QUANDO PODEREMOS LER O NOSSO LIVRO? – VILLA-LOBOS E SUA FORMAÇÃO MUSICAL ENTRE CARTAS E (AUTO)BIOGRAFIA Ednardo Monteiro Gonzaga do Monti. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ [email protected] Palavras-chave: Villa-Lobos; cartas; (auto)biografia. Prezado Mariz: Muito obrigado pelo interesse dispensado a minha saúde, até hoje ainda abalada. Estava deliberado que deveria ser operado, mas após estudos, o meu médico preferiu fazer um tratamento embora demorado, evitando no entanto qualquer operação. A minha enfermidade privou-me de cumprir alguns convites no estrangeiro. Em Paris, mais de15 dias visitei diariamente os médicos e sofri enormemente. O consolo foi me ver cercado de grandes provas de carinho da maioria dos brasileiros e de todos os amigos franceses. [...] Quando poderemos ler o nosso livro? Villa-Lobos1 O texto supracitado é um trecho de um grupo de correspondências trocadas entre Villa-Lobos e Vasco Mariz. É focalizado, no presente artigo, o conjunto de cartas trocadas entre o maestro e o diplomata brasileiro que atuava na cidade do Porto, em Portugal, no período de construção da biografia Heitor Villa-Lobos que foi publicada em formato de livro, em 1949. Destaca-se que nesse período o músico passava por num tratamento de câncer na bexiga, doença que o levou a morte uma década depois. A primeira edição da biografia foi publicada em 1949 pela Divisão Cultural do Ministério das Relações Exteriores. Essa obra foi o primeiro livro sobre o músico e hoje, mais de seis décadas depois, está na 12º edição, que foi lançada, em 2005, com o título VillaLobos: Vida e Obra. Em mais de seis décadas o texto original passou por várias revisões, entretanto, essa cultura biográfica2 vale ser interrogada, pois “a história de vida é uma dessas noções do senso 1 Carta escrita por Heitor Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1948, Sessão Correspondências do Museu Villa-Lobos. 2 Na atualidade há um crescente interesse dos filósofos, sociólogos, antropólogos e historiadores pelo sentido do termo cultura. Sendo múltiplas e muito variadas as formas de sua produção e evolução surgem naturalmente comum que entraram como contrabando no universo científico; inicialmente, sem muito alarde, entre os etnólogos, depois, mais recentemente, com estardalhaço, entre os sociólogos.”3 Imagens das Capas4 Nessa direção, proponho então um novo olhar da biografia escrita por Mariz, um questionamento a partir das correspondências, o que talvez possa revelar o que não pode ser escrito no livro. Já que na escrita epistolar os elos de amizades, as cumplicidades, os atos de lealdade estão presentes, bem como as outras afetividades constituídas, como a decepção, a frustração; uma vez que “é uma forma de compartilhar vivências mais pessoais, íntimas e até mundanas”5 A utilização das correspondências é pertinente na medida em que esses documentos permitem “compreender itinerários pessoais e profissionais de formação, seguir a trama de afinidades eletivas e penetrar em intimidades alheias”6 As cartas utilizadas neste estudo foram selecionadas em dois arquivos. As primeiras correspondências foram encontradas na Sessão Correspondências no acervo do Museu que questionamentos sobre o significado do vocábulo, o que dificulta sua utilização e entendimento científico. (Werneck, 2003) Por não ser a cultura o objetivo desse estudo, um debate filosófico sobre os significados do termo tomaria muito “espaço”. Então, assumi-se aqui um conceito clássico de cultura que está associado ao efeito, ou modo, de cultivar. Em outras palavras, “o cultivo dos campos, sendo tomado, com o tempo, o significado de instrução, conhecimento adquirido” (idem, p.5); “o conjunto das representações e dos comportamentos adquiridos pelo homem como ser social.” (JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, 2006, p.63) 3 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína e FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). In: Usos e abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 183 4 Da esquerda para a direita, a primeira imagem é da edição de 1949; e a segunda figura é da publicação de 1989. 