Interações ISSN: 1413-2907 [email protected] Universidade São Marcos Brasil Salamah de Mello, Glenda Aref Reseña de "Transtornos Alimentares:anorexia e bulimia" de Maria Helena Fernandes Interações, vol. Xll, núm. 22, julho-dezembro, 2006, pp. 283-286 Universidade São Marcos São Paulo, Brasil Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=35402213 Cómo citar el artículo Número completo Más información del artículo Página de la revista en redalyc.org Sistema de Información Científica Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto FERNANDES, Maria Helena. Transtornos Alimentares: anorexia e bulimia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. (Coleção Clínica Psicanalítica). 303p. ISBN 85-7396-465-0. Anorexia e bulimia: desafiando a ciência e a psicanálise Um livro,... várias histórias... Todo livro tem mais de uma história, a que ele conta e a que se conta dele. É assim que Maria Helena nos introduz em sua obra “Transtornos Alimentares: anorexia e bulimia”. Em um tom doce e investigativo leva o leitor ao universo complexo dos transtornos alimentares particularmente à problemática da anorexia e da bulimia, com o objetivo de fazer uma importante reflexão psicanalítica sobre o lugar e função destes na atualidade. A autora propõe um passeio pela diversidade clínica destes quadros psicopatológicos. Apesar de visitar brevemente outros campos do conhecimento, a vastidão do tema e a imensidão de trabalhos que hoje são dedicados a ele, levaram-na a uma abordagem psicanalítica, privilegiando alguns caminhos teóricos em detrimento de outros. Tal privilégio carrega apenas a marca de sua escuta na clínica, das aventuras vividas com seus pacientes e, com aqueles que a escutaram e a deixaram falar. O objetivo proposto por Maria Helena, num primeiro momento, é o de realizar um breve percurso pelos diferentes campos teóricos, com o intuito de enriquecer as referências daqueles que se confrontam com a diversidade desses quadros clínicos em sua clínica cotidiana e/ ou daqueles que querem adquirir conhecimento sobre este assunto. Inicialmente, a autora relata a história da alimentação; posteriormente, faz uma breve visita ao DSM – IV, enfatizando a colaboração dos estudos epidemiológicos nas discussões dos transtornos alimentares e a cultura. Caracteriza também a anorexia e a bulimia, mostrando suas semelhanças e diferenças. Sua obra realça os significados etimológicos e a evolução histórica dos termos anorexia e bulimia. Descreve os quadros clínicos dessas 283 INTERAÇÕES • V OL . XII • n .o 22 • p. 283-286 • JUL -DEZ 2006 FERNANDES, MARIA H ELENA . T RANSTORNOS A LIMENTARES : ANOREXIA E BULIMIA patologias e suas respectivas evoluções acompanhadas de uma apresentação dos recursos terapêuticos utilizados atualmente no tratamento. Menciona que é por volta de 1584 que aparece na língua latina a palavra anorexia, derivada do vocábulo grego anorektos (na+orektos), que significa, literalmente, “sem desejo, sem apetite”. A palavra bulimia aparece no século XVI representando o oposto da anorexia. Sua origem é o vocábulo grego boulimia, que significa fome devorante. Um aspecto valioso nesse livro é o extremo cuidado e profundo resgate de textos freudianos que dão subsídios para pensar a questão dos transtornos alimentares. Freud relata que o quadro anoréxico está identificado ora com a histeria, ora com a melancolia, acompanhado de vômitos, distúrbios gastrointestinais e depressão. Preconiza como tratamento uma combinação de sessões hipnóticas, banhos quentes, massagens e separação familiar. Para ele a bulimia está ligada à problemática da angústia. Após percorrer algumas das mais importantes contribuições pósfreudianas à compreensão dos transtornos alimentares, a autora, num segundo momento, apresenta as idéias que foram se construindo, ao longo dos anos, fazendo um entrelaçamento destas com a sua própria experiência clínica. Detendo-se de início na função alimentar entre o corpo, o eu e o outro, enfatiza que nas pessoas que têm distúrbios alimentares, ocorre