Confrontando a mortalidade materna: A situação da atenção ao aborto nas unidades sanitárias do sector público em Moçambique Martinho Dgedge, Hailemichael Gebreselassie, Cassimo Bique, Maria Teresa Victorino, Maria F. Gallo, Ellen M.H. Mitchell, Kara O. King, Lilia Jamisse, Della Mercedes Correa, Ercilia de Almeida, Leonardo Chavane confidencialidade escolha contraceptiva assessibilidade privacidade suprimentos Ipas Aliança Africa O Ipas Aliança Africa tem trabalhado em parceria com organizações não governamentais (ONGs), associações de mulheres, adolescentes, grupos comunitários, universidades e agências governamentais, em mais de dez paises do continente. O Ipas tenta expandir o acesso ao cuidado com sua saúde reprodutiva, inclusive ao aborto seguro e à atenção pós-aborto (APA). Através de esforços e colaborações, o Ipas emergiu como uma liderança regional nos assuntos relacionados aos direitos reprodutivos, especializando-se no trabalho direto com os sistemas de saúde, serviços e profissionais, com o objetivo de treiná-los e equipá-los para a realização de um atendimento de alta qualidade. Missão do Ipas O Ipas trabalha mundialmente com o objetivo de aumentar a capacidade das mulheres e adolescentes exercerem seus direitos sexuais e reprodutivos, e para reduzir o número de mortes e lesões causadas por condições relacionadas ao aborto. Nós procuramos expandir a disponibilidade, qualidade e sustentabilidade dos serviços relacionados à saúde reprodutiva e ao aborto, assim como tentamos desenvolver um ambiente favorecedor. O Ipas acredita que nenhuma mulher deveria precisar arriscar sua vida ou sua saúde devido à falta de escolhas seguras relativas à sua saúde reprodutiva Para mais informações sobre os produtos, programas e publicações do Ipas Aliança Africa, contate: ©2005 Ipas. Ipas Africa Alliance P.O. Box 1192, 00200, City Square, Nairobi Kenya Tel: 254 20 3877422; 254 20 3870248 Fax: 254 20 387-6198 E-mail: [email protected] ISBN: 1-882220-97-8 Citação Sugerida: Dgedge, Martinho, Hailemichael Gebresalassie, Cassimo Bique, Maria Teresa Victorino, Maria F. Gallo, Ellen M. H. Mitchell, Kara O. King, Lilia Jamisse, Della Mercedes Correa, Ercilia de Almeida, and Leonardo Chavane. 2005. Confrontando a mortalidade materna: A situação da atenção ao aborto nas unidades sanitárias do sector público em Moçambique. Ipas: Maputo, Moçambique. Design Gráfico Alessandra Foelkel CATALOG #: ACMOZ-P05 Confrontando a mortalidade materna: A situação da atenção ao aborto nas unidades sanitárias do sector público em Moçambique Martinho Dgedge Hailemichael Gebreselassie Cassimo Bique Maria Teresa Victorino Maria F. Gallo Ellen M.H. Mitchell Kara O. King Lilia Jamisse Della Mercedes Correa Ercilia de Almeida Leonardo Chavane Agradecimentos Este trabalho foi financiado pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID, para a sigla em inglês) e o ASDI. Os autores agradecem ao Dr. Momade Bay Ustá pela revisão técnica do manuscrito. Agradecemos ao Dr. Alessandro Campione do Departamento de Informação sobre Saúde do Ministério da Saúde pelo fornecimento das coordenadas de latitude e longitude. Agradecemos a Amata Kwizera pela coordenação da publicação e distribuição em Moçambique. Somos gratos à Charlotte Hord Smith, Dra. Eunice Brookman-Amissah, Kezia Scales, Erika Steibelt e Katherine Turner pela colaboração editorial. Índice Sumário Executivo .................................................................................................. i Principais resultados encontrados pela equipe de avaliação ........................ ii Unidades Sanitárias com serviços de atenção pós-aborto ............................ ii Aptidão da equipe .......................................................................................... ii Demora no atendimento................................................................................. ii Tratamento com internamento versus tratamento ambulatório ...................... ii Processamento dos instrumentos .................................................................. ii Manejo da dor ................................................................................................ iii Privacidade .................................................................................................... iii Atitudes e desempenho do profissional ......................................................... iii Serviços de contracepção pós-aborto ........................................................... iii Qualidade do serviço e direitos das mulheres ............................................... iii Introdução .............................................................................................................. 1 A Carta Africana sobre os Direitos Humanos e da População ....................... 1 Situação legal sobre o aborto ........................................................................ 3 Acesso ao aborto seguro desde 1986 ........................................................... 3 Capacidade em recursos humanos para tratar do aborto em condições de risco ................................................................................. 5 Métodos .............................................................................................................. 6 Entrevistas com as mulheres no momento da alta ........................................ 6 Entrevistas com os profissionais responsáveis pela provisão de esvaziamento intra-uterino e serviços que oferecem contraceptivos ................................................................................................ 7 Tratamento dos dados e análise .................................................................... 7 Resultados do estudo .......................................................................................... 10 Unidades Sanitárias com serviços de atenção pós-aborto .......................... 10 Características das mulheres participantes ................................................. 10 Características dos profissionais participantes ............................................ 12 Demora no atendimento............................................................................... 12 Tratamento com internamento versus tratamento ambulatório .................... 12 Acesso aos serviços .................................................................................... 12 Misoprostol para a preparação do colo do útero.......................................... 14 Atenção com ênfase na mulher ................................................................... 15 Privacidade .................................................................................................. 17 Manejo da dor .............................................................................................. 18 Atitudes e capacitação do profissional ......................................................... 20 Equipamentos e consumíveis ...................................................................... 24 Serviços de contracepção pós-aborto ......................................................... 25 HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) ......................... 28 Recomendações .................................................................................................. 29 Referências .......................................................................................................... 31 Sumário Executivo O aborto clandestino é uma das principais causas de mortalidade e morbilidade materna nos países em desenvolvimento em que o aborto é ilegal ou não está disponível em ambientes seguros. Dr. Antonio Bugalho et al. (1996) Se olharmos para a pobreza de Moçambique, eu posso dizer que ela tem um rosto de mulher, e as mulheres merecem uma atenção especial dos nossos políticos. Dr. Pascoal Mocumbi (2001) Assim como muitos países africanos que emergem de uma guerra civil e que ainda se encontram a enfrentar necessidades de ajustes estruturais, Moçambique tem uma baixa utilização de contraceptivos e um alto índice de mortalidade materna (1000 mortes maternas por cada 100.000 nascimentos de bebés vivos; OMS, 2004b). O grande número das complicações do aborto o alto custo que isso acarreta, representam uma pesada responsabilidade para o sobrecarregado sistema de saúde da nação. As admissões para atenção pós-aborto constituem mais de 55% de todas as complicações obstétricas tratadas em Moçambique (Jamisse et al, 2004). Em resposta às altas taxas de morbilidade e mortalidade, o Ministério da Saúde de Moçambique, com o apoio técnico e financeiro do Ipas, conduziu uma ampla avaliação dos serviços relacionados com o aborto em 45 Unidades Sanitárias do sector público, ao longo de 2002 e 2003. O objetivo da avaliação foi a recomendação de intervenções que possam melhor atender as necessidades de saúde reprodutiva das mulheres, reduzindo a morbilidade e a mortalidade maternas em Moçambique. A avaliação consistiu em entrevistas aos profissionais de saúde a respeito da capacitação e fornecimento de serviços de aborto e pós-aborto, e de entrevistas com mulheres sobre a qualidade dos serviços relacionados com o aborto. Durante uma conferência realizada em Abril de 2004 para divulgar os resultados da avaliação, foram apresentados importantes parâmetros que delineavam uma ampla estratégia para reduzir no país a mortalidade materna causada por abortos realizados em condições de risco. As intervenções propostas incluíam as seguintes: · · · · · Expansão da educação sobre saúde reprodutiva para a juventude; Ampliação do acesso à assistência obstétrica