UNIVERSIDADE FEDERALDE SERGIPE
NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO E ESTUDOS DO SEMI-ÁRIDO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque Omena
ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO DE PLANTAS COM
AÇÃO NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL: PERSPECTIVA
DE SUSTENTABILIDADE EM
UMBUZEIRO DO MATUTO - PORTO DA FOLHA/SE
(DISSERTAÇÃO DE MESTRADO)
SÃO CRISTÓVÃO, SETRAGETÓRIA
200
SÃO CRISTÓVÃO, SE
2003
Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque Omena
ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO DE PLANTAS COM AÇÃO NO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL: PERSPECTIVA DE
SUSTENTABILIDADE EM
UMBUZEIRO DO MATUTO - PORTO DA FOLHA/SE
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Sergipe
como parte das exigências do Curso de Mestrado do
Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente do
Núcleo de Estudos do Semi-Àrido PRODEMA-NESA,
área de concentração Desenvolvimento Regional e subárea de concentração Desenvolvimento de Regiões SemiÁridas.
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli
Co-orientador: Prof. Dr. Murilo Machioro
SÃO CRISTÓVÃO, SE
2003
O55e
Omena, Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque
Estudo etnofarmacológico de plantas com ação no sistema nervoso central:
perspectiva de sustentabilidade em Umbuzeiro Matuto - Porto da Folha/SE /
Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque Omena. - São Cristóvão,
2003.
123p. : il.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Núcleo de
Pós-Graduação e Estudos do Semi-Árido, Programa Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe.
1. Ecologia social. 2. Etnofarmacologia. 3. Plantas medicinais. 4. Sistema
nervoso. 5. Sustentabilidade ambiental – Porto da Folha (SE). I. Título.
CDU 504.03(813.7Porto da Folha):633.888
Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque Omena
ESTUDO ETNOFARMACOLOGICO DE PLANTAS COM AÇÃO NO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL: PERSPECTIVA DE
SUSTENTABILIDADE EM
UMBUZEIRO DO MATUTO - PORTO DA FOLHA/SE
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Sergipe
como parte das exigências do Curso de Mestrado do
Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente do
Núcleo de Estudos do Semi-Àrido PRODEMA-NESA,
área de concentração Desenvolvimento Regional e subárea de concentração Desenvolvimento de Regiões SemiÁridas.
COMISSÂO EXAMINADORA
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli (Presidente)
Universidade Federal de Sergipe
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Adauto de Souza Ribeiro
Universidade Federal de Sergipe
___________________________________________________________________________
Profª. Drª. Clarice Novaes da Mota
Associação Nação de Jurema
Aprovada em Defesa Pública
Em 11/ 06/2003
SÃO CRISTÓVÃO, SE
2003
Dedico este trabalho
Aos meus familiares, cuja distância geográfica não
se configurou limite para que compartilhassem do
meu desejo de realizá-lo.
Aos filhos, Antonio (Tony),
Amanda e André, parte de mim mesma, aos quais
devo toda a minha força interior.
A Larissa, criança amada,
por quem me orgulha, embora precocemente, ser
chamada vovó.
A autora
AGRADECIMENTOS
Às energias cósmicas, que certamente, por algum motivo superior, me conduziram ao NESA
e me inspiraram na realização deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli, pela oportunidade e confiança depositada.
Ao Prof. Dr. Murilo Machioro, pela co-orientação segura, e cuja abnegação e
comprometimento com a ciência me serviram o tempo inteiro de exemplo.
À comunidade de Umbuzeiro do Matuto, sem a qual não seria possível as reflexões constantes
desta dissertação.
À Prof. Dra. Clarice Novaes Mota, pelas orientações e sugestões.
Ao Professor M.Sc. Roberto Jerônimo, incentivador primeiro do meu crescimento
profissional.
Ao companheiro Gilvan, cujo tempo restrito não impossibilitou auxiliar-me na fase inicial das
atividades de campo e de laboratório.
Às amigas Ieda e Marlene, que embora acercadas de compromissos, estiveram sempre
disponíveis para colaborar nas atividades que envolveram o trabalho.
A Valéria, aluna da graduação de medicina, a quem devo a presença sempre fiel durante as
atividades experimentais que consubstanciam o estudo.
A Jeane, pela valiosa contribuição nas análises de dados estatísticos.
Ao Prof. Joilson Vasco Gondim, pela criteriosa revisão gramatical.
Ao aluno Jomaks, graduando de Biologia, pelo auxílio na identificação botânica das espécies
vegetais.
Aos professores do mestrado, cuja orientação segura encontra-se agora refletida nas
entrelinhas deste trabalho.
Aos funcionários do NESA: Aline, Almir e Catiene, que de forma competente e gentil
souberam conduzir suas atividades em prol dos mestrandos.
Aos colegas de turma, pela corrente positiva formada em volta do grupo, especialmente
àqueles que o destino me levou para mais próximo, para que eu aprendesse a fazê-los amigos.
Aos amigos, os quais preferi não listar a fim de não cometer injustiça, que se aventuraram no
sol forte da caatinga para ajudar-me a coletar os dados da pesquisa.
Aos outros amigos, dos quais tive que me distanciar do convívio por algum tempo, por
necessidade das atividades que envolveram este estudo, e que tenho certeza, estiveram do
outro lado torcendo pela minha vitória.
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................ iv
ABSTRACT. ............................................................................................................................ v
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ vi
LISTA DE QUADROS ........................................................................................................ viii
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ ix
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
1 INTERFACE ENTRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE ................. 6
1.1 Breve panorama da situação global ............................................................................... 7
1.2.Abordagem nacional: o nordeste em foco. .................................................................... 12
1.3 Estabelecimento de novos paradigmas .......................................................................... 18
2 ENDOGENEIDADE COMO PRINCIPIO DO DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO ................................................................................................................. 24
2.1 No potencial florístico regional um elemento favorável à descoberta de novos fármacos
......................................................................................................................................... 26
2.2 Da preservação da sociobiodiversidade ao uso sustentável dos recursos naturais ....... 32
2.3 Perspectivas para o semi-árido sergipano ..................................................................... 37
3 UM OLHAR SOBRE UMBUZEIRO DO MATUTO ..................................................... 44
3.1 Cultura, especificidade e ambiência .............................................................................. 50
4 IMPORTÂNCIA DA FITOTERAPIA NOS DISTÚRBIOS DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL ........................................................................................................................... 59
5 METODOLOGIA .............................................................................................................. 65
5.1 Caracterização da pesquisa ........................................................................................... 65
5.2 Procedimentos metodológicos ..................................................................................... 67
5.2.1 Atividades de campo ......................................................................................... 67
5.2.2 Trabalho de laboratório...................................................................................... 69
5.2.3 Análise de dados ................................................................................................ 72
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 74
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 104
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 109
APÊNDICE .......................................................................................................................... 117
ANEXOS .............................................................................................................................. 120
iv
RESUMO
OMENA, Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque. Estudo etnofarmacológico de plantas
com ação no sistema nervoso central: perspectiva de sustentabilidade em Umbuzeiro
Matuto - Porto da Folha/SE. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe (UFS), 2003.
130 f. (Dissertação – Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente)1.
Em todo o mundo a procura por fármacos naturais, que apresentem menos efeitos colaterais
que os fármacos sintéticos e de custos mais baixos, torna-se cada vez mais crescente. No
Brasil, dada sua megabiodiversidade, o grande nível de pobreza que marca a sociedade,
destaque para o semi-árido nordestino, e o hábito que diversas comunidades isoladas ainda
têm do uso de plantas para fins terapêuticos, não é aceitável que esse recurso deixe de ser
aproveitado, de forma sustentada, e em prol da própria população. Partindo desse princípio,
esse estudo, realizado junto aos moradores do povoado Umbuzeiro do Matuto, município de
Porto da Folha/SE, onde o hábito do uso de “plantas medicinais” se faz presente, teve como
objetivo identificar a eficiência das espécies vegetais com suposta ação no sistema nervoso
central, no intuito de validá-las cientificamente, estabelecendo assim a relação entre a
importância da prática do uso e a utilização sustentável da biodiversidade. Para tanto,
recorreu-se a uma metodologia pautada na “fala” dos atores sociais, a partir da qual foram
selecionadas e testadas as seguintes plantas: imburana de cheiro (Amburana cearensis Fr. All;
Smith.), aroeira (Astronium urundeuva Engl.), alecrim de vaqueiro (Líppia mycrophylla
Cham) e bom nome (Maytenus rígida Mart.), chegando-se à constatação que três, das quatro
espécies submetidas aos ensaios farmacológicos, e das quais a população faz uso, possuem o
efeito indicado. Entretanto, as pesquisas na comunidade também revelaram que aos poucos
esse costume vem sendo influenciado pelo processo de uniformização de culturas, embutido
no fenômeno já instaurado de globalização. Essa realidade suscita na necessidade de se
valorizar a pluralidade e diversidade cultural dos povos, sociobiodiversidade, desencadeando
a compreensão que o contexto cultural, traduzido em saberes práticos sobre a natureza, que
fazem parte do cotidiano das diversas populações, constituem-se num patrimônio de grande
valor; unicamente através da transmissão oral pelos diversos grupos humanos (indígenas,
agricultores, ribeirinhos etc) é possível se conhecer os modos de produção e forma como os
saberes foram engendrados, saberes esses que podem servir de ferramenta útil para
impulsionar a pesquisa científica.
Palavras-chave: Etnofarmacologia, plantas medicinais, sistema nervoso, sustentabilidade.
1
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli – UFS
v
ABSTRACT
OMENA, Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque. Ethnopharmacological study of plants
with action nervous central sistem: perspective of sustentability in Umbuzeiro Matuto Porto da Folha/SE, São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe (UFS), 2003. 130 f.
(Dissertação – Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente)2.
All over the world the search for natural pharmacos that presents less collateral effects that the
syntheticals pharmacos and the low costs, turns each time more crescent. In Brasil, according
to its biodiversity, the great level of poverty that marks the society, to detach for the northeastern semi-arid, and the habit, that the several communities still have form the use of the
plants to ends of healing, it’s not acceptable that this resource stop being profitable, of the
defensible form, and on favor of the own population. Starting from the beginning, this study,
to be realized together the dwellings from the village Umbuzeiro do Matuto municipality of
Porto da Folha/SE, where the habit of the use of “Medicinal Plants” makes present, had as
objective identify the efficiency of the vegetal species with supposed action in the nevours
system central, on itent to validate them scientifically, stabilishing in this way the relation
between the practice’s importance of the use and the defensible utilization of the biodiversity.
Otherwise, resorted to a methodology ruled in “speech” from the social actors, from wich
were selected and tested the following plants: aroeira-do-sertão (Astronium urundeuva),
alecrim de vaqueiro (Lantana sp), bom nome (Maytenus rígida Mart.) and imburana de cheiro
(Amburana cearensis), come to verify that three, from the four species submited to the
pharmacologics essays, and from which the population makes use, have the indicated effect.
Meanwhile, the search in community also revealed that little this custom come being
influenced by the process of culture’s standardzation, sunk in the phenomenon already
founded of globalization. This reality rises up on the necessity to give value the plurality and
the cultural diversity of the people, sociobiodiversity, unchainning the comprehension that the
cultural context, brougth in practics knows about the nature, that makes part of the quotidian
of several population that constitute on a great value’s patrimone, singly throug the oral
transmission by several humans groups (indigenous, farmers, riparian etc) it’s possible nows
the ways of production and the form how the nkows were engendered, knows that can serve
as a useful tool to impel the scientific search.
Keys-words: Etnopharmacologic, medicinal plants, nervous system, defensibly.
2
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli - UFS
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Mapa de localização da área de pesquisa ........................................................... 45
Figura 02 – Estrada de acesso a Umbuzeiro do Matuto ........................................................ 46
Figura 03 – Esboço do povoado Umbuzeiro do Matuto ....................................................... 48
Figura 04 – Cerca feita com estacas: propriedade do Sr. Beijo ............................................. 51
Figura 05 – Mulungu (Erythrina velutina Wild.) em frente a uma casa do povoado ............ 52
Figura 06 – Trilha na caatinga no período de seca – Umbuzeiro do Matuto ......................... 53
Figura 07 – Assentamento dos sem terra ............................................................................... 55
Figura 08 – Plantação de palma ............................................................................................. 56
Figura 09 – Resumos referentes a plantas medicinais de ação sobre o SNC ......................... 63
Figura 10 – Entrevista com D. Enide – benzedeira ............................................................... 75
Figura 11 – Conversa com D. Pastora e D. Cecília, moradoras do povoado......................... 80
Figura 12 – Efeito do extrato aquoso do Astronium urundeuva no número de cruzamento dos
animais ................................................................................................................ 88
Figura 13 – Efeito do extrato aquoso do Astronium urundeuva no número de levantamentos
dos animais ......................................................................................................... 88
Figura 14 – Efeito do extrato aquoso do Astronium urundeuva nos rituais de limpeza dos
animais ................................................................................................................ 88
Figura 15 – Latência e tempo de sono em animais submetidos a tratamento com extrato
aquoso do Astronium urundeuva ........................................................................ 89
Figura 16 – Astronium urundeuva Engl. ................................................................................ 90
Figura 17 – Efeito do extrato aquoso da Amburana cearensis no número de cruzamento dos
animais ................................................................................................................ 91
Figura 18 – Efeito do extrato aquoso da Amburana cearensis no número de levantamentos
dos animais ......................................................................................................... 91
Figura 19 – Efeito do extrato aquoso da Amburana cearensis nos rituais de limpeza dos
animais ................................................................................................................ 91
Figura 20 – Latência e tempo de sono em animais submetidos a tratamento com extrato
aquoso da Amburana cearensis .......................................................................... 92
Figura 21 – Amburana cearensis Fr. All; Smith .................................................................. 93
Figura 22 – Efeito do extrato aquoso da Maytenus rigida no número de cruzamento dos
animais .............................................................................................................. 94
vii
Figura 23 – Efeito do extrato aquoso da Maytenus rigida no número de levantamentos dos
animais ............................................................................................................. 94
Figura 24 – Efeito do extrato aquoso da Maytenus rigida nos rituais de limpeza dos animais
........................................................................................................................... 94
Figura 25 – Latência e tempo de sono em animais submetidos a tratamento com extrato
aquoso da Maytenus rigida .............................................................................. 95
Figura 26 – Maytenus rigida ............................................................................................... 96
Figura 27 – Efeito do extrato aquoso da Lippia mycrophylla no número de cruzamento dos
animais .............................................................................................................. 97
Figura 28 – Efeito do extrato aquoso da Lippia mycrophylla no número de levantamentos dos
animais ............................................................................................................. 97
Figura 29 – Efeito do extrato aquoso da Lippia mycrophylla nos rituais de limpeza dos
animais .............................................................................................................. 98
Figura 30 – Latência e tempo de sono em animais submetidos a tratamento com extrato
aquoso da Lippia mycrophylla .......................................................................... 98
Figura 31 – Lippia mycrophylla Cham ........... ................................................................... 99
viii
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Número de resumos referentes a plantas medicinais, em eventos nacionais
por ano de publicação .......................................................................................... 29
Quadro 02 – Categoria de atividades, relacionadas com plantas medicinais, existentes no
cadastro Técnico Federal do Ibama com seus valores para registro .................... 40
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Resultados apresentados com a espécie Astronium urundeuva (aroeira) na
triagem farmacológica comportamental ................................................................................ 83
Tabela 02 – Resultados apresentados com a espécie Amburana cearensis (imburana de
cheiro) na triagem farmacológica comportamental ............................................................... 84
Tabela 03 – Resultados apresentados com a espécie Maytenus rigida (bom nome) na triagem
farmacológica comportamental .............................................................................................. 85
Tabela 04 – Resultados apresentados com a espécie Lippia mycrophylla (alecrim de
vaqueiro) na triagem farmacológica comportamental ........................................................... 86
INTRODUÇÃO
A
Convenção
sobre
Diversidade
Biológica,
Agenda
21
(subscrita
na
CNUMAD1/1992), sugere que sejam adotadas medidas decisivas para conservar os genes, as
espécies e os ecossistemas com vistas ao manejo e uso sustentável dos recursos biológicos,
considerando que os mesmos constituem um capital com grande potencial de produção de
benefícios sustentáveis.
As recomendações explicitadas no documento arrematam este estudo que tem como
objetivo avaliar farmacologicamente a eficiência das plantas medicinais com ação no sistema
nervoso central utilizadas pela população do povoado Umbuzeiro do Matuto, Município de
Porto da Folha, semi-árido sergipano. Tal avaliação leva à validação científica e permite que
se estabeleça a relação entre a importância da prática do uso e a utilização sustentável da
biodiversidade. A comunidade local, portanto, é elemento essencial a essa abordagem,
conforme importância também mencionada na CDB2.
Nessa perspectiva, recorreu-se a uma metodologia pautada na observação de fatos e no
discurso dos moradores locais, especialmente rezadores e benzedeiras, como forma de captar
um saber produzido pelas práticas cotidianas, na construção social do ambiente, que se
encontram impressos em estratégias próprias de sobrevivência. Para tanto utilizou-se a técnica
de entrevista aberta com roteiro semi-estruturado, definida por Nogueira (1978) como o
instrumento mais adequados para “conhecer opiniões, atitudes e crenças”.
Endossando o conceito sugerido por Bruhn & Holmstedt (1980 apud Amorozo, 1996,
p. 49) de que “a etnofarmacologia consiste na exploração interdisciplinar de agentes
1
2
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro-1992.
Convenção sobre Diversidade Biológica, in Agenda 21, cap. 15 p. 175-176.
2
biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem”, procurouse empregar conhecimentos da ecologia, antropologia, botânica, sociologia, economia,
química, farmacologia e agronomia, com ênfase na etnofarmacologia, que é a síntese entre
antropologia e farmacologia, para tentar elucidar as diversas facetas envolvidas na intrincada
relação sociedade-natureza-desenvolvimento, com fins à sustentabilidade.
Nortearam o estudo as seguintes questões de pesquisa: O conhecimento popular das
plantas medicinais com ação no sistema nervoso central insere-se na comunidade alvo do
estudo? Qual a relação entre o conhecimento empírico da comunidade sobre as plantas com
atividade no SNC3 e o conhecimento científico? É possível conciliar a prática do uso de
plantas pela comunidade do povoado com o uso sustentável da biodiversidade?
As questões levantadas suscitaram o estabelecimento dos seguintes objetivos
específicos:

Identificar as plantas com ação no SNC mais utilizadas pela população,
caracterizando as respectivas formas de uso;

Verificar as propriedades das plantas com ação no SNC, utilizando testes
farmacológicos específicos;

Estabelecer relação entre os resultados científicos e a prática do uso pela
comunidade da região em foco;

