Avaliação de Desempenho dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário Parecer As das associações, Associação Portuguesa de Professores de Alemão e Associação de Professores de Educação Visual e Tecnológica, vêm, na sequência do pedido formulado por Vossa Excelência emitir a sua opinião em relação ao assunto em apreço. Sem prejuízo do reconhecimento da avaliação de desempenho por mérito por parte do docente e não apenas pela antiguidade; da avaliação assente no desempenho efectivo dos professores ao contrário daquilo que se verificou no concurso a titular, no qual a atribuição de pontos dependia dos cargos exercidos, excluindo a qualidade do seu desempenho, tem este princípio a nossa total concordância. Não obstante o reduzido espaço de tempo concedido e por conseguinte impeditivo de uma planificação cuidadosa do trabalho e de um juízo de valor sustentado resultante de uma auscultação e ponderação das doze direcções e respectivos associados, consideram: • Existência de um número excessivo de documentos que resultará numa significativa burocratização, com repercussões nada positivas para o sistema de ensino; • Desconhecimento do momento de avaliação em que são preenchidas as fichas; quais as etapas do processo de que as fichas fazem parte; qual a relação entre a observação de aulas e estas fichas: não há fichas para observação de aulas; em que etapa se recorrerá aos referenciais científicos reiteradamente referidos pela actual presidente do futuro Conselho Científico da Avaliação de Professores; • Os critérios de avaliação dos diferentes documentos caracterizam-se ora objectivos como, por exemplo, na classificação da assiduidade e da formação contínua; ora, na maior parte dos casos, completamente subjectivos: não são descritos os níveis de desempenho a que corresponde a escala numérica imposta; • A grelha de auto-avaliação está formulada de um modo muito vago, não havendo uma escala de pontuação ou parâmetros concretos que possam auxiliar a avaliação por parte do docente do seu desempenho. Suscita alguma perplexidade esta ausência de critérios, pelo que nos questionamos quanto ao peso que esta apreciação individual terá em todo este processo de avaliação. É igualmente frágil que aos resultados escolares seja dado um peso elevado, na medida em que destes não depende apenas a actuação do professor, mas sim todo um conjunto de factores de carácter sócio-cultural mas também económico que influenciam, naturalmente, o aproveitamento dos alunos. A manter-se este cenário, poder-se-á incorrer num inflacionar de resultados, pois um docente totalmente alheio a estas condicionantes não quererá sair prejudicado de um processo no qual não pôde ter qualquer ascendente, pervertendo, assim, toda a natureza deste processo. A solução desta questão poderá passar pela atribuição de pontuação às condicionantes do sucesso escolar que não dependem do desempenho do professor; parece que o sucesso escolar e o desempenho do professor só dependem do professor; é escamoteado o papel de cada aluno, do conselho de turma, do conselho executivo, da administração central, da tutela de menores, da família, das condições de trabalho dos professores e dos alunos, da formação contínua disponibilizada (ou não) pela escola, da estrutura curricular, dos programas, das modalidades de avaliação interna e externa dos alunos, dos materiais didácticos... • Se, no conjunto das tarefas atribuídas a um professor (serviço distribuído), não estiverem incluídas todas aquelas que são consideradas na avaliação (tópicos observados), como são avaliados os professores; por exemplo, um professor que não foi director de turma e outro que foi, independentemente das suas vontades, são avaliados pelos mesmos critérios no que se refere à sua relação com a comunidade escolar; • Surpreende o facto de o coordenador ser avaliado apenas pelo executivo e que não haja critérios diferentes de avaliação (e, portanto, fichas) para professores titulares e não titulares; como é que um professor não titular pode ser avaliado pela “participação nas estruturas de coordenação” ou pela “função de avaliador dos outros docentes” quando tal são competências exclusivas dos professores titulares; haverá grelhas para a avaliação dos professores que estão no conselho executivo? • De acordo com a cotação efectiva de cada item no conjunto de cada ficha (cotação que não vem explicitada no seu conjunto e cujas fórmulas de cálculo parciais apresentam gralhas que as tornam quase incompreensíveis), constata-se que no desempenho do coordenador é mais valorizada a avaliação dos colegas (18%) que as aprendizagens dos alunos (14%); aliás a generalidade das fórmulas de cálculo carecem de uma clarificação que torne objectivo o peso de cada item na avaliação final; • Pouco peso dado ao diagnóstico de necessidades de formação contínua; num contexto em que os professores apenas têm dispensa parcial de serviço para a formação oferecida pela escola ou pela tutela, se o Centro de Formação da escola ou do agrupamento não oferece a formação necessária, a avaliação do professor não pode ser prejudicada. Convém não esquecer que no nº3 do artigo 14º do Regime Jurídico da Formação Contínua de Professores refere que “ das acções de formação contínua a frequentar pelos docentes passíveis de ser creditadas , pelo menos dois terços são na área científico-didáctica que o docente lecciona”. Relembramos, que todas as associações de professores, na sua maior parte, têm um centro de formação através do qual têm conseguido, ao longo dos anos, assegurar aos seus associados e não só uma formação especializada, no âmbito da didáctica das diferentes disciplinas. É com algum lamento que verificamos que este trabalho único e inigualável não tem recebido o reconhecimento estatutário nem o apoio necessário, de modo a poder manter os mesmos índices de qualidade; • Seria de extrema utilidade e pertinência a existência de uma tabela comparável das cotações das diferentes grelhas, proporcionando, assim, uma visão globalizante do desempenho da actividade do docente; • Não obstante fazer parte integrante de um referencial científico, que julgamos estar agendado para uma fase posterior, alertamos para a necessidade da existência de uma grelha de observação de aula construída de acordo com os últimos modelos didáctico-pedagógicos, isto é, deverão ter um carácter de actualidade científica. Em suma, e reiterando alguns dos aspectos anteriormente focados, estamos fortemente convictos que na ponderação de todos estes valores sejam tidos em conta todas as especificidades e idiossincrasias de cada contexto escolar, bem como outros desempenhos que em nosso entender são igualmente relevantes: dinamizar acções de formação contínua; apresentar comunicações em congressos; interagir com as outras realidades educativas nacionais e internacionais (vide projectos transnacionais europeus); publicação de artigos e de livros; elaboração de materiais didácticos comercializados. Ou seja, tudo o que tem a ver com partilha, colaboração entre pares, parecem ser negligenciados.