de emergência, incluindo à atenção pós-aborto; Melhoria do aconselhamento sobre o uso de contraceptivos pósaborto e da provisão dos métodos contraceptivos; Expansão dos serviços que fornecem aborto seguro para unidades sanitárias adicionais no sector público; Verificação da importância que podem ter as taxas cobradas pelos hospitais aos usuários como obstáculo ao acesso ao aborto seguro. Este documento faz um esboço das principais áreas de actuação e traz recomendações para a melhoria dos serviços de assistência ao aborto no sector público da saúde em todo o país. i Principais resultados encontrados pela equipe de avaliação · Unidades Sanitárias com serviços de atenção pós-aborto Avaliamos 39 hospitais públicos e 6 centros de saúde. Dois dos hospitais estudados e dois dos centros de saúde não realizavam esvaziamento intrauterino no momento em que a avaliação foi feita. · Aptidão da equipe Cerca de 46% dos Unidades Sanitárias referiu não ter nenhum ou ter apenas um profissional capacitado com habilidades clínicas para realizar a aspiração manual intra-uterina (AMIU), e 56% referiu não ter nenhum ou ter apenas um profissional treinado para o aconselhamento sobre contraceptivo pós-aborto e para provisão de métodos contraceptivos. · · · Demora no atendimento Apesar de tanto as mulheres quanto os profissionais referirem um tempo de espera longo, desde a chegada até o momento da alta após a realização do esvaziamento intra-uterino, as mulheres referiram um tempo médio de espera maior estatisticamente significativo. Os profissionais estimaram um período de espera médio de 2,2 horas, desde a chegada até o momento do procedimento, enquanto as mulheres apontaram uma média de 6,2 horas de espera para o atendimento. Tratamento com internamento versus tratamento ambulatório As mulheres referiram um tempo de espera médio de 17,5 horas desde o procedimento até a alta, enquanto o tempo de espera médio relatado pelos profissionais variou de 8,1 horas após a aspiração a vácuo elétrica (AVE) e de 22,6 horas após a curetagem. O longo tempo de espera para a alta indica que muitas mulheres receberam tratamento para o aborto com internamento hospitalar. Uma das vantagens de utilizar a aspiração a vácuo ao invés da curetagem para realizar o esvaziamento intra-uterino é a possibilidade das mulheres serem tratadas em ambulatório, o que significa menos custos para o sistema de saúde. A maioria dos principais profissionais dos serviços de esvaziamento intra-uterino nas 41 unidades sanitárias estudados e que realizavam esvaziamento intra-uterino no momento em que a avaliação foi feita referiu o uso da curetagem em seus locais de trabalho (98%). Um número menor de profissionais referiu o uso da aspiração a vácuo manual (51%) ou elétrica (20%). A Organização Mundial de Saúde recomenda o uso da aspiração a vácuo ou do aborto medicamentoso para o esvaziamento intra-uterino no caso de gravidezes que tenham até 12 semanas completas (OMS, 2003a). A questão do aborto induzido e da morbilidade e mortalidade maternas continua a ser um dos problemas que Moçambique, assim como outros países da região, ainda terá que enfrentar e resolver nos próximos anos. Dr. Pascoal Mocumbi (2001) O perfil demográfico, econômico e social de Moçambique ... demonstra os desafios existentes no setor da saúde. Tem sido necessário introduzir novas abordagens em termos de políticas para a saúde, para maximizar os escassos recursos e preparar condições de sustentabilidade para os programas de saúde. Dra. Aida Libombo (2002) Processamento dos instrumentos Quase metade (43%) dos profissionais nos 21 Unidades Sanitárias que realizavam a AMIU no momento da avaliação referiu a ausência de desinfecção de alto nível antes da reutilização das cânulas de aspiração. Devido à prevalência de HIV e ao risco de infecções transmitidas pelo sangue, o ii processamento dos instrumentos nos Unidades Sanitárias precisa ser melhorado. ..o aborto é visto como contribuindo com 9% das causas de morte materna intrahospitalar...estes dados devem ser vistos como a ponta de um icebergue, pois muitas mulheres falecem fora do hospital, enquanto que para outras a morte decorre de complicações resultantes do aborto e não são registadas como tal, devido ao estigma social e aos aspectos legais prevalecentes actualmente no País. · Manejo da dor Mais de 40% dos profissionais disse não fornecer medicação para dor para as mulheres submetidas à curetagem ou à AMIU. Entre aqueles que ofereciam alguma forma de controle da dor, a anestesia geral e os analgésicos não narcóticos eram os métodos mais frequentemente utilizados na curetagem e na AMIU, respectivamente. · Privacidade Os principais profissionais dos serviços que oferecem serviços de esvaziamento intra-uterino referiram a existência de pouca privacidade quer visual quer auditiva nas áreas de exame (53% e 63%, respectivamente), assim como nas salas onde o esvaziamento intra-uterino era realizado (39% e 54%, respectivamente). · Atitudes e desempenho do profissional Três por cento dos profissionais apresentava atitudes indiferentes em relação à AMIU; 11% manifestou opiniões negativas; e 16% referiu falta de conhecimento sobre este procedimento. A maioria das mulheres não era cumprimentada pelos profissionais que a atendiam, não era questionada a respeito de sua história médica ou informada sobre o seu prognóstico e tratamento. Além disso, não recebia recomendações a respeito dos sinais de alerta indicativos de complicações. · Serviços de contracepção pós-aborto Apenas 28% das mulheres que não queriam ficar grávidas de novo nos meses seguintes recebeu um método contraceptivo. Anticonceptivos orais combinados e anticonceptivos orais a base apenas de progestina eram os métodos contraceptivos mais disponíveis. Muitas das unidades sanitárias (37%) não tinham preservativos masculinos para distribuir para os seus clientes. · Qualidade do serviço e direitos das mulheres A atenção com ênfase na mulher inclui três elementos-chave: escolha, acesso e qualidade. Quando avaliamos os 25 elementos da atenção com ênfase na mulher, concluímos que a maioria das mulheres referiu ter recebido menos do que 15 destes elementos. Dra. Ana Carla Granja (1996) Moçambique tem uma grande capacidade clínica e de pesquisa na área do aborto a nível central, assim como uma abordagem progressista no que diz respeito ao envolvimento de profissionais de nível médio. Estas forças técnicas e políticas, combinadas com o amplo apoio de muitos parceiros, sugerem que uma intensificação de acções no que diz respeito a redução da mortalidade materna relacionada com o aborto pode ser uma estratégia eficaz para ajudar o país a atingir o seu Objetivo de Desenvolvimento do Milénio no que concerne à redução da mortalidade materna. iii Introdução O aborto realizado em condições de risco continua a ser uma das principais causas de mortalidade materna evitável. Estima-se que 19 milhões de mulheres submetem-se a abortos de risco por ano, dentre as quais 68.000 morrem devido a complicações deles decorrentes (OMS, 2004a). A taxa de mortalidade materna em Moçambique é de 1000 mortes para cada 100.000 nascimentos de bebés vivos, sendo um dos índices mais altos do mundo (OMS, 2004b). Estudos baseados em hospitais na África subsahariana concluíram que as mortes maternas relacionadas com abortos atingem o alto índice de 50% (Rogo, 1993). Verificouse que o índice de ocorrência de fatalidade entre as mulheres que se apresentam no Hospital Central de Maputo com complicações de aborto é de 3% (Machungo et al., 1997). Pesquisas etnográficas realizadas entre profissionais tradicionais mostraram que o aborto continua a ser o tratamento mais frequentemente requisitado (Chapman, 2003). O número de abortos realizados em condições de risco diminuiria se o número de gravidezes não planificadas ou indesejadas pudesse ser reduzido. No entanto, o uso de contraceptivos modernos é baixo entre as mulheres com parceiros em Moçambique (tão baixo quanto 14% entre as adolescentes) e varia muito, de 5% na província nortenha de Cabo Delgado a 39% na capital sulista Maputo (INE, 2005). Apenas 7% das mulheres que têm parceiros e moram nas regiões rurais usam contraceptivos, e estima-se que 28% das que moram em áreas urbanas o fazem (INE, 2005). Iniciação sexual precoce, gravidez precoce e o abandono de adolescentes grávidas por seus parceiros do sexo masculino são três problemas frequentes em Moçambique e que tornam o aborto em condições de risco entre as adolescentes uma ameaça especial (INE, 2001). Estas estatísticas frisam a grande necessidade de promover melhorias no aconselhamento sobre o uso de contraceptivos e na provisão de métodos contraceptivos como uma estratégia de prevenção primária. A Carta Africana sobre os Direitos Humanos e da População Os profissionais de saúde de todos os níveis têm obrigações éticas e legais de respeitar os direitos das mulheres (OMS, 2003a). Em Julho de 2003, representantes de 44 países (inclusive Moçambique) que ratificaram a Carta Africana sobre os Direitos Humanos e da População reuniram-se em Maputo para assinar um protocolo adicional sobre os direitos das mulheres. O Artigo 3 do Protocolo afirma o direito à dignidade: “Toda mulher deve ter direito à dignidade inerente a um ser humano e ao reconhecimento e à proteção dos seus direitos humanos e legais” (African Union, 2003). ...um número relativamente grande de mulheres continua a arriscar sua vida ao se submeter a abortos realizados em condições extremamente precárias e perigosas, devido à falta de acesso aos serviços seguros. Dr. Pascoal Mocumbi (2001) As estratégias