UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO SANDRA REGINA FIRMINO DA SILVA UM ESTUDO DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS NOS GUIAS DE PLANEJAMENTO E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO PROGRAMA LER E ESCREVER SÃO PAULO 2010 SANDRA REGINA FIRMINO DA SILVA MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA UM ESTUDO DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS NOS GUIAS DE PLANEJAMENTO E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO PROGRAMA LER E ESCREVER Dissertação submetida à banca examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Orientadora: Prof. Drª Tânia Maria Mendonça Campos e Co-Orientadora: Prof. Drª Marlene Alves Dias. SÃO PAULO 2010 Silva, Sandra Regina Firmino da Silva Um estudo das estruturas multiplicativas nos Guias de Planejamento e Orientações Didáticas do Programa Ler e Escrever/ Sandra Regina Firmino da Silva. São Paulo: [s.n.], 2010. XX f. 216 il. ; 30 cm. Dissertação de Mestrado para a obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Programa de Pós Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo. Orientadora: Prof. Drª Tânia Maria Mendonça Campos e Co-Orientadora: Prof. Dr. Marlene Alves Dias. 1. Estruturas Multiplicativas. 2. Ensino Fundamental. 3. Campos Conceituais 4. Tecnologia. 5. Educação Matemática. I. Título Aos meus amados pais PEDRO FIRMINO DA SILVA e NAIR ANGELICA DA SILVA. E ao meu esposo JAMIL CARLOS DA SILVA. Em todas as minhas realizações, sempre presentes. Aos meus filhos MARINA e JARDEL, com amor. AGRADECIMENTOS As PROFESSORAS DOUTORA TÂNIA MARIA MENDONÇA CAMPOS e PROFESSORA DOUTORA MARLENE ALVES DIAS, pelo carinho e dedicação com os quais orientou esta pesquisa. O apoio que delas recebi transcende os limites deste trabalho acadêmico. Essa ajuda foi muito importante nos fez ter coragem para continuar e de acreditar que as pesquisas são caminhos para novas conquistas na Educação. Muito obrigada por tudo. A todos os professores do programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo, por todo o aprendizado e experiência que proporcionaram. A todos os funcionários do programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo, que foram sempre muito atenciosos e nos auxiliou em todos os encaminhamentos burocráticos que envolvem um trabalho científico. A todos os colegas do programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo, em especial, para a primeira turma que compartilhamos inseguranças, anseios foram verdadeiros companheiros de caminhada com quem muito aprendi. A todos os colegas da Diretoria de Ensino Guarulhos Norte que nos apoiaram, alguns nem se encontram mais conosco, mas nos incentivaram, um agradecimento especial a Dirigente dessa instituição Professora Vera Lúcia de Jesus Curriel, pela paciência, compreensão, apoio. Posso dizer que senti como um “braço forte” nesse percurso. Aos meus pais, PEDRO FIRMINO DA SILVA e NAIR ANGELICA DA SILVA, mestres de toda a vida. Pela sua dedicação e amor incondicionais. Sem seus ensinamentos, este trabalho jamais seria realizado. Ao meu esposo JAMIL, pela compreensão ao longo desta jornada que empreendi. "Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer." Albert Einstein(1879-1955) RESUMO SILVA, S. R. F. Um estudo das estruturas multiplicativas nos Guias de Planejamento e Orientações Didáticas do Programa Ler e Escrever, 2010. 216 f. Dissertação de Mestrado – Pós Graduação Stritu Senso Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2010. O objetivo deste trabalho de pesquisa foi a realização de um estudo diagnóstico das estruturas multiplicativas nas séries iniciais da Educação Básica a partir do Programa Ler e Escrever da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Mais precisamente, o trabalho foi realizado com trinta crianças da 3ª série de uma escola da rede pública estadual de São Paulo. Para realização deste estudo foi realizada uma sondagem inicial, considerando as orientações disponíveis no Guia de Orientações do Programa Ler e Escrever da Secretaria de Educação, para diagnosticar os tipos de dificuldades dos alunos ao resolverem problemas relativos a estruturas multiplicativas. A partir desses dados coletados foi construído um inventário de diferentes esquemas em ação que possibilitasse potencializar as situações propostas, em diferentes níveis de dificuldade, como recurso de intervenção para a construção do raciocínio multiplicativo, com o auxílio do software livre ClicMat. Um mês após a intervenção, foi aplicada a sondagem final proposta no Programa Ler e Escrever. Os resultados encontrados, em relação a sondagem inicial, indicam que houve significativo avanço no sucesso do desempenho das crianças ao resolverem problemas envolvendo o raciocínio multiplicativo. No entanto, nem toda amostra conseguiu escolher a operação necessária para a solução do problema, nem mesmo disponibilizar os esquemas próprios da estrutura multiplicativa. Vale registrar que dos tipos de problemas trabalhados: Combinatória, Configuração Retangular, Proporcionalidade e Comparação aqueles que tiveram maior sucesso (56,7%) foram os de Combinatória e os que tiveram menor sucesso foram os de Proporcionalidade (26,7%) na sondagem final. Esses resultados encontrados na 3ª série reforçam uma das proposições da Teoria dos Campos Conceituais de que um conceito não se forma a partir de uma única situação e que é apreendido ao longo do tempo, Vergnaud (1983). Palavras-chave: Estruturas Multiplicativas, conceituais, Tecnologia, Educação Matemática. Ensino Fundamental, Campos ABSTRACT SILVA, S. R. F. A study of multiplicative structures in the Planning Guides and Guidelines Didactic Program Reading and Writing, 2010. 216 f. Master Thesis Graduate Stritu Sense Mathematics Education, Bandeirante University of São Paulo, São Paulo, 2010. The objective of this research was to carry out a diagnostic study of multiplicative structures in the early grades of Basic Education based on São Paulo State Department Education Program “Ler e Escrever”. The research was carried out among thirty children in the 3rd grade of elementary school at a public school in the state of Sao Paulo. For the accomplishment of this study it was carried out an initial survey taking into consideration the available orientation in the Guide of the Education Department Program “Ler e Escrever”, in order to diagnose the many types of students' difficulties when solving problems related to multiplicative structures. From these data collected it was built an inventory of different schemes in action that would enable to power the situations proposed at different levels of difficulty as a resource of assistance to the construction of multiplicative reasoning with the help of a free software “ClicMat”. A month after the intervention, it was applied the final survey proposed in the program “Ler e Escrever”. The results found in relation to the initial survey, indicated that there was a significant advance in the successful performance of the children to solve problems involving multiplicative reasoning. However, not every sample could select the necessary operation to the solution of the problem, not even provide the multiplicative structure of the schemes themselves. It is worth to note that from the types of problems worked, Combinatorics, Configuration Rectangular, Proportionality and Comparison, the ones that obtained greater success (56.7%) were about Combinatorics and the ones that were less successful were about Proportionality (26.7%) at the final survey . The results found in the 3rd grade, reinforce one of the propositions of the Conceptual Field Theory that a concept is not formed from a single situation and that it is learned along the time, Vergnaud (1983). Keywords: Multiplicative structures, Elementary Education, Technology, Mathematic Education. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Representações de estruturas multiplicativas por meio de figuras....... 25 Figura 2: Amostra de resolução de problemas de estrutura multiplicativa por meio da contagem disponível nos documento PMSP ................................... 35 Figura 3: Amostra de resolução de problemas de estrutura multiplicativa por meio da representação de diagrama de árvore disponível nos documento PMSP.................. ........................................................................................... 35 Figura 4: Amostra de resolução de problemas de estrutura multiplicativa por representação de esquemas como suporte para relação com o algoritmo ... 36 Figura 5: Mapa conceitual dos diferentes tipos de cálculo e suas relações (cálculo com respostas exatas e aproximadas) ........................................... 36 Figura 6: Representação da multiplicação por feixes de semi-retas............. ........... 44 Figura 7: Um modelagem do processo de construção de competencia segundo Coulet (2005).................................................................................................. 63 Figura 8: Esquema de transformação de conceito. ........................................... 65 Figura 9: Esquema de raciocínio escalar ................................................ .......... 77 Figura 10: Esquema de correspondencia um-a-muitos da situação 1 da sondagem inicial............................................................................................ 116 Figura 11: Esquema de correspondencia em coordenação com a contagem na sondagem final .............................................................................................. 117 Figura 12: Esquema de coeficiente de proporcionalidade................ ..................... 117 Figura 13: Atividade de proporcionalidade dupla (configuração retangular) no software......................................................................................................... 124 Figura 14: Atividade de produto cartesiano (combinatória) no software............ ... 126 Figura 15: Atividade de multiplicação comparativa no software ............................ 129 Figura 16: Compreensão de idéias de estruturas multiplicativas sondagem inicial............ ................................................................................................. 191 Figura 17: Compreensão de idéias de estruturas multiplicativas da sondagem final................................................................................................................. 192 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Quadro de Orientações Curriculares dos campos conceituais aditivo e multiplicativo da Prefeitura Municipal de São Paulo segundo a Teoria dos Campos Conceituais pra Ensino fundamental Ciclo I.......................................... 34 Tabela 2: Representação da divisão por feixe de semi-retas.............................. 46 Tabela 3: Quadro que envolve o campo conceitual das Estruturas Multiplicativas...................................................................................................... 78 Tabela 4: Quadro de Tipologia de problemas de estrutura Multiplicativa............ Tabela 5: Quadro de problemas da categoria de comparação Multiplicativa de grandezas............................................................................................................. 81 Tabela 6: Quadro de problemas da categoria de proporcionalidade simples...... 83 Tabela 7: Quadro de problemas de proporcionalidade simples composta.......... 84 Tabela 8: Quadro de problemas de proporcionalidade dupla ou múltipla............ 86 Tabela 9: Quadro de exemplos das categorias de Vergnaud.............................. Tabela 10: Classificação dos problemas da sondagem inicial segundo as categorias de Estruturas Multiplicativas............................................................... Tabela 11: Classificação dos problemas da sondagem final segundo as categorias de Estruturas Multiplicativas............................................................... Tabela 12: Classificação do problema 1 da sondagem inicial segundo a estrutura Matemática............................................................................................ Tabela 13: Classificação do problema 2 da sondagem inicial segundo a estrutura Matemática............................................................................................ Tabela 14: Classificação do problema 3 da sondagem inicial segundo a Estrutura Matemática........................................................................................... Tabela 15: Classificação do problema da sondagem inicial segundo a Estrutura Matemática........................................................................................... Tabela 16: Esquemas esperados para as situações de estruturas multiplicativas....................................................................................................... Tabela 17: Lista dos animais e seus respectivos pesos (massa) disponível no software................................................................................................................ Tabela 18: Enunciado de problemas de Estrutura Aditiva ou Multiplicativa elaborada pelos alunos........................................................................................ Tabela 19: Análise comparativo individual das relações das estruturas multiplicativas....................................................................................................... Tabela 20: Codificação dos tipos de cálculos (relacional, cognitivo e numérico)............................................................................................................. 87 82 103 105 111 112 113 114 118 128 131 168 173 Tabela 21: Tabulação da compreensão dos conceitos de estruturas multiplicativas na sondagem inicial...................................................................... 191 Tabela 22: Tabulação da compreensão dos conceitos de estruturas multiplicativas no final.......................................................................................... 192 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14 1 PANORAMA ATUAL DAS PESQUISAS E DAS PROPOSTAS PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM SOBRE ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS.............. 19 1.1 ALGUMAS PESQUISAS SOBRE ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS... 20 1.2 PROGRAMA LER E ESCREVER NA PREFEITURA DE SÃO PAULO.. 30 1.3 O PROGRAMA LER E ESCREVER NA SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO ......... .............................. 31 1.4 ORIENTAÇÕES CURRICULARES DA PREFEITURA MUNICIPAL EM RELAÇÃO AO ENSINO DE ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS, SEGUNDO O PROGRAMA LER E ESCREVER .................................... 33 1.5 ORIENTAÇÕES CURRICULARES DA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO EM RELAÇÃO AO ENSINO DE ESTRUTURA MULTIPLICATIVAS, SEGUNDO O PROGRAMA LER E ESCREVER ........................................................... 37 1.6 ORIENTAÇÕES CURRICULARES DOS PARÂMETROS CURRÍCULARES NACIONAIS (PARÂMETROS CURRÍCULARES NACIONAIS) EM RELAÇÃO AO ENSINO DE ESTRUTURA MULTIPLICATIVA .................................................................................. 39 2 PANORAMA MATEMÁTICO DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS ..... 43 2.1 NOTAÇÃO E TERMINOLOGIA ............................................................. 47 2.2 PROPRIEDADES DA MULTIPLICAÇÃO ............................................... 52 2.3 DIFERENTES FORMAS PARA A MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS .... 54 3 REFERENCIAL TEORICO DE PESQUISA................................................... 58 3.1 CAMPOS CONCEITUAIS ....................................................................... 59 3.2 CAMPO CONCEITUAL DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS......... 70 3.3 AS CATEGORIAS DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS................. 79 3.3.1 Categoria de Problemas de "Comparação Multiplicativa de Grandezas" ................................................................................. 81 3.3.2 Categoria de Problemas de "Proporcionalidade Simples"........... 82 3.3.3 Categoria de Problemas de "Proporcionalidade Simples Composta" .................................................................................. 84 3.3.4 Categoria de Problemas de "Proporcionalidade Dupla ou Multipla" ...................................................................................... 84 3.4 OS ESQUEMAS DE NUNES E BRYANT .............................................. 90 3.5 AS CATEGORIAS APRESENTADAS NOS PCN(1997) ......................... 91 3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 93 4 METODOLOGIA ............................................................................................ 95 4.1 OBJETIVOS ........................................................................................... 95 4.2 METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................ 96 4.3 A ESCOLHA DOS SUJEITOS ................................................................ 97 4.4 A SELEÇÃO DA ESCOLA ...................................................................... 98 4.5 MATERIAIS E AMBIENTE DE TRABALHO ........................................... 99 4.6 PROPOSTA INICIAL DO DESIGN ......................................................... 100 4.7 PROCEDIMENTO ESPECÍFICOS PARA A COLETA DE DADOS NAS FASES .................................................................................................... 101 5 ANÁLISE PRELIMINAR DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ......................... 107 5.1 ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI FASE 1 ..................................... 107 5.2 ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI FASE 2 ..................................... 108 5.3 ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI FASE 3 ..................................... 118 5.4 ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI FASE 4 ..................................... 132 6 ANÁLISE COMPARATIVO DAS SOLUÇÕES DADAS AOS ALUNOS ...... 134 6.1 ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTODOS ESQUEMAS DOS ALUNOS 136 6.2 ANÁLISE DOS TIPOS DE CÁLCULOS APRESENTADOS PELOS ALUNOS ................................................................................................. 171 6.3 ANÁLISE DAS DIFICULDADES POR CATEGORIA DE PROBLEMAS . 190 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS ............................ 196 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................. 203 ANEXOS............................................................................................................. 215 ANEXO A – ATIVIDADE APLICADA NA INTERVENÇÃO COM O USO DO SOFTWARE COLETIVO ........................................................................ 215 ANEXO B – ATIVIDADE APLICADA NA SAI COM INTERVENÇÃO COM O USO DO SOFTWARE INDIVIDUAL ....................................................... 216 19 1 PANORAMA ATUAL DAS PESQUISAS E DAS PROPOSTAS PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM SOBRE ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste capítulo pretendemos mostrar o panorama atual das pesquisas e das propostas de ensino e aprendizagem sobre as estruturas multiplicativas, considerando particularmente, as situações propostas nas metodologias recentes de pesquisa, analisando as escolhas sugeridas pelo Programa Ler e Escrever e, finalmente, comparando essa proposta com as dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino do campo conceitual associado às estruturas multiplicativas para o Ciclo I do Ensino Fundamental. Iniciamos os trabalhos considerando algumas pesquisas que são mencionadas no Programa da Prefeitura e no Estado de São Paulo, bem como nos Parâmetros Curriculares Nacionais para, em seguida, apresentarmos uma breve descrição do funcionamento do Programa Ler e Escrever desenvolvido na rede municipal de ensino de São Paulo desde 2005, onde teve sua origem, tendo sido aderido pela rede de Ensino do Estado de São Paulo após dois anos, sendo consideradas também as indicações do programa nesta rede discorremos sobre as orientações curriculares para o ensino de estruturas multiplicativas da prefeitura do Estado de São Paulo e da rede estadual de ensino de São Paulo, em relação aos outros estados, estudamos apenas a proposta nacional. Finalmente, identificamos as regularidades e diferenças entre essas propostas, lembrando que os Parâmetros Curriculares Nacionais foram introduzidos em 1997 e, por conseguinte, a proposta da prefeitura de São Paulo (2005) e a do Estado de São Paulo (2008). É relevante ressaltar que no próprio Estado de São Paulo outras propostas podem estar sendo utilizadas por diferentes prefeituras. 20 1.1 Algumas pesquisas sobre estruturas Multiplicativas Partimos da pesquisa de Campos, Nunes, Bryant et Magina (2002), que, atualmente corresponde ao estudo mais abrangente sobre as possibilidades de trabalho com as estruturas multiplicativas com alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental no Brasil. No livro Introdução à Educação Matemática – Os números e as operações numéricas as autoras analisaram o desempenho de crianças das séries iniciais, quando se propunha a resolução de problemas que envolviam situações de adição, subtração, multiplicação e divisão à luz da teoria dos campos conceituais de Vergnaud (1983, 1987, 1990, 1991). Nessa obra, as autoras descrevem nas considerações finais que uma das suas aspirações é que este material seja útil na formação de professores e ofereça a oportunidade para que os mesmos reflitam sobre os conceitos, no âmbito da teoria e da pratica. Elas propõem que o professor se torne um pesquisador do raciocínio de seus alunos, e ainda, [...] ―procure cumprir o currículo a partir de onde os alunos estão para levá-los a alcançar novos níveis de raciocínio‖ (CAMPOS et al., 2002, p.190). Não é possível saber a extensão desse trabalho junto aos professores, mas o estudo do Programa Ler e Escrever permite considerar que as autoras, ao menos, conquistaram um espaço para a sua utilização, pois esse programa prevê as ações de sondagem e elaboração de atividades por meio das perspectivas didáticas propostas em suas obras. Observamos ainda que Magina e Campos (2004) consideram que as crianças normalmente constroem um campo conceitual por meio da experiência na vida diária e escolar. Dessa forma, a importância de um estudo diagnóstico é fornecer ao professor subsídios que lhe permita saber em que nível de desenvolvimento seus alunos se encontram, isto é, com esse estudo os professores são capazes de identificar quais classes de problemas são mais facilmente entendidas, quais procedimentos são mais naturalmente utilizados por cada grupo de alunos e qual a influencia da vida diária e escolar sobre os conhecimentos apresentados por esses alunos nas obras de “Introdução à Educação Matemática - 21 Os números e as operações numéricas; Repensando Adição e Subtração Contribuições da Teoria dos Campos Conceituais” (2001). A partir dos resultados encontrados é que se propõem um trabalho gradativo com novas classes de problemas, que demandam raciocínios mais sofisticados e permitem assim, que esses alunos ao revisitar seus conhecimentos prévios possam utilizá-los de forma a resolver novas classes de problemas, ampliando, desta forma, o campo conceitual que envolve a estrutura multiplicativa. Isso reforça a afirmação de Vergnaud (1991 p.153) ―um conceito não pode ser reduzido a sua definição, pelo menos quando nos interessamos pela sua aprendizagem e pelo seu ensino‖. Além disso, permite considerar a ênfase dada por Nunes (2003) para a noção de proporcionalidade, que segundo seu ponto de vista é um conceito central da Matemática, consideradas também pelas propostas curriculares atuais da rede publica do estado, e essencial para o ensino das operações, atendendo também os conceitos de frações e multiplicação, pois essa noção consiste em um recurso para resolver situações, em geral, encontradas em todas as ciências ou mesmo no cotidiano. Observando ainda que esse conceito tenha origem bastante simples, pois se trata da relação entre duas variáveis. Apesar das pesquisas indicarem uma necessidade em considerar a experiência de vida escolar das crianças e de existir uma noção matemática que permite tratar de forma geral casos particulares, Nunes (2003)1 lembra que para compreender a noção de proporcionalidade, “fazemos uma relação com a multiplicação, mas a escola não. Lá no início da escolarização, as primeiras noções de proporção deveriam aparecer junto com os conceitos de multiplicação‖. Algumas pesquisas atuais sobre as estruturas multiplicativas mostram que muitos professores ensinam essa operação básica apenas como uma "adição repetida" de parcelas, não fazendo relação com a noção de proporção, isto é, a estrutura multiplicativa é vista apenas como uma relação ternária2, o que é contrario ao estudo proposto por Vergnaud (1983b). 1 Nunes, T. (2003) em entrevista para a revista on-line Nova Escola http://revistaescola.abril.com.br/matematica/fundamentos/hora-ensinar-proporcao-fala-mestreterezinha-nunes-428131.shtml. 2 Relação ternária: Uma relação ternária R (a, b, c) é uma relação entre os elementos a,b,c. Onde R tem uma relação ternária R sobre três universos A, B e C (não necessariamente diferentes) é definida 22 Lembramos que a adição repetida de parcelas não mostra o sentido de proporção que existe por trás dessa operação, portanto os alunos só terão oportunidade de tratar da proporcionalidade nas séries subsequentes, num capítulo isolado. Esse trabalho compartimentado dificulta a articulação das diferentes noções matemática isolando o conceito e, logo, não admitindo a existência de um campo conceitual que pode ser revisitada em diferentes momentos auxiliando os alunos a ampliar seus conhecimentos e perceberem a relação existente entre as diferentes noções matemática podendo assim trabalhar de forma flexível utilizando os conhecimentos prévios. Documentos oficiais como Parâmetros Curriculares Nacionais, por exemplo, também nos alerta para a dificuldade que pode gerar com a persistência em trabalhar a multiplicação somente como soma de parcelas iguais, que é justificada por meio de exemplos conforme mostra o texto abaixo: Por exemplo: — Tenho que tomar 4 comprimidos por dia, durante 5 dias. Quantos comprimidos preciso comprar? A essa situação associa-se a escrita 5 x 4, na qual o 4 é interpretado como o número que se repete e o 5 como o número que indica a quantidade de repetições. Ou seja, tal escrita apresenta-se como uma forma abreviada da escrita 4 + 4 + 4 + 4 + 4. A partir dessa interpretação, definem-se papéis diferentes para o multiplicando (o número que se repete) e para o multiplicador (o número de repetições), não sendo possível tomar um pelo outro. No exemplo dado, não se pode tomar o número de comprimidos pelo número de dias. Saber distinguir o valor que se repete do número de repetições é um aspecto importante para a resolução de situações como esta. (BRASIL, 1997. p.71) Apesar dos trabalhos de pesquisa que vem sendo realizados e das observações e exemplos que aparecem nas diferentes documentos oficiais ainda se têm um longo caminho a percorrer. Outra questão importante para o trabalho que estamos desenvolvendo não descarta considerar as estratégias pessoais de cálculo para resolução de problemas em situações reais que, de acordo com Rocha et Menino (2009), tem sido recomendada na literatura internacional e que já fazem parte das propostas por acima se estende em b, c) ∈ R. Ou seja, R é um subconjunto do produto cartesiano entre A, B e C. A definição onde R(a, b, c) será verdadeira se (a, 23 brasileiras. Como exemplo, citamos os Parâmetros Curriculares Nacionais, que afirma que os professores devem fazer intervenções para socializar as idéias, de todos os tipos de soluções encontradas, pois essa abordagem pode ampliar as reflexões dos alunos sobre sua idéia inicial, fazendo circular as informações possibilitando compartilhar conhecimento. (BRASIL, 1997, p.45) Desse modo o professor torna-se responsável por selecionar as tarefas e organizar as atividades na sala de aula analisando e acompanhando os avanços e os conhecimentos disponíveis para propor situações difíceis, porém possíveis. Nesse momento é evidente a importância do ―topos‖3 (Palavra grega que significa ―lugar‖. O ―topos‖ do aluno é o lugar onde ele opera com relativa autonomia, e em relação ao professor é o papel que lhe é próprio na realização de uma tarefa didática. Este trabalho que reúne professor e aluno exige uma ação orquestrada, em que ambos são chamados a desempenhar seu papel em fases cooperativas. (CHEVALLARD e GRENIER, 1997, p.186, tradução nossa). do aluno e do professor, que deveria ser melhor explicitado tanto nos documentos oficiais como nos cursos de formação. Além dos pontos acima descritos temos um contexto bem conhecido no ensino das operações que é a introdução prematura dos algoritmos. Segundo a definição apresentada por Vergnaud (1991), o algoritmo é um conjunto de regras que permite, para todo problema de uma classe dada anteriormente, conduzir a uma solução, se existe uma, ou, se for o caso, mostrar que não há solução. Nesse aspecto Rocha e Menino (2009 p. 104) dizem que o professor pode encorajar os alunos a refletir sobre as idéias matemáticas e sobre os processos usados na resolução de problemas garantindo a aquisição de conhecimentos sobre os números e sobre as operações, necessários para operar ao nível da abstração. O trabalho com os esquemas 4, como proposto por Vergnaud (1997) tende a iluminar essa prática prematura, mas exige uma mudança de comportamento por 3 Topos: Palavra grega que significa ―lugar‖. O ―topos‖ do aluno é o lugar onde ele opera com relativa autonomia em relação ao professor o papel que lhe é próprio na realização de uma tarefa didática. Este trabalho que reúne professor e aluno exige uma ação orquestrada, em que ambos são chamados a desempenhar seu papel em fases cooperativas. (CHEVALLARD e GRENIER, 1997, p.186, tradução nossa). 4 Esquema: O conceito de esquema é particularmente bem adaptado para designar e analisar classes de situação para as quais o sujeito dispõe em seu repertório, a um momento dado de seu desenvolvimento e sob certas circunstâncias, de competências necessárias ao tratamento relativamente imediato da situação. Mas ele é igualmente valido para a descoberta e invenção em 24 parte dos alunos e do professor dentro de um patamar superior dependendo de um trabalho árduo de pesquisa e organização matemática, além da didática que pode ser considerada, por meio de leitura de textos e proposta a partir de identificada em documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais. Outra situação que se vê descrita nos Parâmetros Curriculares Nacionais refere-se ao ensino por meio de resoluções de problemas. Isso nos interessa à medida que entendemos que a proposta de trabalho do programa que estamos analisando ―Programa Ler e Escrever‖, pretende que a metodologia para subsidiar o ensino de matemática seja por meio de resolução de classes de problemas que possam ser representados por determinados esquemas e inseridos num campo conceitual. Acrescenta ainda que esse trabalho permite revisitar idéias que pertencem ao mesmo campo conceitual. Porém, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, temos que a pratica dessa metodologia aparece no contexto escolar ainda com algumas distorções considerando, na melhor das hipóteses, que os problemas tem sido aplicados sem desempenhar o papel reflexivo do responsável pela resolução, e, sim como ―forma de aplicação de conhecimentos adquiridos anteriormente pelos alunos‖. (BRASIL, 1997, p.32) A identificação dos diferentes esquemas de Vergnaud no trabalho dos alunos e sua discussão pode contribuir para que os alunos trabalhem de forma autônoma utilizando seus conhecimentos prévios, suas próprias maneiras de resolver problemas e situações que lhe são propostas. Isso permite que os alunos criem seus próprios meio de controle dos resultados encontrados podendo defender, quando necessário, a solução proposta, ou seja, com autonomia e confiança. Importante ressaltar que considerar o tipo de problema a ser trabalhado e a interpretação do mesmo tem o mesmo ―peso‖ para o ensino e aprendizagem que as estratégias que os alunos podem usar para resolver problemas. Assim, Cavalcanti (2001 p. 132) valida nossas hipóteses afirmando que esse é um percurso que contribui para a ação de investigação, permitindo que o aluno se dispusesse a ajustar seus conhecimentos para resolver os problemas. situação de resolução de problemas. Muitos esquemas são evocados sucessivamente e mesmo simultaneamente em uma situação nova para o sujeito (VERGNAUD, 1995, p.176). 25 Ainda, segundo Cavalcanti (2001 p. 122) o fato do aluno resolver de um jeito que o não esperado pelo professor (por exemplo: por meio de desenhos, figuras ou outras que não por meio do algoritmo) resulta em certo desconforto para muitos professores, pois algumas formas incomuns que as crianças usam para resolver problema não correspondem às convencionais e tradicionalmente trabalhadas e consideras pela escola como corretas. Como exemplo que auxilia a refletir sobre uma forma não escolar de resolver problemas proposta por Cavalcanti (2001 p. 121) foi à seguinte: ―Clovis é um colecionador muito estranho. Ele tem 2 caixas. Em cada caixa há 4 aranhas. Cada aranha tem 8 patas. Se Clóvis tivesse que comprar meias no inverno para as suas aranhas, quantas meias compraria?‖ A figura abaixo mostra as respostas propostas pelas crianças: Figura 1 - Representações de estruturas multiplicativas por meio de figuras. Fonte: Smole&Diniz (2001, p. 122). Nestas representações vemos que as ações das crianças diante da tarefa de procurar a solução do problema foram com a não utilização de algoritmos, mas que 26 não sendo capaz de desenvolvê-lo, chegam à solução por meio de representações que surgem espontaneamente como forma de solução para a situação proposta. Cavalcanti (2001 p. 122) justifica a expectativa do uso do algoritmo e o espanto por parte dos professores com as soluções apresentadas, as quais não correspondem com o trabalho desenvolvido em aula, mostrando que os alunos são capazes de criar seus próprios esquemas para a solução do problema proposto, desenvolvendo suas idéias, revisitando conceitos e apreensões que estão disponíveis e lançando supostas respostas que encontram como teoremas em ação5, que podem ser ou não verdadeiros. Cavalcanti (2001 p. 123) explica que o problema que apresentamos surgiu de uma introdução da multiplicação para saber se as crianças compreenderam e usaram a multiplicação na forma canônica. A autora diz que ―acreditava-se que elas precisam dominar técnicas operatórias para resolver problemas tendo um mínimo de linguagem matemática adquirida para expressar suas resoluções”. Notamos que não ocorreu o que era esperado. Desse modo, podemos entender que mesmo trabalhando com situações problemas não se garante o avanço na aprendizagem das crianças se as situações propostas não se traduzem num momento de reflexão e autonomia do aluno para expressar seu significado como mostra o texto abaixo, procurando soluções com estratégias próprias, em que elas revisitam os seus saberes. Destacamos a seguir alguns princípios colocados por documentos oficiais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais defendem que a atividade Matemática deve ser trabalhada por meio de situações problemas os quais permitam que o aluno explore seu campo de conhecimento Matemático e, a partir das dificuldades encontradas, procurem novos conceitos e formas de tratamento para essas situações ampliando seu campo inicial tais como: O ensino de matemática deve ser abordado mediante a exploração de problemas, o foco não deve ser na definição, mas essa deve ser procurada por meio de problemas de forma a permitir que os conceitos, idéias e métodos matemáticos sejam resolvidos por meio de estratégias pessoais; 5 Teoremas em ação: são definidos como relações matemáticas que são levadas em consideração pelos alunos, quando estes escolhem uma operação, ou sequencia de operações, para resolver um problema. Os Teoremas-em-ação não são teoremas no sentido convencional do termo, porque a maioria deles não são explícitos. (CAMPOS et al, 2001, p.16) 27 Diferente de problema é o exercício mecânico, que impede que o aluno seja levado a pensar, procurando estruturar uma resposta para a questão proposta e, simplesmente precisa aplicar uma fórmula da qual ele não compreende ou um processo operatório do qual foi treinado; Quando temos um certo tipo de problema temos que construir justaposição consecutivas ao conceito, para que em outro momento o aluno revisite seu conhecimento e resolve outros problemas, exigindo antecipações, correções, ruptura, segundo um processo idêntico das descobertas cientificas; Um conceito matemático é construído por meio de articulações com outros conceitos, e o aluno constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo de problemas; O problema precisa proporcionar o contexto, que serve como orientação de aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas. (BRASIL, 1997, p. 32-33). Dessa forma, ao descrever os objetivos para o ensino fundamental do Ciclo I, os Parâmetros Curriculares Nacionais colocam em evidência a importância do desenvolvimento por parte do aluno e de um planejamento das situações que são propostas para que possam ser executadas, justificadas e controladas, por meio de resolução de problemas, ―validando estratégias e resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como dedução, indução, intuição, analogia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis‖ (BRASIL, 1997. p.37). Além desse texto, esse documento confirma o trabalho com as novas tecnologias. Isso nos conduziu a propor uma situação de problema com a utilização de um software livre de apoio às nossas intervenções, o software escolhido deve auxiliar a validar nossa pesquisa. Consideramos assim como Milani que a associação do ensino de matemática com o uso da tecnologia da informática para as séries iniciais pode ser um facilitador da aprendizagem. Ela reforça que o computador deve ser um instrumento de uso habitual no contexto escolar pois, segundo a autora, a não utilização desse recurso significa atualmente ―alienar o ambiente escolar‖ (MILANI 2001, p.175). A autora não defende apenas o uso do computador na escola e salienta que outras tecnologias como retroprojetor, projetor de slides, televisão, vídeo e calculadora são instrumentos que fazem parte do contexto social, logo do contexto escolar e que, portanto, é preciso não só o uso do recurso, mas a forma como os mesmos são utilizados. 