Propondo e avaliando metodologia para o uso do laptop educacional no programa PROUCA Adriano C. Teixeira, Betine D. Setti, Jeanine Piovesan, Marco Antônio S.Trentin, Thaíse U. de Jesus [email protected], [email protected], [email protected], [email protected],[email protected] Abstract. This text is the result of the development of scientific research project "One Laptop per Child: proposing and evaluating methodologies and pedagogical models" funded by CNPq, aiming to promote digital inclusion and enhance the use of this technology in public school. The monitoring of activities at school revealed difficulties that caused discomfort and discouragement of the device use in the classroom. These assumptions, along with surveys and workshops with the teachers of the school, led to propose a methodology for producing videos and audios by students. However, due to weaknesses present in the devices, the proposal couldn't be developed using only the educational laptop. Resumo. Este texto é resultado do desenvolvimento do projeto de pesquisa científica "Um Computador por Aluno: propondo e avaliando metodologias e modelos pedagógicos", financiado pelo CNPq, com o objetivo de promover a inclusão digital e aprimorar a utilização dessa tecnologia em escola da rede pública. O acompanhamento das atividades na escola revelou dificuldades que causavam desconforto e desmotivação no uso do aparelho em aula. Essas premissas, em conjunto com pesquisas e oficinas realizadas com os docentes da escola, conduziram para propor a metodologia de produção de vídeos e áudios pelos alunos. No entanto, devido a fragilidades presentes no aparelho, a proposta não pode ser desenvolvida apenas utilizando o laptop educacional. 1 Introdução A Escola Estadual de Ensino Fundamental Manuel Arruda Câmara, no município de Carazinho (RS), recebeu 486 laptops CCE, em maio de 2010, para serem utilizados pelos alunos dessa escola, em decorrência de ter sido uma das cinco escolas do Estado selecionadas para a implantação do Projeto Um Computador por Aluno (PROUCA) – [...] uma iniciativa da Presidência da República coordenada em conjunto com o MEC- Ministério da Educação que tem por objetivo promover a inclusão digital pedagógica e o desenvolvimento dos processos ensino-aprendizagem de alunos e professores das escolas públicas brasileiras, mediante a utilização de computadores portáteis denominados laptops educacionais. (BRASIL Programa um computador por aluno: manual, 2010). A acolhida da iniciativa de um grupo de professores da Universidade de Passo Fundo (RS) pela escola permitiu que fosse elaborado e encaminhado ao CNPq (Edital CNPq/CAPES/SEED-MEC nº 76/2010) para apreciação o Projeto Um Computador por Aluno: propondo e avaliando metodologias e modelos pedagógicos que tem por objetivo, a partir do acompanhamento inicial das atividades com o laptop na escola, propor, executar e avaliar uma metodologia pedagógica alternativa de apropriação do laptop educacional em contexto escolar que considere o potencial da tecnologia e a dinâmica instituída pelo PROUCA. Esse projeto foi aprovado em setembro de 2011 com duração de dois anos, e fazem parte da sua equipe de trabalho: Prof. Dr. Adriano Canabarro Teixeira (coordenador geral), Prof. Msc. Betine Diehl Setti (responsável metodológico), Prof. Dr. Marco Antônio Sandini Trentin (responsável técnico), Prof. Dr. Edemilson Jorge Ramos Brandão (coolaborador didático), dois acadêmicos da área de Tecnologias da Informação (equipe técnica de monitores), quatro acadêmicas do curso de licenciatura em Matemática (equipe didático-pedagógica de monitores). Embora uma das ações do projeto seja o refinamento metodológico das atividades propostas na escola, com base na experiência da Universidade de Passo Fundo na área de inclusão digital e a construção de experiências de inclusão digital com as diferentes instituições sociais, preliminarmente, encaminhou-se para a execução do projeto contemplando três perspectivas: (Frente 1) Reconhecimento da dinâmica imposta pelo programa PROUCA e formação de professores; (Frente 2) Proposta metodológica; (Frente 3) Realização, acompanhamento e avaliação de experiência piloto na escola. 