Relacionar os resultados do estudo com a utilização sustentável dos recursos da
natureza pela comunidade.
O interesse por fármacos que atuam ao nível de SNC justifica-se nesse trabalho por
quatro razões: a primeira delas é a constatação de que os fármacos sintéticos, tradicionalmente
3
utilizados para o tratamento de doenças neurológicas, apresentam diversos efeitos
indesejáveis aos seus usuários; a segunda deve-se ao fato de os estudos que investigam
plantas com essa atividade ainda serem restritos, principalmente no Estado de Sergipe; a
terceira é atribuída à importância econômica das plantas com esse efeito para os usuários que
delas necessitam; e a quarta é o uso comum de plantas com essa ação entre a população do
povoado.
Partindo dessa realidade e do entendimento de que desenvolvimento só se efetiva
quando é capaz de atender às necessidades humanas, sociais, econômicas e ambientais, essa
dissertação traz em seu primeiro capítulo uma breve análise do modelo de desenvolvimento
até então adotado no cenário mundial, enfocando suas conseqüências para o Brasil e para o
nordeste, em particular, sob o ponto de vista da exaustão dos recursos naturais e da qualidade
de vida da população, questionando os pressupostos que constituem o pano de fundo dos
novos paradigmas ambientais recentemente impostos.
Na segunda parte do trabalho, analisa-se a possibilidade de partindo dos componentes
endógenos ao semi-árido sergipano, se buscar a conciliação entre desenvolvimento e
preservação da biodiversidade. Nesse ponto são retratadas as potencialidades florísticas
brasileira, regional e local, destacando-se a importância do saber etnobotânico mantido pelas
comunidades tradicionais e locais, que encontra-se inserido num contexto social, ecológico e
científico.
O terceiro capítulo configura-se em um olhar sobre o povoado Umbuzeiro do Matuto,
que apesar de já começar a apresentar sinais de influencia do massificante processo de
globalização e de alguns indícios de devastação ambiental, ainda comporta algumas
3
Sistema nervoso central.
4
singularidades, principalmente no tocante à preservação de uma cultura própria, relativa ao
uso de plantas para fins terapêuticos, tornando propício os estudos etnofarmacológicos.
O quarto capítulo tece breves considerações acerca da importância das plantas no
tratamento de distúrbios do SNC, incluindo informações sobre as substâncias químicas,
naturais ou sintéticas, que de alguma forma atuam alterando seu metabolismo básico.
No quinto capítulo consta a descrição dos procedimentos metodológicos utilizados para
o desenvolvimento do trabalho, que compreenderam atividades de campo, procedimentos de
laboratório e análise integrada.
O sexto e também último capítulo do trabalho, analisa a relação existente entre os
dados obtidos em campo a partir do etnoconhecimento dos atores sociais, confrontando-os
com dados estatísticos que revelam o potencial terapêutico das plantas com suposta ação no
SNC, que foram submetidas aos ensaios farmacológicos.
Contextualizando o estudo, aprecia-se, nas considerações finais, a importância do
conhecimento mantido pela comunidade pesquisada, do ponto de vista dos potenciais
ambientais locais, não apenas em termos de uso dos recursos naturais, mas ainda sob o
aspecto do delineamento de estratégias sociais e culturais, para manutenção dos benefícios
gerados e da adoção de iniciativas locais e sustentáveis de desenvolvimento. Comenta-se
posteriormente sobre a importância da mobilização comunitária no sentido de viabilizar ações
que integrem a dimensão ecológico-cultural com a sustentabilidade social (desenvolvimento
endógeno).
Pretende-se dessa forma corroborar para o uso sustentável da biodiversidade no
povoado, em consonância com o recomendado pela CDB e com três das cinco dimensões da
sustentabilidade, propostas por Sachs (1996):
5
1) Dimensão da sustentabilidade social - sugerindo alternativas de subsistência
para as famílias moradoras do povoado, através do desenvolvimento de
cooperativas para aproveitamento econômico das plantas de ação terapêutica e
toxicologia devidamente comprovadas;
2) Dimensão ecológica - incentivando técnicas de manejo para espécies vegetais
utilizadas com fins medicinais, visando a manutenção da floresta para a
continuidade de sua utilização;
3) Dimensão cultural - estimulando a efetivação de programas de Educação
Ambiental como forma de preservação do etnoconhecimento sobre o uso de
plantas para fins medicinais.
6
1 INTERFACE ENTRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE
Se há uma síntese possível para esse final de século, pode-se caracterizá-la como o
esgotamento de um estilo de desenvolvimento que mostrou-se ecologicamente
predatório, socialmente perverso e politicamente injusto (BRASI, 1991, p.15).
O comentário acima aludido resume de forma clara e precisa o cenário de
insustentabilidade com o qual a humanidade se deparou neste inicio de milênio. O uso da
natureza como mercado, além de causar sérios problemas de ordem social, redundou em
graves riscos ambientais de caráter global, como é o caso da extinção de grande parcela da
biodiversidade, da destruição da camada de ozônio e do efeito estufa.
Por certo, todas as convulsões evidentes fizeram com que emergisse, no final do
século passado, uma preocupação mundial com os limites da biosfera, impondo a necessidade
de se rever o modelo de desenvolvimento adotado até então. Sob essa ótica, a natureza
assumiria um novo papel, que não mais o de recurso inesgotável, o qual se poderia explorar
ilimitadamente.
A partir dessa nova concepção a temática conservação da natureza passou a ganhar
espaço nos debates de cunho ambiental global. Atualmente compreende-se que a
biodiversidade suscita o desafio de sua proteção e do aproveitamento do seu potencial
econômico aliado aos benefícios sociais.
Entretanto, segundo Albagli (1998) esse novo paradigma que gira em torno da
preservação e do aproveitamento da diversidade biológica, subscrito no escopo da CDB, vem
precedido de contradições que levam à possibilidade de privatização da natureza, haja vista os
recursos biológicos serem considerados como recurso global ou herança comum da
7
humanidade, mas estarem ali declarados como patrimônios nacionais, afirmando-se o direito
soberano dos Estados de explorarem seus próprios recursos.
Outra questão que merece análise cuidadosa refere-se ao próprio entendimento dos
termos desenvolvimento e sustentabilidade. O que representa cada um deles? Para quem? E
mais, de que lógica deve-se partir para avaliar o desenvolvimento?
Da ciência e da
tecnologia? Do crescimento do PIB4? Da conservação da biodiversidade? Dos dados do
IDH5? De acordo com Gomes (1995) as respostas para essa indagações dependerá muito mais
do ponto de vista e do interesse do observador, tendo como elemento crucial seu
entendimento acerca de economia, meio ambiente e sustentabilidade.
Com base nessas considerações iniciais, será abordado neste capítulo, de forma
sintética, o modelo de desenvolvimento adotado no cenário global, voltando o foco para o
nordeste brasileiro, a fim de observar suas conseqüências e avaliar a possibilidade de adoção
dos novos paradigmas impostos, como alternativa de desenvolvimento para a região.
1.1 Breve panorama da situação global
O século XX foi iniciado com duas convicções: a aposta no desenvolvimento
cientifico e tecnológico como saída para a crise vivida pela economia capitalista6; e,
provavelmente pautada na lei de Lavoisier7, a crença que os recursos naturais eram ilimitados.
Com base nessas duas premissas, as forças produtivas, necessitando reinvestir
incessantemente para não entrar em colapso, passaram a utilizar-se de novas fontes de energia
4
Produto Interno Bruto
Índice de Desenvolvimento Humano
6
Sistema econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção, na organização da produção visando o
lucro e empregando trabalho assalariado, e no funcionamento do sistema de preços (Dicionário Aurélio – Século XXI).
5
8
(baseada na eletricidade e nos combustíveis fósseis, não renováveis), chegando a atingir o
auge do limite da produção. “A corrida da tríade que tomou a seu cargo a aventura humana,
ciência/técnica/indústria, perdeu o controle” (MORIN, 1993, p.76). Incontestavelmente, como
resultado dessas ações, além da exaustão dos combustíveis fósseis e da escassez dos recursos
hídricos, em parte usado como matriz energética, a humanidade chega ao último cartel do
século numa situação de miserabilidade nunca antes vivenciada.
Philippi Jr., Coimbra e Pelicione (2000) assinalam que o conjunto de riscos globais
que constitui séria ameaça a todo o ecossistema planetário foi originário da competição
científica, tecnológica e industrial entre vários países, agravada com a revolução industrial do
pós-guerra.
Atualmente, segundo Albagli (1998), toda essa crise também se encontra revelada na
interdependência e na fragilidade das economias emergentes, na exploração e na perda da
biodiversidade, na inversão de valores éticos e no crescente aumento da pobreza em escala
mundial. Compartilha desse mesmo intento Foladori (1999) que atribui ao padrão de
desenvolvimento centrado na produção e reprodução do capital a responsabilidade pela
maximização do potencial de destruição ecológica e pela emergência do desemprego crônico
que também se evidenciara.
Dessa maneira, o capitalismo além de destruir o entorno natural, tornara supérflua
ampla fração da sociedade, na medida que a tendência de substituição de trabalho humano por
máquinas adensaram a taxa de desemprego e subemprego em todo o mundo. A lógica do
mercado houvera submetido, de forma indiscriminada, a natureza aos imperativos do lucro.
Em situação de desemprego e impossibilitada de vender sua força de trabalho no mercado
7
Antoine Laurent de Lavoisier, cientista que viveu no séc. XVII autor da célebre frase “Na natureza nada se perde e nada se
cria, tudo se transforma”.
9
alienado dos meios de produção, significativa parcela da população ficou à margem da
riqueza social.
Entretanto, muito mais profunda do que possa parecer à primeira vista, a raiz da
questão resulta de um processo histórico-cultural que tem origem numa concepção de
natureza objetiva e exterior ao homem, e no próprio conceito que foi sendo formado pelos
grupos humanos sobre desenvolvimento. Segundo Gonçalves (1990) a filosofia platônica
medieval que propunha a separação entre espírito e matéria, tendo posteriormente assumido
feições modernas com a teoria de Descartes, foi a principal influência na separação entre
sujeito e objeto na sociedade capitalista ocidental: o homem – o sujeito debruçara-se sobre a
natureza – objeto.
Com isso, confirma-se mais uma vez a tese que o homem está localizado fora da
natureza, ao menos quanto à própria autoconsciência. Ocupando e explorando a
natureza na prática, o homem moderno está vivendo como se não fizesse parte dela
[...] (KESSELRING, 1992, p.35).
Gradativamente, o processo de domínio presente na relação Homem-Natureza, foi
dividindo espaço com um antropocentrismo intra-específico, pautado na exploração do
homem pelo homem, observável desde a mais antiga forma de organização do trabalho: a
escravidão até os preconceitos de ordem etnocêntricas (racista, classista e sexista), presentes
hoje nas organizações sociais advindos da lógica capitalista.
Exemplo clássico do etnocentrismo foram os modelos políticos impostos pelos
países “mais avançados” aos países “menos avançados”, como é o caso do Brasil, justificado
pela concepção de que o homem branco, europeu ocidental, seria mais desenvolvido, mais
civilizado e superior aos latino-americanos, africanos e asiáticos.
10
Com base nessa visão antropocêntrica e etnocêntrica, a sociedade ocidental também
passara a inferir a si mesma a teoria de Charles Darwin sobre a evolução das espécies,
aplicada ao comportamento natural comum entre os animais e as plantas em termos de luta
pela existência, lei dos mais aptos, originando o que os sociólogos denominam “Darwinismo
social”8, ideologia que refletiu principalmente nas divisões de trabalho e abertura de novos
mercados. Kesselring (1992, p. 35) a esse respeito infere o seguinte comentário: “O que
segundo a teoria da evolução é o mais nítido indício de adaptação, o crescimento
populacional, transformou-se, no caso da espécie Homo sapiens, num indício de
desadaptação”.
Por certo, a analogia entre a teoria de Clarles Darwin e as relações societárias não
refletiu exclusivamente na competição de mercado, mas em todas as esferas das sociedades
humanas, envolvendo a violação dos direitos fundamentais, Humanos e Constitucionais,
vindo a ameaçar os fundamentos mesmo do social.
As formações sociais mais complexas são fruto de complicados processos históricos
de integração, seja pela troca, seja pela persuasão ou pela guerra, de unidades sociais
menores que acabam sendo absorvidas por unidades sociais e territoriais maiores,
tais como aquelas que são controladas por ‘Estados’ modernos (VIRTLER, 1999,
p.19).
Indubitavelmente, deve-se ao modelo econômico adotado, ele próprio fruto do
antropocentrismo e etnocentrismo, a crise instaurada não só do ponto de vista ambiental, mas
ainda das próprias transformações societárias, às quais a natureza foi submetida
indiscriminadamente aos imperativos do lucro e a espécie humana miseravelmente
negligenciada. As duas grandes Guerras Mundiais configuraram-se na forma mais explícita de
8
Corrente teórica da segunda metade do séc. XIX e primeira metade do séc. XX, ou a doutrina por ela formulada, que aplica
alguns princípios básicos da idéia darwinista de evolução (como as de seleção natural, luta pela existência, e sobrevivência
do mais apto) ao estudo e interpretação da vida humana em sociedade (Dicionário Aurélio – Século XXI).
11
mostrar para o mundo a competitividade e a luta humana pelo controle da natureza e dos
outros homens.
Com relação ao entendimento do conceito de desenvolvimento, já mencionado
anteriormente como outra razão para a crise global ora enfrentada, há de perceber-se que
este também resulta da condição antropocêntrica humana, que fora se cristalizando ao longo
da história.
Caiden e Caravantes (1998) relatam que na antiguidade desenvolvimento era atribuído
exclusivamente aos processos de mudança seqüencial de um estágio para outro, numa ordem
preestabelecida, invariável. Na renascença, houvera se modificado, passando a expressar uma
ordem na qual a natureza não mais se revelaria livremente, à sua própria maneira, e a partir de
então o homem iria redescobri-la, devendo empregar todo o seu talento e energias para
melhorar a condição humana. Daí em diante, até pelo menos a década de 40, desenvolvimento
passara a significar, sobretudo, desenvolvimento econômico.
Criou-se, a partir de então, uma contradição manifesta. Enquanto a racionalidade
econômica levou ao enriquecimento alguns poucos privilegiados, a maior parte da população
se vê hoje privada de seus direitos mais básicos: moradia, saúde e alimentação. A riqueza não
é distribuída igualmente entre os habitantes do planeta.
Atualmente cerca de um bilhão de pessoas vive em estado de completa pobreza, e
embora seja corrente nos meios midiáticos, e inclusive acadêmicos, representar o
recrudescimento da pobreza ou crescimento populacional como um problema ambiental,
Foladori (1999, p.120) afirma que “a pobreza ou o incremento populacional não são senão
conseqüências, manifestações, da falta de acesso ao mercado capitalista”.
Diante da total imprevisibilidade que marcou o final do século XX, Buarque (1995,
p.69) conclui: “O século que se iniciou com sonhos de igualdade graças ao progresso técnico
12
e ao crescimento econômico, terminou com uma desigualdade nunca antes vista na história da
humanidade”.
1.2 Abordagem nacional: o nordeste em foco
Segundo Philippi Jr., Coimbra e Pelicione (2000) o Brasil tem um relatório próprio de
ações degradadoras contra o meio natural, originárias de convulsões que perduram por mais
de cinco séculos e que acarretaram a exaustão de recursos minerais, vegetais e animais. Para
esses autores “os ciclos econômicos sucessivos: gado, cana, ouro e café são a origem de um
desmatamento feroz, cego e impiedoso que consumiu milhões e milhões de hectares e
arruinou irremediavelmente a biodiversidade em vários biomas brasileiros” (p.321).
Todas essas ações, além de se mostrarem deletérias ao entorno natural, mostraram-se
do mesmo modo disruptivas para o próprio entorno social humano, sobretudo na região
Nordeste9, que embora tenha servido de berço para a recente história de ocupação do país e
base para a implantação do engenho da cana-de-açúcar, ou seja, da primeira “indústria”
nacional, é hoje, paradoxalmente, a mais pobre, mais marginalizada, e de acordo com
Dourojenni (2001) a mais devastada em seus recursos naturais. Além disso, ainda concentra
grande quantidade de pessoas muito pobres, que até agora não puderam beneficiar-se do
chamado processo de desenvolvimento nacional.
O quadro que ora emoldura o nordeste denuncia claramente as marcas herdadas da
exploração ocorrida durante a colonização do Brasil. Com base em Almeida e Vargas (1997)
pode-se atribuir às práticas de agricultura e pecuária extensiva adotadas secularmente, mais
9
Como foi mencionado por Beni Veras, Ex-Ministro-chefe da Secretaria de Planejamento Orçamento e Coordenação da
Presidência da República, no capítulo introdutório do Projeto Áridas, 1995.
13
expressivamente no século XIX, parte do agravamento do processo ainda em curso, de
ameaça à sua biodiversidade.
Mendes (1997) comenta que a pecuária extensiva, aliada às superpopulações humanas,
teria contribuído para a diminuição da flora nativa da região e se apresenta atualmente como
condicionante para a situação de miserabilidade dos nordestinos. Dourojenni (2001) classifica
essa atividade como mais impactante do que a exploração florestal ou as atividades
extrativistas. Segundo esse autor no período compreendido entre 1960 e 1990, 20% das
florestas tropicais desapareceram, sendo que no Brasil o bioma mais prejudicado foi a
caatinga.
Essa triste realidade, atrelada às fragilidades naturais de um ecossistema caracterizado
por vegetação vulnerável, predominantemente composta por plantas xerófilas e cadulcifólias,
coloca a região Nordeste em desvantagem com relação às demais regiões do país.
Considere-se ainda o risco quase iminente de desertificação da sua porção semi-árida,
que ocupa 80% da extensão total da região (SILVA, 1986), sendo em parte atribuída à baixa
precipitação, com chuvas que não ultrapassam 800 mm/ano (MENDES, 1997), e é
responsável pelo comprometimento do seu calendário agrícola, pela escassez de recursos
hídricos, e pelas condições do solo. Talvez por estar constituído em área geologicamente
muito antiga ou por ser raso em função da falta de proteção por parte da vegetação, o solo,
segundo Mendes (1997) se apresenta pobre em matéria orgânica e com tendência à
salinização.
Além dos problemas já mencionados (uso de técnicas agrícolas inadequadas, baixa
capacidade de enfrentar as secas, alta densidade populacional), também são apresentados
como fatores limitantes para a região situações como o mega desemprego e o baixo nível de
escolaridade. Tem-se então o retrato de uma região onde os recursos são escassos e as
14
necessidades são abundantes. Dadas essas condições, as projeções do Projeto Áridas,
realizadas no ano de 1995, apontavam tendencialmente nas décadas seguintes, para um
cenário de ameaçadora insustentabilidade.
O Nordeste padece de vulnerabilidades – constituídas por fragilidades de natureza
geoambiental, econômico-social, científico-tecnológica e político-institucional, as
quais podem vir a comprometer, no futuro, a já precária sustentabilidade de seu
desenvolvimento (PROJETO ÁRIDAS, 1995, p.39).
Segundo o Censo demográfico 2000, o drama do mercado de trabalho que assola o
país tem seu pico nas áreas mais carentes do nordeste. Com relação à escolaridade, os
registros da mesma fonte indicam que a região atualmente comporta aproximadamente 10
milhões de analfabetos (concentrando a maior taxa do país), sendo que dos que têm acesso à
escola muitos são considerados analfabetos funcionais10.
Talvez seja essa a causa de o nordeste continuar inspirando discursos políticos préeleição, oportunidade em que são apresentadas “fórmulas milagrosas” para a solução dos seus
problemas, através de propostas que parecem pouco ter de aplicação prática, algumas das
quais rotuladas desenvolvimento sustentável.
O que se percebe de fato é que a maioria dos políticos pregam o desenvolvimento
sustentável, talvez sem compreenderem o que significa e nem acreditarem no que dizem.
Dourojeanni (2001) argumenta que mesmo após quatro décadas de proposto pela comissão
Brundtland, o conceito de desenvolvimento sustentável ainda não se solidificou, nem foi
compreendido, tampouco universalmente aceito.
Compreende-se, apesar dos dados alarmantes, que para desenvolver o Nordeste não
basta somente investir na educação, sobretudo em aumentar os índices de escolaridade. Essa
10
Conceito ainda discutido entre especialistas, mas que se refere basicamente às pessoas que embora consideradas
alfabetizadas, têm dificuldade para interpretar textos básicos.
15
medida é extremamente importante, mas não deve ser suficiente. Também querer combater a
pobreza transformando pessoas e comunidades em beneficiárias passivas e permanentes de
programas assistenciais, a exemplo do Bolsa Escola, não parece ser a saída.
No contexto aqui apresentado, a pobreza é entendida como sendo fruto da
incapacidade de desenvolver potencialidades e aproveitar as oportunidades. Na opinião de
Franco (2000), que parece coerente, combater a pobreza significa fortalecer a capacidade de
as pessoas satisfazerem necessidades, resolverem problemas e melhorarem sua qualidade de
vida.
No entanto, a história tem mostrado que as propostas de desenvolvimento para o
nordeste vêm se configurando numa soma de erros originários, por um lado, de grupos
políticos, que na maioria dos casos foram guiados exclusivamente por interesses eleitoreiros,
e de outro, mais recentemente, por planos de cunho preservacionista que, na perspectiva de
uma racionalidade científica de conservação da natureza, ignoram que o espaço construído
pela comunidade local, da forma como é construído, tem para ela diversas representações.
Segundo Gomes (1995), referindo-se ao Brasil, essas ações sofreram influência
ideológica tanto dos partidos de direita como dos de esquerda, que em diferentes momentos
empunharam a bandeira do conservadorismo e protecionismo contra o progresso, na busca de
voto, e deixaram de considerar a importância da participação das comunidades tradicionais no
tocante ao desenvolvimento da região, negando a importância dos saberes e práticas
tradicionais para a manutenção do ambiente, práticas essas que ocorrem de forma natural e
contínua.
Esse aspecto pode ser analisado sob o ponto de vista das três correntes citadas por
Dourojeanni (2001): o desenvolvimentismo, o preservacionismo e o socioambientalismo, este
último designado por Diegues (2000) de ecossocialismo. De um lado o movimento
16
desenvolvimentista, predominante até a metade do século passado, preocupava-se
exclusivamente com o crescimento econômico, concebendo que a natureza existia somente
para ser explorada; do outro, o preservacionismo, originado a partir da década de 70, via a
natureza como algo intocável, que deveria servir apenas como fonte de apreciação.
Dourojeanni (2001) comenta que, apesar de os dois movimentos serem totalmente
distintos, ambos tiveram em comum o extremismo exacerbado, tendo por sua vez o
sociopreservacionismo
sido
de
igual
maneira
extremista.
O
autor
critica
os
socioambientalistas argumentando que para seus adeptos a natureza não interessa, só interessa
o benefício imediato ou mediato do ser humano.
Apesar de existirem movimentos mais recentes que tentam dar igual ênfase à
valoração econômica da natureza e ao patrimônio natural, o que até agora poucos perceberam
foi a inelutável união que precisa haver entre o natural e o cultural (DOUROJEANNI, 2001).
Ademais, as intervenções feitas no nordeste não têm procurado comportar as especificidades
locais dentro da própria região.
Considerando as particularidades do nordeste, Gomes (1995, p.14) ressalta que
“desenvolvimento, mesmo sem sustentabilidade ecológica, faz sentido, ao passo que
sustentabilidade sem desenvolvimento não faz [...] sustentável qualifica desenvolvimento, e
não o contrário” (grifos do autor). Além disso, algumas análises sobre os impactos causados
ao ambiente pelo crescimento econômico são predominantemente apocalípticas; as
interpretações de alguns estudiosos acerca dos efeitos da ação antrópica sobre a região são