para combater as mortes por aborto, consistem basicamente em: prevenir a gravidez não desejada, impedir o aborto em condições de perigo de saúde para a mulher, promover a legalização do aborto e tratar as complicações. Dra. Ana Carla Granja (1996) 1 O Artigo 14 (Direitos relativos à Saúde e Reprodução) do Protocolo especifica os direitos das mulheres relativos à saúde sexual e reprodutiva que devem ser respeitados e incentivados: a. o direito de controlar sua fertilidade; b. o direito de decidir se quer ter filhos, o número de filhos que quer ter e o espaçamento entre eles; c. o direito de escolher qualquer método contraceptivo; d. o direito à autoproteção e de estar protegida contra doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HIV/SIDA; e. o direito de ser informada a respeito do seu estado de saúde e do estado de saúde de seu parceiro, particularmente se infectada(o) por doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HIV/SIDA, de acordo com as normas e práticas internacionalmente reconhecidas; f. o direito de ter educação sobre planeamento familiar. (African Union; 2003, p. 16-17) Além disso, a Carta concordou sobre a necessidade dos países tomarem todas as providências necessárias para conseguir: a. fornecer serviços de saúde adequados, acessíveis e possíveis de serem custeados, incluindo programas de informação, educação e comunicação para mulheres, especialmente aquelas que vivem em áreas rurais; b. ... c. proteger os direitos reprodutivos das mulheres através da autorização do aborto médico nos casos de agressão sexual, estupro, incesto e quando a continuação da gravidez coloca em perigo a saúde mental e física da mãe ou a vida da mãe ou do feto. (African Union; 2003, p.17) Os políticos, assim como os profissionais, a todos os níveis, devem transformar estes acordos em práticas habituais para que melhorias cruciais possam ser realizadas no que respeita a saúde das mulheres em Moçambique. só quando mulheres e homens tiverem direitos iguais, particularmente na área da saúde reprodutiva, poderemos progredir no sentido de diminuir a morbilidade e a mortalidade das mulheres resultantes de causas evitáveis, como por exemplo o aborto realizado em condições de risco. Permitir que as mulheres tomem suas próprias resoluções a respeito da sua saúde, além de ser um direito humano básico, favorece, sem dúvida alguma, a melhoria da saúde do país como um todo. 2 Situação legal do aborto A legislação colonial sobre o aborto ainda em vigor em Moçambique não é consistente com os compromissos internacionais descritos acima. Tecnicamente, a interrupção da gravidez só é legal no país quando a gravidez ameaça a vida da mulher. Apesar de muitos especialistas na área da saúde em Moçambique perceberem que existem vantagens em alterar a estrutura legal para fornecer suporte jurídico aos profissionais de saúde, a maioria concorda que esta é uma meta a longo prazo. Em reconhecimento à magnitude da mortalidade materna resultante de abortos feitos em condições de risco, uma política provisória foi implementada para superar o impasse legal relativo ao oferecimento de assistência segura ao aborto. Desde 1985, o Ministério da Saúde tem autorizado serviços de aborto induzido para gravidezes que tenham até 12 semanas, em unidades sanitárias selecionados e que tenham critérios específicos. Além disso, são oferecidas opções as mulheres grávidas infectadas com HIV, ao longo de sessões de aconselhamento, como parte de um programa nacional de prevenção da transmissão de mãe para filhos (PTV). O Ministério da Saúde tem enfatizado a importância de reduzir a procura pelo aborto bem como a redução da mortalidade materna a ele relacionada. Isto só pode ocorrer através da criação de um consenso dentro da sociedade civil para a ampliação das proteções legais para os profissionais de saúde e da expansão do acesso das mulheres a toda a variedade de serviços de saúde reprodutiva, incluindo a contracepção. Acesso ao aborto seguro desde 1986 A atenção ao aborto seguro durante as primeiras 12 semanas de gravidez, a pedido e com autorização do Diretor do hospital, encontra-se disponível em um número limitado de unidades sanitárias do sector público. Mais de 3.000 mulheres são autorizadas por ano (Machungo, 2004). No entanto, Machungo e colegas (1997) demonstraram que o acesso é, geralmente, limitado a mulheres mais velhas, da região urbana e com poder aquisitivo mais alto. As mulheres que recebem os serviços de aborto seguro são em número maior do que as mulheres que se apresentam nos hospitais com complicações de abortos realizados em condições de risco na comunidade, casadas, com emprego, brancas, com história de uso de contraceptivos e ensino médio completo (Agadjanian, 1998). Os serviços actuais baseados em hospitais urbanos não alcançam a maioria das mulheres moçambicanas que têm mais chance de experimentar uma gravidez não desejada e um aborto em condições de risco – mulheres pobres, das áreas rurais, jovens ou com menos educação. A questão da interrupção da gravidez no seu início é uma necessidade não satisfeita dentro das questões relacionadas com a saúde reprodutiva e os direitos da mulher. Um método simples e seguro de interrupção de gravidez, sem intervenção cirúrgica, podia ter um grande impacto na saúde reprodutiva da mulher porque a confidencialidade é melhor preservada do que com a evacuação cirúrgica. Além do mais, a mulher pode tomar esta decisão difícil sem qualquer interferência externa, que provoque atraso e diminua a segurança do procedimento. Dr. Antonio Bugalho et al. (2000) A atenção ao aborto tem quatro componentes: 1) serviços de aborto induzido electivo para casos permitidos por lei; 2) tratamento de emergência das complicações de abortos espontâneos ou induzidos em condições de risco; 3) aconselhamento contraceptivo pós-aborto e provisão de métodos para evitar a repetição de abortos; e 4) elos de 3 ligação entre os serviços electivos ou de tratamento e outros atendimentos na área da saúde reprodutiva. Em alguns casos o medo de sanções familiares ou ostracismo social é tal, que a mulher com uma gravidez não desejada recorre ao suicídio como acto de desespero nos casos em que o acesso ao aborto é restrito ou inexistente. Intervenções para diminuir a morbilidade e mortalidade maternas devem estar viradas para uma abordagem com ênfase na mulher em relação aos serviços de atenção ao aborto. Esta abordagem é direcionada aos vários factores que podem influenciar as necessidades de saúde individuais de uma mulher, suas circunstâncias pessoais e sua possibilidade de ter acesso aos serviços (Hyman e Kumar, 2004). Alguns elementos de uma atenção ao aborto de alta qualidade podem variar, de acordo com contextos locais e recursos disponíveis. No entanto, existem componentes que são fundamentais: · · · O atendimento de cada mulher deve ser adaptado às suas circunstâncias sociais e necessidades individuais; Os profissionais de saúde devem dar informações e aconselhamento precisos e adequados; Padrões e protocolos aprovados internacionalmente devem ser empregues nos atendimentos clínicos. Dra. Ana Carla Granja (1996) No nosso país, desde há varios anos que vários Hospitais liberalizaram o acesso a interrupção voluntária da gravidez (IVG). Para ter acesso a uma IVG é necessário, no entanto uma série de condicionalismos de carácter econónomico e social, bem como requisitos clínicos...Certas mulheres consideram embaraçoso ter de fazer um pedido por escrito para realizar um acto médico desta natureza, pois algumas podem ter restrições de carácter social, serem solteiras, adolescentes, viúvas ou por outros motivos considerarem que a confidencialidade do seu problema será posta em causa. Outras carecem de informação e educação necessárias para utilizarem estes serviços ou eles estão longe do seu alcance pois são prestados normalmente dentro de Hospitais Centrais e Gerais. Outras ainda, não possuem o dinheiro suficiente para pagarem todas as despesas decorrentes do acto em si...Por todas estas razões o acesso a uma I.V.G. “legal” está ainda restrito a determinadas camadas de população feminina urbana com facilidades socioeconómicas. Dra. Ana Carla Granja (1996) 4 Capacidade em recursos humanos para tratar o aborto em condições de risco Enfermeiras-parteiras e enfermeiras de saúde materno-infantil estão a trabalhar com sucesso, em muitos lugares, em serviços de atenção pósaborto. No entanto, a resistência dos médicos à provisão de serviços obstétricos por profissionais de nível médio tem sido documentada como um obstáculo à expansão de atendimento obstétrico essencial por toda parte em Moçambique (Jamisse et al., 2004). A emigração durante as duas décadas de guerra civil ocasionou uma escassez de médicos em Moçambique (Fortney, 2004). Para além disso, questões relativas ao salário dos médicos também contribuíram para uma carência de médicos no setor público (Jamisse et al., 2004). Técnicos de cirurgia realizam actualmente, com sucesso, uma grande variedade de serviços obstétricos essenciais, como cesariana, histerectomia, curetagem, laqueação de trompas, laparotomia para gravidez ectópica, e histerorrafia em caso de perfuração úterina (Vaz et al., 1999). Os técnicos de cirurgia, no entanto, também são escassos (Jamisse, 2004). Apresentamos a seguir os resultados da avaliação do Ministério da Saúde feita em 2002-2003 em serviços de atenção ao aborto de um grupo de unidades sanitárias do sector público, e fazemos recomendações para a melhoria da atenção ao aborto. Esperamos que este documento ajude os defensores da saúde das mulheres, profissionais e