2 Frente 1 – A dinâmica imposta na escola pelo programa PROUCA 2.1 Reconhecimento da dinâmica Para inteirar-se na dinâmica da escola, quanto à utilização e aceitação dos laptops pelos professores e alunos, os estagiários do projeto realizaram 36 acompanhamentos em sala de aula, durante os meses de novembro e dezembro de 2011. Nessa etapa, o objetivo era reconhecer os desdobramentos e implicações da presença do PROUCA na escola por meio do acompanhamento, observação e registro das práticas envolvendo o laptop educacional. Além disso, foram realizados encontros de reconhecimento para obter as percepções de professores, dirigentes e alunos com relação à presença do laptop educacional na escola. O procedimento das observações na sala de aula tinha início quando os alunos chegavam na sala de informática para retirar os laptops de sua turma, ocasião em que um dos estagiários auxiliava e os conduzia até a sala de aula. Ao chegar na sala de aula, o estagiário pedia permissão a professora para acompanhar o andamento da aula. Durante os acompanhamentos foram observados as reações e falas, as dificuldades, as requisições e as demandas dos professores e alunos, além das adversidades técnicas apresentadas pelo laptop; as percepções eram registravam primeiramente por escrito e, em seguida, eram compartilhadas com todo o grupo em arquivo do Google Docs. Os estagiários procuravam resolver os problemas que surgiam com o uso dos laptops sempre que solicitados, primando pela discrição para que sua presença não interferisse na dinâmica da aula. Devido a pouca afinidade dos professores com o sistema operacional Metasys disponível no laptop e que foi percebida por meio das respostas obtidas com questionário aplicado aos professores da escola, percebeu-se alguns movimentos de resistência ao uso do aparelho e ao estudo das potencialidades da ferramenta no ensino. Na maioria dos casos, o planejamento das aulas não incluía atividades diferenciadas ou criativas utilizando a tecnologia, o que poderia explicar a atitude dos alunos na sala de aula que preferiam jogar ou assistir vídeos ao invés de participar das aulas. Na sala de informática o grupo assessorava no carregamento e nas requisições dos laptops, bem como na organização dos computadores e no atendimento aos alunos e funcionários da escola. Para identificar as dificuldades encontradas entre os usuários de diferentes faixas etárias, a observação foi realizada nas turmas das séries iniciais e finais do Ensino Fundamental. Posteriormente, estes dados foram analisadas com o objetivo de diagnosticar as dificuldades tanto técnicas como metodológicas encontradas no cotidiano dos usuários. O processo de implementação do projeto UCA e a entrada dos laptops no cotidiano da escola decisivamente provocam instabilidade nas instâncias escolares. A equipe diretiva e os professores deparam-se com as mudanças, dificuldades relacionadas às inovações pedagógicas almejadas, novas necessidades e demandas dos alunos, novas necessidades de organização dos tempos e espaços e, inevitavelmente, com sentimentos de despreparo profissional e insegurança. Para enfrentar esse desafio o engajamento do grupo de professores é fundamental, pois é a ação docente que efetiva as práticas curriculares, suas mudanças e permanências, indicando a necessidade da formação específica dos professores para o uso das tecnologias nos processos de ensino e de aprendizagem na implantação do Projeto UCA. Durante as observações, os dados gerais colhidos sobre a turma e sobre o professor que ministrava a aula não se relacionaram a avaliação, pois o enfoque da pesquisa direciona-se para o uso do laptop educacional na sala de aula. Diante da metodologia empregada pelos professores com os alunos da escola foi possível evidenciar alguns elementos que dificultam a proposição de atividades usando os recursos do laptop pelos professores encontradas em Teixeira, Setti e Trentin (2012, p. 10-11). Cabe salientar ainda que a qualidade do instrumento é definida pelo uso que é feito dele. Essa premissa conduz a uma percepção que se destacou durante as observações em sala de aula quanto ao uso da pesquisa na web – uma das atividades mais requeridas pelos professores – que geralmente era realizada sem delimitação ou indicações de sites prescindindo de análise ou reflexão sobre a credibilidade das informações