fruto de uma visão estreita sobre economia e meio ambiente, que deixa de explorar todas as
relações envolvidas no desenvolvimento sustentável (GOMES. 1995).
O mesmo autor acentua que, sendo conduzido corretamente, o crescimento econômico
não tem que conflitar com preservação ambiental, pois com certeza existem muitos problemas
17
ambientais associados ao processo de crescimento econômico no nordeste, da mesma forma
como existem muitos problemas (ambientais ou não) associados à falta de crescimento
econômico da região. No seu entendimento a avaliação sobre desenvolvimento irá depender
muito mais do observador, pois partindo de uma ética centrada nas necessidades humanas,
uma certa área a ser desmatada para implantação de uma agricultura (sustentável), de alta
produtividade, por exemplo, deveria ser considerada como uma melhoria no meio ambiente e
não o inverso.
Com base nessa afirmação, compreende-se que o propósito de resguardar a natureza
não se configuraria na proteção simplesmente, mas no benefício que traria à humanidade, não
sendo importante apenas conservar a biodiversidade regional, mas melhorar a qualidade de
vida dos que dela fazem uso.
Nesse sentido, cabe ressaltar ainda que,
Quanto mais diversificadas forem as atividades no sertão, menos impactos trarão à
caatinga. Exemplo disso são alguns programas de ação florestal e exploração
sustentada da caatinga, no qual a idéia é garantir o ‘uso múltiplo equilibrado
pecuário-florestal’, o que é compatível com a manutenção do equilíbrio da floresta.
Ou seja, esta nem ‘empobrece’, como ocorre quando há superexploração, nem
‘envelhece’, como acorre quando há subexploração (MENDES,1995, P.38).
Sob essa perspectiva pode-se afirmar que nem todo o desenvolvimento é gerador de
impacto negativo. Além do mais, nenhum processo de desenvolvimento econômico poderá ser
considerado sustentável sem que haja, concomitantemente e correspondentemente,
desenvolvimento ambiental, econômico, sócio-político e cultural.
Compreendendo desenvolvimento como um movimento sinérgico, capaz de
estabelecer um equilíbrio dinâmico em um sistema complexo, no caso uma coletividade
humana, então o ponto de vista de Gomes merece ser analisado em sua essência. Nesse
18
sentido Bispo (1998, p.90) também enfatiza que: “desenvolver ou não desenvolver, é o
mesmo que escolher entre atraso e modernidade. O desenvolvimento sustentável deve
conciliar tradição e inovação, o conhecimento empírico e o técnico-científico”.
Dentro desse entendimento, desenvolvimento não pode ser reduzido a crescimento.
Criar, renovar, mudar, reinventar - tudo isso é desenvolvimento, não apenas crescer. Essa
forma de pensar o desenvolvimento diverge totalmente daquela que atribui ao crescimento do
produto o crescimento de todos os fatores extra-econômicos do desenvolvimento, como o
capital humano e o capital social. Para além desses limites, o desenvolvimento deixa de ser
sinérgico, e assim deixa de significar desenvolvimento.
1.3 Estabelecimento de novos paradigmas
É manifesto que os desequilíbrios herdados do século passado em conseqüência da
desarmônica relação sociedade-natureza-desenvolvimento, evidenciados prioritariamente no
ocidente, resultaram em profundas desigualdades sociais principalmente nos países “menos
desenvolvidos”, e refletiram na inadequada produção e distribuição de renda e na escassez de
outras condições essenciais à saúde e à vida das populações.
Contudo, embora tendo trazido conseqüências desastrosas tanto no aspecto social
como no ambiental, não convém olvidar que igualmente no século XX foram descobertos
recursos de grande valor para a humanidade. Tal acesso operou uma transformação radical no
modo de vida das pessoas, tanto no setor de comunicações (telefone, telégrafo, cinema), como
nos serviços públicos (lâmpada elétrica, transmissão de energia por cabo), e ainda na
medicina (produção de vacina, soro e antibiótico entre outros).
19
Mesmo assim, é necessário não se perder de vista que para ter acesso a determinados
bens pagou-se um preço muito alto. Além disso, dadas as condições em que se encontra a
biosfera e ao recente processo já instaurado de globalização, é importante que seja formada
uma consciência crítica capaz de questionar o modelo de desenvolvimento imposto à
sociedade e suscitar novos desafios para o planejamento das sociedades humanas.
Segundo Albagli (1998) uma nova forma de ver a biosfera, emergida por volta do fim
da década de 60, início de 70, teria servido para despertar o mundo ocidental efetivamente
para a crise ambiental pela qual passa o planeta. De acordo com Mandel (1990) foi também
nessa época que a expansão do acúmulo de capital, alcançada no pós-guerra e adotada por
mais de 30 anos, começou a apresentar sinais de esgotamento, engolfando-se em um processo
de crise, marcado, sobretudo, pelo descenso da taxa média de lucro. A economia baseada no
padrão de alto consumo de massa encontrou, portanto, seus limites estruturais.
A crise econômica, aliada à nova consciência crítica que começara a emergir, fez
surgir novas concepções acerca de desenvolvimento. A comissão Brundtland (CMMAD11 1991) no documento intitulado “Nosso Futuro Comum”, o redefiniu como sendo:
Mais do que uma passagem da condição de pobre para a de rico, de uma economia
rural para outra mais sofisticada: carrega ele consigo não apenas a idéia de melhor
condição econômica, mas também a de melhor dignidade humana, mais segurança,
justiça e equidade.
Para Berguer (1974 apud CAIDEN E CARAVANTES, 1998, p.31),
Desenvolvimento não é uma coisa a ser decidida por especialistas, simplesmente
porque não há especialistas naquilo que constitui metas desejáveis da vida humana.
Todo desenvolvimento material é, afinal, uma coisa fútil, a menos que sirva para
ampliar o propósito pelo qual os seres humanos vivem. É por isso que é importante e
se tenha cuidado no que tange a menosprezar valores e instituições tradicionais [...].
11
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
20
Gomes (1995) expressa que desenvolvimento consiste em um processo pelo qual um
organismo, uma pessoa humana ou sistema social materializa suas capacidades potenciais
atingindo níveis superiores e mais desejáveis de realização e organização. Esse processo é
regido por condições que se relacionam intimamente e se influenciam mutuamente, pois
segundo este modo de ver, o desenvolvimento só é possível se for humano, social e
sustentável.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo,
1972), foi o marco das preocupações com as questões ambientais globais e a necessidade de
se desencadear um conhecimento científico mais acurado acerca dos problemas gerados pelo
modelo de desenvolvimento adotado até então, e de suas conseqüências para a perpetuação da
vida na Terra (ALBAGLI, 1998).
Nos últimos anos as discussões envolvendo a temática têm deixado de ser restrita ao
meio técnico-científico e se popularizado através da mídia, empresas, governos, organizações
e organismos internacionais e multilaterais, passando a apresentar caráter global e tornando-se
capaz de gerar o movimento contrário que agora começa a emergir (ALBAGLI, 1998).
Dentre as mudanças significativas em torno da questão, Brito (2000) destaca o
enfoque, que de “conservação da natureza”, surgido em Estocolmo-72, passou nas duas
últimas décadas por uma metamorfose, cedendo lugar a discussões sobre a “conservação da
biodiversidade”, segundo consta da CDB, que sugere como pontos essenciais:
1. A soberania nacional e a preocupação comum da humanidade;
2. A conservação e o uso sustentável;
3. Os aspectos relativos ao acesso aos recursos genéticos;
21
4. O financiamento;
5. A implementação.
Os organismos internacionais finalmente concluiram que o estilo de desenvolvimento
baseado na produção e consumo gerou condicionais de insustentabilidade, que levaram à
maximização do potencial de destruição da natureza, podendo ser traduzido na perda de
oportunidade de utilização da biodiversidade, na qual se inclui:
A variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre
outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os
complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade de
espécies, entre espécies e de ecossistemas (CDB, 1992).
Porém, na obra “Geopolítica da Biodiversidade”, Albagli (1998) levanta questões
polêmicas relacionadas à CDB que envolvem não só o acesso aos recursos genéticos, mas que
partem da disputa de controle sobre a biodiversidade, o direito de patente, passando pela
proteção dos conhecimentos tradicionais, pela garantia e benefícios advindos dos mesmos às
comunidades e pelos riscos da biotecnologia.
Um dos aspectos não claramente resolvidos no texto da CDB é justamente o que se
refere ao papel e aos direitos das comunidades locais e populações tradicionais no acesso aos
recursos genéticos e na partilha de benefícios decorrentes do seu uso, conforme explicitam as
contradições contidas no preâmbulo, artigo 8º (J), artigo 10 (C) e artigo 15 do documento
(ALBAGLI, 1998).
Emerge dessa indefinição a mercantilização dos saberes das comunidades, que estão
sendo utilizados como meio para orientar o capital de risco para as empresas de biotecnologia,
contribuindo assim para uma forma mais rápida de bioprospecção, a etnobioprospecção
22
(LEFF, 2001). E nesse sentido, deve-se atentar sobre quais as recompensas que as
comunidades usuárias e conhecedoras da biodiversidade obterão por suas informações.
No Brasil, o Projeto Lei nº 306/95, que dispõe sobre os instrumentos de controle do
acesso a recursos genéticos do país, sob denominação de Lei de Acesso à Biodiversidade
Brasileira, apresentada ao senado federal em outubro de 1995 pela senadora Marina Silva,
ainda em discussão (ALBAGLI, 1998), seria a via para garantir que parte do lucro gerado
com o aproveitamento industrial dos recursos da biodiversidade servisse de fonte de renda
para as populações provedoras de informações.
Os pontos apresentados devem servir de alerta para que seja conformada uma visão
crítica, tanto acerca dos problemas ambientais a serem enfrentados pela humanidade, quanto
sobre às próprias políticas e paradigmas recentemente impostos.
Interessa, não menos, sublinhar que o fator econômico é fundamental em qualquer
processo de desenvolvimento. É impossível promover o desenvolvimento sem estimular a
multiplicação das atividades produtivas, sem democratizar esse acesso, ou, em outras
palavras, sem socializar a riqueza. Caso contrário, não há crescimento econômico, e
conseqüentemente, não há desenvolvimento. Esse é o caso, por exemplo, de um país ou região
onde haja crescimento do PIB, sem que, entretanto, os valores sejam compatíveis com o
capital humano e com o capital social.
Nessa percepção, o desenvolvimento só se efetiva na prática quando consegue ter
amplitude social, sendo capaz de promover o desenvolvimento das pessoas que estão vivas
hoje e das que viverão amanhã. Em outras palavras: desenvolvimento humano, social e
sustentável, que pode ser traduzido na seguinte equação: DS = QV+QA12.
12
DS: desenvolvimento sustentável; QV: qualidade de vida, QA: qualidade ambiental.
23
Além do mais, considerando que o processo de globalização tem contribuído para a
massificação e uniformização das culturas, deve-se procurar formas de desenvolvimento
capazes de respeitar as particularidades de cada sociedade, nas quais estão impressas as
diversas maneiras de entender o mundo que as cerca, sendo condição básica para isso a
valorização e o reconhecimento de suas potencialidades endógenas.
Fazer valer esse pressuposto implica encontrar para a região nordeste, prioritariamente
para o semi-árido, meios para efetivar o desenvolvimento econômico, que se apresenta como
uma necessidade emergente, conciliando os interesses sociais e a preservação ambiental. Esta
via suscitaria uma ruptura dos modelos existentes, e uma redefinição de estratégias a partir
dos anseios da comunidade local, devidamente conscientizada de suas opções.
24
2
ENDOGENEIDADE COMO PRINCIPIO DO DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO
[...] o local constitui-se assim em espaço de articulação – ou de síntese – entre o
moderno e o tradicional, sinalizando a possibilidade de gestarem-se, a partir das
sinergias produzidas por essas interações, soluções inovadoras para muitos dos
problemas da sociedade contemporânea (ALBAGLI, 1998, p.82).
O mundo inaugura o século XXI maravilhado com uma nova utopia. Dessa vez a
expectativa volta-se para a globalização. Tal processo surge trazendo a promessa de diluir as
fronteiras entre os países “mais desenvolvidos” e os “menos desenvolvidos”. Porém, ao invés
de atenuar a distância, o que se esconde no pano de fundo do atual cenário globalizado é um
afastamento e uma dependência cada vez mais crescentes.
Albagli (1998) comenta que os países que detêm a tecnologia de ponta monopolizam a
ciência através da fabricação de produtos de alta sofisticação e de elevado valor agregado no
mercado mundial, vendendo para os que só consomem, e têm que dispor de recursos
financeiros para adquiri-los. No entanto, ao fazê-lo, adquirem também um conjunto de
padrões culturais e de estilos de vida e de consumo.
Para Viertle (1999) o processo de globalização constitui antes um interesse social dos
detentores do capital financeiro, manifestação de uma ideologia, do que uma proposta de
cunho científico; em sua conseqüência a sociedade encontra-se agora fundamentada numa
ordem econômica imprevisível e incontrolável por impactos predatórios que devem corroer
cada vez mais as condições de uma autêntica diversidade cultural entre os vários grupos da
espécie humana e levar a desequilíbrios irreversíveis, como os que já se encontram impressos
na constante redução da biodiversidade e no aumento de massacres, genocídios, fome,
doenças e misérias humanas.
25
E ainda que predomine de forma irreversível nas pautas contemporâneas, os padrões
da globalização econômica já começam a ser questionados por grande contingente de pessoas
e instituições que defendem a idéia de desenvolvimento local como estratégia que posicione
vantajosamente espaços territoriais delimitados em face ao mercado globalizado, sem o qual
inúmeras localidades, dos mais diversos cantos do planeta, deverão ficar marginalizadas pelo
desaproveitamento de suas potencialidades.
Sob essa ótica, considerando os recentes padrões impostos pelo “rolo compressor
uniformizador" do processo de globalização, o capítulo que segue versará sobre a importância
da identificação e do uso, sustentável, do potencial ambiental endógeno, bem como da
necessidade das pequenas comunidades assegurarem o enraizamento dos seus saberes
acumulados para que possam deles se beneficiar.
26
2.1 No potencial florístico regional um elemento favorável à descoberta de novos
fármacos
Conforme informações do INPE13 referentes ao ano de 1995, a destruição do meio
ambiente ocorre a nível acelerado, o equivalente a 10.000 km² de florestas por ano, o que
constitui um grande obstáculo ao aproveitamento do potencial associado à biodiversidade
(FERREIRA, 1998).
Segundo Myers (1992 apud ALBAGLI, 1998) de acordo com dados bioclimáticos, as
florestas tropicais que já ocuparam cerca de 15 milhões de Km², foram reduzidas à metade.
Sua extensão estaria correspondendo atualmente a cerca de 6% da superfície terrestre. Essa
realidade exige urgente proteção às coberturas vegetais do planeta, até porque, pelas
evidências do aumento do seu aquecimento, futuramente a necessidade de se ter áreas
florestadas será muito maior.
No entanto, a avaliação em termos numéricos do grau de destruição da diversidade
biológica se torna difícil não só devido à inexatidão dos dados referentes ao potencial de
espécimes ainda existentes em todo o mundo, como também por não existirem estudos mais
específicos acerca das variedades que já foram extintas. No caso do potencial dos espécimes
vegetais, por exemplo, os dados contrastam muito entre autores.
Na obra Plantas Medicinais Antidiabéticas na Abordagem Multidisciplinar, Bragança
(1996) apresenta dois dados divergentes; o primeiro, obtido de Oliveira et al (1992), indica
que a variedade de espécies superiores em todo o planeta estaria por volta de 60 a 250 mil,
não tendo sido a maioria objeto de descrição científica. Já o segundo, que cita dados de
Fansworth, perito da OMS, referente ao ano de 1984, estima existir cerca de 250 a 750 mil
13
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
27
espécies superiores, das quais muitas ainda não foram estudadas. Ferreira (1998 apud
CECHINEL FILHO e YUNES, 2001) contabiliza o número de espécies vegetais existentes no
planeta entre 250 a 500 mil, enquanto Nodari e Guerra (1999) avaliam que em todo o mundo
exista em torno de 350 a 550 mil espécies.
Está visto que o confronto entre os números apresentados denota uma grande
disparidade, indicando por certo que muitas espécies em todo o mundo ainda não foram
catalogadas e identificadas botanicamente. No caso do Brasil, dada a megabiodiversidade que
o país comporta e ao grande nível de pobreza que marca a sociedade, com destaque para o
semi-árido nordestino, não é aceitável que esses recursos deixem de ser aproveitados, de
forma sustentada, e em prol da própria população.
Diversos autores indicam que a riqueza da biodiversidade brasileira, na qual se estima
existir aproximadamente 55 mil espécies de plantas, está entre os elementos favoráveis ao
desenvolvimento de medicamentos a partir de produtos naturais. “Somente a região
amazônica cobre 5 milhões de km², com 33.000 espécies de plantas superiores, sendo pelo
menos 10.000 destas medicinais, aromáticas e úteis.” (BARATA, 1994; BRAWN,1992;
BRITO, 1993; DI STASI, 1989; GOTTLIEB, 1980; MORS, 1966 apud FERREIRA, 1988,
p.78 ).
Silva; Buitrón e Martins (2001) também assinalam que o Brasil se revela como um
provedor de muito valor com relação às plantas medicinais. No entanto declaram que muitas
plantas freqüentemente utilizadas por populações locais ainda não foram estudadas; seus
princípios ativos ainda não foram identificados para validá-las como medicamento ou para
aproveitá-las economicamente.
Nodari e Guerra (1999) enfatizam que apenas uma pequena porcentagem de plantas
utilizadas como medicinais foi objeto de estudo (cerca de 15%), e, somente para algum efeito
28
específico. Esses dados tomam maior expressividade se considerados os obtidos de Ferreira
(1998) baseados em informações da revista Scientific American (jan/93), indicando que
menos de 10% das espécies existentes no planeta foram exaustivamente investigadas com
vistas ao descobrimento de propriedades terapêuticas; podendo o percentual ser inferior a 5%.
Segundo Ferreira (1998), o Brasil possui a maior base universitária e técnica das
Américas, excluindo os EUA, e conta com uma inegável capacitação científica nas áreas de
química de produtos naturais (aproximadamente 900 profissionais) e farmacologia (pelo
menos 1500), significando que o país pode ter um futuro promissor no que se refere ao
desenvolvimento de fitofármacos.
O mesmo autor declara que as outras áreas afins como medicina, botânica, farmácia e
engenharia, estão igualmente bem qualificadas e em número adequado. Aproximadamente
setenta grupos lidam com a pesquisa de produtos naturais no país e alguns dedicam-se
especificamente a plantas medicinais. Ao fazer referência à formação etnofarmacológica,
Ferreira (1998, p. 37) assim expressa:
A etnofarmacologia é uma ciência ainda mal desenvolvida e mal
compreendida no Brasil, onde há poucos profissionais que se definem
como etnofarmacólogos e a disciplina praticamente não existe nos cursos
de pós-graduação. Além disso é pouco acreditada por amplos setores da
ciência oficial. No entanto, a etnofarmacologia é um elemento
metodológico hoje fundamental para empresas dos EUA e Europa buscar
medicamentos de plantas nos trópicos.
Ferreira (1998) ressalta ainda que no país a pesquisa com plantas medicinais está
praticamente vinculada às instituições universitárias. O quadro 1, apresenta dados compilados
pelo autor, constando o número de resumos expostos por pesquisadores seniores, estudantes
de graduação e pós-graduação, no período compreendido entre 1996 e 1995, nos seguintes
eventos nacionais:
29
 Congresso Nacional de Botânica – BOT;
 Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia experimental –
FESBE;
 Congresso nacional de genética – GEN;
 Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química – QUI;
 Reunião Anual sobre Evolução, Sistemática e Ecologia Micromoleculares –
RESEN;
 Congresso da sociedade brasileira para o progresso da ciência – SBPC;
 Simpósio de Plantas medicinais do Brasil – SPM.
NOME
DOS
EVENTOS
Nº
DE
RESUMOS
ANO DE PUBLICAÇÃO
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
-
-
05
07
-
09
-
-
16
10
32
39
54
57
64
86
78
79
37
129
655
GEN
-
-
-
-
10
-
-
23
12
-
45
QUI
-
-
-
-
-
-
31
23
35
60
150
RESEN
-
19
30
17
-
-
-
-
03
04
65
SBPC
158
112
-
173
07
02
02
11
10
-
476
SMP
81
-
115
-
114
-
-
-
196
-
506
271
170
204
254
195
97
11
136
309
203
1950
047
BOT
FESBE
TOTAL DE
RESUMOS
Quadro 1 – Número de resumos referentes a plantas medicinais, em eventos nacionais por ano de
publicação.
Fonte: Ferreira-1998.
30
Apesar de os dados apresentados mostrarem-se significativos, no contexto geral,
percebe-se que o investimento científico do país nessa área ainda é restrito. De acordo com
dados recentes US$ 100 milhões de dólares foram aplicados nos últimos dez anos na pesquisa
científica relacionada a produtos naturais e apesar disso, nenhum medicamento baseado em
plantas medicinais foi desenvolvido, nem mesmo a CEME que pesquisou 72 plantas
medicinais chegou a qualquer fitomedicamento (FERREIRA, 1998).
Sabe-se, no entanto, que o comércio das plantas medicinais no Brasil vem sendo
estimulado pela crescente população que demanda cada vez mais desse recurso para o cuidado
de sua saúde e para seus cultos e tradições religiosas. De acordo com dados OMS14, 80% da
população do planeta utiliza, de alguma forma, plantas medicinais como medicamentos e 25
mil espécies de plantas são utilizadas nas preparações da medicina tradicional.
O uso de plantas medicinais é justificado por seus usuários devido a razões como:
facilidade de acesso devido a custos elevados da medicina ocidental, efeitos colaterais
provocados pelos fármacos sintéticos, por representarem a única fonte de medicamentos,
especialmente nos lugares mais isolados e distantes (BERG, 1993), e como resposta aos
problemas mais imediatos de saúde (DeFILIPPS, 2001). Recentemente também vem
aparecendo como estimuladores do uso de plantas na terapia de doenças a superficialidade, o
mercantilismo e o autoritarismo na relação médico-paciente (SILVA; BUÍTRON e
MARTINS, 2001).
Como exemplo de plantas medicinais valiosas no país, pode-se alistar o curare
indígena ou dedaleira (Digitalis purpúrea) utilizada na preparação de chá contra hidrópsia, a
casca dánta (Drimys brasiliensis) com propriedade estomáquicas, a quina (Chichona calisaya)
utilizada na cura da malária, a ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha) utilizada para tratar
14
Organização Mundial da Saúde
31
diarréias, disenteria amebiana, catarros crônicos, hemorragias e asmas, e a sapucainha,
(Carpotroche brasiliensis) com efeitos antiinflamatórios comprovados cientificamente e cujo
óleo, extraído da semente, é empregado no tratamento da lepra (CARRARA, 1996).
No caso do semi-árido, conforme indica Mendes (1997) até a década de 50 muitas
plantas nativas eram utilizadas para a formação da economia regional, inclusive as que
produziam fármacos e cosméticos; a maior parte da população rural (pobre) supria suas
necessidades de medicamentos às custas dos recursos vivos da região.
De acordo com Cruz (2002), citando dados obtidos da Universidade Aberta do
Nordeste, na microrregião dos Cariris Velhos, Ceará, foram identificadas cerca de 40 plantas
medicinais, das quais 57% eram utilizadas somente para essa finalidade.
As pesquisas de Almeida e Vargas (1997) em vinte e quatro localidades do sertão
sergipano revelaram que em vinte e duas comunidades se utilizavam plantas para fins
medicinais, tendo sido indicadas pelas mulheres entrevistadas 46 plantas para esse fim, usadas
no preparo de chás, lambedores, compressas e banhos.
No povoado Umbuzeiro do Matuto, alvo desta pesquisa, Bispo (1998) levantou as
seguintes plantas de uso exclusivo na medicina popular: alecrim de vaqueiro (Lantana sp),
alfavaca (Ocynium micranchium), ameixa (Ximenia americana), angélica (Guettarda angelica
Mart.), angico (Anadenanthera macrocarpa), batata de purga (Operculina convolvulas),
batata de teiú (Jatropha elliptica), cabeça de negro (Annona coreaceae), cana de macaco,
cansanção branco (Jatropha urens), carrapicho (Cenchrus echinatus), catingueirinha