28 Em relação às tecnologias de informática, Milani acena para a qualidade na utilização da tecnologia da informática para o ensino de matemática contribuindo com a afirmação de que: ―é preciso saber como, quando, onde e por que utilizar o computador, estabelecendo-se estratégias bem claras e definidas, distinguindo-se as tarefas em que o seu uso é fundamental daquelas em que sua contribuição é pequena e circunstancial‖ (MILANI, 2001, p.177). Milani ressalta a importância de sua adequação ao trabalho a ser desenvolvido e observando que sua importância no ensino está associada à contribuição dessas ferramentas utilizadas. A autora refere-se ainda a obra de Levy (1993, apud MILANI, 2001) para qual o papel do computador no processo de ensino e aprendizagem na escola é proposto da seguinte forma: o uso criativo do computador, deslocando-se a preocupação do objeto- computador, programas, módulos técnicos – para o projeto, o ambiente cognitivo, a rede de relações humanas que se quer instituir, as competências que serão desenvolvidas, as relações entre diferentes áreas do conhecimento. O que se observa, porém, é que o uso do computador como recurso didático ainda esta centrado na máquina, como um recurso para armazenar informações, ou automatizar cálculos, e não como parte de uma tecnologia intelectual. (1993, apud. MILANI, 2001, p.177). Os dois autores concordam com a importância de utilizar as ferramentas de informática no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, mas esse recurso deve ser indispensável para a execução da tarefa proposta e não servir apenas como recurso de cálculo ou armazenamento de dados. Outro trabalho estudado que contribui para a nossa investigação é o de Guimarães (2004, p. 160) que, em sua tese de doutorado, investiga as relações existentes entre os níveis de construção da noção de multiplicação e os níveis de generalização, usando um pré-teste e pós-teste antes e depois dos alunos submeterem a uma intervenção pedagógica, por meio de situações lúdicas do tipo Jogos de Argola6. A fundamentação teórica na Epistemologia Genética de Jean Piaget, cujo pressuposto central é de que o conhecimento se constrói a partir das trocas do 6 Jogos de Argola: Composto por nove hastes de madeira coloridas fixadas em base quadrada, indicando os pontos que variam de 1 a 9, conjunto de argolas, conjunto de fichas confeccionadas em papel cartão com as respectivas cores das hastes. 29 sujeito com o meio. Frente a desequilíbrios e conflitos, o sujeito tende a reagir por meio de regulações contínuas reorganizando suas estruturas cognitivas anteriores. Além dessa, o estudo de Guimarães (2004, p. 5) pauta-se nos processos cognitivos na construção do conhecimento Matemático, na equilibração majorante, na abstração reflexiva no pré e no pós-teste da ―construção de múltiplos comuns‖ (PIAGET 1986, apud GUIMARÃES 2004 p. 4) e nos níveis de generalização construtiva responsáveis pela construção do conhecimento lógico-matemático, por meio de resolução de problemas. Neste trabalho a autora concluiu que após as situações lúdicas os alunos de níveis mais elevados de construção desse campo conceitual, foram melhores. A partir dessas teorias que investigamos, procuramos fazer um trabalho com o uso dos diversos recursos disponíveis no Programa Ler e Escrever, e propusemos uma intervenção utilizando o software ClicMat 7 o que consideramos como uma situação a-didática8, não pelo uso da tecnologia da informática, e sim por que colocamos sob a responsabilidade do aluno a ―devolução‖9 de suas reflexões sobre as investigações propostas por meio de narrativas utilizando os recursos de organização, de compreensão da estratégia proposta, por meio da linguagem matemática e do algoritmo da multiplicação ou divisão como uma estratégia mais econômica para a solução da atividade. Observamos que para Brousseau (1986) uma situação a-didática concerne à parte de uma situação didática que o professor delega (devolve) ao estudante, se esforçando para excluir suas intervenções relativas à solução. Assumindo, assim, o risco e a responsabilidade de seus atos em condições incertas o que considera a parte mais difícil do ato didático. Para melhor compreender como as pesquisas acima têm sido utilizadas nas novas propostas no Estado de São Paulo, vamos descrever o percurso do Programa 7 Software criado por quatro professores do Ensino Básico de Portugal com 32 atividades interativas de matemática para as séries iniciais, em 2001. 8 Situações a-didáticas: segundo teoria das situações (teoria desenvolvidas na tese de doutorado: La théorisation des phénomènes d'enseignement des mathématiques‟, de 1986: situação didática, situação a-didática, contrato didático, devolução e milieu (antagonista e aliado) por Guy Brousseau, o professor adia a emissão do conhecimento ou as possíveis correções até que as crianças consigam chegar à regra e validá-la. Ele deve propor um problema para que elas possam agir, refletir, falar e evoluir por iniciativa própria, criando assim condições para que tenham um papel ativo no processo de aprendizagem. Brousseau chama essa situação de a-didática. 9 Devolução: Em Guy Brousseau nas Teorias das Situações - O ato pelo qual o professor obtém que o aluno aceite e possa aceitar, agir em uma situação a-didática, assumindo o risco e a responsabilidade de seus atos em condições incertas. 30 Ler e Escrever e as orientações que esses documentos trazem para o ensino das estrutura multiplicativa. 1.2 Programa Ler e Escrever na Prefeitura de São Paulo O Programa Ler e Escrever inicia na Prefeitura Municipal de São Paulo no ano de 2005, para implantação em 2006 e, após dois anos, isto é, em 2008 a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo adere ao Programa. Na Prefeitura de São Paulo, por intermédio da Secretaria Municipal de Educação (SME), no ano letivo 2006 o Programa Ler e Escrever, é implementado seu foco é melhorar a qualidade do ensino, para reverter o fato de grande parte dos alunos dessa rede não dominam o sistema de escrita ao final do 1º ano do Ciclo I. Sendo que essa competência é condição indispensável para que esses alunos adquiram conhecimentos de todas as áreas e possa ter plena participação social. Foram elaboradas Orientações Curriculares e Expectativas de Aprendizagens que são acompanhadas pelas Orientações Didáticas para os Ciclos I do Ensino Fundamental. Essas mudanças foram instituídas por meio de Portaria10 que leva em conta todos os anos e turmas do Ciclo I do Ensino Fundamental. Sendo assim, todos os alunos do ciclo I estão inseridos no Programa "Ler e Escrever", da rede Municipal. Lembramos ainda, que esta rede trabalhou também com o Ciclo II do Ensino fundamental o qual não consideramos neste trabalho uma vez que nosso foco são as pesquisas que estão relacionadas especificamente com o Ciclo I. O programa foi reorganizado11 em 2007, alterado apenas no pelo seu artigo primeiro e a partir de então incluiu Escolas Municipais de Ensino Fundamental, Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio e Escolas Municipais de Educação Especial. O Programa passa a ser constituído pelos projetos que seguem: Projeto "Toda Força ao 1º ano do Ciclo I, indicado pela sigla ―TOF"; Projeto Intensivo no Ciclo I – indicado pela sigla PIC, 3º série; Projeto Intensivo no Ciclo I – indicado pela sigla - PIC 4º série; Projeto "Ler e Escrever nos 2ª s, 3ªs e 4ª séries do Ciclo I"; 10 Portaria SME 6.328, de 26/09/05 e o Comunicado SME 1.202, de 17/11/05. Com suas atualizações SME nº 4.507, de 30/08/07; no anexo único da portaria nº 5403, de 16 de novembro de 2007. 11 31 Projeto "Ler e Escrever em todas as Áreas de Conhecimento do Ciclo II e Projeto "Compreensão e Produção da Linguagem Escrita por Alunos Surdos". Sendo o cerne dos projetos acima destacados a aprendizagem das crianças, o programa não se restringe apenas aos alunos, mas envolve os professores coordenadores pedagógicos e professores de classe num processo cíclico de formação continuada, compreendendo ainda a importância de envolver também os pais, por meio de sua participação em atividades propostas a partir das perspectivas do Programa, cuja intencionalidade de integrar os pais na escola e no auxílio do desenvolvimento escolar dos alunos. Após três anos, entre criação e implantação do projeto na cidade de São Paulo, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo adere e inicia a implementação do Programa, conforme anunciaremos abaixo. 1.3 O Programa Ler e escrever na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo No inicio de 2008 começa a adesão do Programa apoiada nas dificuldades apresentadas pelos alunos do Ciclo I e expressas nos resultados do SARESP 2005 com intuito da efetiva melhoria na qualidade de ensino nos anos iniciais da escolaridade. Desta forma, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, instituiu: ―Segundo a Resolução SE 86, de 19-12-2007 institui, para o ano de 2008, o Programa ―Ler e Escrever‖, no Ciclo I das Escolas Estaduais de Ensino Fundamental das Diretorias de Ensino da Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo‖. Com essas ações a Secretaria, no artigo primeiro desta Resolução, estabelece que, a partir do ano de 2008, todos os alunos com idade de até oito anos deverão estar alfabetizados até 2010 e devem ter recuperada a aprendizagem de leitura e escrita, sendo pressuposto o avanço das aprendizagens das crianças nas outras áreas de conhecimento tão essenciais quanto ler e escrever. Para a implantação do Programa Ler e Escrever nas escolas da rede pública estadual são feitas formações do ―trio‖ Gestor (Supervisor, Diretor e Professor Coordenador) com encontros onde são discutidos conteúdos que ampliam as possibilidades de compreenderem, apoiarem, acompanharem, avaliarem e tomarem 32 decisões visando à promoção da aprendizagem dos alunos e formação pedagógica com o objetivo de aperfeiçoar a didática de alfabetização e formação dos professores em suas escolas. Em relação à aderência do Programa incidiu o acolhimento de projetos nas salas de aula que incluem materiais diversos. A estruturação do Programa se deu por meio de ações as quais relacionam os seguintes projetos: Ler e Escrever na 1ª série do Ciclo I; Ler e Escrever na 2ª série do Ciclo I; Projeto Intensivo no Ciclo - 3ª série — PIC 3ª série; Projeto Intensivo no Ciclo – 4ª série — PIC 4ª série O Programa prevê ainda a inclusão de um aluno cursista de universidade, nas áreas de Pedagogia ou Letras, como estagiário junto ao professor regente de classe. Este aluno tem a função de assessorar o professor de classe da 1ª série do Ciclo I. Dentro do contexto do Programa alega-se que esta ação é determinante para o avanço do Programa, alertando que o projeto proferir material e formação continuada articulada a pratica dos professores. Essa formação acontece nas Unidades Escolares no contexto de trabalho, na relação direta com os professores e seus colegas envolvidos no Programa para que assim possam melhor formular suas questões e refletir sobre as suas práticas, detectando problemas, estudando e buscando soluções e avanços. Por isso, o Programa estabelece que a formação dos professores seja praticada pelo Professor Coordenador da escola, no acompanhamento das salas de aula e nas Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), possibilitando o atendimento às especificidades das séries. Para tanto, os professores que anteriormente teriam duas horas de estudos e elaboração de suas rotinas semanais, com a nova estruturação, os envolvidos nos projetos, passam a ter sua carga horária ampliada em 4 horas semanais, ou seja, atualmente com 6 horas para estudo. Tal proposta pretende romper com a cultura escolar que aceita o fato de que os alunos percorrem os anos dos ciclos sem conseguir aprender a ler e a escrever. A iniciativa pretende com esses projetos interferir diretamente no cotidiano da sala de aula e na gestão da escola e revela ainda que o Programa vise reverter o quadro de fracasso escolar dos alunos do ensino fundamental da rede pública estadual de ensino. 33 Em 2007 ocorreram às primeiras investidas no Programa Ler e Escrever. Esta primeira fase do Programa aconteceu nas escolas da capital paulista, com a adoção da Bolsa Alfabetização, que é a inserção do estagiário nomeado como Professor Regente. A partir do segundo semestre de 2008, iniciaram as orientações técnicas dos educadores, a distribuição de materiais e a formação dos professores de classe no contra-turno à aula. As Oficinas Pedagógicas de cada região promoveram, de forma conjugada, a elaboração de diretrizes, conceitos, formatos e materiais de apoio à formação dos docentes das 1ªs., 2ªs, 3ªs e 4ªs séries ou, na atual legislação 2ºs, 3ºs, 4ºs e 5ºs anos do ensino fundamental. Em 2009 incluíram-se, por meio de material didático, as 3ª e 4ª séries as quais iniciaram as investigações das propostas de encaminhamentos do Programa Ler e Escrever. Essas duas redes publicam as orientações curriculares para alcançar as expectativas de aprendizagens nas modalidades de ensino envolvidas no Programa, conforme relatadas abaixo. Neste caso com foco nas expectativas de aprendizagem referentes ao conceito de multiplicação, que é o campo conceitual que a nossa pesquisa investiga. 1.4 Orientações curriculares da Prefeitura Municipal em relação ao ensino de estrutura multiplicativas, segundo o Programa Ler e Escrever Em relação às orientações propostas no Programa Ler e Escrever no documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, as expectativas de aprendizagem para o terceiro ano (2ª série) e em seguida para o quarto ano (3ª série) em relação às estruturas multiplicativas são as que seguem: No terceiro ano as expectativas de aprendizagem em relação ao ensino das estruturas multiplicativas deve se compor as ações de ―Exploração dos contextos do cotidiano, de outras áreas de conhecimento e da própria Matemática, por meio de práticas que pode articular-se em projetos, seqüências didáticas, atividades rotineiras e atividades ocasionais, para cada um dos blocos temáticos, espera-se que o estudante possa:‖(SÃO PAULO, 2007, p. 73) 34 Analisar, interpretar e resolver situações-problema, compreendendo alguns dos significados da multiplicação, utilizando estratégias pessoais, sem uso de técnicas convencionais. (SÃO PAULO, 2007, p. 73) Para o terceiro ano as expectativas de aprendizagem em relação ao ensino das estruturas multiplicativas devem ser estudadas de forma a possibilitar o aluno a: analisar e validar (ou não) resultados obtidos por estratégias pessoais de cálculo de subtração utilizando a calculadora. Analisar, interpretar e resolver situaçõesproblema, compreendendo alguns dos significados da multiplicação. Calcular resultados de multiplicação, por meio de estratégias pessoais. Determinar o resultado da multiplicação de números de 0 a 9, por 2, 3, 4, 5, em situaçõesproblema e identificar regularidades que permitam sua memorização.( SÃO PAULO, 2007, p.74) Utilizar sinais convencionais (+, –, x, : e =) na escrita de operações de multiplicação e divisão. Analisar, interpretar, resolver e formular situações-problema, compreendendo alguns dos significados da divisão, utilizando estratégias pessoais (SÃO PAULO, 2007, p.74). Observamos que existe no documento uma orientação que propõem o estímulo à compreensão dos significados das operações destacando a teoria do pesquisador Vergnaud (1990) como contribuição para a sala de aula. Os estudos desse pesquisador sugerem o trabalho conjunto com os problemas de multiplicação e divisão, pois fazem parte de uma mesma área conceitual. Em sua Teoria dos Campos Conceituais, propondo trabalhar um conjunto de problemas que explorem a adição e a subtração e também a multiplicação e a divisão, com base em um campo mais amplo de significados do que têm sido usualmente realizado, como os que aparecem no quadro abaixo: Tabela 1 – Quadro de Orientações Curriculares dos campos conceituais aditivo e multiplicativo Fonte: Programa Ler e Escrever da Prefeitura de São Paulo (2007, p. 140) 35 Encontramos, no material do Programa Ler e Escrever, alguns protocolos de alunos das séries iniciais que, por meio de representações de desenhos, expressam esquemas da estrutura multiplicativa: o primeiro fez o desenho e respondeu, por meio da contagem, a quantidade de pés das quatro galinhas. Figura 2 – Amostra de resolução de problema estrutura multiplicativa por meio da contagem. Fonte: São Paulo (2007, p.140). A segunda amostra apresenta a solução de um problema de estrutura multiplicativa associada à idéia de combinatória, por meio de representação diagramas de árvore, até esgotar as possibilidades e, em seguida, por meio da contagem solucionou o problema. Figura 3 – Amostra de resolução de problema de estruturas multiplicativas por meio de diagrama de árvore. Fonte: São Paulo (2007, p. 140). No último protocolo, o aluno fez a representação por meio da distribuição das cadeiras na coluna e depois adicionou linha por linha e em seguida expressou a solução por meio do algoritmo da multiplicação apoiado nos 36 esquemas elaborados inicialmente, o problema é de estrutura multiplicativa associada à idéia de configuração retangular. Figura 4 - Amostra de resolução de problema estrutura multiplicativa por meio da correspondência com a coordenação com a contagem. Fonte: São Paulo (2007, p. 141). Além das questões de significado das operações, há ainda aquelas referentes ao papel do cálculo na escola hoje e as articulações entre cálculos mentais e escritos, bem como sobre a necessidade de explorar cálculos exatos ou aproximados. Um esquema interessante dessas relações foi apresentado pelo National Council of Teachers of Mathematics (1989): Figura 5 – Mapa conceitual dos diferentes tipos de cálculo e suas relações (cálculo com respostas exatas e aproximadas). Fonte: São Paulo, (2007, p. 140). 37 Podemos ver no esquema representado no mapa conceitual acima uma das recomendações do guia para a aprendizagem dos cálculos que mostra como ponto de partida um problema, e precisa que a resposta seja exata ou aproximada. Assim temos uma resposta exata, ―a depender da complexidade do cálculo, ela pode ser obtida por cálculo mental, com papel e lápis, com calculadora ou computador, mas o controle e a validação dessa resposta dependerão sempre da estimativa‖. Mas se a resposta for aproximada, ―ela pode ser obtida por cálculo mental ou diretamente por estimativa, sendo que o controle e a validação da resposta obtida por cálculo mental dependerão também da estimativa‖. Em síntese esse trabalho tem fundamental importância no processo de ensino e aprendizagem das operações, que precisa ser promovido por meio da mediação do professor. Em relação ao uso das tecnologias, o Programa coloca em sua proposta o uso da calculadora e do computador como ferramenta pedagógica, no entanto, algumas atividades com o uso da calculadora estão postas na prática; em relação ao uso do computador, diferente da rede publica estadual que ainda não aderiu na totalidade ao Programa inicial da Prefeitura, tem em sua proposta o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) nas escolas, com apoio e incentivo dos órgãos centrais. ―E esta vem criando espaços de participação interativa e construção coletiva de projetos integrados com o uso de novas formas de linguagem‖ (SÃO PAULO, 2007, p.13). Definindo como objetivo para a inclusão da TIC na educação para a ―formação de usuários competentes e autônomos‖. A seguir destacamos as Orientações Gerais da Rede Pública Estadual, por meio do Guia de Orientações Curriculares do Programa Ler e Escrever sobre situações que envolvem a estrutura multiplicativa. 1.5 Orientações Curriculares da Secretaria de Educação de Estado de São Paulo em relação ao ensino de estrutura multiplicativas, segundo o Programa Ler e Escrever As Orientações Gerais para o Ensino de Matemática tem a intenção de subsidiar o ensino dos conteúdos mais relevantes a ser garantidos ao longo das quatro séries do Ciclo I do Ensino Fundamental. Para isso é proposto para os 38 processos de ensino e aprendizagem, considerar três variáveis fundamentais e necessárias que são as relações que devem se estabelecer entre elas: aluno, professor e conhecimento matemático, e este propósito pode encontrar suporte nas teorias de Brousseau (1986). O autor considera para os processos de ensino e aprendizagem a relação professor, aluno e conhecimento matemático, que precisam ocorrer em sala de aula. ―Todo esse procedimento didático visa principalmente realizar uma educação matemática mais significativa para o aluno‖. (BROUSSEAU, 1986, apud FREITAS, 2002. p.65) Conforme as Orientações Curriculares da SEESP caberá ao professor ser o mediador entre o conhecimento matemático e o aluno, e para isso ele precisará necessariamente ter conhecimento dos conceitos matemáticos a ser ensinado e conhecer os procedimentos da didática da Matemática, fazendo a transposição didática de modo a ser compreendido pelos alunos. E ―pautar-se pela concepção do conhecimento matemático como ciência viva, aberta à incorporação de novos conhecimentos‖ (BRASIL,1997. p.3). De acordo com os PCN, no decorrer do Ciclo I, os alunos devem se tornar capazes de: • Compreender que os conhecimentos matemáticos são meios para entender a realidade. • Utilizar os conhecimentos matemáticos para investigar e responder a questões elaboradas a partir de sua própria curiosidade. • Observar aspectos quantitativos e qualitativos presentes em diferentes situações e estabelecer relações entre eles, utilizando conhecimentos relacionados aos números, às operações, às medidas, ao espaço e às formas, ao tratamento das informações. • Resolver situações-problema, a partir da interpretação de enunciados orais e escritos, desenvolvendo procedimentos para planejar, executar e checar soluções (formular hipóteses, fazer tentativas ou simulações), para comunicar resultados e compará-los com outros, validando ou não os procedimentos e as soluções encontradas. • Comunicar-se matematicamente apresentando resultados precisos e argumentar sobre suas hipóteses, fazendo uso da linguagem oral e de representações matemáticas e estabelecendo relações entre elas. • Sentir-se seguro para construir conhecimentos matemáticos, incentivando sempre os alunos na busca de soluções. • Interagir com seus pares de forma cooperativa na busca de soluções para situações-problema, respeitando seus modos de pensar e aprendendo com eles. (BRASIL,1997, p.3) 39 Assim, como nos Parâmetros Curriculares Nacionais, as orientações para o ensino de matemática são divididas em quatro blocos de conteúdo - números e operações, espaço e forma, grandezas e medidas e tratamento da informação. Em relação às expectativas de aprendizagem, o conteúdo sobre estrutura multiplicativa, que é o nosso foco, vem posto da seguinte maneira: Para 1ª série (2º ano) - Resolver situações-problema, compreendendo os significados da multiplicação e da divisão, utilizando estratégias pessoais; Para 2ª série (3º ano) - Interpretar e resolver situações-problema, compreendendo os significados da multiplicação utilizando estratégias pessoais; Calcular resultados de multiplicação por meio de estratégias pessoais; Construir fatos básicos da multiplicação (por 2, por 3, por 4, por 5) a partir de situaçõesproblema para a constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo; Interpretar e resolver situações-problema, compreendendo os significados da divisão e utilizando estratégias pessoais. Para a 3ª série (4º ano) Interpretar e resolver situações-problema compreendendo diferentes significados das operações envolvendo números naturais; • Construir fatos básicos da multiplicação (por 6, por 7, por 8, por 9) a partir de situações-problema para a constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo; • Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos que envolvem a multiplicação; • Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos que envolvem a divisão; • Calcular o resultado de operações com os números naturais por meio de estratégias pessoais e pelo uso de técnicas operatórias convencionais. (BRASIL, 1997, p.4) Assim podemos concluir que as orientações para o ensino das estruturas multiplicativas estão de acordo com os PCN, para tanto buscamos ainda algumas orientações dos PCN que apresentamos a seguir. 1.6 Orientações Curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais em relação ao ensino de estrutura multiplicativas. 40 Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, se faz necessário ampliar o conceito de número. Para isso, precisamos propor situações problemas que envolvam as quatro operações básicas incluindo a potenciação e radiciação, e à medida que se depara com a diversidade de situações os alunos vão buscando estratégias pessoais para resolver os problemas e esse processo possibilita o desenvolvimento da autonomia. Os alunos devem propor suas hipóteses e as validações para as respostas encontradas. o ensino de Matemática prestará sua contribuição à medida que forem exploradas metodologias que priorizem a criação de estratégias, a comprovação, a justificativa, a argumentação,o espírito crítico, e favoreçam a criatividade, o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal e a autonomia advinda do desenvolvimento da confiança na própria capacidade de conhecer e enfrentar desafios.(BRASIL, 1997, p.26) Colocado isso, nos interessa atentar-se à necessidade do aluno utilizar os cálculos de multiplicação e divisão utilizando os recursos de estimativas para avaliar a adequação de um resultado, o uso de calculadora para o desenvolvimento de estratégias de verificação e de controle dos cálculos por meio de estratégias pessoais. Com base em um campo amplo de significados e a estreita relação entre as operações, destaca-se a importância de um trabalho conjunto de problemas que explorem a multiplicação e a divisão. Dentre as situações relacionadas à multiplicação e à divisão a serem exploradas nestes dois ciclos, podem-se destacar, para efeito de análise e sem qualquer hierarquização, quatro grupos: multiplicação comparativa, comparação entre razões (idéia de proporcionalidade), configuração retangular e as associadas à idéia de combinatória. Ao investigar esse documento podemos afirmar que o Guia de Orientações do Programa Ler e Escrever tem aporte nos Parâmetros Curriculares Nacional, visto que as discussões são muito similares e se colocam, se assim podemos dizer, de forma mais clara possível para que o professor possa trabalhar, em nosso caso com as estruturas multiplicativas. Porém no estado vemos que ainda a muito que se valorizar a aprendizagem em Matemática para as séries iniciais, apenas verificando o documento de orientação da mesma rede. 41 De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) pode-se concluir que os problemas cumprem um importante papel no sentido de propiciar as oportunidades para as crianças, propondo que assim possam interagir com os diferentes significados das operações e que um único problema pode percorrer caminhos diferentes para serem resolvidos levando-as a reconhecer que uma mesma operação pode estar associada a diferentes problemas. Esse documento oferece um repertório para desenvolver a habilidade de calcular e sugere alguns pontos de apoio tais como: ―o domínio da contagem e das combinações aritméticas, conhecidas por denominações diversas como tabuadas, listas de fatos fundamentais, leis, repertório básico, etc‖. (BRASIL, 1997, p.74) Evidentemente, a aprendizagem de um repertório básico de cálculos não se dá pela simples memorização de fatos de uma dada operação, mas sim pela realização de um trabalho que envolve a construção, a organização e, como conseqüência, a memorização compreensiva desses fatos. A construção apóia-se na resolução de problemas e conferem significados as escritas do tipo a + b = c, a x b = c (BRASIL, 1997, p.74). Ao construírem e organizarem um repertório básico, os alunos começam a perceber, intuitivamente, algumas propriedades das operações, tais como a associatividade e a comutatividade, na adição e multiplicação. A organização dessas escritas e a observação de regularidades facilitam a memorização compreensiva. Também algumas regularidades, presentes nas operações, começam a ser percebidas, tais como: observar que, nas multiplicações por 2, todos os resultados são pares; que, na tabuada do cinco, os resultados terminam em zero ou em cinco, etc. o repertório está disponível nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p.71-75). A construção do repertório básico para o desenvolvimento do cálculo consiste em identificar as estratégias pessoais utilizadas pelos alunos e fazer com que eles explicitem oralmente suas análises e comparações evidencia sua compreensão. No cálculo escrito, os alunos devem construir registros numéricos para expressar os procedimentos do cálculo mental, por exemplo, se para multiplicar 14 por 7 o aluno faz 7 x 7 + 7 x 7 isso mostra que, nessa situação, ele recorre à decomposição de um dos termos e usa a propriedade distributividade para encontrar o resultado, de uma forma bastante simples. 42 Partindo desse raciocínio é possível fazer com que ele verifique que existe outra forma de decompor o número que também leva à obtenção do resultado: 10 x 7 + 4 x 7. Esta forma de decomposição — nas unidades das diversas ordens que compõem o número — é utilizada na técnica usual da multiplicação (BRASIL, 1997. p.78). O cálculo deve ser incentivado nas mais diferentes situações de aprendizagem. O recurso às calculadoras é uma delas. Na elaboração de atividades envolvendo o uso de calculadoras é importante que a criança seja colocada diante de desafios e ser estimulada a explicitar verbalmente ou por escrito, os procedimentos que utilizam. Os números racionais em relação à multiplicação e a divisão são explorados em diferentes situações como razão, comparação, configuração retangular. Apenas o significado da multiplicação como procedimento combinatório não é extensivo aos números racionais não-inteiros (BRASIL, 1997 p.80). Contudo, notamos que nos documentos oficiais já estão colocadas as situações para o ensino das operações, em nosso caso particularmente, das estruturas multiplicativas. No entanto, essa prescrição não é suficiente para que os professores revejam suas práticas em relação ao processo de ensino e aprendizagem relacionada às estruturas multiplicativas. Ao descrevermos as orientações e as expectativas de aprendizagens nos documentos que orientam o currículo para esse Ciclo e analisando novas práticas, nos deparamos com situações adversas entre a teoria propostas nos documentos oficiais e a prática de ensino em matemática para esse conteúdo. Para melhor diferenciar propostas e práticas consideramos um capítulo sobre os conhecimentos matemáticos em jogo nas estruturas multiplicativas e suas possibilidades de articulação com outros conceitos que serão desenvolvidos posteriormente. Sendo assim, a seguir fazemos uma breve retomada dos conceitos e estruturas das operações aritméticas que envolvem esse campo conceitual e que serão explicitadas por meio de problemas propostos, aplicados e analisados por Vergnaud conforme discussão do referencial teórico dessa pesquisa desenvolvido no capítulo 3. 43 2 PANORAMA MATEMÁTICO DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste capítulo apresentamos uma breve descrição das noções que envolvem o campo conceitual da estrutura multiplicativa considerando a definição do conceito, algumas de suas formas de representação, suas relações e suas propriedades. Iniciamos lembrando que a palavra multiplicação enquanto vocabulário da Língua Portuguesa é derivada do latim multiplicatĭo, -ōnis (mŭl'tə-plĭ-kā'shən), multiplicare, de 14 a.C. que se refere ao verbo multiplicar. Seu sentido matemático foi atestado em 1390. No dicionário consta ainda, que se trata de uma palavra feminina com a ação ou efeito de multiplicar ou multiplicar-se (dobrar, triplicar, quadruplicar...), ou seja, aumentar, na matemática modelizado como uma estrutura para operacionalizar. Em Matemática, quando consideramos a estrutura de multiplicação, observamos que ela consiste em uma lei de composição interna que por definição é toda aplicação f: E X E E, para um conjunto E dado. Ou seja, .: E X E E é dada por (x, y) x.y. A multiplicação é uma das quatro operações básicas de aritmética elementar, que juntamente com a divisão forma a estrutura multiplicativa (sendo que as outras, adição e subtração, formam a estrutura aditiva). Dessa forma, muitas vezes a multiplicação é definida para os números naturais, em termos de adição repetida, por exemplo, 3 multiplicado por 4 (que se lê "3 vezes 4"), podemos indicar 3 x 4 ou 4 x 3 e pode ser calculado somando 4 vezes o número 3: 3 x 4 = 3 + 3 + 3 + 3 = 12 ou 3 vezes o número 4: 4 x 3 = 4 + 4 + 4 = 12. Além desses exemplos vamos considerar as representações e exemplos a seguir: 44 3 4 Figura 6 – Representação da multiplicação por feixes de semi-retas Fonte: PIERRO NETTO (1970, p. 40) Para os números 3 e 4 podemos representar os numerais por feixes de semi-reta e considerar suas intersecções, conforme a figura acima (PIERRO, 1970, p. 40). Onde se vê que o feixe de 3 semi-retas intercepta o feixe de 4 semi-retas em 12 pontos, ou ainda o feixe de 4 semi-retas intercepta o feixe de 3 semi-retas 12 vezes, ou seja as intersecções representam o produto de “3 x 4 ou 4 x 3”, o que genericamente corresponde: a b Neb N: N, temos a x b = c x a = c ou a x b = b x a ou, de modo geral, para a, a x b = b + b + b +....+ b ( a vezes) e b x a = a + a + a +....+ a (b vezes) O exemplo acima pode ser considerado como um novo esquema que corresponde a uma mudança do quadro numérico1 para o quadro geométrico conforme definição de Douady (1983, 1992). Observamos então, que a generalização está associada a uma passagem dos quadros anteriores para o quadro algébrico. 1 Quadro e Mudança de quadro: [...] constituído de objetos de um ramo das matemáticas, das relações entre os objetos, de suas formulações eventualmente diversas e das imagens mentais associadas a essas relações. Essas imagens têm um papel essencial e funcionam como ferramentas dos objetos do domínio. Dois quadros podem conter os mesmos objetos e diferir pelas imagens mentais e problemáticas desenvolvidas. (notas de curso de Campos, T.M.M. 1990, Douady, 1983, 1992). 45 Quando a operação de multiplicação envolve números racionais e números reais que definimos para as crianças, por meio da generalização sistemática da idéia de adição de parcelas. Exemplo: √2 +√2 +√2 = 3√2. Temos a multiplicação associada à estrutura aditiva, conforme o exemplo acima. Podemos vislumbrar ainda a multiplicação como sendo o número de determinada unidade de medida contida em uma figura geométrica, por exemplo, em um retângulo, ou por meio do cálculo da área quando se considera as dimensões de uma figura geométrica (para números em geral). Nesse caso, trata-se da multiplicação associada a unidades de medidas. a x b = c (cm²) a (cm) b (cm) Além disso, sabemos que a operação inversa da multiplicação é a divisão, ou seja, os esquemas 3 x 4 = 12, ou 4 x 3 = 12, podem ser transformados para a determinação da divisão e assim temos 12 divido por 3 é igual a 4, ou 12 divido por 4 é igual a 3. Podemos generalizar, dizendo que se a x b = c, então, c : a = b ou c : b = a. A representação por meio de feixes de retas permite evidenciar a conjectura acima. 46 4 3 4 3 12 / 3 = 4 12 / 3 = 4 Nesta representação podemos ver Nesse caso, quando consideramos o que o número total de pontos de feixe de 4 semi-retas temos três intersecção quando considerados pontos em cada semi-reta que sobre o feixe de 3 semi-retas se divide corresponde a “12 dividido em 4 em quatro pontos sobre cada semi- grupos dá 3 elementos em cada retas, logo, “12 dividido em 3 grupos grupo, indicamos: 12 : 4 = 3. dá 4 elementos em cada grupo, indicamos: 12 : 3 = 4. Tabela 2: Representação da divisão por feixes de semi-retas Fonte: PIERRO NETTO (1970, p. 42) No caso de divisão não exata podemos considerar o exemplo abaixo, que também pode ser utilizado para o caso da divisão não exata. A 4,00 cm C 4,00 cm B 9=4+4+1 1,00 cm 9 =2 x4 +1 D Vemos que 9 não é divisível por 4 ou que 4 não divide exatamente o número 9. Desse modo a igualdade 9 = 2 . 4 + 1 se define pelo algoritmo de Euclides D= d . q + r, onde “D” é o dividendo, “d” é o divisor, “q” é o quociente e “r” é o resto. 47 A generalização da multiplicação para os conjuntos dos números complexos e das matrizes exige outros conhecimentos, novos esquemas, técnicas e representações. Para o caso dos conjuntos dos números complexos e das matrizes, a multiplicação está associada a outros conceitos que dependem de conhecimentos de álgebra linear para justificar os esquemas e as técnicas utilizados com os estudantes. Em particular, a multiplicação de matrizes é definida por meio da composição de duas transformações lineares o que também ocorre com a multiplicação no conjunto dos números complexos que é isomorfo ao espaço vetorial2 IR2 cujos elementos podem ser considerados como uma matriz do tipo 1 X 2 com coeficientes em R a aplicação linear, f: R2 M1x2 (R), definida por (x, y) [ x y ] é um isomorfismo de espaços vetoriais, o que permite considerar as operações e propriedades de IR² para as matrizes do tipo 1 x 2 e vice-versa. Como vimos acima, a multiplicação só pode ser definida genericamente quando se leva em conta explicitamente o conjunto em que a definimos. Isso conduz à necessidade de lhe associar a uma determinada estrutura algébrica, sendo que essa depende da representação dos elementos desse conjunto e das propriedades associadas a essa estrutura. Além disso, é preciso estabelecer uma linguagem específica onde se tenta padronizar as notações e terminologias como mostramos abaixo. 2.1. NOTAÇÃO E TERMINOLOGIA Podemos iniciar destacando os sinais utilizados para a multiplicação. A multiplicação é muitas vezes escrita usando o sinal "×" entre os termos, e este vemos o símbolo “x” ser usado até os dias de hoje, principalmente nas séries iniciais. Logo podemos considerar o sinal “x” como atual. O matemático inglês Espaços Vetoriais Isomorfos: Quando uma transformação linear T : V W for injetora e sobrejetora ao mesmo tempo, dá-se o nome de ISOMORFISMO. Quando há tal transformação entre dois espaços vetoriais dizemos que estes são ISOMORFOS. Espaços vetoriais isomorfos são, por assim dizer, idênticos. Em outras palavras, quando a correspondência biunívoca entre dois espaços vetoriais preserva as operações de adição e multiplicação por escalar, T(v + w) = T(v) + T(w) e T(kv) = k T(v), diz-se que esses espaços são isomorfos. Temos assim para T : V W , dim Ker(T) + dim Im(T) = dim V, onde dim Ker (T) = 0, ou seja, Ker(T) = {0 v } e dim Im(T) = dim W. http://www.ceset.unicamp.br/~telmag/ST%20362/aula_ga_transf_linear.doc, acesso em 18/01/2010. 2 48 Oughtred3 empregou-o pela primeira vez no livro Clavis Matemática, publicado em 1631. Ainda nesse mesmo ano, Harriot4, para indicar também o produto a efetuar, colocava um ponto entre os fatores. Em 1637, Descartes limitava-se a escrever os fatores justapostos, indicando, desse modo abreviado, um produto qualquer, ou seja, para elementos de um conjunto qualquer. Na obra de Leibniz encontramos (:) o sinal para indicar multiplicação, esse mesmo símbolo colocado de modo inverso (..) indicava a divisão. Em 1698, Leibniz introduz o símbolo “.”, por meio de uma carta a John Bernoulli onde ele tenta padronizar essa notação. As considerações acima mostram que a notação da multiplicação pode ser representada de diferentes formas. Na multiplicação o resultado é expresso com um sinal de igual. Por exemplo, 2 x 3 = 6 ( que se lê: “duas vezes três é igual a seis”); 3 x 4 = 12 2 x 3 x 5 = 6 x 5 = 30 2 x 2 x 2 x 2 x 2 = 32 Frequentemente relacionamos o produto entre duas quantidades por um ponto “ . ” . Atualmente encontramos o ponto no centro entre os números (5 . 2) ou 3 Oughtred, Guilherme, formado em Teologia, foi vigário de Shalford, Inglaterra. Os historiadores apresentam-no como o primeiro inventor da régua de cálculo. O seu primeiro trabalho intitula-se “Arithmeticae in numeris et specibus institutio... quase clavis est”. No capitulo relativo à Aritmética ele expõe uma multiplicação aproximada, que é conhecida pelo nome de regra de Oughtred. Nesse mesmo trabalho, introduz a cruz de Santa Andrea (X) para indicar uma multiplicação. http://euler.mat.ufrgs.br/~giacomo/curiosidades/Curiosidades-matematicas.doc , acesso em 17/01/2010. 