5 MIGNOT, Ana Chrystina Venancio. “Artesãos da palavra: cartas de um prisioneiro político tecem redes de idéias e afetos”. In. BASTOS, Maria Helena Camara, CUNHA, Maria Teresa Santos e MIGNOT, Ana Chrystina Venancio (orgs) Destinos das letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: EDUPF, 2002a. p. 5-6. leva o nome do maestro7, situado no bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Essas cartas iniciais sinalizaram a existência de outros documentos epistolares que foram encontrados no arquivo da Academia Brasileira de Música8. Instituição que foi criada no modelo da Academia Francesa de Música, em 14 de julho de 1945, por Villa-Lobos e, depois, presidida por Vasco Mariz de 1991 a 1993. O arquivo do órgão técnico-consultivo do Governo Federal está na sua sede, situada no Centro do Rio de Janeiro, na Rua da Lapa, 120. As correspondências escritas por ambos, biógrafo e biografado, são entendidas como significativas neste estudo. Portanto, não foram consideradas apenas as cartas escritas por Villa-Lobos, abordei também os documentos escritos por Vasco Mariz. Nos cruzamentos dos conteúdos das cartas são expostas as características dos seus remetentes e, simultaneamente, é revelado o perfil do destinatário, pois esse tipo de escrita, segundo Castilho Gómez, “busca seu interlocutor, reclama a presença da pessoa ausente”9. Por um lado, em 1948, como apontam as cartas, Mariz fomentava a participação do maestro no processo de construção do livro. Em uma de suas correspondências, chamava o biografado a participar da elaboração da biografia, incitando-o a agregar ao texto novos fatos: “Recebi há dias provas do nosso livro. Diga-me de suas últimas obras para que possa acrescentar algo mesmo na edição portuguesa. O que o senhor fez na Europa, etc,. Tudo que possa interessar.” 10 Por outro lado, quarenta anos depois, na edição de 1989, o diplomata demonstrou certo ressentimento com a intervenção do Maestro na obra. Nesta 11ª edição da biografia, Mariz revela que somente na 3ª edição, em 1967 - a primeira publicada após a morte de Villa-Lobos - conseguiu fazer algumas alterações desejadas por ele, o autor, e não pelo biografado. No final da década de oitenta afirmou mesmo que desde a 1ª. Edição se ressentiu com a atitude intervencionista do maestro – o que contraria suas atitudes nas cartas trocadas11 com VillaLobos naquele período em que escrevia o trabalho. No prefácio da edição de 1989 o diplomata escreveu: 6 MIGNOT, Ana Chrystina Venancio Cultura docente na prática epistolar: estudo sobre as cartas de professores para Anísio Teixeira (1931-1935). Rio de Janeiro: UERJ, 2002b. p.115. 7 http://www.museuvillalobos.org.br/ 8 http://www.abmusica.org.br/ 9 Apud ROCHA, Inês de Almeida. Canções de amigo: redes de sociabilidade na correspondência de Liddy Chiaffarelli Mignone para Mário de Andrade. 2010. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 10 Carta escrita por Vasco Mariz, em Portugal. Porto, em 12 de junho de 1948, Arquivo da Academia Brasileira de Música, Rio de Janeiro- RJ. 11 Vide texto já mencionado da Carta escrita por Vasco Mariz, em Portugal. Porto, em 02 de julho de 1948, Arquivo da Academia Brasileira de Música, Rio de Janeiro- RJ. A terceira edição apareceu em Paris, em edição Seghers, em uma série de livros sobre compositores célebres, 1967. Afinal podia apresentar meu trabalho em versão aparentemente definitiva, embora com perspectiva dirigida ao público francês e internacional. Havia vencido meu ressentimento contra a atitude do mestre em relação à primeira edição e preparei um texto que me satisfaz ainda hoje, Devo sua publicação a Guilherme Figueiredo, então Adido Cultural em Paris.12 Justamente naquele período em que a biografia foi escrita, as cartas eram constantes entre Mariz e Villa-Lobos. O biógrafo, diplomata brasileiro que trabalhava em Portugal, vivia na cidade do Porto e Villa-Lobos, o biografado, transitava em dois países, por ter duas residências. O músico mantinha um apartamento no Rio de Janeiro, então capital da república, e outro na França, em Paris, “capital musical” do mundo no período. DIPLOMACIA E MÚSICA Estou preparando, durante o verão, algumas canções suas para um programa “All Villa-Lobos”, que pretendo realizar aqui em Lisboa na próxima estação. [...] Ser-lhe-ai difícil escrever algo para mim? Ainda esse ano? Minha tessitura vai do lá grave até o mi médio, sendo melhor explorar o centro. Desculpe a