(Caesalpinia sp), catingueira rasteira (Caesalpinia microfila), cipó de leite (Sapium sp),
embira (Xilopia frutescese), fedegoso (Cassia ocidentalis), folha amargosa, gravatazinho
(Tilandsia sp), imburana de cheiro (Amburana cearensis), jurubeba (Solanum ariculatum),
labirinto, malva (Sida sp), malva branca (Walteria indica L.), mamoeira, manjiroba,
32
marmeleiro branco (Croton arginophylloides Muell. Arg.), mata-pasto (Cassia uniflora),
mentraste, papaconha (Hybanthus caceolaria), pau ferro (Caesalpinia ferrea), pau piranha
(Pisonia sp), pega pinto (Boerhavia coccinea), pinhão bravo (Jatropha pohliana Muell. Arg.),
pitó, sambacaideira, sambacaitá (Hypitis mutabilis), tinguí (Allophilus quercifolius Martt,
Radlk), urtiga (Cnodosculus urens), vassourinha de botão (Scoparia dulcis), veladinho
(Croton sp) e xique xique (Piloscereus gounellei).
Com base na pesquisa de Bispo, percebe-se que o Umbuzeiro do Matuto, semi-árido
sergipano, apresenta um grande potencial a ser investigado do ponto de vista da
fitofarmacologia, aventando a possibilidade de por essa via, tomando como base o
etnoconhecimento e a valorização dos componentes endógenos, se conciliar ciência e
preservação da sociobiodiversidade.
2.2 Da preservação da sociobiodiversidade ao uso sustentável dos recursos naturais
Sob o ponto de vista da preservação ambiental a CDB recomenda que se promova a
utilização sustentável dos recursos, para beneficio das gerações presentes e futuras. Todavia,
compreende-se que não há como salvaguardar a biodiversidade sem que de igual maneira seja
preservada a diversidade cultural, pois subentende-se que ambas sejam efeitos do mesmo
fenômeno.
[...] a diversidade cultural humana – incluindo a diversidade de línguas, crenças e
religiões, práticas de manejo do solo, expressões artísticas, tipos de alimentação e
diversos outros atributos humanos – é interpretada como sendo um componente
significativo da biodiversidade, considerando as recíprocas influências entre os
ambientes e as culturas humanas. Desse modo, o conceito de biodiversidade vem
sendo ampliado para o de sociobiodiversidade (ALBAGLI, 1998, P.63, grifo da
autora).
33
O acervo de informações sobre o ambiente que cerca os diversos grupos sociais e suas
culturas, originário de uma conexão espaço-temporalidade, e que lhes possibilita interagir no
sentido de promover suas necessidades de sobrevivência, constitui-se no objeto de estudo das
etnociências. “Nesse acervo, inscreve-se o conhecimento relativo ao mundo vegetal com o
qual estas sociedades estão em contato” (AMOROSO, 1996, p. 48).
Posey (1997) esclarece que todos os conhecimentos e conceituações desenvolvidas por
qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal, englobando tanto a maneira como um grupo
social classifica as plantas, como o uso que dá a elas se constituem no elemento de
investigação da etnobotânica. Com base nos conhecimentos etnobotânicos de determinados
grupos sociais, a etnofarmacologia, disciplina correlata da etnobotânica, serve-se dos
indicativos sobre o uso terapêutico das plantas como fio condutor para impulsionar a
produção de fármacos.
Diferenciando a etnofarmacologia da farmacologia de produtos naturais Elisabetsky
(1987, p.138) afirma que “a etnofarmacologia trata especificamente do estudo de preparações
feitas a partir de plantas medicinais, levando em conta as informações fornecidas pela
população usuária”.
Dentre os meios que podem ser empregados para a seleção de plantas medicinais
destacam-se: seleção ao acaso, emprego de conhecimentos farmacológicos e ecologia
química. Entretanto, segundo Calixto (2000), com base na literatura, os resultados mais
satisfatórios são aqueles obtidos a partir de estudos etnofarmacológicos.
Nesse sentido Amoroso (1996) destaca que,
A abordagem ao estudo de plantas medicinais a partir de seu emprego por
sociedades autóctones, de tradição oral, pode, pois, dar-nos muitas informações úteis
para a elaboração de estudos farmacológicos, fitoquímicos e agronômicos sobre
34
estas plantas, com uma grande economia de tempo e dinheiro. Ela nos permite
planejar a pesquisa a partir de um conhecimento empírico já existente, e muitas
vezes consagrado pelo uso contínuo, que deverão então ser testados em bases
científicas (p.50).
Para Elisabetsky (1987), essa abordagem, que permite o desenvolvimento tecnológico
a partir do saber popular, é um dos mais preciosos patrimônios nacionais,
Uma vez que esse conhecimento está concentrado em populações isoladas, hoje em
risco real de extinção física e/ou cultural, ou em populações rurais cujos hábitos
estão sendo rapidamente alterados pelos meios de comunicação. O inventário destes
conhecimentos é fundamental e urgente (p.136).
Segundo Bragança (1996), a prática do uso de plantas para fins medicinais, que parte
da utilização dos recursos naturais como forma de tratamento e cura de doenças, perde-se no
tempo, na história do ser humano e estaria interligado com a própria história da botânica e da
medicina, pois inúmeros são os medicamentos que foram desenvolvidos, direta ou
indiretamente de fontes naturais, especialmente de plantas.
Diferentes sistemas da prática medicinal teriam sido originados através de informações
sobre os usos das plantas medicinais e suas virtudes terapêuticas, que acumuladas durante
séculos, muitas delas resultantes de métodos empíricos, passaram a fazer parte das tradições
locais.
Inúmeras espécies vegetais foram incorporadas à medicina tradicional, única e
exclusivamente pelo acaso, caracterizado pelo uso empírico de espécies vegetais,
seguido de avaliação, mesmo que rústica e grosseira, dos sinais e sintomas que
apareciam após seu consumo, até selecionar pela qualidade de respostas se
determinada espécie lhe seria útil ou não. O método usado é o mesmo da tentativa e
erro, ainda muito comum e útil em pesquisas de algumas áreas do conhecimento
científico, que serve para mostrar a forte ligação entre o conhecimento popular e o
conhecimento científico (DI STASI, 1996, p.19).
35
Os vários povos e culturas foram, dessa forma, mesmo que despretensiosamente,
dando sua contribuíção para a fundamentação da gênese da ciência moderna. No que se refere
à etnobotânica, as pistas deixadas pelas diversas comunidades e grupos étnicos espalhados
pelo mundo durante o processo de construção de suas histórias serviram de referência ao
conhecimento que se tem atualmente sobre a utilização da flora.
Os alquimistas, por exemplo, na busca da cura de doenças e do alcance da longevidade
(e até mesmo da imortalidade), através do uso de produtos de origem natural, incluindo as
plantas, exerceram grande influência e contribuição para diversas áreas do conhecimento
científico (DI STASI, 1996). Os antigos egípcios, da mesma forma, por meio da arte de
embalsamar, na qual muitas plantas eram experimentadas, ocasionando na descoberta ou
confirmação do seu poder curativo, colaboraram consideravelmente com o conhecimento
existente no momento sobre o efeito terapêutico de espécies vegetais (BALBACH, Sd apud
BRAGANÇA, 1996).
A concepção mística das tribos indígenas que habitavam o solo brasileiro entre os
séculos XVI e XVII, as quais atribuíam a todas as doenças de origem não identificada
influência do mundo espiritual, também constituiu grande acervo para a seleção de plantas a
serem utilizadas em estudos farmacológicos atualmente (BRAGANÇA, 1996).
As considerações traçadas, denotam nitidamente a importância das diversas culturas e
grupos sociais para o desenvolvimento da ciência, suscitando a necessidade de se reconhecer
nos estudos etnobiológicos, etnobotânicos, etnoecológicos e etnofarmacológicos uma
ferramenta útil não só do ponto de vista do desenvolvimento científico, mas também para a
preservação da sociobiodiversidade, sendo ela própria a base para o desenvolvimento da
ciência. Nesse contexto, é imprescindível considerar que nas localidades onde a comunidade
36
faz uso das plantas para fins medicinais, descansam restos de uma cultura milenar, que
também faz parte da biodiversidade, e precisa igualmente ser preservada.
Nesse sentido G. Myrdal (1998 apud DI STASI, 1996, p.21), afirma: “a ciência nada
mais é que o senso comum refinado e disciplinado, e por tal componente os pesquisadores
devem respeitar e atribuir o devido valor ao conhecimento comum e popular, pois dele fazem
uso para a execução de suas pesquisas”.
Dessa forma, os estudos relacionados às etnociências, nos quais se valoriza
simultaneamente a expressão cultural embutida no conhecimento acumulado de pessoas e no
ambiente onde essas práticas são espontaneamente aceitas, ultrapassam os limites da botânica
aplicada e da medicina tradicional, estando caracterizado pelo entendimento da realidade
física como um todo sistêmico, uma estrutura holística, que interpreta o mundo de forma
interligada e em interdependência (CAPRA, 1995).
Fenômeno que segundo DiStasi (1996) não atinge apenas a ciência, reflete-se também
no comportamento humano, a ponto de se verificar, atualmente, o retorno às antigas tradições
práticas e procedimentos, incluindo o caráter mágico e ritualístico que se perdera.
Entretanto, o mesmo autor ressalta que, apesar de se verificar um retorno à medicina
tradicional e folclórica, em suas mais variadas manifestações, um enorme contingente de
críticas e questionamentos tem sido gerado dentro da medicina oficial, na qual muitos
cientistas têm relutado em aceitar e adotar uma estrutura de trabalho mais inclusiva, por
considerarem-na anticientífica. E nesse sentido, se faz cogente frisar que as populações
tradicionais têm muito o que ensinar à humanidade. Entretanto, seus conhecimentos não
substituem os gerados pela ciência moderna, apenas os complementam.
37
Elisabetsky (1991) sublinha:
A pesquisa com plantas medicinais tem sido e continua a ser considerada uma
abordagem frutífera para a procura de novas drogas, e que a maior parte da flora
quimicamente desconhecida e o conhecimento medicinal associado a ela existe nos
países do terceiro mundo, especialmente os que ainda possuem florestas tropicais
extensas, como é o caso do Brasil. (p.49).
Fundamentando-se nessa afirmação, a etnofarmacologia deve partir da compreensão
de que o entendimento que as comunidades têm sobre o ambiente, bem como a relação
travada com o mesmo e a forma de utilização dos seus recursos, estão embutidos numa rede
de significação própria, que faz parte de um imaginário coletivo na produção do espaço.
No semi-árido sergipano, apesar de as praticas tradicionais do uso de plantas para fins
medicinais estarem arraigadas no cotidiano das pessoas, Almeida e Vargas (1997)
verificaram que esse costume vem aos poucos, como em outras localidades, perdendo lugar
devido não só ao processo feroz da globalização, que cada vez mais influencia as diversas
culturas, fazendo-se refletir na própria relação sociedade-natureza, mais ainda, pela própria
necessidade de sobrevivência em local onde as adversidades se fazem presentes. Em
conseqüência dessa constatação, é urgente que se encontrem mecanismos para salvaguardar
esses saberes.
2.3 Perspectivas para o semi-árido sergipano
Embora se reconheça atualmente a importância do papel das comunidades locais na
condução de estratégias de sociodesenvolvimento (LEFF, 2001), tem-se visto que as políticas
públicas propostas para o semi-árido nordestino não têm surtido o efeito esperado, por não
38
serem políticas focalizadas. Em muitos casos trata-se apenas de políticas assistenciais que até
agravam as desigualdades sociais, ou conformam-se em cópias desastrosas de modelos
homogeneizantes que não comportam as especificidades locais e acabam implicando a
eternização da pobreza à custa da degradação ambiental evidente.
Essas políticas desconsideram que,
Uma das riquezas das comunidades que vivem em constante interação com a
caatinga,é o conhecimento das relações mantidas nesse domínio, envolvendo a flora
e a fauna. Esse conhecimento, que se transmite de geração à geração, começa a se
perder pela “abertura” dessas comunidades a outras regiões, outros padrões culturais
(BISPO, 1998, p. 96).
Um fator de suma importância a ser considerado com relação ao semi-árido sergipano
é que o domínio morfoclimático da caatinga, que ocupa atualmente uma área de 10.395 Km²,
se apresenta como uma flora bastante rica em plantas medicinais (CRUZ, 2002).
Na busca de apreender as expressões culturais do sertanejo, Almeida e Vargas (1997)
constataram que nas vinte e quatro localidades do sertão sergipano envolvidas nas pesquisas,
a flora da caatinga era amplamente utilizada pela população para fins medicinais,
alimentícios, madeireiros (lenha) e para artesanato.
O trabalho dessas autoras serviu como precursor para outros, inseridos no Núcleo de
Pós-Graduação e Estudos do Semi-Árido, Programa de Pós-graduação da Universidade
Federal de Sergipe, que igualmente constataram que “a relação sertanejo-formação
vegetacional consolida-se principalmente através do aproveitamento feito da exploração da
caatinga” (ALMEIDA e VARGAS, 1997, p. 475).
Primeiramente, Bispo (1998) investigou no Povoado Umbuzeiro do Matuto,
pertencente ao município de Porto da Folha, locos desta pesquisa, os diversos usos que o
39
sertanejo fazia de seus recursos naturais. Verificou a utilização, pelos habitantes do povoado,
de 93 espécies da flora, sendo a maioria para fins terapêuticos, como anteriormente descritas,
seguida pelos usos para alimentação, construção, lenha, crenças, ração para o gado e
confecção de utensílios domésticos entre outros. Com relação à fauna, foram destacadas no
mesmo trabalho 47 espécies as quais eram utilizadas prioritariamente para alimentação, logo
depois vinha o uso medicinal seqüenciado pelo lazer e comércio.
A pesquisa de Bispo foi sucedida por outras (CARVALHO, 1999; TOURINHO, 2000;
BOMFIM, 2001; CRUZ, 2002), que se voltaram, mais especificamente, ao interesse pelo uso
medicinal, as quais constataram na flora da caatinga um grande potencial para o
desenvolvimento de fármacos.
Tourinho (2000) tendo identificado 51 plantas utilizadas como medicinais pela
comunidade do povoado Capim Grosso, município de Canindé do São Francisco, após
comprovada a eficácia de três das espécies testadas para uso diurético, concluiu seu estudo
sugerindo o fortalecimento da “farmácia viva” e a intensificação do cultivo de plantas
medicinais a fim de que a população pesquisada pudesse ser beneficiada, principalmente face
à dificuldade de acesso aos medicamentos industrializados.
Mais recentemente Cruz (2002), após avaliar a atividade antifúngica de plantas usadas
pela comunidade do povoado Curituba, também no município de Canindé de São Francisco,
sugeriu que além da farmácia viva, ou “farmácia verde local”, como assim denominou,
também fosse incentivada a criação de hortas populares.
Carrara (1996, p.02), reportando-se à região da Grande Rio, afirma que ali “existe uma
grande rede comercial de plantas medicinais que abastece feiras e ervanários. O comércio é
crescente, e demonstra a existência de grupos atacadistas responsáveis pelo abastecimento de
todas as feiras livres das regiões”.
40
Conforme atestam Silva; Buitrón e Martins (2001) o IBAMA é um dos órgãos
competentes no controle das atividades de extração, produção e comercialização (doméstica e
internacional) de plantas medicinais, incluindo as espécies utilizadas como aromáticas e para
cosméticos. O valor pago para registro no órgão varia de acordo com o tipo de pessoa (física
ou jurídica), com o porte da empresa e com a atividade desenvolvida, conforme quadro 2.
VALORES EM R$ (REAIS)
CÓDIGO
DESCRIÇÃO DA CATEGORIA
PESSOA
FÍSICA
MICRO
EMPRESA
DEMAIS
EMPRESAS
0210
1- Extrator de plantas
medicinais/aromáticas/partes
100
125
200
0406
2- Produtor de plantas medicinais/aromáticas
nativas
100
110
125
0502
3- Comerciante de plantas medicinais/aromáticas
nativas/partes
_
125
250
0707
4- Industria de aperfeiçoamento de plantas
medicinais/aromáticas
_
125
500
0901
5- Exportador de plantas vivas, produtos e
subprodutos da flora.
_
125
200
0902
6- Importador de plantas vivas e subprodutos da
flora.
_
125
200
Quadro 2 – Categoria de atividades, relacionadas com plantas medicinais, existentes no cadastro
Técnico Federal do Ibama com seus valores para registro.
Fonte: Portaria-IBAMA 113, de 20.09.97
Além da portaria, a exploração florestal também está prevista na Lei n. 4.771/67 que
instituiu o Código Florestal Brasileiro. Com relação à caatinga, particularmente, outro
documento que da mesma forma assegura o uso dos recursos naturais é a Instrução Normativa
n. 1 de 25 de fevereiro de 1994, que regulamenta sua exploração sustentável (SILVA;
BUITRÓN e MARTINS, 2001).
41
Ressalte-se que, conforme a mesma fonte, algumas espécies medicinais desse
ecossistema estão protegidas, de alguma maneira, por instrumentos legais e específicos, como
é o caso da aroeira legítima (Astronium urundueva), das braúnas (Melanoxylon brauna e
Schinopsis brasiliensis) e do Gonçalo-Alves (Astroniun fraxinifolium), asseguradas pela
portaria – IBAMA n. 83-N/91, de 26 de setembro de 1991, que proíbe o corte e a exploração
em bosque primário15.
Cruz (2002, p.36), referindo-se ao povoado Curituba, município de Canindé de São
Francisco, registra que “as plantas medicinais não são comercializadas ou cultivadas e como
na maior parte do semi-árido sergipano, não contribui para a renda familiar”. Com base nessa
constatação Bispo (1998) sugere para a caatinga o adequado manejo, incluindo a reprodução
e/ou reflorestamento de suas essências nativas, que poderiam ser exploradas para fins
medicinais em escala comercial.
Mediante essa realidade, percebe-se que as populações que ocupam o domínio da
caatinga são detentoras potenciais de conhecimentos com relação ao uso da biodiversidade,
podendo vislumbrar formas de utilização da diversidade biológica local, com fins à geração
de renda. Atividades como extração, produção e comercialização de plantas medicinais
poderiam se constituir em possibilidades para a promoção do desenvolvimento no semi-árido
sergipano capazes de levar à auto-sustentação.
Atestando os comentários pode-se afirmar que o uso da caatinga, de forma sustentada,
configuraria-se numa alternativa de desenvolvimento para a região, considerando que esta
além de ser provedora de grande potencial relacionado ao uso dos recursos naturais, sua
população também é detentora de conhecimentos que igualmente precisam ser preservados.
15
Se entende por bosque primário a vegetação composta de árvores altas e fustes normalmente finos e retilíneos. Nessa
formação existe uma densa subselva de arbustos e uma enorme quantidade de plântulas de regeneração. Entre os arbustos
se destacam representantes das famílias Myrtaceae, Melastomataceae e Rubiaceae (Art. 1, Parágrafo único).
42
Compreende-se, portanto, que principalmente em regiões menores e mais pobres, as
iniciativas de desenvolvimento endógeno são viáveis e podem constituir-se numa
possibilidade real. Para isso, no entanto, é necessário que se leve em conta as dimensões
econômicas, sociais, culturais, ambientais, físico-territoriais, político-instrucionais e
científico-tecnológicas de cada localidade em particular.
De acordo com Franco (2000) esse tipo de alternativa contemplaria o aproveitamento
mais eficiente dos recursos endógenos existentes em determinada zona para criar empregos e
melhorar a qualidade de vida da população local, o desenvolvimento de estratégia contrahegemônica de questionamento do padrão atual excludente, tomando o espaço para exercício
de novas formas de solidariedade, parceria e cooperação, a conquista da sustentabilidade
como modo de contribuir para a transição de um novo padrão de desenvolvimento sustentável
e a adoção de uma nova utopia, estratégia de transformação da sociedade.
O mesmo autor acrescenta que essa forma de desenvolvimento não privilegia apenas o
“crescer mais”, e sim o crescer, mas quando isso for melhor para a comunidade de
determinado local. Parte daí a importância de se valorizar o conhecimento tradicional,
respeitando os conceitos, crenças e relações com o ambiente, que o alicerçam.
Em consonância com o que foi referenciado até o momento, pode-se então afirmar que
o respeito às diferentes culturas deve implicar o reconhecimento da existência de diferentes
sistemas de valores, com realidades econômicas e institucionais particulares, desenvolvidas
em um entorno natural próprio. Esses aspectos reforçam a idéia da coexistência de sociedades
diferenciadas, e confere singular identidade a cada comunidade, região ou país.
Do ponto de vista da pesquisa etnofarmacológica interessa ainda salientar que a perda
da biodiversidade não se expressa somente do ponto de vista biológico, mas ainda na
expressão cultural que é fator condicionante para seu desenvolvimento. Isso faz com que a
43
etnofarmacologia se configure na verdade em uma alternativa para apoiar a população local
na exploração, de forma sustentável, dos recursos naturais da região, estando a pesquisa
científica, nesse caso, a serviço da preservação da biodiversidade.
44
3 UM OLHAR SOBRE UMBUZEIRO DO MATUTO
Condi eu vim pra cá o mato era fechado, tinha muita macambira, croatá, aroeira. A
roça acabou com o mato, tá capoeirão, quando era mata mesmo, a chuva vinha
caindo direto [...] (Sr. Maurício - morador de Umbuzeiro do Matuto).
As ações originárias do antropocentrismo e etnocentrismo humano (modelo de
desenvolvimento adotado, políticas “in-públicas”16, recente processo de globalização) foram
determinantes para ocasionar os problemas contemporâneos com os quais o planeta se depara
e que têm repercutido inclusive em regiões menores e mais pobres, como é o caso do povoado
Umbuzeiro do Matuto, que se encontra inserido no domínio morfoclimático da caatinga do
nordeste sergipano.
O povoado, surgido no ano de 1978 em conseqüência dos movimentos migratórios no
sertão sergipano e da consolidação da malha viária a partir de 1958, ação conjunta do
Departamento Nacional de Obras contra a seca – DNOCS e da Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, segundo descrições de Bispo (1998),
Dista 12 Km da calha do São Francisco, em linha reta [...] possui um relevo plano,
suave ondulado e suas terras não são cortadas por rios representativos, embora
existam nascentes intermitentes, sub-bacia do riacho Marroquinho (com direção
E/W) e sub-bacia do riacho Novo Gosto (com direção S/N)”. (BISPO, 1998, p.38).
Umbuzeiro do Matuto tem como sede o município de Porto de Folha, na fronteira com
o município de Poço Redondo, conforme se observa na figura 1.
16
Políticas que não se voltam a atender os reais interesses da população
45
46
O acesso ao povoado é dado por uma longa e estreita estrada de terra (figura 2), cujo
solo é bastante arenoso, com afloramento rochoso em vários pontos, na qual durante o
percurso pode-se observar a presença de mancha da caatinga arbustiva arbórea, vegetação
secundária, resultante da recuperação da caatinga nativa, retirada no processo de desmate.
Figura 2 - Estrada de acesso a Umbuzeiro do Matuto
Fonte: Omena-2001
O fato de estar localizado em área de difícil acesso não fez com que Umbuzeiro do
Matuto deixasse de sofrer interferências de um processo global de uniformização de culturas
que ocorre com grande rapidez. Ao utilizar como parâmetro as descrições de Bispo (1998)
sobre a comunidade, foi possível perceber alterações significativas tanto no aspecto físico
quanto no social.
As impressões captadas por Bispo (1998) em suas pesquisas na comunidade em muito
diferem do contexto atual. O que antes era um arruamento sem pavimentação, com apenas
duas ruas paralelas e outra perpendicular a elas, tendo construídas apenas 48 residências, das
47
quais somente 08 possuíam aparelho televisor; deu lugar a um povoado já pavimentado, com
aproximadamente 600 habitantes em sua área urbanizada, incluindo-se as pequenas
propriedades localizadas num raio de 1 Km, aproximadamente, sendo o televisor e a antena
parabólica acessórios presentes na maioria das residências, algumas das quais já possuem
inclusive vídeo cassete e TV por assinatura. E, apesar de o povoado não contar ainda com
linhas telefônicas residenciais, já tem instalado um telefone público que serve a toda a
comunidade.
O transporte de tração animal, carro de boi, mencionado por Bispo (1998) como sendo
um dos principais meios para carregar materiais, foi quase que totalmente substituído por
automóveis. A despeito dos automóveis o povoado já possui quatro, três deles pertencentes
aos dois vereadores locais, e o jegue, utilizado na roça para conduzir o gado, foi praticamente
trocado por motocicletas.
O Grupo Escolar “Florêncio Eduardo da Silva”, que oferecia apenas o ensino
fundamental de 1ª a 4ª série (BISPO, 1998), foi ampliado e deu lugar à Escola Municipal
