Capítulo 12 Gravitação Recursos com copyright incluídos nesta apresentação: Introdução A lei da gravitação universal é um exemplo de que as mesmas leis naturais se aplicam em qualquer ponto do universo. Fim da dicotomia entre o céu e a Terra. θ Formulação feita por Newton (~1667) Comparação entre as acelerações da Lua e de um objeto que cai próximo à superfície da Terra. Lua próxima da Terra Æ distância Terra-Lua pode ser medida por paralaxe: tg(θ ) = RT R ⇒ d L = T = 3,84 x 108 m dL tg(θ ) Considerando a órbita da Lua circular com raio dL e período P=27,3 dias: 2π d L v2 3 v= = 1, 02 x 10 m/s e aL = = 2, 73 x 10−3 m/s 2 P dL θ dL RT v2 aL = = 2, 73 x 10−3 m/s 2 dL Aceleração de um objeto caindo próximo à superfície da Terra: g = 9,8 m/s2 A razão entre a aceleração do objeto em queda e a aceleração da Lua é: g 9,80 3 2 3,59 x 10 3600 (60) = = ≅ = aL 2, 73 x 10−3 (1) A razão entre o raio da órbita lunar e o raio da Terra é: d L 3,84 x 108 m = = 60,3 6 RT 6,37 x 10 m (2) Comparando (1) e (2) g ⎛ RT ⎞ =⎜ ⎟ aL ⎝ d L ⎠ −2 Newton concluiu que a atração da Terra sobre um objeto, esteja ele próximo ou longe da superfície da Terra, é proporcional à massa do objeto e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre o objeto e o centro da Terra. Ação e reação: a força que a Terra exerce na Lua tem o mesmo módulo que a força que a Lua exerce na Terra. Então, F α MTML. Juntando tudo: mM T F∝ 2 r Lei da gravitação F21 = −G m1m2 r 3 r onde r = r2 - r1 G = 6,67260 x 10-11 Nm2kg-2 Valor muito pequeno. Só foi determinado em 1798 por Henry Cavendish, mais de um século após a formulação da lei de gravitação por Newton. Força gravitacional: • a única que atua em todas as partículas da Natureza • a mais fraca das forças fundamentais • força de longo alcance (α r-2) • sempre atrativa A experiência de Cavendish Balança de torção Um torque τ no fio provoca uma torção de θ mM τ = −κθ = Fd = −G 2 d r fibra de quartzo θ feixe de luz 2θ M d espelho m F M m κ Æ constante de torção do fio mM κθ r 2 ⇒ κθ = G 2 d ⇒ G = r mMd M Como g = G T2 RT gRT 2 ⇒ MT = G Primeiro cálculo da massa da Terra As massas dos planetas do sistema solar foram obtidas sabendo a aceleração de um de seus satélites em torno deles. Campo gravitacional O campo gravitacional é descrito pela aceleração da gravidade g(r) definida por g= F(r ) m onde m é uma massa de prova situada em r. A aceleração da gravidade gerada por uma partícula de massa M, situada no ponto r = 0, é dada por g=− GM r r3 Dada uma distância ao centro da Terra, tem-se um valor de g Mas na Terra real: • A crosta terrestre não é uniforme. Ao se medir g precisamente obtém-se informação sobre variações de densidade que são úteis, por exemplo, na prospecção de petróleo. • A Terra não é uma esfera e sim um elipsóide achatado nos pólos, então gpólo é maior do que gequador , pois rpólo< requador. gpólo ~9.83 m/s2 e gequador ~ 9.78 m/s2. • A Terra está em rotação. A leitura da balança seria igual à força gravitacional somente se a superfície da Terra fosse um referencial inercial. Na verdade temos N − mg 0 = − mac ⇒ N = m( g 0 − ω 2 RT ) = mg ⇒ g = g 0 − ω 2 RT ⇒ g 0 − g = ω 2 RT = 0, 034 m/s 2 aceleração que sentimos Vimos que aparente g = g 0 − ω 2 RT para um corpo na superfície da Terra. devido à rotação da Terra devido à atração gravitacional da Terra Contrariamente à impressão de que a aceleração da gravidade (g0) diminui a zero em um ônibus espacial em órbita da Terra, na verdade obtém-se g0= 8,7 m/s2 para uma altitude de 400 km acima da superfície da Terra. O que ocorre nesta situação é que a força de atração gravitacional atua como força centrípeta. GmM T GM T 2 m r = ω ⇒ = g0 = ω 2 r 2 2 r r ⇒ g = g0 − ω 2 r = ω 2 r − ω 2 r = 0 Assim, a gravidade