Universidade Federal do ABC Marccus Victor Almeida Martins Nanoestruturas de óxi-hidróxidos de ferro (III) estabilizadas em matriz polimérica para aplicação em cátodos biomiméticos de biocélulas a combustível DISSERTAÇÃO APRESENTADA COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM NANOCIÊNCIAS MATERIAIS AVANÇADOS. ORIENTADOR: FRANK NELSON CRESPILHO SANTO ANDRÉ 2011 E Universidade Federal do ABC DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Marccus Victor Almeida Martins Nanoestruturas de óxi-hidróxidos de ferro (III) estabilizadas em matriz polimérica para aplicação em cátodos biomiméticos de biocélulas a combustível Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Nanociências e Materiais Avançados, sob orientação do Professor Doutor Frank Nelson Crespilho. SANTO ANDRÉ 2011 4 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade Federal do ABC MARTINS, Marccus Victor Almeida Nanoestruturas de óxi-hidroxidos de ferro (III) estabilizados em matriz polimérica para aplicação em cátodos biomimétricos de biocélulas a combustível / Marcus Victor Almeida Martins — Santo André : Universidade Federal do ABC, 2011. 61 fls. il. 29 cm Orientador: Frank Nelson Crespilho Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do ABC, Programa de Pós-graduação em Nanociências e Materiais Avançados, 2011. 1. Biocélulas a combustível 2. Eletrorredução de peróxido de hidrogênio 3. Biomimético I. CRESPILHO, Frank Nelson. II. Programa de Pós-graduação em Nanociências e Materiais Avançados, 2011, III. Título. CDD 620.5 5 6 Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, de acordo com as observações levantadas pela banca no dia da defesa, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador. Santo André, 11 de agosto de 2011. Assinatura do autor: _____________________________________ Assinatura do orientador: _________________________________ 7 “Mil cairam ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido”. (Salmo 91) 8 Agradecimentos “A Deus, ser supremo”. “Aos meus pais, Carlos e Ana, por sempre acreditar e depositar total confiança nos meus ideais”. “Aos meus irmãos Flávio, Iara e Leonardo pelos laços sanguíneos que nos une”. “A minha namorada Jocélia, por todo amor, carinho e companheirismo”. “A minha Tia Socorro e minha prima Luana”. “ Ao meu avô Zéca e minha avó Dona Olinda”. “ Em memória do meu avô Raimundo e de minha avó Ozima”. “ Aos Tios Robert, Beto, Carlinhos, Júnior, João, Ribamar, Betão, Roberto e Tias, Célia, Sônhia, Rosi e Vera”. “ A todos os meus primos, pois são muitos e não caberiam”. “Ao meu orientador, professor e amigo Dr. Frank N. Crespilho pela excelente orientação e aos aprendizados dos quais levarei comigo”. “ Ao Grupo de Pesquisa em Materiais e Métodos Avançados – GMAv”. “Ao professor Welter C. da Silva, pois como um olheiro” me apresentou a pesquisa científica”. “A UFPI pela minha formação em química”. “A UFABC-Santo André-SP juntamente com o Programa de Pós-Graduação em Nanociências e Materiais Avançados pela oportunidade concedida”. “A todos os professores do departamento de química-UFPI”. “Aos meus amigos de infância, com quem tanto joguei futebol”. “Ao Ultra-Man por ter matado aquele monstro horrível”. “A todos que participaram de forma direta e indireta para a conquista dessa minha etapa”. 9 Dedico essa singela homenagem. 10 i) Resumo Biocélulas a combustível (BCs) são dispositivos eletroquímicos que convertem energia química em energia elétrica na presença de biocatalizadores. No caso de BCs enzimáticas, existem algumas limitações, tais como alto controle do pH do meio, desnaturação das proteínas em determinados meios, alto custo de produção de algumas enzimas, dificuldades de imobilização da biomolécula, entre outras. No entanto, o desenvolvimento de sistemas biomiméticos, com intuito de substituir as enzimas naturais por sistemas sintéticos, tem se tornado uma realidade no estado da arte em BCs. Assim, este trabalho tem por objetivo sintetizar um novo material que mimetiza enzimas peroxidases que são utilizadas em cátodos de BCs, onde nanopartículas de óxi-hidróxido de ferro (III) estabilizadas pelo polímero polidialildimetilamônio (FeOOH/Fe 2O3-NPsPDAC) foram obtidas pelo método de co-precipitação. Como resultado, obteve-se nanoagulhas FeOOH/Fe2O3 que se aglomeram em colóides esféricos de 20 nm de raio, altamente estabilizadas em PDAC, como demonstraram as imagens Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) e os dados de Espectroscopia Vibracional (FTIR). Avaliou-se a atividade eletroquímica das nanoestruturas por meio da voltametria cíclica, onde um sistema quasi-reversível foi atribuído ao par redox Fe3+/Fe2+. O coeficiente de difusão (D) das nanopartículas de FeOOH/Fe2O3 foi obtido pelas relações de Stokes-Einstein e Randles-Sevcik, obtendo-se os valores de 0,9 × 10-11 m2s-1 e 1,4 × 10-11 m2 s-1, respectivamente. As nanopartículas apresentaram uma elevada atividade eletrocatalítica para a redução de H2O2, sendo que além do aumento da corrente faradaica, também foi observado o deslocamento no sobrepotencial da reação eletroquímica de -0,29 para +0,39V. Por mimetizar uma peroxidase, obteve-se a constante de Michaelis-Menten aparente (Kmapp), com valor de 1,1 mmol L-1. Desta forma, os resultados supracitados obtidos na etapa inicial deste trabalho demonstram que as nanopartículas de FeOOH/Fe2O3 estabilizadas em PDAC são promissoras para atuarem como biomiméticos de enzimas peroxidases, vislumbrando-se a aplicação das mesmas em biocátodos mimétidos de biocéluas a combustível. 11 ii) Abstract Biofuel cells (BFCs) are electrochemical devices that converts a source fuel into an electric current in the presence of biocatalysts. In the case of enzyme BFCs, there are some limitations, such as high control of pH, denaturation of proteins at some conditions, high cost of enzymes, hard ways of bimolecular immobilization, and others. However, the development of biomimetic systems have been used in order to replace natural enzymes into synthetic systems, and it has become a reality in the BFCs state-of-art. Thus, this work aims to synthesize a new material that mimics peroxidase enzymes that are used in cathodes of BFCs, where oxy-hydroxide of iron (III) nanoparticles stabilized on polymer poly(diallyldimethylammonium chloride) (FeOOH/Fe2O3-NPs-PDAC) were obtained by co-precipitation method. It has obtained nano-needles of FeOOH/Fe2O3, with agglomeration in spherical colloids (20 nm in radius). The latter, are highly stable in PDAC matrix, as showed by the images of Transmission Electronic Microscopy (TEM) and Vibrational Spectroscopy (FTIR). We evaluated the electrochemical activity of nanostructures by cyclic voltammetry, where a quasi-reversible redox system was attributed to Fe3+/Fe2+ couple. The diffusion coefficient (D) of FeOOH/Fe2O3-NP obtained by using Stokes-Einstein and Randles-Sevcik equations were 0.9 × 10-11 m2s-1 and 1.4 × 10-11 m2s-1, respectively. The nanoparticles showed a high electrocatalytic activity towards the reduction of H2O2; besides the increase of the faradaic current of the electrochemical reaction the overpotential shifting (from -0.29 to 0.39 V) was also observed. Whereas the FeOOH/Fe2O3-NP is a biomimetic peroxidase enzyme, it was obtained the constant apparent Michaelis-Menten about 1.1 mmol L-1. Thus, the abovementioned results obtained shows that the nanoparticles of FeOOH/Fe2O3 stabilized in PDAC are promising to act as biomimetic peroxidase, opening up new pathways in order to buildup biocathodes for BFCs. 12 Sumário 1. Introdução......................................................................................................................18 1.1 Biocélulas a Combustível.............................................................................................18 1.2 Transferência de Carga entre Biomoléculas e a Superfície Eletródica...................21 1.3 Biocátodos para Redução de Peróxido de Hidrogênio..............................................22 1.4 O Papel de Compostos a Base de Óxido de Ferro na Redução de Peróxido de Hidrogênio...........................................................................................................................23 1.5 Materiais Biomiméticos...............................................................................................24 2. Objetivos .........................................................................................................................27 2.1 Objetivo