administradores da área da saúde, funcionários do governo e outras pessoas atuantes a aumentar os seus actuais esforços no sentido de melhorar a saúde e o bem-estar das mulheres em Moçambique. O sucesso na provisão de serviços de atenção pósaborto (APA) por profissionais de nível médio pode representar uma oportunidade de expandir o fornecimento de serviços com custo mais baixo para os serviços de aborto seguro, quando as limitações legais forem removidas. O impacto de serviços de aborto seguro na mortalidade e morbilidade maternas poderia ser significativo. Dra. Aida Libombo e Dr. Momade Bay Ustá (2001) Facilitar o acesso ao aborto seguro, ainda quando as condições de legalidade não são claras, não apenas salva a vida de muitas mulheres e previne o sofrimento humano, mas tambén poupa valiosos recursos em saúde, o que se torna muito importante em países em que esse recursos são muito escassos. Dr. Aníbal Faúndes e José Barzelatto (2004) 5 Métodos O estudo procurou avaliar os serviços de atenção pós-aborto em todos os hospitais públicos de Moçambique. No entanto, como sete hospitais públicos ficaram fora da organização da amostra estudada, a avaliação baseou-se em 39 dos 46 (85%) hospitais públicos. Avaliamos, também, seis centros de saúde locais das províncias de Nampula e Maputo. Foram escolhidos centros de saúde das duas províncias onde o Ministério da Saúde já tinha planos para o aperfeiçoamento dos serviços de atenção ao aborto. Desta forma, a amostra do estudo compreende 45 unidades sanitárias: 6 centros de saúde, 27 hospitais distritais, gerais ou rurais, 3 hospitais centrais e 7 hospitais provinciais (Tabela 1). Dois dos hospitais estudados e dois dos centros de saúde não forneciam esvaziamento intra-uterino no momento em que a avaliação foi feita.¹ Assim, os resultados do estudo referem-se aos 41 Unidades Sanitárias restantes que realizavam esvaziamento intra-uterino. O Mapa 1 mostra a localização de todos os hospitais públicos de Moçambique, assim como os seis centros de saúde avaliados no estudo. A coleta de dados foi realizada de Julho de 2002 a Janeiro de 2003. Entrevistamos quatro tipos de pessoas em cada estabelecimento: 1) uma amostra com cerca de 10 pacientes consecutivas submetidas ao esvaziamento intra-uterino devido a complicações relacionados com o aborto; 2) o profissional responsável pelos serviços de esvaziamento intra-uterino; 3) o profissional responsável pelos serviços contraceptivos; e 4) um a cinco profissionais que realizavam esvaziamento intra-uterino. Os resultados do estudo já foram publicados por Gallo et al., em 2004. Este documento, entretanto, descreve os achados da avaliação com mais detalhes, relatando, especificamente, os resultados em cada estabelecimento e província. Além disso, fornecemos recomendações mais abrangentes. Entrevistas com as mulheres no momento da alta Enfermeiras de saúde materno-infantil treinadas realizaram entrevistas, no momento da alta, a 461 mulheres (9 a 13 em cada estabelecimento) tratadas com esvaziamento intra-uterino por complicações relacionadas com o aborto. Uma ou duas enfermeiras em cada instituição, que não estiveram envolvidas com os serviços de atenção pósaborto prestados a estas mulheres, conduziram as entrevistas em uma área do sector privado. A coordenadora do estudo, uma enfermeira de saúde materno-infantil, treinou todas as enfermeiras que realizaram as entrevistas. Todas as mulheres submetidas a algum método de esvaziamento intra-uterino, incluindo aspiração manual intra-uterina (AMIU), aspiração a vácuo elétrica (AVE) ou curetagem, para tratar complicações ¹ Centro de Saúde 25 de Setembro, Centro de Saúde Anchilo, Hospital Geral Chamanculo e Hospital Rural Ribáuè. 6 relacionadas com o aborto, eram elegíveis para participar das entrevistas. O recrutamento não foi baseado na idade gestacional antes do aborto ou no tipo de aborto (espontâneo ou induzido; seguro ou feito em condições de risco). Antes da alta e da realização da entrevista, as enfermeiras liam para as possíveis participantes um formulário de consentimento padronizado, especificando que sua participação era totalmente voluntária e não afectaria os cuidados com sua saúde, no momento ou no futuro. Entrevistamos apenas participantes que deram consentimento fundamentado oral. O questionário abrangia características demográficas, tempo de espera nas unidades sanitárias, informação recebida sobre o tratamento, informação recebida sobre a assistência de seguimento, privacidade, manejo da dor, contracepção e satisfação com os serviços. Não colectamos dados sobre o tipo de aborto experimentado ou detalhes sobre as complicações do aborto. Também não registramos o tipo de medicação administrada para o controle da dor ou o método de esvaziamento intra-uterino realizado. Também não documentamos se alguma mulher recusou-se a participar. Entrevistas com os profissionais responsáveis pela provisão de esvaziamento intra-uterino e serviços contraceptivos Utilizando formulários padronizados para coleta de dados, 18 profissionais (médicos e enfermeiras de saúde materno-infantil) treinados entrevistaram os principais profissionais dos serviços de esvaziamento intra-uterino e contracepção em cada estabelecimento. O questionário direcionado para os profissionais responsáveis pelo esvaziamento intra-uterino abrangia seis tópicos: informações gerais sobre o estabelecimento; serviços clínicos para aborto; características das mulheres que necessitavam de esvaziamento intra-uterino; área de tratamento, equipamentos e consumíveis para a realização do aborto; e capacitação da equipe. O questionário dirigido aos profissionais dos serviços contraceptivos colectava informações sobre a frequência do fornecimento de contraceptivos, incluindo os vários métodos, e aconselhamento. Finalmente, o entrevistador também fazia um breve questionário, sobre capacitação e atitudes relacionadas à atenção ao aborto, entre um a cinco profissionais, em cada estabelecimento, que estivessem envolvidos com a realização de esvaziamento intra-uterino. Tratamento dos dados e análise Os dados foram introduzidos no Epi Info 2002 e transportados para SAS 8.02 para análise. Computamos proporções e médias para descrever a provisão de atenção pós-aborto nas unidades sanitárias do estudo e nas províncias. Utilizamos o teste-t combinado para comparar o tempo de espera referido por cada mulher desde a chegada até o tratamento com o tempo estimado pelo profissional entrevistado no mesmo estabelecimento. Não pudemos comparar diretamente o tempo de espera desde o tratamento até a alta porque as questões dirigidas aos profissionais eram diferntes devido aos diferentes tipos de esvaziamento intra-uterino realizados, e o questionário das mulheres não incluiu perguntas sobre o método de esvaziamento intra-uterino a que foram submetidas. 7 Tabela 1:Unidades Sanitárias onde foi feito o estudo, por província e tipo de estabelecimento. Província Nome do estabelecimento Tipo do estabelecimento Cabo Delgado Cabo Delgado Cabo Delgado Cabo Delgado Gaza Gaza Gaza Gaza Gaza Inhambane Inhambane Inhambane Manica Manica Maputo Maputo Maputo Maputo Maputo City Maputo City Maputo City Nampula Nampula Nampula Nampula Nampula Nampula Nampula Nampula Nampula Nampula Niassa Niassa Sofala Sofala Sofala Sofala Tete Tete Tete Tete Zambézia Zambézia Zambézia Zambézia Mocímboa da Praia Montepuez Mueda Pemba Chibuto Chicumbane Chókwè Manjacaze Xai-Xai Chicuque Inhambane Vilanculos Catandica Chimoio Magude Manhiça Moamba Xinavane Chamanculo* José Macamo Maputo 25 de Setembro* Anchilo* Angoche Marrere Moma Monapo Nacala-Porto Namapa Nampula Ribáuè* Cuamba Lichinga Beira Buzi Sede Marromeu Nhamatando Sede Mutarara Songo Tete Ulónguè Alto Molócuè Gurué Mocuba Quelimane Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital provincial Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital provincial Hospital rural Hospital provincial Hospital rural Hospital rural Hospital provincial Centro de Saúde Hospital distrital Centro de Saúde Hospital rural Hospital geral Hospital geral Hospital central Centro de Saúde Centro de Saúde Centro rural Centro de Saúde Centro de Saúde Hospital rural Hospital geral Hospital rural Hospital geral Hospital rural Hospital rural Hospital provincial Hospital central Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital provincial Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital rural Hospital provincial * Não realizava esvaziamento intra-uterino no momento da avaliação. 8 9 Resultados do Estudo Unidades Sanitárias com serviços de atenção pós-aborto Avaliamos 39 hospitais públicos e 6 centros de saúde. Dois hospitais e dois dos centros de saúde do estudo não realizavam esvaziamento intra-uterino no momento em que a avaliação foi feita (Centro de Saúde 25 de Setembro, Centro de Saúde Anchilo, Hospital Geral Chamanculo e Hospital Rural Ribáuè). Desta forma, este relatório não inclui dados sobre estas quatro unidades sanitárias. Características das mulheres participantes As mulheres tratadas com esvaziamento intra-uterino para complicações de aborto tinham uma idade média de 24,4 anos (variando de 14 a 49). As adolescentes (idade de 14 a 19 anos) constituíam 27% da amostra. A maioria das mulheres tinha algum grau de educação (75%) e eram casadas, companheiras ou viúvas (66%; Tabela 2). Apenas 18% das mulheres tinha água potável em sua residência e cerca de 27% tinha eletricidade. A maioria das mulheres (86%) já tivera uma gravidez anterior, e quase metade delas (44%) já tivera um aborto antes do actual. Entre as mulheres com história de aborto anterior, foi encontrada uma média de 1,4 abortos anteriores (variando de 1 a 4). Tabela 2: Características das mulheres participantes (nº=461). Idade (em anos) 14-19 20-35 36-49 Escolarização (qualquer) Estado Civil Solteira Casada, companheira ou viúva Água potável na residência Eletricidade na residência Com emprego atualmente Gravidezes Anteriores 0 1 2-4 >4 Abortos anteriores 0 1 2-4 % 27 66 7 75 (n) (115) (287) (30) (344) 34 66 18 27 12 (155) (306) (84) (124) (53) 14 23 44 19 (58) (91) (176) (76) 56 32 12 (190) (108) (41) Adaptado de Gallo et al, 2004. 