aparente é nula, mas o astronauta em órbita ainda está sujeito à força de atração gravitacional da Terra dada por GmM T = mg ≠ 0 r2 0 Leis de Kepler A aceitação e importância dada à teoria da gravitação de Newton quando foi proposta se deve ao fato de ser possível deduzir matematicamente, a partir dela, as três leis de Kepler (1571-1630). Estas já eram conhecidas na época de Newton, mas eram leis empíricas, baseadas apenas em resultados observacionais. Primeira lei - Os planetas movem-se em órbitas elípticas em que o Sol ocupa um dos focos. F1 F2 A A demonstração desta lei fica para um curso mais avançado de mecânica. Segunda lei - Em cada órbita, o seguimento de reta que une o planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais. h F1 v∆t v θ 1 r No ponto 1 a velocidade do planeta é v. Se o planeta continuasse em MRU, após ∆t o segmento que une o planeta ao Sol teria varrido o triângulo vermelho indicado na figura. 1 1 A área do triângulo é ∆A = rh = r v∆t sen θ 2 2 O momento angular orbital do planeta é (1) L = r mv sen θ ⇒ r v sen θ = L m (2) (2) em (1) ∆A = ⇒ 1 L ∆A 1 L ∆t ⇒ = 2m ∆t 2 m dA 1 L = dt 2 m No limite em que ∆t Æ 0 a área do triângulo descreve exatamente a área real varrida pelo planeta. Em relação ao Sol, a força gravitacional, que é radial, não realiza torque sobre o planeta. Assim L é constante e dA também. dt Segunda lei de Kepler VA A B VB O planeta percorre uma órbita elíptica em que o Sol ocupa um dos focos. Devido à conservação do momento angular do planeta em relação ao Sol, nos pontos da órbita mais próximos do Sol, o planeta aumenta sua velocidade de forma que as áreas (sombreadas) varridas em tempos iguais são também iguais. Terceira lei - Os quadrados dos períodos das órbitas dos planetas são 2 3 proporcionais aos cubos dos semi-eixos maiores das respectivas elipses: T ∝ A No caso de órbitas circulares, onde os semi-eixos maior e menor são iguais ao raio do círculo, é fácil mostrar este resultado. A força gravitacional do Sol sobre um planeta atua como uma força centrípeta. mM mv 2 G 2 = r r (1) O período da órbita é dado por 2π r 4π 2 r 2 2 T= ⇒T = v v2 M 2 (3) De (1) v = G r (3) em (2) 4π 2 3 T = r GM 2 Evidência da terceira lei de Kepler. A razão entre o cubo do semi-eixo maior da órbita e o quadrado do período é a mesma para todos os planetas. (2) Planeta Mercúrio Vênus Terra Marte Júpiter Saturno Urano Netuno A T A3/T2 (106 km) 57,9 108,2 149,6 227,9 778,3 1427 2870 4497 (anos) 0,241 0,615 1,000 1,88 11,86 29,5 84,0 165 (1024km3/ano2) 3,34 3,35 3,35 3,35 3,35 3,34 3,35 3,34 Interação entre uma partícula e uma casca esférica Ao formular a lei da gravitação, Newton supôs que a Terra atrai qualquer corpo externo a ela como se toda sua massa estivesse concentrada em seu centro. Ou seja, um corpo com simetria esférica atua gravitacionalmente em pontos em seu exterior como se toda a massa estivesse em seu centro. Em 1685 Newton mostrou que isto é verdade e decorre da lei dos inversos dos quadrados. O teorema das cascas esféricas é importante tanto na gravitação quanto no eletromagnetismo. Calcular a força gravitacional de uma casca esférica homogênea de massa M e raio R sobre uma partícula de massa m a uma distância r do centro da casca. Assim, a massa do anel será M Rdθ dθ dM = r1 R θ Rsenθ r m M M dA ' = sen θ dθ A 2 A energia potencial gravitacional do sistema anel-partícula será dU = −GmdM 1 1 senθ dθ = − GmM 2 r1 r1 r1 depende de θ ! r12 = R 2 sen 2 θ + (r − R cos θ ) 2 A área da casca esférica é A = 4π R 2 ⇒ r12 = R 2 + r 2 − 2rR cos θ A casca esférica é dividida em anéis em cujos eixos de simetria se situa m. ⇒ 2r1dr1 = 2rR sen θ dθ sen θ dθ dr1 = r1 rR A área de um dado anel é ⇒ dA ' = 2π ⋅ R sen θ ⋅ Rdθ ⇒ dU = −GmM dr1 