ousadia, sim?13 Destaco que no documento supracitado, carta datada de 15 de agosto de 1948, que assim como o subtítulo do livro que valorizava o compositor brasileiro, havia algumas trocas entre os correspondentes que envolviam as habilidades criativas musicais de Villa-Lobos. Nessa perspectiva, numa forma de intercâmbio, por um lado, o biografado tinha suas obras divulgadas fora do país, na Europa. E, por outro lado, o biógrafo cantor podia interpretar obras inéditas, de alta qualidade e confortáveis a si, ou seja, compatíveis com sua extensão vocal. Sendo assim, a primeira biografia de Heitor Villa-Lobos foi escrita por um jovem cantor – de 25 ou 26 anos, recém-ingressado na carreira diplomática – e que foi publicada pela Divisão Cultural do Ministério das Relações Exteriores do governo Dutra, como pode ser constatado na capa à primeira edição. Nas informações encontradas na internet, especificamente nos sites do Governo federal, sobre a trajetória de Vasco Mariz, consta que o 12 MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989, p.8. Carta escrita por Vasco Mariz, em Portugal. Porto, em 15 de agosto de 1948, Sessão Correspondências do Museu Villa-Lobos. 13 biógrafo foi casado com Therezinha B. Dutra14, o que sugere uma relação de laços de parentesco com Eurico Gaspar Dutra, presidente do Brasil entre 1946 e 1951, período no qual foi escrita e publicada a primeira edição da biografia. Nas cartas trocadas entre Villa e Mariz15, o nome de Therezinha Dutra, o seu estado de saúde e outras informações são constantes, mas não há referências que embasem uma afirmação nessa direção. Portanto, não há nos documentos investigados achados que sustentem afirmações referentes a esta hipótese. Existindo ou não essa relação com o então presidente Dutra, na introdução da 11ª edição, publicada em 1989, o diplomata Vasco Mariz destaca os 40 anos da primeira edição do livro, também menciona o seu amadurecimento como biógrafo na trajetória das diferentes edições. Porém, não abandona nas primeiras páginas do livro a sua postura laudatória no que se refere ao biografado. Afirma o diplomata cantor: “A obra, afinal, é um canto sincero de louvor, ou não a teria escrito.”16 Como cantor, amigo, musicólogo e intérprete, Mariz parece ter seguido o “roteiro” dos relatos e de alguns documentos já escritos por Villa-Lobos. Em 1941, na Revista Música Viva, o Maestro publicou uma “Biografia Autêntica Resumida”, documento que pode ser considerado um esboço autobiográfico. Como explica Silva: “a etimologia da palavra autobiografia permite algumas interferências: ‘auto’ refere-se a próprio; ‘bio’, à vida; ‘grafia’ à escrita.”17 Como pode ser observada, a obra de Mariz em questão reverbera diversas ideias desse esboço autobiográfico e, inclusive, adota consideráveis juízos de valor escritos pelo músico. Vale ressaltar que numa autobiografia: [...] não só escolhemos alguns acontecimentos, como os ordenamos numa narrativa; a escolha e a classificação dos acontecimentos determinam o sentido que desejamos dar às nossas vidas. [...] escrever uma autobiografia, são práticas que participam mais daquilo que Foucault chamava a preocupação com o eu. Arquivar a própria vida é se pôr no espelho, é contrapor à imagem social a imagem íntima de si próprio, e nesse sentido o arquivamento do eu é uma prática de construção de si mesmo e de resistência.18 14 Disponível em: https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/5/13/na-duvida-calar/ Acessado em: 9 de julho de 2011. 15 Essas cartas podem ser encontradas no Museu Villa-Lobos – Sessão correspondências, Rio de Janeiro. 16 MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989, p.8. 17 SILVA, Márcia. Cabral. Uma história da formação do leitor no Brasil. 1ª. ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2009, p. 21 A Revista Música Viva não afirma que a “biografia autêntica resumida” foi produzida pelo maestro, o texto não está escrito na primeira pessoa do singular e não há pronomes possessivos. Entretanto, algumas evidências podem sinalizar a autoria do conteúdo em questão como um esboço autobiográfico, mesmo que o documento não afirme tal fato. Dentre outros aspectos, destaco: a caligrafia do educador que pode ser identificada num rascunhado desse esboço; o suporte da escrita, uma vez que as folhas são de um bloco de anotações com a logo do Hotel New Weston, logomarca que também foi encontrada no suporte de algumas outras cartas arquivadas na Sessão Correspondências do Museu Villa-Lobos. Assim, as análises das fontes indicam que as concepções villalobianas construídas por Mariz são bastante semelhantes à imagem que o Maestro construía de si mesmo. Nesse sentido, “tudo leva a crer que o relato de vida tende a aproximar-se do modelo oficial de si, carteira de identidade, ficha de estado civil, curriculum vitae, biografia oficial, bem como da filosofia da identidade que o sustenta.”19 Isso posto, reafirma as ideias de Chernavsky 20 sobre o fato de Vasco Mariz ter dividido a estrutura do seu primeiro livro sobre o músico em duas seções. “A vida de Heitor Villa-Lobos” e “A obra de Heitor Villa-Lobos.” Sendo que os oito capítulos que compõem a primeira sessão correspondem à mesma organização indicada no esboço autobiográfico: “Infância” (infância)21; “Os Chorões” e “Em busca da personalidade” (juventude); “O inovador” (inovador); “A Semana de Arte Moderna” e “Europa” (amadurecimento); e “Maturidade” e “O Educador” (maturidade). Também, nessa perspectiva de desdobramentos da imagem de Villa-lobos por si mesmo, vale destacar, que nesse grupo de cartas analisadas são constantes os termos “seu livro” ou “nosso livro”. Escreveu Mariz numa correspondência, com data de 31 de maio de 1948: Com minha partida, influências estranhas fizeram parar o trabalho na Imprensa Nacional com o seu livro. Graças aos bons ofícios do Embaixador 18 ARTIÈRES. Philippe. “O arquivamento de eu”. In: Estudos Históricos. CPDOC/FGV. 1998. vol. 11, n. 21, p. 11. 19 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína e FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). In: Usos e abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 188 20 CHERNAVSKY, Anália. Um Maestro no Gabinete: música e política no tempo de Villa-Lobos. 2003. 243 f. Dissertação (Mestrado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 21 Os termos entre aspas referem-se aos subtítulos do livro de Vasco Mariz e os outros, entre parênteses, indicam as subdivisões da autobiografia. Accioly e do Renato Almeida tudo agora está bem e muito breve teremos o prazer de folhear o nosso livro. (grifo do autor)22 Esta biografia escrita por Vasco Mariz multiplicou-se. Os conceitos contidos no livro Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro reverberou-se e reverbera-se numa série de outros livros que reproduzem suas informações e ideias. Em outras palavras, a obra do diplomata cumpre uma função de matriz para boa parte das biografias villalobianas.23 VILLA-LOBOS: O MITO NA BIOGRAFIA E O HOMEM NAS CARTAS Produzir uma história de vida, tratar a vida como uma história, isto é, como relato coerente de uma sequência de acontecimentos com significado e direção, talvez seja conformar-se com uma ilusão retórica, uma representação comum da existência que toda uma tradição literária não deixou e não deixa de reforçar. 24 A partir desse pressuposto teórico de Bourdieu, percebo que a biografia villalobiana, bem como o padrão clássico das biografias em geral, é caracterizada pela narração densa e pela utilização dos mecanismos literários. Não é pertinente esperar de Vasco Mariz, por ser um musicólogo, a utilização de critérios e formas de escrita específicas dos historiadores. Portanto, há certa conformidade com os outros biógrafos, o diplomata parece que procura apresentar uma trajetória progressiva de seu “personagem”, seu processo evolutivo no que se refere à sabedoria. Villa-Lobos é exposto numa vitrine que vai das primeiras aulas de música com o pai até o status de sobrenatural, de um artista não compreendido por estar à frente de seu tempo, inalcançável para a quase totalidade dos músicos. Em 1948, o Maestro numa carta escreveu: 22 Carta escrita por Vasco Mariz, em Portugal. Porto, em 31 de maio de 1948, Sessão Correspondências do Museu Villa-Lobos. 23 Seguem as referências de alguns livros com estrutura bem próximas à obra em questão. HORTA, Luiz Paulo. Villa-Lobos: Uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987. MURICY, Andrade. Villa-Lobos – Uma interpretação. Ministério da Educação e Cultura. s/d. PERPPERCORN, Lisa. Villa-Lobos: Biografia ilustrada do mais importante compositor brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000. MAIA, Maria. Villa-Lobos: alma brasileira. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2000. SCHIC. Anna Stella. Villa-Lobos: O Índio Branco. Rio de Janeiro, Editora Imago, 1989. SILVA, Francisco Pereira da, Villa-Lobos. São Paulo: Editora Três, 1974. SILVA, Maria Augusta Machado da, Um homem chamado Villa-Lobos. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/Secretaria Municipal de Cultura, 1988. 24 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína e FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). In: Usos e abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 185 Para coroar a minha carreira artística, tão cheia de longos anos de incompreensão de quase todos os meus patrícios e dos inúmeros sacrifícios e aborrecimentos que passei durante minha vida intima e material, tive grande honra de merecer da Academia de Belas Artes do Instituto de França, o título de Membro correspondente, na vaga de Manuel de Falla. Confesso-lhe que é um título que muito me desvanece e me enche de orgulho.25 Na biografia Mariz não destaca as frustrações do músico, entretanto, ressalta a genialidade do biografado, há na biografia que desde pequeno Heitor Villa-Lobos foi bem sucedido em sua trajetória ligada à música, em consonância com o esboço autobiográfico. Nessa perspectiva, na tenra infância teve as primeiras lições de música com seu pai, Raul Villa-Lobos, de ascendência espanhola, funcionário público da Biblioteca Nacional que morreu em 1899. Ele lhe ensinava a tocar violoncelo usando improvisadamente uma viola, devido ao tamanho de “Tuhú”.26 No sentido de constante progresso intelectual, Mariz escreve: “Desde os seis anos de idade, aprendera com o pai a tocar violoncelo em uma viola especialmente adaptada para aquele fim. No ano seguinte27, já improvisava melodias simples, baseadas nas cantigas de roda [...]”28 O principal biógrafo do Maestro, Vasco Mariz29, resalta que a influência do pai foi importante na formação musical, além de ser determinante na sua escolha profissional. O especial interesse de Raul Villa-Lobos pelo Tuhú foi patente. Exigia dele o que não pedia aos outros filhos: despertou-lhe o gosto pela música, ensinou-o a tocar violoncelo e clarinete. Não tivesse Heitor Villa-Lobos vivido naquele ambiente musical, muito provavelmente ter-se-ia feito médico [de acordo com o desejo de sua mãe], ou ainda seguido a inclinação que sentia pela matemática ou pelo desenho. Segundo Mariz 30 , o ambiente do lar de Villa-Lobos era privilegiado com a boa música, compatível com sua genialidade. Em muitas noites era ouvida a sonoridade do violoncelo de Raul a propagar-se pela rua do Riachuelo, encantando suavemente os vizinhos. Mas o funcionário público não se contentava em tocar sozinho, chamava os amigos e organizava verdadeiros concertos em sua residência. Respeitados nomes da época, como Manoel Vitorino que, posteriormente, foi vice-presidente república, participavam ativamente dos grupos de câmara que tocavam até altas horas da noite. 25 Carta escrita por Heitor Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1948, Sessão Correspondências do Museu Villa-Lobos. 26 Apelido de origem indígena que Villa-Lobos disse ter na infância. 27 Grifado pelo autor do artigo. 28 MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989, p.25. 29 Ibidem, p.22 30 MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro. Rio de Janeiro: Serviço de Publicações/Ministério das Relações Exteriores/Divisão Cultural, 1949. Segundo Vasco Mariz, a influência do pai foi importante na formação musical do Maestro. Assim como a herança Bachiana herdada da Tia. Segundo o biógrafo: Duas coisas pareciam-lhe incomuns: Bach e a música caipira. Havia uma força irresistível que o atraia para Bach. Sua idade impedia-o de compreendê-lo imediatamente, mas isso, no momento, pouco se lhe dava. [...] Responsável por isso foi tia Zizinha, boa pianista e grande entusiasta do Cravo Bem Temperado.31 E o pequeno Villa-Lobos extasiava-se diante dos prelúdios e fugas que a tia lhe tocava.32 Já sobre a adolescência, em 1903, o biógrafo ressalta que aos quinze anos Villa-Lobos concluiu os estudos básicos no Mosteiro de São Bento e aprendeu sozinho a tocar