4 Harriot (Hariot), Thomas, nascido em Oxford, Inglaterra, em 1560 e falecido em 1621, em Londres, foi renomado matemático e astrônomo e fundou a escola inglesa de álgebra. Em seu Artis Analyticae Praxis ad Aequationes Algebraicas Resolvendas (1631) ele melhorou a teoria das equações, percebendo uma importante relação entre coeficientes e raízes, detalhando a formação de equações de raízes conhecidas e relevou que qualquer equação de enésimo grau e o produto de equações lineares n são equivalentes. Ele também introduziu os sinais > (maior que), e < (menor que). Com seus alunos fez o estudo da topografia lunar mas sua descrição só foi publicada em 1788, e seu mapa da lua ficou inédito até 1965. COBRA,1997. (http://www.cobra.pages.nom.br/fm-harriot.html, acesso em 13/01/2010. 49 alinhado entre os números (5 . 2), o ponto no meio é padrão nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países o ponto é alinhado com o número. Além disso, observamos que no Reino Unido e em outros países o ponto alinhado é utilizado para a representação decimal enquanto que no Brasil, na Grécia e em alguns países, utiliza-se a vírgula para essa representação. O asterisco no centro e entre os números (5 * 2) é frequentemente utilizado em linguagens de programação 5, porque ele aparece nos teclados e é mais fácil de ser visualizado em monitores mais antigos. Em álgebra, a multiplicação envolvendo variáveis é freqüentemente escrita como uma justaposição, por exemplo, “xy” para x . y vezes ou “5 x” para cinco vezes x. Esta notação também pode ser usada para quantidades envolvidas por parênteses, por exemplo, 5 (2) ou (5) (2) para cinco vezes dois. No caso, por exemplo, da multiplicação de matrizes, lembrando que para o conjunto das matrizes podemos definir uma lei de composição interna denominada adição, que dá a esse conjunto a estrutura de grupo abeliano 6 e uma lei de composição externa denominada produto por escalar que satisfaz as quatro propriedades7. Dessa forma, o conjunto das matrizes com coeficientes em K munido das operações de adição e da multiplicação por escalar (M mxn (K), +, . ), quando é grupo abeliano para a adição e satisfaz as quatro propriedades da multiplicação por escalar é denominado espaço-vetorial sobre o corpo dos escalares, ou seja, um espaço vetorial sobre R. Como as matrizes aqui consideradas têm coeficientes em Q, R ou C podemos dizer que (Mmxn (K), +, . ), onde a adição e a multiplicação por escalas usuais, é respectivamente um Q, R ou C espaço vetorial, onde Q, R e C são 5 Asterisco no centro: teve origem na linguagem de programação FORTRAN. Grupo abeliano: Dizemos que um grupo (G,*) é abeliano ou comutativo se, e somente se, a lei (x, y) | x * z é comutativa, isto é, a * b = b * a, a, b G, satisfaz às propriedades: (G,*) é associativa; (G,*) possui um elemento neutro;Cada elemento a G possui um simétrico b G com relação à operação *.Se a aplicação * é a adição, o grupo (G,*) é aditivo e se a aplicação * é a multiplicação, o grupo (G,*) é multiplicativo. (DOMINGUES E IEZZI, 1995 p.78). 7 Sejam um espaço vetorial sobre um corpo K, isto é, munido da lei de composição interna adição indicado por (x, y) x + y e um grupo abeliano e E munido da lei de composição externa, indicado por, (α, x ) α, x, para α k e x E e denominada produto por escalar, satisfaz as quatro propriedades: (1) x E, 1x = x; (2) α, β K e x E, α(βx) = (α β)x (pseudo-associativa); (3) α K e x, y E, α(x + y) = αx + αy (1ª pseudo-distributiva); (4) α, β K e x E, (α+β) x = αx + βx (2ª pseudo-distrbutiva), (ROGALSKI, 1992, p.4). 6 50 corpos, pois a multiplicação α x com α Q, R ou C e x C é um elemento de C, lembrando que C pode ser um Q, R ou C - espaço vetorial e R um Q ou R- espaço vetorial e Q somente um Q- espaço vetorial. Além disso, quando consideramos o espaço vetorial das transformações lineares 8 podemos associar transformações lineares e matrizes9 e por meio de um isomorfismo de espaços vetoriais e a partir desse resultado definir a multiplicação de duas matrizes como a composta de duas transformações lineares. Para a multiplicação nos conjuntos numéricos dos Naturais N, inteiros Z, racionais Q e reais R basta defini-las como uma lei de composição interna, por exemplo, +: N X N N tal que ( x, y) x + y; .: N X N N tal que ( x, y) xy onde xey N, isto é as operações de adição e multiplicação usuais para o conjunto. Observamos que (N, +) e (N, . ) não são grupos, (Z, +) é grupo abeliano e (Z, . ) não é grupo e (Q, +), (Q, . ) e (R, +), (R, . ) são grupos abelianos e (Q, +, . ) e (R, +, . ) são anéis10, anéis comutativos11, anéis comutativos com unidade12, anéis de integridade13, corpos14. 8 Espaço vetorial das transformações lineares: Sejam V e W dois espaços vetoriais. Uma transformação linear T de V em W é uma função (ou aplicação) que a cada v V faz corresponder um único T(v) v W e que satisfaz as seguintes duas condições: " u, v Ve"a R, ( i ) T (u + v) = T (u) + T (v); ( ii) T (a v) = a T (v). Exemplo: Consideremos a expressão matricial de um sistema de n m equações lineares Ax = b, onde A é uma matriz mxn, x R eb R . Na condição de equação buscamos conhecer x quando A e b são dados. De outro modo, dada a matriz A, a equação Ax = b, pode ser vista assim: "Diga-me um vetor x em Rn e eu te direi um vetor b em Rm", isto é, a matriz A n m n representa a função com domínio R e contra domínio R , onde a imagem de cada x R é b = Ax Rm. Essa função tem as seguintes propriedades: A(x + y) = Ax + Ay, A(a x) = a Ax com a Î R que caracterizam as transformações lineares.(DOMINGUES E IEZZI, 1995, p. 136) 9 n m Transformações lineares e matrizes: Uma transformação de R R dada pela multiplicação por n m uma matriz mxn. Seja A uma matriz mxn e T: R R definida por T(v) = Av. Aqui Av é o produto da matriz Amxn pelo vetor coluna vnx1. T é linear. Sejam u, v Rn e a R. (i) T(u + v) = A(u + v)= Au + Av (propriedade do produto de matrizes) = T(u) + T(v); (ii) T(a v) = A(a v)= a (Av) (propriedade do produto de matrizes)= a T(v). Por (i) e (ii), a transformação T é uma transformação linear. Assim, toda matriz Amxn pode ser usada para definir n m uma transformação linear TA : R R onde a imagem TA (v) é o produto da matriz Amxn pelo vetor coluna vnx1. (DOMINGUES E IEZZI, 1995, p. 136) 10 Anéis: Sejam (x, y) | x + y e (x, y) | xy leis de composição internas num conjunto A ≠ Ø, diz-se que A é um anel se, e somente se satisfaz as seguintes propriedades: 1º. Quanto à adição o conjunto A é um grupo abeliano; 2º. Na operação de multiplicação é associativa; 3º. A multiplicação é distributiva em relação à adição. (DOMINGUES E IEZZI, 1995 p. 129) 11 Dizemos que um anel A é anel comutativo se a sua a multiplicação é comutativa, isto é ( a, b) (a, b A ab = BA). (DOMINGUES E IEZZI, 1995 p.135) 51 Observamos ainda que no processo de multiplicação de elementos de conjuntos numéricos como os naturais, inteiros, racionais e reais, os números multiplicados são geralmente chamados de fatores. Ao pensar na multiplicação como adição repetida, o número a ser multiplicado é chamado o multiplicando, enquanto o número de múltiplos é chamado de multiplicador. Em álgebra, o multiplicador de uma variável ou expressão (por exemplo, o 3 em 3 xy 2) é chamado de coeficiente. O resultado da multiplicação é chamado de um produto, e é um múltiplo de cada fator quando se trata de um número inteiro. Por exemplo, 15 é o produto de 3 e 5, e é tanto um múltiplo de 3 como um múltiplo de 5. Na matemática um produto é o resultado da multiplicação, ou uma expressão que identifica os fatores a serem multiplicados. É importante ressaltar que quando números reais ou números complexos são multiplicados a ordem não tem qualquer influência sobre o produto, essa propriedade é conhecida como a lei comutativa da multiplicação. Quando matrizes, que correspondem a vetores de um espaço vetorial, são multiplicadas, o produto geralmente depende da ordem dos fatores, ou seja, a multiplicação de matriz nem sempre é comutativa, quando existe. Temos aqui uma nova estrutura que corresponde à noção de álgebra15. Em relação à noção de espaço vetorial podemos destacar ainda os seguintes conceitos: combinação linear16, espaço gerado17, base18, dimensão 19 e 12 Um anel com unidade é um anel A que conta com elemento neutro para a multiplicação. (DOMINGUES E IEZZI, 1995 p. 135). 13 Um anel A, comutativo com unidade, onde é verdadeira a frase ( a, b A) (ab = 0A a = 0A ou b = 0A). Recebe o nome de anel de integridade. (DOMINGUES E IEZZI, 1995 p. 140) 14 Um anel K, comutativo com unidade, recebe o nome de corpo se todo elemento não nulo de k admite um simétrico, ou seja, ( a K) (a ≠ 0 b K | ab = 1). (DOMINGUES E IEZZI, 1995, p.140). 15 Noção de álgebra: Seja um corpo comutativo. Um K-algebra A é um K-espaço vetorial onde definimos uma aplicação K-bilinear α: A X A A que cada par a, b de A X A associa um elemento ab de A, chamada multiplicação da álgebra. Uma aplicação K-bilinear é definida. 16 Sejam (C) um espaço vetorial real (ou complexo), v 1, v2, ...., vn E V e a1, a2,...., an números reais (R) ou números complexos (C). Então o v = a1v1 + a2v2+....+ an v n é um elemento de V, e dizemos que “v” é uma combinação linear de v 1,....vn. Logo, podemos dizer que uma expressão da forma a1u1 + a2u2+....+ an un = w, onde a1, a2,....an são escalares e u1, u2, ...., um e w, vetores do Rn chama-se combinação linear DOMINGUES E IEZZI, 1995, p.140). 17 Um espaço vetorial contendo os vetores v e w tem que conter todas as suas combinações lineares αv+ βw, onde α e β são escalares arbitrariamente escolhidos. Esse espaço gerado por todas as combinações lineares das colunas de uma matriz A e denotado Col(A) e denominado espaço coluna 52 transformação linear, que permitem justificar os possíveis esquemas sob o ponto de vista de Vergnaud associados às estruturas multiplicativas. Para o campo conceitual de estrutura multiplicativa destacamos os seguintes conceitos associados às noções de espaço vetorial e álgebra que compõem o campo conceitual das estruturas multiplicativas conforme tabela 2 - Quadro que envolve o campo conceitual das Estruturas Multiplicativas – (p.79) e apresentada por Vergnaud (2009). 2.2. PROPRIEDADES DA MULTIPLICAÇÃO Para os naturais, inteiros, racionais, reais e complexos, a multiplicação satisfaz as seguintes propriedades: Propriedade comutativa: Dados x, y em E dizemos que a operação de multiplicação em E é comutativa quando xy = yx. Exemplos: A multiplicação em N, Z, Q, R e C são operações comutativas. Um contra-exemplo: a multiplicação em M2x2 não é comutativa: 1 2 4 5 3 4 6 7 4 5 1 2 6 7 3 4 = 16 19 36 43 19 28 27 40 e = Propriedade associativa: Dados x, y, z em E dizemos que a operação de multiplicação em E é associativa quando x (y, z) = (x y) z. Exemplos: A multiplicação de A. Os vetores v 1, v2,...,vk em um espaço vetorial V geram V se todo vetor em V for uma combinação linear de v 1, v2,...,vk . Além disso, se S= { v 1, v2,...,vk }, então dizemos também que o conjunto S gera V, ou que { v 1, v2,...,vk } , gera V, ou que V é gerado por S, ou, [S] = v (KOLMAN E BOSQUILHA, 2006 p.267). 18 Uma base de um K- espaço vetorial V é um conjunto de vetores linearmente independente que gera o espaço V. http://www.nacad.ufrj.br/~amit/alglin/key3.pdf, acesso em 18/10/2010. 19 Todas as bases para um mesmo espaço possuem o mesmo número de vetores linearmente independentes. Este número é denominado dimensão do espaço. http://pt.wikilingue.com/es/Base_(%C3%A1lgebra), acesso em 18/10/2010. 53 em N, Z, Q, R e C são operações associativas. A multiplicação em M mxn (R) é associativa. Propriedade distributiva: Dados x, y, z em E dizemos que a multiplicação é distributiva em relação a adição quando x(y + z) = xy + xz e (y + z) x = yx + zx. Exemplos: A multiplicação em Z é distributiva em relação à adição em Z pois: x,y E: x (y + z) = ( x . y + (x . y) A multiplicação é distributiva em relação à adição em M n R pois: A, B, C Mn, R: A . (B + C) = (A . B) + (A . C) A, B, C M, R: A . (B + C) = (B . A) + (C . A) A potenciação é distributiva em relação à multiplicação em N pois: x,y,z N: (x . y)n = xn . yn mas não é distributiva à esquerda pois: 23.4 ≠ 23 . 24. Existência do elemento neutro da multiplicação: Dizemos que E é neutro da operação de multiplicação quando x . e = x = e . x, para todo x em E. Exemplos: Podemos afirmar que o elemento neutro das multiplicações em N, Z, Q, R e C é o número e = 1, pois 1 . x = x = x . 1 para qualquer número “x”. O elemento neutro da multiplicação em M2x2 (R) é: 1 0 a b 0 1 c d = 1 0 quaisquer que sejam a,b,c,d 0 1 a b c d = R temos: a b 1 0 c d 0 1 Existência de elementos regulares para a multiplicação: Dizemos que um elemento a em E é regular (ou simplificável) para a operação de multiplicação quando ax = ay xy e xa = ya x = y para todo x, y em E. 54 Exemplos: 3 é regular para a multiplicação em Z pois, 3 . x = 3 . y x = y; Contra-exemplo: 0 não é regular para a multiplicação em Z pois: 0 . 2 = 0 . 3 e 2 ≠ 3. Existência do elemento inverso para a multiplicação: Dizemos que x em E é invertível, para a operação de multiplicação em E cujo neutro é e, quando existe x’ em E, tal que x’ . x = e = x . x’. Para a multiplicação em Q,R e C cujo neutro é 1, temos que 1/x é o inverso de x-1 para todo x em Q, R e C. Exemplos: 2 é um elemento invertível para a multiplicação em Q e seu inverso é ½ pois: ½ . 2 = 1 = 2 . ½ . Contra-exemplo: 0 não é invertível para a multiplicação pois não há elemento x’ em Q tal que: 0 . x’ = 1 = x’ . 0. Para a multiplicação em Z apenas o 1 e o -1 são invertíveis. Compatibilidade da ordem com a multiplicação: A multiplicação por um número positivo preserva a ordem: se a ≥ 0, e, se b ≥ c então ab ≥ ac. A multiplicação por um número negativo inverte a ordem: Se a ≤ 0 e b ≥ c então ab ≤ ac. A seguir apresentamos uma breve justificativa da aplicação dos números e dos conceitos matemáticos que lhe são associados. 2.3. DIFERENTES FORMAS PARA A MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS Os números podem servir para contar (exemplo: cardinal 3 maçãs), de medir (exemplo: medida 3,5 metros de altura) ou para ordenar (exemplo: a maçã é a 3ª “terceira” - ordinal). Quando consideramos o processo de contagem recorremos aos números cardinais, que estão associados ao número de elementos de um conjunto. Para isso necessitamos da noção de correspondência biunívoca ou bijeção. Essa noção é um caso particular do conceito de função, ou seja, dados os conjuntos A e B, “uma função f: A B chama-se uma bijeção, ou uma correspondência biunívoca entre A e B quando é ao mesmo tempo injetiva e sobrejetiva” (LIMA et al, 1997, p. 42). 55 Exemplo: Sejam A = { 1, 2, 3, 4, 5} e B = { 2, 4, 6, 8, 10}. Definindo f: AB pela regra a f(n) = 2n, temos uma correspondência biunívoca, onde f(1)= 2, f(2) = 4, f(3) = 6, f(4) = 8 e f(5) = 10. No caso das medidas recorremos aos segmentos comensuráveis e incomensuráveis. Os segmentos comensuráveis são aqueles que podem ser representados por meio de uma medida comum entre uma unidade (1) e o próprio segmento, ou seja, se 1/n é um segmento, que cabe n vezes na unidade e m vezes no próprio segmento temos que a medida do segmento é m/n, por exemplo: 7 . 1/2 = 7/2 = 3,5 u=1 A B 1/2 D C O conceito de segmento incomensurável pode ser definido por comparação com o de segmento comensurável. Temos que, a razão entre os comprimentos de dois segmentos comensuráveis é um número racional. Por outro lado, a razão entre os comprimentos de dois segmentos incomensuráveis é um número irracional, e o conceito de incomensurabilidade é correspondente ao de número irracional. Para isso, podemos citar como exemplo um quadrado qualquer, pois o lado comparado à diagonal corresponde a segmentos incomensuráveis. Utilizamos demonstração por absurdo relacionada com a demonstração dos segmentos comensuráveis que, compara a diagonal AC do quadrado ABCD, com o lado AB, conforme Lages Lima : 56 D C u A B Se houvesse um segmento de reta “u” que coubesse n vezes no lado AB e m vezes na diagonal AC do quadrado ABCD então, tomando AB como unidade de comprimento, a medida AC seria igual a m/n enquanto, naturalmente, a medida de AB seria 1. Pelo Teorema de Pitágoras teríamos (m/n)² = 1² + 1², donde m²/n² = 2 e m² = 2n². Mas está última igualdade é absurda, pois na decomposição de m² em fatores primos o expoente do fator 2 é par enquanto em 2n² é impar. (LIMA et al., 1997 p.55) Vimos nesse exemplo que para um quadrado qualquer, sempre a medida da diagonal é incomensurável, ou seja, resulta em um número irracional. Além disso, a demonstração exige a passagem ao quadro geométrico e só pode ser considerada quando se dispõem do Teorema de Pitágoras. Quando consideramos a ordenação é preciso recorrer à ordem entre os números naturais. O conjunto dos números naturais N tem uma relação de ordem tal que m < n. Conforme Lages Lima et al (1997 p. 34) temos que, “dados m, n N, diz-se que m é menor do que n, e escreve-se m < n, para significar que existe algum p N tal que n = m + p (Isto quer dizer que n é o sucessor do sucessor... do sucessor de m, o ato de tomar o sucessor sendo iterado p vezes)”. Ele observa ainda que a relação m < n tem as seguintes propriedades: Transitividade: Se m < n e n < p então m < p. Tricotomia: Dados m, n N, vale uma, e somente uma, das alternativas: m = n, m < n ou n < m. Monotonicidade: Se 57 m < n então, para qualquer p , tem-se m + p < n e mp < np. Boa ordenação: Todo subconjunto não vazio X N possui um menor elemento. Isto significa que existe um elemento mo X que é menor do que todos os demais elementos de X. (LIMA et al., 1997 p.34) Nesse capitulo, procuramos mostrar a complexidade das estruturas multiplicativas, que para ser explicitada do ponto de vista teórico necessita das noções de espaço vetorial, combinação linear, dependência linear e transformação linear. Além disso, mostramos que existe pouca relação entre essa estrutura e a estrutura aditiva. Na sequência, estudamos a gênese dos campos conceituais das estruturas multiplicativas por meio de exemplos que permitem colocar em evidência as categorias das estruturas multiplicativas segundo Vergnaud e os esquemas apresentados por Nunes e Bryant, assim como, aquelas encontradas nos Guias de Orientações Curriculares do Programa Ler e Escrever e dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que fazem referência às pesquisas de Vergnaud e Nunes e Bryant. 58 3 REFERENCIAL TEÓRICO DA PESQUISA CONSIDERAÇÕES INICIAIS A escolha do referencial teórico se deu devido às orientações encontradas no Guia de Planejamento do Programa Ler e Escrever que é o material escolhido como prática docente para a introdução das estruturas multiplicativas quando se considera a 3ª série. Nesse Programa encontram-se as propostas de práticas didáticas para serem utilizadas como recurso na resolução de problemas. Além disso, os Guias de Planejamento introduzem explicitamente os Campos Conceituais de Vergnaud, nomeando as atividades que envolvem a adição e subtração de estrutura aditiva e as de multiplicação e divisão de estrutura multiplicativa. Destacamos que no Guia de planejamento de orientações didáticas do Programa Ler e Escrever para a 2ª série, volume 1, página 182, lemos ―Segundo o professor e pesquisador Vergnaud, responsável pela Teoria dos Campos Conceituais, cada conceito matemático está inserido em um campo conceitual que, por sua vez, é constituído por um conjunto de situações de diferentes naturezas‖. Essa afirmação conduz a necessidade de uma análise mais aprofundada na proposta de Vergnaud. Trata-se de uma abordagem psicológica da Didática de Matemática Francesa, inspirada nos trabalhos de Piaget. Para Vergnaud a conceitualização só pode se realizar por meio da ação e de sua organização. Isso gere a uma dialética constante entre o real e o abstrato. Sendo assim, o objetivo da pesquisa aqui proposta é diagnosticar a construção do conceito de estruturas multiplicativas, quando se leva em conta a teoria dos campos conceituais de Vergnaud (1983b, p. 127). Dessa forma, a opção teórica acima mencionada fundamenta os aspectos que compõem nosso problema, que está centrado no campo conceitual associado às estruturas multiplicativas, que por sua vez tem seus conceitos interconectados entre a multiplicação e divisão entendidas como pertencentes a um único campo conceitual. Para Vergnaud (1991, p.190) ―um conjunto de situações em relação 59 progressiva com o conjunto de conceitos gera um campo conceitual‖. Segundo o autor: Um conceito => várias situações; Uma situação => vários conceitos. Delimitamos assim nosso problema, pois nessa pesquisa serão considerados apenas os trabalhos em Educação Matemática, associados à teoria dos campos conceituais de Vergnaud. Observamos que o estudo das ações realizadas pelos alunos e sua organização permite compreender quais as diferentes estratégias por eles propostas para tratar situações que envolvam as estruturas multiplicativas. Nessa perspectiva fizemos nossas intervenções, estudos e análises. Iniciamos então esse capítulo fazendo uma revisão de literatura sobre os campos conceituais de Vergnaud destacando no processo de resolução de problemas: as tipologias das estruturas multiplicativas, o conceito de competência e de esquema, os conceitos do campo conceitual das estruturas multiplicativas e as categorias dessa estrutura. Além disso, mostramos as diferentes terminologias utilizadas na evolução da teoria dos campos conceituais por Vergnaud, as adaptações apontadas nos Guias do Programa Ler e Escrever e as Novas Propostas associadas ao estudo do campo multiplicativo desenvolvidas nas pesquisas de Nunes e Bryant (1997). 3.1. CAMPOS CONCEITUAIS A teoria dos campos conceituais, de Vergnaud (1991 p. 155), é uma teoria cognitivista, que trata da conceitualização da realidade como meio para compreender como se desenvolve a aprendizagem. Nessa teoria ele propõe o estudo e análise do processo de aquisição do conhecimento. Para Vergnaud conhecimento corresponde ao saber fazer, que pode ser observado por meio da ação: oral, escrita, gestual, etc, ou seja, por meio da linguagem, ou de atividades em situação. 60 Para melhor compreender a relação entre a teoria dos campos conceituais de Vergnaud e a teoria de Piaget consideramos as noções de conhecimento e esquema discutida em Vergnaud (2009)30: Conhecimento é adaptação, logo o problema que se coloca é saber o que se adapta e para que. Nós nos adaptamos às situações e para isso o que se adapta são as formas de organização das atividades. Sendo esquema uma forma de organização da atividade, esse está em correspondência direta com a situação, logo o esquema implica em uma situação e vice versa (esquema situação). Portanto, observar a forma de organização da atividade nos permite identificar os diferentes esquemas. Por exemplo, se consideramos a atividade: Resolver um certo tipo de problema. Observamos que se não desestabilizamos as crianças elas não aprendem. Sendo assim, uma parte da didática consiste em imaginar situações que estão em um nível mais baixo do que elas podem realizar para identificar os esquemas que elas são capazes de desenvolver. Para a construção das situações é preciso conhecer o conteúdo conceitual, isso fará uma diferença importante, mas não o suficiente. Ainda, segundo Vergnaud (2009) um conceito se forma a partir de várias situações e vice-versa, o processo de construção e apropriação de um conceito em todas as suas formas e representações e em todos os seus aspectos para uma mesma situação é longo, com entraves e conquistas. Além disso, existem situações que se resolvem rapidamente e outras que só serão entendidas mais tarde, a conceitualização nunca termina. A partir das justificativas acima, Vergnaud introduz a noção de ―campo conceitual‖, que segundo ele auxilia a entender o processo de conceitualização da realidade pelo sujeito em sua amplitude. Mais especificamente, conceitualização, para Vergnaud (2009), é a identificação dos objetos do mundo, de suas propriedades e de suas relações. 30 VERGNAUD, G. e CAMPOS, T.M.M. La teoria de los campos conceptuales como referente para la investigación em enseñanza de lãs ciências. Ejemplos de campos conceptuales. III Encuentro Iberoamericano sobre Investigación Básica em Educación em Ciências: Burgos, Espanha, 2009. 61 Sendo esses objetos e suas propriedades diretamente acessíveis a percepção, ou resultando de uma construção consciente ou inconsciente. Ele distingue, assim, o conhecimento em duas classes de situações, que estão diretamente associadas às competências do sujeito para tratá-las acarretando em sucesso ou fracasso quando do seu tratamento, como mostra o texto abaixo: 1. Classe de situações para as quais o sujeito dispõe, no seu repertório, num dado momento do seu desenvolvimento, e em determinadas circunstâncias, das competências necessárias ao tratamento relativamente imediato da situação. 2. Classe de situações para as quais o sujeito não dispõe de competências necessárias, o que o obriga a um tempo de reflexão e de exploração, a hesitações, a tentativas abortadas, conduzindo-o, quer ao êxito, quer ao fracasso. (VERGNAUD, 1991, p. 156). Essas duas classes de situações, segundo Vergnaud ( 1990, p. 136; 1991 p. 156; 1994, p. 53; 1996b, p. 201), funcionam de diversas maneiras conforme diferentes esquemas. A primeira com condutas em grande medida automatizadas, organizadas por meio de um esquema único e a segunda com desencadeamento sucessivo de diversos esquemas ocorrendo num processo de desvendar, ajustar e desajustar e encontrar soluções. A partir dessas duas classes de situações Vergnaud apresenta a seguinte definição de esquema: [...] a organização invariante da conduta para uma dada classe de situação. É nos esquemas que se tem de procurar os conhecimentos-em-atos do sujeito, ou seja, os elementos cognitivos que permitem a ação do sujeito ser operatória31. (VERGNAUD, 1990a p. 157). Sabemos que um esquema implica em situação e vice versa e as duas diferentes classes de situações dependem das competências que os sujeitos dispõem. A distinção das duas classes de situações conduz ao conceito de competência que, para Vergnaud, não é um conceito cientifico independente; para compreendê-lo é preciso identificar como se organizam as atividades. 31 Operatório: Quando o sujeito é capaz de tratar uma situação de imediato utilizando as competências que dispõe. 62 Para melhor compreender como a noção de competência é concebida na teoria dos campos conceituais proposta por Vergnaud (2009), observamos que ele considera cinco diferentes formas de pensar sobre a noção de competência que estão associadas ao que o sujeito A pode fazer quando comparado com o sujeito B, a evolução do desempenho de A num determinado tempo, a possibilidade de A encontrar formas mais apropriadas para tratar uma determinada situação que permitam obter um resultado mais rápido, mais genérico e mais compatível, a possibilidade do sujeito A dispor de um repertório de fontes alternativas e a possibilidade desse sujeito estar mais instrumentalizado face a uma nova situação. Esses diferentes modos de pensar a noção de competência são descritos por Vergnaud por meio das seguintes afirmações: ―A‖ é mais competente que ―B‖ se ele sabe fazer qualquer coisa que ―B‖ não sabe fazer. ―A‖ é mais competente no tempo t’ que no tempo t se ele sabe fazer em t’ o que não sabia fazer em t. ―A‖ é mais competente se ele encontra uma forma melhor, com critérios, para resolver uma situação seja mais rápida, mais geral e/ou mais compatível. ―A‖ é mais competente se ele se dispõem de um repertório de fontes alternativas que lhe permitem adaptar sua conduta aos diferentes casos que podem aparecer. ―A‖ é mais competente se ele é o mais instrumentalizado diante de uma nova situação. A noção de competência é discutida em diferentes pesquisas, o que conduz Kuster e Lamel (2009) a observar que apresentar uma definição para o conceito de competência é um desafio. Mas, pesquisadores como Le Boterf (1994), Perrenoud (1997) e Beckers (2002) propõem uma definição de competência, centrada na ação, a saber: competência é ―saber mobilizar em ação‖, sua finalidade é tratar os recursos internos (cognitivos) e externos de uma tarefa ou resolver um problema complexo. Para Kuster e Lamel (2009) todos esses autores referem-se ao construtivismo piagetiano. Kuster e Lamel (2009) observam ainda que as noções de esquema em ação e classes de situações definidas por Vergnaud (1990, p. 136; 1991 p. 156; 1994, p. 53; 1996b, p. 201) refinaram o conceito de competência por meio da teoria dos 63 campos conceituais. Isso os conduz a escolher o modelo de Coulet (2005) que considera que a construção de uma competência assim como a execução de uma atividade produtiva se realiza por meio de esquemas de ação, sendo esses acompanhados por formas de regulação sobre alguns elementos que constituem esses esquemas. Para isso, Coulet (2005) apresenta um mapa conceitual no qual fica evidente a influência da teoria dos campos conceituais de Vergnaud, pois os circuitos curtos são as regulações sobre as regras de ação do esquema e os circuitos longos correspondem as regulações sobre os invariantes operatórios do esquema, conforme figura 6. Figura 7 – Uma modelagem do processo de construção de competência32 Fonte: COULET, 2005 Consideramos assim que as competências matemáticas seguem o modelo de Coulet (2005) e para justificar nossa escolha apresentamos abaixo o exemplo sobre o esquema de numeração de uma pequena coleção sustentado por esquemas organizadores da conduta, conforme descrição de Vergnaud: 32 Une modélisation de la construction d’une compétence (tradução nossa) 64 O esquema da enumeração de uma pequena coleção por uma criança de 5 anos pode variar nas suas formas quando se trata de contar bombons, pratos sobre uma mesa, ou pessoas sentadas de maneira esparsa num jardim, mas nem por isso deixa de comportar uma organização invariante, essencial ao funcionamento do esquema: coordenação dos movimentos dos olhos e dos gestos do dedo e da mão relativamente à posição dos objetos, enunciado coordenado da seqüência numérica, cardinalização do conjunto numerado por sublinhado tônico ou pela repetição da última palavra número pronunciada: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete...sete! (VERGNAUD, 1991, p.157) Observando o exemplo acima, é possível identificar o circuito curto quando a criança repete o mesmo número para outras pessoas ou objetos no processo de contagem e o circuito longo quando ela retoma a contagem para determinar o número total de pessoas que não estão no mesmo ambiente ou de objetos que estão separados. Esse exemplo mostra diferentes esquemas das formas pelas quais os alunos podem organizar seus invariantes de ação ao lidar com uma determinada situação ou classe de situações. É possível observar ainda que um esquema pode ser eficiente para um conjunto de situações e pode gerar diferentes seqüências de ações, procedimentos de coleta e controle de informações, dependendo de cada situação e da competência do sujeito. Os esquemas se referem necessariamente a situações. Observamos aqui a distinção entre a teoria de Vergnaud e a de Piaget, enquanto o primeiro considera o estudo da interação sob a perspectiva esquemasituação o segundo se refere à interação sujeito-objeto. A escolha da interação esquema-situação permite Vergnaud (2009) considerar quatro definições para a noção de esquema, a saber: 1. Um esquema é uma forma de organização da atividade e uma totalidade dinâmica funcional. 2. Um esquema é uma organização invariante da atividade para uma classe definida de situações. (Ex. algoritmo, esquema de contagem – conceito de cardinalidade 5 quinto elemento, ou 5 cardinal do conjunto). 3. Um esquema compreende necessariamente quatro categorias de componentes: i. um objetivo (ou vários), sub-objetivos e antecipações; ii. regras de ação do tipo ―se – então” que controlam a informação e proporcionam regras de busca, permitindo a 65 seqüência de ações do sujeito; iii. invariantes operatórios – teoremas em atos e conceitos em atos, que permitem que o sujeito reconheça os elementos pertinentes à situação e a categoria de informação que corresponde a tal situação; iv. inferências – os raciocínios, que permitem ao sujeito determinar as regras e antecipar informações a partir de invariantes operatórios. 4. Um esquema é uma função que tem seus valores de entrada num espaço temporalizado n dimensional, e seus valores de saída em um espaço igualmente temporalizado n’ dimensional (n e n’ muito grandes) Exemplos de teorema em ação: Transformação => Conceitos -5 EI EF +5 Estado Inicial conceito em atos (ação) Conceito em atos TEOREMA EM AÇÃO Figura 8 – Esquema de transformação de conceito. Fonte: VERGNAUD, 2009 É importante observar que existe uma relação dialética entre conceito em ação e teorema em ação. Os teoremas em ação são proposições tidas como verdadeiras, mas podem ser verdadeiras ou falsas. Os conceitos em ação não são nem verdadeiros nem falsos, mas pertinentes ou não pertinentes. O reconhecimento de invariantes operatórios é a chave da generalização do esquema. (VERGNAUD, 1990 p. 161). 66 O funcionamento cognitivo do aluno comporta diversas operações que se automatizam progressivamente. A confiabilidade do esquema depende do conhecimento explícito ou implícito que a criança tem das relações do problema. Por exemplo, quando se considera a enumeração, podemos identificar facilmente duas idéias matemáticas indispensáveis para o funcionamento do esquema: a de bijeção e a de cardinal. Observa-se então que as condutas comportam uma parte de automacidade e uma parte de decisão consciente como é possível identificar no texto abaixo: Na resolução dos problemas de aritmética dita elementar, as crianças se deparam com numerosas dificuldades conceituais. É em termos de esquemas que devem analisar a escolha das operações e dos dados adequados a resolução de um problema para o qual existem diversas possibilidades de escolha. A recolha de informação na leitura do enunciado, a recolha de informações físicas (medidas, por exemplo), a procura de informações em documentação (num livro escolar, em quadros estatísticos, etc.), a combinação adequada destas informações através das operações de adição, de subtração, de multiplicação e de divisão, obedecem em geral a esquemas, nomeadamente entre os alunos que dominam essas situações. Para os alunos, trata-se da resolução de problemas porque as situações em jogo ainda não se tornaram triviais para eles; mas os procedimentos heurísticos são esquemas: não efetivos como os algoritmos, nem sequer por vezes, eficazes. (VERGNAUD, 1991, p. 162). Observamos ainda que, sendo o esquema composto por regras de ações e de antecipações, ele vem combinado essencialmente por invariantes operatórios e por inferências. Os invariantes operatórios (conceitos-em-ação e conhecimento-emação) podem ser de três tipos: proposições, função posicional e argumento. Durante a ação para a observação dos esquemas, as inferências são indispensáveis, seja para situações particulares ou classes de situações, pois um esquema faz parte de um universo que permite gerar sequências diversas de ações em torno das diferentes variáveis de uma situação. Além disso, visando interpretar o comportamento de uma criança frente a problemas aritméticos elementares, Vergnaud (1982) acredita ser essencial distinguir dois tipos de cálculo. O ―cálculo numérico‖ que significa as operações ordinárias de adição, subtração, multiplicação e divisão e o ―cálculo relacional‖ que significa as operações 67 de pensamento que são necessárias para reconhecer as relações envolvidas em uma situação. Este cálculo pode ser geralmente expresso por meio de teoremas (quando é válido), ou em termos de falsas inferências (quando não é válido). Esses teoremas ou inferências não são necessariamente expressos ou explicados pelas crianças; eles podem ser somente hipóteses definidas pela observação das ações durante a solução de uma situação. São essas hipóteses que Vergnaud denomina teorema em ação. Para Vergnaud teoremas em ação e conceitos em ação – são as bases conceituais que permitem fazer a articulação essencial entre a teoria e a prática. Os conceitos em ação e os teoremas em ação são subjacentes à conduta do indivíduo frente a uma situação problema. As relações matemáticas consideradas ao escolher as operações e procedimentos de resolução da situação espelham os teoremas em ação. Em outras palavras, teoremas-em-ação são relações matemáticas que os alunos levam em consideração quando escolhem uma operação ou uma seqüência de operações para resolver um dado problema. Eles geralmente não são expressos verbalmente, podendo até estarem errados, aparecem espontaneamente em contextos simples, não tendo um valor universal, mas nos permitem traçar o conhecimento matemático no nível de esquemas de ação. Assim, um campo conceitual é definido como um conjunto de situações e problemas, cuja apropriação requer o domínio de vários conceitos de naturezas diferentes cuja análise e tratamento, necessitam vários tipos de conceitos, procedimentos e representações simbólicas, que se encontram em estreita conexão uns com os outros (Vergnaud, 1982; 1990). Todos os conceitos têm um domínio de validade restrito, que pode variar de acordo com a experiência e com o desenvolvimento cognitivo de cada indivíduo, ou seja, essa teoria permite considerar que a aquisição do conhecimento se dá por meio de situações e problemas, sendo assim, o conhecimento tem características locais. A teoria dos campos conceituais deixa evidente que o desenvolvimento e domínio progressivo de um campo conceitual pelos alunos exigem: a interação social, a linguagem e a formação de símbolos. 68 Do ponto de vista dessa teoria, a construção de um conceito segundo Vergnaud é uma terna de conjuntos que é chamada simbolicamente de (S, I e R); onde S é um conjunto de situações que torna o conceito significativo, ou seja, dão sentido ao conceito (referência), I é um conjunto de invariantes operatórios na operacionalidade dos esquemas (objetos, propriedades e relações (o significado) e R é um conjunto de representações simbólicas que podem ser usadas para pontuar e representar os invariantes, ou ainda, conjunto de formas linguajares e não linguajares que permitem representar simbolicamente o conceito e suas propriedades, assim como as situações que permitem utilizá-los e as técnicas a elas associadas. Apresentamos abaixo, o exemplo de Herreros (1995, p. 308) para melhor compreender o funcionamento da terna (S, I, R). A referência (S) está associada à realidade, ou seja, ao conjunto das situações que dão sentido ao conceito, encontrando-se num plano que remete ao objeto, por exemplo: estruturas multiplicativas. O significado é o nível no qual os invariantes (I) são organizados (objetos, propriedades, relações), por exemplo: os isomorfismos de medidas. Ícones, signos ou símbolos representam o significante (R), ou ainda uma parte material (exemplo: arrumar as cadeiras em filas, gráficos, carta de baralho). Um signo pode ser audiovisual - produzido pela combinação de significantes percepcionados pelo ouvido e pela visão. As imagens e os sons constituem o significante: signo visual - produzido por significantes captados pela visão: pictóricos, gráficos, imagens e signo auditivo - produzidos por significantes apreendidos pelo ouvido. O tripleto dos conjuntos acima C = (S, I, R) permite Vergnaud definir conceito. Dessa forma, esses três conjuntos que correspondem à formação do conceito na Teoria dos Campos Conceituais emergem de situações (S) que dão sentido ao conceito, dos objetos, propriedades e relações que constituem os invariantes operatórios (I) e que podem ser reconhecidas e utilizadas pelos sujeitos para analisar e dominar as situações de (S) e das representações simbólicas (R) que permitem manipular os invariantes operatórios ( I ). 