2rR dU = −GmM dr1 2rR Partícula m dentro da casca esférica M r1 varia entre r1min e r1máx ⇒U = − ⇒U = − GmM 2rR R r1max ∫ r r1min= R - r r1max dr1 r1max= R+ r r m r1min r1max - r1min= 2r 1min GmM (r1max − r1min ) 2rR ⇒U = − GmM R ⇒F =− dU =0 dr Partícula m fora da casca esférica Para partículas internas à casca esférica, a força é nula M r1max r r1min= r - R r1max= r + R ⇒U = − GmM r m -U(r) funções r1min R r1max - r1min= 2R ⇒F =− dU GmM =− 2 dr r F(r) Para partículas externas à casca esférica, esta atua como se toda a sua massa estivesse concentrada em seu centro. R distância r Exemplo – O Sol está à distância de 2,5x1020 m do centro da Via Láctea, próximo de sua periferia, e tem velocidade orbital de 220 km/s em torno do centro. Estime a massa da Galáxia. Para fins de estimativa, vamos considerar que quase toda a massa da Galáxia está no espaço interior à órbita do Sol. Como vimos, para calcular o efeito gravitacional desta massa sobre o Sol, podemos considerar toda a massa localizada no centro da Galáxia. MS MG v2 G = MS 2 r r r v2 ⇒ MG = G 2,5 × 1020 m × 4,8 × 1010 m 2 /s 2 41 ⇒ MG = = 2 × 10 kg = 1011 M S 2 -2 −11 6, 7 ×10 N m kg Exemplo – Suponha que a Terra tenha densidade uniforme: (a) calcule a força exercida sobre uma partícula de massa m dentro de um túnel que passe por um diâmetro da Terra, como mostra a Figura abaixo; (b) Se uma pedra é solta em repouso na entrada do túnel imaginário, com que velocidade ela cruza o centro da Terra? Força F que atua sobre a partícula de massa m quando ela está a uma distância r do centro da Terra F ( r ) = −G r R mM ' (1) 2 r onde M’ é a massa contida na esfera de raio r. 3 4 M ' = ρV ' = ρ π r 3 = M T 4 π r 3 = M T r (2) 3 3 4 R π R3 3 3 GmM T 1 2 F r = − r ( ) = − kr (2) em (1) ⇒ U ( r ) = kr R3 2 (b) Usando a conservação da energia mecânica U ( R) + K ( R) = U (0) + K (0) ⇒ 1 GmM T R 2 + 1 mV 2 = 1 GmM T 02 + 1 mv 2 2 R3 2 2 R3 2 GM T GM T 2 2 v ⇒ = = 7,91 km/s Partindo do repouso, V=0 ⇒v = +V R R Energia potencial gravitacional de um sistema de partículas A energia potencial gravitacional de duas partículas de massas m1 e m2 separadas pela distância r12 é U = −G m1m2 r12 sendo U (∞) = 0 m1 Ela corresponde ao trabalho da força gravitacional da partícula 1 sobre a partícula 2 para levá-la do ponto distante r12 de m1 até o infinito (ponto de referência). r12 m2 r23 r13 m3 A energia potencial gravitacional de um sistema de três partículas de massas m1, m2, e m3 como mostra a figura será então U = −G mm mm m1m2 −G 1 3 −G 2 3 r12 r13 r23 Para um sistema de N partículas: mi m j 1 U = − G ∑∑ 2 i i ≠ j rij Exemplo – Calcule a força sobre a esfera de massa m na Figura abaixo e a energia potencial do sistema completo, supondo-se que a situação de energia nula é aquela em que todas as esferas estariam infinitamente afastadas uma da outra. m F 1 3m F l F2 2m As forças F1 e F2 atuam sobre a esfera de massa m. j i 2l 3m2 2m 2 F1 = G 2 i, F2 = −G 2 j 4l l A força resultante F que atua sobre a esfera de massa m será Gm2 3 F = F1 + F2 = 2 ( i − 2 j) 4 l A energia potencial gravitacional do sistema é U = U12 + U13 + U 23 ⎛ 7 6 5 ⎞ Gm 2 2m.3m m.2m m.3m ⇒ U = −G −G −G = − ⎜⎜ + ⎟⎟ 2 2 2l l 5 ⎠ l (2l ) + l ⎝2 Auto-energia gravitacional de um corpo A auto-energia é a diferença de energia entre a situação em que o corpo está formado e a situação imaginária em que suas partes estão infinitamente dispersas. Vamos considerar um corpo de densidade uniforme ρ e de simetria esférica e vamos compor a esfera camada por camada. Quando o raio da esfera for r, sua massa será m = ρV = ρ 4 3 πr 3 2 Ao acrescentar uma camada infinitesimal de espessura dr e massa dm = ρ 4π r dr sua energia potencial sofrerá uma variação de mdm 4 3 ρ 4π r 2 dr ⎛ 4πρ ⎞ 4 = −3G ⎜ dU = −G = −G ρ π r ⎟ r dr r 3 r ⎝ 3 ⎠ 2 ⎛ 4πρ ⎞ ⇒ U = −3G ⎜ ⎟ 3 ⎝ ⎠ 3 GM 2 ⇒U = − 5 R 2 ∫ 0 2 3 ⎛ 4πρ R ⎞ 1 3 ⎛ 4πρ ⎞ 5 G⎜ = − = − G R r dr ⎟ ⎜ ⎟ 5 ⎝ 3 ⎠ R 5 ⎝ 3 ⎠ 2 R massa da esfera 4 3 Cálculo da energia potencial gravitacional obtida no processo de formação do Sol Supor o Sol uma esfera uniforme de massa M = 2 x 1030 kg e raio R = 7 x 108 m. Sua auto-energia gravitacional será 30 2 3 GM 2 3 (2 × 10 ) 41 U =− = − ⋅ 6, 7 ×10−11 ⋅ J = − 2 × 10 J 8 5 R 5 7 ×10 U < 0, então a energia do sistema de partículas que formou o Sol diminuiu no processo de agregação. Estrelas se formam em nuvens moleculares gigantes compostas de gás e poeira frios e muito rarefeitos. A energia potencial inicial é portanto desprezível. Pela conservação da energia, a perda de energia gravitacional do gás é compensada por um aumento equivalente da energia cinética. Pelo teorema do virial, metade da energia cinética é irradiada pela estrela e a outra metade permanece em forma de calor. Assim, o núcleo do Sol atinge temperaturas da ordem de 107 K, tornando possível a fusão do hidrogênio, liberando energia suficiente para manter o equilíbrio hidrostático. Velocidade de escape A energia potencial gravitacional de duas partículas de massas m1 e m2 separadas pela distância r é U (r ) = −G m1 m2 r O ponto de referência para a energia potencial é r=∞ ou seja, U (∞ ) = 0 Para que um corpo de massa m escape da atração gravitacional da Terra (raio R e massa MT), sua energia mecânica deverá ser positiva (K > U). . 1 1 mv 2 − G mM T ≥ 0 2 R A velocidade mínima com que um corpo tem de ser lançado para se livrar da gravitação de um corpo celeste é denominada velocidade de escape. 1 1 2GM ⎞ mv e2 − G mM T = 0 ⇒ v e = ⎛⎜ ⎟ 2 R ⎝ R ⎠ 1 2 ⎛ 2GM ⎞ ve = ⎜ ⎟ ⎝ R ⎠ 1 2 A velocidade de escape da superfície da Terra é ve = 11,2 km/s. A velocidade de escape da superfície do Sol é ve = 617 km/s. A velocidade de escape da gravitação do Sol a partir de um ponto sobre a órbita da Terra é ve = 42 km/s. vo v M R vo v < ve v > ve v = ve r-R -vo Energia de ligação Um corpo de massa m ligado gravitacionalmente a outro de massa M, executando uma órbita natural de raio r tem energia total dada por: mv 2 GMm E = K +U = − 2 r Neste caso (corpos ligados gravitacionalmente), pode-se mostrar que esta energia é negativa, isto é, a energia cinética é menor do que o valor absoluto da potencial. Se a órbita for circular: ⇒K= mM mv 2 G 2 = r r 1 2 1 GmM 1 mv = ⇒K =− U 2 2 r 2 Assim a energia total do sistema será 1 E = K +U = U < 0 2 ⇒ v2 = G M r Limite de validade da lei da gravitação de Newton A mecânica de Newton falha quando a velocidade do corpo deixa de ser muito menor que a velocidade c da luz no vácuo. Relatividade restrita A lei da gravitação de Newton, em que a força varia com o inverso do quadrado das distâncias, também falha em condições de gravidade muito intensa. Relatividade geral Dois corpos se atrem gravitacionalmente. Se a distância entre eles for tal que a velocidade de escape um do outro for muito menor que a velocidade da luz, sua interação pode ser descrita pela teoria de Newton. 1 ⎞2 ⎛ 2GM ⎜ ⎟ << c ⇒ R ⎝ ⎠ 2G M << 1 2 Rc Considerando a gravidade do Sol. Em sua superfície 2 G M 2 × 6, 7 × 10−11 × 2 × 1030 −6 << 1 = = 4,3 × 10 2 8 16 Rc 7 × 10 × 9 × 10 A gravitação do Sol pode ser tratada com boa aproximação por Newton, com exceção da órbita de Mercúrio. Se 2G M ≥1 2 Rc teremos ve > c Buraco negro Neste caso, nem mesmo a luz pode escapar do campo gravitacional. Exemplo – Calcule o raio do horizonte de eventos de um buraco negro de M=4Msol. Horizonte de eventos Æ superfície de cujo interior não se pode escapar. Em RH, ve= c 1 ⎞2 ⎛ 2GM ve = ⎜ ⎟ ⎝ R ⎠ 2G M ⇒c = RH 2 2G M ⇒ RH= c2 2 G 4 M sol = 11,8 km ⇒ RH= 2 c