contidas nos sites acessados pelos alunos. Quanto às questões técnicas que dificultam o trabalho com o laptop, observou-se que algumas vezes os alunos não conseguiam concluir a atividade proposta, pela demora na recepção de dados da Internet e/ou pela demora de resposta do laptop para responder aos comandos. A partir do uso contínuo dos laptops, observou-se que alguns começaram a apresentar problemas como: falhas na inicialização do sistema por estarem com falta de espaço no disco rígido; ícone do gerenciador de redes desaparecer da barra de tarefas; monitor travar em uma tela preta; falhas na configuração do áudio do Classmate, dentre outros. O suporte para preparação dos mesmos era dado pelos integrantes da equipe do projeto e professores responsáveis pelo laboratório de informática da escola. 2.2 Formação A fim de reafirmar o acordo com os professores da escola e contribuir com a proposta de formação a ser oferecida pelo grupo de pesquisa foi elaborado um questionário com 13 perguntas para analisar o perfil dos professores e explorar as demandas vinculadas a utilização do laptop no ambiente escolar. O questionário foi entregue a 24 professores da escola e respondido por apenas 17 professores. Conforme as informações conseguidas com o questionário, todos os docentes possuem e fazem uso de computador pessoal e apenas um não possui acesso a internet em sua residência. O computador é utilizado pelos professores para fazer pesquisas, ler e enviar e-mails, preparação de aulas e trabalhos escolares, participação em redes sociais, notícias, consulta bancária, estudo em ambiente virtual, etc. Os professores também foram questionados quanto ao uso do laptop em sala de aula, sendo que dois responderam que não utilizam e os demais responderam que usam para realizar pesquisa, propor jogos do laptop e da internet, produzir textos, entre outras atividades. A pergunta sobre a dificuldade no manuseio do laptop revelou que grande parte dos professores não tem conhecimento dos recursos oferecidos pelo laptop. Quanto à questão da inserção do laptop em sala de aula, sete professores não responderam e os demais declararam que o principal obstáculo é conseguir que os alunos não se dispersem da atividade proposta. Encerrando o questionário foi solicitado aos docentes que indicassem os recursos conhecidos do laptop, sendo que, dos 19 softwares disponíveis, apenas 4 são conhecidos por cerca da metade dos respondentes. No que diz respeito à dificuldade na parte operacional, as mais frequentes foram as relacionadas à quanto a velocidade de processamento do laptop, a falta de conhecimento dos recursos dos laptops, o tamanho da tela, como solucionar um erro inesperado e a demora do acesso a internet. Os resultados das observações conduziram para a necessidade ou pertinência de oferecer aos professores e alunos da escola uma proposta de formação visando minimizar as dificuldades por eles apresentadas, colaborar com a implementação do PROUCA na escola e oportunizar o acesso a conhecimentos e recursos que permitam ao professor redimensionar a sua prática pedagógica. A ideia de convidar os discentes, que tivessem disponibilidade e interesse de participar das oficinas, surgiu diante da necessidade de amparar os professores para que pudessem utilizar o laptop com mais confiança, incentivando o protagonismo dos alunos durante as aulas e desenvolvendo mais habilidades e maior autonomia, podendo contribuir com seus professores e colegas. A escola decidiu convocar apenas os alunos acima do 5° ano, ponderando que as crianças menores não conseguiriam acompanhar o andamento das oficinas, o que se confirmou em uma das oficinas que teve a participação de uma aluna do 3° ano. O curso integralizou oito oficinas que tiveram como finalidade apresentar todos os softwares educativos disponíveis no laptop e potencialidades para uso em sala de aula. Conforme a necessidade de alguns professores da escola e para facilitar o andamento da formação, o grupo decidiu iniciar pelos procedimentos básicos: salvar um arquivo da internet ou de um pen drive, visualizar os arquivos das pastas e de um pen drive, alterar o tamanho da resolução da tela, tirar uma foto usando webcam, abrir e editar no software de edição de texto, habilitar/desabilitar