“Florêncio Eduardo da Silva”, hoje com dez salas de aula, e ofertando inclusive o Ensino
Médio. Atualmente a escola conta com mais de 600 alunos, oriundos do povoado e de sítios
circunvizinhos, grande parte deles matriculados nas turmas do EJA (Educação de Jovens e
Adultos).
O “progresso” que ali se instalou, além de ter modificado o ambiente físico, refletiu da
mesma forma no modo de vida das pessoas, fato esse revelado não só na observação do
cotidiano, mas também nos depoimentos dos moradores, em comparação com as pesquisas de
Bispo (1998).
48
Município de Poço Redondo
Município de Porto da folha
Figura 3 – Esboço do Povoado Umbuzeiro do Matuto.
49
A propósito do uso de plantas, as entrevistas realizadas com membros da comunidade
demonstraram estar havendo preferência pelo uso de medicamentos alopáticos, dada
principalmente a sua praticidade. Enquanto estes já estão prontos para o uso, o remédio à base
de plantas exige, muitas vezes, uma preparação demorada e trabalhosa.
Percebeu-se ainda na fala dos moradores do povoado, ao se referirem às plantas, que
além das receitas típicas da cultura local, a comunidade também faz uso de preparações de
ampla divulgação na mídia, como por exemplo, uma mistura de babosa, bebida alcoólica e
mel, deixando transparecer que os meios de comunicação de massa estão influenciando o
processo de modificação de costumes.
Para Amoroso (1996, p. 56),
À medida que estas sociedades relativamente isoladas e fechadas vão se tornando
cada vez mais exposta à sociedade ocidental, vários fatores interferem para
desestruturar a rede de transmissão do conhecimento tradicional. Um deles é
justamente a mudança de valor atribuído a este saber para assegurar a sobrevivência
e a reprodução da sociedade: em face de novos problemas e novos desafios, surge
um componente de incerteza quanto à eficácia dos novos modos de agir.
Entretanto, mesmo num cenário que já começa a dar indícios de depauperamento
ambiental e cultural, ainda existem pessoas que chegam, inclusive de outros estados, em
busca das receitas dos rezadores locais, e mesmo os que preferem os remédios alopáticos
recorrem às plantas quando aqueles não surtem o efeito desejado. O povo do sertão com suas
redes informais de comunicação, seu tempo particular e seu sofrimento comum, ainda resiste.
A temática abordada neste capítulo será a analogia conflitiva entre o antigo e o moderno
presente no cotidiano do povo de Umbuzeiro do Matuto, que também se apresenta como
componente essencial e regulador das inter-relações entre o sistema sociocultural e o meio
ambiente, e que está implícita na labuta diária do sertanejo pela manutenção da vida.
50
3.1 Cultura, especificidade e ambiência
Na forma simples e particular de interpretar o ambiente, o caatingueiro revela as várias
nuanças de sua relação com o meio natural na luta diária pela sobrevivência. Dentro dessa
ótica, a natureza não se configura em elemento de apreciação, mas sim na base de suas
necessidades. Sr Beijo, um dos informantes, assim testemunha: Aqui já foi tudo catinga, eu
num me arrependi de ter tirado porque era uma mata virge, um croatá que ninguém entrava
[...] 135 tarefa de terra, eu já fiz roça dela todinha, eu só.
Para os que vivem da roça, geralmente de milho, feijão e mandioca, a mata, como
assim denominam o bioma, representa o local de onde é retirado o “sustento”, sendo a lei da
sobrevivência o único imperativo. A caatinga é mesmo a única fonte de sobrevivência.
Friedman (1968 apud IANNI, 2000) atribui essa percepção, não apenas a interpretações sobre
as relações que os homens estabelecem com seu meio ambiente, seu habitat e aos
conhecimentos acumulados sobre os processos vitais em suas relações com as condições
ambientais, mas ao fato de tais representações (interesses, valores, identidades) se tratarem,
sobretudo, de elementos constitutivos da Ecologia Humana17.
O homem caatingueiro se mantém ocupado em apropriar-se dos recursos da natureza e
cada qual o faz a seu modo, sendo condicionado pelo ambiente em que vive. De acordo com
Ianni (2000, p.320) “as necessidades de produzir as suas próprias condições de existência faz
emergir de forma intensa, o valor de uso das coisas, dos objetos, sejam eles naturais ou
sociais”.
17
Sugerido por Ianni (2001) como sendo a parte de um processo que integra – intrínseca e determinísticamente – as
condições de existência humana, envolvendo as percepções, representações, práticas sociais, enfim, a cultura.
51
Para muitos representantes das comunidades rurais a natureza é um recurso ilimitado e
com grande poder de reconstituição. Essa forma de compreender o ambiente foi assim
explicitada por moradores de Umbuzeiro do Matuto, quando mencionada a substituição de
árvores por pequenas roças: Tem muito mato por aí, se cortar depois nasce tudo outra vez (D.
Pastora); Um pé de árvore a mais é um pé de capim a menos pro gado (Verleide-assentada).
Os depoimentos acima aferidos respaldam a idéia que o fato de conhecer o ambiente
em que vive por gerações, não faz com que as comunidades locais tenham, necessariamente,
comportamentos ambientais adequados. Ianni (2000, p.326) assim explica essa conduta: “a
idéia de uma natureza abundante, dadivosa, surge na relação com a condição de precariedade
vivida na esfera social”. Ademais, no repertório cultural da maioria dessas pessoas não cabe a
lógica que uma árvore cortada para dar lugar à roça ou servir de cerca pode contribuir para
uma reação corrente sobre outras espécies de animais e plantas da biocenose.
Figura 4 – Cerca feita com estacas: propriedade de Sr. Beijo.
Fonte: Omena-2002
52
Quando abordados sobre a importância do manejo das espécies exploradas percebe-se
que também não existe muita preocupação a respeito: Minha fia, isso quando vai ficar em pé é
heras (D. Cecília); As arvores que a gente planta é só de frutas (Edvaldo); Eu planto pra
conseguir estacas ( Sr. Beijo).
Em Umbuzeiro do Matuto, o uso abusivo e mal feito da caatinga já começa a ser
percebido. Ao invés de apresentar um ambiente natural exuberante, o que se observa aolongo
de um raio de aproximadamente 5 Km no seu entorno, são poucas árvores espaças, não
havendo sequer necessidade de zoneamento ecológico florestal para listar certas espécies.
Algumas árvores já podem ser enumeradas numa rápida caminhada pela área. É esse o
caso do mulungu, que durante todo o tempo de pesquisa apenas um representante foi
identificado, servindo para sombrear uma das casas do povoado. Também são raros os
umbuzeiros, árvore que no passado emprestara nome à localidade.
Figura 5 – Mulungu (Erythrina velutina Wild.) em frente a uma casa do povoado.
Fonte: Omena-2002
53
As conseqüências do empobrecimento da mata local, da mesma forma, podem ser
percebidas na diminuição da fauna silvestre nativa. Segundo depoimentos de moradores, os
animais estão cada vez mais difíceis de serem encontrados.
Conforme ADEMA (2000) o povoamento da fauna da caatinga, que é constituído em
sua maioria por espécies do cerrado, se apresenta reduzido em conseqüência do clima semiárido ocorrente no sertão nordestino. Segundo registros do mesmo órgão, dentre essas
espécies está o mocó, a raposa, que em decorrência da pequena extensão de manchas da mata
apresenta declínio na população, o gato-de-macambira e o tatu-peba. Os répteis não são
endêmicos, mas, variados. Entre as aves encontram-se animais como: o inhambu, a codorna, a
perdiz, o gavião, o caburé, o urubu, o carcará e o teteu entre outros.
Figura 6 – Trilha na caatinga no período de seca – Umbuzeiro do Matuto
Fonte: Omena-2001
54
A avifauna da caatinga da mesma maneira já se mostra diminuída em decorrência do
intenso desmatamento que vem ocorrendo, ameaçando espécies como o papagaio-verdadeiro
(Amazona aestiva) e a avoante (Zenaida auriculata) (ADEMA, 2000). A constatação serve
para confirmar que esse domínio já começa a dar sinais de insuficiência.
Nas inúmeras trilhas percorridas no povoado Umbuzeiro do Matuto, para observação
do território e coleta de espécies, não se viu um único exemplar de animal nativo, à exceção
de pássaros. Bispo (1998) durante as pesquisas realizadas na comunidade há cinco anos,
igualmente observou uma certa insuficiência da população pertencente à fauna nativa.
Conforme seus comentários, essa diminuição seria decorrente da caça indiscriminada e da
retirada da cobertura vegetal da área no entorno do povoado, que estaria contribuindo para a
diminuição dos habitats.
Contudo, os trabalhos realizados anteriormente na comunidade, primeiro por Almeida
e Vargas (1997) e posteriormente por Bispo (1998) demonstraram que, mesmo em menor
proporção que a flora, a comunidade também se utilizava da fauna nativa para fins
medicinais. Foram citados por Bispo (1998) animais como o tatu-peba, cuja banha seria
utilizada para tratar dor de qualquer procedência, o preá, do qual também se utilizava a banha
para dor e rigidez nas articulações e o teiú, do qual era extraído a banha e o fel que serviriam
como cicatrizante, como antídoto para mordida de cobra e para “estrepada” (espinhos ou
farpas que penetram no corpo), a depender da forma de preparo.
Essas verificações, que conflitam com o quadro atual, evidenciam o início de um
desencadeamento de impacto no povoado, que pode ser conseqüente dos cortes
indiscriminados de árvores para transformação em carvão ou para servir de cerca, ou ainda
55
dos recentes acampamentos do MST18, nos quais se percebe que a terra está sendo quase que
exclusivamente destinada ao uso pecuário tradicional.
Em seu estudo no povoado, Bispo (1998, p.87) denuncia: “os caminhões de lenha são
vistos saindo das imediações”. Essa constatação pode evidenciar que a diminuição da flora
nativa também esteja vinculada à venda de madeira de corte proibido para olarias ou
carvoarias próximas, contribuindo dessa forma para o quadro de desolação que começa a se
instaurar no povoado.
Figura 7 – Assentamento dos sem terra
Fonte: Omena-2002
Em Umbuzeiro do Matuto já podem ser observadas extensas áreas nas quais a
vegetação nativa foi substituída por plantações de palma que serve para alimentar o gado.
18
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
56
Almeida e Vargas (1997) comentam que a intensificação do sistema agro-pastoril vem
transformando a paisagem sertaneja em um grande pasto.
A pecuária, sob os moldes extensivos com o gado “pé-duro” criado solto, não
alterou o domínio da caatinga no sertão. A partir da década de 60, a introdução de
espécies melhoradas foi concomitante com a formação de pastos artificiais
estabelecendo, assim, o marco atual do padrão de ocupação (ALMEIDA E
VARGAS, 1997, p. 473).
Figura 8 – Plantação de palma
Fonte: Omena-2002
Todavia, é importante ressaltar que este estudo não tem a intenção de investigar se a
relação da comunidade para com o meio ambiente é benéfica ou maléfica, mas sim de
reconhecer a existência e importância dessa relação, considerando que no povoado, além de
natureza, existe uma cultura, que também é biodiversidade e precisa ser preservada.
Para Almeida e Vargas (1998) essa relação muitas vezes conflitante estabelecida entre
o sertanejo e a caatinga faz parte da realidade local, e é exatamente nessa análise do cotidiano
57
que são reveladas as relações e as práticas empreendidas pelo grupo social. As autoras
pontuam que,
A relação estabelecida sertanejo-formação vegetacional consolida-se principalmente
através do aproveitamento feito da exploração da caatinga [...]. A complexidade e o
grau de conhecimento da caatinga testemunham o interesse do indivíduo ou do
grupo social pelo mundo que o cerca e, consequentemente, do seu investimento na
proteção e reprodução de espécies (p.475).
Gomez-Pompa et al., (1972 apud DOUROJEANNI, 2001, p.180) comentam que “o
homem ao invés de ser um elemento de destruição e alteração da natureza, é um fator de
diversificação genética”. Além disso “há populações tradicionais que amam a natureza e a
defendem, mesmo quando a prejudica a curto prazo, e há outras, a maioria que a explora
como pode para sobreviver...tal como fazem todos os cidadãos do mundo.” (DOROJEANNI,
2001, p. 181). De acordo com esse autor outro aspecto a ser considerado é que os habitantes
tradicionais são ligados ao seu estilo próprio de vida, sendo o enfoque filosófico entre as
sociedades e seus entornos vinculado à bagagem cultural, profissional e política da maior
parte dos integrantes de cada grupo.
Dessa forma, partindo do entendimento de que as comunidades não são homogêneas,
tanto com relação às propostas de apropriação da natureza como aos próprios estilos de vida,
percebe-se que o ambiente faz parte de um coletivo social, e que para se planejar estratégias
de sócio-desenvolvimento este deve ser considerado ao nível do usuário, e nesse contexto, se
faz necessário compreender que os elementos próprios da identidade cultural constituem a
base da sustentabilidade comunitária.
58
Goergen (1983 apud BISPO, 1998) destaca que a necessidade de sobrevivência do
sertanejo o leva a criar condições de adaptação à caatinga, processo pelo qual ele é levado a
desenvolver um saber/conhecimento comum que é determinado/determinante.
Dentro desse saber, insere-se o conhecimento e uso das plantas para fins medicinais,
que nasce de uma lógica natural entre sertanejo e caatinga pela própria necessidade de
sobrevivência e passa a fazer parte de um repertório cultural próprio que envolve muitas
relações, entre elas o binômio saúde-doença, expresso de forma simbólica, no qual estão
embutidas várias percepções que não a da medicina convencional, conferindo-lhe
singularidade.
59
4 IMPORTÂNCIA DA FITOTERAPIA NOS DISTURBIOS DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL
Sendo a sede da memória, do pensamento e da emoção, o sistema nervoso, que
consiste no cérebro e na medula espinhal, está conectado a uma rede de células nervosas
(neurônios) espalhadas por todo o corpo, que é responsável pela maioria das funções de
controle e regulação. Por seu intermédio as informações são transmitidas sob forma de
impulsos nervosos, que passam por uma sucessão de neurônios, um após o outro, através das
sinapses (ponto de contato entre um neurônio e outro), conduzindo atividades como
contrações musculares, fenômenos viscerais e ritmos de secreção de algumas glândulas
endócrinas entre outras (GUYTON, 1997 ).
Dentre as substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que de alguma forma atuam
sobre o SNC modificando as funções mentais e físicas, excitando, deprimindo ou provocando
ação perturbadora, geralmente alterando o funcionamento básico das células nervosas, ou a
comunicação entre elas, estão as genericamente denominadas: psicotrópicas ou psicoativas
(MASUR e CARLINI, 1989), psicolépticas ou depressoras, antinociceptivas ou analgésicas,
neurolépticas ou tranqüilizantes (REIS, 2000).
A respeito dos psicotrópicos, o primeiro relato acerca de substâncias com essa
atividade é o do psiquiatra francês Jacques Moreau, datado de 1845, que teria utilizado a
Cannabis em modelo de psicose. No entanto, os estudos sobre os psicotrópicos ganharam
realmente impulso a partir do livro de Emil Kraepelin, publicado em 1892, que trata da
farmacologia clínica. Ali constam os resultados sobre a investigação da influencia da morfina
e de outras substâncias em determinados distúrbios psíquicos elementares (REIS, 2000).
60
As drogas que apresentam propriedade psicoativa agem predominantemente como
estimulante do SNC, seu efeito ocorre principalmente no sentido de combater alguma
alteração de humor, no pensamento ou de comportamento, normalizando o fluxo de
substâncias transmissoras (neurotransmissores) que alteram a atividade cerebral (STAHL,
1996). Rang; Dale e Rither (2000) classificam os psicotrópicos nas seguintes categorias:
convulsivantes
e
estimulantes
respiratórios,
estimulantes
psicomotores
e
drogas
psicomiméticas.
Já as substâncias depressoras ou psicolépticas, que embora também atuem na
regulação do fluxo de neurotransmissores, moléculas capazes de promover alterações na
transmissão do impulso nervoso entre um neurônio e outro (STAHL, 1996), ao contrário dos
psicotrópicos, agem no sentido de diminuir o excesso de funcionamento cerebral que pode ser
resultante de condições clínicas adversas, como a sensação de dor ocasionada por lesão em
alguma parte do corpo, por ansiedade ou por stress (REIS, 2000). Dentre os principais grupos
farmacológicos que atuam como depressores estão os sedativos-hipnóticos, representados
pelos barbitúricos, como o fenobarbital, ainda utilizado no tratamento da epilépsia (JACOB,
1998).
O controlar a dor é uma das indicações mais importantes a que se destinam os
medicamentos (RANG; DALE e RITHER, 2000). Em condições normais a dor está associada
a uma atividade elétrica nos nervos periféricos. Esses nervos possuem terminações sensoriais
e são ativados por estímulos mecânicos, térmicos e químicos (CESAR & MC NAUGHTON,
1997; KRESS & REEH, 1996 apud RANG; DALE e RITHER, 2000, p. 485).
De acordo com Sherrington, (s.d, apud RANG; DALE E RITHER, 2000, p. 489)
“estímulos nocivos podem causar uma sensação semelhante à dor denominada como
nocicepção”. Diferentemente da dor, essa percepção inclui um forte componente emocional.
61
A sensação induzida apresenta relativa importância para a realização de testes com a
finalidade de avaliar a dor. Ensaios de agentes analgésicos em animais medem comumente a
nocicepcão e consistem em avaliar a reação de um animal a um estímulo levemente doloroso,
quase sempre mecânico ou térmico. Testes semelhantes podem ser utilizados em seres
humanos, e vão indicar simplesmente quando determinado estímulo passa a ser percebido
como doloroso. Todavia, a dor nessa circunstância carece do componente afetivo.
Clinicamente, a dor espontânea de origem neuropática começa a ser reconhecida como
particularmente importante. Porém, é difícil de modelar em estudos animais por motivos
técnicos e éticos (RANG; DALE e RITHER, 2000, p. 490).
Reis (2000) assinala que,
O alívio ou cessar da dor, sem perda da consciência, podem ser obtidos pelo uso
farmacológico de substancias químicas capazes de produzir esses efeitos, entre eles
estão os chamados analgésicos ou antinoceptivos, que podem ser divididos em dois
grandes grupos: os analgésicos periféricos ou não opiáceos e os analgésicos de ação
central ou opiáceos.
Além das drogas com ação sobre o SNC, já mencionadas, existem ainda os
neurolépticos, também chamados de tranqüilizantes maiores, que surgiram, segundo Reis
(2000), a partir da década de 50 através da síntese da clorpromazina. Dessa época em diante,
houve um salto quantitativo na área de psiquiatria devido ao uso de medicamentos contendo a
droga no tratamento da psicose, patologia que se caracteriza por um estado alterado da
personalidade, no qual o indivíduo tem sensações que não correspondem à realidade e
pensamentos que fogem ao seu controle (alucinações).
Reis (2000) destaca que os psicofármacos há muito se fazem presentes como
alternativa terapêutica para tratar, ou mesmo aliviar, os mais diversos distúrbios psíquicos,
embora tenha sido somente a partir do século XX que sua utilização deixou de ser empírica e
62
passou a ocupar reconhecido papel no meio científico. A mesma autora comenta que a
tendência atual da procura por drogas mais eficazes e seletivas, que causem menos efeitos
colaterais, tem levado pesquisadores a se utilizarem dos produtos naturais como sua maior
fonte de investigação.
Devido aos efeitos reconhecidamente indesejáveis das drogas que atuam sobre o SNC,
Batista (1993), referindo-se às de ação analgésica, sugere que as pesquisas de novas
substâncias sejam realizadas particularmente no campo de produtos naturais de origem
vegetal.
Dentro dessa perspectiva, Yunes e Filho (2001) mencionam que potentes fármacos
originários de plantas foram descobertos ainda no século XVI, e que alguns deles ainda são
utilizados na terapia atual, como é o caso da Valeriana officinalis, empregada como sedativo,
que aparece citada em trabalhos desenvolvidos nos séculos IX e X, e também o da amilocaína
e o da procaína, sintetizadas já entre 1904-1905, tomando como modelo a cocaína, que
apresentava efeitos anestésicos locais.
Na última década vários estudos clínicos foram realizados com alguns fitoterápicos
que atuam sobre o Sistema Nervoso Central, a exemplo do Gingko biloba (BRAUTIGAN et
al., 1998; CHAVEZ e CHAVEZ, 1988; KANOWSKI et al., 1997; KLEIJINI, 1992 apud
CALIXTO, 2000, p. 298) e do Hypercurium perforatum, usados no tratamento da depressão
leve e moderada (ERBST et al., 1998; HARRER et al., 1999; JOSEY E TACKCKETT, 1999;
LAAKMANN et al., 1998; LINDE et al., 1996; WOELK et al., 1994; VITIELLO, 1999 apud
CALIXTO, 2000, p 298).
Da mesma forma, o Panax ginseng, usado como tônico estimulante do SNC, o
Tanacetum partenium, empregado para o tratamento de enxaqueca; a Piper methysticum,
empregada como sedativo e no tratamento de insônia, são alguns dos medicamentos que
63
foram analisados nos vários estudos clínicos (ARMSTRONG e ERNEST, 1999; BAUER e
TITTEL, 1996; BELL et al., 1989; CHAVEZ e CHAVEZ, 1998; CHAVEZ, 1999; GRASSO
et al., 1995; HOGEL E GAUS 1995; JOHNSON et al., 1985; MASSHOUR et al., 1998;
MORRIS et al., 1995; MURPHY et al., 1998; SCHUPPAN et al., 1999; WARSHAFSKY et
al., 1993; WILT et al., 1993; VOGLER et al., 1998 apud CALIXTO, 2000, p.298).
Segundo Yunes e Filho (2001) foi comprovado recentemente que o Hypercurium sp,
usado para tratamento de depressão leve e moderada, possui diferentes compostos químicos
que atuam em conjunto para aliviar as depressões leves em várias formas diferentes. Também
há pouco tempo, o alcalóide galantamina, isolado do Galanthus wronowie e de várias outras
espécies de plantas da mesma família, foi aprovado nos EUA e em vários países europeus
para o tratamento do mal de Alzheimer (CALIXTO, 2000, p.298).
Ferreira (1998) contabilizou em 112 os resumos referentes a espécies vegetais que
atuam sobre o SNC publicados em eventos nacionais no período compreendido entre 1986 e
1995, conforme gráfico 1. O total de trabalhos apresentados no período equivale
aproximadamente a um resumo a cada ano.
Anticonvulsivantes
28%
50%
Psicoestimulantes
Neuroprotetores
Outros
5%
4%
12%
Antidepresssivos
Analgésicos
1%
Figura 9 – Resumos referentes a plantas medicinais de ação sobre o SNC
Fonte: Ferreira, 1998
64
Percebe-se que apesar do reconhecido valor dessas pesquisas, não só do ponto de vista
da bioprospecção, mas por serem as plantas um recurso de ainda muito utilizado,
principalmente pelas populações mais carentes, e ainda pela expectativa de estas apresentarem
menos efeitos colaterais que os produtos sintéticos, os estudos relacionados a drogas que
atuam no SNC ainda são escassos, suscitando a necessidade de que se intensifiquem as
pesquisas na área.
Calixto (2000) comenta que para ser registrado e prescrito pela classe médica o
remédio à base de plantas precisa ser estudado cientificamente, seguindo os mesmos critérios
empregados para o desenvolvimento dos medicamentos sintéticos, visando confirmar sua
segurança e eficácia clínica. Assim, as etapas como estudos farmacológicos pré-clínicos,
estudos toxicológicos em animais (agudo e crônico) e estudos clínicos devem ser realizados,
utilizando-se protocolos científicos rígidos, segundo critérios aceitos internacionalmente.
65
5 METODOLOGIA
5.1 Caracterização da pesquisa
De acordo com Elisabetsky; Moraes (1998) a seleção de espécies para investigação
farmacológica compreende três tipos diferentes de abordagem: a randômica, a
quimiotaxonômica ou filogênica e a etnofarmacológica. No recorte etnofarmacológico,
empregado nesse estudo, insere-se um esquema misto de pesquisa, haja vista os dados
etnofarmacológicos fornecidos por uma determinada população (como o uso de plantas para
fins medicinais) serem submetidos à constatação através da manipulação experimental (testes
farmacológicos).
Amoroso (1996, p. 63) afirma que,
Com relação a plantas medicinais, um dos principais objetivos dos estudos
etnobotânicos quantitativos é tentar aferir, a partir de dados levantados, o
grau de importância que certas plantas tem pela freqüência e consistência do
seu uso. Argumenta-se que, se uma planta é universalmente utilizada em
uma comunidade para propósitos semelhantes, é mais provável que ela
contenha algum composto ativo que justifique este uso. Este seria, então, um
tipo de screening etnobotânico, que funcionaria como base de escolha de
plantas, para os próximos passos, de investigação farmacológica e
fitoquimica [...].
Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1998), mencionam que os estudos com essa
característica guiam-se através de dois tipos de pesquisa:
66
Descritiva analítica: caracterizada pela descrição de fenômenos obtidos através