violão, instrumento que teve que estudar as escondidas. Mariz sinaliza que “O fanatismo pelos chorões não impediu que Villa-Lobos prosseguisse o seu curso de humanidades no mosteiro de São Bento.”33 Nesse sentido de reconhecimento, o teor das cartas escritas por Villa-Lobos insinua que ele nem sempre ficava muito satisfeito com o texto do diplomata, parece que o maestro desejava que seu bom desempenho ficasse mais evidente na biografia. No processo de construção do texto o músico escreveu: “Agradeço-lhe a remessa e felicito-o pelo trabalho que está realizando, apenas lastimo que emitiu muitas opiniões sem perfeito conhecimento das minhas qualidades e habilidades artísticas, pessoalmente exporei a você.” 34 Por um lado, na biografia é mencionado que essa relação com os chorões não era aceita pela família, nem bem vista pela polícia, pois muitas vezes era encontrado entre os jovens boêmios que passavam as madrugadas cantando e tocando embriagados pelas ruas cariocas. Por outro lado, essa relação do jovem Villa-Lobos com as rodas de choro, a música urbana, aparece tão marcantemente vinculada à série de obras mais importantes da fase adulta do Maestro, representada em: os Choros. No livro Mariz parece querer evitar transparecer para o leitor que o compositor fazia certo comércio com a dedicatória das peças. Por exemplo, o principal Choro, o de número 11, composto em 1928, um “verdadeiro concerto” para piano e orquestra, foi dedicado a Arthur Rubinstein, famoso músico polonês e um dos maiores pianistas do século passado. Esse artista foi peça fundamental na carreira de Villa-Lobos, na verdade seu “passaporte” para a França 31 Bach usou o título Das Wohltemperierte Clavier no primeiro volume (1722) para o seu livro de prelúdios e fugas em cada uma das tonalidades maiores e menores (hoje o título é aplicado habitualmente aos dois livros dessa coleção); o título alemão seria bem mais preciso se traduzido como “O Teclado bem temperado”, ou “O instrumento de teclado bem temperado.” (GROVE, 1994) 32 MARIZ, Vasco. Op. Cit., p.26 33 Ibidem, p.33 ao estabelecer o contato do Maestro com a família Guinle35, mas o biógrafo não faz essa referência. Nesse grupo de peças, nos Choros compostos por Villa-Lobos, principalmente no Nº 11 escrito para piano e orquestra, a beleza da juventude boêmia articulada com a maturidade da textura sinfônica orquestral.36 Entretanto, por ser uma peça de intensa dificuldade técnica e interpretativa, é dificilmente apresentada e raramente gravada, por temeridade dos intérpretes em concebê-la e ser considerada, por isso, “intocável”. A grande dificuldade das peças villalobianas de concerto parece que impediam o próprio compositor de tocá-las. Algumas delas demandam investimentos de meses ou, até mesmo, de anos para serem tocadas com uma qualidade aceitável. Daí surgem alguns bons pianistas brasileiros que dizem não mais tocar essa peça e o termo “devotado à obra” como um adjetivo dos virtuosos pianista José Vieira Brandão que gravou a obra. Apenas em 2005 a pianista Cristina Ortiz quebrou esse mito entre os pianistas brasileiros.37 Porém, não foi abordado por Mariz na biografia e pelo Maestro nas cartas, que antes desse pianista “devotado à obra” rever as músicas, que o compositor para revisar os dedilhados e a textura pianística de suas peças, utilizava-se inicialmente das habilidades de sua primeira esposa, Lucília Villa-Lobos, aluna Medalha de Ouro do Instituto Nacional de Música.38, o que também não é mencionado na biografia de Mariz. Como afirmou Artières: não pomos nossas vidas em conserva de qualquer maneira; não guardamos todas as maçãs da nossa cesta pessoal; fazemos um acordo com a realidade, manipulamos a existência: omitimos, rasuramos, riscamos, sublinhamos, colocamos em exergo certas passagens. [...] Na correspondência que recebemos, jogamos algumas cartas diretamente no lixo, outras são conservadas durante um certo tempo, outras enfim são guardadas; com o passar do tempo, muitas vezes fazemos uma nova triagem. 39 34 Carta escrita por Heitor Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, em 6 de novembro de 1948, Sessão Correspondências do Museu Villa-Lobos. 35 A família Guinle está associada à elite cultural, financeira e social carioca. No século passado, desde a primeira década, destacaram-se como mecenas no Brasil. 