69 A teoria dos ―Campos Conceituais‖ de Vergnaud (1990a, 1993, 1998, 2001) fornece, nesses termos, elementos para a análise das dificuldades dos alunos e constitui uma ferramenta poderosa para a construção de situações-problema. Isto porque ela apresenta um quadro coerente para o estudo do desenvolvimento e da aprendizagem de competências complexas. Entendemos então o Campo Conceitual como um conjunto informal e heterogêneo de problemas, situações, conceitos, relações, estruturas, conteúdos e operações de pensamento, conectados uns aos outros, atrelados, provavelmente, durante o processo cognitivo. Dessa forma, devido à grande diversidade de conceitos que envolvem as estruturas multiplicativas, elas fazem parte de um conhecimento que o aluno adquire a médio e longo prazo, devendo ser propostos várias oportunidades com diferentes situações ao longo das quatro séries iniciais, que serão revisitadas ao longo da escolaridade proporcionando a ampliação do campo conceitual. Quando se considera as séries iniciais, as classes de situações para as estruturas multiplicativas podem ser classificadas em classes de problemas com relações de base quaternária do tipo: multiplicação comparativa, comparação entre razões (idéia de proporcionalidade), proporcionalidade dupla (e múltipla) configuração retangular e as associadas à idéia de combinatória proporcionalidade dupla (e múltipla). Essa classificação recebe outras nomenclaturas que estão identificadas na tabela das páginas 103/105. Como nossa pesquisa está centrada na teoria dos campos conceituais de Vergnaud, em particular, no estudo das estruturas multiplicativas, sobretudo para as operações de multiplicação. Lembramos que o campo conceitual multiplicativo é simultaneamente um aglomerado de situações e conceitos. Um conceito adquire significado por meio de uma variedade de situações, e diferentes aspectos de um mesmo conceito e operações estão envolvidos em diferentes situações. Sendo assim, as estruturas multiplicativas relacionam-se parcialmente com as aditivas, mas elas também têm a sua própria organização, a qual não é redutível aos aspectos aditivos. Escolhemos trabalhar com os diferentes tipos de situações e problemas que podem ser resolvidos utilizando esquemas que envolvem a multiplicação e a divisão, 70 considerando que existe também a possibilidade de utilizar os algoritmos para essas operações. Esses tipos de situações e problemas são considerados por Vergnaud (1983b) como pertencentes ao campo conceitual das estruturas multiplicativas. Na sequência apresentamos uma breve descrição do campo conceitual das estruturas multiplicativas. 3.2. O CAMPO CONCEITUAL DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS Iniciamos a apresentação da noção de estrutura multiplicativa observando que a teoria dos campos conceituais de Vergnaud é uma teoria do conhecimento a longo prazo, onde as situações permitem o desenvolvimento de diferentes esquemas, que podem ser revisitados e ampliados em função das competências dos alunos e dos conceitos em jogo na situação. Vergnaud (2009) faz a distinção entre sua proposta teórica e as de Piaget e Vygotsky como é possível observar nos exemplos abaixo. Segundo Vergnaud (2009) a diferença entre a teoria dos campos conceituais e a teoria de Piaget para o caso particular da noção de proporcionalidade ao introduzir este conceito do ponto de vista da lógica utilizamos a noção de grupo (identidade, relação e correlação) o que corresponde à proposta de Piaget. Quando se considera a teoria de Vergnaud ela pode ser trabalhada por meio de situações onde é possível distinguir as noções de função linear, bi-linear e equação de maior dimensão. No que se refere a Vygotsky, Vergnaud observa que é preciso levar em conta que na conceitualização além da linguagem, intervêm também a ação. Como exemplo, ele cita Vygotsky que considera o conceito como a significação da palavra, mas para Vergnaud essa idéia é importante, porém insuficiente, pois o bebê não fala, mas conceitualiza. Para melhor justificar essas afirmações Vergnaud (2009) considera os exemplos abaixo, que foram por ele aplicados e analisados. 71 PROBLEMA A – crianças (5 – 8 anos) Um bolo custa R$8,00. Quanto custa 5 bolos? bolo ―x‖ reais = reais e não bolo. (Bolo versos reais cujo resultado será ―real‖ e não bolo.) É importante analisar como uma questão profunda que envolve relação de proporcionalidade. 1º Esquema Bolo Reais X8 1 X5 8 X5 X8 5 f(5) = 8 x 5 ? f(x) = ax (função linear) ―a’ é o coeficiente de proporcionalidade entre o número de bolo e o preço. 2º Esquema 5 bolos 8 reais = reais por bolo f(5 x 1) = 5f (1 ) Isomorfismo de medida ( de identidade) 3º Esquema Multiplicação pela adição bolo + bolo + bolo+ bolo + bolo = reais Bolo e reais não são medidas de mesma grandeza para as crianças a multiplicação não é comutativa. 72 PROBLEMA B - Crianças ( 11- 12 anos) (14 – 15 anos) 250kg de isopor a 0,70 centavos o quilo ( devemos fazer uma multiplicação ou divisão). Vemos que: Crianças de 11 a 12 anos – não tem muito problema com a multiplicação; E entre 14 e 15 anos – com formação média, não tem problemas para resolver. PROBLEMA LOCAL – Crianças ( 12- 13 anos) grande área rural próxima a Paris. 0,70 toneladas de concreto a 285 reais a tonelada – pergunta-se: trata-se de multiplicação ou divisão – ―hesitação‖ porque envolve um número decimal. Concreto reais isopor 1 285 diminui reais 1 0,70 diminui aumenta 0,70 ? aumenta 285 ? Relação escalar privilegiada é menor que 1. 0,70 < 1 preço f(0,70) < f(1) 285 > 1 f(285) > f(1) Idéia falsa: a multiplicação aumenta e a divisão diminui, propriedade de crescimento contradiz a multiplicação. A estrutura multiplicativa é uma relação entre grandezas e envolve problemas de dimensão e ordem de grandeza que representam exemplos complicados que as crianças têm dificuldades de compreender. PROBLEMAS DE DOIS ESQUEMAS – crianças (12 – 13 anos) Necessitamos de 120 kg de trigo para fazer 100 kg de farinha. Quanta farinha se pode fazer com 972 toneladas de trigo? 1º Esquema As crianças escolheram a divisão: 972000 por 120 executaram o algoritmo da divisão. 73 Houve vários erros! O autor procurou deixar o enunciado interessante uma vez que a farinha proporciona alimento para as pessoas. Na resolução de 3 grupos de jovens eles não escolhem a divisão para resolver o problema nem algum procedimento importante sobre a proporcionalidade. Após aproximadamente 3 horas nem operação, nem os dados; Na semana seguinte ainda não havia procedimentos e; Na seqüência, após 15 minutos, uma diz vamos dividir 972000 por 120. Quem propõe não sabe explicar a razão da escolha, utiliza um teorema em ação por meio de relação escalar: 972000 120 Esquema: f(K . 120) = K . f(120) Toneladas KG 1 120 972000 ? Analisados esses exemplos, Vergnaud (2009) conclui que: – As relações entre grandezas de mesma natureza são mais simples que com grandezas de naturezas diferentes. Historicamente Galileu 33 teve a mesma 33 Galileu Galilei (Pisa, 15/02/1564 — Florença, 08/01/1642) foi um físico, matemático, astrónomo e filósofo italiano que teve um papel preponderante na chamada revolução científica. Descobriu A lei dos corpos em queda e diz que todos os corpos caem com aceleração constante, uma vez que o efeito da aceleração gravítica, ou seja, da gravidade em todos os corpos, à mesma altura, é igual. Esta lei só é observada no vácuo, pois como a densidade dos corpos é diferente, no ar o corpo mais pesado exerce maior força e cai primeiro. Para exemplificar esta lei consiste em colocar num tubo em vácuo uma pedra e uma pena e observar que ambos caem à mesma velocidade. Em Física, velocidade (símbolo v) é a medida da rapidez com a qual um corpo altera sua posição. A velocidade média, que é uma medida da velocidade, é a razão entre um deslocamento e o intervalo de tempo levado para efetuar esse deslocamento. Pode ser considerada sob o aspecto vetorial (v ou - tem direção, sentido e módulo) ou escalar, e é matematicamente expressa por . 74 dificuldade em explicar , ou seja, a derivada do espaço em relação ao tempo34. Na história as grandezas são apresentadas com todas as suas propriedades não somente a propriedade numérica, e nas ciências sabemos que existe um grande obstáculo para compreender que: a) d= v x t b) v = distância tempo – Vergnaud (2009) observa que a epistemologia do ensino de matemática não é igual à epistemologia da matemática. Para isso, ele considera o exemplo que corresponde a mostrar a dimensão de um retângulo: c x l l c Aqui a epistemologia (no sentido restrito), ou seja, as relações entre os problemas teóricos e práticos que as crianças colocam não são as mesmas que aparecem na história. Observamos aqui que para determinar a área ou o perímetro é necessário transformar comprimento (c) e largura (l) nas mesmas unidades de medidas, o que corresponde a utilizar grandezas de mesma dimensão e que pode ser analisado considerando a dificuldade encontrada por Galileu. Outro exemplo: Os números negativos. Como sabemos historicamente os números negativos já instigavam questionamentos de célebres matemáticos como Euler, Laplace, Cauchy, Mac Laurin e Carnot, por exemplo: Laplace (1749-1827) com respeito a Regra de Sinais disse: "É difícil conceber que um produto de (-a) por (-b) é o mesmo que a por b"; Mac Laurin (1698-1746) disse a respeito do número 34 Derivada do espaço em relação ao tempo: por ser grandezas de natureza diferentes e para explicar que a distância = velocidade x tempo, ele precisou de 3 páginas para justificar essa operação. 75 negativo: "A quantidade negativa, bem longe de ser rigorosamente menos que nada, não é menos real em sua espécie que a quantidade positiva". Mostrando que entre a aparição e aceitação do número negativo levou mais de 1000 anos. É interessante que essas dúvidas que aparecem no contato com os números inteiros naquela época são parecidas com as nossas. Ao contrário dos números naturais e fracionários positivos que tem raízes em experimentações geométricas, os números negativos surgiram da manipulação algébrica, como na resolução de equações de 1º e 2º graus. Hipótese – se os números são medidas de grandeza, eles são positivos. – O protótipo do número é a medida: a evolução do conceito de número se distancia do conceito de medida. No caso da quarta posicional, por exemplo: toneladas kg 120 100 972000 ? b.c (numérico verdadeiro) b.c (grandezas não tem sentido) A b c ? Podemos encontrar a razão escalar e multiplicar pelo coeficiente de proporcionalidade. 1 c/a = r bxr 2 b/a = k cxk 3 bxc A – Propriedade mais acessível: relação entre grandezas de mesma natureza. 1/a ?/a a b x b/a xc c xc ? x b/a 76 PROBLEMA DE COTA (problema da maçã) Dividir a maçã por maçã para encontrar a quantidade de criança. Importante introduzir os esquemas para não introduzir equações de outras dimensões nas séries iniciais. – Situações como as das maçãs são consideradas mais fáceis por terem grandezas de mesma natureza, no problema das maçãs 500 maçãs/ 10maçãs para cada criança = 50 crianças. – Algoritmo da divisão – As técnicas de divisão evoluiram depois do século XVIII. A identificação dos diferentes esquemas permite estabelecer os teoremas em ação nas estruturas multiplicativas e sua relação com o campo conceitual dessa estrutura. Teorema em ação nas estruturas multiplicativas: Exemplos de conceitos que justificam os diferentes esquemas que podem ser utlizados na solução de situações que envolvem as estruturas multiplicativas. As propriedades de isomorfismo da função linear: f( x + x’) = f(x) + f(x’) f(ax) = af(x) combinação linear f(ax + a’x) = af(x) + a’f(x’) o coeficiente de proporcionalidade f(x) = Kx o produto em cruz e a regra de três x’ * f(x) = x * f(x’) f(x’) = x’ * f(x)/ x 77 A dupla linearidade f(n1x1, n2x2) = n1n2 f(x1x2) PROBLEMA DO AÇÚCAR - Crianças ( 10 - 11 anos). Os alunos de duas classes preparam a sua saída para as férias de inverno. Eles querrem saber quanto de açúcar eles deveriam comprar. Na documentação indica que eles devem considerar 3,5 kg de açúcar para 10 crianças por 7 dias. Temos 50 crianças e a estadia é de 28 dias. Quanto açúcar devemos comprar? Primeiro raciocínio escalar 1 10 50 x5 7 3,5 ? x4 Segundo raciocínio escalar x5 x4 28 x 20 (70) Figura 9 – Esquema de raciocínio escalar Fonte: VERGNAUD, 2009 O esquema acima nos oferece um status mais objetivo ao racíocinio e permite descrevê-lo: S = KNJ, sendo que esta expressão simbólica dará outro status 78 ao raciocínio. Em S = KNJ, S resultado, K (escalar), N (dias) e J (crianças). Ou f(5 x 10, 4 x 7) = f(10,7). Caso particular da propriedade f(kx, k’x’)= kk’ f(x,x’) S= KNJ As representações acima permitem considerar as seguintes questões: - Quais são as grandezas independentes? - Qual o coeficiente de proporcionalidade quando fixamos uma dessas grandezas? Para proposta das diferentes situações Vergnaud considerou os conceitos que constituem o campo conceitual que forma as estruturas multiplicativas, esses conceitos são por ele denominados raizes protótipas do raciocínio. Dessa forma, ele considera o campo conceitual que forma as estruturas multiplicativas, ou seja os conceitos que a compõem e seu status (explícitos ou impícitos) como o grupo de conceito da tabela. CONCEITO STATUS Grandezas Explicito Escalar Ímplicito Razão e proporção as vezes explicito, outras ímplicito Função e variável Ímplicito Função linear, bilinear, n-linear Ímplicito Coeficiente constante Explicito Número racional Explicito Análise dimensional Ímplicito Espaço vetorial, combinação linear Ímplicito Dependencia e independencia Ímplicito Tabela 3: Quadro que Fonte: VERGNAUD, 2009 envolvem o campo conceitual das estruturas multiplicativas. A identificação dos conceitos do campo conceitual e seu status explícito ou implícito para o desenvolvimento de situações que envolvem as estruturas multiplicativas deixou evidente as dificuldades que podem surgir e a necessidade de um trabalho a longo prazo que são o tempo todo anunciadas por Vergnaud (2009). 79 Esses estudos permitiram conhecer diferentes análises e categorização propostas por Vergnaud (1994) para as estruturas multiplicativas e que foram apresentadas mais detalhadamente, com exemplos de casos particulares, no minicurso ―La teoria de los campos conceptuales como referente para la investigación em enseñanza de lãs ciências. Ejemplos de campos conceptuales apresentado por Gerard Vergnaud e Tânia M.M. Campos no III Encuentro Iberoamericano sobre investigación Básica em Educación em Ciências em 2009, na Universidade de Burgos, Espanha. 3.3. AS CATEGORIAS DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS A necessidade de um estudo detalhado que identifique classes de problemas e situações pertencentes ao campo conceitual, para os quais é possível, por meio de uma análise detalhada, classificá-lo em função dos conceitos em jogo, dos procedimentos que podem ser adotados e das diferentes representações que podem ser empregadas. Sendo assim, ao considerar mais especificamente o campo multiplicativo, Vergnaud mostra que a operação de multiplicação se trata de uma relação quaternária e não ternária do tipo a x b = c, como trabalhada tradicionalmente. Para isso usamos o modelo de Silva (2008 ) inspirado em Vergnaud (1990) apresenta o esquema abaixo dessa relação quaternária por meio da associação a dois tipos de medidas. Medidas Tipo I Medidas Tipo II A B C D 80 O estudo das diferentes classes de situações permite o autor identificar quatro classes: a comparação multiplicativa, a proporcionalidade simples, a proporcionalidade simples composta e a proporcionalidade dupla. Ele justifica esse esquema da seguinte forma: As medidas do tipo 1 correspondem por exemplo a quantidade de objetos, enquanto que as medidas do tipo 2 correspondem ao custo desses objetos, ou seja, trata-se de um esquema de isomorfismo de medidas para a multiplicação. x M1 1 x M2 a y x Nesse esquema, multiplicar 1 por x na medida 1 correspondente a multiplicar ―a‖ por ―x‖ e obter a função ―y = a . x‖. Esse operador indica a proporcionalidade entre objetos custo, isto é, objetos e custo aumentam na mesma proporção, trata-se assim de uma função linear do tipo (y = ax). Gérard Vergnaud (1983, 1988) desenvolveu uma análise sistemática dos problemas multiplicativos. Esta classificação se apóia sobre a análise da estrutura matemática de problema e com esta direção, as relações se mantêm por meio das perguntas e os diferentes dados do enunciado dos problemas. 81 Tipologias de problemas de estrutura multiplicativa (VERGNAUD, 1990). Quadro das relações multiplicativas Comparação multiplicativa Proporcionalidade simples Proporcionalidade simples Proporcionalidade dupla composta Tabela 4 – Quadro de Tipologias de problemas de estrutura multiplicativa Fonte: VERGNAUD, 1997 3.3.1 Categoria de problemas de “Comparação Multiplicativa de Grandezas” Nesta categoria, se encontram os problemas que utilizam uma única grandeza (comensurável) e dos estados relativos a essa grandeza dos quais são objeto da comparação multiplicativa: a relação se dá por meio de representação onde um é o referente do outro, ou seja, embora distintos ambos façam o papel de referente. Existe uma relação de natureza escalar (não comensurável) que consiste em uma relação numérica de comparação, e sua complexidade se dá ao seu 82 domínio que seu fim remete a uma expressão multiplicativa e outro que remete a uma expressão aditiva, quando se diz ―tantas vezes mais‖ ou ―tantas vezes menos‖. Pode-se pensar em seis subcategorias, segundo a relação multiplicativa se defina por um coeficiente maior ou menor que 1, e se a pergunta leva a busca do referido, da comparação ou do referente. Os problemas de comparação multiplicativa instauram raciocínios básicos sobre o duplo, o triplo. É útil familiarizar os alunos com formulações da linguagem associadas: Duas vezes mais quer dizer o dobro; três vezes mais quer dizer o triplo. Seguidamente, de acordo com o lugar da incógnita, pode tratar-se de dividir. Exemplo: Hoje, tenho 42 esferas e são três vezes mais do que tinha ontem. Quanto tinha ontem? Vejam na tabela abaixo outras situações de problemas de comparação multiplicativa de grandezas: Estrutura matemática Perguntas A Problemas Exemplos (podendo ser escolhidos no contexto cardeal, ordinal ou de medida) - Paulo tem 15 esferas, Lucas tem 3 vezes mais, A Lucas tem… - Paulo tem 25 esferas, Lucas tem 100, por comparação multiplicativa de conseguinte Lucas tem… vezes mais xB :B Lucas tem 45 esferas; 5 vezes mais que grandezas Paulo. Paulo tem…. - Paulo tem 15 esferas, Lucas tem 3 vezes menos, C C Lucas tem… - Paulo tem 125 esferas, Lucas tem 25, por conseguinte Lucas tem… vezes menos - Lucas tem 30 esferas; 6 vezes menos que Paulo. Paulo tem…. Tabela 5 – Quadro de problemas comparação multiplicativa de grandezas Fonte: LATAPIE, 2006. 3.3.2 Categoria de problemas de “Proporcionalidade Simples” Nessa categoria se insere a Teoria dos grupos: (Teoria de lei de composição binária) boa relação entre os números e as operações (multiplicação – comutativa), que podemos nos reportar para o Problema A: crianças (5 – 8 anos). 83 As situações correspondentes a essa categoria podem representar-se mediante tabelas numéricas e estão associadas a uma função linear (função ―multiplicar por‖ ou ―dividir entre‖), conduzindo a realizar uma multiplicação, uma divisão, ou uma ―regra de três‖, ou seja, buscam a quarta posicional. Nestes problemas se utilizam dois domínios de grandezas e uma relação funcional multiplicativa entre estes. Frequentemente, nos problemas desta categoria parece que só intervêm dois números, na verdade, também intervém a unidade, embora com frequência ela não apareça explicitamente (Quanto custam 5 bolos. Se um bolo custa R$ 8,00?). Para resolver estes problemas, o esquema pode passar pelo coeficiente de proporcionalidade entre duas grandezas; pelas propriedades de linearidade da função linear associada: pela multiplicação por um escalar ou pela aditividade. Vejamos, ainda, outros exemplos de situações problemas de proporcionalidade simples: Estrutura matemática Perguntas Exemplos (podendo ser escolhidos no contexto cardeal, ordinal ou de medida) - Em 4 caixas de 6 ovos, há… Problemas 1 B 1 B 1 proporcionalidade C ? ? D C D simples ? ovos. - Para 42 ovos, quantos caixas de 6 ovos? (divisão-quociente) A B (O número C ? - com 60 ovos preenche-se 5 caixas… de ovos (divisão- 1 não figura) partição), quantos ovos em cada caixa? - de 30 litros de gasolina custam 40 reais; 45 litros custam… (problema de quarto proporcional) Tabela 6 – Quadro de problemas de proporcionalidade simples Fonte: LATAPIE, 2006. 84 3.3.3 Categoria de problemas de “Proporcionalidade Simples Composta” Nestes problemas intervêm três grandezas, se definem duas razões de proporcionalidade simples e a situação que conduz a compor essas duas relações de proporcionalidade. Os problemas de proporcionalidade simples composta põem em jogo: três domínios de grandezas; duas relações de proporcionalidade simples: Um entre a grandeza 1 e a grandeza 2, outro entre a grandeza 2 e a grandeza 3, consequentemente e implicitamente entre a grandeza 1 e a grandeza 3; além de uma situação que leva a compor estas duas relações. Exemplos: Sobre um potenciômetro de pintura, é indicado que com um litro desta pintura, pode-se pintar uma superfície de 4 m². Aldo calcula que é necessário 25 potenciômetros de pintura para pintar uma superfície de 80 m². Qual é a capacidade de um potenciômetro de pintura? Vejam outros exemplos de proporcionalidade simples composta. Estrutura Perguntas Exemplos (podendo ser escolhidos matemática no contexto cardeal, ordinal ou de medida) Problemas - Saquinhos de 2 Kg de açúcar são proporcionalidade A B C colocados em caixas. Cada caixa simples C D ? contém 8 saquinhos. Em 12 caixas, composta há… Kg de açúcar. Tabela 7 – Quadro de problemas de proporcionalidade simples composta Fonte: LATAPIE, 2006. 3.3.4 Categoria de problemas de “Proporcionalidade Dupla ou Múltipla” Os problemas de proporcionalidade dupla ou múltipla são problemas em que intervêm pelo menos dois domínios de grandezas que são autônomos tais que, uma relação associa um par (ou a uma dupla) de medidas para cada grandeza, uma terceira (ou uma (n+ 1) - ésima) grandeza chamada grandeza produto. 85 Então, é fundamental determinar a imagem do par (ou n-upla) das unidades de duas (ou n.) grandezas. Esta imagem pode ser a unidade de grandeza produto ou outra grandeza. As grandezas podem ser discretas ou contínuas. O caso particular de encontrar a relação entre o cardinal do produto cartesiano de dois conjuntos finitos e o cardinal de cada um dos correspondentes a duas grandezas discretas para as imagens do par (1,1) é igual a 1. Nesta categoria se encontram os problemas do número de quadrados de um quadriculado retangular e, de maneira geral, os problemas que correspondem a uma composição multiplicativa de duas grandezas discretas. A relação entre a medida da área de um retângulo e as grandezas de altura e base pertence a este caso. Aqui as grandezas são contínuas e a imagem do par (1,2) é 1 X 2 e, então, o par (x,y) é xy. No geral, se a imagem do par (1,1) é o número real a, a imagem do par (x,y) é axy. Para os alunos a situação de configurações retangulares é um caso específico dentre as estruturas multiplicativas que oportunizam a identificação de comutatividade da multiplicação. As duas espécies de problemas de divisão referem-se: - a investigação ―do número de partes‖ (problemas de divisão-quociente), exemplo: Um metro de tecido custa 11 reais, quantos metros temos para 143 reais? Estrutura Perguntas Exemplos (podendo ser escolhidos no matemática contexto cardeal, ordinal ou de medida) Problemas - Uma bacia de 450 litros preenche-se ―Proporcionalidade A (B, C) através de 3 torneiras. Cada torneira tem Dupla ou Múltipla‖ D (E, F) uma vazão de 100 litros por hora. A bacia será preenchida… em horas. Casos específicos de proporcionalidade dupla: Produto cartesiano n (EXF) ? ; de 2 conjuntos n(E) ? ou n (F) ? - Número de combinações possíveis com 5 pratos e 6 sobremesas. - Número de pratos com 5 sobremesas para 20 combinações possíveis. Configuração Produto ou número num - Número de quadrados numa placa de Retangular alinhamento chocolate de 6 sobre 3. - Número de 86 quadrados numa dimensão para uma placa de chocolate de 20 quadrados com 4 quadrados na outra dimensão. Tabela 8 – Quadro de problemas de proporcionalidade dupla ou múltipla (LATAPIE, 2006). Segundo Vergnaud as categorias de problemas de proporcionalidade simples composta e de proporcionalidade dupla podem ser consideradas de maior complexidade para os alunos das séries iniciais, o que foi observado em nossas investigações com os alunos da 3ª série neste trabalho, cujos resultados apresentamos no capítulo ―Análise comparativa das produções dos alunos‖. Outros problemas foram propostos por Vergnaud (1997) e foram classificados segundo o cálculo relacional característico das estruturas multiplicativas. Em 1991 encontramos uma terminologia distinta da atual, a nova terminologia parece corresponder a uma melhor classificação dos esquemas que apresentam características comuns. Exemplos por Vergnaud (1997) A multiplicação Josie compra 4 bolos. O preço de um bolo é de 7 francos. Quanto deve pagar? Bolos francos 1 7 4 ? multiplicação A divisão-partição (busca do valor de uma parte ou objeto) Arthur pagou 30 francos para 6 ágatas azul. Qual é o preço de uma Ágata? Ágatas francos 1 ? 6 30 Divisão – partição A divisão de quotas (o número de pesquisas unidades, ou objetos) Bernard quer comprar ágatas. Ele tem 40 milhões de francos. O custo por ágata é de 5 milhões de reais. Quanto ele pode comprar? Ágatas francos 87 1 5 ? 40 Divisão – quotação O quarto proporcional Marie-Hélène pagou 72 francos para 12 ovos de chocolate. Seu primo Sophie quer comprar 18. Quanto Será que vai pagar? Ovos de francos chocolate 12 72 18 ? Comparação multiplicativo de grandezas Comparação Multiplicativa Há 5 vezes mais que as cadeiras cantina na sala de aula. Há para 25 em classe. Quantos Ele preside na cantina? Tabela 9 – Quadro de exemplos de categorias Fonte: VERGNAUD, 1997. Abaixo apresentamos as diferentes classificações destacando algumas categorizações introduzidas por Vergnaud (1983, 1991a, 1991b), Nunes & Bryant (1997) que também colocam questões sobre esse campo conceitual. Finalmente, consideramos as categorizações encontradas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) que são considerados como suporte teórico para os Guias do Programa Ler e Escrever, que também estão centradas na teoria dos campos conceituais de Vergnaud e correspondem às expectativas conceituais de construção de conhecimento sobre as estruturas multiplicativas pelos alunos que participaram dessa pesquisa. Observamos que no Guia do Programa Ler e Escrever as categorias de Vergnaud são apresentadas com a seguinte nomenclatura: Combinatória, Configuração retangular, proporcionalidade e comparação. Além disso, é importante ressaltar que em alguns trabalhos Vergnaud (1994) apresentava as categorizações da mesma forma. 1) Isomorfismo de Medidas 88 No nosso exemplo são colocadas em jogo quatro quantidades, tratando-se então de uma relação quaternária na quais duas delas são medidas de um tipo e outras duas são de outro tipo. Nesta condição temos então três tipos de problema, em que a incógnita ocupa o lugar de uma das outra três quantidades. Exemplo (a) Multiplicação - Se uma blusa no shopping custa R$ 16,00. Quanto custarão 5 blusas? 1 16,00 5 X Exemplo (b) Divisão (busca do valor unitário) - Se 3 bermudas custam R$30,00. Quanto custa 1bermuda? 3 30,00 1 X Exemplo (c) Divisão (busca da quantidade de unidades) - Se uma saia custa R$ 15,00. Quantas saias eu posso comprar com R$ 30,00? 1 15,00 x 30,00 Essa categoria corresponde a atual ―Proporcionalidade simples‖. 2) Proporção Múltipla Nesses problemas aparecem os domínios físicos do tipo produção de bens e consumo e outros contextos. Esta também é uma relação ternária, mas que não pode ser resolvida pelo produto de outras duas medidas. Exemplo: A Lúcia vai viajar para o Maranhão, ela vai com mais 2 amigas e passarão 8 dias em uma pousada. A diária da pousada custa por pessoa R$ 40,00. Qual será o gasto total por pessoa? 3 pessoas x 8 dias = 24 diárias 24 diárias x 40,00 = x 89 Essa categoria corresponde a atual ―Proporcionalidade simples composta‖. 3) Caso de uma só quantidade Neste tipo de problema existe uma correspondência, mas não por isomorfismo, pois não se estabelece uma relação entre quantidades e sim entre duas partes: uma categoria de medidas, comprimento, por exemplo, e os objetos de que trata o problema. a) Multiplicação: Para fazer uma saia usamos 2 metros de tecido. Para fazer um conjunto precisamos de três vezes mais tecido. Quanto tecido precisamos para fazer um conjunto? ― x ― (vezes) 3 2x b) Divisão (busca de uma medida): Faltam 3 vezes mais tecido para fazer um conjunto que para uma saia. Se para um conjunto usamos 6 metros. Quanto tecido se usa para fazer uma saia? 6/3 = ? c) Divisão (busca do fator escalar) - Precisa-se de 2 metros de tecido para fazer uma saia e de 6 metros para fazer um conjunto, quantas vezes mais tecido precisa um conjunto em relação a uma saia? 2 x ? = 6 ou 6 / ? = 2 Essa categoria corresponde a atual ―Comparação Multiplicativa de grandezas‖. 4) Produtos de medidas Este tipo de problema que trata da idéia do raciocínio combinatório, sendo então um problema de estrutura ternária. Nesta temos uma composição cartesiana de duas medidas para encontrar outra, comum em problemas de volume, área e combinatória. a) Multiplicação: encontrar a medida (produto) – Quando se conhece as medidas que são bases para o cálculo. Exemplo: Marina tem duas calças, uma roxa e uma laranja, três blusas sendo uma verde, uma azul e uma amarela. Com estas peças de quantas maneiras diferentes Marina pode vestir-se? 90 1 calça x 1 camisa = 1 maneira de vestir, logo, 2 calças x 3 camisas = 6 maneiras de vestir b) Divisão: encontrar uma das quantidades elementares – Neste caso se tem o conhecimento da quantidade e se quer encontrar o produto destas quantidades. Exemplo: Um vendedor quer dispor aos seus clientes 15 tipos de sorvete coberto de chocolate. Ele tem 3 sabores de chocolate. Quantos sabores de sorvete ele deve ter? 3 tipos de chocolate x "y" sabores de sorvete = 15 15 tipos de sorvete / 3 tipos de chocolate = "y" sabores de sorvete Essa categoria corresponde a atual ―Proporcionalidade Dupla ou Múltipla‖. Vergnaud (1991b) afirma que as diferenças apresentadas entre os tipos de problema acima, não devem ser apresentadas aos alunos de forma nominal, mas que cabe ao professor a tarefa de mediar as ações dos mesmos, no sentido de lhes apresentar diferentes situações, auxiliando-os a fazer uso dos seus conhecimentos e assim levando-os a construção do conhecimento científico. Como anunciamos acima, faremos uma breve apresentação dos esquemas de Nunes e Bryant. 3.4. OS ESQUEMAS DE NUNES E BRYANT Os pesquisadores Nunes e Bryant (2001), também buscando compreender as dificuldades dos alunos com relação à resolução de problemas de estruturas multiplicativas, afirmam que essas envolvem dois tipos de lógica ou situações, que são classificados segundo quatro categorias que estão diretamente associados aos conceitos utilizados para a solução das situações: I. Situações de correspondência um a muitos É o tipo de situação que se apresenta claramente como uma proporção, pois apresenta a característica de manter uma constante entre dois conjuntos e pode apresentar-se sob a forma de problemas de: 91 a) Multiplicação - Um carro tem 4 rodas. Quantas rodas terão 3 carros? 3x4=x Neste caso a constante é de 1 para 4. b) Distribuição equitativa Pedro tinha 42 bolas de gude para dar a seus irmãos de forma que todos recebam a mesma quantidade. Quantas bolas de gude receberá cada irmão, sabendo que Pedro tem 4 irmãos? 42/4 = x c) Problema inverso de multiplicação Neste tipo se busca de uma cota. Carlos vai fazer uma festa e vai dar 3 balões a cada amigo. Quantos amigos ele pode convidar, sabendo que ele comprou 18 balões? 3 . x = 18 II. Situações de produto cartesiano Envolvem situações de combinação como no exemplo abaixo: Mariana tem 4 blusas e 3 calças. Quantos conjuntos diferentes ela pode formar, para ir às festas? 4 blusas x 3 calças = x formas diferentes Para finalizar, consideramos as categorias introduzidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais para a o estudo e desenvolvimento campo conceitual associado às estruturas multiplicativas. 3.5. AS CATEGORIAS APRESENTADAS NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Encontramos também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), como já mencionado anteriormente, referências ao campo conceitual das estruturas multiplicativas. Nesse documento, usa Vergnaud como referencial teórico e foi 92 elaborado com o objetivo de criar um nivelamento dos conteúdos a serem trabalhados em âmbito nacional, respeitando as diferenças regionais e adaptando a realidade local. Trata-se de uma proposta onde se considera os tipos de situações que podem ser utilizadas quando se desenvolve o campo conceitual das estruturas multiplicativas. Essas situações são identificadas por meio das seguintes categorias. I. Multiplicação Comparativa Neste tipo de problema se estabelece uma relação entre as quantidades que estão sendo tratadas e podem ser representadas através de problemas do tipo: Exemplo: Jardel tem 5 lápis e Marina tem 8 vezes mais que ele. Quantos lápis têm Marina? 8x5=x ―A partir dessas situações de multiplicação comparativa é possível formular situações que envolvem a divisão. Exemplo: — Lia tem R$ 10,00. Sabendo que ela tem o dobro da quantia de Pedro, quanto tem Pedro?‖ II. Comparação entre Razão (idéia de proporcionalidade) São problemas de proporcionalidade que envolvem relações quaternárias, são situações que envolvem comparações entre razões, e podem ser representadas através de problemas do tipo: Se um pacote de figurinha custa R$ 0,50. Quanto custarão 7 pacotes? 1 0,50 7 x (custarão) A partir dessas situações de proporcionalidade, é possível formular outras que vão conferir significados à divisão, associadas às ações ―repartir (igualmente)‖ e ―determinar quanto cabe‖. 93 Exemplos associados ao primeiro problema: Marta pagou R$ 24,00 por 3 pacotes de chocolate. Quanto custou cada pacote? (A quantia em dinheiro será repartida igualmente em 3 partes e o que se procura é o valor de uma parte.) III. Configuração retangular Este nível de situação pode ser representado através de problemas do tipo: Num cinema há 12 fileiras de cadeiras, com 37 cadeiras em cada fileira. Quantas cadeiras há no cinema? 12 x 37 = x ―Nesse caso, a associação entre a multiplicação e a divisão é estabelecida por meio de situações tais como: — As 56 cadeiras de um auditório estão dispostas em fileiras e colunas. Se são 7 as fileiras, quantas são as colunas?‖ IV. Combinatória São problemas que dão a idéia de análise combinatória, do tipo: – Se eu tenho 2 saias de cores diferentes e 5 blusas também diferentes, de quantas formas diferentes poderei vestir-me? 5x2=x ―A idéia de combinação também está presente em situações relacionadas com a divisão: — Numa festa, foi possível formar 12 casais diferentes para dançar. Se havia 3 moças e todos os presentes dançaram, quantos eram os rapazes?‖ 3.6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entendemos que estas classificações nos oferecem uma estrutura teórica que nos faz entender o significado das diferentes representações simbólicas da 94 estrutura multiplicativa, os esquemas e noções a elas associadas, servindo de base, para que pesquisadores e professores possam compreender o amplo significado dos conceitos que envolvem essa estrutura, evidenciando a complexidade da aprendizagem desse conteúdo para as crianças das séries iniciais. Estudada as orientações que compõe os Guias do Programa Ler e Escrever para o desenvolvimento das estruturas multiplicativas, analisado, tanto do ponto de vista matemático como didático, o campo conceitual que permite justificar os possíveis esquemas que sustentam a solução de situações associadas às estruturas multiplicativas e escolhido o referencial teórico que fundamenta essa pesquisa, construímos uma metodologia para diagnosticar o impacto do Programa Ler e Escrever. É importante salientar que tal Programa está centrado no trabalho com as estruturas aditivas e multiplicativas, conforme pesquisas de Vergnaud, sobre os conhecimentos prévios dos alunos e identificar os avanços e as dificuldades que resistem a esse trabalho. 95 4 METODOLOGIA CONSIDERAÇÕES INICIAIS Partindo da hipótese que a multiplicação é ensinada, em geral, no contexto escolar como a soma de parcelas repetidas, Nunes e Bryant (1997), Nunes et al (2001) apontam uma diferença básica entre o raciocínio aditivo e o multiplicativo. Concordamos com resultados de Nunes, Bryant, Campos et al (2002) e consideramos como hipótese que a abordagem do raciocínio aditivo dificulte a introdução dos diferentes esquemas em ação que envolvem a noção de estruturas multiplicativas, tais como: • a correspondência um-a-muitos; • a correspondência em coordenação com a contagem; • esquema da distribuição equitativa ; • a coordenação entre os dois esquemas (de correspondência e distribuição equitativa). A proposta dos pesquisadores acima citados vão à mesma direção das pesquisas de Vergnaud, que é o referencial teórico da nossa pesquisa, como já salientamos no capítulo 3, e elas nos auxiliaram na proposição dos objetivos gerais e específicos assim como na construção da metodologia de pesquisa, por apresentarem resultados que mostram o interesse em estudar as estruturas multiplicativas e dissociá-las das estruturas aditivas. Sendo assim, o objetivo geral e os objetivos específicos da pesquisa são apresentados na sequência. 4.1. OBJETIVOS O objetivo da pesquisa é investigar o impacto do ensino das estruturas multiplicativas por meio de situações problemas proposto no Guia do Programa Ler e Escrever na 3ª série do Ensino Fundamental. 96 Observamos que o ensino das estruturas multiplicativas nesse Programa adota a Teoria dos Campos Conceituais e foi implantado nas séries iniciais das escolas da rede pública estadual de ensino do Estado de São Paulo, Brasil, em 2008. Dessa forma, os objetivos específicos são: 1) Identificar os conhecimentos prévios dos alunos por meio de um diagnóstico inicial sobre seus esquemas associados às estruturas multiplicativas; 2) Compor uma intervenção que possibilite potencializar as situações propostas como recurso para a construção do raciocínio multiplicativo; 3) A partir de uma nova sondagem, estabelecer comparações com os resultados obtidos na primeira e identificar os avanços na compreensão do campo conceitual em jogo; Considerando os objetivos acima, uma primeira questão que se coloca é saber: “Se o plano de ensino, baseado no Guia de Planejamento do Programa Ler e Escrever, é um recurso suficiente para auxiliar o professor a desenvolver o processo de ensino e aprendizagem da noção de estrutura multiplicativa?”. Para responder essa questão e em função do referencial teórico escolhido, adotamos a metodologia descrita a seguir. 