de opiniões, atitudes e crenças do grupo que culminam na geração de dados
etnográficos, capazes de refletir a realidade;

Experimental: que se constitui na manipulação de variáveis relacionadas com o
objeto de estudo através de experimento.
Para Koche (2000, p. 125) “Não se pode, a rigor, querer estabelecer uma nítida
separação entre um ou outro tipo. Muitas vezes se encontram esquemas mistos que utilizam
tanto a constatação como a manipulação de variáveis”. Tais características conferem ao
trabalho um caráter quali-quantitativo, no qual as informações etnofarmacológicas obtidas da
população resultam em evidências para a seleção das espécies, que submetidas a
experimentos, geram dados que podem ser analisados estatisticamente.
Uma particularidade dos trabalhos relacionados às etnociências é que estes se
caracterizam por só poderem ser viabilizados em estreita colaboração com os integrantes de
um grupo humano. E nesse sentido, Amoroso (1996, p. 59) destaca que “qualquer membro de
uma sociedade, que possua ‘competência cultural’, pode se constituir em um informante
válido.”. Contudo, caso o objetivo específico da pesquisa seja avaliar o mais rápido e
eficientemente possível a utilização de espécies para fins medicinais, deve-se selecionar os
informantes mais habilitados neste tipo de conhecimento (PHILLIPS & GENTRY, 1993 apud
AMOROSO, 1996, p.62 ).
Miles e Huberman (1984 apud ALVES-MAZZOTTI E GEWANDSZNAJDER, 1998,
p. 163) entretanto, “alertam para o fato de que a tendência de procurar pelos ‘atores
principais’ do fenômeno estudado pode resultar na perda de informações importantes.
Recomendam, assim, que se investigue também a ‘periferia’, ou seja, os ‘coadjuvantes’ e os
‘excluídos’.”.
67
Partindo desse princípio, a amostra do trabalho foi escolhida por conveniência ou por
julgamento intencional. Assim, foram entrevistados subgrupos como benzedores, professores
e parteiras, sem deixar de lado outras pessoas da comunidade, independente de sexo e idade,
que pudessem fornecer as informações convenientes.
Conforme já descrito na introdução do trabalho, os dados foram obtidos através da
observação e da técnica de entrevista aberta com roteiro semi-estruturado, o qual foi
redimensionado após um pré-teste na comunidade. Os dois recursos selecionados
possibilitaram captar de forma eficiente as percepções dos diversos grupos sobre o objeto de
estudo.
Com base em Canter (2000), foram selecionados para esse estudo dois indicadores de
meio ambiente socioeconômico: principal atividade econômica do povoado e qualidade dos
serviços de saúde; e dois biofísicos: espécies vegetais utilizadas como medicinais pela
população e presença de atividade sobre o SNC nos espécimes submetidos aos testes
farmacológicos.
5.2 Procedimentos metodológicos
5.2.1 Atividades de campo
Nas atividades de campo, foram contemplados os seguintes aspectos:

Caracterização do meio físico e sociocultural, expresso na relação sociedadenatureza;
68

Coleta de dados sobre as plantas usadas pela comunidade, especialmente as
que apresentam efeito no SNC, e a partir dos quais foram selecionadas as
espécies a serem testadas;

Coleta de espécies de interesse farmacológico, em seu habitat natural, para
identificação botânica e realização de experimentos.
Para a obtenção de dados levou-se em conta as características do estudo. Dessa forma,
as entrevistas abertas, seguindo um roteiro semi-estruturado (anexo 1) baseado em Amoroso
(1996), possibilitaram a percepção dos fatos de forma direta, sem qualquer intermediação,
facilitando a organização e o registro das informações, que foram feitas em um caderno de
campo e em fita cassete. As questões abertas tiveram como objetivo explorar ao máximo o
tema objeto de estudo e cobrir todas as facetas do mesmo.
A técnica de entrevista contribuiu, assim, para a obtenção de dados qualitativos em
profundidade, além de ter proporcionado maior número de respostas e apresentado maior
flexibilidade. Seu uso serviu ainda para captar a expressão corporal do entrevistado e a ênfase
dada a cada resposta, além de poder ser realizada de forma individual ou coletiva. A ordem
das perguntas também pôde ser alterada, de acordo com o conteúdo de cada resposta dada.
Também a observação, realizada através das visitas ao campo, tendo os entrevistados
como guia, oportunidade em que se lançavam perguntas que os levavam a falar livremente
sobre as plantas que utilizam, resultaram no rápido acesso aos dados e na captação de fatos
reais. Outra vantagem da observação foi a interação com o meio físico e sócio-cultural e com
a apreensão “in loco” de elementos referentes às plantas, facilitando sua caracterização,
possibilitando o registro fotográfico.
A coleta das plantas, que seguiu as orientações de Ming (1996), foi realizada com o
auxílio de moradores locais, sendo previamente estabelecidas as partes da espécie a serem
69
retiradas, considerando tanto a necessidade de material para a identificação botânica como
daquele que seria utilizado na preparação dos extratos.
5.2.2 Trabalho de laboratório

Identificação botânica
A identificação botânica das cinco plantas selecionadas para os testes farmacológicos
foi realizada no departamento de botânica da Universidade Federal de Sergipe, por
comparação com exicatas já depositadas no herbário da instituição. Essa forma de
identificação foi priorizada devido à ausência de partes dos vegetais essenciais para a
classificação via chave. Utilizou-se para tanto as excicatas conforme os seguintes registros:
02960 (Amburana cearensis Fr. All; Smith.), 01874 (Astronium urundeuva Engl.), 00981
(Líppia mycrophylla Cham), 00121 (Maytenus rígida Mart.), 00679 (Mimosa hostilis Mart.).

Preparação dos extratos aquosos
Para a preparação dos extratos, as plantas foram inicialmente submetidas à
desidratação em estufa (37º C) e posteriormente trituradas em moinho elétrico. A etapa
seguinte consistiu na preparação da infusão a partir do pó, com adição de água destilada na
proporção de 200g/1000ml, seguida da filtração a vácuo. O material obtido foi submetido a
liofilização resultando nas amostras a serem utilizadas nos testes com animais, na forma de
extrato bruto aquoso.
70
Animais

Foram utilizados ratos Wistar e camundongos Swiss, machos ou fêmeas, a depender
do tipo de ensaio, todos provenientes do biotério da Universidade Federal de Sergipe. Os
grupos a serem testados foram mantidos em jejum algumas horas antes da realização dos
testes. Para o screening comportamental e o teste de tempo de sono induzido por barbitúrico,
respectivamente, empregaram-se grupos de 10 camundongos, com peso compreendido entre
25 e 40g, nos quais por via intra-peritoneal administraram-se os extratos das plantas
selecionadas nas doses de 20, 100 e 500 mg/kg, preparadas minutos antes do experimento, em
quantidade proporcional ao peso do animal. Já para o teste do campo aberto utilizou-se o
mesmo procedimento, sendo que os camundongos foram substituídos por ratos e a
administração passou a ser feita por via oral, que, segundo Yunes e Filho (2001), é a mais
indicada, por se aproximar da forma como as pessoas normalmente fazem uso das plantas.
Testes farmacológicos

Os ensaios farmacológicos obedeceram à seguinte seqüência: triagem farmacológica
(screenig comportamental), teste do campo aberto e teste de tempo de sono induzido por
barbitúrico.
1. Triagem farmacológica
Consiste em uma metodologia que tem por objetivo avaliar o comportamento de
animais ante a administração de preparações à base de plantas com possível atividade no
SNC, de forma a permitir a seleção de espécies que apresentaram resultado mais significativo
(ALMEIDA et al, 1999). Trata-se, portanto, de um teste preliminar a partir do qual as plantas
poderão ser conduzidas a testes mais específicos. Os parâmetros utilizados para a avaliação
comportamental encontram-se em anexo.
71
2. Campo aberto
O campo aberto foi originalmente descrito por Hall (1941) como uma arena circular
para testar os efeitos de ambientes não familiares sobre a emocionalidade em ratos de
laboratório. A assertiva envolvida no teste é que um ambiente não familiar marcadamente
distinto de seu ambiente usual elicia medo e/ou ansiedade no animal e atividade exploratória.
Esse medo geraria uma reação no SNC que o levaria à defecação e à paralisação (freezing)
(NAHAS, 2001).
Por estar historicamente relacionado a pesquisas sobre emocionalidade, o campo
aberto vem sendo utilizado para avaliar o potencial ansiolítico de drogas (BRUHWYLER, e
COL, 1991 apud NAHAS, 2001, p. 02). A avaliação do desempenho do animal consiste na
contagem de tempo de cada comportamento verificado, número de quadrados percorridos no
tempo, taxa de ambulação, imobilidade (freezing), auto-limpeza (grooming) e comportamento
de levantar-se nas patas posteriores (rearing). A defecação pode facilmente ser quantificada
pelo número de bolotas fecais despejadas pelo animal durante uma sessão experimental.
Atualmente, o teste de campo aberto pode ser desenvolvido de forma mais rápida e
eficaz através do uso do X-Plo-Rat19 que além de possibilitar a monitoração do
comportamento dos animais na arena, apresenta a vantagem de armazenar os dados em
arquivo do Microsoft Excel.
3. Tempo de sono induzido por barbitúrico
Para verificação de atividade depressora, todas as plantas foram submetidas ao teste de
tempo de sono induzido por barbitúrico. Esse teste, conforme descrito por Batista (1993), se
19
Programa computadorizado desenvolvido no Laboratório de Comportamento Exploratório do Departamento de Psicologia
Experimental da USP-Ribeirão Preto.
72
baseia no fato de que, em geral, as drogas depressoras do SNC aumentam o tempo de sono
induzido por barbitúricos.
Com base em Batista (1993), foi admitido para o tempo de indução do sono (latência)
o período decorrido da administração do barbitúrico Thionembutal (tiopental sódico), na dose
de 60mg/kg, até o animal perder o reflexo de endireitamento. O tempo de duração do sono foi
considerado como sendo o intervalo de tempo entre a perda e a recuperação desse reflexo. O
tempo máximo estabelecido para o sono foi de 120 minutos.
5.2.3 Análise de dados
A análise de dados realizada de forma integrada, compreendeu os aspectos
etnográficos (qualitativos) e os farmacológicos (quantitativos), que serviram de subsídios para
a discussão que se encontra compondo o capítulo seguinte do trabalho
Análise qualitativa

Foi referenciada pelos dados etnográficos obtidos da comunidade de Umbuzeiro do
Matuto, acerca de suas concepções sobre o ambiente, especialmente no tocante ao uso de
plantas de interesse medicinal que atuam ao nível de SNC, e envolveu informações referentes
as partes das plantas utilizadas, bem como as respectivas formas de preparo dos
medicamentos.