36 Segundo os critérios estéticos do autor deste artigo, o Choro Nº 11 de Villa-Lobos é a mais “bela” peça de concerto brasileira. 37 Gravação de 2005 por Cristina Ortiz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cuOgETvQ8GU Acessado em; 17 de fevereiro de 2013. 38 Até hoje a Escola de Música da UFRJ, então Instituto Nacional de Música, confere anualmente esse prêmio aos melhores alunos de Piano. 39 ARTIÈRES. Philippe. “O arquivamento de eu”. In: Estudos Históricos. CPDOC/FGV. 1998. vol. 11, n. 21, p. 3 Nessa perspectiva de destaques e camufles, a biografia também apresenta um clichê comum entre os mitos como justificativa, o fato dos gênios não serem compreendidos pela academia. Assim, nas correspondências Mariz parece sondar a possibilidade de fazer críticas à Escola Nacional de Música. Em uma das cartas distante da diplomacia escreveu, Meu Caro Maestro, [...] Li sua entrevista no “O Jornal” e estou de pleno acordo com o senhor. Não há nada de mais provinciano que a Escola Nacional de Música. Tudo que hoje existe de interessante em música, no Brasil, está fora dela. [...] Continue a impulsionar o Conservatório de Canto Orfeônico, que é de suas maiores realizações. Se um grupo de imbecis não lhe reconhece o valor, não se deixe abater! [...] Com um abraço saudoso do admirador e amigo, Vasco40 Na biografia, o contexto da carta supracitada aparece articulado com questões da juventude do Maestro. No livro o diplomata explica que no final da década de 1910, o biografado ingressou no Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro, atual Escola de Música da UFRJ, mas que não chegou a concluir o curso devido a sua incompatibilidade e descontentamento com o ensino acadêmico. Entretanto, segundo a biografia, a falta de uma formação oficial não foi empecilho para a ascensão do biografado, que foi buscar seu reconhecimento no exterior, pois “uma pessoa à frente de seu tempo” não poderia ser entendida num país ainda pouco civilizado. Assim, segundo Mariz, que no decorrer dos primeiros meses que o maestro passou em paris “Villa-Lobos viveu dos estipêndios dos amigos do Rio. Não tardou, porém, a equilibrar sua vida financeira, pois conseguiu vender muitas composições e obteve alguns alunos. Em breve, com auxílio de Arnaldo Guinle e Olívia Penteado, montou uma casa encantadora.”41 Outro contraste das cartas com a biografia é a relação com Rubinstein, pois na biografia o pianista e os Guinle aparecem com um “breve apoio” ao maestro, já nas cartas consta certa permanência na busca de recursos. Sobre essas relações, as cartas insinuam que além dos dividendos financeiros, elas traziam outras benesses à Villa-Lobos. Por exemplo, na cidade do Porto, o diplomata escreveu para avisar ao destinatário que haveria um programa radiofônico da Emissora Nacional Portuguesa “para toda Europa, com musica brasileira será inaugurado na próxima semana com sua Prole do Bebê Nº 1, tocado pelo Rubinstein. Por falar 40 Carta escrita por Vasco Mariz, em Portugal. Porto, em 02 de julho de 1948, Arquivo da Academia Brasileira de Música, Rio de Janeiro- RJ. 41 MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro. Rio de Janeiro: Serviço de Publicações/Ministério das Relações Exteriores/Divisão Cultural, 1949, p.59 nele, aqui o teremos a 25 de novembro. Pretendo oferecer-lhe um jantar e falar muito no senhor.” 42 No livro Villa-Lobos: compositor brasileiro Mariz parece querer evitar transparecer para o leitor que o compositor fazia certo comércio com a dedicatória das peças. Na biografia mostra-se o músico polonês como um admirador e divulgador do repertório villalobiano. Já nas cartas o pianista sempre é apresentado como uma peça chave indispensável, que precisa ser conquistada a todo tempo. Deve ser considerado que em 1948, no período em que essas cartas foram escritas, o maestro estava com a saúde muito fragilizada por conta de um tratamento de câncer, motivo de sua morte dez anos depois. Assim, aparece na biografia escrita por Mariz as representações do mito Villa-Lobos e, em contraste, nas cartas, há expressões das fragilidades do homem, pois “escrever cartas é, para muitos, além de uma emoção, uma forma de ousar, de ser transparente e vulnerável com a pessoa que se convida a participar desse