Reflexão sobre “A Avaliação do Ensino” – resultados internos / externos referentes à 1ªFase (2000-1) Pelo segundo ano consecutivo, decidi fazer um levantamento dos resultados obtidos pelos nossos alunos internos, nomeadamente no que diz respeito aos resultados da 1ªFase. Escolhi apenas estes pois creio serem os que traduzem, de uma maneira mais fidedigna, os resultados da avaliação uma vez que à 2ªFase vão alunos reprovados em Julho e/ou que anularam matrícula. Assim sendo, e uma vez definido o universo da amostra, interessa referir quais as variáveis analisadas neste estudo: CIF (média das classificações internas de frequência, vulgo “Nota do 3ºPeríodo”), CE (média das classificações de exame), CE-CIF (diferença entre a nota de exame face à de 3ºPeríodo), Nota Máxima-Nota Mínima (amplitude da diferença entre os extremos, importante para que não haja uma grande discrepância entre os resultados de exame) e % de alunos onde CE é maior ou igual à CIF. Começo, pois, por tratar os resultados apresentados no Quadro I (Análise Interna), quadro este apresentado nas páginas que se seguem: 1- Disciplinas com as % mais altas de alunos que melhoraram a sua nota de exame face à nota de 3ºPeríodo (CIF) Filosofia: 22 Química: 18 Port.A: 13 História: 13 2- Disciplinas com as % mais baixas de alunos que melhoraram a sua nota de exame face à nota de 3ºPeríodo (CIF) Matemática, Física, Sociologia, Inglês, Francês, IDES: 0 3- Disciplinas com médias de exame positivas Filosofia:12,7 IDES: 12,1 Inglês: 11,9 História: 11,0 Port.A, Biologia: 10,7 Psicologia: 10,2 Química: 10,0 4- Disciplinas em que ninguém teve positiva no exame Matemática, Física, Latim (1 aluno), DGDescritiva (5 alunos) 5- Disciplinas em que ninguém teve negativa no exame Francês 117 (1 aluno), Teoria Arte Design (4 alunos), História da Arte (4 alunos) 6- Disciplinas com médias de exame negativas Matemática: 4,5 Física: 5,6 Port.B: 8,8 Francês: 8,9 Sociologia: 9,3 7- Disciplinas com melhor nota de exame Port.A: 20; História: 18 Biologia, Francês: 17 8- Disciplinas com a pior nota de exame Matemática: 0 História: 2 Port. B: 4 De seguida, e no que diz respeito ao Quadro II (Análise Externa), é possível retirar a seguinte informação: 1- Disciplinas que mais melhoraram face aos resultados do ano passado História: +2,2 (passou de 8,8 para 11,0) Química: +1,7 (passou de 8,3 para 10,0) IDES: +1,4 (passou de 10,7 para 12,1) 2- Disciplinas que mais pioraram face aos resultados do ano passado Matemática: -4,3 (passou de 8,8 para 4,5) Port.B : -2,6 (passou de 11,4 para 8,8) Sociologia: -2,0 (passou de 11,3 para 9,3) Biologia: -1,3 (passou de 12,0 para 10,7) 3- Disciplinas que mais se afastam das médias nacionais (pela positiva e pela negativa) IDES: +1,1 Biologia: +0,8 História, Filosofia: +0,1 Port.A, Química: -0,7 Psicologia: -0,9 Sociologia: -2,6 Matemática, Port.B : -2,9 Física: -3,7 Após a apresentação de todos estes dados, interessa agora reflectir um pouco (ou muito...) sobre eles de modo a que, para o ano, possamos estar num nível mais alto do que estamos agora. Análise Interna 1- 2- Os dados devem ser lidos, sempre que possível, cruzando diversos parâmetros, de modo a que a análise possa ser o mais objectiva possível. Por exemplo, importa referir que os resultados de Port. A, Filosofia, Química, Biologia, História e Psicologia são animadores (volto a referir que apenas estou a analisar disciplinas com pelo menos 8 alunos). E isto porquê? Porque conseguem, concomitantemente, obter bons resultados no que se refere aos parâmetros “% de alunos que melhoraram a sua classificação de exame face à CIF” e “disciplinas com CE igual ou superior a 10”. A objectividade reside na consistência da leitura dos vários dados e não de apenas um. Aliás, é gratificante notar que tanto em Filosofia como em Química, cerca de um quinto dos estudantes conseguiram melhorar a sua nota de exame face à CIF, o que é francamente positivo e atesta da “preparação dos alunos”. Existe um parâmetro que, na minha modesta opinião, é dos mais importantes (senão mesmo o mais importante de todos): “CECIF”- ou seja, a diferença entre a nota de exame e a nota de 3ºPeríodo. Isto está relacionado com aquilo que vulgarmente chamamos “inflação das notas de 3ºPeríodo”. Trata-se de um problema não exclusivo do 12ºano mas que, por ser um ano terminal e sujeito a exames, se torna mais gritante. Tenho falado com diversos colegas desta e de outras escolas, sendo quase consensual que este parâmetro não deverá nunca exceder os 2 valores, em termos absolutos. Ora, na nossa escola, apenas Filosofia (-1,8), Port.A (-1,9), Química (-1,9) e Biologia (-2,0) cumprem esse requisito. Para mim trata-se do parâmetro que permite, talvez da maneira mais rigorosa e objectiva, aferir da “veracidade” das classificações obtidas pelos alunos no 3ºPeríodo, ou por outras palavras, permite aferir da “justiça” de tais notas. Nesse campo, gostaria apenas de chamar a atenção para disciplinas onde existe uma grande disparidade entre a CE e a CIF. Por exemplo, eu admito que o “João estivesse nervoso no dia do exame de Física e tivesse baixado de 16 para 8.” Acontece aos melhores... Mas tenho muito dificuldade quando “não só o João mas todos os seus colegas baixaram, em média, 8 valores!” Em média! Nesse aspecto, e tendo plena consciência de que nem todos pensam como eu (mas, felizmente, existem muitos que pensam assim) apelo a que vão a exame “apenas aqueles que realmente merecem ir a exame”. A bem da dignificação dos alunos, dos professores e da própria escola onde leccionamos. Análise Externa 1- 2- 3- Ao fazer-se uma ordenação simples por CE em cada instituição de ensino nacional, o que se verifica é que a Matemática surge normalmente com os piores resultados de exame. A Física, o Francês, Inglês, Biologia, Química e DGD também têm notas baixas, aliás como se pode ver pelo Quadro II. Em termos nacionais, as disciplinas mais susceptíveis de sofrerem alterações bruscas (para menos) nos exames são Matemática, Física, Química, Biologia e Psicologia. Nesse aspecto, e no que diz respeito à nossa escola, é justo referir o caso da Química e da Psicologia onde os nossos alunos conseguiram “segurar” (e às vezes até melhorar, como é o caso dos 20% de Química) a nota com que foram a exame. Bem melhor do que a média nacional! Analisando as médias nacionais a 14 exames (Port. A e B, Química, Física, Matem., Inglês, Francês, História, Sociologia, Psicologia, Filosofia, Geografia, DGD-A e IDES) verificamos que o Distrito de Setúbal tem uma média de 9,9 valores, bem à frente da média da nossa escola que é de 8,8 valores. Possivelmente, pelo menos nas escolas “mais consagradas”, a razão desta diferença reside no facto de só irem a exame os alunos que merecem ir... E, quando assim é, as médias obviamente que sobem! Conclusão Mas porque razão existe um grande fosso entre as notas de exame e as de 3ºPeríodo, bem como diferenças entre as diferentes escolas? – Falhas na avaliação? Programas inadequados aos exames e vice-versa? Docentes com formação deficiente? País com reduzidas habilitações literárias? Falta de interesse dos alunos? A lista é interminável... Se as diferenças entre regiões é um dado adquirido – quanto maior e mais desenvolvido o centro populacional, maiores hipóteses têm os alunos de ser bem sucedidos – também as condições sócio-económicas e culturais são importantes. Mas esta regra não é matemática: existem casos de excelência no Alentejo profundo, bem como casos de mediocridade em Lisboa, tanto em estabelecimentos públicos e privados. Parece também haver uma relação directa entre a experiência dos professores (cinco ou mais anos) e os bons resultados. O facto dos alunos não possuírem preconceitos em relação a uma determinada disciplina, bem como a percepção de que os conhecimentos adquiridos possam ser muito úteis no futuro, tem enorme influência no sucesso. Os maus resultados podem ser justificados por turmas excessivamente grandes, por vezes com muitos repetentes e altos níveis de absentismo. Ou então o facto de se utilizar mais a memória do que o raciocínio no estudo da matéria. Para finalizar, deixo aqui algumas passagens de um discurso proferido muito recentemente pelo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, na Universidade da Beira Interior, sobre o estado do Ensino em Portugal: - Depois do “ grande investimento realizado com êxito” para “aumentar a capacidade de acolhimento em todos os níveis de ensino”, Portugal precisa agora de “um esforço que incida na qualidade de ensino e eficácia das escolas”; O Presidente da República afirma que “não se aprende porque existe facilitismo” e se “tolera em demasiado a indisciplina”; É necessário que nas instituições educativas se possa “garantir hábitos de trabalho, responsabilidade e exigência”; “Como ontem, hoje existem bons estudantes e bons professores, mas há um número elevado de alunos que não aprende, por diversas razões”; A professores e alunos “deve ser exigido trabalho e esforço”; A instituição educativa “deve ser um meio estimulante”, com ”respostas diferenciadas e motivadoras”. Mais palavras para quê? Está tudo dito. Agora, como diria Hermann Hesse, “Para ler e pensar”. Prof. Rudolfo Pereira