10 Legenda Estabelecimentos com AMIU ou AVE AMIU AMIU E AVE AVE SEM AMIU OU AVE 11 Características dos profissionais participantes A diferença entre a vida e a morte para essas mulheres com complicações depende de seu acesso aos serviços e da qualidade do atendimento recebido. Muitas mortes são resultado da demora em procurar ajuda e da incapacidade ou má disposição do pessoal de saúde para prover cuidados que poderiam ter salvado essas vidas. Dr. Aníbal Faúndes e José Barzelatto (2004) Os questionários sobre esvaziamento intra-uterino foram respondidos por ginecologistas/obstetras, clínicos gerais e técnicos de cirurgia, enquanto as entrevistas sobre contracepção foram realizadas, em geral, com enfermeiras enfermeiras materno-infantil. Os profissionais eram entrevistados no departamento de obstetrícia (55%), no departamento de ginecologia (13%), ou nas consultas ou sala de procedimento (32%). Demora no atendimento Apesar de tanto as mulheres quanto os profissionais responsáveis pelos serviços de esvaziamento intra-uterino referiram esperas longas para o exame, tratamento e alta, as mulheres referiram tempos de espera maiores. Elas manifestaram um tempo de espera médio de 1,4 horas desde a chegada até o primeiro exame e de 5,2 horas desde o primeiro exame ao esvaziamento intra-uterino. Enquanto os profissionais estimaram o tempo de espera médio desde a chegada à realização do esvaziamento intra-uterino como sendo de 2,2 horas, as mulheres referiram uma média de 6,2 horas, o que representa uma diferença estatisticamente significativa (p<0,0001). Tratamento com internamento versus tratamento ambulatório As mulheres referiram um tempo de espera médio de 17,5 horas entre o tratamento e a alta. A estimativa dos profissionais variou de acordo com o método de esvaziamento intra-uterino utilizado: 8,1 horas após a AVE; 11,3 horas após a AMIU; e 22,6 horas após a curetagem. O tempo de espera longo indica que muitas mulheres receberam assistência ao aborto enquanto internadas. Uma das vantagens de utilizar a aspiração a vácuo em vez da curetagem para o esvaziamento intra-uterino é que as mulheres podem ser tratadas em ambulatório, o que significa custos menores para o sistema de saúde. Acesso aos serviços Poucos profissionais responsáveis pelos serviços de esvaziamento intra-uterino referiram o uso de AMIU ou AVE (51% e 20%, respectivamente) em suas unidades sanitárias. A utilização da curetagem (98%), um método actualmente desaconselhado pela OMS, permanece comum. A Tabela 3 mostra que apenas duas províncias (Manica e Sofala) realizam AMIU ou AVE em todas as unidades sanitárias estudadas. O Mapa 2 ilustra a provisão de AMIU e AVE em cada 12 estabelecimento avaliado pelo estudo. Nas províncias de Tete e Nampula apenas um unidade sanitária realizava aspiração intra-uterina. Como a província de Nampula tem maior densidade populacional (INE, 2005), a melhoria dos serviços nesta província deve ter um melhor resultado em termos de custo-eficácia para o sistema de saúde do país do que a melhoria do atendimento em outras áreas menos povoadas. Tabela 3: Unidades Sanitárias onde foi feito o estudo que realizam esvaziamento intra-uterino, por método e província (nº=41) Aspiração à Vácuo Elétrica Manual ou Elétrica Curetagem Manual Província (No. de unidades sanitárias) % % % % Cabo Delgado (4) 100 75 25 75 Gaza (5) 100 60 0 60 Inhambane (3) 100 67 0 67 Manica (2) 100 100 100 100 Hospitais (4) 75 25 50 50 Centros de Saúde (2) 100 0 0 0 Hospitais (5) 100 60 20 60 Centros de Saúde (2) 100 0 0 0 Niassa (2) 100 50 0 50 Sofala (4) 100 100 25 100 Tete (4) 100 25 0 25 Zambézia (4) 100 25 25 50 Maputo Nampula A OMS recomenda a utilização da aspiração a vácuo ou um esquema medicamentoso que combina mifepristona e misoprostol para a realização do esvaziamento intrauterino em gravidezes que tenham até 12 semanas completas (OMS, 2003a). A AMIU demonstrou ser um método que aumenta substancialmente a segurança e a exeqüibilidade do procedimento, especialmente em países mais pobres (Jowett, 2000). A AMIU é um método seguro para esvaziamento intra-uterino, com um índice de eficácia de 98 a 100% (Greenslade et al., 1993). A curetagem tem uma taxa grande de complicações, duas a três vezes maior do que a aspiração a vácuo (Grimes e Cates, 1979). Além disso, a AMIU pode ser realizada de forma fácil e segura por profissionais de nível médio devidamente treinados, e em ambientes diversos, enquanto a curetagem é realizada, normalmente, apenas por médicos (Grimes e Cates, 1979). Esta descentralização dos serviços pode reduzir os custos do atendimento à saúde. A utilização da AMIU também diminui a dor experimentada 13 durante o procedimento de esvaziamento intra-uterino, não sendo necessário o uso de anestesia geral, o que possibilita que as mulheres recebam alta mais cedo. Misoprostol para a modificação do colo do útero Quarenta e seis por cento das unidades sanitárias tem misoprostol disponível para a modificação do colo do útero (Tabela 4). A administração vaginal de 400 microgramas de misoprostol é feita para reduzir a necessidade de dilatação mecânica do colo. A OMS recomenda o uso de misoprostol para a modificação do colo do útero em mulheres nulíparas, adolescentes e nas situações em que o risco de perfuração uterina é alto (por exemplo, anomalias do colo ou do útero). Em Moçambique, as mulheres costumam esperar 24 horas após a administração do misoprostol para serem submetidas à aspiração intra-uterina, ou seja, voltam a unidade sanitária no dia seguinte para a realização do procedimento. No entanto, a OMS recomenda que a aspiração a vácuo ocorra três a quatro horas após a administração do misoprostol (OMS, 2003a). Tabela 4: Unidades Sanitárias do estudo que administram misoprostol antes da realização da aspiração para o esvaziamento intra-uterino, por província (nº=41) Modificação do cólo do útero Província (No. de Unidades Sanitárias) Cabo Delgado (4) Gaza (5) Inhambane (3) Manica (2) Maputo Hospitais (4) Centros de Saúde (2) Nampula Hospitais (5) Centros de Saúde (2) Niassa (2) Sofala (4) Tete (4) Zambézia (4) 14 % 0 80 67 50 50 0 40 50 50 100 25 25 Atenção com ênfase na mulher O Ipas propõe um modelo de atenção ao aborto com ênfase na mulher que consiste em três elementos-chave: escolha, qualidade e acesso (Hyman e Kumar, 2004). O desenvolvimento de afinidade com a mulher é essencial para o fornecimento da assistência com ênfase na mulher, e o profissional deve fazer sempre um esforço para que isto aconteça em cada encontrocom a mulher. Ao tentar entender as necessidades individuais de cada mulher, tanto o profissional quanto ela própria estarão melhor informados para tomar decisões apropriadas sobre o seu atendimento. Assegurar a privacidade adequada durante todas as etapas da consulta também é fundamental. Por fim, fornecer às mulheres informações sobre a sua condição, tratamento e acompanhamento, de forma precisa e oportuna, é essencial para a provisão de uma assistência de alta qualidade. Fizemos 25 perguntas sobre atendimento às mulheres que participaram do estudo uma série de: 1. Você foi informada de que poderia ter um parente ou amigo(a) a seu lado durante o tratamento? 2. O(a) médico(a) que a atendeu apresentou-se? 3. Perguntaram-lhe sobre a sua história médica? 4. Você foi informada a respeito da sua condição ou problema médico? 5. O(a) médico(a) ou a enfermeira perguntaram- lhe se queria alguma medicação para minimizar a dor durante o procedimento? 6. Deram-lhe informações sobre o procedimento de aspiração intra-uterina antes que ele começasse a ser realizado? 7. Você teve oportunidade de fazer perguntas sobre o tratamento antes que ele fosse realizado? 8. Você foi informada a respeito dos resultados do procedimento? 9. Você foi informada a respeito dos cuidados que deverá ter ao voltar para sua casa? 10. Foi agendada uma consulta de seguimento para você? 11. Você foi aconselhada a evitar relações sexuais durante alguns dias, até que o sangramento pare? 12. Você recebeu informações sobre o momento em que seu ciclo menstrual deverá normalizar-se? 13. Você foi informada de que se não usar um método contraceptivo poderá ter uma nova gravidez antes mesmo de voltar a menstruar? 14-20. Você foi aconselhada pelo(a) médico(a) ou enfermeira a procurar imediatamente o centro de saúde ou hospital mais próximo se experimentar algum dos seguintes sinais de alerta? · sangramento durante mais do que duas semanas; 15 · sangramento maior do que o de uma menstruação normal; · cheiro mais intenso; · febre; · calafrios ou sensação de mal-estar; · tontura, desmaio; · secreção vaginal com cheiro. 21-25. Você teve privacidade suficiente nos seguintes momentos? · ao trocar de roupa; · ao fornecer a sua história médica; · ao ser examinada; · durante o procedimento; · durante a conversa sobre contracepção. Calculamos uma pontuação de qualidade atribuindo um ponto a cada elemento da atenção ao aborto com ênfase na mulher relatado pela participante e, depois, fizemos uma média da pontuação em cada estabelecimento (Tabela 5). A maioria das instituições teve um pontuação de qualidade inferior a 15, indicando a necessidade de uma acção imediata. O Hospital Distrital de Manhiça (na província de Maputo), o Hospital Central Beira (em Sofala) e o Hospital Rural Songo (em Tete) tiveram a menor pontuação, enquanto que os Hospitais Rurais de Alto Molócuè (na Zambézia) e de Catandica (em Manica) tiveram a melhor pontuação. 