Geral..............................................................................................................27 2.2 Objetivo Específico.......................................................................................................27 3. Materiais e Métodos.......................................................................................................28 3.1 Materiais e Reagentes..................................................................................................28 3.2 Procedimento Experimental........................................................................................28 3.2.1 Síntese das FeOOH/Fe2O3-NPs................................................................................29 3.3 Técnicas de caracterização..........................................................................................29 3.3.1 MET e FTIR...............................................................................................................29 3.3.2 Espectroscopia Eletrônica UV-VIS de Nanoestruturas.........................................30 3.3.3 Voltametria Cíclica para Caracterização de Bioeletrodos..... ..............................33 4. Resultados e Discussão...................................................................................................35 4.1 Síntese das FeOOH/Fe2O3-NPs...................................................................................35 4.2 UV-VIS..........................................................................................................................36 4.3 FTIR..............................................................................................................................37 4.4 MET...............................................................................................................................40 4.5 Voltametria Cíclica de Suspensão de Nanopartículas...............................................41 13 4.6 Eletrorredução de H2O2 para Aplicações em Biocátodos Miméticos......................46 5. Conclusão........................................................................................................................51 6. Propostas para Trabalhos Futuros...............................................................................52 7. Referências .....................................................................................................................53 14 Lista de Abreviaturas e símbolos D..............................................................Coeficiente de difusão aparente (m2 s-1) E...............................................................Potencial (V ou mV) Epa............................................................Potencial de pico anódico (V ou mV) Epc............................................................Potencial de pico catódico (V ou mV) FeOOH/Fe2O3-NPs.................................Nanopartículas de óxi-hidróxido de ferro I................................................................Corrente (A) Ipc.............................................................Corrente de pico catódico Ipa.............................................................Corrente de pico anódico ITO..........................................................Óxido de estanho e índio J...............................................................Densidade de corrente (A cm-2 ou A cm-2) Kmapp.......................................................Constante aparente de Michaelis-Menten MET........................................................Microscopia Eletrônica de Transmissão NPs..........................................................Nanopartículas PDAC......................................................Cloreto de polidialildimetilamônio UV-VIS...................................................Ultravioleta e visível VC...........................................................Voltametria Cíclica V..............................................................Volts v...............................................................Velocidade de varredura abs..........................................................Coeficiente de absorção ext..........................................................Coeficiente de extinção spa.........................................................Coeficiente de espalhamento φ.............................................................Fluxo de difusão .............................................................Vibração de deformação angular .............................................................Vibração de estiramento s............................................................Vibração de estiramento simétrico as...........................................................Vibração de estiramento assimétrico 15 Lista de Figuras Figura 1 – (a) Experimentos de Galvani mostrando a contração muscular na perna de uma rã em função da passagem de corrente elétrica e (b) protótipo de uma biocélula a combustível de açúcares acoplado a um dispositivo eletrônico desenvolvida no laboratório da SONY..............................................................................................................................18 Figura 2 – (a) Estrutura do FAD no seu estado oxidado e (b) do FAD no estado reduzido ou FADH2.............................................................................................................................20 Figura 3 – Representação da (a) estrutura da GOx e do (b) esquema de uma biocélula com enzimas imobilizadas na superfície de eletrodos.................................................................21 Figura 4 – Representação esquemática da (a) TDE e (b) transferência mediada de elétrons por espécies redox................................................................................................................22 Figura 5 - Representação da estrutura química de complexos funcionalizados com metais no centro...............................................................................................................................25 Figura 6 - Representação dos três estágios da redução eletroquímica da ferritina. (a) Dissolução redutiva do fosfato férrico, (b) dissolução redutiva do óxido férrico hidratado e (c) re-oxidação, levando a nucleação de fosfato de ferro na superfície do eletrodo.................................................................................................................................26 Figura 7 - Representação da síntese das nanopartículas de óxi-hidróxido de ferro (III) na presença do polímero PDAC................................................................................................29 Figura 8 - (a) Solução contendo FeCl3 e PDAC, (b) Suspensão de precipitados após adição de NH4OH e (c) Suspensão de nanopartículas após a estabilização....................................35 Figura 9 - Espectros UV-VIS para a suspensão de FeOOH/Fe2O3-NPs (linha vermelha) e solução de FeCl3 (linha preta)..............................................................................................36 16 Figura 10 - Espectros UV-VIS para a suspensão de FeOOH/Fe2O3-NPs (linha vermelha), solução de FeCl3 (linha preta) e da solução das NPs após a adição de HCl 0,1 mol L -1 (linha azul) e o detalhe mostra o deslocamento para regiões de maior comprimento de onda após a adição do ácido clorídrico.........................................................................................37 Figura 11 – Espectros de FTIR do PDAC (linha preta) e do nanocompósito FeOOH/Fe2O3-NPs (linha vermelha). Detalhe mostra a região do espectro onde ocorreram significativos deslocamentos dos picos após a formação do nanocompósito......................................................................................................................39 Figura 12 – Representação esquemática da interação a nível molecular entre o nitrogênio do polímero PDAC e a nanopartícula de óxi-hidróxido de ferro.........................................40 Figura 13 - Imagens de MET das nanopartículas (a) formando aglomerados estabilizados pelo polímero PDAC e (b) a formação de colóides esféricos com raio médio de 20 nm.........................................................................................................................................41 Figura 14 – Voltamogramas cíclicos do eletrodo de ITO (linha preta) e da suspensão de FeOOH/Fe2O3-NPs (linha vermelha) em H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura de 10 mV s-1. Temperatura: 