rede, entre outros. A metodologia do curso de formação privilegiou processos e métodos acessíveis para efetivar a compreensão considerando o limitado conhecimento tecnológico dos docentes com o uso do laptop. Durante as oficinas primeiramente eram apresentados os objetivos e descrições das funções do aplicativo escolhido para aquele encontro, em seguida eram iniciadas as atividades práticas e, na medida em que um estagiário explicava os procedimentos, os professores executavam, acompanhando o seu desenvolvimento na tela de projeção, enquanto os outros componentes do grupo ficavam a disposição para esclarecer dúvidas e auxiliar na realização das atividades propostas. Após a oficina, os estagiários registravam em um arquivo no Google Docs as reações, comentários, questionamentos e dificuldades demonstrados pelos participantes, além de disponibilizar um site para os participantes realizarem a avaliação do encontro. 3 Frente 2 - Proposta metodológica Levando em conta o objetivo do projeto que é propor uma metodologia pedagógica de apropriação do laptop e ressaltando as formas como o laptop vem sendo usado na escola; a concepção de que é fundamental explorar o potencial autoral doa estudantes e as ferramentas de geração de conteúdo dos laptops; a disponibilidade de algumas professoras da escola: os recursos de hardware e software disponíveis no laptop e o perfil dos alunos da escola, definiu-se pela proposta e condução de uma metodologia para a construção de vídeos ou áudios por grupos de alunos de duas turmas da Escola Estadual de Ensino Fundamental Manuel Arruda Câmara: o segundo ano do turno da tarde e o quinto ano do turno da manhã, liderados pelas professoras Sabrina e Elaine, respectivamente, devido ao envolvimento dessas professoras nas oficinas de formação promovidas pela equipe de pesquisadores na escola. A proposta da construção de vídeos envolvendo conteúdos que fazem parte do programa que se encontra no Plano Pedagógico da escola foi elaborada em conjunto com as professoras da classe, assim como a definição dos procedimentos e estratégias de ação que viabilizassem a execução da proposta. Para isso foram elaborados planos de ação contemplando a preparação, a seleção dos conteúdos, pesquisas de reconhecimento na web, elaboração dos roteiros para gravação, cronograma de filmagens ou montagens, edição dos produtos, disponibilização do material produzido. Com o intuito de avaliar melhor os conhecimentos prévios dos alunos e planejar a fase de apropriação dos recursos necessários para a construção dos vídeos/áudios, primeiramente foram apresentados os aplicativos a serem trabalhados e possibilitado momentos de utilização livre para verificar o desempenho e habilidade dos alunos da escola na familiarização com os aplicativos necessários para a realização da proposta. Nessa experiência foi possível verificar que os alunos aprendem rapidamente a manusear os recursos do laptop, entretanto, quando as duas turmas selecionadas para a aplicação da metodologia utilizaram o Audacity sentiram um pouco de dificuldade em salvar e visualizar o arquivo após ser salvado, pois isso demanda que eles acessem pastas e alterem a extensão do arquivo para que possa ser escutado. Para esclarecer o objetivo do trabalho foram selecionados alguns vídeos com paródias, teatros, desenhos e áudio narrando uma história lúdica que explica um conteúdo, para que os alunos visualizassem exemplos de atividades semelhantes que subsidiassem o trabalho de criação, em grupo, do seu próprio vídeo ou áudio. A turma da manhã foi dividida em sete grupos de 3 ou 4 componentes que, com a ajuda das estagiárias de licenciatura e da professora, escolheram um tema para execução do trabalho. Os temas elegidos foram: Tabuada: criação de uma paródia com a tabuada do nove e do três e gravaram apenas o áudio; Prevenção de acidentes: paródia intitulada Ai, se eu me cuido, que foi gravada em áudio; Alimentação: os alunos elaboraram a paródia Abecedário das Frutas, gravada apenas em áudio; Cinco sentidos: inicialmente foi gravada apenas em áudio a explicação sobre cada um dos sentidos pelos componentes do grupo e, posteriormente, foram agrupadas imagens e áudio no vídeo; Fábulas 1: a história O lenhador e a raposa foi encenada por todos os