16 Tabela 5: Pontuação de atenção ao aborto com ênfase na mulher baseda nas respostas das participantes, por estabelecimento avaliado a Unidade Sanitária (No. de Mulheres) Pontuaçãob Unidade Sanitária (No. de Mulheres) Pontuaçãob NECESSIDADE DE AÇÃO URGENTE (0-14) Xinavane (11) 10.7 Manhiça (12) 3.0 Manjacaze (12) 10.9 Beira (12) 4.4 Magude (12) 11.9 Songo (9) 5.0 José Macamo (12) 12.3 Marrere (12) 5.9 Marromeu (13) 12.3 Chimoio (12) 6.3 Moma (12) 12.4 Inhambane (13) 6.5 Chibuto (13) 12.8 Chókwè (13) 6.8 Mocuba (12) 12.9 Nhamatando Sede (13) 7.0 Chicuque (12) 13.1 Montepuez (13) 7.1 Chicumbane (13) 13.4 Xai-Xai (11) 7.1 Vilanculos (12) 14.3 Nampula (12) 7.7 Mocímboa da Praia (13) 14.7 Namapa (13) 8.2 NECESSIDADE DE MELHORIAS (15-18) Quelimane (13) 8.2 Pemba (12) 15.1 Angoche (12) 8.8 Buzi Sede (11) 15.3 Cuamba (13) 9.0 Mueda (13) 15.6 Nacala-Porto (12) 9.1 Gurué (11) 17.1 Maputo (13) 9.9 ALTA QUALIDADE (18+) Lichinga (12) 10.0 Alto Molócuè (12) 19.5 Monapo (12) 10.4 Catandica (12) 19.9 Moamba (11) 10.5 Faltaram dados dos Unidades Sanitárias: Mutarara, Tete, Ulónguè Pontuação baseda nos relatos das mulheres a respeito dos 25 elementos da atenção ao aborto com ênfase na mulher. a b Privacidade A maioria das mulheres referiu ter tido privacidade suficiente ao trocar de roupa (81%), fornecer sua história médica (81%), ser examinada (90%) e durante a realização do procedimento (89%). Em contraste, os profissionais responsáveis pelos serviços de esvaziamento intra-uterino demonstraram preocupação a respeito da ausência de privacidade. A Tabela 6 mostra a proporção de unidades sanitárias com pouca privacidade em cada província. No total, 53% dos profissionais referiu pouca privacidade visual e 63% referiu pouca privacidade auditiva na área de exame. As salas de esvaziamento intra-uterino parecem oferecer mais privacidade do que as salas de exame. Pouca privacidade visual e auditiva na sala de esvaziamento intra-uterino foi relatada por 39% e 54% dos profissionais, respectivamente. 17 Tabela 6: Unidades Sanitárias do estudo com pouca privacidade visual e auditiva, por área de tratamento e província (nº=36)a Área de Exame Privacidade Visual Privacidade Auditiva Área de Esvaziamento Intra-Uterino Privacidade Visual Privacidade Auditiva Província % (n) % (n) % (n) % Cabo Delgado Gaza 75 0 (4) (2) 100 (4) 100 (4) 50 60 (4) (5) 75 (4) 100 (5) Inhambane Manica 100 50 (1) (2) 100 (1) 0 (2) 0 0 (3) (2) 33 0 (3) (2) Maputo Hospitais 0 (4) 0 (4) 0 (4) 0 (4) 100 (2) 50 (2) 100 (2) 100 (2) 60 (5) 60 (5) 40 (5) 60 100 (2) 100 (2) 100 (2) 100 (2) Niassa Sofala 100 50 (2) (4) 100 (2) 75 (4) 100 25 (2) (4) 100 (2) 25 (4) Tete Zambézia 0 75 (4) (4) 25 75 0 50 (4) (4) 25 50 Centros de Saúde Nampula Hospitais Centros de Saúde (4) (4) (n) (5) (4) (4) ªFaltaram dados de três Unidades Sanitárias na província de Gaza e dois unidades sanitárias na província de Inhambane. Manejo da dor De acordo com os relatos dos profissionais, muitas mulheres que são submetidas ao esvaziamento intra-uterino não recebem medicação para o controle da dor durante o procedimento. A Figura 1 mostra que muitas das unidades sanitárias envolvidas no estudo geralmente não administram medicação para dor para as mulheres durante a AMIU (42%) ou a curetagem (40%). A anestesia geral (28%) era o método mais freqüentemente utilizado com mulheres submetidas à curetagem; analgésicos não narcóticos (23%) era a medicação para dor mais administrada para as mulheres tratadas com AMIU. 18 Figura 1: Relatos dos profissionais a respeito dos métodos para controle da dor mais frequentemente utilizados com as mulheres que são submetidas ao esvaziamento intra-uterino, de acordo com o tipo de procedimento realizado 42% Nada 40% Analgésico não narcótico Anestesia Local Analgésico Narcótico 23% 15% 4% AMIU(nº=26) 10% Curetagem (nº=40) 8% 3% 15% Sedação Leve 5% 8% Anestesia Geral 0% 28% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 40% 45% A maioria das mulheres referiu dor “moderada” (24%) ou “intensa” (41%) durante o tratamento (Figura 2). Quando estratificadas por províncias, todas as mulheres na província de Tete (100%) referiram dor moderada ou intensa durante o procedimento. Algumas mulheres (40%) disseram ter sido questionadas por um(a) médico(a) ou enfermeira sobre sua vontade de receber medicação para controle da dor durante o tratamento, e um número menor (28%) referiu ter recebido algum tipo de medicação para dor durante a intervenção. A proporção de mulheres que recebeu medicação para o controle da dor nas várias províncias variou de 0% a 50%. Nenhuma das mulheres acompanhadas na província de Tete referiu ter recebido algum tipo de medicação para o controle da dor durante o tratamento. 19 Figura 2: Relatos das mulheres sobre dor e administração de medicação para dor, de acordo com a província Dor “moderada”ou “intensa” (Nº=454)* Porcentagem de mulheres 100 Receberam medicação para a dor (Nº=453) 80 60 40 20 0 Ni a a ss a fal o S a nic a M Inh a a mb ne Ga za uto p Ma Província o ia ula éz ad p b g l m e m D Na Za bo a C te Te *Faltaram dados de sete mulheres A OMS recomenda que os profissionais ofereçam a todas as mulheres medicação para o controle da dor, antes e durante o tratamento (OMS, 2003a). O manejo adequado da dor é essencial para a atenção ao aborto e pode melhorar, substancialmente, a qualidade da assistência. Apesar dos analgésicos não narcóticos, como o paracetamol, serem, normalmente, adequados para reduzir a dor associada à aspiração intra-uterina ou aos métodos de aborto medicamentoso (Suprapto e Reed, 1984; Matambo et al., 1999), deve ser oferecido às mulheres diferentes opções para o controle da dor, pois o limiar de tolerância à dor pode variar entre as pessoas. Os analgésicos não narcóticos estão incluídos na Lista Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS (OMS, 2003b). A anestesia geral, uma forma mais cara e mais arriscada de controlar a dor, é, geralmente, desnecessária para o procedimento de aspiração intra-uterina, e pode adiar a alta. A anestesia geral não é recomendada para o aborto, uma vez que aumenta os riscos clínicos (OMS, 2003a; Lawson et al., 1994; MacKay et al., 1985). Os profissionais também devem ser treinados a utilizar o aconselhamento e uma abordagem solidária e humana como ferramentas auxiliares na redução do desconforto das mulheres. A dor não deve ser usada como forma de punição para as mulheres que fazem um aborto. Atitudes e capacitação do profissional A maior parte dos principais profissionais que realizam o esvaziamento intra-uterino referiu atitutes satisfatórias em relação à AMIU. O restante disse ser indiferente à AMIU (3%), ter opiniões negativas (11%) ou não ter conhecimento do procedimento (16%). Trinta e quatro por cento dos principais profissionais envolvidos no esvaziamento intrauterino disse que a sua unidade sanitária tinha um coordenador ou supervisor 20 responsável pelos serviços de atenção pós-aborto. Das 14 instituições estudadas em Moçambique que tinham um coordenador, metade delas (nº=7) possuía um supervisor cuja capacitação incluía aconselhamento contraceptivo pós-aborto e quase todas (nº=12) possuíam um responsável com treino em habilidades clínicas para realizar AMIU. Quarenta e seis por cento e 56% dos hospitais do estudo não tinha nenhum ou só tinha um profissional treinado com habilidades clínicas para realizar AMIU (Tabela 7) e capacitado para oferecer métodos e aconselhamento contraceptivo pós-aborto (Tabela 8), respectivamente. O Mapa 3 mostra a proporção de profissionais nos unidades sanitárias estudados que foi treinada para realizar a AMIU. O mapa ilustra que as províncias de Inhambane e Tete têm uma pequena proporção de profissionais, nas unidades sanitárias estudadas, treinados para executar este procedimento. Além disso, sabendo que a província de Nampula tem a maior densidade populacional por quilômetro quadrado, o aperfeiçoamento das habilidades dos profissionais nesta província pode, potencialmente, melhorar o atendimento para um número maior de mulheres do que em outras províncias. Entre os 99 profissionais das 35 unidades sanitárias que completaram o questionário sobre capacitação em aborto e atitudes em relação à atenção ao aborto, 43% referiu ter recebido treino anterior em assistência obstétrica de emergência em seus locais de trabalho. Moçambique é um líder mundial no treino de diversos profissionais na área da saúde para realizar funções de alto nível (Libombo e Ustá, 2001). Ainda assim, esta avaliação revelou que a maioria dos Unidades Sanitárias de saúde não tem nenhum ou tem apenas um membro da equipe capacitado com habilidades clínicas para realizar AMIU. Aumentar o conhecimento e a consciencialiização sobre a AMIU promovendo, inclusive, treinamento prático de habilidades para realizá-la, ajudará a melhorar a técnica dos profissionais e favorecerá seu uso. A capacitação de equipes distribuídas em unidades sanitárias periféricos, como centros de saúde, é importante para tornar os serviços acessíveis a um número maior de mulheres. Esforços já estão a ser feitos no sentido de melhorar as habilidades dos profissionais em Moçambique. Capacitadores foram preparados para treinar outros profissionais em tudo o que diz respeito a atenção pós-aborto para uma assistência de qualidade. Em 2003, o Ipas patrocinou uma viagem de estudo para que diversos gestores de programas pudessem visitar unidades sanitárias de saúde em Nairobi, Quênia, com o intuito de aprender como os serviços de contracepção podem ser melhor integrados à atenção pós-aborto. Passos em direção ao melhoramento dos serviços de atenção pós-aborto devem continuar a ser implementados em toda a nação. 