O SETOR FARMACÊUTICO E
OS RISCOS A SAÚDE DOS
TRABALHADORES
Novas tecnologias - novos
desafios – nanotecnologia
Arline Sydneia Abel Arcuri
28 e 29 de março de 2007
Nanotecnologia está sendo anunciada
como uma nova revolução
tecnológica, mas tão profunda que
irá atingir todos os aspectos da
sociedade humana.
Ela envolve o estudo e a manipulação
da matéria em uma escala muito
pequena, geralmente na faixa de 1 a
100 nanometros
um metro = 1 bilhão de nanometros
"Nano" é um prefixo que vem do grego
antigo e significa "anão".
Imagine uma praia começando em
Salvador, na Bahia, e indo até Natal,
no Rio Grande do Norte.
Um grão de areia está para esta praia
assim como um nanômetro está para
o metro.
Outras comparações:
O cabelo humano é 1000 vezes
maior do que as partículas com
100 nanometros.
Muitos vírus são
aproximadamente do tamanho
de algumas nanopartículas.
Devido ser tão pequenas, elas têm
uma grande relação
superfície/volume que é responsável
por novas propriedades físicas e
químicas.
Isto inclui um aumento da reatividade
química na superfície da
nanopartícula
Neste nível microscópico:
as propriedades elétricas, óticas e magnéticas dos
produtos químicos podem mudar.
O ouro muda de cor em vários níveis nano.
Substâncias que são:
• estáveis em dimensões maiores tornam-se
reativas;
• isolantes podem se tornar condutoras;
• opacas podem se tornar transparentes.
Conhecer as características das substâncias em
tamanho maior não fornece informações
compreensíveis sobre suas propriedades no
nível nano.
As mesmas propriedades que alteram as
características físicas e químicas das
nanopartículas, podem também, provocar
conseqüências não pretendidas quando elas
entram em contato com o organismo humano.
Um material perfeitamente seguro para ser
manuseado em tamanho maior, pode facilmente
penetrar na pele na forma de nanopartícula e se
tornar um aerossol e entrar no organismo via
respiratória. A reatividade devido a grande área
superficial pode interagir com sistemas
biológicos de formas desconhecidas
Na área de cuidados à saúde, na qual se
insere a industria farmacêutica, as
aplicações biomédicas da nanotecnologia
podem ser classificadas em:
• sistemas de diagnóstico, que incluem
biochips e “kits de diagnóstico”
(nanoarrays);
• biomateriais, que incluem a produção de
tecidos sintéticos;
• sistemas terapêuticos, que incluem
medicamentos que levam o principio
ativo diretamente ao alvo e
• terapia genética.
Os campos atuais de pesquisa incluem:
• síntese de nanopartículas,
• nanoestrutura biomiméticas (que imitam
a matéria viva) baseadas em estruturas
biológicas que ocorrem naturalmente,
• interfaces eletrônica-biológicas,
• métodos precoces de detecção de
doenças,
• biotecnologia molecular e
• precursores para a produção de tecidos.
Aplicações potenciais da nanotecnologia
neste setor incluem:
• biosensores para diagnóstico e
monitoramento de pacientes,
• síntese de novos produtos
farmacêuticos,
• desenvolvimento de melhores materiais
biocompatíveis para transplantes de
durabilidade aumentada, regeneração
ou substituição de órgãos e tecidos, e
• métodos diagnósticos e terapêuticos
baseados na informação genética
Na verdade, toda a farmacologia pode obter
avanços revolucionários advindos da
Nanociência e da Nanotecnologia:
os princípios ativos das drogas podem ser
agregados à superfície ou encapsulados no
interior de macromoléculas projetadas para
serem absorvidas por órgãos específicos do
corpo, ou por órgãos afetados por
determinadas doenças, onde finalmente
liberarão a droga. Dessa forma, doses muito
menores de drogas podem se tornar
efetivas, com a conseqüente drástica
redução dos efeitos colaterais
As informações genéticas são codificadas nas
moléculas de DNA presentes em células
simples. O aumento do conhecimento da
composição genética do paciente permitiria
preparar terapias individuais
O alvo final destes esforços é substituir a ênfase
no tratamento da doença somente quando a
manifestação clínica ocorre, pela detecção
precoce e a prevenção antes que a saúde
esteja deteriorada de forma significativa
Em alguns eventos internacionais sobre
a implicação da nanotecnologia e seu
impacto na biomedicina e ciências da
vida e meio ambiente, concluiu-se que
embora possa ser antecipado como
provável uma significativa melhora na
saúde pública, há dados razoáveis para
avaliar que também isto pode resultar
em conseqüências adversas
imprevisíveis
Há uma séria falta de conhecimento sobre os
aspectos de segurança desta tecnologia.
