudo que estava no Orum se materializava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. Ninguém tinha a menor dúvida em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da Verdade, que ficava bem perto do Orun e bem perto do Aiyê. Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, sem querer, perdeu o controle do movimento ritmado que repetia sem parar e a mão do pilão tocou forte no espelho, que, então, espatifou-se pelo mundo. Desesperada, Mahura correu para se desculpar com Olorum, o Deus Supremo. Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de 6 Mahura com toda a atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia não haveria mais uma verdade única para se observar, mas várias possibilidades de observação da verdade. E concluiu Olorum: “De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho, em qualquer parte do mundo, já pode saber que está encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho reflete sempre a imagem do lugar onde ele se encontra”. Portanto, para seguirmos a vontade do Criador, é preciso, antes de tudo, aceitar que somos todos iguais, apesar de nossas diferenças. E que a Verdade não pertence a ninguém, pois não está em nenhum pedaço especificamente – do espelho, do mundo ou do pensamento –, mas na união de todos: lugares, idéias e pessoas. Há um pedacinho dela em cada lugar, em cada crença, dentro de cada um de nós. (Fonte: Conto de Tradição Oral) Enfim, não devemos julgar e nem agredir, mas sim compreender e aceitar todas essas diferenças, pois o Brasil é um país multicultural, com uma grande diversidade cultural/religiosa e para convivermos em harmonia não devemos desconsiderar quem quer que seja por não pertencer a mesma tradição religiosa a qual pertencemos. DIVERSIDADE (BIACA, Valmir. 2007) Atividades: 4 1 – Em grupo escreva algumas conclusões deste conto e depois compartilhe com os demais alunos de sua sala. 7 O Som dos atabaques (BIACA, Valmir. 2007) O som dos atabaques, em sua disposição rítmica, é muito utilizado nos rituais Afros. Configuram um mundo sonoro de grande complexidade e riqueza musical. A percussão para eles é a "voz das divindades". Para cada Orixá há um toque específico. Os atabaques podem simbolizar o som primordial, a verdade divina, a fala dos deuses ou divindades. Estão associados ao simbolismo do trovão, que representa o coração do universo. Atabaques são tradicionalmente usados para acompanhar danças em rituais. Eles também representam o bater do coração e, conforme o ritmo utilizado, tem usos diferenciados, inclusive de poderes mágicos. É uma das formas de invocar os Orixás nos rituais. (BIACA, Valmir. 2007) Atividades: 5 1- Pesquise e anote em seu caderno: por que a grande maioria das tradições religiosas utiliza-se dos instrumentos sonoros em seus rituais sagrados? Para tornar mais significativa a aprendizagem poderemos desenvolver algumas atividades para promover um contato mais efetivo com a cultura afro-descendente e 8 correlacionar os contos apresentados com outras narrativas e outros paralelos da cultura ocidental. ( Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br ) Atividades: 6 Pesquisa de paralelos: É possível traçar alguns paralelos que são sempre presentes em todas as culturas e em todas as religiões. Vamos pesquisar sobre a mitologia grega a respeito do deus da morte, o deus Hades, sobre o Egito antigo, pesquisando sobre o Livro dos Mortos. Na Bíblia, pesquisar sobre a história dos hebreus e do monoteísmo. Investigar também o que a sua família crê com relação a este tema. Atividades: 7 Vamos analisar como as imagens dos afro-descendentes são apresentadas nos livros didáticos utilizados na escola, das mais diversas disciplinas, especialmente de História. Como os livros didáticos retratam os afro-descendentes, caso não haja menção sobre a temática, por que não consta? A análise também poderá ser feita com outras fontes disponíveis (documentos), caso seja possível o acesso a eles. Atividades: 8 Pesquisa de imagens e outras narrativas de origem afro-descendente Fazer painéis e/ou cartazes denotando imagens e narrativas de origem afrodescendente. Posteriormente, é possível expor em sala de aula ou em lugar adequado para toda a escola ver. 9 ( Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br ) Os afro-descendentes no Estado do Paraná No Estado do Paraná, a participação dos afrodescendentes foi e é marcante. O início da presença africana no atual território paranaense ocorreu na procura de ouro de aluvião, pois eram práticos na mineração. Posteriormente a presença africana ocorreu no tropeirismo, setor hegemônico da economia entre os séculos XVIII e XIX. Neste período, o número de escravos africanos e afro-descendentes aumentava constantemente. Eram eles que realizavam muitas das tarefas especializadas: carpintaria, marcenaria, tropeirismo, agricultura, entre outras. Também tivemos a presença dos negros no caso da extração do mate, fornecendo mão-de-obra, e resultando em realizações culturais em nosso estado. Porém, ao longo de sua história, no Paraná, tendeu-se a priorizar o relato a respeito dos imigrantes, minimizando-se a presença e a participação da população negra na construção da economia, história, cultura e política do estado, com uma abordagem histórica eurocêntrica. Esse processo, ao tentar excluir os afro-descendentes, distorceu valores, conceitos e a própria identidade paranaense, trazendo conseqüências para o desenvolvimento de sua população, ofuscando um legado que influenciou na formação do Paraná, trazendo conseqüências funestas, como o preconceito e ignorância da cultura alheia, dificultando o respeito à diversidade cultural. Atividades: 9 Pesquisar quais os motivos que levaram à tentativa de exclusão dos afro-descententes da identidade paranaense. Registrar o resultado da pesquisa no caderno e compartilhar com os colegas de classe. 1 Atividades: 10 Produção de Texto Por fim, iremos produzir um texto identificando, apontando e comentando a influência e o legado da cultura e da religiosidade afro-descendente no cotidiano do povo brasileiro. Bibliografia BASTIDE, Roger. As religiões africanas do Brasil. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1989. BITTENCOURT, Circe Maria. Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. BOTAS, Paulo. Xirê – a ciranda dos encantado. São Paulo: Ave Maria, 1997. BRASIL, Art. 5º. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: MEC, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC/Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2004. CASCUDO, L. C. 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Cadernos Temáticos: inserção dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos escolares. Curitiba: SEED, 2005. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: História e cultura afro-brasileira e africana: educação para as relações ético-raciais. Curitiba: SEED, 2006. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de História. Curitiba: SEED, 2006. ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro: umbanda, integração de uma religião na sociedade de classes. Petrópolis: Vozes, 1978. PRANDI, Reginaldo. Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001. PRANDI, R. Ifá, o Adivinho. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002. REZENDE, José. Diversidade religiosa e direitos humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2004. SANTOS, D. M. dos. Contos Negros da Bahia. 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