21 22 Tabela 7: Hospitais envolvidos no estudo com menos do que dois membros da equipe capacitados com habilidades clínicas para realizar a AMIU, por província a a Província Hospital Cabo Delgado Cabo Delgado Inhambane Inhambane Inhambane Manica Maputo Nampula Nampula Niassa Tete Tete Tete Tete Hospital Rural Mocímboa da Praia Hospital Rural Montepuez Hospital Rural Chicuque Hospital Provincial Inhambane Hospital Rural Vilanculos Hospital Rural Catandica Hospital Rural Xinavane Hospital Rural Angoche Hospital Central Nampula Hospital Rural Cuamba Hospital Rural Mutarara Hospital Rural Songo Hospital Provincial Tete Hospital Rural Ulónguè Faltaram dados do Hospital Rural de Monapo e do Hospital Ruralde Namapa. Tabela 8: Hospitais envolvidos no estudo com menos do que dois membros da equipe com capacitação sobre métodos e aconselhamento contraceptivo pós-aborto, por provínciaª Província Cabo Delgado Cabo Delgado Cabo Delgado Gaza Inhambane Inhambane Inhambane Manica Maputo Maputo Nampula Nampula Nampula Niassa Sofala Tete Tete Tete Hospital Hospital Rural Mocímboa da Praia Hospital Rural Montepuez Hospital Rural Mueda Hospital Rural Chicumbane Hospital Rural Chicuque Hospital Provincial nhambane Hospital Rural Vilanculos Hospital Rural Catandica Hospital Distrital Manhiça Hospital Rural Xinavane Hospital Rural Angoche Hospital Geral Nacala-Porto Hospital Central Nampula Hospital Rural Cuamba Hospital Rural Marromeu Hospital Rural Mutarara Hospital Rural Songo Hospital Rural Ulónguè a Faltaram dados do Hospital Rural de Monapo e do Hospital Rural de Namapa. 23 Equipamentos e consumíveis Profissionais de 61% dos unidades sanitárias referiram que possuíam, na altura, os instrumentos para realizar a AMIU. As 11 instituições que nunca tinham tido estes instrumentos referiram diversas razões para sua ausência: falta de conhecimento a respeito das vantagens (36%), falta de conhecimento sobre a tecnologia (27%) e falta de consumíveis no mercado (18%). Entre as unidades sanitárias que tinham os instrumentos de AMIU na altura da avaliação, 84% referiu que a aspiração era usada para o esvaziamento intra-uterino e 63% disse que a AMIU era disponível em todos os turnos de trabalho. Entre os 7 lugares (Tabela 9) que tinham aspiradores de válvula simples para AMIU, o número médio de aspiradores em stock era de 1,9 (SD 1,9). Vinte e um Unidades Sanitárias tinham aspiradores de válvula dupla para AMIU, com uma média de 6,7 (SD 10,8) aspiradores deste tipo disponíveis em stock. Os aspiradores de válvula dupla são preferíveis aos aspiradores de válvula simples porque estes últimos são apropriados apenas para as gravidezes que estão no início. Cinquenta e sete por cento das instituições tinham cânulas em seu stock. O número médio de cânulas para AMIU nos tamanhos de 4 a 12 mm variava de 6,8 (SD13,1) a 8,2 (SD 14,6). Tabela 9: Unidades Sanitárias envolvidas no estudo com equipamentos e consumíveis, por província Aspirador para AMIU Válvula Simples Província (No. de Unidades Sanitárias) Cabo Delgado (4) Gaza (5) Inhambane (3) Manica (2) Maputo Hospitais(4) Centros de Saúde (2) Nampula Hospitais (5) Centros de Saúde (2) Niassa (2) Sofala (4) Tete (4) Zambézia (4) a Válvula Dupla Cânulas de Bacia ou pia Desinfetante AMIU nas salas de de alto exame e de nível para esvaziamento as cânulas uterino de AMIUa % 25 40 33 0 % 50 80 67 100 % 50 80 67 100 % 100 60 33 50 % 100 75 100 50 25 0 50 0 75 0 100 0 100 — 0 0 0 0 25 25 60 50 0 100 0 25 60 50 0 100 25 50 60 0 50 75 50 50 50 — — 25 0 25 Restrito as Unidades Sanitárias que realizavam a AMIU no momento da avaliação. 24 Os profissionais que realizavam esvaziamento intra-uterino em cerca de 81% das 21 unidades sanitárias que usavam a AMIU referiram observância à regra de deixar imersos em solução os instrumentos de AMIU, espéculos, tenáculos e pinças, após cada uso, para tornar mais fácil a sua limpeza posterior. Após esta limpeza, é necessário fazer uma desinfecção de alto nível para matar os microorganismos existentes nos instrumentos. Quase metade das unidades sanitárias (43%) não realizavam a desinfecção de alto nível antes da reutilização das cânulas de AMIU (Tabela 9). As 12 unidades sanitárias que realizavam a desinfecção de alto nível referiram a utilização de lixívia ou cloro (58%), glutaraldeído (50%) ou ambos os métodos (8%). Devido ao risco de infecção, torna-se necessário realizar o processamento adequado dos instrumentos para melhorar a prevenção de infecções. Não há dúvida de que a melhor maneira de evitar abortos realizados em condições de risco é evitar gravidezes não desejadas. Dr. Pascoal Mocumbi (2001) A responsabilidade do processamento dos instrumentos, incluindo a desinfecção de alto nível, estava a cargo de uma enfermeira de saúde materno-infantil (79% das unidades sanitárias), uma enfermeira geral (11%), um técnico de cirurgia (5%) ou outro membro da equipe de apoio (5%). Quase 70% dos que responderam a esta pergunta considerava que a pessoa responsável por esta função em sua unidade sanitária tinha recebido orientação adequada a respeito do processamento dos instrumentos, incluindo os procedimentos de desinfecção de alto nível. Cerca de 59% das instituições tinha uma bacia ou pia com água corrente nas salas de exame e de esvaziamento intra-uterino. A falta de água limpa nestas localidades torna difícil a implementação de práticas de controle de infecções. A infra-estrutura de Moçambique encontra-se ainda intensamente danificada devido à guerra civil que terminou em 1992. Problemas estruturais e deficiências elétricas e hidráulicas nos hospitais precisam ser resolvidos para que se possa fornecer uma assistência à saúde adequada (DHHS, 2005). Serviços de contracepção pós-aborto Profissionais em 83% das unidades sanitárias referiram que as suas instituições forneciam serviços de contracepção. Enquanto que em muitas províncias todos as unidades sanitárias ofereciam serviços de contracepção, em outras apenas 25% das suas instituições o fazia (Figura 3). Nas 34 unidades sanitárias que forneciam serviços de contracepção, os métodos mais frequentemente disponíveis eram os anticonceptivos orais combinados (97%), os anticonceptivos orais a base apenas de progestina (97%) e os anticonceptivos injetáveis (97%). De notar que, muitas unidades sanitárias (37%) não tinham preservativos masculinos disponíveis para distribuição. Todas as unidades sanitárias estudados nas províncias de Maputo e Manica tinham preservativos masculinos disponíveis, enquanto que nas províncias de Niassa e Zambézia nenhuma unidade sanitária tinha preservativos masculinos em stock (Tabela 10). Os profissionais referiram que as mulheres que se apresentavam com aborto incompleto e recebiam tratamento nas suas unidades sanitárias nunca (23%), raramente (21%), às vezes (26%), frequentemente (23%) ou sempre (8%) recebiam 25 um método de contracepção. Para as mulheres atendidas nos serviços de atenção pósaborto que não recebiam um método de contracepção na unidade sanitária, os profissionais nunca (8%), raramente (20%), às vezes (8%), frequentemente (28%) ou sempre (38%) informavam onde elas poderiam obter um. Os profissionais referiram nunca (18%), raramente (28%), às vezes (3%), frequentemente (15%) ou sempre (38%) informar as mulheres sobre a possibilidade de ocorrência de uma nova gravidez antes mesmo do retorno da menstruação. Figura 3: Unidades Sanitárias que fornecem serviços de contracepção pós-aborto, por província Percentagem das Unidades Sanitárias 100 80 60 40 20 0 a nic a M la to pu pu m a M Na as Ni sa a fal o S Província e do en b le ga am oD nh I b Ca te Te Ga za ia éz b m Za Seria todavia um erro pensar que mesmo o melhor programa de planeamento familiar reduziria por completo a procura de aborto induzido. Há várias razões para isto; a primeira é a de que qualquer método anticonceptivo tem uma taxa de falhas ainda que muito pequena para alguns, pelo que aplicado a um grande número de utilizadoras o problema da gravidez não desejada continuaria a existir. Dr. Ana Carla Granja (1996) 26 Tabela 10: Unidades Sanitárias com stock de métodos contracepção, por província Anticonceptivo injetável Província (No. de Unidades Sanitárias) Cabo Delgado (4) Gaza (5) Inhambane (3) Manica (2) Maputo Hospitais (4) Centros de Saúde (2) Nampula Hospitais (5) Centros de Saúde (2) Niassa (2) Sofala (4) Tete (4) Zambézia (4) Preservativo Masc. AnticonAnticonceptivo Dispositivo ceptivo oral oral a base ape- Intra-uterino combinado nas de progestina % 75 60 67 100 % 50 60 67 100 % 75 60 67 100 % 75 60 67 100 % 25 60 67 50 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 75 25 80 50 0 75 75 0 100 100 100 100 75 25 100 100 100 100 75 25 80 100 100 25 50 0 A Tabela 11 mostra que as mulheres referiram uma ausência total de informação sobre contracepção, assim como a falta de provisão de métodos de contracepção. A maior parte delas não recebia informações sobre contracepção, sugestões sobre métodos ou não tinha tido a possibilidade de escolher um método. Nenhuma das mulheres na província de Tete referiu ter recebido informação sobre contraceptivos (Tabela 11). Trinta e sete por cento das mulheres que disseram não desejar uma nova gravidez nos meses subseqüentes foi questionada a respeito do método contraceptivo de sua escolha. Apenas 28% das mulheres que não desejavam outra gravidez referiu ter recebido um método de contracepção. Menos da metade (49%) referiu privacidade adequada durante as conversas sobre contracepção. A Tabela 11 compara as experiências das mulheres com os serviços de contracepção pós-aborto nas diversas províncias. A OMS recomenda que todas as mulheres atendidas nos serviços de atenção pós-aborto recebam aconselhamento contraceptivo, incluindo contracepção de emergência, antes de deixar o estabelecimento de saúde e voltar para suas casas (OMS, 2003a). Johnson e colegas concluíram que quando as mulheres recebem métodos de contracepção eficazes no momento em que são atendidas nos serviços de atenção pós-aborto, ocorrem menos gravidezes não planificadas e menos abortos repetidos ao longo do ano seguinte (Johnson et al., 2002). Nenhum método contraceptivo é ideal para todas as mulheres. Ao permitir que elas selecionem o método de sua escolha entre as opções disponíveis e adequadas, as chances do método ser usado com continuidade aumentam e, com isso, o risco de gravidezes não planificadas diminui. 