processo, porque estamos escrevendo para alguém. Como resultado, constrói-se a confiança, cresce a intimidade.”43 CONCLUSÃO Percebo que Mariz fez uma filtragem das cartas para o livro, uma transposição com a diplomacia que o Ministério das Relações Exteriores demandava. Com todo cuidado conseguiu satisfazer o Ministério que publicou o livro; entretanto, seu esforço não foi suficiente para atender às expectativas do maestro. Por mais que o diplomata tentasse retratar na biografia a imagem que Heitor Villa-Lobos fazia de si mesmo, isso não o satisfez plenamente. O biógrafo ficou consciente dessa realidade e a relatou: Em 1976, Arminda44 quebrou o gelo e caí das nuvens pelo motivo: Villa-Lobos ficara furioso porque eu havia escrito que ele dava cascudos nas crianças que participavam nas concentrações de canto orfeônico! Bem, eu levei um cascudo leve, mas jamais tive a intenção de afirmar que ele batia sistematicamente nas crianças para obrigá-las 42 Carta escrita por Vasco Mariz, em Portugal. Porto, em 29 de outubro de 1948, Arquivo da Academia Brasileira de Música, Rio de Janeiro- RJ. 43 BASTOS, Maria Helena Camara, CUNHA, Maria Teresa Santos e MIGNOT, Ana Chrystina Venancio (orgs) Destinos das letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: EDUPF, 2002a. p.6. 44 Arminda Villa-Lobos - segunda esposa de Villa-Lobos. Muito conhecida como Mindinha Villa-Lobos. a cantar! Entretanto, revisei minha redação desse episódio para me redimir com a memória do mestre [...] Recordo, aliás, que Luiz Heitor também sofreu com as iras do compositor.45 Então, conclui-se que as cartas trocadas entre Villa-Lobos e Vasco Mariz revelaram as representações do biografado profundamente na medida em que apresentaram o mito e o homem. O mito valorizado no livro Villa-Lobos: compositor brasileiro torna-se mais humano e transparente quando contrastado com as escritas epistolares em questão, pois parecem ser mais reveladoras que a própria imagem comercial que o Maestro fazia de si no esboço autobiográfico e na biografia escrita por Mariz. Termina-se este estudo com muitos encantamentos e questionamentos oriundos de um apaixonante mito que aqui se tentou de alguma maneira desmistificar. As leituras dessas cartas continuam e acontecem de diferentes maneiras, pois o maestro Villa-Lobos deixou uma pista que está registrada como seu epitáfio no Cemitério São João Batista: “Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade sem esperar resposta”46 Villa- Lobos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTIÈRES. Philippe. “O arquivamento de eu”. In: Estudos Históricos. CPDOC/FGV. 1998. vol. 11, n. 21, p. 9-34. BATISTA, Antônio. Augusto. Gomes. Papéis velhos, manuscritos impressos: paleógrafos ou livros de leitura manuscrita. In: Márcia Abreu; Nelson Schapochnik. (Org.). Cultura letrada no Brasil: objetos e práticas. 1 ed. Campinas: Mercado de Letras, 2005, v. , p. 87-116. BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína e FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). In: Usos e abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 183-191. CHERNAVSKY, Anália. Um Maestro no Gabinete: música e política no tempo de VillaLobos. 2003. 243 f. 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MIGNOT, Ana Chrystina Venancio. “Artesãos da palavra: cartas de um prisioneiro político tecem redes de idéias e afetos”. In. BASTOS, Maria Helena Camara, CUNHA, Maria Teresa Santos e MIGNOT, Ana Chrystina Venancio (orgs) Destinos das letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: EDUPF, 2002a. p. 115-136. __________________________. Cultura docente na prática epistolar: estudo sobre as cartas de professores para Anísio Teixeira (1931-1935). Rio de Janeiro: UERJ, 2002b. MURICY, Andrade. Villa-Lobos – Uma interpretação. Ministério da Educação e Cultura. s/d. MIGNOT, Ana Chrystina Venancio; BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos (orgs.). Refúgios do eu: educação, história, escrita autobiográfica. Florianópolis: Mulheres, 2000. RICOEUR, Paul, A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora UNICAMP, 2008. ROCHA, Inês de Almeida. Canções de amigo: redes de sociabilidade na correspondência de Liddy Chiaffarelli Mignone para Mário de Andrade. 2010. 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