25 º C.................................................................................................42 Figura 15 – (a) Voltamogramas cíclicos em diferentes velocidades de varredura da suspensão de FeOOH/Fe2O3-NPs em H2SO4 0,1 mol L-1 e (b) dependência das correntes de pico anódico e catódico em função da raiz quadrada da velocidade de varredura. Temperatura: 25 ºC...............................................................................................................43 Figura 16 – Dependência dos potenciais de pico anódico (Epa) e catódico (Epc) em função da velocidade de varredura..................................................................................................43 Figura 17 - Voltamogramas cíclicos do ITO (a) e em diferentes concentrações de FeCl3 (b = 0,25; c = 0,5; d = 0,75; e = 1,25; f = 1,5; g = 2,0 e h = 2,25 mmol L -1) e (b) comportamento linear da dependência das correntes de pico anódico e catódico em função da concentração de FeCl3. Eletrólito H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 10 mV s - 17 1 . Temperatura: 25 °C...........................................................................................................45 Figura 18 – (a) Voltamogramas cíclicos da suspensão de FeOOH/Fe2O3-NPs (linha preta) e da solução de FeCl3 (linha vermelha) em H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 10 mV s-1. Temperatura: 25 °C. b) Ilustração representativa do processo difusional dos íons Fe3+ livre e (c) dos colóides contendo íons Fe3+ adsorvidos na superfície das nanopartículas.......................................................................................................................46 Figura 19 – (a) Voltamogramas cíclicos de suspensão de Fe2O3/FeOOH-NPs na ausência (curva a) e na presença de diferentes concentrações de H2O2 ( b = 1,16; c = 2,32; d = 3,48; e = 5,80; f = 9,12 e g = 11,67 mmol L-1) e (b) dependência das correntes de redução em função do aumento da concentração de H2O2 (estado estacionário, -1,5 V). Solução eletrolítica H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 75 mV s-1. Temperatura: 25 ºC..........................................................................................................................................47 Figura 20 – Gráfico dos duplos recíprocos de Lineweaver–Burk, obtido a partir de dados da Figura 19..........................................................................................................................48 Figura 21 - Voltamogramas cíclicos do eletrodo de ITO (linha preta) sem H 2O2, na presença de 11,67 mmol L-1 de H2O2 (linha azul) e (ITO + FeOOH/Fe2O3-NPs + 11,67 mmol L-1 de H2O2) (linha vermelha). Solução eletrolítica H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 75 mV s-1. Temperatura: 25 ºC...........................................................................49 Figura 22 – Mecanismo eletroquímico proposto para redução de H2O2 na presença e na ausência das FeOOH/Fe2O3-NPs na interface eletrodo/eletrólito........................................50 18 Lista de Tabela Tabela 1- Reagentes utilizados............................................................................................28 Tabela 2 - Vibrações atribuídas ao PDAC e as FeOOH/Fe2O3-NP-PDAC.........................38 19 1. Introdução 1.1 Biocélulas a Combustível A Bioeletroquímica é a área da ciência que investiga processos de transferência de cargas em sistemas biológicos. Estudos realizados no final do século XVIII por Galvani [1], já mostravam os princípios da bioeletroquímica antes da eletroquímica. A Figura 1 (a) representa uma ilustração dos experimentos de Galvani mostrando a contração muscular da perna de uma rã em função da passagem de corrente elétrica. Atualmente a tecnologia das biocélulas a combustível (BCs) [2-4] representa um dos mais avançados estudos envolvendo a bioeletroquímica moderna. A Figura 1 (b) representa quatro unidades de BCs (1) dispostas em série desenvolvida nos laboratórios da SONY. Essas BCs estão acopladas a um dispositivo eletrônico (3) por meio de um transdutor (2). O item 4 representa os dispositivos de saída de som. A produção de energia elétrica nesse dispositivo se dá a partir da catálise de açúcares como glicose e frutose no ânodo por meio de enzimas imobilizadas nos eletrodos. a) b) 4 3 2 1 39 mm Figura 1 – (a) Experimentos de Galvani mostrando a contração muscular na perna de uma rã em função da passagem de corrente elétrica e (b) protótipo de uma biocélula a combustível de açúcares acoplado a um dispositivo eletrônico desenvolvido no laboratório da SONY. [1, 3] Diferente das convencionais células a combustível [5] que operam com catalisadores metálicos, as BCs utilizam biocatalizadores (enzimas ou microorganismos) para acelerar a conversão de energia química em energia elétrica. O conceito de biocélulas 20 a combustível já é conhecido por quase um século desde que a primeira célula microbiana de biocombustíveis foi demonstrada em 1912 por Potter [6]. Nos últimos anos a literatura reportou um grande número de publicações envolvendo BCs com a utilização de enzimas biológicas da classe das oxidases. A primeira biocélula a combustível baseada na enzima glicose oxidase (GOx) como biocatalizador foi desenvolvida em 1964 por Yahiro e coautores [7]. Geralmente, a GOx é empregada em ânodos de BCs para que ocorra a conversão catalítica de glicose em ácido glucônico. O co-fator enzimático da GOx é a Flavina Adenina Dinucleotídeo (FAD) que se encontra no estado oxidado (Figura 2a). Na presença de O2 o FADH2 (Figura 2b) é convertido a FAD, gerando H2O2 como subproduto da reação, como representado nas Equações 1 e 2. Glicose + GOx-(FAD) → Ác. glucônico + GOx-(FADH2) (1) GOx-(FADH2) + O2 → GOx-(FAD) + H2O2 (2) 21 (a) (b) a) b) Figura 2 – (a) Estrutura do FAD no seu estado oxidado e (b) do FAD no estado reduzido ou FADH2. Figura 2 – (a) Estrutura do FAD no seu estado oxidado e (b) do FAD no estado reduzido ou FADH2 Assim, a GOx pode ser aplicada em reações anódicas oxidando moléculas de glicose. O potencial termodinâmico de -0,3 V (vs. Ag/AgCl, pH = 7) do par FAD/FADH2 presente na GOx é suficientemente negativo [8,9], o que permite a aplicação em biodispositivos para geração de energia. A Figura 3 (a) representa a estrutura terciária da GOx onde no centro da enzima está situado o co-fator enzimático FAD. A Figura 3 (b) mostra uma representação esquemática de uma BC genérica com os seus dois compartimentos (anódico e catódico) separados por uma membrana trocadora de prótons. Quando o circuito é fechado ocorre um fluxo de elétrons do ânodo para o cátodo. Porém, todo esse esquema de funcionamento de uma biocélula a combustível é altamente dependente de fatores que estão discutidos no tópico a seguir. 22 e a) - e - V b) e e - - O2 Combustível FAD Produtos Ânodo Membrana H2 O Cátodo Figura 3 – a) Representação da estrutura da GOx. b) esquema de uma biocélula com enzimas imobilizadas na superfície de eletrodos. 1.2 Transferência de Cargas entre Biomoléculas e a Superfície Eletródica A transferência direta de elétrons (TDE) é caracterizada como uma comunicação elétrica entre o sítio da enzima e a superfície eletródica, a partir de reações eletroquímicas (Figura 4a). Para que ocorra a TDE na interface enzima/eletrodo, uma distância mínima deve ser levada em consideração. Estudos reportados na literatura mostraram que para as enzimas Horseradish peroxidase e Laccase, os seus sítios ativos devem estar com uma distância da superfície eletródica de aproximadamente 18 a 20Å [10-11]. Porém, outras limitações impossibilitam a ocorrência da TDE em algumas enzimas, como é o caso da estrutura que enovela o grupo prostético. O grande volume da estrutura terciária de algumas enzimas distancia o co-fator enzimático da superfície do eletrodo, impossibilitando a troca de elétrons. Para eliminar esse problema, modificações de natureza química são feitas na estrutura da enzima [12-14] para facilitar o transporte de cargas. Outra estratégia mais comumente utilizada é o emprego de mediadores redox [1522] (Figura 4 b). 23 a) b) Imobilização da GOx Fc = Ferroceno Figura 4 – a) Representação esquemática da TDE e b) transferência mediada de elétrons por moléculas de ferroceno. 