4.2. METODOLOGIA DA PESQUISA A metodologia trata da análise dos esquemas desenvolvidos pelos alunos na resolução de atividades relacionadas com a estrutura multiplicativa. Para recolher os dados que permitem essa análise, utilizamos o método de pesquisa qualitativa que, conforme (SILVA, 2001), não necessita de métodos e técnicas estatísticas, mas cuja análise se faz em geral de forma indutiva, sendo o pesquisador o responsável pela interpretação dos dados que são recolhidos em ambiente natural. Dessa forma, nos parece também adequada a metodologia Design Experiments que é considerada como método científico quando o pesquisador encontra suas análises no pensamento matemático dos estudantes, (COBB, 2000; CONFREY & LACHANCE, 2000; GRAVEMEIJER, 1994). conforme 97 Em particular, utilizamos o tipo de proposta dentre as sugeridas por (COBB, 2000; CONFREY & LACHANCE, 2000; GRAVEMEIJER, 1994). Que corresponde a experiências em sala de aula em que uma equipe ou um membro de uma equipe de pesquisa colabora com o professor assumindo a responsabilidade para a instrução. No trabalho em sala de aula, enquanto pesquisadora, foi possível participar do processo tanto como observadora quanto como instrutora à introdução das diferentes fases da atividade. As quatro fases com a respectiva participação dos membros e a proposta de atividades são descritas a seguir: Na primeira fase, o membro da equipe participa como observador para conhecer o grupo antes de propor as atividades. Essa fase teve duração de 30 dias. Nesse momento, era desejável a cumplicidade da professora de modo a preservar o mais possível o ambiente do grupo, buscando envolver todos os participantes, não descartando acontecimentos, colocações e comentários procurando perceber o que os alunos tinham disponível sobre as estruturas multiplicativas. Na segunda fase, que corresponde a aplicação do teste diagnóstico, o qual continha quatro problemas sobre estrutura multiplicativa retirados do Guia do Programa Ler e Escrever. Nesse momento, o mesmo membro da equipe é responsável pela instrução e pela sala e a professora acompanha o processo, incentivando os alunos a usarem o que conhecem na tentativa de resolver os problemas. O teste foi analisado e a partir dos resultados encontrados, numa terceira fase, fizemos uma intervenção no conteúdo de estrutura multiplicativa com o uso do software ClicMat. Na quarta fase, aplicamos novamente um teste diagnóstico para comparar os resultados com os da primeira fase, uma vez que os mesmos conhecimentos foram revisitados na terceira fase. 4.3. A ESCOLHA DOS SUJEITOS Os sujeitos investigados que participaram da situação de aplicação dos diagnósticos foram os alunos de uma classe da 3ª série, na faixa etária entre 8 e 9 anos, da Rede Publica do Município de Guarulhos, do Estado de São Paulo, com 98 índice de aproveitamento considerado positivo em relação ao SARESP1. O número total de alunos da classe é de 34 matriculados e freqüentes, no entanto, utilizamos para análise o material de 30 alunos, uma vez que 4 dentre os 34 alunos não participaram de todas as fases. Estes alunos, no ano anterior, cursaram a segunda série, com a mesma professora, e esta nos apresentou o plano de ensino que já tinha trabalhado com os alunos que possibilitou verificar as experiências matemáticas que os mesmos tinham em relação ao conteúdo de números e operações. Por meio desse material podemos supor que os alunos dispõem dos algoritmos de cálculo para as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão. Essas informações são importantes para a nossa pesquisa, pois possibilitaram as adequações necessárias tanto para as investigações como para as análises preliminares. Além dos alunos, do professor da classe e do membro da equipe participaram na 3ª fase: um professor Coordenador da Oficina Pedagógica (Matemática) e a professora Coordenadora da escola. Eles auxiliaram durante o processo de pesquisa registrando as ocorrências e o percurso dos alunos. Nessa fase, a colaboração desses dois coordenadores foi importante e permitiu recolher alguns dados que não poderiam ser observados apenas pelo professor e o membro da equipe. 4.4. A SELEÇÃO DA ESCOLA Obtivemos os nossos sujeitos de pesquisa por meio da Diretoria Regional de Ensino2 a partir de uma lista das 82 escolas da região, dessas, 44 atendem a modalidade Ensino Fundamental Ciclo I, que corresponde ao grupo de nosso interesse, 2 entre as 44 não atendem a 3ª série do Ensino Fundamental Ciclo I e foram excluídas. 1 Resultado da escola na avaliação SARESP (Sistema de Avaliação Estado de São Paulo) 2008 segundo os resultados em níveis de proficiência em Matemática na 2ª série os níveis são de 1 a 6, com os respectivas porcentagem de alunos por nível: para o nível 1, 2,8%; para o nível 2, 14,9%; para o nível 3, 14,9%; para o nível 4, 19,3%; para o nível 5, 14,9% e 33,1% para o nível 6. 2 Regional da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo na COGESP (Coordenadoria da Grande São Paulo). 99 Após essa identificação procuramos entre as 42 escolas identificar uma que: tem o índice considerável positivo nas avaliações externas e envolve-se nos Programas orientados pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Identificamos, assim, para compor nosso grupo de pesquisa a escola em que seus gestores se mostraram interessados e dispostos a auxiliar nosso trabalho e que é considerada uma unidade no cerne do termo, ou seja, um grupo que colabora entre seus pares, o que segundo nosso ponto de vista já era uma característica que promoveria nosso trabalho. Essa escola possui uma demanda de 26 classes entre 1ª e 4ª séries do Ciclo I, sendo 6 de 1ª série, 6 de 2ª série, 6 classes de 3ª séries (com 3 no período da manhã e 3 no período da tarde) e 8 de 4ª série. A classe colaboradora da pesquisa é a 3ª B do período da manhã, com o horário de aula das 7h00 às 11h30min. A escola possui em sua gestão um Diretor, um Vice-diretor e uma Coordenadora Pedagógica, com um corpo docente entre professores polivalentes e especialistas, de 35 professores, sendo 26 polivalente e 9 especialistas de Educação Física e Artes. Na apresentação do projeto para a Coordenadora Pedagógica, a mesma nos indicou uma classe que a professora desenvolve suas aulas usando o Guia do Programa Ler e Escrever e envolve-se com as propostas da Secretaria de Educação do Estado. Além disso, ela é considerada pela Coordenadora como uma pessoa dinâmica e comprometida com aprendizagem das crianças. Com base nessas informações, iniciamos nosso primeiro contato com a professora, que se mostrou receptiva e nos descreveu o perfil de sua turma, ou seja, trata-se de uma turma heterogênea no sentido de níveis de conhecimento, aditandoos assíduos e participativos. Segundo ela, no grupo de alunos há respeito e os mesmos tem grande cumplicidade e estão sempre dispostos a resolver todas as atividades propostas em sala de aula e fora dela. 4.5. MATERIAIS E AMBIENTE DE TRABALHO Para a pesquisa foram necessários dois momentos distintos: um na sala de aula comum e outro na sala de informática. Utilizamos papeis, lápis, impressões, 100 borracha, calculadora, notebook, data-show, o software livre ClicMat e o software livre “auto screen Record”. Na sala comum utilizamos o notebook e o data-show além dos outros recursos e as atividades foram proposta oralmente e visualmente por meio do data-show. As atividades desenvolvidas na sala de informática foram realizadas individualmente, porém permitiu a colaboração coletiva para busca de soluções uma vez que os alunos podiam interagir durante o processo. As atividades na classe foram gravadas e as soluções registradas em folhas avulsas o que auxiliou nas análises, as atividades do computador foram gravadas para um grupo de alunos, seguindo cada percurso utilizado pelos alunos na procura de solução, porém apenas três máquinas tiveram o recurso “auto screen Record” instalado pois o mesmo ocupava grande espaço da memória do computador e isso dificultava o desenvolvimento das atividades ocasionando lentidão na execução das tarefas, portanto temos apenas seis gravações do percurso das atividades com o uso do ClicMat. 4.6. PROPOSTA INICIAL DO DESIGN As tarefas do primeiro teste diagnóstico são quatro situações problemas de estruturas multiplicativas disponíveis no Guia de Planejamento do Programa Ler e Escrever da 3ª série que foram digitalizados e impressos. Essas tarefas foram feitas individualmente e sem consulta. Esse procedimento foi adotado para que pudéssemos discernir o que cada aluno sabia sobre esse conteúdo. Empregado como trabalho “piloto” para a condução da fase preliminar de um Design Experiments, portanto nossa meta após observar e analisar as concepções dos alunos para conteúdo de estruturas multiplicativas foi selecionar situações para o desenvolvimento de novos esquemas para essa estrutura. A partir dos resultados encontrados em nossa primeira fase preparamos situações que parecem não ter sido compreendida. Com isso, optamos por atividades do software que envolve, entre outras situações, as de investigação com foco nas dificuldades apresentadas pelos alunos. Neste sentido nossas intervenções durante a fase com o uso do software foram questões e produções que fizeram refletir sobre os conteúdos a elas associados. Para tal foram proposta interpretações e reflexões por meio da atividade do software 101 numa tentativa de romper com as dificuldades buscando novas estratégias para resolução de problemas. Para isso, o pesquisador assumiu a proposta do grupo e orientou a professora para separar os grupos segundo a sondagem inicial, sendo que a pesquisadora conduziu o grupo que apresentou maiores dificuldades. Para tal situação, os alunos com dificuldades foram privilegiados de um momento inicial coletivo, com a exploração do software para ampliar sua afinidade com o conteúdo e com os recursos disponíveis no software. Com essa intervenção esperávamos que os alunos elaborassem estratégias para resolução dentro das suas interpretações pessoais tais como: diagrama da árvore, arranjos um a um, contagem. Adquirindo por meio dessas estratégias diferentes esquemas associados às estruturas multiplicativas. Esperávamos, ainda, que em função dos esquemas desenvolvidos os alunos pudessem finalmente expressar a solução dos problemas de forma simplificada, ou seja, por meio de algoritmos. 4.7. PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS PARA A COLETA DE DADOS NAS DIFERENTES FASES Como já foi mencionado anteriormente contamos com o protocolo de 30 alunos de uma classe da 3ª série – 4º ano do Ensino Fundamental de uma Escola Pública do Estado de São Paulo. Utilizamos o material de sondagem e as orientações disponíveis no Guia de Orientações do Programa Ler e Escrever da 3ª série da Secretaria de Educação. As tarefas ocorreram em quatro fases com atividades e propósitos diferentes e que serão exemplificadas e descritas em seguida: 1ª Fase: acompanhamento da classe pela pesquisadora como observadora; 2ª Fase: aplicação do teste diagnóstico ou sondagem inicial; 3ª Fase: atividade com o recurso do software ClicMat ; 4ª Fase: aplicação do teste diagnóstico ou sondagem final. Na primeira fase, consideramos os 30 dias em que o pesquisador assistiu às aulas no papel de observador na classe. Neste momento nosso objetivo foi 102 observar o que as crianças já tinham disponível sobre o campo conceitual das estruturas multiplicativas uma vez que, segundo o planejamento do ano anterior, este conteúdo de ensino fora estudado. Após o intercâmbio com o grupo por meio das observações, iniciamos a 2ª fase, que teve uma duração de 50 minutos. Foram propostas as situações selecionadas de forma que fosse possível verificar a hipótese levantada no início deste trabalho, ou seja, o estudo de estrutura multiplicativa a partir de situações, que possibilitou a utilização dos diferentes esquemas propostos por Vergnaud (1991) Colocamos o aluno frente a uma situação-problema para a qual ele mesmo deve procurar um esquema que satisfaz a questão posta no problema, isto é, uma tarefa em que o aluno deve dispor da noção de estrutura multiplicativa para ser capaz de resolver. Procuramos, assim, avaliar os conhecimentos disponíveis dos alunos sobre as estruturas multiplicativas, eles foram distribuídos em grupos de quatro, cada um recebeu e fez individualmente no ambiente lápis e papel os quatro problemas de estrutura multiplicativa, que foram entregues digitados em filipetas questão por questão. Essa proposta que chamamos sondagem inicial nos orientou sobre os tipos de dificuldades e obstáculos os alunos encontravam em relação às situações que envolvem as idéias das estruturas multiplicativas. Segue abaixo os problemas do Guia de Orientações do Programa Ler e Escrever sobre o campo conceitual das estruturas multiplicativas da 3ª série, página 29, utilizados para essa investigação: PROBLEMAS DO TESTE DIAGNÓSTICO • Marina possui em seu guarda-roupa 3 saias e 5 blusas. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? • Preciso colocar em um auditório 84 cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em quantas colunas poderei organizar essas cadeiras? • Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá pagar pelos 4 pacotes? • Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o triplo desta quantia. Quantos reais têm João Pedro? 103 Segundo Vergnaud (2009), Nunes & Bryant (1997), Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) e Guias de Orientações do Programa Ler e Escrever (2008) os problemas acima podem ser classificados, em relação aos esquemas e categorias associados as estruturas multiplicativas conforme quadro abaixo que segue o modelo de Santos (2006): Classificações segundo os campos conceituais para as Situações para a Propostas Sondagem inicial. Marina possui em seu guarda-roupa 3 saias e 5 blusas. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? Preciso colocar em um auditório 84 cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em quantas colunas poderei organizar essas cadeiras? Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá pagar pelos 4 pacotes? Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o triplo desta quantia. Quantos reais têm João Pedro? Estruturas Multiplicativas PCN e Guia de Orientações do Programa Ler e Escrever Esquemas Categorias Nunes&Bryant Vergnaud Combinatória Produto cartesiano Proporcionalidade dupla ou múltipla Configuração retangular Correspondência um-a-muitos Proporcionalidade dupla Proporcionalidade simples Correspondência um-a-muitos Proporcionalidade simples Multiplicação comparativa Correspondência um-a-muitos Comparação Multiplicativa Tabela 10 – Classificação dos problemas da sondagem inicial segundo as categorias de Estrutura Multiplicativa Em relação aos problemas de estruturas multiplicativas apresentados no Guia do Programa Ler e Escrever é possível relacionar as diferentes situações conforme a classificação da tabela (10). Nessa tabela observamos que são apenas três as categorias usadas na estrutura matemática do problema, não encontramos 104 presentes nesses problemas, a categoria de proporcionalidade simples composta. Assim como pode ser observado na análise. A partir das análises e estudos dos dados coletados, os alunos demonstraram dificuldades especialmente em idéias que envolvem a configuração retangular e combinatória se recorremos às classificações do Guia e proporcionalidade dupla ou Múltipla quando nos referimos a Vergnaud, dessa forma, as atividades das próximas fases passariam a ter perguntas mais específicas, pois tenderiam a tratar casos mais locais ou particulares em função das necessidades dos próprios alunos, como recurso de intervenção para a construção do raciocínio multiplicativo, utilizamos o software ClicMat, com ferramenta pedagógica de intervenção, para a 3ª fase . Neste contexto, com a seleção do software ClicMat para uma tentativa de mudança no quadro das dificuldades apresentadas pelos alunos, foram escolhidas para explorar as atividades denominadas de investigação e que envolviam as idéias de configuração retangular e combinatória classificações no Guia e proporcionalidade dupla ou Múltipla segundo Vergnaud, esquemas esses que foram demonstradas como dificuldade comum no grupo. Para essa fase separamos os alunos em dois grupos de 15. Um grupo iniciou com a exploração do software num trabalho coletivo na sala comum e o outro na sala de informática com 1 aluno em cada computador, o que não deixou de ser um trabalho coletivo uma vez que eles se sentiam a vontade para ir nas máquinas onde algum colega tivesse feito alguma nova descoberta. Durante essa fase, considerada de intervenção as observações do pesquisador e os parceiros de trabalho já apresentados buscaram atender as expectativas da pesquisa sendo o mais fiel possível em seus registros, mantendo-se as exigências do trabalho de pesquisa, para que os dados coletados pudessem ser seguros para um tratamento decisivo e com valor científico. Após esse trabalho com o software fomos para a 4ª fase. Nessa aplicamos a sondagem final com o objetivo de observar se houve avanço nas questões que envolvem as estruturas multiplicativas, especificamente as detectadas na sondagem inicial, com os problemas descritos abaixo: 105 PROBLEMAS DA SONDAGEM FINAL Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 tipos de lanches. De quantas maneiras pode-se combinar suco e lanche sem que haja repetição? Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo que nela pode-se colocar 8 docinhos em cada fileira, quantas fileiras são necessárias para completar a caixa? Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto Júlia pagará por 16 maçãs? Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a metade dessa quantia, quantos reais têm Marcelo? Abaixo classificamos os quatro problemas do sondagem final segundo as categorias dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e Guias de Orientações do Programa Ler e Escrever, Nunes&Bryant e Vérgnaud, segundo o modelo de SANTOS (2006), conforme identificado no quadro anterior. Classificações segundo os campos conceituais para Situações Propostas para a Sondagem inicial. Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 tipos de lanches. De quantas maneiras pode-se combinar suco e lanche sem que haja repetição? Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo que nela pode-se colocar 8 docinhos em cada fileira, quantas fileiras são necessárias para completar a caixa? Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto Júlia pagará por 16 maçãs? Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a metade dessa quantia, quantos reais têm Marcelo? as Estruturas Multiplicativas PCN e Guias de Orientações do Programa Ler e Escrever Esquemas Categorias Nunes&Bryant Vergnaud Combinatória Produto cartesiano Proporcionalidade dupla ou múltipla Configuração retangular Correspondência um-a-muitos: inversa Proporcionalidade dupla Proporcionalidade simples Correspondência um-a-muitos Proporcionalidade simples Multiplicação comparativa divisão Correspondência um-a-muitos Comparação Multiplicativa Tabela 11 – Classificação dos problemas da sondagem final segundo a categoria de Estrutura Multiplicativa 106 Estes problemas foram entregues em folhas de sulfites, impressos e praticamente não houve intervenção do professor da classe ou da pesquisadora, esperando assim que os alunos registrassem no papel as possíveis soluções utilizando estratégias pessoais, sejam por desenhos, algoritmos ou outros teoremas em ação com validade para a situação proposta. No capítulo a seguir, para melhor compreensão das situações e possibilidades de solução apresentamos uma análise a priori e a posteriori das atividades propostas de cada fase segundo as categorias descritas acima. 107 5 ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI DAS ATIVIDADES PROPOSTAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nesse capítulo, pretendemos apresentar as análises a priori das atividades realizadas nas quatro fases que foram propostas em nossa pesquisa. Nesse sentido vamos descrever o que era esperado e o que não era previsto para cada fase. Para isso, consideramos Vergnaud (1991, p.176) que salienta os três principais fatores da complexidade cognitiva associadas às estruturas multiplicativas nos problemas que são os valores numéricos, os tipos de grandezas e as técnicas operatórias. Além disso, analisamos as categorias das estruturas multiplicativas que envolvem os problemas. Nesse sentido nós nos atentamos a essas questões: - Quais os fatores que podiam ser colocados em evidência nas situações propostas? - Que tipo de categoria poderíamos associar às situações propostas? Para isso, analisamos as atividades de cada fase e consideramos alguns dados dos próprios protocolos dos alunos participantes da pesquisa. Em relação ao que foi solicitado por meio dos problemas propostos apresentamos um breve inventário do que era esperado do que foi escolhido no trabalho efetuado pelos alunos nas diferentes fases. 5.1. ANÁLISE A PRIORI E POSTERIORI FASE 1 Iniciamos a fase 1 com acompanhamento das aulas de matemática planejadas e coordenadas pela professora da sala. Nessa fase de observação notamos que os alunos tinham bastante liberdade de expressão e boa aceitação para o trabalho com a matemática. A proposta, em geral, era constituída de atividades onde se esperava que os alunos utilizassem o algoritmo da multiplicação dando ênfase à justificativa desse 108 algoritmo por meio da estrutura aditiva, ou seja, considerá-la como soma de parcelas iguais. Observamos que durante a correção das atividades propostas era previsto a discussão do trabalho individual dos alunos. A professora ou o aluno que tivesse encontrado o resultado esperado apresentavam seu trabalho na lousa. Em geral, o algoritmo das operações era privilegiado quando utilizado pelos alunos que, quando se tratava de multiplicação, quase sempre usavam adição de parcelas iguais. Ressaltamos que os alunos apagavam suas produções e copiavam o que estava na lousa, principalmente, quando a resposta não era a mesma. Isso era uma prática, onde verificamos que não existia um momento para questionar se o que os alunos desenvolviam poderia ou não conduzir a um esquema que pudesse ser considerado um percurso para trabalhar a estrutura multiplicativa. Essa falta de questionamento a boa parte dos alunos não era esperada, pois eles tinham liberdade para discutir com o grupo a solução que tinham encontrado. Aqui podemos ter um efeito de contrato didático, que mesmo a professora dando liberdade, talvez por ela não enfatizar essa possibilidade, por exemplo, pedindo para que os alunos apresentassem suas produções, nos conduz a supor que os mesmo seguiam um procedimento habitual. Passamos assim para a segunda fase onde apresentamos uma análise a priori e a posteriori das possíveis soluções dos problemas da sondagem inicial e discutimos alguns resultados válidos que foram os mais utilizados pelos alunos deixando os casos particulares, que em geral são incorretos, para serem apresentados nas análises comparativas. Essa escolha está relacionada à quantidade de soluções particulares que dificultam a apresentação das análises. 5.2. ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI FASE 2 No diagnóstico inicial nessa segunda fase, foram propostos quatro problemas que envolveram as estruturas multiplicativas já categorizados e apresentados no capítulo 2 e que estão descritos abaixo para análise: Marina possui em seu guarda-roupa 3 saias e 5 blusas. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? 109 Preciso colocar em um auditório 84 cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em quantas colunas poderei organizar essas cadeiras? Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá pagar pelos 4 pacotes? Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o triplo desta quantia. Quantos reais têm João Pedro? Para essa atividade, resolução de problemas, era esperado em relação ao trabalho dos alunos, que eles usassem os seguintes esquemas: Em relação à estrutura global dos problemas: Ler e interpretar os problemas que foram propostos na língua natural – é importante lembrar que algumas vezes se faz necessário distinguir o significado das palavras no contexto da matemática que podem ter se tornado trivial para o professor, porém para o aluno tem outros “significados como, por exemplo: operação, primo, dobrar, meio entre outras” (DANTE, 1994 p.49); Reconhecer na proposição da situação problema o campo conceitual de que se refere à estrutura multiplicativa; Buscar a compreensão e tratamento das idéias de que trata o problema; Resolver por meio de estratégia pessoal, cálculo mental ou algoritmo. Para tal, os problemas propostos nessa primeira fase envolviam determinadas variáveis em relação a valores numéricos, ao tipo de grandezas e as técnicas de cálculo conforme segue: Em relação aos valores numéricos: Utilizar os números naturais (na função bijeção e cardinalidade); Utilizar dos números cardinais entre 0 e 99 (números na ordem das dezenas com a intenção de não deter a atenção das crianças para a complexidade dos números, como enfatiza Dante (1994 p. 50); Em relação aos tipos de grandezas e medidas: 110 Noção de proporcionalidade; Quantidades discretas (elementos, noção de valores); Sistema monetário (real e centavos). Em relação às técnicas de cálculo: Do cálculo mental; Dos algoritmos das quatro operações básicas; Problemas que envolvem uma ou duas operações, lembrando que Dante (1994 p. 51) observa que os problemas com duas operações são considerados mais trabalhosos. Em relação as categorias dos problemas de estrutura multiplicativa: O problema 1 da atividade proposta nessa fase, como já sabemos, possui o seguinte enunciado – Marina possui em seu guarda-roupa 3 saias e 5 blusas. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? Esse problema requer para a sua solução o esquema de produto cartesiano, visando à descoberta do sistema combinatório, que segundo a categorização de Vergnaud é específico à proporcionalidade dupla. Em relação aos valores numéricos no problema, utiliza-se números entre 1 e 45. As grandezas requeridas são as noções de proporcionalidade e quantidades discretas. Para tanto se esperava que as crianças conseguissem selecionar os dados pertinentes ao problema lendo e compreendendo a situação. Além disso, a expectativa era que elas elaborassem estratégias pessoais que pudessem auxiliar a encontrar o sistema combinatório, seja por meio da representação por diagrama de árvore, da utilização do algoritmo da multiplicação ou outro esquema cujo teorema em ação fosse válido. Esperamos ainda que as crianças utilizassem a lógica da correspondência um-a-muitos como esquema em ação, pois consideramos esse esquema importante, uma vez que demonstra em suas possíveis representações graus qualitativamente diferenciados para solucionar o problema. 111 O quadro a seguir apresenta o problema “1” dessa fase, anteriormente classificados segundo as categorias de Vérgnaud (1997), com destaque para sua estrutura matemática, as possíveis estruturas do problema e a possível técnica operatória em função do questionamento do problema: Casos específicos de proporcionalidade dupla ou múltipla Estrutura Matemática Questionamentos Estruturas do problema Produto cartesiano de 2 n (EXF)?; conjuntos - Marina possui em seu guarda- n(E X F) = n (E). n (F)1 quantas maneiras diferentes ela roupa 3 saias e 5 blusas. De pode se vestir? Ou ainda poderíamos perguntar: n(E)? ou n(F)? - Marina se veste 15 maneiras diferentes possui em seu guardaroupa 3 saias. Quantas blusas diferentes ela possuí? Tabela 12 – Classificação do problema 1 da sondagem inicial segundo a estrutura Matemática No caso do problema “2” – Preciso colocar em um auditório 84 cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em quantas colunas poderei organizar essas cadeiras? – Segundo as categorizações para essa situação, que também está dentro do mesmo campo conceitual das estruturas multiplicativas, para Vergnaud trata-se de um problema de “Proporcionalidade dupla”, cuja situação intervém no domínio de duas grandezas que são autônomas e nesse caso as quantidades são discretas. Em relação aos valores numéricos no problema, utiliza-se números entre 1 e 84. As grandezas referem-se à noção de proporcionalidade e quantidades discretas. Nessa situação se esperava que as crianças, por meio da leitura pudessem reconhecer os dados do problema, e encontrassem estratégias pessoais relacionadas à disposição e organização dos objetos. Elas poderiam ainda utilizar o algoritmo da multiplicação ou outro esquema cujo teorema em ação fosse válido. 1 Definição: Sejam E e F conjuntos não vazios. O produto cartesiano de E por F, denotado por E X F, é o conjunto de todos os pares ordenados (n, m), onde n ϵ E e m ϵ F , ou seja E X F = { (n, m): n ϵ E x m ϵ F}. 112 Segundo o Guia do Programa Ler e Escrever trata-se de configuração retangular, que corresponde à categoria proporcionalidade dupla de Vergnaud. Logo, nesta categoria estão as situações problema do tipo número de quadrados de um quadriculado retangular e, de maneira geral, os problemas que correspondem a uma composição multiplicativa de duas grandezas discretas. A comutatividade da multiplicação nessa categoria é facilmente observável pelos os alunos. O quadro abaixo classifica o problema “2” segundo as categorias dos campos conceituais de estruturas multiplicativas de Vérgnaud, com destaque para sua estrutura matemática, os possíveis questionamentos a situação e a estrutura do problema. Casos específicos de proporcionalidade dupla Estrutura Questionamentos Estruturas do problema Matemática Configuração Produto ou número num - Preciso colocar em um auditório Retangular alinhamento? 84 cadeiras, fileiras. Em dispostas quantas em 7 colunas poderei organizar essas cadeiras? Ou ainda poderíamos perguntar: - Preciso organizar um auditório dispondo-o em 12 colunas e 7 fileiras. Quantas cadeiras preciso levar ao auditório? Tabela 13 – Classificação do problema 2 da sondagem inicial segundo a estrutura Matemática Segundo Vergnaud, essa categoria de problemas de proporcionalidade dupla ou múltipla pode ser considerada como a que apresenta maior complexidade para os alunos das séries iniciais, o que observamos nos protocolos dos alunos da 3ª série que participaram da nossa pesquisa. O problema “3” – Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá pagar pelos 4 pacotes? 113 Esse problema categorizado como proporcionalidade simples pode ser um problema composto por apenas 2 dados, mas na verdade, como afirma Vergnaud, é composto por três dados, a saber: pacotes de balas, preço e o valor fixo de 1 pacote, que custa 9 reais. Entre esses três dados existe a incógnita e uma relação de proporcionalidade direta simples, que fica mais visível quando representada na forma abaixo: Pacote de bala 1 Reais X9 X4 9 X4 X9 4 ? Tabela 14 – Classificação do problema 3 da sondagem inicial segundo a estrutura Matemática Nessa categoria de problemas de proporcionalidade simples que envolve a multiplicação, existe relação de proporcionalidade entre os números e as operações. O modelo de espaço vetorial ou espaço linear é adequado para demonstrar essas estruturas. f(4) = 4 x 9 f(x) = ax onde “a” é o coeficiente de proporcionalidade entre o número de pacote de bala e o preço. „ f(4X1) = 4f (1) Isomorfismo de medida (de identidade) Como vimos, essa situação pode ser representada mediante tabelas numéricas que estão associadas a uma função linear. Podemos resolvê-la por meio de uma multiplicação, uma divisão, ou uma “regra de três”, ou seja, buscamos a quarta posicional, mas na maioria das vezes encontramos soluções do tipo adição de parcelas iguais. Para resolver estes problemas, o raciocínio pode passar pelo coeficiente de proporcionalidade entre duas grandezas, pelas propriedades de linearidade da função linear associada, pela multiplicação por um escalar ou pela aditividade. Não se esperava que os alunos da 3ª série utilizassem, por exemplo, a regra de três para resolver essa situação problema. 114 Nesse caso esperamos que as crianças conseguissem identificar a situação como uma estrutura multiplicativa, e que pudessem elaborar estratégias pessoais utilizando a adição de parcelas iguais fixando um dos fatores ou pelo algoritmo da multiplicação ou ainda outro esquema cujo teorema em ação fosse válido. Em relação aos valores numéricos no problema, utilizam-se números entre 1 e 36, e as grandezas e medidas a ele associadas as noções de proporcionalidade e função linear, a quantidade discreta e continuas (sistema monetário). O quadro abaixo classifica o problema “3” segundo as categorias dos campos conceituais de estruturas multiplicativas de Vérgnaud com destaque para sua estrutura matemática, a estrutura do problema e os possíveis questionamentos: Proporcionalidade simples Estrutura Questionamentos: A Estrutura do problema: matemática incógnita pode variar na elaboração das perguntas Problemas 1 B 1 B 1 proporcionalidade C ? D C D ? simples f(x) =ax A B ? - Marta vai comprar pacotes de (O número pacote custa 1 não figura) Quanto irá pagar pelos 4 C ? bala. 4 9 Cada reais. pacotes? Tabela 15 – Classificação do problema 4 da sondagem inicial segundo a estrutura Matemática No contexto desse problema usam-se os números cardinais (o que poderíamos usar em outras situações os ordinais ou as medidas). As crianças poderiam resolver o problema usando quaisquer uns dos recursos que tivesse disponível, entre eles os exemplos: 4 x 9 = 36, 9 x 4 = 36; 9 + 9 + 9 + 9 = 36, ou ainda outros esquemas, lembrando que outra maneira possível de resolver este problema seria ser por meio da regra de três como foi apresentada anteriormente. No problema “4” – Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o triplo desta quantia. Quantos reais têm João Pedro? 115 Nessa situação não se esperava que as crianças pudessem ter noção que existe uma relação de natureza escalar, mas que utilizassem uma relação numérica de comparação, que remete a uma expressão aditiva ou “tantas vezes mais” ou “tantas vezes menos”. Era esperado que fossem utilizados raciocínios sobre o dobro, o triplo, ou ainda, duas vezes mais que quer dizer o dobro; três vezes mais que quer dizer o triplo. O problema poderia ser solucionado por meio de uma das seguintes maneiras: (i) 35 x 3 = 105 (ii) 35 + 35 + 35 = 105 (iii) Onde A = 35, B = 3 e A A C= 105, Temos: A X B = C, xB :B onde 35 X 3 = 105; ou então, C : B = A, C C onde 105 : 3 = 35. Para esse problema era esperado ainda que as crianças conseguissem distinguir o significado dos termos (dobro, triplo) como anteriormente destacados. Além disso, os alunos poderiam identificar o algoritmo da multiplicação como recurso para a solução do problema, elaborar outras estratégias pessoais ou utilizar a adição de parcelas. Em relação aos valores numéricos no problema utilizou-se números entre 1 e 105. As grandezas e medidas a ele referidas são de quantidades discretas e continuas (sistema monetário). Alguns protocolos de alunos com esquemas válidos: Selecionamos um protocolo de aluno para cada categoria de problema segundo o Guia do Programa Ler e Escrever. Esses foram escolhidos por 116 apresentarem respostas com esquemas em ação válidos, por serem respostas algumas vezes comuns entre os alunos pesquisados e com teorema e conceitos em ação que eram esperados. Um resultado não muito comum na primeira fase foi a utilização da correspondência um a muitos, como podemos ver no protocolo abaixo: Figura 10 – Esquema correspondência um-a-muitos da situação 1 da sondagem inicial No protocolo de um dos participantes para o segundo problema da fase 2, vemos que o aluno utiliza o esquema da correspondência, em coordenação com a contagem para solucionar o problema que é um teorema em ação válido. Conforme figura abaixo: 117 Figura 11 – Esquema correspondência em coordenação com a contagem na sondagem final No próximo protocolo temos um esquema por meio de representação de desenho para a solução do problema 3, da fase 2 (sondagem inicial), estratégia pessoal usada como suporte, onde o aluno selecionou e identificou os dados do problema, montou seu esquema em ação, utilizando um teorema em ação válido, conforme figura abaixo: Figura 12 – Esquema de coeficiente de proporcionalidade Identificamos no registro do aluno, que para solucionar esse problema, ele fez o desenho que representa o coeficiente de proporcionalidade entre o número de pacote de bala e o preço. E adicionou o preço quantas vezes fossem os desenhos representados. Utilizando assim um teorema em ação válido e encontrando a solução para a situação proposta. 118 No quadro a seguir temos dois registros diferentes, com teoremas válidos, para uma mesma situação. Nesses protocolos, notamos que temos uma situação e dois conceitos, ou dois conceitos para uma mesma situação. Como era esperado, podemos ver no Também esperado, alguns alunos protocolo que resolveram o estrutura aditiva. alguns problema alunos empregam “tantas vezes mais”, utilizando utilizando uma relação numérica de comparação. Tabela 16 – Esquema esperados para as situações de estrutura multiplicativa Iniciaremos em seguida a análise da terceira fase que utilizou uma interface computacional para intervenção, propondo situações de estruturas multiplicativas. 5.3. ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI FASE 3 Para analisar essa fase, nos apoiamos em algumas pesquisas que foram bem sucedidas e que mostram que o uso do computador promove o desenvolvimento cognitivo dos sujeitos e contribui para aprendizagem dos conceitos. Segundo MILANI (2001 p.176) exigem mudanças em toda a estrutura do ambiente escolar. Partimos então do princípio que a cognição humana adapta-se às situações segundo um processo dialético, que para Vergnaud é fundamental para a construção do conhecimento que por meio de esquemas que vão progressivamente 119 ampliando os campos conceituais de um determinado domínio. Dessa forma, as mudanças exigidas pela introdução do computador no ambiente escolar podem auxiliar na construção do conhecimento. Sendo assim, para a interface computacional utilizamos o conceito de instrumento definido por Rabardel (1995). Para ele o instrumento é a combinação de um esquema e de um artefato, ou seja, leva em conta a interface computacional, que é o artefato, e os esquemas utilizados pelas crianças para resolver uma situação. Para associação dos instrumentos ele define que o artefato, trata-se do meio pelo qual o sujeito age. Os artefatos podem ser materiais ou não, e o significado desses elementos podem ser atribuídos de formas variadas de sujeito para sujeito. E o esquema é o segundo elemento que compõe o instrumento, o que nos fez considerar as pesquisas desse autor, uma vez que complementa nosso trabalho. Para Rabardel (1995, p. 80), o esquema se forma juntando aos artefatos, as ações dos sujeitos que agem sobre esses artefatos. Esses fatores nos possibilitam a análise das ações com um instrumento em termos de adaptação a face da interface computacional. Entretanto, não vamos analisar o desenvolvimento conceitual em relação à adaptação do instrumento nesse momento, essa análise será averiguada por meio de um novo teste diagnóstico que será apresentado na próxima fase. Os modelos que consideramos acima, de Vergnaud, em relação aos esquemas e de Rabardel (1995, p. 69), em relação ao instrumento (esquema+artefato), ambos partem do esquema definido por Piaget. O modelo da estrutura do conceito de esquema de Vergnaud em suas estruturas e a dinâmica de desenvolvimento cognitivo, de forma mais detalhada. Nesse modelo de esquema podemos analisar os elementos e as propriedades dos conceitos que emergem na ação dos indivíduos. Consideramos assim que o instrumento a que se refere Rabardel (1995, p. 44) pode nos auxiliar como recurso para a aprendizagem validando nossa atividade de intervenção com o uso do artefato de interface computacional. Podemos assim, introduzir as atividades com o uso da tecnologia para as realizações e organizações 120 das ações sobre os instrumentos ao mesmo tempo em que consideramos o conteúdo. Nessa perspectiva consideramos, como o autor, que o desenvolvimento conceitual associado ao uso de instrumentos divide-se em duas partes. A primeira em relação ao desenvolvimento de competências dos indivíduos em manipular os instrumentos, ocorrendo um desenvolvimento ou gênese instrumental. Esse desenvolvimento instrumental pode ser decorrente de transformações do artefato ou dos esquemas em ação para manipular o artefato. Por outro lado, e em conseqüência desse processo de desenvolvimento instrumental, os sujeitos evoluem em termos de conhecimento sobre o conteúdo veiculado pelos artefatos, no nosso caso as estruturas multiplicativas. Em outras palavras, os indivíduos adquirirem o conhecimento na medida em que aprendem a usar um determinado sistema de artefatos. Por exemplo, na medida em que alunos se familiarizam com as atividades propostas no software ClicMat e com o próprio software ele também constroem seus próprios conhecimento em relação aos conceitos matemáticos em jogo, no caso, as estruturas multiplicativas. Analisamos assim o desenvolvimento conceitual em relação à aprendizagem com o uso de instrumentos particulares a partir do conceito definido por Vergnaud. Nessa fase, as atividades foram desenvolvidas em 4 horas o que já era previsto no planejamento. Os alunos foram separados em dois grupos, sendo que cada grupo trabalhou duas horas na sala de informática e duas horas na sala comum. O tempo planejado para essas atividades, não foi suficiente e por esse motivo os alunos não puderam trocar os problemas por eles elaborados e discutir os diferentes tipos de problemas e as possíveis soluções como previsto na pesquisa. Pretendíamos criar um momento de busca e discussão para propiciar um ambiente de pesquisa em sala de aula de modo que os alunos pudessem “refazer” alguns passos e “revisitar” alguns conhecimentos por meio das atividades de investigações disponíveis no software e com registros sobre os conceitos compreendidos, ou com o entendimento que foi possivelmente discutido inicialmente em duplas, e ainda, que pudessem expor suas hipóteses, fazer suas intervenções 121 ou questionamentos oralmente. Acreditamos que essas ações auxiliam os alunos a pensar e encontrar soluções para os problemas propostos, assumindo sua parte de responsabilidade na aprendizagem e percorrendo sua investigação num espaço que denota um ambiente lúdico, num processo de seleção de prioridades. A falta de tempo para essa atividade pode nos auxiliar a compreender a prática usual que, em geral, não privilegia o momento de discussão e retomada das produções dos alunos. Apesar disso, o trabalho com o software possibilitou que os alunos pensassem numa resposta inicial, a partir da análise das suas hesitações e dos seus erros, notando que essa não era a resposta desejada. Essas condutas de estruturação dos esquemas que provém do repertório disponível e da busca de novos caminhos exigem novos procedimentos, uma vez que seus esquemas são insuficientes e os obriga a realizar acomodações e modificações de seu sistema de conhecimento as dúvidas precisam ser consideradas nas tomadas de decisão. O conhecimento visado é, a priori, indispensável para passar da estratégia inicial para outra, ou seja, de forma que essa permita solucionar o problema e compreender a solução encontrada passando pela avaliação do modelo global de interação entre as variáveis da situação. Algumas vezes, o impacto de uma determinada variável independente pode depender (ou ser dependente) do nível de outra variável independente. Por exemplo: O Impacto do ensino sobre o rendimento pode depender da interação do aluno com o uso da tecnologia, portanto não é confiável afirmar que todos os alunos interajam de forma positiva ao recurso do software. Além disso, as atividades são interativas e podem propiciar um ambiente de aprendizagem das estruturas multiplicativas, e outros conceitos que estão explícitos e implícitos para solução dos problemas propostos, como: o uso de tabelas, comandas do ambiente computacional, entre outros. Centramos no significado e na interpretação da atividade. Queríamos saber se a interação com essas atividades contribui para o avanço dos alunos. Nos fatores da complexidade cognitiva da estrutura dos problemas, os valores numéricos e as grandezas, nas atividades propostas para serem trabalhados com recurso interativo e diferenciados do software, esperavam que os alunos pudessem melhorar seu desempenho em relação: 122 A estrutura do problema: Compreender as informações visuais disponíveis como suporte na interface computacional; Ler as comanda das atividades que estão na língua natural; Resolver por tentativa e erro utilizando o experimento; Dessa forma nessas atividades as variáveis em relação aos números, grandezas, técnicas e categorias de problemas foram observadas, considerando: Tratando-se dos números: Utilizar a estrutura dos números naturais (na função de bijeção e da cardinalidade); Utilizar o conjunto dos números naturais, para as situações de comparação multiplicativa; Utilizar os cardinais entre 0 e 100, para as situações de proporcionalidade dupla; Utilizar os cardinais entre 0 e 24, para as situações de proporcionalidade dupla ou múltipla. O tipo de grandeza: De domínios físicos; (que apresentam intensidade, direção e sentido) Quantidades discretas e continuas. As técnicas de cálculo: Reconhecer a situação dada, referente à estrutura multiplicativa; Procurar uma propriedade matemática que justifique a regularidade da solução. 123 Categoria de problemas de estrutura multiplicativa: Dentre as 32 atividades oferecidas pelo software, 3 foram as mais exploradas, por se tratar de atividades consideradas de investigação: “Arrumar cadeiras no cinema”,” Mudar o visual” e “Pesar animais”. A atividade “Arrumar cadeiras no cinema” envolve a configuração retangular. Nesta atividade o aluno escolhe quantas cadeiras quer colocar na sala do cinema, com limite disponível de 100 cadeiras e, em seguida, completa a tabela com número de fila e número de cadeiras na fila indicando na tabela todas as maneiras possíveis de arrumar as cadeiras de forma retangular, encontrando assim todas as possibilidades. O jogo premia o participante com algumas cenas alegóricas. No jogo podem acontecer três situações: - A arrumação certa das cadeiras, isto é, linhas e colunas coerentes com o total elas aparecem todas em azuis; - Aparecem cadeiras azuis e vermelhas, quando o produto é maior que o número total de cadeiras, ou seja, as cadeiras vermelhas correspondem ao número que ultrapassa o total. - Aparecem cadeiras azuis e pretas, quando o produto é menor que o número total de cadeiras, as cadeiras pretas representam o que falta para completar o total. Conforme o aluno escolhe o número que representará o produto, ou o total de cadeiras a serem arrumadas, lança suas hipóteses que são os fatores escolhidos por ele e que vai preenchendo automaticamente a tabela, com as decomposições do número informado pelo participante, quando essa decomposição está correta. A questão apresentada no software para orientar os alunos é a seguinte: “Descubra todas as maneiras de arrumar as cadeiras no cinema de forma que as filas tenham o mesmo número de cadeiras”, ou seja, o esquema já vem enunciado, mas não é trivial para os alunos, pois eles não fazem a leitura dessa informação. Nessa situação problema era esperado que os alunos identificassem os conceitos e esquemas que envolvem as estruturas multiplicativas e a comutatividade na multiplicação, como recurso para agilizar as possíveis decomposições. 124 Na figura abaixo temos o protocolo do percurso de um aluno utilizando o ClicMat gravado pelo software “auto screen Record” durante o processo de desenvolvimento da atividade de investigação “Arrumar cadeiras no cinema”: Figura 13 – Atividade de proporcionalidade dupla (configuração retangular) no software Observamos na imagem da figura que o aluno apresenta uma solução correta, mas parece não saber explicar ou formular os argumentos para justificar sua resposta, é bem possível que ainda, não havia compreendido a estrutura Matemática da configuração retangular. Observamos que após uma tentativa correta como vemos na tabela “2 x 5” para distribuir as 10 cadeiras, o aluno indica uma decomposição “2 x 10” para encontrar o produto 10 que corresponde a um teorema em ação falso. As cadeiras vermelhas estão a mais, ele parece não ter compreendido o produto, a distribuição ou não pensa no valor fixo de 10 cadeiras para o alinhamento que envolve o problema de “Proporcionalidade Dupla ou Múltipla”. É possível supor ainda que o aluno não compreendeu a idéia da comutatividade para esse esquema, mas realizou esquemas de validade local, que resultaram na produção de conhecimento de natureza operacional. 125 O aluno parece buscar uma solução por tentativa e erro apoiado no algoritmo da multiplicação e utilizando a tabuada de multiplicação do dois o que pode ter dificultado a percepção da comutatividade. Nesse momento o aluno troca informações, tenta explicitar o que fez para encontrar as diferentes respostas, comunicando-as de modo que ela seja compreendida por outros e esses o auxiliem a validar ou não os procedimentos usados na sua resposta. Por fim, o aluno não consegue justificar por meio de uma estrutura matemática a pertinência de seu modelo, uma vez que existem tentativas corretas e outras incorretas, que são imediatamente identificadas pelo “software”. A troca de informações possibilitou um embrião de discussão com o grupo, que esperávamos nos aprofundar no final do trabalho com o “software”, ou seja, não foi possível realizar a institucionalização, como esperado. Foi explorada também, a atividade, “Mudar o visual” que envolve a idéia de combinatória. Para tal atividade a questão proposta é a seguinte: “Forme todas as figuras diferentes com uma cara, um chapéu e uns óculos”. Procuramos fazer adaptação da situação específica de combinatória, com uma proposta lúdica para que o aluno pudesse percorrer um caminho que fizesse sentido para ele, propondo soluções e posteriormente encontrando a estrutura matemática que corresponde a solução por ele proposta. Essa atividade compreende três níveis de dificuldade, a saber: - No nível 1 – 2 homens e 3 chapéus – esperado “2 x 3” - No nível 2 – 2 homens, 3 chapéus e 2 óculos – esperado “2 x 3 x 2” - No nível 3 – 2 homens, 3 chapéus, 2 óculos e 2 bigodes – esperado “2 x 3 x 2 x 2 “ A seguir temos um protocolo de um aluno, documento gravado pelo “software auto screen Record”, para o processo de desenvolvimento da atividade de nível 1: 126 Figura 14 – Atividade de produto cartesiano (combinatória) no software Nessa atividade, os alunos tinham a oportunidade de procurar por meio de estratégias pessoais as soluções, podendo refletir sobre seus os erros e acertos, visava ainda a descoberta do sistema combinatório. Alguns alunos utilizaram a correspondência termo a termo, por meio de estratégia de organização por grupos para a solução que envolvia caso de proporcionalidade dupla, que não é o esquema para essa atividade a qual leva a uma dificuldade para o tratamento da questão, que exige novas tentativas para chegar a um novo esquema. No nível 1, a atividade pode ser resolvida de forma operacional, fazendo as combinações possíveis dos homens com os chapéus, mas a complexidade dos outros níveis nos pareceu deixar os alunos insatisfeitos, pois o esquema inicial não era suficiente para encontrar a solução e eles procuravam pensar de forma diferente, procurando antecipar soluções. Apesar de muitos não terem alcançado o resultado esperado, a situação auxiliou, pelo menos, para mostrar a insuficiência do esquema inicial. 127 Na atividade “Pesar os animais” que também foi explorada pelos alunos por se tratar de situação problema que envolve o campo conceitual das estruturas multiplicativas. A questão proposta no ecrã do “software é a seguinte: “Equilibra a balança usando no máximo duas espécies de animais a tua escolha?”. Para iniciar a atividade considerada de investigação e de nível 1 pelo próprio software, o participante escolhe entre ficar meninas ou meninos sobre um dos pratos da balança (balança de braços iguais conhecida por balança analítica cuja função é comparar a força gravitacional que atua sobre dois corpos por meio de alavancas, ou seja, é uma balança que permite determinar a massa dos dois corpos) e também terá que optar qual a quantidade de criança (menino ou menina) que deseja colocar nesse prato, se escolher meninas todas devem ser meninas o mesmo ocorrendo se a escolha for por menino. Todas essas informações serão digitadas e imediatamente aparecem na tabela 1 (tabela 1 – tabela das informações do primeiro prato). Essa tabela contém 1 coluna e 3 linhas, das quais: a 1ª linha, refere-se ao peso individual da criança; a 2ª linha quantidade de crianças no prato e a 3ª linha o produto da quantidade de criança pelo seu peso. Em seguida, escolhem-se os animais para colocar no segundo prato de forma a equilibrar a balança. Na instrução da atividade vem informado que deverá ser colocada no máximo duas espécies. Nessas situações serão possíveis três condições para a seleção, duas (condições 1 e 2) com esquemas válidos e uma (condição 3) com esquema não válido. - condição 1: todos os animais colocados no prato são da mesma espécie; - condição 2: são colocados duas espécies diferentes no prato; - condição 3: são colocados mais de duas espécies no prato. Destacando ainda que as condições 1 e 2 são consideradas como concluídas se o peso do primeiro e segundo pratos ficarem iguais, isto é, se a balança entrar em equilíbrio. No caso da tentativa da condição 3, simplesmente a terceira espécie escolhida não fica no prato, impossibilitando o equilíbrio da balança. As espécies de animais disponíveis para serem levadas e colocadas com o mouse no prato com suas respectivas massas são: 128 Espécie Peso Elefante 4000 kg Golfinho 500 kg na atividade com Gato Leão 200 kg as Periquito 100 g Formiga 0,05g Foca 100 kg Espécie Lista disponível respectivas imagens Texugo Peso 10 kg 4 kg Tabela 17 – Lista dos animais e seus respectivos pesos (massas) disponíveis no software Quando o aluno seleciona a espécie e coloca no prato e vai preenchendo até conseguir igualar os pesos, existe a tabela 2 (tabela de quantidades de animais) que automaticamente registra suas escolhas. Essa tabela é composta por 2 colunas e 3 linhas, as colunas diferenciam as duas espécies possíveis, nas linhas observamos: na 1ª linha, o desenho da espécie selecionada pelo aluno; na 2ª linha, quantidade de animais colocado no segundo prato pelo aluno e na 3ª linha, aparece o produto da quantidade de animais pelo seu peso (por exemplo 3 gatos vezes 4 kg que é o seu peso, logo aparece na terceira linha 12 kg). Para cada pesagem é possível o aluno encontrar a igualdade do exemplo acima, sem saber que os animais pesam mais do que as crianças. O software só envia uma mensagem quando a balança estiver em equilíbrio, portanto cabe ao aluno controlar as massas dos dois pratos para tentar modificar suas escolhas de forma que a balança fique equilibrada. Durante a atividade, a primeira dificuldade encontrada se deu pela falta de leitura das informações sobre a quantidade de espécie que seria possível colocar nos pratos. Podemos supor que os alunos, em geral, começam a atividade intuitivamente, em função das dificuldades encontradas no desenvolvimento da atividade e procuram caminhos para solucionar os problemas, utilizando novas estratégias para resolver a situação e nesse caso uma delas seria considerar as leituras das informações disponíveis. Na atividade, o peso máximo individual para cada criança é de 999 kg, a quantidade máxima de criança no prato é de 999 cujo produto é 998.001 kg, ou seja, o peso (massa) máximo em cada prato. Os alunos tentavam equilibrar o suposto peso das crianças colocadas no primeiro prato com os animais do segundo prato que eram as escolhidas aleatoriamente, mas sempre procurando os mais pesados. Alguns alunos 129 procuravam igualar o peso da criança “valor fixo” dado por ele com a quantidade de duas espécies de animais, colocando tantos quantos fossem necessários para se obter o peso da criança. Os alunos demonstraram se apoiar na tabela 2 que auxiliava no controle de quantos animais deveria ser colocado, comparando o resultado da pesagem. Abaixo temos uma imagem da interface da situação proposta. Figura 15 – Atividade de comparação multiplicativa no software A proposta dessas três atividades procurou explorar os esquemas que envolvem a estrutura multiplicativa, pois acreditamos que o aluno, face a nova situação, é capaz de revisitar seus conhecimentos disponíveis e ampliá-los em função de seus próprios teoremas em ação. Para o desenvolvimento dessas atividades, enquanto um grupo iniciava a exploração do software num trabalho coletivo o outro grupo fazia uma exploração individual do software na sala de informática. Para isso, os alunos foram divididos em dois grupos de 15 alunos, um deles trabalhando na sala de aula com o 130 pesquisador e o outro na sala de informática, onde cada aluno executava individualmente as atividades. A situação foi proposta em dois momentos de um mesmo dia de aula da classe e os dois grupos de alunos tiveram as mesmas oportunidades de trabalho com as atividades, conforme instruções que constam do anexo A – Atividade aplicada na intervenção com o uso do software, e anexo B – Atividade aplicada na Sala Ambiente de Informática (SAI) para intervenção com o uso do software, ou seja, numa segunda fase da aula, após o intervalo, os grupos trocaram de ambiente. Neste segundo momento foram feitas as atividades que constam do anexo B. No entanto, para a institucionalização, organizou-se a classe para a atividade de elaboração de problemas feitos por eles, baseada nas atividades vivenciadas com o software. Esse trabalho foi realizado em duplas e no coletivo. Nessa atividade os alunos trocaram informações por eles obtidas o que possibilitou a passagem do individual e particular para a classe. Dessa forma, podemos considerar que para esses alunos as situações permitiram um enriquecimento de seus conhecimentos e provocaram aprendizagem, pois como afirma Brousseau (1986) a partir das contradições, dificuldades e desequilíbrios o aluno procura novas respostas o que conduz a aprendizagem. Nessa fase, como estava previsto, os alunos em duplas ou coletivamente elaboraram problemas que foram entregues para o pesquisador em folha de sulfite e com esse material foi possível verificar o que os mesmos haviam compreendido em relação a estrutura multiplicativa durante o processo da exploração das atividades com o software. Para a análise dos problemas propostos pelos alunos levantamos que um mesmo problema implica em muitas questões (finalidade, dificuldades) e podem ser do tipo: problemas orais, sem números, em série, dramatizados, incompletos, com dados supérfluos, de cálculo de estimativa, de lógica, de imagem, mas para nossa análise nos concentramos apenas na verificação se o aluno o descreve ou não uma situação de estrutura multiplicativa, descartando todas as outras possibilidades, uma vez que nos interessa a compreensão dos alunos em relação aos conceitos que envolvem essa estrutura. No quadro abaixo apresentamos os enunciados dos problemas elaborados pelos alunos, classificando as estruturas em aditivas ou multiplicativas. 131 Enunciado do problema Estrutura Aditiva a) Quero pintar um desenho e não quero repetir as cores, me ajude: X b) Claudia vai arrumar o cinema e vai colocar 30 cadeiras. Quantas filas ela pode organizar e quantas cadeiras vão ter em cada fila? c) Um homem foi ao shopping comprou 2 óculos e 3 chapéus. Quantas combinações ele tem? d) Eu tenho 24 cadeiras como posso arrumar com 2 fileiras? X X X e) Combine os 2 bonequinhos com 3 chapéus e 2 óculos? X f) A moça do cinema queria organizar 300 cadeiras com o mesmo número de cadeiras em cada fileira. Quantas cadeiras vão a cada fileira? g) Tenho que me vestir, e tenho opções saia e camiseta; camiseta e calça, bermuda e calça. Quantas opções eu tenho? h) João foi ao cinema, faltava organizar as cadeiras. Tinha 24 cadeiras ele organizou-as em fileiras. Quantas cadeiras em cada fileira? i) Milena foi numa loja e comprou 3 blusas, 3 calças e 3 colares. Quantas formas ela pode se arrumar? j) Fui trabalhar no cinema o patrão disse para eu arrumar as cadeiras com 2 filas. São vinte e quatro cadeiras. Como será que eu faço? k) Fui à loja de roupas e comprei bastantes combinações.Quantas formas posso me vestir com 2 roupas? l) No cinema a Maria organizou 7 fileiras com 10 cadeiras. Quantas cadeiras Maria usou? X X X X X X X m) O José tinha uma regata e uma camisa e também uma bermuda e uma calça. Quantas combinações são possíveis? n) João e vovô quer colocar 3 chapéus sem repetir de quantas formas eles podem fazer? o) Bia tem 40 cadeiras para 108 pessoas. Quantas cadeiras faltam? Estrutura Multiplicativa X X X Tabela 18 – Enunciado de problema de estrutura aditiva ou multiplicativa elaborada pelos alunos 132 Nessas atividades observamos a participação dos alunos, segundo os significados dados a situação, os invariantes operatórios por eles utilizados e as representações simbólicas dos esquemas em ação em jogo no trabalho com as situações de estrutura multiplicativa. Consideramos ainda, as categorias e o que pode ser esperado como disponível para os alunos das séries iniciais, além da possibilidade de adaptação dos alunos com a interface computacional Na quarta fase avaliamos, por meio de um teste diagnóstico, o processo descrito acima de modo a validar essas intervenções. Nesse teste, propusemos outras quatro situações problemas de estrutura multiplicativa segundo as categorias já apresentadas e que podem ser resolvidas por meio dos mesmos esquemas solicitados na sondagem inicial. Apresentamos na sequência a análise do teste aplicado na fase 4. 5.4. ANÁLISE A PRIORI E A POSTERIORI FASE 4 A quarta e última fase ocorreu no tempo previsto de 50 minutos e nela procuramos avaliar se houve avanço nos conhecimentos dos alunos sobre as estruturas multiplicativas. Para tal, foi aplicado a sondagem final, que semelhante a sondagem inicial, solicita que os alunos resolvam as situações problemas por meio de estratégias pessoais, representações ou algoritmos convencionais que expressem a solução para os problemas. As situações são problemas do Guia de Orientações do Programa Ler e Escrever de sondagem das estruturas multiplicativas da 3ª série, que se encontram na página 29. Esses problemas atendem as expectativas de Vergnaud (1991), pois não se tratam de situações triviais para as quais os alunos podem ter esquemas já naturalizados. 1) Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 tipos de lanches. De quantas maneiras pode-se combinar suco e lanche sem que haja repetição? 2) Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo que nela pode-se colocar 8 docinhos em cada fileira, quantas fileiras são necessárias para completar a caixa? 3) Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto Júlia pagará por 16 maçãs? 4) Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a metade dessa quantia, quantos reais têm Marcelo? 133 A proposta da sondagem final seguiu a estrutura da sondagem inicial, cujo objetivo para essa aplicação é a avaliação do percurso que envolveu as três fases anteriores a essa. Trata-se de uma fase essencial para análise, logo, com esse propósito os problemas tinham implícito em seus questionamentos o mesmo campo conceitual que envolveu o teste da sondagem inicial. Sendo assim, o problema “1” corresponde a categoria “Proporcionalidade Dupla ou Múltipla, o problema “2” “Proporcionalidade dupla”, o problema “3” envolve conceito de proporcionalidade simples e, finalmente o problema “4” envolve a comparação multiplicativa onde se configuraram os argumentos básicos sobre os termos duplo, triplo, que são úteis para familiarizar os alunos com a linguagem matemática e com as formulações relacionadas com: duas vezes significa o dobro, três vezes a significa o triplo, e que segundo Dante (1994) apresentam dificuldades para os alunos. Nessa quarta fase era esperado que por meio das oportunidades vivenciadas pelos alunos, eles revisitassem seus conhecimentos e utilizassem os esquemas disponíveis para resolver as situações dessa fase, uma vez que esquemas solicitados para a solução desses problemas são os mesmos da primeira fase, mas é preciso lembrar que nessa última fase, as atividades não são triviais para os alunos, porém, esperamos que as características dos esquemas propostos fossem melhores elaboradas que as apresentadas na fase inicial. No capítulo a seguir, apresentamos a análise comparativa das produções de cada aluno, ou seja, o esquema utilizado no teste diagnóstico com o esquema do teste diagnóstico apresentado no teste final. Observamos ainda a complexidade na resolução de problema de estrutura multiplicativa segundo suas categorias. 134 6 ANÁLISE COMPARATIVA DAS PRODUÇÕES DOS ALUNOS CONSIDERAÇÕES INICIAIS Segundo Vergnaud (2009), os conhecimentos prévios são precursores dos novos conhecimentos. Sendo assim, para melhor compreender a evolução da aprendizagem dos alunos que participaram da sondagem e intervenção realizada nessa pesquisa apresentamos as análises dos esquemas utilizados pelos mesmos para resolver as situações problemas propostos na sondagem inicial e na sondagem final. Iniciamos pela apresentação dos resultados encontrados nessas duas sondagens que correspondem às diferenças identificadas na utilização dos esquemas encontrados. Para as análises dos protocolos dos alunos que participaram da intervenção consideramos as análises a priori e a posteriori apresentadas no capítulo 5 denominado “Análise preliminar das atividades propostas”. Além disso, as análises foram elaboradas a partir do significado dado pelos alunos às situações propostas. Para melhor descrever os esquemas por eles apresentados, construímos um quadro com os protocolos das sondagens inicial e final para as quatro categorias de problemas seguidos de comentários sobre as evoluções em relação aos esquemas identificados para cada categoria. Para descrever esses comentários sobre a evolução dos esquemas entre sondagem inicial e final, consideramos a pesquisa de Rocha e Menino (2009) que apresentam uma progressão dos níveis de cálculo em relação à operação de multiplicação e que segundo Dolk & Fosnot (2001) e Treffers & Buys (2001) permite descrever essa evolução por meio da passagem do cálculo por contagem, para o cálculo estruturado e, finalmente, para o cálculo formal. Dessa forma, para levar em conta os três níveis de cálculo utilizamos a descrição abaixo retirada dos trabalhos de Dolk & Fosnot (2001) e Treffers & Buys (2001) por Rocha e Menino (2009, p. 110): - Nível de multiplicação por contagem: o aluno usa a adição de parcelas iguais para resolver a multiplicação. Por exemplo: 135 - Nível estruturado na multiplicação: considerado como segundo nível utiliza a idéia de quantas vezes. Por exemplo: - Nível formal: os alunos recorrem a produtos conhecidos, propriedades e relações numéricas para auxiliar no produto entre dois fatores. Por exemplo: 136 Após apresentar os resultados sobre a evolução dos alunos, analisamos as dificuldades encontradas na resolução das situações propostas considerando o conteúdo que envolve a estrutura multiplicativa segundo as categorias de esquemas propostas por Nunes & Bryant (2001). A partir dessas informações, construímos um novo quadro, baseado na teoria dos campos conceituais de Vergnaud (1991), para identificar as diferentes formas de tratamento das estruturas multiplicativas, a saber: - cálculo relacional (teorema em ação e conceito em ação); - cognitivo do aluno (tipos de representação) e; - cálculo numérico (cálculo mental e os algoritmos). Finalmente, apresentamos as tabelas e gráficos comparativos de acertos e erros para as quatro categorias de situações propostas para os alunos que participaram das duas sondagens. Esses dados permitem comparar os resultados do grupo analisado em relação às duas etapas da sondagem, ou seja, a sondagem inicial que permitiu reconhecer os conhecimentos prévios dos alunos e a sondagem final realizada após a intervenção que permite analisar a evolução desses alunos. Iniciamos pela apresentação das análises sobre o desenvolvimento dos diferentes esquemas que aparecem nas produções dos alunos que participaram da pesquisa. 6.1. ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DOS ESQUEMAS DOS ALUNOS Nessas análises procuramos os conceitos-em-ação e teoremas-em-ação utilizados pelos alunos nas resoluções das situações propostas. A apresentação dos resultados é feita por meio da comparação entre as diferentes formas de tratamento das situações propostas. As análises são individuais e correspondem aos conhecimentos prévios disponíveis apresentados nos sete protocolos que se distinguiram uns dos outros em função dos esquemas apresentados. Esses protocolos foram escolhidos aleatoriamente em função do esquema utilizado, que pode ou não ter aparecido em outras produções dos alunos. Para auxiliar a leitura, interpretação e análise, apresentamos esses resultados, por meio de um quadro onde é possível identificar o teorema em ação utilizado pelo aluno para cada categoria de estrutura multiplicativa, ou seja, para 137 cada situação proposta, uma vez que a sondagem foi construída por meio dessa associação situação - teorema em ação. Observamos ainda se as representações utilizadas pelos alunos são dadas por meio de figuras, desenhos, diagramas, cálculo mental, algoritmo ou mesmo a combinação de duas ou mais representações. Fazemos também comentários procurando destacar as diferenças e a evolução do trabalho apresentado nas soluções em seus dois momentos, ou seja, sondagem inicial e final. Quadro de análise comparativa em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 1 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA OU MÚLTIPLA PROBLEMA 1 Marina possui em seu guarda-roupa 3 Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 saias e 5 blusas. De quantas maneiras tipos de lanches. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? pode-se combinar suco e lanche sem que haja repetição? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Observamos que na primeira abordagem da situação o aluno apresenta um resultado errado, pois ele utiliza como operatório a estrutura aditiva, e tenta resolver a questão proposta, que corresponde à estrutura multiplicativa com recursos e modelos de estruturas aditivas, isso corresponde a um teorema em ação falso com conceito em ação não pertinente. Na segunda sondagem, após a intervenção, o aluno é capaz de encontrar a resposta correta e faz a relação por meio de um diagrama que corresponde a um esquema correto para a solução da situação. 138 O avanço no esquema em ação utilizado entre as duas soluções das situações que estão associadas à mesma proposição ou teorema em ação e a função proposicional, ou seja, as combinações possíveis, que só aparece na sondagem final. A diferença entre a solução proposta pelo aluno nas duas sondagens mostra que o mesmo adquire uma nova competência após a intervenção, sendo capaz de utilizar um esquema relacionado às estruturas multiplicativas. Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 1 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA PROBLEMA 2 Preciso colocar em um auditório 84 Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em que nela pode-se colocar 8 docinhos em cada quantas colunas poderei organizar fileira, quantas fileiras são necessárias para essas cadeiras? completar a caixa? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na primeira solução observamos que o aluno erra porque não utiliza a proposição ou função proposicional verdadeira para representar de forma significativa a situação proposta, isso pode ser um indicador de o quanto é importante explorar uma situação em seus diferentes significados, que nesse caso corresponderia a distribuir o total de objetos pelo número de filas dadas. Podemos considerar que esse aluno está habituado a resolver problemas de matemática 139 utilizando algoritmos, o que o conduz a tentar associar a situação dada a um determinado algoritmo. Isso parece se confirmar no fato do aluno ter utilizado um algoritmo errado na situação proposta na sondagem inicial, mas seu esquema centrado nos algoritmos lhe permite encontrar um esquema correto após a intervenção, ou seja, a intervenção parece auxiliar seu desempenho uma vez que ele é capaz de manter o algoritmo da multiplicação encontrando uma forma de associar o total de objetos e fileiras. Para melhor compreender o esquema por ele desenvolvido na sondagem final seria interessante realizar uma entrevista com esse aluno. Podemos supor que após as intervenções o aluno apresenta um argumento com números (8 x 7 = 56) em que ele busca o valor da variável se apoiando na relação fixa entre elas (8 x ? = 56), nesse caso os 56 docinhos, mostrando autonomia na escolha do algoritmo para solucionar a situação e um teorema em ação verdadeiro. Entendemos assim que ele avançou na busca da solução, mas utilizando o algoritmo como ferramenta para solucionar a situação. 140 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 1 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE SIMPLES PROBLEMA 3 Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá quanto Júlia pagará por 16 maçãs? pagar pelos 4 pacotes? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na primeira solução, a situação proposta envolve as idéias das estruturas multiplicativas e tem em seu contexto os dados numéricos explícitos, essas informações podem ter facilitado a aplicação direta da adição de parcelas iguais para encontrar o resultado. O aluno acerta e como já foi comentado anteriormente, na maioria das vezes ele utiliza um algoritmo e tem como operatório os conceitos que envolvem as estruturas aditivas. Na segunda solução o aluno erra, pois diferente da primeira situação a relação de proporcionalidade que não se inicia na unidade, fato que parece dificultar a situação proposta, possivelmente esse obstáculo pode ocorrer de experiências anteriores na qual, em geral, as situações propostas têm como base a unidade. Nos esquemas apresentados pelo aluno para essas situações notamos que na sondagem final ele utiliza o algoritmo da multiplicação para responder a essa situação, o que pode ser considerado um avanço mesmo se a relação não é pertinente. Aqui novamente seria interessante entrevistar o aluno para saber como ele escolheu os números para efetuar a multiplicação. 141 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 1 COMPARAÇÃO MULTIPLICATIVA PROBLEMA 4 Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo triplo desta quantia. Quantos reais têm tem a metade dessa quantia, quantos João Pedro? reais têm Marcelo? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno encontra a resposta correta, podemos supor que ele tem familiaridade com o termo triplo, que significa 3 vezes, não encontrando dificuldades nesse tipo de proposição. Na sondagem final observamos que o termo metade também deve ser operatório para esse aluno. Mais uma vez ele recorre a um algoritmo sem que possamos identificar como ele chega no 18 que corresponde a metade de 36. O aluno sabe que metade corresponde a duas partes iguais, mas não podemos identificar se ele é capaz de utilizar a idéia da distribuição. Isso reforça a necessidade de entrevistar o aluno para melhor compreender o esquema por ele utilizado. Observando as quatro situações podemos supor que este aluno, tenta resolver as diferentes situações por meio de um algoritmo. Ele parece recorrer a outros esquemas apenas quando não encontra um algoritmo satisfatório. Essa forte tendência em trabalhar com o algoritmo pode estar associada a sua vivência e parece dificultar a utilização de novos esquemas. 142 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 2 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA OU MÚLTIPLA PROBLEMA 1 Marina possui em seu guarda-roupa 3 Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e saias e 5 blusas. De quantas maneiras 8 tipos de lanches. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? pode-se combinar suco e lanche sem que haja repetição? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno erra a solução e sua representação está apoiada nas idéias que envolvem as estruturas aditivas, trata-se do esquema de bijeção onde o aluno faz a correspondência termo a termo. Mesmo utilizando um esquema que não funciona, é interessante observar que ele procura uma forma diferente para resolver a questão não focando apenas o algoritmo que aparece na solução proposta para a situação da sondagem final. Isso mostra um avanço, pois ao utilizar o algoritmo da multiplicação ele é capaz de abandonar as idéias das estruturas aditivas e associar a situação a uma multiplicação. Observando atentamente os dois esquemas notamos o avanço em relação à “notação primitiva” do 1º esquema onde a representação não permite avançar no desenvolvimento da questão. Mesmo utilizando apenas o algoritmo da multiplicação podemos considerar que houve um grande avanço, pois o aluno é capaz de se referir a estrutura multiplicativa correspondente à situação proposta. 143 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 2 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA - PROBLEMA 2 Preciso colocar em um auditório 84 Em uma caixa cabem 56 docinhos. cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em Sabendo que nela pode-se colocar 8 quantas docinhos em cada fileira, quantas fileiras colunas poderei organizar essas cadeiras? são necessárias para completar a caixa? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno utilizou o esquema da correspondência em coordenação com a contagem, um teorema válido. Observamos que ele faz a representação por meio de um desenho para responder a questão de forma a demonstrar compreensão sobre essa idéia, se contarmos os “pauzinhos” que distribui representando as cadeiras vemos que a resposta está correta, para cada fileira tem 12 “pauzinhos”. Em sua representação os desenhos das cadeiras não estão inclusos na contagem, no protocolo do aluno não aparece, mas, em sua resposta o aluno concluiu, poderei organizar em 12 colunas. Na sondagem final o aluno apresenta a solução demonstrando avanços na compreensão desse esquema, buscando o resultado por meio do esquema do algoritmo da divisão, usando um novo esquema que corresponde a um avanço, pois lhe permite resolver a situação de forma mais econômica. 144 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 2 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE SIMPLES - PROBLEMA 3 Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá pagar pelos 4 pacotes? Sondagem inicial Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto Júlia pagará por 16 maçãs? Sondagem final Comentários Na sondagem inicial a resposta está correta, o esquema utilizado está apoiado na adição de parcelas iguais, sendo um esquema válido. Na sondagem final ele utiliza o algoritmo da multiplicação com autonomia, fazendo as relações corretas. É importante destacar que nas situações anteriores ele ainda não tinha como operatório o algoritmo da multiplicação enquanto conhecimento prévio disponível, mas após a intervenção observamos que o mesmo recorre ao algoritmo da multiplicação para resolver a situação o que parece mostrar que, após compreender a estrutura multiplicativa por meio de outro esquema, ele é capaz de utilizar o algoritmo como esquema mais econômico para resolver a situação proposta. Logo, podemos acreditar que o aluno escolhe as suas representações e os algoritmos a serem utilizados. Como classificou Dolk & Fosnot, 2001; Treffers & Buys, 2001 ele passou do cálculo por contagem (adição de parcelas), para cálculo estruturado (idéia de quantas vezes) ou ainda podemos dizer que chegou a utilizar o cálculo formal (produtos entre dois números) recorrendo a produtos conhecidos e cálculo mental. 