27 Tabela 11: Relatos das mulheres sobre os serviços de contracepção pós-aborto, por província Recebeu informação sobre contracepçãoa Província Cabo Delgado Gaza Inhambane Manica Maputo Nampula Niassa Sofala Tete Zambézia % 68 52 37 65 52 25 18 54 0 68 (n) (41) (52) (30) (20) (58) (44) (11) (26) (7) (41) O método Perguntaram- Recebeu um Privacidade contraceptivo lhe sobre o método adequada foi sugeridoa método de contraceptivoa durante a sua conversa escolhaa sobre contracepção % 65 60 35 58 44 43 29 53 0 54 (n) (46) (58) (37) (24) (63) (76) (24) (36) (9) (46) % 62 31 37 43 48 12 9 40 0 56 (n) (42) (52) (30) (21) (58) (43) (11) (25) (7) (41) % 68 31 28 57 29 19 9 40 0 58 (n) (38) (52) (29) (21) (58) (43) (11) (25) (7) (40) % 67 23 3 43 34 7 20 35 0 18 (n) (42) (52) (30) (21) (58) (43) (10) (23) (7) (40) a Entre as mulheres que disseram não desejar outra gravidez nos meses subseqüentes. HIV e outras doenças de transmissão sexual (DSTs) Foi demonstrado que as mulheres moçambicanas que são tratadas nos serviços de atenção pós-aborto têm uma alta incidência de DSTs (Machungo et al., 2002). No entanto, poucas mulheres que participaram desta avaliação referiram ter recebido preservativos. Moçambique é um dos países africanos mais seriamente afectados pelo HIV/SIDA (Libombo e Ustá, 2001). Portanto, o aconselhamento contraceptivo pós-aborto deveria incluir a promoção de preservativos, com o objetivo não apenas contraceptivo mas, também, para evitar a transmissão do HIV e das DTSs. 28 Recomendações 1. Clarificar a política de Moçambique relativa à permissão de funcionamento de serviços de aborto em unidades sanitárias do sector público de saúde através de diretrizes escritas que sobre normas e práticas. Estas diretrizes devem especificar claramente a responsabilidade do profissional no que diz respeito a assistência ao aborto. 2. Adaptar-se às recomendações da OMS passando a utilizar a aspiração a vácuo ou o aborto medicamentoso para o esvaziamento intra-uterino. 3. Capacitar e apoiar os profissionais de nível médio em centros de saúde e hospitais rurais e gerais, para que eles possam fornecer atenção integral ao aborto, incluindo aspiração a vácuo e aborto medicamentoso para o esvaziamento intra-uterino. O Ministério da Saúde deve ajudar as unidades sanitárias a obter os instrumentos de AMIU. A descentralização dos serviços de aborto vai diminuir os custos para o sistema de saúde e melhorar o acesso das mulheres a esses serviços. 4. Garantir que todas as unidades sanitárias façam uso da desinfecção de alto nível para processar as cânulas de AMIU que serão reutilizadas. 5. Assegurar que as unidades sanitárias forneçam atenção com ênfase na mulher para todas as que forem atendidas nos serviços de atenção ao aborto. 6. Assegurar privacidade e confidencialidade durante todas as etapas da consulta clínica da mulher: exame, tratamento, recuperação e aconselhamento. 7. Reduzir o tempo de espera, actualmente de 24 horas, entre a administração do misoprostol e a realização da AMIU, para 3 a 4 horas, para que o atendimento possa ser todo feito em uma só visita a unidade sanitária, ao invés de duas. Isto reduzirá os custos para a equipe e para a mulher, e diminuirá, também, as perdas por não comparecimento à consulta seguinte, quando o tratamento (aspiração) seria realizado. ... os serviços atuais para interrupção da gravidez, baseados em hospitais, devem ser estendidos para além do nível provincial, alcançando hospitais distritais e rurais em todo o país. Dr. Pascoal Mocumbi (2001) Acreditamos que um “consenso básico” sobre o aborto seja eventualmente possível, tendo como um dos fundamentos o respeito pela diversidade, que supõe que todas as pessoas são capazes de actuar como agentes morais completos. Dr. Aníbal Faúndes e José Barzelatto (2004) 8. Assegurar que as mulheres submetidas à aspiração para o esvaziamento intra-uterino recebam aconselhamento e apoio verbal. Permitir que cada mulher escolha a opção para controle da dor que lhe parecer melhor. Se ela escolher analgésicos orais, eles devem ser administrados 30 minutos antes do início do procedimento. Bloqueio paracervical, ansiolíticos ou sedação podem ser apropriados para mulheres muito ansiosas. A anestesia geral deve ser utilizada apenas em casos extremos. 29 9. Capacitar pelo menos dois membros da equipe de cada unidade sanitária em habilidades clínicas para realizar a AMIU e aconselhamento contraceptivo pós-aborto com provisão de métodos. ... ser possível oferecer regulação menstural e aborto electivo em todo o país, e a melhoria do acesso significará menos gravidezes não desejadas, e o aborto clandestino se tornará exceção. Dr. Pascoal Mocumbi (2001) A capacidade de monitorização e avaliação, incluindo o sistema de fiscalização, ainda é limitada, apesar de terem sido desenvolvidos indicadores de processos no campo da assistência obstétrica de emergência e algumas equipes técnicas distritais terem sido treinadas para fazer colecta de dados; mas o sistema de controle de informações precisa ser reforçado. Dra. Aida Libombo (2002) 10. Treinar supervisores nas províncias para monitorar a qualidade do atendimento nos distritos e unidades sanitárias. 11. Incorporar a atenção ao aborto no currículo das escolas formadoras de profissionais de saúde – particularmente aquelas que capacitam os vários profissionais de nível médio (por exemplo, técnicos, enfermeiras, funcionários da administração médica). 12. Garantir que todas as mulheres atendidas nos serviços de atenção ao aborto recebam aconselhamento contraceptivo antes da alta. As mulheres precisam compreender que sua fertilidade pode voltar ao normal em apenas 10 dias; devem ser informadas a respeito dos métodos disponíveis para evitar uma nova gravidez; e devem receber o método de contracepção na unidade sanitária em que foram atendidas ou, se não for possível, precisam ser encaminhadas a outra instituição onde possam obter o método. Já que nenhum método de contracepção é ideal para todas as mulheres, cada uma delas deve ter a possibilidade de escolher, entre as opções disponíveis e adequadas, a que melhor se adequa à sua situação. 13. Garantir que todos as unidades sanitárias forneçam preservativos e aconselhamento sobre redução de riscos, para evitar a transmissão do HIV e outras DTSs, uma vez que a prevalência de HIV é muito alta entre a população do país. 14. Realizar pesquisas que promovam uma melhor compreensão dos motivos que ocasionam os problemas actuais, assim como uma avaliação da exequibilidade de abordagens alternativas que possam atender melhor as necessidades das mulheres moçambicanas. Moçambique tem muitos pesquisadores experientes no campo do aborto, e o país deve aproveitar os especialistas disponíveis para continuar o estudo da exequibilidade de novos modelos de assistência descentralizada. O Ministério da Saúde está dedicar muita atenção ao papel dos trabalhadores que actuam na área da saúde fornecendo abortos ilegais, com a perspectiva de criar condições que melhorem o seu desempenho. O advento de métodos medicamentosos apropriados para a interrupção da gravidez, facilmente disponíveis, acessíveis financeiramente e clinicamente seguros, pode contribuir para reduzir a discrepância entre a grande demanda e os limitados recursos geralmente encontrados nos serviços dos hospitais públicos. Dr. Pascoal Mocumbi (2001) 30 Referências African Union. 2003. Protocol to the African Charter on Human and People’s Rights on the Rights of Women in Africa. Addis Ababa, Ethiopia. http://www.africa-union.org/ Official_documents/Treaties_%20Conventions_%20Protocols/ Protocol%20on%20the%20Rights%20of%20Women.pdf, (acessado pela última vez em 30 de junho de 2005). Agadjanian, Victor. 1998. “Quasi-legal” abortion services in a sub-Saharan setting: users’ profile and motivations. International Family Planning Perspectives, 24:111-116. Bugalho, Antonio, Aníbal Faúndes, Lilia Jamisse, M. Ustá, E. Maria e Cassimo Bique. 1996. Evaluation of the effectiveness of vaginal misoprostol to induce first trimester abortion. Contraception, 53:244-246. Bugalho, Antonio, Cassimo Bique, Luisa Almeida e Staffan Bergström. 1993. Pregnancy interruption by vaginal misoprostol. Gynecologic and obstetric investigation, 36:226-229. Bugalho, Antonio, S. Mocumbi, Aníbal Faúndes e E. David. 2000. 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