1.3 Biocátodos para Redução de Peróxido de Hidrogênio No compartimento catódico das BCs, geralmente ocorre a redução de O 2 atmosférico por ação de enzimas que possuem metais no seu sítio ativo [4,22,23]. Nos dois compartimentos (cátodo e ânodo), a imobilização de enzimas em um ambiente amigável [24] com alta estabilidade eletroquímica [25] são fatores que devem ser levados em consideração para uma elevada atividade catalítica. Apesar do O2 ser amplamente utilizado para reações catódicas, devido à sua alta disponibilidade no ar atmosférico, a sua utilização, por vezes, limita-se a mecanismos complexos de difusão em eletrólitos líquidos [26], sendo difícil o acesso ao potencial de redução termodinâmico sem usar um metal nobre ou enzimas específicas [27] imobilizadas na superfície do eletrodo. Como alternativa ao O2, outros oxidantes secundários [28] podem ser usados, como H2O2, devido à sua alta solubilidade em eletrólito aquoso e sua facilidade de armazenamento. Entretanto, similarmente às moléculas de O2, há ainda sistemas enzimáticos complexos [25] e/ou partículas de metais nobres na superfície de eletrodos, onde a redução do H2O2 pode ser catalisada eficientemente. A redução de H2O2 tem sido 24 reportada na literatura a partir de enzimas da classe das peroxidases [29,30], principalmente por essas biomoléculas apresentarem átomos de ferro no sítio ativo. 1.4 O Papel de Compostos a Base de Óxido de Ferro na Redução de Peróxido de Hidrogênio Materiais à base de óxidos de ferro têm sido objeto de vários estudos envolvendo a redução eletrocatalítica de peróxido de hidrogênio. Por exemplo, Compton e co-autores [31] mostraram que a atividade catalítica de nanotubos de carbono para redução de peróxido de hidrogênio é atribuída a impurezas de óxidos de ferro e não a efeitos de superfície dos nanotubos, como se pensava anteriormente. Vários outros estudos na literatura mostram o efeito de materiais à base de óxidos de ferro na redução eletrocatalítica de H2O2 [32]. Porém, a aplicabilidade desses materiais catódicos é limitada ao funcionamento do potencial da célula dos biocombustíveis, que são geralmente tão longe do potencial termodinâmico da redução do H2O2. Também, a redução de peróxido de hidrogênio por ação de compostos constituídos por óxidos de ferro é conhecida como processos Fento (reação de íons Fe2+ e Fe3+ com H2O2). Esse pronunciado efeito se dá devido ao aparecimento de radicais hidroxil OH •, que é responsável pela manutenção do ciclo do par Fe2+/Fe3+. [33] 1.5 Materiais Biomiméticos O desenvolvimento de sistemas catalíticos biomiméticos capaz de imitar as propriedades funcionais das enzimas continua a ser um desafio para os pesquisadores. Segundo Schmitt [34], biomimética é a ciência que estuda e imita os métodos, mecanismos e os processos que ocorrem naturalmente. Dentro desse contexto, a modificação química ou a produção artificial de sistemas enzimáticos pode ser aplicada para melhorar a performance catalítica de conversão de substratos em produtos. Muitos estudos envolvendo 25 enzimas naturais [35-39] reportam uma excelente sensibilidade e alta seletividade. Porém, problemas de estabilidade são frequentemente encontrados devido às propriedades intrínsecas das enzimas. Como exemplo de sistemas biomiméticos, Xia e co-autores [40] desenvolveram um sensor não enzimático de glicose a partir de nanofios formados por FeOOH. Um fato interessante é que os autores obtiveram uma alta atividade catalítica para oxidar moléculas de glicose onde a espécie Fe(III) atua como um pseudo grupo prostético segundo as reações: 2Fe (III) +glicose → 2Fe (II) + gluconolactona + H2O2 (3) gluconolactona + H2O → 2H+ + gluconato (4) - 2Fe (II) → 2Fe (III) + 2e (5) Meldrum e co-autores [41] sintetizaram uma proteína artificial magnética, denominado magnetoferritina. A síntese foi baseada por meio da reconstituição de núcleos inorgânicos com a magnetita (Fe3O4) . A proteína magnética formada é biocompatível e age no transporte de fármacos para células cancerígenas. Muitos complexos (Figura 5) [42,43], como as metaloporfirinas, possuem o comportamento catalítico semelhante ao de enzimas com átomos metálicos no centro. Geralmente, a introdução de metais no centro desses complexos atribui uma performance catalítica para susbstratos específicos, semelhantemente ao que ocorre com muitos sistemas biologicamentes naturais. 26 N Cl(CO)3Re N Zn N N N N N N Zn N N N Mn N N Re(CO)3Cl N N N N N N N N Zn N N N N N N Cl(CO)3Re N Zn N N Re(CO)3Cl Figura 5 - Representação da estrutura química de um complexo funcionalizado com metais no centro [42]. Markem e co-autores [44] foi mostraram que algumas ferritinas naturais possuem um comportamento eletroquímico semelhante ao de uma apoferritina constituída de fosfato de ferro no núcleo. Neste trabalho, os autores utilizaram eletrodos de ITO para analisar as etapas redox da apoferritina puderam propor o esquema de interação com a superfície do eletrodo do ITO (Figura 6). 27 a) b) c) Figura 6 - Representação dos três estágios da redução eletroquímica da ferritina. (a) Dissolução redutiva do fosfato férrico, (b) dissolução redutiva do óxido férrico hidratado e (c) re-oxidação, levando a nucleação de fosfato de ferro na superfície do eletrodo. [44] 28 2. Objetivos 2.1 Geral: O objetivo desse trabalho é sintetizar um novo nanomaterial baseado em óxidos e hidróxidos de ferro (III) para eletrorredução de H2O2 em biocátodos miméticos de biocélulas a combustíveis. 2.2 Específicos: 2.1 Sintetizar as FeOOH/Fe2O3-NPs estabilizadas no polímero PDAC; 2.2 Caracterizar por técnicas de UV-VIS, MET, e VC o híbrido FeOOH/Fe2O3-NPsPDAC; 2.3 Verificar a eletroatividade do nanocompósito em meio ácido; 2.4 Estudar o mecanismo de redução de peróxido de hidrogênio na presença das FeOOH/Fe2O3-NPs. 29 3. Materiais e Métodos 3.1 Materiais e Reagentes Para o preparo das soluções, utilizou-se os reagentes listados na Tabela 1. Todas as soluções foram preparadas com água deionizada, obtida a partir de um sistema de purificação Millipore-Q. Tabela 1 - Reagentes utilizados Fórmula Nome Procedência FeCl3 Cloreto de ferro (III) VETEC® NH4OH Hidróxido de amônio Sigma-Aldrich® H2SO4 Ácido sulfúrico VETEC® HCl Ácido clorídrico VETEC® Cloreto de Polidialildimetilamônio (alta massa molecular/ Sigma-Aldrich® PDAC -1 400000-500000 g mol ) 3.2 Procedimento Experimental O procedimento experimental está divido em duas partes. Na primeira (3.2.1), temse a descrição da rota de síntese das nanoestruturas de FeOOH/Fe2O3. No tópico 3.2.2 estão descritas as técnicas e os equipamentos utilizados neste trabalho. Destaca-se a espectroscopia eletrônica na região do ultra-violeta e no visível (UV-VIS) e a voltametria cíclica, que estão descritas mais detalhadamente nos tópicos 3.2.2.1 e 3.2.2.2, respectivamente. 3.2.1 Síntese das FeOOH/Fe2O3-NPs A síntese das FeOOH/Fe2O3-NPs foi baseado no método de co-precipitação [45]. Este método, também citado Rajendran e co-autores [46], consiste na adição de uma base 30 (NaOH, NH4OH) em uma solução contendo íons Fe2+ e Fe3+ para obtenção de um precipitado de cor escura. E seguida, geralmente o precipitado é lavado, seco e re-disperso em uma matriz polimérica. Baseado nesta metodologia, algumas modificações foram realizadas, tendo vista que a obtenção das nanoestruturas ocorreu em uma única rota sintética. FeOOH/Fe2O3-NPs foram sintetizadas a partir da adição de 20 mL de PDAC (1 mol L-1) em 20 mL de FeCl3 50 mmol L-1. Em seguida, adicionou-se 20 mL de NH4OH, (1 mol L-1), onde observou-se a formação de um precipitado. Finalmente, na presença de O2 atmosférico, a solução resultante foi aquecida na temperatura de 60 °C até que todo o precipitado desaparecesse. O esquema da Figura 7 mostra uma representação das etapas de síntese das FeOOH/Fe2O3-NPs. Fe3+Fe3+ Fe3+ 3+ Fe3+ 3+Fe Fe PDAC (1mmol L-1) Agitação Fe3+Fe3+Fe3+ 3+ Fe3+ 3+Fe Fe FeCl3 (50 mmol L-1) NH4OH (1mol L-1) 60 °C, O2 Suspensão de FeOOH/Fe2O3- NPs-PDAC Figura 7 - Representação da síntese das FeOOH/Fe2O3-NP-PDAC. 3.3 Técnicas de Caracterização 3.3.1 MET e FTIR A morfologia, distribuição e tamanho das FeOOH/Fe2O3-NPs foram caracterizadas por microscopia eletrônica de transmissão (MET) utilizando em um microscópio da marca JEOL JEM 2011. As imagens foram obtidas pelo professor Welter Cantanhêde da Silva, no instituto Catalão de Nanotecnologia, Campus da UAB, Barcelona-Espanha. Para obter informações estruturais das FeOOH/Fe2 O3-NPs na presença do polímero PDAC, obteve-se espectros na região do infravermelho. Lâminas de vidro recobertas com finas camadas de ouro foram utilizadas como suporte para a deposição das soluções via drop coating. Os espectros foram obtidos pelo modo de reflectância, porém realizou-se a 31 inversão do eixo Y (reflectância) para uma melhor interpretação das bandas de vibração. Dessa forma, utilizou-se um espectrofotômetro com transformada de Fourier (FTIR) 640IR FT-IR da marca Varian, pertencente à Central Experimental Multiusuários (CEM) da UFABC. 