145 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 2 COMPARAÇÃO MULTIPLICATIVA - PROBLEMA 4 Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o triplo desta quantia. Quantos reais têm João Pedro? Sondagem inicial Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a metade dessa quantia, quantos reais têm Marcelo? Sondagem final Comentários Na sondagem inicial, o aluno responde corretamente a situação utilizando a adição como esquema para a solução da situação proposta. Observamos que a adição para solução de problemas é operatória para esse aluno. Na sondagem final o aluno respondeu corretamente e usou um cálculo relacional, utilizando o esquema associado à decomposição polinomial dos números para facilitar a distribuição do valor fixo, ou seja, escreve o número 36 como 30 + 6 e distribuindo cada um em duas partes iguais obtém 15 e 3, somando esses números encontra como resultado o 18, ou seja, o aluno usa a idéia de distribuição equitativa. Podemos dizer que a cada problema houve avanços nos esquemas utilizados para resolver situações que envolvem as estruturas multiplicativas. Nas quatro situações observamos que o tratamento que o aluno apresenta para as situações, demonstra que ele ora utiliza do cálculo relacional, ora do cálculo numérico. Essa forma de tratar as situações parece facilitar a identificação de diferentes formas para encontrar as soluções corretas para as situações propostas e que envolvem as estruturas multiplicativas. 146 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 3 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA OU MÚLTIPLA PROBLEMA 1 Marina possui em seu guarda-roupa 3 Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 tipos saias e 5 blusas. De quantas maneiras de lanches. De quantas maneiras pode-se diferentes ela pode se vestir? combinar suco e lanche sem que haja repetição? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno parece inseguro, fez algumas marcas e apagou e por fim escreveu três maneiras sem nenhum esquema que justifique a resposta errada. Podemos supor que ele usou a correspondência um a um e não pode observar as combinações em suas outras 12 possibilidades. O aluno erra a solução e demonstra não compreender o raciocínio combinatório uma competência necessária para resolver essa situação. Na sondagem final ele iniciou a relação de correspondência, porém, ainda utiliza a bijeção, mas parece insatisfeito com esse recurso e passa para o algoritmo para encontrar a solução. Isso pode ser considerado que após as intervenções o aluno compreende que esta situação pode ser resolvida usando a multiplicação, como recurso de simplificação para encontrar a solução, e como vimos nesse caso acerta a resposta mesmo não sendo capaz de associar o algoritmo ao esquema da correspondência um a muitos. 147 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 3 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA - PROBLEMA 2 Preciso colocar em um auditório 84 Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo que cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em nela pode-se colocar 8 docinhos em cada fileira, quantas quantas fileiras são necessárias para completar a colunas poderei organizar essas cadeiras? caixa? Sondagem inicial Sondagem final Comentários No primeiro protocolo o aluno escolhe o algoritmo da divisão para resolver o problema, isso pode significar que ele compreende que para dispor as cadeiras ele precisa distribuí-las em quantidades iguais. Porém, mesmo sem saber a técnica operatória da divisão, escolhe o algoritmo como esquema para solucionar a situação proposta, o aluno erra a resposta e não procura outros esquemas, note que ele esta contando de 7 em 7, que é um esquema válido para essa situação, mas ele parece se perder na contagem. No segundo protocolo o aluno procurar o número que, multiplicado por 8 dá 56. No seu protocolo observamos que ele faz alguns cálculos e apaga quando encontra o resultado esperado. Observando os dois protocolos é possível identificar que o aluno associa as situações propostas à estrutura multiplicativa, mesmo quando ele erra o resultado. 148 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 3 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE SIMPLES - PROBLEMA 3 Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá Júlia pagará por 16 maçãs? pagar pelos 4 pacotes? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na primeira situação proposta o aluno responde corretamente por meio do algoritmo da multiplicação e lhe parece ser uma situação compreensível. Observamos aqui que se trata de uma situação onde é dado o preço por unidade, o que parece facilitar a interpretação da questão proposta. Na sondagem final o aluno erra a resposta, pois os valores numéricos (sistema monetário) do problema e a estrutura do problema parecem dificultar a compreensão dessa categoria, que, segundo Vegnaud, são fatores da complexidade cognitiva que devem ser considerados, pois podem dificultar a solução do problema, já que o aluno não resolve situações problemas com números decimais com a mesma operacionalidade que o faz com os números inteiros. Além disso, é preciso considerar que não é dado o preço unitário, o que exige a aplicação de mais de um esquema relacionado às estruturas multiplicativas. Isso não ocorre na situação da sondagem inicial. 149 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 3 COMPARAÇÃO MULTIPLICATIVA - PROBLEMA 4 Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a triplo desta quantia. Quantos reais têm metade dessa quantia, quantos reais têm João Pedro? Marcelo? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na primeira sondagem o aluno usou do esquema de adição de parcelas iguais, esquema válido e com a solução correta para a situação proposta. Ele parece ter familiaridade com o termo triplo e o sistema monetário, quando representado em linguagem natural. Na segunda sondagem o aluno apresenta dificuldade em lidar com o sistema monetário, tentando decompor não considerando o valor posicional do número, ao dividir o 30,00 em duas partes iguais e encontra o 1,50, porque considera apenas o 3, e em seguida divide o 6,00 em duas partes iguais e encontra o 3,00. Como vimos, o termo metade também é familiar para esse aluno, porém a dificuldade aparece ao dividir na metade números maior do que a unidade. Nesse caso podemos supor que esse aluno tem problemas com o valor posicional quando se considera o sistema de numeração decimal. Mas devemos destacar que em sua solução aparecem teoremas em ação verdadeiros para as estruturas multiplicativas, pois ele decompõe o número mesmo que errado, divide cada um em duas partes iguais e subtrai as partes para encontrar a metade do todo. Essas são competências do aluno que devem ser considerada e precisam ser melhor trabalhadas. 150 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 4 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA OU MÚLTIPLA PROBLEMA 1 Marina possui em seu guarda-roupa 3 Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 tipos saias de lanches. De quantas maneiras pode-se e 5 blusas. De quantas maneiras diferentes ela pode se combinar suco e lanche sem que haja repetição? vestir? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial observamos que o aluno seleciona um algoritmo qualquer, preferencialmente os que já se tornaram operatório, neste caso de estrutura aditiva, para encontrar a solução do problema, não compreendendo o esquema de correspondência um a muito e não conseguindo solucionar a situação proposta. Após as intervenções, na sondagem final, o aluno apresenta a solução de forma correta utilizando cálculo relacional com teorema em ação verdadeiro, fazendo as seis combinações possíveis de suco para cada 1 dos 8 lanches e agrupou de 12 em 12 para facilitar a contagem, adicionando as 4 parcelas iguais e escrevendo que essa adição poderia ser escrita na forma 12 x 4, conceito em ação pertinente que lhe permite encontrar as 48 combinações possíveis. 151 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 4 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA - PROBLEMA 2 Preciso colocar em um auditório 84 Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em que nela pode-se colocar 8 docinhos quantas em cada fileira, quantas fileiras são necessárias colunas poderei organizar essas cadeiras? para completar a caixa? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Para a sondagem inicial o aluno fez um esquema de representação por meio de um desenho que parece orientar as idéias para desenvolver a situação proposta, com isso recorreu a decomposição do número para facilitar a distribuição, utilizando do cálculo mental para encontrar as 12 colunas (cadeiras) que finalmente serviram para multiplicar pelas 7 fileiras. As justificativas apresentadas pelo aluno permitem compreender qual o raciocínio utilizado no desenvolvimento da situação. Já na primeira sondagem observamos que o aluno dispunha dos esquemas associados às estruturas multiplicativas sendo capaz de utilizar diferentes esquemas e justificar suas escolhas. Na segunda sondagem ele parece se sentir seguro para apresentar apenas o algoritmo da divisão que permite resolver a situação de forma mais econômica. 152 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 4 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE SIMPLES PROBLEMA 3 Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá quanto Júlia pagará por 16 maçãs? pagar pelos 4 pacotes? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno apresenta um esquema válido com conceito em ação pertinente, utilizando um cálculo numérico, algoritmo da multiplicação, que parece ter escolhido com autonomia. Mais uma vez observamos que esse aluno é capaz de justificar suas escolhas. Na sondagem final após as intervenções o aluno pareceu compreender o esquema de proporcionalidade simples, usando o cálculo mental para encontrar o coeficiente de proporcionalidade entre a maçã e o preço dela, e em seguida resolver por meio do algoritmo da multiplicação, ou seja, o aluno torna-se autônomo e podemos supor que ele se encontra no nível de cálculo estruturado, escolhendo adequadamente o algoritmo que permite resolver a situação da forma mais econômica possível, podendo ter efetuado os outros esquemas por meio de cálculos mentais. 153 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 4 COMPARAÇÃO MULTIPLICATIVA - PROBLEMA 4 Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a triplo desta quantia. Quantos reais têm metade dessa quantia, quantos reais têm João Pedro? Marcelo? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na primeira sondagem o aluno apresentou familiaridade com o termo triplo e utilizou de adição de parcelas iguais para encontrar a solução, o que é um conceito em ação pertinente, mesmo se pudermos supor que esse aluno tenha condições de apresentar uma solução por meio do algoritmo da multiplicação em função dos resultados apresentados nas questões anteriores para a primeira sondagem. Na sondagem final o aluno demonstra compreender um procedimento que não era esperado, pois ele primeiro faz o cálculo mental e encontra a metade de 36 e depois verifica por meio da divisão da parte fixa com uma das variáveis para encontrar o 2 que representa o quociente para encontrar a metade. 154 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 5 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA OU MÚLTIPLA PROBLEMA 1 Marina possui em seu guarda-roupa Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 tipos 3 saias e 5 blusas. De quantas de lanches. De quantas maneiras pode-se maneiras diferentes ela pode se combinar suco e lanche sem que haja repetição? vestir? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno faz a combinação de uma saia para cada 5 camisetas, e depois ele soma para encontrar as 15 possibilidades. Trata-se de um esquema válido com resposta correta. Na segunda sondagem observamos que ele utiliza a correspondência em coordenação com a contagem simultaneamente, organizando os dados por meio de uma tabela. Por meio do cálculo mental ou cálculo numérico conforme Vergnaud, que corresponde a pensar o número e calcular por meio do algoritmo ou da decomposição. Ele demonstra compreender o problema e usa uma tabela com o suporte para encontrar a solução. Podemos considerar que esse aluno dispõe das idéias associadas às estruturas multiplicativas. 155 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 5 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA - PROBLEMA 2 Preciso colocar em um auditório 84 Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo que cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em nela pode-se colocar 8 docinhos em cada fileira, quantas colunas poderei organizar quantas fileiras são necessárias para completar a essas cadeiras? caixa? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na primeira sondagem ele distribui de 7 em 7 e agrupa de 5 em e 5, erra o resultado porque provavelmente se perdeu na contagem. Seu esquema é valido e mostra que mesmo utilizando a adição ele apresenta indícios de utilização das idéias associadas às estruturas multiplicativas. Na sondagem final ele faz a representação por meio de desenhos e agrupamento de 8 em 8, encontra a resposta correta contando a quantidade de grupos formados, o que permite mais uma vez concluir que o aluno utiliza as idéias associadas às estruturas multiplicativas. Observando o desenho, notamos que ele distribui corretamente pensando em docinhos na caixinha, mas refere-se a fileiras, o que pode ser uma influência da experiência com o software, onde se distribuíam cadeiras em fileiras. 156 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 5 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE SIMPLES PROBLEMA 3 Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto Cada pacote custa 9 reais. Quanto Júlia pagará por 16 maçãs? irá pagar pelos 4 pacotes? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno faz um cálculo relacional por meio de desenhos, utilizando o esquema correspondência em coordenação com a contagem, usa ainda a idéia de adicionar. Neste caso resolveu a situação apoiado no que tinha de operatório, ou seja, a estrutura aditiva com adições sucessivas de parcelas iguais considerada como recurso inicial para as situações que envolvem as estruturas multiplicativas. Na sondagem final ele utiliza adições para solucionar a situação, porém mostra um avanço em relação às estruturas multiplicativas quando usa o cálculo mental para a proporcionalidade de 4 para 2,50 e para 16 quanto?, demonstrando assim, compreender a questão proposta na situação e percorrendo um caminho válido usando o algoritmo e fazendo relações significativas para a solução. 157 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 5 COMPARAÇÃO MULTIPLICATIVA PROBLEMA 4 Felipe tem 35 reais e João Pedro Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a metade tem o triplo desta quantia. Quantos dessa quantia, quantos reais têm Marcelo? reais têm João Pedro? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno utilizou a adição de parcelas iguais, demonstrando compreender o que significa o termo triplo. Na sondagem final o aluno demonstrou compreender a questão e utiliza o cálculo relacional para encontrar a solução, usa o esquema de distribuição equitativa por meio de um desenho fazendo dois agrupamentos de 18. Trata-se de um esquema em ação válido para as estruturas multiplicativas. 158 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 6 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA OU MÚLTIPLA PROBLEMA 1 Marina possui em seu guarda-roupa Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 tipos 3 saias e 5 blusas. De quantas de lanches. De quantas maneiras pode-se maneiras diferentes ela pode se combinar suco e lanche sem que haja repetição? vestir? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial é perceptível a falta de compreensão da situação proposta, ou seja, o aluno utiliza apenas o esquema de bijeção, conceito em ação não pertinente para a situação proposta. Na sondagem final o aluno faz um diagrama e encontra as possíveis combinações e ainda verifica a solução por meio do algoritmo da multiplicação, conceito em ação pertinente, apoiado pelo cálculo relacional representado pelo diagrama. Finalmente ele controla o resultado encontrado por meio do cálculo numérico usando o algoritmo da multiplicação. 159 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 6 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA PROBLEMA 2 Preciso colocar em um auditório 84 Em uma caixa cabem 56 docinhos. Sabendo cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em que nela pode-se colocar 8 docinhos em cada quantas fileira, quantas fileiras são necessárias para colunas poderei organizar essas cadeiras? completar a caixa? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na primeira sondagem ele faz o cálculo relacional por meio do desenho dispondo as cadeiras de 7 em 7 e encontra as 12 colunas, mas parece não aceitar o resultado encontrado e busca outro caminho por meio do algoritmo da divisão, técnica que ele não tem disponível e que lhe conduz ao erro. Mas, é importante observar que o aluno tenta controlar o resultado encontrado por meio de outro esquema que também é valido para as estruturas multiplicativas. Na sondagem final, após a intervenção, ele escolhe o algoritmo da divisão que permite resolver o problema de forma mais econômica, o que mostra autonomia e confiança que não aparecia na primeira sondagem. 160 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas Multiplicativas SONDAGENS – Aluno 6 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE SIMPLES PROBLEMA 3 Marta vai comprar 4 pacotes de Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto bala. Cada pacote custa 9 reais. Júlia pagará por 16 maçãs? Quanto irá pagar pelos 4 pacotes? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno faz a representação por meio de um desenho, utilizando um teorema em ação verdadeiro. O aluno desenha os 4 pacotes de bala e conta de 9 em 9, resolvendo a situação de forma correta mas utilizando a estrutura aditiva. Na sondagem final, ele tenta fazer algumas relações por estimativa baseado no preço unitário aproximado, conceito em ação não pertinente que não lhe permite encontrar uma solução para a situação proposta. 161 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 6 COMPARAÇÃO MULTIPLICATIVA PROBLEMA 4 Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a triplo desta quantia. Quantos reais têm metade dessa quantia, quantos reais têm João Pedro? Marcelo? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial, o algoritmo apresentado demonstra que o aluno não compreendeu a situação proposta, porém parece entender que o termo triplo indica 3 e talvez compreende 3 vezes quando no final coloca na resposta que João tem 105 reais, o que pode corresponder a um cálculo mental correto. Na sondagem final demonstrou familiaridade com o termo metade, conceito em ação pertinente, com o cálculo numérico por meio da divisão e parece não ter dificuldades com a técnica operatória da divisão por 2, porém possivelmente ainda não tem disponível mentalmente esse cálculo. Esses são resultados que se espera que o aluno tenha mentalmente disponível para auxiliar em outras situações com níveis de dificuldade um pouco mais avançados. 162 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 7 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA OU MÚLTIPLA - PROBLEMA 1 Marina possui em seu guarda-roupa 3 Em uma lanchonete há 6 tipos de suco e 8 saias e 5 blusas. De quantas maneiras tipos de lanches. De quantas maneiras pode- diferentes ela pode se vestir? se combinar suco e lanche sem que haja repetição? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno adicionou os números expressos no problema. Esse cálculo numérico não soluciona a situação, uma vez que essa categoria refere-se a uma situação de estrutura multiplicativa de proporcionalidade dupla ou múltipla. Mesmo que ele utilizasse a adição, seria necessário inferir sobre a relação entre as variáveis, ou seja, vestir as 3 saias 5 vezes, ou vestir as 5 blusas 3 vezes, formando assim todos os pares entre os conjuntos de 3 saias com o conjunto de 5 blusas. Na sondagem final, a solução por meio de um diagrama buscando fazer todas as combinações possíveis e posteriormente usando o algoritmo da multiplicação para a verificação das possibilidades leva-nos a considerar a competência para esse esquema em relação às estruturas multiplicativas. Podemos considerar que a possibilidade de utilizar pelo menos dois esquemas auxilia o aluno a controlar os resultados encontrados como mostra a solução proposta na segunda sondagem. 163 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 7 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE DUPLA - PROBLEMA 2 Preciso colocar em um auditório 84 Em uma caixa cabem 56 docinhos. cadeiras, dispostas em 7 fileiras. Em Sabendo que nela pode-se colocar 8 quantas colunas poderei organizar essas docinhos em cada fileira, quantas fileiras cadeiras? são necessárias para completar a caixa? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial, observamos que o aluno parece compreender que precisa distribuir as cadeiras, porém sem buscar representações mais significativas, escolhe o algoritmo da divisão, para o qual o aluno não dispõe da técnica operatória. Para isso ele usa um modelo de representação da divisão que não é usual e que está associado às representações dos algoritmos da adição e subtração. Apesar de errada, a resposta dada parece ter sido efetuada por meio de cálculo mental. Após as intervenções, na sondagem final, o aluno recorre a contagem, faz agrupamentos de 8 em 8 até chegar no 56 e conta quantas filas se formaram. Para confirmar essa disposição, multiplica as variáveis para voltar ao valor fixo, acertando a solução. Nesse caso, também observamos que dispor de mais de um esquema auxilia o aluno a encontrar a solução correta e permite que ele controle seu resultado. 164 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas Multiplicativas SONDAGENS – Aluno 7 CATEGORIA PROPORCIONALIDADE SIMPLES -PROBLEMA 3 Marta vai comprar 4 pacotes de bala. Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, Cada pacote custa 9 reais. Quanto irá quanto Júlia pagará por 16 maçãs? pagar pelos 4 pacotes? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Esse aluno não demonstrou dificuldades para solucionar a situação proposta na sondagem inicial, parece que os números naturais explícitos na situação facilitaram na solução. O aluno contou agrupando de 9 em 9 de forma acumulativa e encontrou o valor de 36 reais para os 4 pacotes, ainda verificou a solução recorrendo à multiplicação da quantidade de pacote que vai comprar com o preço de cada um, ou seja, trata-se de um conceito em ação pertinente e que demonstra compreensão do esquema. Na sondagem final, o aluno considerou os 2,50 como sendo o valor unitário de cada maçã, o que fez com que errasse a situação proposta. Esse erro é recorrente e está associado à necessidade de utilizar mais de um esquema para a solução da situação, o que parece ser possível somente quando o aluno se encontra no nível formal e dispõe do algoritmo da divisão. 165 Quadro de análise comparativo em relação aos avanços dos esquemas para as Estruturas multiplicativas SONDAGENS – Aluno 7 COMPARAÇÃO MULTIPLICATIVA - PROBLEMA 4 Felipe tem 35 reais e João Pedro tem o Lia tem 36 reais e seu primo Marcelo têm a triplo desta quantia. Quantos reais têm metade dessa quantia, quantos reais têm João Pedro? Marcelo? Sondagem inicial Sondagem final Comentários Na sondagem inicial o aluno encontra a solução correta e, como outros alunos, ele tem familiaridade com o termo triplo e a técnica operatória da multiplicação. Na sondagem final percebemos que uma situação problema que envolve a distribuição ainda não é uma situação trivial para o aluno, ele sempre recorre a algum algoritmo. Nesse caso, ele encontra um valor aproximado por meio do cálculo mental e fazendo a adição encontra 36, o que não está correto em função do valor encontrado para a metade. Podemos supor aqui que o erro cometido está associado a dificuldades com cálculos envolvendo decimais. 166 Ainda para as situações propostas na sondagem inicial e final, apresentamos uma análise comparativa individual dos 30 alunos que participaram da pesquisa observando erros e acertos, tipos de respostas mais frequentes destacando as erradas, e para as quais utilizamos a codificação abaixo: (ES) – Resposta errada (E), sem o estabelecer relação com o que é pedido na situação(S) – (incompreensão do problema) – o aluno apresenta uma resposta incorreta e na sua resolução não há indícios de relação com a questão colocada. Resolve por meio da adição ou subtração, utilizando os valores apresentados no enunciado. Ou desenha deixando a resolução incompleta. Exemplo desse tipo de resposta. (EC) – Resposta errada (E), com o estabelecimento de relação com o que é pedido na situação (C) (apresenta certa compreensão do problema) – o aluno erra a resposta, entretanto, seu esquema de resolução é válido para o que é solicitado, como mostra o protocolo abaixo: 167 (CC) – Resposta correta (C), com o estabelecendo relação com o que é pedido na situação (C) – O aluno consegue compreender a questão proposta na situação utiliza representações ou algoritmos corretos como é possível observar no protocolo abaixo: A seguir classificamos os tipos de respostas dos 30 alunos por meio dos códigos definidos acima. Nesse quadro podemos visualizar de forma global os resultados da classe e os avanços das crianças. Podemos ainda, observar quais as situações apresentaram maiores dificuldades para os alunos. Nessa tabela os alunos serão nomeados pela letra A seguido do número da seqüência em que aparece na tabela. 168 problema 2 problema 3 Problema 4 Aluno Legenda: SI – sondagem inicial; S.F. – sondagem final problema 1 S.I S.F S.I S.F S.I S.F S.I S.F A1 ES CC CC CC CC CC CC CC A2 CC CC CC CC CC CC CC CC A3 ES CC ES CC CC ES CC EC A4 ES CC ES ES EE ES EE ES A5 ES CC ES CC CC ES CC CC A6 ES EC ES ES EE ES EE ES A7 ES ES ES CC CC EC CC CC A8 ES CC ES CC CC ES EE ES A9 ES EC ES ES CC CC CC CC A10 ES EC ES CC CC CC CC CC A11 ES ES ES ES EE ES EE ES A12 ES ES ES ES EE ES EE ES A13 ES ES ES ES CC CC EE ES A14 ES ES ES ES EE ES EE ES A15 ES ES ES ES EE ES EE ES A16 ES CC ES CC EC EC CC CC A17 ES ES ES ES EE ES EE EC A18 ES CC ES EC EE EC CC CC A19 ES EC ES ES EE ES EE ES A20 ES EC ES ES EE EC EE ES A21 ES CC ES CC EC CC CC CC A22 ES ES ES ES EE EC EE ES A23 ES ES ES ES EE ES EE ES A24 ES ES ES ES EE ES EE ES A25 ES ES ES ES EE CC EE ES A26 ES ES ES ES EE ES EE ES A27 ES CC ES ES EE ES EE ES A28 ES ES ES ES EE ES EE ES A29 ES CC ES CC EE ES CC CC A30 ES CC ES CC CC ES CC CC Tabela 19 – Análise comparativa individual das relações das estruturas multiplicativas. 169 Nas duas sondagens as situações envolviam as idéias das quatro situações abordadas em cada sondagem que representam o mesmo esquema respectivamente. Elas diferiam em contexto, valores e noções necessárias para o desenvolvimento do esquema inicialmente esperado, por exemplo, na situação 3 da sondagem inicial é dado o preço unitário de um produto e pede-se o preço de uma quantidade x do mesmo produto e na questão 3 da sondagem final é dado o preço de y produtos e pede-se o preço de z produtos, o que dificulta a situação pois, é necessário determinar o preço unitário ou a razão entre as quantidades y e z para finalmente determinar o que é pedido, o que supõe a utilização de pelo menos dois esquemas, enquanto que na sondagem inicial, um único esquema permite solucionar a situação. Nas outras situações houve apenas mudança de contexto e valores. As situações acima foram escolhidas para atender ao nosso objetivo que é observar se o ensino baseado no Guia de Planejamento do Programa Ler e Escrever é um recurso suficiente par auxiliar o professor a desenvolver o processo de ensino e aprendizagem da noção de estrutura multiplicativa. Além disso, a identificação e comparação das dificuldades e erros encontrados pelos alunos nas duas sondagens permitem verificar se houve evolução após a intervenção, observando que essa foi realizada utilizando como recurso o software ClicMat que não estava previsto no Guia. Relativamente à essas situações, condições e intervenções realizadas observamos que os resultados permitem concluir que é preciso estar atento para as dificuldades de alguns alunos para utilizar os esquemas das estruturas multiplicativas, pois eles transferem os esquemas disponíveis em relação à estrutura aditiva para as multiplicativas. Observamos ainda que alguns alunos parecem se sentirem mais seguros quando trabalham inicialmente com as representações gráficas associadas às estruturas multiplicativas antes de passarem ao algoritmo tanto da multiplicação como da divisão e utilizam os esquemas de estruturas multiplicativas por meio do algoritmo. 170 Quando se consideram as situações de combinação numérica, os alunos evoluíram, acima de tudo, no tipo de argumentação utilizada, por exemplo: Esta mudança pode estar associada ao trabalho realizado na fase de intervenção e na continuidade do trabalho da professora ao usar os resultados dessa experiência e o Guia do Programa Ler e Escrever. Observamos que a própria professora expõe que alguns alunos se tornaram capazes de justificar e argumentar, de forma correta, coerente e aceitável após esse trabalho. Podemos afirmar que os alunos com ritmos diferentes de aprendizagem melhoram sua competência para situações que envolvem a estrutura multiplicativa. Isso significa dizer que o professor, estando atento a estas diferenças e sabendo como lidar com a situação de aprendizagem, pode ajudar os alunos a progredirem para níveis mais avançados. Finalmente, podemos dizer que os alunos evoluíram, mas ainda é preciso percorrer um longo percurso para que os mesmos dominem às estruturas multiplicativas. Isso significa dizer que é necessário considerar um caminho longo, visto que no panorama matemático das estruturas multiplicativas o seu campo conceitual compreende a simples multiplicação ao complexo produto definido por meio do estudo das álgebras. Considerando que para o ensino fundamental ciclo I, o aluno deve compreender apenas uma parte desse campo compreendendo a relação da multiplicação com a divisão, reconhecendo essas operações como outra; 171 percebendo e utilizando as regularidades, as relações e as propriedades dessas operações na resolução de problemas e situações sobre as estruturas multiplicativas. A seguir faremos as análises dos tipos de cálculos que os alunos apresentaram durante a pesquisa, utilizamos os tipos de cálculo sugerido por Vergnaud e que foram discutidos anteriormente. 6.2. ANÁLISE DOS TIPOS DE CÁLCULOS APRESENTADO PELOS ALUNOS Como já apresentado no referencial teórico Vergnaud (1998, p. 173) identifica quatro definições de um esquema: Metas (objetivos) e antecipações, pois um esquema está orientado sempre à resolução de uma determinada classe de situações. Regras de ação, busca por informações e controle, que são os elementos que dirigem a sequência de ações do sujeito; Invariantes operatórios (teoremas-em-ação e conceitos-em-ação) que dirigem o reconhecimento, por parte do indivíduo, dos elementos pertinentes à situação e, portanto, guiam a construção dos modelos mentais; Possibilidades de inferência (ou raciocínios), que permitem determinar as regras e antecipações a partir das informações e dos invariantes operatórios dos quais dispõe o sujeito. Dessas definições, os invariantes operatórios são teoremas-em-ação e conceitos-em-ação que constituem a base conceitual implícita que permitem obter a informação associada à situação e, a partir dela alcançar o objetivo que é inferir utilizando as regras de ações pertinentes (VERGNAUD, 1996b, p. 201). Observamos ainda que Vergnaud ressalta a existência de uma relação dialética entre esses dois conceitos o que não permite separá-los, mas são ferramentas importantes para a análise de uma situação. Lembrando que o esquema é um referente do conhecimento do sujeito e a situação é a circunstância e o contexto em que o objeto a ele se apresenta. Além disso, na formação de conceitos, o esquema é a unidade de análise que adotamos para observar a organização das ações relacionadas com uma situação, um instrumento, um problema ou uma interação social. Portanto, são nos esquemas 172 que pesquisamos o conhecimento em ação do sujeito (os conceito em ação e os teorema em ação), uma vez que são por eles que podemos encontrar os elementos que fazem com que a ação do sujeito seja operatória. Para Vergnaud, a aprendizagem se dá por meio da interação esquema-situação. Essa análise permite comparar a qualidade dos diferentes esquemas que favorecem o invariante específico de um determinado conceito. Para melhor compreensão das análises é importante a codificação das ações como primeira etapa desse processo. Com a codificação com base nos dados coletados, realizamos as análises subsequentes de desenvolvimento dos esquemas em ação baseados no cálculo relacional (teorema em ação e conceito em ação), ao cognitivo do aluno (tipos de representação) e cálculo numérico (cálculo mental e os algoritmos), com vista ao avanço nas aprendizagens, como mostramos por meio das análises apresentadas acima. A análise do desenvolvimento dos tipos de cálculo nos ajuda a acompanhar a aprendizagem, para isso analisamos e fizemos a codificação por meio de várias tentativas observando a resolução de cada problema com um conjunto de esquemas, podemos assim sistematizar as diferentes formas de resolução para compará-las e produzir um quadro de análise sobre o desenvolvimento dos esquemas e da aprendizagem. As transformações dos esquemas são percebidas por modificações nos aspectos relativos à função dos tipos de cálculos, considerando suas propriedades, sua composição ou ainda das regras de utilização dos mesmos. A evolução da aprendizagem, por exemplo, em relação às estruturas multiplicativas, ocorre mediante a análise dos invariantes que são mobilizados em cada uma das tentativas de ação sobre o conceito e significado dado pelo aluno. Vergnaud (1991) defende que a ampliação da perspectiva conceitual de uma criança exige a competência para a realização do cálculo relacional que a capacita para a escolha da operação adequada ao que o problema propõe e para a realização do cálculo numérico correspondente. Vergnaud faz uma diferenciação entre o cálculo numérico e o cálculo relacional, como diferentes competências para a resolução de problemas e operações. Os cálculos numéricos são as resoluções na forma de algoritmos ou cálculo mental e os cálculos relacionais envolvem operações 173 de pensamento necessárias para compreender as relações envolvidas nas operações. Algumas competências consideradas importantes para os alunos das séries iniciais em relação ao princípio multiplicativo da contagem podem ser trabalhadas com a idéia de possibilidades, proporcionalidade com base em informações qualitativas e quantitativas investigando as chances como percurso para solucionar problemas que para eles ainda não são triviais. Dessa forma, para completar as análises apresentadas acima consideramos o quadro abaixo onde resumimos e descrevemos como diversas tentativas de resolução foram sistematizadas e codificadas, ou seja, os diferentes esquemas encontrados para esse grupo de alunos. Tabela 20 – Codificação dos tipos de cálculos (relacional, cognitivo e numérico) QUADRO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE EM RELAÇÃO AO “CÁLCULO RELACIONAL” TEOREMA EM AÇÃO CONCEITO EM AÇÃO T V: Teorema em ação – FP: Conceito em ação – PERTINENTE VERDADEIRO T F: Teorema em ação – FALSO FN: Conceito em ação – NÃO PERTINENTE EM RELAÇÃO AO “COGNITIVO DO ALUNO” TEOREMA EM AÇÃO CONCEITO EM AÇÃO R: representação por figura R: representação por figura B: usa a estratégia de B: usa a estratégia de correspondência correspondência termo a termo termo a termo (bijeção) - automaticidade (bijeção) - automaticidade N: não faz uso da estratégia de N: não faz uso da estratégia de correspondência termo a termo correspondência termo a termo (cardinalidade) – decisão (cardinalidade) – decisão consciente consciente EM RELAÇÃO AO “CÁLCULO NUMÉRICO” TEOREMA EM AÇÃO CONCEITO EM AÇÃO C: cálculo mental C: cálculo mental A: algoritmo da adição A: algoritmo da adição S: algoritmo da subtração S: algoritmo da subtração M: algoritmo da multiplicação M: algoritmo da multiplicação D: algoritmo da divisão D: algoritmo da divisão Em relação às soluções apresentadas pelos alunos, destacamos para a primeira situação proposta das sondagens inicial ou final, 6 tipos de esquemas em ação que diferem conforme os códigos apresentados na tabela 20: 174 Análise do 1º problema sondagem inicial ou final Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVRNBC. Protocolo Descrição da categoria - Observações TVRNBC Resposta CORRETA Representação Teorema em ação como verdadeiro e conceito em encontrar ação pertinente com combinando representação por figura, com não faz uso da estratégia estratégia de correspondência para termo a termo problemas que envolvem (cardinalidade) – decisão a noção das estruturas consciente, utiliza de multiplicativas. gráfica suporte as a para solução, cada 5 saia camisas, importante solução de cálculo mental para determinar a resposta. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNRB Protocolo Descrição da categoria - Observações TFFNRB Resposta ERRADA Hipótese comum entre as Teorema em ação falso, soluções encontradas, Conceito em ação não porém nos parece um pertinente, representação processo de início de por figura e usa a superação da estratégia de correspondência termo a correspondência termo a termo, aceita trocar de termo (bijeção)- camisa pelo menos uma automaticidade. vez. 175 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNRNS. Protocolo Descrição da Observações categoria TFFNRNS Resposta ERRADA. Hipótese na Teorema em ação correspondência termo a falso, conceito em termo usando a ação não pertinente, estratégia dentro de um representação por contexto significativo figuras, e com falsa para o aluno que para inferência por meio resolver o problema se do algoritmo de desfaz do que acredita subtração. estar a mais. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNRA Protocolo Descrição da Observações categoria - TFFNRA Reposta ERRADA Essa solução pode parecer próxima a Teorema em ação anterior. Nesses casos, falso, conceito em os alunos não usam as ação não pertinente, estratégias de com falsa inferência correspondência termo a por meio do algoritmo termo e nem de da adição. correspondência um a muitos. Aparentemente selecionam os dados do problema e utilizam uma operação conhecida. 176 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNR. Protocolo Descrição da categoria Observações – TFFNR Resposta ERRADA Essa solução parece indicar que o aluno fez uma relação Teorema em ação com o contexto (clima). Não falso, conceito em generaliza e usa o recurso de ação não pertinente, combinação de forma limitada falsa inferência sem o raciocínio probabilístico apoiada num contexto ou pela indicação das significativo e ingênuo possíveis formas de para fazer as organização dos dados, mas combinações. estrutura a resposta em língua natural. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFCAFIAS. Protocolo Descrição da categoria Observações – TFCAFIAS Resposta ERRADA Não utiliza a estratégia de correspondência termo a termo, Teorema em ação falso, seleciona os dados do problema conceito em ação não e atribui uma operação pertinente, com falsa conhecida, nesse caso uma inferência por meio do subtração. Esse algoritmo parece algoritmo de subtração. ser utilizado para justificar a correspondência termo a termo. Para as soluções apresentadas pelos alunos na segunda situação das sondagens inicial e final encontramos 11 categorias de respostas apresentadas abaixo: 177 Análise do 2º problema sondagem inicial ou final Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPCM. Protocolo – 1 Descrição da categoria – Observações TVFPCM Resposta CORRETA Nessa solução sendo os valores informados no Teorema em ação problema: a variável verdadeiro, conceito em (estado inicial) 8 e o valor ação pertinente, faz fixo 56 (total). Para a inferência utilizando o busca do 7 (estado final) o algoritmo da multiplicação aluno utiliza o cálculo e encontra a solução por mental e para verificação meio do cálculo mental. . do resultado por meio do algoritmo da multiplicação. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPD. Protocolo - 2 Descrição da categoria – Observações TVFPD Resposta CORRETA Aplicação direta do algoritmo utilizando as Teorema em ação informações apresentadas verdadeiro, conceito em explicitamente na situação ação pertinente, inferência problema. Podemos supor por meio do cálculo que esse aluno já dispõe numérico utilizando o da noção de estrutura algoritmo da divisão. multiplicativa. 178 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNNA. Protocolo – 3 Descrição da categoria – Observações TFFNNA Resposta ERRADA O aluno parece dispor do algoritmo da adição Teorema em ação falso, aplicando o mesmo conceito em ação não quando não é adequado pertinente, com falsa para a situação. Dessa inferência por meio do forma, podemos supor que algoritmo da adição. somente a estrutura aditiva é operatória para esse aluno. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNNS. Protocolo - 4 Descrição da categoria - Observações TFFNNS Resposta ERRADA. A solução apresentada utiliza como recurso um Teorema em ação falso, algoritmo conhecido, neste conceito em ação não caso a subtração. Nesse pertinente, representação caso, também podemos por meio do cálculo supor que somente a numérico, com falsa estrutura aditiva é inferência utilizando o operatória para esse aluno. algoritmo da subtração. 179 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPRB. Protocolo - 5 Descrição da Observações categoria - TVFPRB Resposta CORRETA A representação utilizada Teorema em ação pelo aluno permitiu verdadeiro, conceito solucionar a situação em ação pertinente, proposta. Após a distribuição com representação por meio de agrupamentos, o por figura, fazendo aluno recorre ao cálculo por uso da estratégia de contagem para determinar a correspondência solução. Nesse caso, termo a termo. podemos considerar que o aluno não operacionaliza o algoritmo da multiplicação. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPRB. Protocolo – 6 Descrição da categoria - Observações TVFPRB Resposta ERRADA Na representação apresentada, o aluno soluciona a situação proposta Teorema em ação por meio de contagem e distribuição verdadeiro, conceito em de 8 em 8, possivelmente se perdeu ação pertinente, com na contagem faltando 1 fileira para representação por encontrar a resposta correta. figura, fazendo uso da Podemos considerar que o aluno não estratégia de dispõe do cálculo por contagem. correspondência termo Nesse caso, também podemos a termo. considerar que esse aluno não operacionaliza o algoritmo da multiplicação. 180 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNM. Protocolo - 7 Descrição da categoria - Observações TFFNM Resposta ERRADA O aluno para resolver essa situação retira os dados Teorema em ação falso, numéricos do contexto do conceito em ação não problema e utiliza o algoritmo pertinente, inferência da multiplicação como recurso por meio do cálculo operacional para encontrar numérico utilizando o uma solução. algoritmo da Apesar de usar um algoritmo multiplicação. associado à noção de estrutura multiplicativa podemos considerar que o mesmo não é operacional para esse aluno. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVCPCMA. Protocolo - 8 Descrição da categoria – Observações TVCPCMA Resposta CORRETA Teorema em ação verdadeiro, conceito em ação pertinente, faz cálculos numéricos por meio do cálculo mental e inferência utilizando os algoritmos da adição e da multiplicação. Nessa solução observamos que para encontrar o 12 que não é uma informação explicita no contexto da situação, o aluno utiliza o cálculo mental decompondo 84 e em seguida, provavelmente ele verificar que existem 7 vezes o 10 em 80 e sobram 10 que somados com 4 resultam 14 que correspondem a 2 vezes 7 e que portanto resultam 12 vezes 7 em 84. Nesse caso, podemos considerar que o aluno dispõe tanto da estrutura aditiva como da multiplicativa. 181 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPRBM. Protocolo - 9 Descrição da categoria - Observações TVFPRBM Resposta ERRADA Nesse protocolo Teorema em ação observamos que o verdadeiro, conceito em aluno usa primeiro uma ação pertinente, representação por figura representação por figura, e encontra a resposta usa a estratégia de correta, para validar sua correspondência termo a resposta utiliza o termo e faz inferência algoritmo da divisão que por meio do cálculo ainda não é operatório. numérico utilizando o algoritmo da divisão. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPRB Protocolo – 10 Descrição da categoria Observações - TVFPRB Resposta CORRETA Nessa abordagem observamos que o aluno Teorema em ação utilizou a representação por verdadeiro, conceito desenho e em seguida fez o em ação pertinente, cálculo por contagem representação por encontrando as 12 colunas. figura, usa a estratégia Sua configuração não de correspondência corresponde a forma usual termo a termo. de dispor cadeiras em colunas, isto é, linhas na vertical e colunas na horizontal. 182 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPCPBA. Protocolo – 11 Descrição da categoria - Observações TVFPCPBA Resposta ERRADA O aluno faz a distribuição do valor Teorema em ação fixo de 7 em 7, mas verdadeiro, conceito em erra na adição. Essa ação pertinente, usa a representação parece estratégia de demonstrar que o correspondência termo a aluno dispõe da termo e faz inferência por estrutura aditiva, meio do cálculo numérico mesmo cometendo um usando o algoritmo da erro quando antecipa adição. na segunda linha. Análise do 3º problema sondagem inicial ou final Em relação às soluções apresentadas pelos alunos para esses problemas apresentamos para as diferentes estratégias que aparecem nas sondagens inicial ou final, e que correspondem a 6 tipos de esquemas em ação que diferem conforme os códigos apresentados na tabela 20: 183 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPA. Protocolo – 1 Descrição da Observações categoria - TVFPA Resposta CORRETA Nessa solução o aluno agrupa os valores, e demonstra Teorema em ação compreender que o 4 está 4 verdadeiro, conceito vezes no 16, pois calcula o em ação pertinente, preço de 8 moças e em inferência por meio seguida de 16 maças. do cálculo numérico Nesse caso, observamos que utilizando o algoritmo o aluno operacionaliza a da adição. estrutura aditiva, mas não usa recursos da estrutura multiplicativa. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPCM. Protocolo – 2 Descrição da Observações categoria - TVFPCM Resposta O aluno expressa a solução com CORRETA o recurso direto da multiplicação demonstrando ter compreendido Teorema em ação a relação 4 para 16, quando verdadeiro, conceito escolhe o 4 para multiplicar por em ação pertinente, 2,50. Dessa forma, o aluno cálculo numérico, por demonstra ter noções das idéias meio cálculo mental que envolvem as estruturas e inferência multiplicativas tendo como utilizando o algoritmo operatório o algoritmo da da multiplicação. multiplicação. 184 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPA. Protocolo – 3 Descrição da Observações categoria - TVFPA Resposta CORRETA Nesse caso, o aluno adicionou quantos pacotes Teorema em ação eram necessários para verdadeiro, conceito completar o valor total. O em ação pertinente, diferencial desse protocolo cálculo numérico, está na descrição da inferência por meio solução quando parece ter do algoritmo da dividido mentalmente duas adição. vezes por dois e controlado o resultado por meio da adição. Apesar de parecer demonstrar ter recorrido a estrutura multiplicativa para resolver a situação, o aluno recorre a estrutura aditiva para controlar o resultado, o que pode ser considerado como um domínio das duas estruturas. 185 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNRA. Protocolo – 4 Descrição da Observações categoria - TFFNRA Resposta ERRADA A solução é apresentada por meio de uma Teorema em ação representação que não é falso, conceito em levada em conta. Em ação não pertinente, seguida, o aluno recorre representação por ao algoritmo da adição, desenho, cálculo mas utiliza os valores numérico, inferência dados no problema por meio do algoritmo demonstrando não da adição. compreender o sistema de numeração decimal e não diferencia as grandezas dadas na situação. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNNA. Protocolo – 5 Descrição da categoria Observações - TFFNNA Resposta ERRADA Nesse caso, o aluno utiliza indevidamente o algoritmo Teorema em ação da adição mostrando não falso, conceito em dispor da noção de ação não pertinente, grandezas. com inferência falsa por meio do algoritmo da adição. 186 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPRBM. Protocolo – 6 Descrição da categoria - Observações TVFPRBM Resposta CORRETA Nesse protocolo Teorema em ação observamos que o verdadeiro, conceito em aluno usa primeiro o ação pertinente, algoritmo da representação por figura, multiplicação, no usa a estratégia de entanto para correspondência termo a controlar o resultado termo e faz inferência por utiliza a meio do cálculo numérico representação por utilizando o algoritmo da figura, contagem e multiplicação. agrupamentos cumulativos. Análise do 4º problema sondagem inicial ou final Em relação às soluções apresentadas pelos alunos para a quarta situação proposta nas sondagens inicial ou final encontramos 6 tipos de esquemas em ação que diferem segundo os códigos da tabela 20: 187 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPA. Protocolo – 1 Descrição da categoria Observações - TVFPA Resposta CORRETA Nesse protocolo confirmamos o que Teorema em ação afirma Vergnaud, que o verdadeiro, conceito aluno entre 8 e 10 anos em ação pertinente, compreende que o triplo cálculo numérico, significa 3 vezes. Logo inferência por meio do esse foi o cálculo algoritmo da adição. utilizado quando ele adiciona o 35 (valor inicial) três vezes. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPCM. Protocolo – 2 Descrição da categoria - Observações TVFPCM Resposta CORRETA A diferença entre esse protocolo e o anterior é Teorema em ação que além do aluno verdadeiro, conceito em compreender que o ação pertinente, cálculo triplo significa 3 vezes, numérico por meio do ele já utiliza o algoritmo cálculo mental e inferência da multiplicação para utilizando o algoritmo da resolver a situação, ou multiplicação. seja, ele operacionaliza esse algoritmo. 188 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNNS. Protocolo – 3 Descrição da Observações categoria - TFFNNS Resposta ERRADA. A solução é apresentada por meio do algoritmo da subtração, Teorema em ação que é disponível e possibilita falso, conceito em encontrar uma solução, mesmo ação não pertinente, que errada, utilizando os dados representação por da situação. cálculo numérico com Observamos que o termo triplo falsa inferência faz parte dos conhecimentos utilizando o algoritmo disponíveis para esse aluno, da subtração. mesmo se ele não é capaz de utilizar corretamente essa noção. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNNA. Protocolo – 4 Descrição da Observações categoria - TFFNNA Resposta ERRADA A solução é apresentada por meio do algoritmo da adição, que Teorema em ação é disponível e possibilita falso, conceito em encontrar uma solução, mesmo ação não pertinente, que errada, utilizando os dados com falsa inferência da situação. por meio do algoritmo Observamos que o termo triplo faz parte dos conhecimentos da adição. disponíveis para esse aluno, mesmo se ele não é capaz de utilizar corretamente essa noção como no caso acima. 189 Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TVFPCM. Protocolo – 5 Descrição da categoria - Observações TVFPCM Resposta CORRETA Nesse protocolo podemos observar que o aluno não tem Teorema em ação disponível a técnica operatória verdadeiro, conceito em para o algoritmo da ação pertinente, faz multiplicação, inicia a cálculo numérico por apresentação do produto da meio do cálculo mental esquerda para a direita. Esse e inferência utilizando o aluno apresenta dificuldades algoritmo da adição e com o sistema de numeração em seguida o algoritmo decimal e parece identificar o da multiplicação. zero a nada o que pode ter induzido o mesmo a substituir o zero pelo 1. A operação de adição disponível, mas a multiplicação ainda não é operacional. Quadro com as descrições das categorias e as observações de um protocolo do aluno, para a categoria TFFNCA. Protocolo – 6 Descrição da categoria Observações – TFFNCA Resposta ERRADA Nesse protocolo observamos que esse aluno sabe que o Teorema em ação falso, triplo significa três vezes. conceito em ação não Primeiro ele erra ao adicionar o pertinente, com falsa 35 ao 35 encontrando o 65 o inferência por meio do que conduz a um resultado final algoritmo da adição. errado. Observamos assim que o aluno não dispõe do algoritmo da adição. 190 As análises dos protocolos acima permitiram identificar os esquemas utilizados pelos alunos que participaram da pesquisa e entre esses esquemas identificamos apenas os casos (teorema em ação verdadeiro e conceito em ação pertinente e teorema em ação falso e conceito em ação não pertinente), mesmo quando o teorema em ação é verdadeiro e conceito em ação é pertinente foi possível identificar resultados errados, o que representa um diferencial em relação aos casos em que o teorema é falso e o conceito em ação não é pertinente. Na sequência apresentamos as análises das dificuldades por categorias de problemas que permitem visualizar melhor o desempenho geral do grupo pesquisado. 6.3. ANÁLISE DAS DIFICULDADES POR CATEGORIAS DE PROBLEMAS Apresentamos abaixo as tabelas e os gráficos comparativos entre as questões por tipo de situação segundo as categorias consideradas nesse trabalho para estrutura multiplicativa, ou seja, combinatória, configuração retangular, proporcionalidade e comparação, que correspondem às categorias apresentadas no Guia do Programa Ler e Escrever. As análises dessas situações foram elaboradas em relação às dificuldades para cada tipo de resolução apresentada pelos alunos participantes da pesquisa segundo os domínios dos conceitos por eles apresentados. A primeira tabela refere-se à sondagem inicial compreendendo a quantidade de participantes, a utilização de teorema válido para a situação proposta e a porcentagem de alunos que resolveram as situações. 191 Tabela 21 – Compreensão dos conceitos de estruturas multiplicativas sondagem inicial Compreensão dos conceitos de Estruturas Multiplicativas Quantidade de Alunos Categoria "Programa Ler e Escrever" 30 Esquema válido Esquema não válido Porcentagem Esquema válido Porcentagem Esquema não valido Combinatória Configuração Retangular 1 29 3,3 96,7 2 28 6,7 93,3 Proporcionalidade 11 19 36,7 63,3 Comparação 12 18 40,0 60,0 A seguir apresentamos o gráfico baseado na tabela acima que se refere a sondagem inicial e que representa a compreensão dos conceitos de Estruturas Multiplicativas, segundo a utilização de teoremas válidos e as categorias do Guia do Programa Ler e Escrever. Figura 16 – Compreensão dos conceitos de estruturas multiplicativas sondagem inicial O gráfico facilita a visualização das categorias que correspondem a uma melhor performance para o grupo de alunos que participaram da pesquisa. 192 Abaixo apresentamos a segunda tabela que se refere à sondagem final, observando também a utilização de teorema válido para a situação proposta e a porcentagem de alunos que resolveram as situações. Tabela 22 – Compreensão dos conceitos de estruturas multiplicativas sondagem final Compreensão dos conceitos de Estruturas Multiplicativas Total de Alunos participantes Categoria "Programa Ler e Escrever" 30 Esquema válido Esquema não válido Porcentagem de esquemas válidos Porcentagem esquemas de válidos 43,3 Combinatória Configuração Retangular 17 13 56,7 12 18 40,0 Proporcionalidade 8 22 26,7 73,3 Comparação 15 15 50,0 50,0 60,0 Como observamos acima, a tabela apresenta os resultados das resoluções das situações da quarta fase em relação a cada categoria de problemas de estrutura multiplicativa. Essa comparação está destacada abaixo por meio do gráfico de barra que permite visualizar mais rapidamente a evolução dos esquemas em ação das crianças investigadas em relação às estruturas multiplicativas. Figura 17 – Compreensão dos conceitos de estruturas multiplicativas sondagem final 193 Comparando tabelas e gráficos podemos notar que o recurso da sondagem inicial e a sondagem final nos permitiram observar que houve avanço na compreensão das estruturas multiplicativas, em particular, no desenvolvimento dos esquemas associados às categorias combinatórias, configuração retangular e comparação. Esse resultado está associado ao trabalho realizado com os alunos que privilegiou as situações incluindo essas categorias. A dificuldade que pode ter influenciado a uma performance mais baixa em relação à categoria proporcionalidade pode estar associada a situação proposta na sondagem final que considerava um valor de partida diferente da unidade e que dessa forma necessitava de mais de uma operação. Observamos que para a categoria combinatória os resultados entre a sondagem inicial e final são bastante diferentes. Na primeira sondagem vemos na tabela que apenas 3,3% dos alunos conseguiram desenvolver o conceito que representa a situação proposta, e que o único caso de elaboração de um teorema válido tratava-se de um cálculo relacional onde o aluno não utilizou o recurso do algoritmo, nesse caso, ele indicou apenas as possibilidades. Na sondagem final 60% dos alunos trabalharam utilizando esse esquemas, alguns deles recorrem ao algoritmo da multiplicação para resolver a situação. Conforme os resultados descritos acima, podemos afirmar que os alunos ampliaram seus conhecimentos e são capazes de organizar as possíveis combinações, o que corresponde à utilização do esquema correspondência um a muitos e que possibilita e desenvolver a noção de várias possibilidades. Eles apresentaram esquemas mais elaborados para representar essa situação na sondagem final. Para a categoria configuração retangular, na primeira sondagem apenas 6,7% dos alunos usaram um teorema em ação válido para a solução do problema e na sondagem final observamos uma melhorar considerável, pois 43,3% dos alunos utilizam um teorema em ação válido seja por meio de representações figurais ou dos algoritmos da adição e/ou da multiplicação e da divisão. Para a categoria proporcionalidade os alunos tiveram um número maior de acerto na sondagem inicial, passando de 36,7% para 26,7%. Porém observamos que para a sondagem inicial bastava considerar a adição de parcelas iguais, o que pode ter facilitado a utilização de um conceito pertinente e que já podia ser 194 considerado operatório para alguns alunos. Devemos considerar a mudança efetuada na situação proposta na sondagem final que pode ter dificultado a resolução, pois para essa situação a adição de parcelas iguais só era válida quando se considera a proporção entre o número de pacotes do valor inicial e os correspondentes para determinar o valor final. Em relação à categoria comparação obtivemos um resultado de 40% na sondagem inicial para teoremas em ação válidos e conceitos em ação pertinentes, destacando que, a maioria das representações para esse teste corresponde a adição de parcelas iguais. Na sondagem final, o resultado é de 53% de respostas com esquemas válidos, sendo que a maioria utiliza o algoritmo da multiplicação, que corresponde a um avanço em relação ao tratamento do mesmo tipo de situação na sondagem inicial. Acreditamos que se trata de um avanço significativo considerando que esses alunos teriam ainda um semestre para explorar as estruturas multiplicativas. Assim, podemos considerar que os problemas de estruturas multiplicativas exigem que os alunos desenvolvam vários esquemas para dispor de conhecimentos associados às estruturas multiplicativas, tornando-se assim competentes para resolver situações que dependem desses conhecimentos. Além disso, como destacamos anteriormente o domínio numérico e das grandezas são conhecimentos necessários para a compreensão dos diferentes contextos e das aplicações relacionadas à estrutura multiplicativa. Observamos ainda que para desenvolver a compreensão do raciocínio multiplicativo, que envolve a multiplicação e a divisão e envolve muito mais exploração de diferentes contextos e pressupõem situações relacionadas com esses contextos, que permitem construir esquemas próprios para sua solução antes de adquirirem o esquema operacional representado pelos algoritmos da multiplicação e divisão. Acompanhar os alunos no desenvolvimento de situações que permitem utilizar seus próprios esquemas, nos permite concluir que é preciso explorar situações associadas à capacidade de fazer análises conscientes das relações entre grandezas, valores numéricos e técnicas operatórias que possibilitam a explicitação por meio de argumentos e explicações sobre a estrutura multiplicativa. 195 Além disso, fica evidente a dificuldade encontrada pelos alunos que participaram da pesquisa em relação à proporcionalidade que segundo Spinillo (2003, apud Costa, 2007 p.9) corresponde a uma das tarefas mais difíceis para as crianças, pois conforme a autora, para compreender a natureza multiplicativa das situações proporcionais é preciso alguma maturidade matemática que possibilite diferenciar adição e multiplicação e identificar os contextos em que cada uma destas operações pode ser aplicada. Segundo a autora o exemplo a seguir revela sinais de pensamento proporcional. é comum que algumas crianças acreditem que um jarro com 4 copos de sumo concentrado e 2 copos de água tem um sabor mais forte que um jarro com 2 copos de sumo concentrado e 1 de água. No entanto, quando a criança percebe que o sabor é o mesmo começa a revelar sinais de pensamento proporcional. (SPINILLO, 2003, apud Costa, 2007 p. 9). No entanto notamos que de maneira geral os alunos participantes da pesquisa estão suficientemente preparados para trabalhar e explorar as quatro categorias de situações propostas na pesquisa. Com o levantamento dos esquemas apresentados pelos alunos seguidos das observações e comentários e do resumo final dos resultados que descrevem a situação dos alunos que participaram da pesquisa, consideramos a seguir nossas considerações finais e perspectivas futuras, lembrando que o objetivo da pesquisa é investigar o impacto do ensino das estruturas multiplicativas por meio de situações problemas proposto no Guia do Programa Ler e Escrever na terceira série do ensino fundamental. 196 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS O objetivo deste trabalho de pesquisa foi a realização de um estudo diagnóstico das estruturas multiplicativas nas séries iniciais da Educação Básica a partir do Programa Ler e Escrever da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. A questão de pesquisa que norteou o trabalho foi: “O plano de ensino baseado no Guia de Planejamento do Programa Ler e Escrever é um recurso suficiente para auxiliar o professor a desenvolver o processo de ensino e aprendizagem da estrutura multiplicativa?” Foi escolhido como referencial teórico a teoria dos campos conceituais de Gerárd Vergnaud porque ele permite identificar o campo conceitual de conceitos matemáticos e em particular existe todo um estudo na literatura sobre a introdução das operações aritméticas na séries iniciais. Além disso, o Programa Ler e Escrever foi desenvolvido considerando esta teoria e levando em conta explicitamente suas definições e formas de análise assim como os resultados de pesquisas já efetuadas. Ao longo de nosso estudo retivemos ainda as categorias das estruturas multiplicativas para o ensino e aprendizagem do campo conceitual das estruturas multiplicativas constantes do guia do Programa Ler e Escrever e das pesquisas utilizadas para a construção desse programa, para o caso particular da 3ª série – 4º ano do Ensino fundamental Ciclo I. As análises efetuadas deixaram evidente que manter as categorias do Guia foi uma escolha importante, que auxiliou na elaboração da intervenção pelo qual passou o grupo de alunos que participaram da pesquisa. Mas, foi necessário pesquisar materiais exteriores ao Guia para melhor compreender o desenvolvimento do processo e aprendizagem do aluno para o cálculo, em particular, quando se trata de resolver problemas sobre estruturas multiplicativas. Ressaltamos, entre as pesquisas utilizadas nesse estudo, a classificação das situações das estruturas multiplicativas do trabalho de Nunes, Schliemann e Carraher (1993), que auxiliaram na compreensão dos esquemas utilizados pelos alunos, apresentado no capitulo 2, a saber: os esquemas que envolvem as 197 estruturas multiplicativas tais como a correspondência-um-a-muitos, situações de produto cartesiano, relação entre as variáveis, co-variação e distribuição. Essas categorias permitiram analisar situações que envolveram problemas que podem ser resolvidos de diferentes formas, seja diretamente por uma multiplicação ou por proporcionalidade de aquisição ou preço de objetos ou por comparações múltiplas. Existem ainda situações que exigem que os alunos passem por diferentes estágios intermediários, mas que segundo os pesquisadores é importante que essas situações sejam contextualizadas e significativas para os alunos, com o qual concordamos. Dessa forma, nos interessou comparar ainda como o campo conceitual das estruturas multiplicativas é apresentado nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos Guias de Orientação do Programa Ler e Escrever, cerne de nossa pesquisa. Para isso, investigamos por meio de aplicação da sondagem inicial e final, instrumentos construídos com as questões propostas no próprio programa, o que nos permitiu analisar e concluir que esse material de apoio está de acordo com as teorias que envolvem o campo conceitual das estruturas multiplicativas. Verificamos também que mesmo esses documentos estando em consonância com as teorias neles anunciadas, e que essa forma de trabalho venha sendo amplamente divulgada e explorada, em especial, por meio dessas novas orientações da SEESP, existe ainda um enorme caminho a percorrer. Isso porque o trabalho com os alunos mostra a necessidade de um tempo maior para que os mesmos possam se apropriar dos diferentes esquemas que compõem as estruturas multiplicativas. Apesar de considerarmos as orientações adequadas, observamos que talvez seja necessário que o professor tenha uma formação continuada sobre essas teorias, e até mesmo em relação a utilização do Guia do Programa. Constatamos que essas teorias envolvem conceitos simples e delicados, desde observar o nível da representação da criança frente a uma situação que utiliza os esquemas para resolver problemas de estrutura multiplicativa aos tipos de cálculo que esses empregam como esquemas para essas soluções. 198 Podemos dizer ainda que o nível de conhecimento das crianças em relação às estruturas multiplicativas não foi a esperada inicialmente. No entanto, elas avançaram na aprendizagem de alguns esquemas associados a esse campo conceitual considerando o material por elas desenvolvidos e por nós analisados e apresentados em capítulos anteriores por meio de tabelas, gráficos, comentários e análise comparativa das produções dos alunos. Durante a resolução das situações que lhe são propostas, os alunos podem cometer muitos erros. Eles podem produzir cálculos matemáticos inválidos como agrupamento de níveis diferentes, que os ajuda a encontrar uma resposta. Para melhor compreender a evolução dos alunos do grupo analisado, comparamos por meio de gráficos os resultados dos procedimentos diferentes utilizados para um mesmo tipo de situação, ou seja, as da sondagem inicial e da final. Observamos que para a solução das situações desses dois testes foi preciso utilizar os mesmo esquemas, isto é, as questões eram as mesmas em relação ao esquema necessário para a sua solução. Para as diferentes fases dessa pesquisa cujos protocolos da sondagem inicial e da final foram analisados junto com a professora, permitindo assim que os resultados servissem para responder nossa questão inicial, mas também servindo para a professora utilizar em sua classe, discutimos outras estratégias para o trabalho com essas estruturas e identificamos as dificuldades de cada aluno, o que auxiliou o professor a propor novas intervenções de forma que seus alunos pudessem avançar no aprendizado das estruturas multiplicativas. É preciso registrar que entre as sondagens inicial e final, a professora ensinou o conteúdo multiplicação aos seus alunos, seguindo o Guia. A análise do “Programa Ler e Escrever”, feita a partir deste estudo, aponta uma preocupação em trabalhar situações problemas levando em conta os diferentes esquemas de ação que constituem o campo conceitual que envolve a estrutura multiplicativa. Comparando a proposta do Programa com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino das noções associadas as estrutura multiplicativa para o 199 Ciclo I do Ensino Fundamental, constatamos que o primeiro foi construído a partir das propostas dos Parâmetros. Quanto as regularidades e diferenças encontradas nesses documentos identificamos: Regularidades - o material utilizado proposto tanto em âmbito nacional como estadual é coerente, no Guia Curricular da 1ª série não existe nenhuma orientação sobre a alfabetização Matemática, o que não esta de acordo com suas expectativas de aprendizagem por série. Existe uma estrutura de formação em ciclo partindo dos órgãos centrais para as Diretorias e para as escolas por meio de seus Professores Coordenadores, este último previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Diferenças - Os PCN"s prevê o conteúdo de Matemática desde a primeira série, na Proposta do Programa Ler e Escrever nada se indica para a primeira série em relação à Matemática. A Prefeitura de São Paulo, assim como orienta os PCN"s aderiu ao uso das TIC's no Programa Ler e Escrever iniciado nessa rede. Isso difere do Programa estadual onde não se incentiva essa prática para a modalidade de ensino e etapa escolar do que trata essa pesquisa. No entanto, vale ressaltar que o uso do computador na intervenção, não previsto no Programa Ler e Escrever na Rede Pública Estadual, parece ter potencializado os resultados positivos obtidos para esta amostra. Observamos ainda que o Programa Ler e Escrever prevê a introdução ao cálculo mental, estimativa, algoritmos e ao desenvolvimento de estratégias para resolução de problemas relativos à operação de multiplicação. As situações selecionadas do Guia do Programa Ler e Escrever, para este estudo, sugere uma preocupação para que se desenvolva um trabalho com os alunos que correspondem a extensão gradual do campo conceitual multiplicativo. Para isso, é proposto que esse campo seja trabalhado nas diferentes séries, numa perspectiva já apontada por Treffers e Buys (2001), isto é, as tarefas devem 200 girar em torno da multiplicação, construídas de modo a favorecer a compreensão de conceitos e propriedades respeitando um conjunto de etapas que o aluno tem necessariamente de cursar, procurando não eliminar nenhuma delas, sem a preocupação de chegar de forma rápida à formalização. É evidente, também, a preocupação com a formação dos professores. Nesse sentido vale ressaltar algumas observações que podem potencializar o uso do material, possibilitando que o professor trabalhe compreendendo e se apropriando das novas formas de desenvolvimento desse campo conceitual. Essa formação é garantida pelo estudo e planejamento do professor Coordenador para propor reflexões sobre a prática pedagógica e as dificuldades encontradas na aprendizagem e as possíveis intervenções para o avanço na aprendizagem e pelas discussões entre os pares nas reuniões de HTPC. Para tanto é importante o conhecimento de situações para as quais a adição e subtração não são esquemas válidos para a resolução, isto é, que ultrapassam o campo aditivo. Por outro lado, para alguns alunos, é necessário estabelecer o significado e a técnica de multiplicação, depois de passar por esquemas que são teoremas válidos para responder as situações propostas. No Guia do Programa Ler e Escrever encontramos diferentes tipos de problemas, que podem auxiliar os professores na escolha de situações adequadas aos seus alunos em função das dificuldades que os mesmos apresentam durante o processo de ensino e aprendizagem. Dessa forma, os professores podem ajudar seus alunos a ampliar gradativamente seus conhecimentos sobre as estruturas multiplicativas tornando-os capazes de identificá-las em diferentes situações e propor soluções corretas a partir de seus próprios conhecimentos. Para isso, a forma de tratamento das estruturas multiplicativas proposto por Gérard Vergnaud é muito útil. Também é importante que a criança construa sua "ação" e seja capaz de verbalizar com exemplos, com o uso da linguagem matemática as propriedades da multiplicação, tais como, o fato de n não ser distributivo sobre si mesmo. Observamos aqui, a importância do discurso oral em 201 matemática que deve ser incentivada desde as séries iniciais do ensino fundamental, pois é explicitando suas idéias que os alunos podem apresentar suas dificuldades e o professor auxiliá-los a ultrapassá-las. O cálculo mental desempenha um papel crucial neste domínio. Consideramos que em um ambiente digital, adequado às capacidades dos alunos, este pode ajudar a compreender e explorar as propriedades das operações. Permite ainda trabalhar com um número maior de situações em um curto espaço de tempo, facilitando a variação de “pequenos problemas” que guiam o aluno fazendo com que o mesmo enriqueça seus conhecimentos sobre a validade de campo de uma transição. As técnicas computacionais aplicadas à multiplicação auxiliam também a aprendizagem na escola elementar, mesmo que os alunos não dominem a técnica ou a contagem. O incentivo ao uso de diferentes registros ao lado de cada etapa da multiplicação, dando sentido a cada "mudança de linhas”, pode ser considerada. O professor precisa escolher o ponto de partida, estabelecer as conexões das organizações do conteúdo matemático com as organizações didáticas de forma a articular conceitos inter-relacionadas, podendo recorrer às suas próprias convicções acerca deste domínio do conhecimento humano e dos objetivos do ensino. As conexões planejadas organizadas permitem relacionar o conceito de multiplicação e divisão e dissociar as estruturas multiplicativas das estruturas aditivas. Além das conexões entre esses aspectos escolhidos podem ser exploradas as possibilidades de conexões e exploração do campo conceitual, onde o professor pode estabelecer um recorte no âmbito do campo previamente construído. No caso deste estudo o planejamento de nossa seqüência foi feita a partir da sondagem inicial e serviu para acompanhamento da evolução dos avanços da aprendizagem das estruturas multiplicativas. Partindo do que o aluno já tem disponível, revisitando os conhecimentos, de forma ativa e sendo estimulada a reflexão sobre os conceitos utilizados do recorte que se quis ensinar. 202 Por último, o professor pode visualizar as situações de ensino e as variáveis didáticas relevantes para a construção de uma seqüência de atividades coerentes e inter-relacionadas para o ambiente escolar, de forma cronologicamente organizada em termos de uma seqüência didática. E, ainda para Vergnaud, nas situações repousa a operacionalidade dos conceitos e, portanto, são as situações que conferem sentido a um dado conceito. Podemos entender as situações como sendo os problemas que o sujeito deve resolver. Por isso, a análise dos comportamentos e das respostas dadas pelos estudantes foram importantes. Tivemos condições de inferir quais os conceitos-emação foram utilizados pelos estudantes da amostra. Lembramos que os conceitosem-ação se articulam por meio dos teoremas-em-ação. Os teoremas-em-ação são proposições, que podem ser verdadeiras ou falsas. De maneira análoga àquela apresentada para os conceitos-em-ação, essas proposições permanecem, em sua maioria, implícitas nas ações do sujeito, podendo se tornar explícitas. Finalmente, consideramos que essa pesquisa foi mais uma oportunidade para o estudo de como se dá a aprendizagem, utilizando-se um suporte teórico para conquistar de forma ainda mais concreta aquilo que nós educadores temos como intenção: “ que nosso aluno aprenda”. 203 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. BROUSSEAU, G. Os diferentes papéis do professor. In: PARRA, C. e SAIZ, I. (Org.) Didática da matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 48-72. __________. Theorie des situations didactiques. 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(15min) Computar o tempo previsto para a atividade Proposta 2: Agora eu pediria que todos brincassem “apenas” com a atividade das cadeiras no cinema (20min) Verificar o tempo suficiente para que a atividade seja prazerosa Proposta 3: Agora eu pediria que todos brincassem “apenas” com mudar de visual (20min) 216 ANEXO B – ATIVIDADE APLICADA NA SALA DE INFORMATICA COM UTILIZAÇÃO DE SOFTWARE Sala Comum – (1º Grupo dos alunos que apresentaram desempenho abaixo do esperado na sondagem inicial) Preparar data show / computador com software / folha de sulfite/ calculadora. Apresentação do software (10min) Qual vocês querem que eu abra? Adaptação (2º Grupo) Escreva por quê? Grupo s/ dificul. Coloquem os nomes nas folhas em branco Vamos brincar um pouco com as placas do carro (20 min) - Somente 1 partida vamos ver quem é o campeão, eu faço uma e depois vocês. Adaptação 2 ou 3 partidas Grupo s/ dificul. Agora nos vamos brincar com “cadeiras” vocês vão me ajudar (20 min) ADAPTAÇÃO: Se eu tivesse que colocar numa sala 7X5. Qual seria a idéia? Sem Software Grupo s/ dificul. Na folha de sulfite invente um probleminha com a situação das cadeiras (10 min). Agora cada dupla vai ler o seu problema (15min). ADAPTAÇÃO: Os outros irão responder. Quem terminar levanta a mão que a dupla vai ver. Agora vocês podem me ajudar a mudar o visual do seu “Nestor”. Como vocês fizeram para descobrir as combinações. Agora elabore um probleminha com a situação do seu Nestor e me entrega.