uma distorção da imagem corporal, imagem esta que se constrói a partir de experiências precoces: elas se vêem com um aspecto físico normal, quando, na verdade, estão magérrimas. Destaca a importância da mãe – ou seu substituto – na constituição dos processos de simbolização da criança. “Através da escuta e da interpretação das sensações corporais realizada pela mãe que o bebê vai construindo a imagem do seu corpo e, assim sua identidade. É essa construção que parece encontrar-se perturbada na anorexia e na bulimia. Se a mãe não tem a condição psíquica necessária para perceber as necessidades do bebê, ela interpretará seus apelos segundo suas próprias necessidades. Nessas condições, o bebê se desenvolve preso na impotência e na dependência desse objeto primário”. 284 INTERAÇÕES • V OL . XII • n .o 22 • p. 283-286 • J UL-DEZ 2006 A mãe além de assegurar a conservação da vida do bebê, ainda permite o acesso ao prazer através da promoção da sexualidade. Caso isto não ocorra, evidencia-se uma dificuldade da percepção do corpo, distorcendo a imagem corporal, pois o “corpo é o lugar de conflitos ligados ao feminino e à sexualidade”. A autora reflete em seu livro grande familiaridade com o campo psicanalítico e suas articulações com as noções dos transtornos alimentares revelam o aprofundamento teórico que marca sua trajetória. Assim, sua pesquisa refaz o percurso de Freud focada na teoria das pulsões, na recusa de morte e nas vicissitudes da identificação primária, com o intuito de ampliar sua contribuição à compreensão da metapsicologia da anorexia e da bulimia. Enfatiza, ainda que a indiferenciação com a figura materna possibilita uma indiferenciação entre o próprio corpo e o corpo da mãe, tendo, desta forma, “um corpo para dois” (Dougall, 1986); cabe à anoréxica uma tentativa de diferenciação entre estes corpos. Assinala ainda a complexidade da condução do processo analítico, no qual solicita dos analistas “delicadeza e criatividade”. Segue destacando que a adolescência e a puberdade são fases favoráveis para o aparecimento destes transtornos, uma vez que, elas trazem exigências e modificações no mundo externo do sujeito e também no interior e exterior do corpo, pois essas modificações são, muitas vezes, surpreendentes para o jovem, não só pela intensidade, mas também pela novidade que representam. Por estarem ocupando cada vez mais espaço nas cenas pósmodernas, os transtornos alimentares solicitam uma reflexão a respeito das especificidades deste mal-estar feminino, tornando-se de fundamental importância os analistas apurarem seus ouvidos para escutarem os analisandos, sem a surdez da pretensão de encaixá-los, apressadamente, nas formulações teóricas conhecidas. Uma pergunta que nos parece essencial: O que os anoréxicos e bulímicos querem dizer através de seus sintomas, uma vez que, “o corpo é o lugar de expressão daquilo que não consegue ser dito”. 285 INTERAÇÕES • V OL . XII • n .o 22 • p. 283-286 • JUL -DEZ 2006 FERNANDES, MARIA H ELENA . T RANSTORNOS A LIMENTARES : ANOREXIA E BULIMIA Apresentar este trabalho de Maria Helena Fernandes é, além de um grande prazer, uma grande honra, visto que ela cativa o leitor pela forma que escreve e pela originalidade; o livro nos oferece muitos subsídios para conhecermos melhor o universo complexo dos transtornos alimentares a partir da teoria psicanalítica. O que não poderia ser diferente, uma vez que Maria Helena Fernandes é psicanalista, doutora em Psicanálise e Psicopatologia de Paris VII, com pósdoutorado pelo departamento de Psiquiatria da Unifesp; é professora do curso de Psicossomática do Instituto Sedes Sapientiae e autora dos livros L’hypocondrie du revê et lê silence des organes: une clinique psychanalytique du somatique (Villenueve d’Ascq: Presses Universitaires du Septentrion, 1999 e de Corpo (2003), da mesma Editora. GLENDA AREF SALAMAH DE MELLO Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade São Marcos. e-mail: [email protected] 286 INTERAÇÕES • V OL . XII • n .o 22 • p. 283-286 • J UL-DEZ 2006