componentes e filmada em suas residências devido a necessidade de árvores na gravação do vídeo; Fábulas 2: gravação em áudio contando a fábula do Cão raivoso que foi ilustrada com fotos anexadas ao áudio; Leis de trânsito: a narração de cada componente do grupo foi associada a imagens da Turma da Mônica sobre o trânsito. A turma do turno da tarde também foi dividida em sete grupos com 3 ou 4 componentes, selecionando os temas de trabalho: Estações do ano: cada componente do grupo gravou o áudio sobre uma das estações e depois imagens foram inseridas acompanhando a narração de cada um no vídeo; Animais: narrativa em áudio sobre as características do animal de sua preferência usando o Audacity com imagens dos animais anexadas para compor o vídeo; Hora exata: os alunos desenharam relógios marcando as horas correspondentes a atividades diárias do cotidiano, em seguida, cada componente foi filmado falando sobre a atividade associada ao horário de seu relógio; Valores: vídeo em teatro, sobre os seguintes valores: cuidar dos idosos, cuidar das plantas e dos animais e não jogar lixo no chão; Alimentação: filmagem de teatro mostrando a importância da boa alimentação; Plantas: foram realizados desenhos de algumas plantas, anexados aos áudios, dos componentes do grupo relatando as características das plantas; Meios de comunicação: criação de uma apresentação no KPresenter com o auxílio dos estagiários, mostrando as imagens que foram selecionadas pelos componentes do grupo, enquanto faziam a narração relacionada às imagens. Os alunos decidiram não escrever o roteiro, fazendo a gravação de modo espontâneo e improvisado. 4 Frente 3 - Experiência piloto na escola Para colocar em ação a metodologia planejada, as duas professoras da escola selecionadas pelo grupo para conduzir os trabalhos com suas turmas de alunos foram convidadas para participar de uma reunião no laboratório de informática da escola para apresentação da proposta e explanação sobre os encaminhamentos necessários para efetivá-la. Obtendo a confirmação da participação e envolvimento das professoras na aplicação da metodologia, discutiram-se as ações a serem realizadas pelos componentes do grupo de pesquisa e da escola para atingir os objetivos definidos e obter os resultados esperados. Encaminhou-se também uma autorização aos pais dos alunos, para que pudéssemos publicar imagens e vídeos de seus filhos. O grupo de trabalho definiu que, antes de iniciar a aplicação da metodologia proposta, seria verificado se os alunos sabiam manusear a webcam e o software Audacity do laptop. Para isto, foram realizados na escola dois encontros com a turma da manhã e três com a turma da tarde, e um encontro na Universidade de Passo Fundo Campus Carazinho com cada turma. Os alunos foram orientados sobre a utilização do Audacity e, com ajuda dos microfones, que foram disponibilizados pelo Instituto de Ciências Exatas e Geociências da UPF, apesar das duas turmas apresentarem bastante dificuldade quanto ao manuseio do Audacity e impaciência no decorrer do trabalho, os alunos fizeram gravações de suas vozes. A fim de fortalecer a proximidade dos alunos com o webcam do laptop, e devido ao fato dos alunos do turno da tarde estarem estudando o meio ambiente naquela ocasião, foi solicitado que no terceiro encontro os alunos fizessem uma gravação do ambiente onde eles residem, e depois fosse compartilhado com a turma. Na sala de aula os alunos apresentaram suas filmagens, sendo que a maior parte dos alunos gostou muito da experiência. Para que os alunos pudessem pesquisar trabalhos nessa linha que pudessem contribuir com a construção do seu produto, eles foram levados até a UPF (mediante autorização prévia dos pais) para realizar pesquisas de reconhecimento na web, pois a baixa velocidade da internet na escola dificultaria o andamento da atividade proposta. Nesse dia, primeiramente foram apresentados alguns exemplos de vídeos e áudios, de forma que os estimulasse a produzirem os seus próprios trabalhos. Após separar os grupos e conteúdos da turma da manhã, cada grupo iniciou a pesquisa sobre o respectivo tema escolhido e sobre a forma de como seria elaborada a gravação. Com a turma da tarde foi adotado procedimento semelhante. Nesta turma poucos alunos sabem ler, o