3.3.2 Espectroscopia Eletrônica UV-VIS de Nanoestruturas A técnica de UV-VIS consiste no uso de uma fonte de radiação que alcança a região ultravioleta e visível do espectro. O espectrofotômetro, equipamento utilizado nesse caso, é responsável pela produção de um sinal que corresponde à diferença entre a radiação transmitida por um material de referência e a radiação transmitida por uma amostra com comprimentos de onda selecionados. Geralmente, a base da espectroscopia UV-VIS é a medida da transmitância (T) ou absorbância (A) de soluções (ou suspensões) contidas em células transparentes (cubetas) que seguem um caminho óptico b (cm). Assim, a concentração (c) da espécie absorvente se relaciona linearmente com a absorbância, por meio da seguinte equação de Beer-Lambert (Equação 6). [47,48] (6) onde P e P0 correspondem a potência ou intensidade da radiação. P é a intensidade da radiação emitida pela fonte, enquanto P0 é a intensidade da radiação refletida. [47-49] O espectro de absorção se origina quando as moléculas absorvem radiação por terem elétrons que podem ser excitados a níveis mais altos de energia por absorção de luz. Essa energia pode tanto apresentar comprimento de onda no visível quanto no ultravioleta. Isso faz com que quantidades diferentes de energia sejam absorvidas, dependendo dos níveis vibracionais que os elétrons podem atingir. Sendo assim, o resultado obtido é uma banda de absorção. Em alguns casos, as análises podem ser mascaradas por causa do efeito da radiação espalhada, também chamada de radiação espúria. A radiação espalhada é 32 normalmente constituída de comprimentos de onda os quais o instrumento é altamente sensível e, no caso do sinal de saída produzido pela radiação espúria exceder a do feixe do monocromador, a absorbância medida diz respeito tanto à radiação dispersa como à radiação para a qual o instrumento foi ajustado. Assim, para uma luz mono ou policromática que atinge um meio homogêneo, parte da luz incidente sofre reflexão, parte é absorvida pelo meio e o restante é transmitido. A intensidade da luz normalmente é eliminada pelo uso de um controle, como uma célula de comparação. [47-49] Existem três tipos de transições eletrônicas que categorizam as espécies em absorvedoras, são elas: transições de elétrons π, σ e n; de elétrons d e f; ou transferência de carga. Dando ênfase a absorções envolvendo elétrons d e f, temos que elas ocorrem em muitos íons de metais de transição que absorvem na região UV-VIS do espectro. Para os elementos da primeira e segunda série de metais de transição os elétrons 3d e 4d são os responsáveis pelas transições eletrônicas. [48] Os íons e complexos dos elementos das duas primeiras séries de transição tendem a absorver radiação visível em pelo menos um de seus estados de oxidação, apresentando bandas de absorção freqüentemente largas e fortemente influenciadas por fatores ambientais químicos. No entanto, em se tratando de nanoestruturas em suspensão aquosa, outra abordagem deve ser levada em conta. Segundo o físico alemão Gustav Mie, que traduziu as quatro equações do eletromagnetismo clássico de Marxwell [49,50], o coeficiente de absorção (abs) pode ser expresso como o coeficiente de extinção (ext), segundo a Equação 7: extabsesp (7) Onde, esp corresponde a quantidade de luz que é espalhada pela superfície da nanopartícula. A teoria de Mie [51-53] descreve a dinâmica da interação da luz com a superfície de estruturas que possuem o diâmetro igual ou menor do que o comprimento da 33 luz incidente. Essa teoria tem sido muito aplicada para explicar os fenômenos ópticos de nanopartículas de ouro [54,55]. Em alguns casos a extinção é descrita como atenuação da onda propagada em um meio contendo nanopartículas. A extinção está diretamente relacionada coma secção transversal das nanopartículas esféricas, logo ext pode ser calculado em função do tamanho da nanopartícula. Considerando a intensidade da luz medida absorvida por uma amostra, pode-se escrever: (8) onde an e bn são os coeficientes de Mie e n é a ordem da extinção do multipolo esférico das nanopartículas. Os coeficientes de Mie estão relacionados com a parte real das funções de Riccati-Bessel, em que são considerados o tamanho da partícula e constante dielétrica do meio. Diferentemente das nanopartículas metálicas, nanopartículas de óxidos de ferro em suspensão aquosa geralmente não apresentam um plasmom definido. Muitos trabalhos na literatura [56,57] reportam um elevado espalhamento da linha de base e o desaparecimento da banda de transição eletrônica dos íons precursores (Fe2+ e Fe3+) após a formação das nanopartículas de óxidos de ferro. Dentro desse contexto, a técnica de espectroscopia na região do UV-VIS foi empregada para confirmar a formação das nanopartículas de óxidos de ferro em matriz do polímero PDAC. A solução de FeCl3 (50 mmol L-1) e a suspensões das FeOOH/Fe2O3-NPs foram caracterizadas por UV-VIS, utilizando-se um espectrofotômetro Varian pertencente ao nosso grupo. As soluções e suspensões foram coletadas em uma cubeta de quartzo. 3.3.3 Voltametria Cíclica para Caracterização de Bioeletrodos A voltametria cíclica é uma técnica eletroquímica onde as informações qualitativas 34 e quantitativas de uma espécie química são obtidas a partir do registro de curvas de corrente (I) versus potencial (E) (voltamogramas). A reação eletroquímica de interesse ocorre na superfície de um eletrodo de trabalho, na presença de um eletrodo auxiliar (contra-eletrodo) e um eletrodo de referência. Geralmente, o potencial elétrico aplicado no eletrodo de trabalho corresponde a uma onda triangular. Após a aplicação de uma rampa de potencial linear, a mesma é invertida para trazer o potencial novamente ao seu valor inicial. [58] Para espécies redox em solução, a corrente faradaica observada depende da cinética e de transporte por difusão. A partir da expressão de Randles-Sevcik (Equação 9) [59], parâmetros como difusão das espécies em solução (D) em cm2s-1 e corrente de pico (Ip) em amperes (A) podem ser obtidos, de acordo com a Equação 9. (9) onde A é a área do eletrodo em cm2, é a velocidade de varredura em Vs-1 e Co, a concentração (em mol cm3) das espécies no seio da solução. Como alternativa a equação de Randles-Sevcik, diversos estudos na literatura [60,61] reportam o emprego da equação de Stokes-Einstein (Equação 10), para a obtenção do coeficiente de difusão (D) de espécies em solução. Essa equação fornece a dependência do D de uma partícula esférica, em solução, à diluição infinita, com o seu raio hidrodinâmico (r), com a viscosidade η do solvente e a temperatura T da solução (K é a constante de Boltzmann). [62-64] (10) Dessa forma, a voltametria cíclica foi empregada para investigar a eletroatividade das nanopartículas de óxi-hidróxidos de ferro em solução de ácido sulfúrico (0,1 mol L -1). Todos as análises de VC foram realizadas em um equipamento Autolab Type III, pertencente ao nosso grupo. 35 4. Resultados e Discussão 4.1 Síntese das FeOOH/Fe2O3-NPs A síntese das FeOOH/Fe2O3-NPs estabilizadas no polímero PDAC foi baseada no método de co-precipitação [45,46] com significativas modificações. A Equação 11 representa a reação de síntese das nanopartículas a partir da adição de uma base em uma solução contendo íons férrico. Após a adição da base, ocorreu a formação do hidróxido de ferro (III) na presença do polímero PDAC. Na temperatura de 60 ° C e na presença de O2 atmosférico, ocorreu a redissolução do hidróxido férrico e formação da suspensão de nanopartículas de óxi-hidróxido de Ferro (III). Fe3+ + 3OH- PDAC Fe(OH)3 O2, 60 °C FeOOH-NP pH > 8,0 (11) Fe2O3-NP A Figura 8 mostra uma fotografia das soluções de FeCl3 a), FeCl3 + PDAC + NH4OH (b) e das FeOOH/Fe2O3-NPs em matriz polimérica (c). Observa-se a formação de um precipitado de coloração marrom após a adição de NH4OH, indicando que houve reação. Também, observou-se uma intensa mudança de coloração da solução contendo o precipitado, após o aquecimento na presença de O2, como observado na Figura 8 (c). a) b) c) Figura 8 - a) Solução de FeCl3, b) FeCl3 + PDAC + NH4OH nanopartículas após a estabilização. e c) Suspensão de 36 4.2 Espectroscopia UV-VIS A formação das nanopartículas de óxi-hidróxido de ferro (III) foi