É bem conhecido, por exemplo, que os efeitos
toxicológicos das partículas ultrafinas são
muito mais severos conforme diminui o seu
tamanho mas pouco é conhecido sobre o
mecanismo pela qual as partículas
extremamente pequenas migram para dentro
do corpo e se acumula em tecidos e órgãos.
Em função disto, não há dúvidas de que devem
ser tomados cuidados especiais com relação
aos efeitos das nanopartículas quando
inaladas ou ingeridas.
Existem propostas de se explorar a
habilidade das nanopartículas de
migrarem ao longo dos axônios
nervosos e dendritos e cruzarem a
barreira sanguínea do cérebro para
propósitos terapêuticos, assim é
lógico também supor que
nanopartículas tóxicas possam
seguir rotas similares quando
penetram no corpo
Outro aspecto a ser considerado é a
questão ética.
Por exemplo, o screening genético
pode ser utilizado para propósitos
discriminatórios por empregadores
ou companhias de seguro.
Há necessidade de estreitar o balanço
entre a prevenção de doenças
ocupacionais e a necessidade de
preservar a liberdade individual e
evitar a discriminação no emprego e
no seguro sob bases genéticas
Assim:
O desenvolvimento destas tecnologias possui
questões éticas, legais e sociais importantes
com respeito as direito à privacidade, ao
principio da informação consentida e aos
impactos sociais e ambientais.
Entre as principais preocupações estão:
• o estabelecimento de amplos bancos de
dados genéticos e
• a possível toxicidade, e carcinogenicidade
das nanopartículas, deliberada ou
acidentalmente introduzidas no corpo ou
liberada no meio ambiente
Vários grupos de pesquisa no Brasil,
em universidades e institutos de
pesquisa vêm desenvolvendo
estudos em praticamente todas as
áreas relacionadas acima de
produtos aplicáveis à saúde e que
possivelmente serão produzidos em
indústrias no país
Tabela – Amostra de produtos pesquisados, local da pesquisa e objetivo
relacionado à indústria farmacêutica
Produto pesquisado
Local
Objetivo ligado à indústria farmacêutica
Nanotubos de carbono
UFMG
Marcadores fluorescentes para imagens biológicas biosenssores
Nanopartículas lipídicas sólidas
UFMG
Tratamento de acne
Compostos bioativos em sistemas microorganizados
FFCLRP-USP
fotoquimioterapia
Polissacarídeos como revestimentos funcionais
IQUSP
Revestimento de medicamentos
Dendrímeros fotoisomerizáveis
IQUSP
Encapsulamento de drogas e materiais luminescentes
Titânio com nanotopografia
FORP - USP
Reparo e regeneração de tecidos
Sistemas nanoestruturados
IQUSP
Liberação suportada de fármacos
IQM- UNICAMP
Substrato para fármacos antitumorais, antivirais,
antibacterianos e antiparasitários - Liberação de drogas
Nanopartículas de
ciclodextrina tiolada
Ouro
passivadas
com
β-
Cristais coloidais
IQM - UNICAMP
Sistemas poliméricos nanoporosos
IQUSP
Liberação controlada de fármacos
Interação doador-receptor de 1,2 diclorobenzeno com
nanotubos de carbono
IQM - UNICAMP
Liberação controlada de fármacos
Sílicas mesoporosas ordenadas
IQUSP
Adjuvantes biológicos (aumenta eficiência do sistema
imune)
Ferrofluidos
IFUSP
Vetores de droga (em tratameno de tumores)
IQUSP
Agente de contraste de imagem médica – Carreador de
fármacos
Nanopartículas de níquel encaixadas em sílica amorfa
IFUSP
Diagnóstico médico
Lipossomas com incorporação de paromicina
UFMG
Tratamento de leishmaniose cutânea
Nanopartículas
nanoreatores
de
ferridrita
sintetizadas
em
Segundo a Fundação Nacional de
Ciências dos USA a nanotecnologia
será responsável pela metade dos
produtos da indústria farmacêutica
até 2015
REVISTA DA FOLHA – 18 DE MARÇO DE 2007
FIM
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