que exigiu atendimento individualizado, pois cada estagiário tinha que sentar com um grupo e ajudá-los a pesquisar vídeos e imagens que provocassem a criatividade dos alunos, embora a professora já tivesse distribuído os grupos e respectivo conteúdo. Para definirmos as diretrizes do projeto piloto foi elaborado um Plano de Trabalho que elenca todas as ações a serem desenvolvidas para conclusão da proposta, além dos objetivos gerais e específicos, contextualização do ambiente, metodologia utilizada, avaliação e referências. Após finalizadas as oficinas iniciaram-se as gravações dos alunos auxiliados pelos estagiário, sendo esse trabalho realizado em encontros semanais, conforme havia sido definido com as professoras. Entretanto, o turno da tarde teve suas atividades adiadas, uma vez que dois grupos tiveram dificuldades na compreensão dos conteúdos propostos para a realização da gravação, pois desconheciam o tema e, como alguns ainda não dominam a leitura, foi necessário solicitar a professora da turma que estudasse esses conteúdos com o grupo antes de proceder a gravação. Para evitar diferenciações, decidiu-se que todos os grupos aguardariam as preparações exigidas para que progredissem juntos no trabalho. Os encontros semanais foram utilizados para os alunos elaborarem o roteiro de gravação, durante esses momentos os estagiários se reuniram com cada grupo para auxiliar no andamento da atividade. Todos os grupos do turno da manhã concluíram essa etapa antes das férias escolares, porém apenas dois grupos (alimentação e da prevenção de acidentes) conseguiram finalizar a gravação, e os demais concluíram depois de recesso de férias. Algumas etapas da produção dos vídeos não foram possíveis de ser realizadas usando os laptops educacionais devido a questões técnicas ou limitações do aparelho. Os computadores do laboratório de informática da escola, que possuem sistema Linux Educacional, precisaram ser utilizados uma vez que o laptop não oferece um recurso que insira imagens juntamente com o áudio. Ao retornar do recesso de férias retomaram-se as gravações, no entanto, foram encontradas dificuldades em relação a questões de ordem técnica: o webcam do laptop estava filmando de forma acelerada, como se os alunos estivessem encenando ligeiramente, e quando este empecilho foi resolvido, o som do laptop não estava mais funcionando, problema que se repetiu testando vários laptops. Por esses motivos e para que as gravações pudessem ser concluídas, a equipe de estagiários optou por utilizar uma câmera digital disponibilizada pela escola. Os grupos de alunos que decidiram gravar áudio iniciaram as suas gravações utilizando o laptop de um aluno, pois era o único que funcionava normalmente gravando com melhor qualidade de som, entre aqueles disponíveis para as duas turmas que desenvolviam o trabalho. Alguns grupos selecionaram imagens na internet e outros usaram fotos tiradas por eles mesmos, referente aos seus temas de trabalho. Com essas imagens foram elaboradas apresentações utilizando o Microsoft Power Point, que foram juntadas com a gravação do áudio feito pelos alunos, e para que as apresentações ficassem como um vídeo, usamos o Movie Maker para alterar seu formato. 5 Resultados Com relação aos aspectos teóricos envolvidos na concepção da metodologia desenvolvida, é possível apontar que as ações realizadas visam a potencialização das características ligadas a conectividade, a mobilidade e a autoria, supostamente, suportada por um dispositivo eletrônico como o laptop educacional. Tal premissas não se consolidaram totalmente na prática em função das configurações de hardware do equipamento e das deficiências técnicas relativas à conexão Wi-fi na escola. Entretanto, podemos afirmar que conseguimos atingir o nosso objetivo quanto ao envolvimento dos alunos, pois era visível o entusiasmo, a animação e a determinação deles no desenvolvimento do projeto. Com espontaneidade e criatividade, os alunos conseguiram expor as suas ideias, fazendo com que a elaboração e a execução da proposta se concretizassem, inclusive dispensando o auxílio constante dos estagiários e demonstrando certo grau de autonomia das crianças. Ambas as professoras também se envolveram com a proposta e se sentiram satisfeitas ao ver seus