monitorada por espectroscopia UV-VIS. A Figura 9 mostra os espectros eletrônicos das transições dos orbitais d-d do íon Fe3+ no aqua-complexo (linha preta) e das FeOOH/Fe2O3-NPs em solução (linha vermelha). Após a formação do nanocompósito, observa-se o desaparecimento da banda em 300 nm e um aumento da linha de base, quando comparado com a solução de FeCl3. Isso revela a formação de nanoestruturas de óxidos de ferro em suspensão aquosa. [65,66] 1,2 ext (abs + esp) 1,0 FeOOH/Fe2O3-NPs 0,8 FeCl3 0,6 0,4 0,2 0,0 300 400 500 600 700 nm Figura 9 - Espectros UV-Vis para a suspensão de FeOOH/Fe2O3-Nps (linha vermelha) e solução de FeCl3 ( linha preta). Para analisar a estabilidade da suspensão aquosa de FeOOH/Fe2O3-NPs em matriz polimérica, adicionou-se HCl 0,1 mol L-1 à solução das FeOOH/Fe2O3-NPs (linha vermelha), onde o pH final foi 2,0. A Figura 10 mostra os espectros obtidos para as FeOOH/Fe2O3-NPs na presença do ácido clorídrico. Observa-se que após a adição do ácido (linha azul) a banda em 300 nm reaparece com baixa intensidade em relação à solução dos íons Fe3+, sugerindo que uma parte do nanomaterial sofre dissolução nesse meio. Entretanto, nota-se que o espalhamento da linha de base permanece, indicando que a outra parte do híbrido permanece estável. Além disso, observa-se na região em destaque da 37 Figura 10 que após a adição de HCl, o máximo da banda das transições eletrônicas do íon Fe3+ sofre um deslocamento (de 294 para 302) para região de maior comprimento de onda. Sugere-se que esse deslocamento pode ser atribuído à presença de mais íons Cl- na esfera de coordenação do Fe3+. ext (abs + esp) m 2n 29 4 1,2 30 nm 1,4 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 300 400 500 600 700 nm Figura 10 - Espectros UV-VIS para a suspensão de FeOOH/Fe2O3-NPs (linha vermelha), solução de FeCl3 (linha preta) e da solução das NPs após a adição de HCl 0,1 mol L -1 (linha azul) e o detalhe mostra o deslocamento para regiões de maior comprimento de onda após a adição do ácido clorídrico. 4.3 Espectroscopia FTIR Para comprovar as interações existentes entre as FeOOH/Fe2O3-NPs e o polímero PDAC, obteve-se espectros de FTIR para observar possíveis reorientações e deslocamentos [67] dos grupos existentes no PDAC após a formação do nanocompósito (Figura 11). As bandas na região de 3400 e 1646 cm-1 são correspondentes aos modo de vibração de estiramento () e deformação angular () do grupo –OH, atribuída á adsorção de moléculas de H2O nas amostras do polímero e do híbrido. No espectro do polímero PDAC (linha preta), observa-se duas bandas em 2940 e 2870 cm-1 devido aos modos de vibração dos grupos –CH2 e –CH3, respectivamente. Na região de 1473 e 1415 cm-1 observa-se duas bandas, devido aos modos de deformação angular dos grupos –CH2 e –CH3, respectivamente. Em 2111 e 1132 cm-1 aparecem duas bandas de intensidade moderada 38 correspondentes aos modos de vibração de estiramento das ligações –CN e C–N, respectivamente. Assim, partindo-se destas atribuições e de outras propostas na literatura [68-70], obteve-se os dados apresentados na Tabela 2. Tabela 2 ˗ Vibrações atribuídas ao PDAC e as FeOOH/Fe2O3-NP-PDAC . Vibração PDAC PDAC + NPs Ref. [71] Ref. [72] Ref. [73] (CH3) cm-1 1384 cm-1 1465 cm-1 1380 cm-1 14501375 cm-1 (CH2) cm-1 cm-1 cm-1 cm-1 as (–CH2) cm-1 2947 cm-1 2900 cm-1 s (–CH3) cm-1 2875 cm-1 cm-1 –CN) cm-1 2000 cm-1 2100 cm-1 C–N) cm-1 cm-1 OH) 1646 cm-1 cm-1 cm-1 cm-1 Importantes modificações nos espectros são observadas quando o PDAC está em contato com as nanopartículas. Na região em destaque da Figura 11, observam-se os deslocamentos nos modos vibracionais dos grupos (-CN,CHe CH2) do PDAC após a formação do nanocompósito, para regiões de menores números de onda. Observa-se, também, que na região em 1132 cm-1 o estiramento da ligação C–N desloca-se para um menor número de onda após a formação do híbrido. Os deslocamentos desses modos vibracionais indicam a existência de uma interação [74,75] entre o monômero do polímero e a superfície das nanopartículas. Também como esperado, no espectro do nanocompósito FeOOH/Fe2O3-NPs-PDAC são observados os estiramentos das ligações Fe-O e O-H dos óxidos de ferro, na região compreendida entre 500 a 600 cm-1 [76]. Reflectância normalizada em 1880 cm -1 39 (-CH2) (-CH3) -CN) (CH3) (C-N) (CH2) 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 2200 2000 1800 1600 1400 1200 1000 Numero de onda/ cm-1 Figura 11 – Espectros de FTIR do PDAC (linha preta) e do nanocomósito FeOOH/Fe2O3NPs (linha vermelha). Detalhe mostra a região do espectro onde ocorreram siginificativas deslocamentos após a formação do nanocompósito. Pelas modificações ocorridas no espectro do PDAC após a formação das FeOOH/Fe2O3-NPs foi possível prorpor um esquema representativo de interação em nível molecular existente entre a superfície da nanopartícula e o polímero. Acredita-se que o nitrogênio, com carga positiva, existente na estrutura do PDAC, interage com a superfície da nanopartícula óxi-hidróxido de ferro, como representado na Figura 12. 40 PDAC FeOOH/Fe2O3-NP Figura 12 – Representação esquemática da interação entre o PDAC e as FeOOH/Fe2O3NP-PDAC. 4.4 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) A partir das amostras sintetizadas obteve-se imagens de MET com o intuito de avaliar a distribuição e o diâmetro médio das NPs. A Figura 13 mostra as imagens com resoluções de 5 e 100 nm. Observa-se na Figura 13 (a) que as nanopartículas estão aglomeradas, formando estrtuturas com formato de nanoagulhas (indicada pela seta vermelha). Também, observa-se o revestimento do polímero PDAC em torno do aglomerado das nanopartículas (região circulada). Um fato interessante é que as nanoagulhas se aglomeram em colóides de aproximedamente 20 nm de diâmetro, como observado no destaque da Figura 13 (b). Essa informação será de grande valia nos experimentos eletroquímicos, uma vez que o coeficiente de difusão é influenciado pelo diâmetro do colóide, como veremos a seguir. 41 a) b) Figura 13 – (a) Imagens de MET das FeOOH/Fe2O3-NPs fomando aglomerados estabilizados pelo polímero PDAC e (b) a formação de colóides esféricos com diâmetro médio de 20 nm. 4.5 Voltametria Cíclica da Suspensão de Nanopartículas A análise eletroquímica do sistema híbrido FeOOH/Fe2O3-NPs-PDAC foi realizada em suspensão aquosa. Em 20 mL de solução eletrolítica (H2SO4, 0,1 mol L-1), adicionou-se 100 L da suspensão de nanopartículas. A Figura 14 mostra os voltamogramas cíclicos do eletrodo de ITO na presença (linha vermelha) e na ausência (linha preta) do nanocompósito. Observa-se claramente a presença de dois processos redox, em 0,25 e 0,85 V, o que caracteriza esse sistema como quase-reversível. Segundo o diagrama de Pourbaix [77], processos eletroquímicos de óxidos de ferro na faixa de pH compreendida entre 0 e 1 e nessa escala de potencial (-0,6 a 1,2 V) são atribuídos a oxidação e redução do par Fe2+/Fe3+. Comportamento semelhante foi observado por Mckenzie e co-autores [26], onde os autores realizaram experimentos de nanopartículas de Fe2O3 em solução de PBS. \para este último, os processos de óxi-redução foram atribuídos às espécies Fe2+ adsorvidas na superfície do substrato de ITO. 42 2 1 J / A cm -2 0 -1 -2 -3 -4 -5 -0,6 -0,3 0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 E/ V vs (Ag/AgCl) Figura 14 – Voltamogramas cíclicos do eletrodo de ITO na ausência (linha preta) e na presença (linha vermelha) das FeOOH/Fe2O3-NPs em H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 10 mV s-1. Temperatura: 25 ºC. Voltamogramas cíclicos em diferentes velocidades de varredura foram obtidos para analisar a cinética de transferência de cargas. Observa-se na Figura 15 (a) que o aumento da velocidade de varredura provoca um aumento das correntes de pico anódico (Ipa) e catódico (Ipc). Esse aumento é linear em função da raiz quadrada da velocidade ( 1/2) (Figura 17 b), indicando que a reação é governada por difusão [59] das espécies Fe2+/Fe3+ adsorvidas no nanocompósito, como descrito na Equação 12. pH < 8,0 Fe2O3- NP 3+ Fe /FeOOH- NP Meta-estável ee- Fe2+/FeOOH- NP (12) 43 10 a) 12 Jpa 5 J / A cm-2 6 JA cm-2 b) 0 10 mVs-1 -6 -12 0,4 0,6 Jpc -15 -18 0,2 -5 -10 300 mVs-1 -0,2 0,0 0 0,8 1,0 1,2 -20 0 5 E/ V vs (Ag/AgCl) 10 15 1/2 -1 / mVs Figura 15 – (a) Voltamogramas cíclicos em diferentes velocidades de varredura da solução-fase das FeOOH/Fe2O3-NPs em H2SO4 0,1 mol L-1 e (b) dependência das correntes de pico anódica e catódica em função da raiz quadrada da velocidade de varredura. Temperatura: 25 ºC. Também, com a variação da velocidade de varredura, observam-se os deslocamentos dos potenciais de pico anódico (Epa) e catódico (Epc). Por meio da Figura 16 (a) e (b), verifica-se que o aumento da velocidade de varredura provoca o deslocamento de Epa para potenciais mais positivos e Epc para potenciais mais negativos, característico de sistemas quase-reversíveis [58,59]. 1,15 a) 0,24 b) 0,22 1,05 Epc / V Epa / V 1,10 1,00 0,95 0,20 0,18 0,90 0,16 0,85 0,14 0 50 100 150 200 250 300 -1 mVs 0 50 100 150 200 250 300 -1 mVs Figura 16 – Dependência dos potenciais de pico anódico (Epa) e catódico (Epc) em função da velocidade de varredura. 44 Inicialmente, parâmetros intrínsecos do sistema nanoparticulado, como concentração exata das nanopartículas em solução, não permitem o emprego da equação de Randles-Sevcik [59] para a obtenção do coeficiente de difusão (D). Entretanto, McKenzie e co-autores [26] estudaram a eletroquímica direta de colóides de óxidos de ferro em ITO e propuseram que o coeficiente de difusão pode ser calculado pela expressão de Stokes– Einstein [62,63] (Equação 10) tendo por base a T (°C), vicosidade = 10–3 Pa s (a 24 °C) e raio da nanopartícula (r). D = kT/6πηr (10) O valor do raio da nanopartículas utilizado na equação de Stokes–Einstein foi obtido a partir das imagens de transmissão (ver Figura 13), onde se observa a formação de colóides esféricos com raio de 20 nm, resultando em um coeficiente de difusão de 0,9 x 1011 ms-1. Esse valor é menor do que aqueles obtidos para moléculas convencionais, como ferroceno [78]. Para a obtenção do D por meio da equação Randles-Sevcik, parâmetros como concentração das NPs devem ser levados em consideração. Dessa forma, realizou-se experimentos para obtenção de uma de curva de calibração a partir de sucessivas adições de cloreto férrico (FeCl3) no eletrólito H2SO4 0,1 mol L-1. Observa-se na Figura 17 (a) que o aumento da concentração de FeCl3 provoca um aumento linear (Figura 17 b) das correntes de pico. A partir desses estudos, estimou-se que 10% de Fe3+ do híbrido FeOOH/Fe2O3-NPs-PDAC se dissolve no eletrólito, sendo que o restante do material permanece na forma de nanopartículas, como já confirmado nos experimentos de UV-VIS apresentados no Tópico 4.2. O valor obtido para o coeficiente de difusão aparente foi de 1,4 × 10-11 m2.s-1, muito próximo ao calculado pela expressão de Stokes–Einstein. 45 45 30 30 b) a) -2 0 a -15 -30 J / A cm J / A cm -2 15 h -45 0 -15 -30 Jpc -45 -60 -75 Jpa 15 -60 -0,3 0,0 0,3 0,6 0,9 E / V vs (Ag/AgCl) 1,2 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 Concentração de FeCl3/ mmol L -1 1,8 Figura 17 - Voltamogramas cíclicos do ITO puro (a) e em diferentes concentrações de FeCl3 (b = 0,25; c = 0,5; d = 0,75; e = 1,25; f = 1,5; g = 2,0 e h = 2,25 mmol L-1) e (b) o comportamento linear da dependência das correntes de pico anódico e catódico em função da concentração de FeCl3. Eletrólito H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 10 mV s1 .Temperatura: 25 °C. A partir de soluções equimolares das FeOOH/Fe2 O3-NPs e do FeCl3, comparou-se os voltamogramas cíclicos na mesma velocidade de varredura (10 mV s -1). Observa-se claramente na Figura 18 (a) que as correntes de pico para a solução de FeCl3 (linha vermelha) são maiores quando comparadas com as do sistema FeOOH/Fe 2O3-NP-PDAC (linha preta). Para a solução de FeCl3, os íons Fe3+ livre no eletrólito apresentam processos faradaicos maiores devido a maior difusão das espécies (D da ordem de 10-6). Entretanto, para as FeOOH/Fe2O3-NPs, o D calculado foi da ordem de 10 -11, sugerindo que a difusão é referente a todo o colóide contendo espécies Fe3+ adsorvidas na superfície das nanopartículas. A Figura 18 (b) ilustra uma representação esquemática do comportamento difusional do íon livre Fe3+ e (c) do colóide contendo íons Fe3+ adsorvidos na superfície das nanopartículas na interface eletrodo/eletrólito. Esse comportamento é previsto pela primeira lei de Fick [59] onde o fluxo de difusão (φ) é diretamente proporcional ao gradiente de concentração (∂C/∂x), representada na Equação 13. A constante de proporcionalidade (D) é o coeficiente de difusão e o sinal negativo na equação indica que o 46 fluxo ocorre na direção contrária à do gradiente de concentração. (13) 7 b) a) J / A cm -2 3 0 -3 c) -7 -10 -13 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 E / V vs Ag/AgCl Figura 18 – (a) Voltamogramas cíclicos de solução das FeOOH/Fe2O3-NPs-PDAC (linha preta) e da solução de FeCl3 (linha vermelha) em H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 10 mV s-1. Temperatura: 25 °C. b) ilustração representativa do processo difusional dos íons Fe3+ livre e (c) dos colóides contendo íons Fe3+ adsorvidos na superfície das NPs. 4.6 Eletrorredução de H2O2 para Aplicações em Biocátodos Miméticos Testes para eletrorredução de peróxido de hidrogênio foram realizados a fim de se observar o potencial de aplicação do sistema FeOOH/Fe2O3-NPs-PDAC em cátodos de biocélulas a combustível. A Figura 19 (a) mostra a resposta eletrocatalítica das nanopartículas em diferentes concentrações de H2O2 (1,16 a 11,67 mmol L-1). Observa-se que o aumento da concentração de H2O2 na solução eletrolítica provoca um aumento nas correntes de redução do sistema, indicando uma alta atividade catalítica dos colóides em reduzir moléculas de H2O2. Um fato interessante é que a performance catalítica do sistema híbrido é de forma similar à sistemas enzimáticos de peroxidases [79]. Esse comportamento pode ser confirmado na Figura 19 (b) quando se constrói um gráfico das correntes de redução em estado estacionário (E = -0,15 V) em função da concentração de H2O2. 47 a) 0 Jo = Jmáx -20 a -30 Aumento da concentração de H2O2 -45 g -60 -J (A. cm-2) -15 J /A.cm-2 b) -22 -18 -16 -14 -12 -75 -0,6 -0,3 0,0 0,3 0,6 E /V vs (Ag/AgCl) 0,9 1,2 -10 0 2 4 6 8 10 12 -1 Concentraçao de H2O2(mmol L ) Figura 19 – (a) Voltamogramas cíclicos das Fe2O3/FeOOH-NPs na ausência (curva a) e na presença de diferentes concentrações de H2O2 ( b = 1,16; c = 2,32; d = 3,48; e = 5,80; f = 9,12 e g = 11,67 mmol L-1) e (b) dependência das correntes de redução em função do aumento da concentração de H2O2 (estado estacionário, -0,15 V). Solução eletrolítica H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 75 mV s-1. Temperatura: 25 ºC. Outro fator importante que pode ser obtido a partir da Figura 19 (b) é a constante de Michaelis–Menten (Km). Muitas enzimas exibem um comportamento hiperbólico da velocidade inicial da reação (V0) em função da concentração inicial do substrato [S]0 (Equação 14). Aplicando essa equação para a Figura 19 (b), obtêm-se a Equação 15, onde (J0) é a densidade de corrente e C0 é a concentração inicial de peróxido de hidrogênio. A partir de tratamentos algébricos da Equação 16, obtêm-se a Equação de Lineweaver–Burk, denominada de gráfico dos duplos recíprocos, (Figura 20) representada por uma linha reta. Essa linha tem uma inclinação de (Kmapp/Jmáx), um intercepto de (1/Jmáx) no eixo de (1/J0) e um intercepto de (-1/Kmapp) no eixo de (1/C). [80] O baixo valor de Km obtido (1,1 mmol L-1) está próximo a valores obtidos na literatura para as enzimas peroxidases [79,81]. 48 (14) (15) (16) -1 -1/J (mA ) 0,10 app -1 (Km ) 0,06 0,02 -0,8 -0,4 0,0 0,4 0,8 1,2 -1 1/C (mmol L) Figura 20 – Gráfico dos duplos recíprocos de Lineweaver–Burk, obtido a partir de dados da Figura 21. A Figura 21 mostra os voltamogramas cíclicos do eletrodo de ITO na ausência (linha azul) e na presença (linha vermelha) das FeOOH/Fe2O3-NPs, ambos na concentração de 11,67 mmol L-1 de H2O2. Observa-se que na presença das nanopartículas o potencial de redução de peróxido é de 0,39 V vs. Ag/AgCl em H2SO4 (0,1 mol L-1). 49 0 0,3 9 V -0,2 9 V -10 J /A.cm -2 -20 -30 -40 -50 -60 -70 -0.6 -0.3 0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 E /V (Ag/AgCl) Figura 21 – Voltamogramas cíclicos do eletrodo de ITO (linha preta) sem H2O2, na presença de 11,67 mmol L-1 de H2O2 (linha azul) e (ITO + Fe2O3/FeOOH-NPs + 11,67 mmol L-1 de H2O2) (linha vermelha). Solução eletrolítica H2SO4 0,1 mol L-1. Velocidade de varredura: 75 mV s-1. Temperatura: 25 ºC. O potencial de 0,39 V alcançado na redução de H2O2 pode estar atribuído ao íon Fe3+, adsorvido na superfície das nanopartículas, atuar como um “pseudo” co-fator enzimático, mimetizando algumas enzimas que possuem íons de ferro [82-84] no sítio ativo. Vale apena ressaltar que a redução de moléculas de H 2O2 é também uma propriedade dos processos de reagente de Fento (Equação 17), onde há a formação do radical hidroxil (HO•). [85] (17) Sob outro ponto de vista, admite-se que o sítio Fe3+, pode ser regenerado por meio de radicais hidroxil (HO•) no sistema, fechando-se um ciclo catalítico que opera enquanto existir peróxido de hidrogênio. [86,87] A Figura 22 apresenta esquematicamente um resumo dos processos eletroquímicos envolvendo a redução de peróxido de H 2O2 na presença das nanopartpiculas. 