alunos empenhados nas produções. Uma dificuldade enfrentada no desenvolvimento do trabalho com os grupos era a dispersão de alguns componentes com conversas, jogos e vídeos da web e não colaborando com os colegas. Também ocorria dos alunos não se concentrarem, esquecerem do roteiro em casa e, geralmente, havia um componente do grupo ausente. Para os alunos do 2º ano do turno da tarde, que ainda não se apropriaram da leitura, a execução da proposta não contemplou alguns dos objetivos definidos, pois os estagiários acabaram fazendo as pesquisas e escrevendo as falas usadas nos áudio, intervindo bastante no processo de construção do produto. Além disso, a timidez fazia com que alguns alunos não conseguissem expressar suas ideias sobre o tema proposto, fato também ocorrido com os alunos maiores do 5º ano, pois mesmo realizando as pesquisas eles acabavam fazendo uma atividade mecânica de copiar o texto da internet, sem questionar sobre a sua relevância. Já com os grupos que gravaram os vídeos não houve esse problema, pois mesmo não sabendo ler eles dominavam seus papeis na atuação, os alunos mais tímidos acabavam interagindo com os demais componentes do grupo e conseguindo realizar a gravação do vídeo. Conhecer o tema a ser trabalhado antes da execução da proposta, mostrou-se fundamental para os alunos serem capazes de desenvolver um bom trabalho. O fato de alguns alunos ainda não conseguirem ler dificultou a execução da proposta indicando que o desenvolvimento dessa metodologia com alunos desse nível de ensino não é muito adequada, Santos e Braga afirmam que as modalidades que apresentam melhores resultados com crianças pequenas é quando usa o computador como meio de aprendizagem por descoberta e como facilitador de tarefas, aqueles em que o aluno desenvolve um “trabalho interativo com o computador, no qual o erro é o ponto de partida para a reflexão, análise e busca de novas alternativas de resolução” (2012). Acompanhando o processo de elaboração dos produtos evidenciou-se que a metodologia que ofereceu contribuições mais efetivas, considerando o objetivo do programa de desenvolvimento dos processos ensino-aprendizagem, a interação entre os participantes, o envolvimento dos alunos, a aprendizagem colaborativa e a produção autoral foi a gravação de encenações que demandou se apropriar do conteúdo para então elaborar o roteiro, realizar os ensaios para enfim gravar o vídeo. 6 Agradecimento Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil), pelo fornecimento das bolsas de pesquisa necessárias à realização dos estudos descritos neste artigo. 7 Referências BRASIL. Ministério da Educação. (2010) “Programa um computador por aluno: manual”, http://www.uca.gov.br/institucional/downloads/manual_eletronico.pdf, Novembro. BRASIL. CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. (2010) Edital CNPq/CAPES/SEED-MEC nº 76/2010, http://www.cnpq.br/editais/ ct/2010/076.htm, Fevereiro. Santos, G. L.; Braga C. B. (2012) “Tablets, laptops, computadores e crianças pequenas: novas linguagens, velhas situações na educação infantil”, Liber Livros. Teixeira, A. C. (2010) “Inclusão digital: novas perspectivas para a informática educativa”. Editora Unijuí, 1. ed Teixeira, A. C., Setti, B. D., Trentin, M. A. S. (2012) “Um Computador por Aluno: propondo e avaliando metodologias e modelos pedagógicos a partir de uma ação de extensão universitária”, In: IV Jornada Nacional de Educação Matemática e XVII Jornada Regional de Educação Matemática, 2012, Passo Fundo. Anais da IV Jornada Nacional de Educação Matemática e XVII Jornada Regional de Educação Matemática. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, p. 1-12. Teixeira, A. C., Trentin, M. A. S., Diehl, B. (2013) “Uma experiência brasileira no âmbito do Projeto Um computador por Aluno”, In: VIII International Conference on Engineering and Computer Education, Angola. Forming Engineers for a Growing Demand. Angola: Copec, v. 1. p. 35-35. Teixeira, A. C., Trentin, M. A. S., Diehl, B. (2012) “Projeto Um Computador por Aluno: relatando a concepção metodológica e a execução das oficinas de formação”, In: SAMPAIO, Fábio Ferrentini; ELIA, Marcos da Fonseca. (Org.). Projeto um computador por aluno: pesquisas e perspectivas. 1ed. Rio de Janeiro: NCE/UFRJ, , v.