50 (H2O2) H2 O E = -0,29 V EF = 0,39 V vs Ag/AgCl) H+ FeOOH/Fe2O3-NP EF E = 0,39 V = 0,39 V vs Ag/AgCl) E = 0,39 V Figura 22 – Mecanismo eletroquímico proposto para redução de H2O2 na presença e na ausência das FeOOH/Fe2O3-NP na interface eletrodo/eletrólito. 51 5. Conclusão As nanopartículas de oxi-hidróxidos de ferro obtidas apresentaram boa estabilidade em matriz de PDAC como observado por MET e UV-VIS. Observou-se a formação de nanoagulhas e colóides esféricos nas imagens de MET. Por meio desses resultados, calculou-se o coeficiente de difusão a partir das equações de Stokes-Einstein e RandlesSevcik, onde se obteve os valores de 0,9 x 10-11 m s-1 e 1,4 × 10-11 m2 s-1, respectivamente. Utilizando-se a voltametria cíclica estimou-se que 10% dos íons Fe3+ do nanocompósito sofrem dissolução no meio ácido. A eletrorredução de H2O2 na presença das nanopartículas provocaram uma diferença de potencial de 0,68 V. A partir da Equação de Michaelis-Menten, obteve-se Kmapp igual a 1,1 mmol L-1, indicando uma alta cinética eletrocatalítica de H2O2. Os íons férrico adsorvidos na superfície das nanopartículas atuam como sítio ativo para redução de moléculas de H2O2, simulando um pseudo-grupo prostético. As nanopartículas de óxi-hidróxido de ferro apresentaram-se como um promissor material para ser aplicado em cátodos de biocélulas a combustível para produção de energia elétrica. 52 6. Propostas para Trabalhos Futuros 6.1 Identificar as fases óxido e hidróxido de ferro presentes no nanocompósito por Difração de Raios-X. 6.2 Analisar as propriedades eletroquímicas e espectroscópicas de filmes automontados. 6.3. Identificar a presença de radicais HO• no processo de redução de peróxido por Ressonância Paramagnética Eletrônica (EPR). 53 7. Referências [1] M. Piccolino, Trends Neurosci. 20 (1997) 443. [2] J. A. Cracknell, K. A. Vincent, F. A. Armstrong, Chem. Rev. 108 (2008) 2439. [3] Y. Tokita, T. Nakagawa, H. Sakai, T. Hatazawa. SONY‟s biofuel cell. 213 th ECS Meeting, Abstract nº 258, The Electrochemical Society. EUA, Arizona, 2008. [4] J. Kim , H. Jia , P. Wang, Biotechnol. Adv. 24 (2006) 296. [5] L. Carrette, K. A. Friedrich, U. Stimming, Fuel cels 1 (2001) 5. [6] M. C. Potter, Proc. R. Soc. London Ser. B 84 (1911) 260. [7] A. T. Yahiro, S. M. Lee, D. O. Kimble, Biochim. Biophys. Acta 88 (1964) 375. [8] S.C. Barton, J. Gallaway, P. Atanasov, Chem. 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Kwan, Kinetics of the Fe (III) initiated decomposition of hydrogen peroxide: experimental and model results, Ph.D. Thesis, MIT, USA, 2003. 58 Apêndice Atividades desenvolvidas no período entre 2009-2010 Artigos publicados M. V. A. Martins, C. Bonfin, W. C. Silva, F. N. Crespilho, Iron (III) Nanocomposites for Enzyme-Less Biomimetic Cathode: A Promising Material for Use in Biofuel Cells Electrochem. Commun. 12 (2010) 1509. W.S. Alencar, F. N. Crespilho, M. V. A. Martins, V. Zucolotto, O. N. Oliveira Jr., W.C. Silva. Phys. Chem. Chem. Phys. 11 (2009) 5086. Apresentações de trabalhos em congressos, encontros e simpósios 1. M. V. A. Martins, T. R. L. C. Paixão, M. P. Milazzotto, F. N. Crespilho, "Microscopia Eletroquímica de Varredura (SECM) em Microlitografia Polimérica: Novas Plataformas Aplicadas em Single Cell", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 2. M. V. A. Martins, B. C. S. Novaes, F. N. Crespilho, "Síntese Nanopartículas de Prata na Presença de Aminoácidos", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 3. M. V. A. Martins, T. R. L. C. Paixão, M. P. Milazzotto, F. N. Crespilho, “Microscopia Eletroquímica de Varredura (SECM) em Microlitografia Polimérica: Novas Plataformas Aplicadas em Single Cell", II Workshop do Instituto Nacional de Eletrônica e Orgânica – INEO, Nazaré Paulista-SP, 2010. 59 4. M. V. A. Martins, J. M. Palermo, K. T. Oliveira, F. N. Crespilho, "Efeito da Adsorção Supramolecular de Porfirina de Zinco em Eletrodos Metálicos e Filmes finos Automontados", II Encontra da Rede de Bionanomedicina– Bionanomed, Águas de São Pedro-SP, 2009. 5. M. V. A. Martins, A. R. Pereira, F. N. Crespilho, “Interação molecular entre a enzima glicose oxidase e nanopartículas de paládio” I Workshop- Ciência & Tecnologia Química. UFABC, Santo André, 2009. 60 Trabalhos publicados em congressos, encontros e simpósios 1. C. Bonfim , M. V. A. Martins, W. D. Gonçalves, F. N. Crespilho, "Estabilidade e efeito eletrocatalítico de nanopartículas de Fe2O3 em suspensão aquosa estabilizadas em polieletrólitos". 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 2. M. V. A. Martins, C. Bonfim, F. N. Crespilho. "Iron oxide/Hydroxide Nanocomposite for Application in Biofuel Cells". IX Encontro da SBPMat – Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais-Ouro Preto-Mg 2010. 3. M. V. A. Martins, T. R. L. C. Paixão, M. P. Milazzotto, F. N. Crespilho, "Microscopia Eletroquímica de Varredura (SECM) em Microlitografia Polimérica: Novas Plataformas Aplicadas em Single Cell", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 4. A. G. Coelho, A. T. B. Silva, M. V. A. Martins, F. N. Crespilho, W. C. Silva da, "Transporte de Carga em Nanopartículas de Ouro Estabilizadas em Quitosana", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 5. A. R. Pereira, M. V. A. Martins, F. N. Crespilho "Estudo Cinético da Formação de Nanopartículas de Paládio em Meio Aquoso Utilizando a Enzima Glicose Oxidase", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 6. B. C. S. Novaes. M. V. A. Martins, F. N. Crespilho, "Síntese Nanopartículas de Prata na Presença de Aminoácidos", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 61 7. E. C. Nascimento, M. V. A. Martins, I. L. Nantes, K. C. Mugnol, F. N. Crespilho, "Transferência Eletrônica em Ftalocianinas de Cobalto na Presença de Vesículas Gigantes", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 8. E. V. Almeida, M. V. A. Martins, F. N. Crespilho, J-S. Yu, R. M. Iost,"Propriedades Eletroquímicas de Nanocápsulas de Carbono Funcionalizadas com Nanopartículas de Prata e Aminoácido", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 9. J. C. C. de Castro, M. V. A. Martins, F. N. Crespilho, "Estudo Eletroquímico Utilizando Eletrodos Modificados com Nanotubos de Carbono Funcionalizados com Polialilamina (PAH)", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 10. J. M. Palermo, M. V. A. Martins, K. T. Oliveira, F. N. Crespilho, "Efeito da Adsorção Supramolecular de Porfirina de Zinco em Eletrodos Metálicos e Filmes finos Automontados", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 11. V. A. N. Carvalho, L. Q. Souza, M. V. A. Martins, F. N. Crespilho, F. L. Souza, "Estudo eletroquímico de nanoestruturas orientadas de FeO(OH)", 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia-SP, 2010. 12. M. V. A. Martins, T. R. L. C. Paixão, M. P. Milazzotto, F. N. Crespilho, “Microscopia 62 Eletroquímica de Varredura (SECM) em Microlitografia Polimérica: Novas Plataformas Aplicadas em Single Cell", II Workshop do Instituto Nacional de Eletrônica e Orgânica – INEO, Nazaré Paulista-SP, 2010. 13. M. V. A. Martins, J. M. Palermo, K. T. Oliveira, F. N. Crespilho, "Efeito da Adsorção Supramolecular de Porfirina de Zinco em Eletrodos Metálicos e Filmes finos Automontados", II Encontra da Rede de Bionanomedicina– Bionanomed, Águas de São Pedro-SP, 2009. 14. A. R. Pereira, M. V. A. Martins, R. M. Iost, F. N. Crespilho “Estudo Cinético da Formação de Nanopartículas de Paládio Estabilizadas pela Enzima Glicose Oxidase” I Simpósio em Nanociência e Materiais Avançados, UFABC, Santo André, 2010. 15. A. R. Pereira, M. V. A. Martins, R. M. Iost, F. N. Crespilho, “Synthesis of Palladium Nanoparticles Stabilzed on Glucose Oxidase Enzyme” IX Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materias, Ouro Preto-MG, 2010. 16. A. R. Pereira, M. V. A. Martins, F. N. Crespilho, “Interação molecular entre a enzima glicose oxidase e nanopartículas de paládio” I Workshop- Ciência & Tecnologia Química. UFABC, Santo André, 2009.