Análise quantitativa
Para verificação dos resultados dos testes de campo aberto e tempo de sono induzido
por barbitúricos se expressou o valor através da media + o erro padrão (EPM). A diferença
73
entre os grupos experimentais foi avaliada pela análise de variância de uma via (ANOVA)
seguida, quando necessário, do teste de comparações múltiplas de Tukey. Para tanto utilizouse o programa estatístico Prisma 3.0.
74
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através das entrevistas no povoado Umbuzeiro do Matuto, envolvendo 03 benzedores,
01 parteira, 08 professores e 88 pessoas da comunidade em geral, foi possível apreender
diversas impressões envolvidas na relação saúde-doença e no uso de plantas para fins
terapêuticos.
São interpretações que muitas vezes se materializam através de crenças ligadas ao
misticismo e que incluem rituais nos quais são contemplados: banhos, aplicação de
defumador, forma de preparo de remédio, guarda de resguardo, restrições alimentares e de
prática sexual entre outros.
Amorozo (1996, p.51), acrescenta que:
Costuma-se reconhecer, em diversas sociedades “primitivas”, pelo menos três níveis
etiológicos a partir dos quais as doenças, ou estados caracterizados como doenças
são diagnosticados: o nível físico, ou “natural”, no qual a origem da doença deve ser
procurada entre causas físicas ou fisiológicas; o nível sobrenatural, no qual o estado
mórbido é causado pela intervenção de uma entidade sobrenatural; e, finalmente, o
nível social, quando a causa é decorrente de relações sociais conflituosas, que
culminam com a intervenção acidental ou deliberada, de uma pessoa ou grupo, que
vai provocar doença em outra pessoa ou em um grupo rival.
De acordo com essa autora, e diversos outros que compartilham da mesma idéia, a
eficácia terapêutica de qualquer tratamento, inclusive de plantas para fins medicinais,
apresenta um conteúdo simbólico. Dessa forma, a cura de determinada enfermidade tanto
pode ser atribuída a um efeito farmacológico sobre a fisiologia do indivíduo, como também
pode ser resultante da expectativa e crença do paciente e de seus familiares na cura.
75
Essas convicções puderam ser percebidas nas declarações dos benzedores de
Umbuzeiro do Matuto. D. Ivete (benzedeira) comenta: Quando a pessoa tá triste é receitado
banho depois da reza. D. Enide (benzedeira), por sua vez afirma: A doença que Jesus Cristo
deu, encosto, não passa com remédio, só com banho, sumador20 e reza. Quando eu curo gente
com essa doença ela passa pra mim.
Agora eu só faço benzer, aqui o pessoal num guarda dieta. No dia que a gente toma
remédio pra cabeça, bem sabe que não é pra comer carne de porco, não é pra levar
sol nem chuva, tem que ficar de resguardo, não é pra namorar com a mulé, se
possível... tá na dieta (Sr. Lourival-benzedor).
É comum encontrar em locais onde as comunidades fazem uso da medicina popular,
várias misturas em garrafas (garrafadas) sendo vendidas em botecos ou feiras. Essas misturas
compreendem desde plantas no álcool ou vinho branco até cobras na cachaça. D. Enide,
benzedeira de Umbuzeiro do Matuto, afirma não fazerem mal, dependerá apenas do tipo de
doença.
Figura 10 – Entrevista com D. Enide – benzedeira
Omena: 2003
20
Defumador
76
Entre as convicções relacionadas ao uso das plantas para a cura de doenças no
povoado, está a de acreditar que as raízes só podem ser recolhidas do lado que o sol nasce, e,
preferencialmente, no final da tarde antes do pôr do sol. Segundo os relatos, esses costumes
foram ensinados pelos mais velhos. Na compreensão de Amorozo (1996), essas constatações
devem se relacionar com a concentração de compostos bioativos nestes locais e períodos,
variando de acordo com sua diluição, que dependerá da disponibilidade hídrica da plantas.
Segundo Bragança (1996), já se comprovou em muitas plantas medicinais que os
princípios ativos apresentam variações ao longo do dia, dado conhecido há séculos pelos
herborístas e curandeiros da medicina indígena. O autor cita como exemplos a morfina
(extraída do ópio ou suco da papoula, a Papaver somniferum) e a antropina (obtida da
Antropa belladona), cuja produção do principio ativo é quatro vezes maior pela manhã que
durante a noite. Segue comentando que em alguns casos o princípio ativo varia também
segundo a fase de germinação da planta e de acordo com o tipo de solo e de clima.
Essas explicações reforçam a idéia de que todas as informações obtidas das
comunidades usuárias e que dizem respeito às plantas (locais, horários e épocas determinadas
para coleta), devam ser valorizadas nas pesquisas etnofarmacológicas.
Para Calixto (2000, p. 307),
O teor dos constituintes presentes nas plantas varia consideravelmente em função
de fatores externos, incluindo: temperatura, umidade, luminosidade, nutrientes do
solo, método de coleta, secagem e transporte, parte da planta usada. Cada um
desses fatores pode afetar diretamente a qualidade da matéria prima vegetal e,
conseqüentemente, o produto final e a eficácia clínica dos medicamentos
fototerápicos.
Dentre outras interpretações ligadas à prática do uso de plantas, também faz parte do
ideário da comunidade relacionar a cura à mistura de diversas espécies e de não utilizá-las
77
concomitante com fármacos sintéticos. D. Enide, benzedeira, assim declara: O remédio de
planta e a cura só pode ser feita dois dias depois que parou o remédio de farmácia.
Apesar de os benzedores do povoado afirmarem fazer uso de diversas plantas
misturadas, há pessoas na comunidade que acreditam ser perigoso. Nem toda planta você
pode misturar com outra. Eu me intoxiquei misturando quebra-pedra com AAS. (Neuza). D.
Valdecira se intoxicou usando angico com juazeiro para tratar de tosse. O rosto inchou todo
(Prof. Aparecida);
A esse respeito Xue (1998 apud YUNES e FILHO, 2001, p.37) relata o caso da
“Angelica Sinensis Aloes”, fórmula composta por onze tipos de ervas, usada para tratamento
da leucemia mielógena, cujos testes demonstraram que somente uma espécie era ativa, e que
apenas uma substância era responsável pela atividade que se encontrava na planta.
No entanto, o mesmo autor também revela que um estudo realizado na Inglaterra para
avaliar os efeitos de um mistura de dez ervas, denominada “Zemafrite”, empregada contra
enfermidade da pele, constatou que nenhum extrato individual possuía o efeito desejado, o
qual era otimizado através da combinação dos extratos das diversas plantas.
Outra crença percebida entre os moradores do povoado se relaciona ao gosto da planta:
A planta que faz mal é a que amarga como a quina-quina, o angico e o juazeiro; não podem
ser misturados (Neuza). Procedimentos envolvendo a forma de preparo e de utilização dos
remédios de plantas também fazem parte dessa tradição. De acordo com o relato do Sr.
Lourival, as plantas podem ser misturadas para fazer remédio, contanto que seja em número
ímpar (3, 5...); Sr. Maurício menciona que para curar a epilepsia o paciente tem que tomar 70
aplicações de defumador, ou seja, o equivalente a setenta crises epilépticas.
Devido às concepções que envolvem o uso das plantas, os atores sociais que detêm
maior conhecimento, como os curandeiros, benzedores e parteiras exercem uma liderança
78
natural nas comunidades das quais fazem parte, chegando em alguns casos a serem
considerados “gurus espirituais”.
Os três benzedores identificados no povoado atribuíram seus “poderes” de cura a uma
divindade. D. Enide relata que é filha de caboclo e que trabalha com cura desde os quinze
anos, que aprendeu tudo sozinha, pois o dom foi dado por Deus. Define-se como católica e
rezadeira das almas. Ela própria prepara os remédios e garrafadas que recomenda. As plantas
são recolhidas na caatinga pelos netos, sob sua orientação. Da mesma forma D. Ivete, também
benzedeira, diz que aprendeu sozinha a conhecer as plantas, com o dom de Deus.
Já Sr. Lourival assim declara:
Com sete anos eu já curava, quem ensinou foi Jesus. Adivinhava, condi uma mulé
casava que ficava de gravidez mandava me chamar pra dizer se era home ou mulé.
Num era pra eu me casar, mas home que num casa num é home, eu me casei com 20
anos.
Os filhos e netos geralmente ajudam os pais na tarefa de pegar as plantas no mato,
aprendem desde cedo a reconhecê-las no convívio com os mais velhos, muitas vezes
acompanhando-os durante as tarefas rotineiras na roça.
Com relação ao atendimento médico local, que acontece dois dias na semana num
pequeno posto de saúde, em aparente contradição, este aparece como um dos fatores
favoráveis ao uso de plantas para fins terapêuticos. Os relatos a esse respeito evidenciaram
que o serviço prestado é precário e insatisfatório.
D. Neuza demonstra indignação com a assistência médica prestada ao relatar que uma
das meninas que está adotando “a ruivinha” teve que ir para Monte Alegre, município mais
próximo, por ocasião de um problema de saúde.
79
Um dos fatores apreendidos na fala dos moradores para classificar o serviço médico no
povoado como insuficiente foi o fato de o único médico que presta serviço à comunidade nem
sempre comparecer ao trabalho. A esse respeito Sr. Luorival declara: A gente tá doente, condi
o doutor vem receber a gente é dois, três dias. Condi chega diz daqui a um mês. Condi vai
vortá a atender é com dois, três meis. Se a gente tiver que morrê já tem morrido. Aí eu me
trato com mato.
Também a inexistência de especialistas para os diversos tipos de enfermidades é
motivo de reclamação. D. Cecília, que perdeu a visão após uma cirurgia de catarata, se
queixa: Tem um médico só pra receitar tudo quanto é gente: mulher barriguda, menino... E
isso dá certo? D. Pastora, da mesma forma, reclama do serviço afirmando que quando o
médico aparece não dá um remédio: Eu quando quero faço meu próprio remédio.
A declaração de Sr. Beijo também deixa clara a deficiente assistência medica à
população de Umbuzeiro do Matuto. Tive que vendê todas as minha vaquinha pra pagá
médico e ixame. Todos os que necessitam de cirurgia no povoado têm que se deslocar para a
capital do estado, Aracaju.
Os depoimentos indicam que a precariedade da assistência médica contribui para que a
comunidade se automedique e faça uso de plantas na busca de cura para suas enfermidades,
confirmando o comentário aludido por Silva; Buítron e Martins (2001), de que a dificuldade
de oferecer assistência médica farmacêutica integral, deixa espaço aberto para que a
comunidade recorra aos tratamentos com raizeiros e curandeiros em busca de alívio imediato
para seus males.
80
Figura 11 – Conversa com D. Pastora e D. Cecília, moradoras do povoado
Fonte: Omena-2002
Algumas das pessoas entrevistadas também deram como justificativa para o uso de
plantas a facilidade de não ter que sair de casa. Contudo, a maioria dos relatos evidencia que o
uso de plantas ainda se deve à crença de encontrar nestas a melhor opção para se tratarem e
prevenirem-se contra doenças.
Quem vai me curar é Deus, e minhas cascas de pau e meus remédios que já está no
fogo (D. Enide-benzedeira); Remédio só serve quando Deus qué, quando não qué vai pra
debaixo do chão (D. Pastora); No início da gastrite procurei um médico, passei um ano
tomando remédio, mas foi com plantas que me curei (Prof. Ademar); Remédio de planta cura
e num faz mal. (D. Ivete-benzedeira).
Outro fator que também apareceu com freqüência na fala dos moradores foi o
financeiro. As entrevistas indicaram ser fator preponderante para a continuidade do uso das
plantas na cura de enfermidades a baixa renda da população. No povoado predomina o
81
trabalho rural. A maioria dos moradores sobrevive da agricultura de subsistência. Aqueles que
não possuem terra mantêm suas famílias através da colheita em roças de terceiros ou na
criação, para venda, de animais de pequeno porte, como carneiro, bode, galinha e porco.
O comércio restringe-se a um mercadinho, uma lanchonete, uma mercearia e um
boteco, incapazes de absorver a mão de obra local. Os únicos órgãos públicos existentes são o
posto médico (no qual trabalham 3 pessoas da comunidade) e a escola (que conta com 21
profissionais, incluindo professores, auxiliares administrativos e executores de serviços
básicos). Os dois órgãos juntos não chegam a absorver nem 10% da população em idade ativa.
É fato que no povoado Umbuzeiro do Matuto os dois fatores mencionados, o
atendimento médico precário e a baixa renda da população, atrelados à tradição local,
legitimam o ainda existente hábito do uso de plantas para fins terapêuticos. As entrevistas
revelaram 66 plantas das quais os moradores fazem uso para esse fim, como consta no
apêndice 1, onde as mesmas aparecem grafadas pela nomenclatura própria da localidade, sem
preocupação, a priori, de identificar as espécies pelo nome científico, dando destaque à forma
de obtenção, a indicação, a parte utilizada e a forma de preparo.
Entende-se, neste levantamento, como plantas adquiridas aquelas in natura ou
primariamente beneficiadas, em feiras da região, ou mesmo sob encomenda, provenientes de
regiões mais distantes; como cultivadas espécies não nativas, que em vista de sua utilidade,
passam a ser cultivadas em casa ou terrenos das propriedades para uso doméstico; e como
nativas espécies encontradas originalmente na região, procedentes da caatinga.
Apesar de não constar no rol de plantas indicadas pela comunidade, apêndice, também
foram mencionadas nas entrevistas preparações à base de associações de diversas espécies, a
exemplo de: mistura de mandacaru com semente de melancia cozida e pisada, usada para
febre; mirassol (girassol) e maracujá de estalo, dos quais o chá feito da semente é utilizado
82
como calmante; juazeiro junto com pixilinga, noz moscada e a semente do melão de São
Caetano, que pisados viram um café para derrame; mirassol (girassol) com mostarda, o chá
serve para epilepsia;
jureminha,
jurema do mato,
pinhão roxo e
pinhão bravo cujo
defumador serve para epilepsia; jericó com o mororó, o chá da folha é usado para diabete;
unha de gato junto com o alecrim de vaqueiro, usa-se o chá para dor nos ossos; entrecasca de
cajueiro, de angico, de aroeira, acompanhado do mastruz e do pinhão roxo que se usa para
banho, tendo efeito em casos de inchação.
O levantamento na comunidade mostrou-se essencial para a seleção de espécies
nativas da caatinga, conforme folder divulgado pela ADEMA (s.d), a serem classificadas
botanicamente e submetidas a testes farmacológicos específicos para avaliação de efeito no
SNC. Para tanto, consideraram-se as plantas que tiveram maior número de indicações da
população pesquisada para esse fim específico. A saber: a aroeira (Astronium urundeuva
Engl.), a imburana de cheiro (Amburana cearensis Fr. All; Smith.), o bom nome (Maytenus
rígida Mart.), o alecrim de vaqueiro (Líppia mycrophylla Cham) e a jurema (Mimosa hostilis
Mart.) Devido à excessiva viscosidade, a jurema (Mimosa hostilis Mart.) não respondeu
satisfatoriamente ao sistema de filtração à vácuo, impossibilitando sua utilização
nos
experimentos.
Os efeitos comportamentais em camundongos albinos Swiss, a partir da administração
por via i.p.21 dos extratos das quatro plantas selecionadas, nas doses de 20, 100 e 500 mg/kg,
foram observados nos primeiros 30, 60 e 120 minutos após os respectivos tratamentos,
indicando que todas as plantas testadas apresentaram de alguma forma perfil de droga com
ação no SNC, considerando que houve alteração no comportamento normal dos animais,
quando comparados ao grupo controle, como demonstram as tabelas 1, 2, 3 e 4, construídas
com base no instrumental utilizado para a triagem farmacológica (ALMEIDA et al, 1999).
83
Tabela 1 - Resultados apresentados com a espécie Astronium urundeuva (aroeira) na
triagem farmacológica comportamental.
Atividade no SNC
Controle/NaCl
Dose 20 mg/kg
0,5 h 1 h 2 h 0,5 h
Depressora
0
0
0
0
Hipnose
0
0
0 (1) –
Ptose palpebral
0
0
0
0
Sedação
0
0
0
0
Anestesia
0
0
0
0
Ataxia
0
0
0
0
Reflex. endireitamen.
0
0
0
0
Catatonia
0
0
0
–
Analgesia
0
0
0
0
Resp. toque dimin.
0
0
0
0
Refl. córneo dimin.
0
0
0
0
Refl.auricular. dimin.
Outros
0
0
0
0
Ambulação
0
0
0
0
Bocejo excessivo
0
0
0
+
Auto limpeza
0
0
0
0
Levantar
0
0
0
0
Escalar
0
0
0
0
Vocalizar
0
0
0
0
Sacudir a cabeça
0
0
0
0
Contorção abdominal
0
0
0
0
Abdução posterior
0
0
0
0
Pedalar
0
0
0
+
Estereotipia
1h
0
+
+
0
0
0
0
–
–
–
–
–
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Dose 100 mg/kg
Dose 500 mg/kg
2 h 0,5 h 1 h 2 h 0,5 h 1 h
0
0
0
0
0
0
+
–
+
+
–
+
+
0
+
+
0
+
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
+
0
–
+
0
+
+
0
+
+
+
+
+
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
0
+
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
+
0
0
0
0
0
0
0
+
–
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
2h
0
+
+
0
0
0
0
+
+
–
–
–
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
Quantificação dos efeitos: (0): sem efeito; (–): efeito diminuído; (+): efeito presente; (++): efeito intenso.
Todos os animais submetidos ao teste com a espécie Astronium urundeuva (aroeira),
apresentaram comportamentos que dão indícios de atividade depressora sobre SNC. Na
primeira 0,5 h. do teste com a dose de 20 mg/kg apenas uma animal apresentou ptose
palpebral (efeito diminuído). Contudo, no tempo restante, 1 e 2 h., esse efeito foi observado
em todos os animais, fato que se repetiu nas demais doses utilizadas (100 e 500 mg/kg).
Também para a característica sedação seguiu-se o mesmo critério, o efeito não foi observado
nas primeiras 0,5 h. do teste, mas esteve presente no tempo seguinte em todas as dosagens.
Para a analgesia, aparentemente a planta também apresenta efeito, haja vista os
animais testados terem apresentado na primeira hora de teste nas doses de 20 e 100 mg/kg um
21
Intra peritoneal
84
efeito diminuído, que aumentou no tempo restante. Na dose de 500 mg/kg esse efeito esteve
presente já a partir de 1h após a administração do extrato da planta. Observou-se em todos os
animais uma diminuição na resposta ao toque e de reflexos córneos e auriculares. Também o
decréscimo na taxa de ambulação, observada nos animais, servem de evidência de algum
efeito da planta sobre o SNC.
Tabela 2 - Resultados apresentados com a espécie Amburana cearensis (imburana de
cheiro) na triagem farmacológica comportamental.
Atividade no SNC
Controle/NaCl
Dose 20 mg/kg
0,5 h 1 h 2 h 0,5 h 1 h
2h
Depressora
0
0
0
0
0
0
Hipnose
0
0
0 (3) + (3) + (3) +
Ptose palpebral
0
0
0 (3) + (3) + (3) +
Sedação
0
0
0
0
0
0
Anestesia
0
0
0
0
0
0
Ataxia
0
0
0
0
0
0
Reflex. endireitamen.
0
0
0
0
0
0
Catatonia
0
0
0 (3) – (3) – (3) –
Analgesia
0
0
0
0 (3) – (3) –
Resp. toque dimin.
0
0
0
0
0
0
Refl. córneo dimin.
0
0
0
0
0
0
Refl.auricular. dimin.
Outros
0
0
0
+
–
–
Ambulação
0
0
0
0
0
0
Bocejo excessivo
+
+
0 (2) + (2) –
+
Auto limpeza
0
0
0
0
0
0
Levantar
0
0
0
0
0
0
Escalar
0
0
0
0
0
0
Vocalizar
0
0
0
0
0
0
Sacudir a cabeça
0
0
0
0
0
0
Contorção abdominal
0
0
0
0
0
0
Abdução posterior
0
0
0
0
0
0
Pedalar
0
0
0
0
0
0
Estereotipia
Dose 100 mg/kg
Dose 500 mg/kg
0,5 h 1 h
2h
0
0
0
(2) + (3) + (3) –
(3) + (3) – (3) –
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
(3) + (3) + (3) +
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0,5 h 1 h
2h
0
0
0
(2) + (3) + (3) –
(3) + (3) – (3) –
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
(3) + (3) + (3) +
0
0
0
–
–
–
–
–
–
–
–
0
0
0 (1) +
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
–
0
–
0
0
0
0
0
0
0
0
Quantificação dos efeitos: (0): sem efeito; (–): efeito diminuído; (+): efeito presente; (++): efeito intenso.
Como se observa na tabela 2, na dose 20mg/kg, três dos animais testados apresentaram
ptose palpebral durante o tempo total em que foram submetidos ao teste. Nas doses de
100mg/kg e 500mg/km um dos três animais deixou de apresentar essa atividade na primeira
0,5 h., voltando a apresentá-la somente uma hora após o início da observação. A atividade
teve efeito diminuído no tempo restante (2 h.). Na dose de 20mg/kg os camundongos
85
pareciam sedados durante todo o tempo de teste. Nas outras duas doses (100 e 500 mg/kg) o
efeito esteve presente na primeira 0,5 h., diminuindo no tempo restante.
Com relação à atividade de analgesia, na dose de 20mg/kg os três animais
apresentaram efeito diminuído durante o tempo total observado. Nas doses seguintes (100 e
500 mg/kg), o efeito esteve presente do início ao final do teste. A resposta ao toque esteve
diminuída em três dos animais tratados com a dose de 20 mg/kg, a partir de 1 hora do início
do teste e até o final do mesmo. Dois dos animais apresentaram atividade de auto limpeza na
primeira hora do teste com dose de 20 mg/kg, vindo a diminuí-la no tempo restante. Na dose
de 100mg/kg apenas um animal apresentou essa atividade após a primeira 0,5 h. do teste,
prolongando-a por aproximadamente 1 hora.
Tabela 3 - Resultados apresentados com a espécie Maytenus rígida Mart (bom nome),
na triagem farmacológica comportamental.
Atividade no SNC
Controle/NaCl
Dose 20 mg/kg
0,5 h 1 h 2 h 0,5 h 1 h
Depressora
0
0
0
0
0
Hipnose
0
0
0
(1)
+
0
Ptose palpebral
0
0
0
0
0
Sedação
0
0
0
0
0
Anestesia
0
0
0
0
0
Ataxia
0
0
0
0
0
Reflex. endireitamen.
0
0
0
0
0
Catatonia
Analgesia
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Resp. toque dimin.
0
0
0
0
0
Refl. córneo dimin.
0
0
0
0
0
Refl.auricular. dimin.
Outros
0
0
0
0
0
Ambulação
0
0
0
0
0
Bocejo excessivo
0
0
0
(1)
+
0
Auto limpeza
+
0
0
(1)
+
(1)
+
Levantar
0
0
0
0
0
Escalar
0
0
0
0
0
Vocalizar
0
0
0
0
0
Sacudir a cabeça
0
0
0
0
0
Contorção abdominal
0
0
0
0
0
Abdução posterior
0
0
0
0
0
Pedalar
0
0
0
+
0
Estereotipia
Dose 100 mg/kg
Dose 500 mg/kg
2 h 0,5 h 1 h
2 h 0,5 h 1 h
2h
0
0
0
0
0
0
0
0 (1) + (1) + (1) + (3) + (3) + (3) +
0
0
+
–
0 (3) + (3) +
0
0
0
0
0
–
–
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
+
–
–
0 (3) +
0
0
0
0
0
0 (3) +
0
0
0
0
0 (3) + (3) +
0
0
0
0
0 (3) + (3) +
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0 (1) + (1) + (1) +
0 (1) + (1) + (1) +
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Quantificação dos efeitos: (0): sem efeito; (–): efeito diminuído; (+): efeito presente; (++): efeito intenso.
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
86
Três dos animais testados com o extrato aquoso da espécie Maytenus rígida,
apresentaram na dose de 20 mg/kg de extrato aquoso, movimentação intensa das vibrisas
(comportamento presente em drogas com atividade estimulante do SNC). Essa atividade
permaneceu em dois dos animais na dose seguinte (100mg/kg), durante o tempo total do teste.
Na dose de 100mg/kg um dos animais apresentou movimentos intensos de auto limpeza,
primeira 0,5 h, e movimento de escalar até o tempo médio de 1hora.
Tabela 4 - Resultados apresentados com a espécie Líppia mycrophylla Cham (alecrim de
vaqueiro), na triagem farmacológica comportamental.
Atividade no SNC
Controle/NaCl
Dose 20 mg/kg
Dose 100 mg/kg
0,5 h 1 h 2 h 0,5 h 1 h
2 h 0,5 h
Depressora
0
0
0
0
0
0
0
Hipnose
0
0
0
0
0 (1) +
+
Ptose palpebral
0
0
0
0 (1) + (1) +
0
Sedação
0
0
0
0
0
0
0
Anestesia
0
0
0
0
0
0
0
Ataxia
0
0
0
0
0
0
0
Reflex. endireitamen.
0
0
0
0
0
0
0
Catatonia
0
0
0
0
0
0
0
Analgesia
0
0
0
0
0 (1) +
0
Resp. toque dimin.
0
0
0
0
0
0
0
Refl. córneo dimin.
0
0
0
0
0
0
0
Refl.auricular. dimin.
Outros
0
0
0
0
0 (1) +
0
Ambulação
0
0
0
0
0
0
0
Bocejo excessivo
0
0
0
0
0
0
0
Auto limpeza
+
0
0
0
0 (1) + (1) +
Levantar
0
0
0
0
0
0 (1) +
Escalar
0
0
0
0
0
0
0
Vocalizar
0
0
0
0
0
0
0
Sacudir a cabeça
0
0
0
0
0
0
0
Contorção abdominal
0
0
0
0
0
0
0
Abdução posterior
0
0
0
0
0
0
0
Pedalar
0
0
0
+
0
0
0
Estereotipia
1h
0
+
+
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Dose 500 mg/kg
2 h 0,5 h
0
0
+
+
+
0
+
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
+
+
+ (3) +
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1h
0
+
+
–
0
0
0
+
+
+
+
2h
0
+
+
+
0
0
0
(3) +
(3) +
(3) +
(3) +
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Quantificação dos efeitos: (0): sem efeito; (–): efeito diminuído; (+): efeito presente; (++): efeito intenso.
87
Na dose de 20 mg/kg de extrato aquoso da Lippia mycropylla, as alterações
comportamentais observadas não se mostraram significativa, contudo, nas doses seguintes,
100 e 500 mg/kg, grande parte dos animais submetidos ao tratamento apresentaram conduta
típicos de droga depressora, como ptose palpebral, sedação, resposta ao toque diminuída e
reflexos córneos e auriculares diminuídos.
A partir dos dados preliminares obtidos na triagem farmacológica comportamental, as
quatro plantas selecionadas foram submetidas a testes específicos para avaliação de efeito
depressor do SNC, a partir dos quais obteve-se o seguinte resultado:

Astronium urundeuva (aroeira)
A ANOVA revelou que há diferença entre o número de cruzamentos para o grupo
controle e os tratados com o extrato da espécie Astronium urundeuva (F3,24 = 4,865, p<0,01).
As doses de 100 e 500 mg/kg do extrato diminuíram o número de cruzamentos (Aro100:q =
3,98; p<0,05; n = 7; Aro500: q = 5,14; p<0,01; n = 7) em comparação com o grupo controle,
figura 12. Com relação ao número de levantamentos sobre as patas traseiras A ANOVA não
apontou diferença na comparação entre os animais submetidos ao tratamento com o grupo
controle (F3,24 = 0,931; p>0,05), figura 13. Quanto ao número de rituais de limpeza a ANOVA
mostrou diferença entre os grupos (F3,24 = 4,50; p<0,05). Nas doses de 100 e 500 mg/kg o
extrato do Astronium urundeuva (aroeira) reduziu o número de rituais de limpeza dos animais,
com relação ao grupo controle (Aro100:q = 4,82; p<0,05; n = 7; Aro500: q = 3,92; p<0,05; n
= 7). figura 14.
88
30
75
número de
levantamentos
número de
cruzamentos
100
20
50
*
*
25
10
0
0
salina Aro20 Aro100 Aro500
salina Aro20 Aro100 Aro500
Figura 13 – Efeito do extrato aquoso do Astronium
urundeuva no número de levantamentos
dos animais.
Fonte: Omena-2003.
Fonte: Omena-2003.
nùmero de rituais de
limpeza
Figura 12 – Efeito do extrato aquoso do
Astronium urundeuva no número de cruzamento
dos animais.
15
10
*
*
5
0
salina Aro20 Aro100 Aro500
Figura 14 – Efeito do extrato aquoso do Astronium
urundeuva nos rituais de limpeza dos animais.
Fonte: Omena-2003.
No teste de tempo de sono induzido por barbitúricos a ANOVA não mostrou diferença
para o tempo de latência (F3,51 = 2,114; p>0.05), mas revelou diferença para o tempo de
duração do sono (F3,51 = 13,46; p<0.05). As doses de 20, 100 e 500 mg/kg do extrato aquoso
da planta mostraram diferença significativa quando comparadas ao grupo tratado com solução
salina (Aro20: q = 4,663, p<0,01, n = 12; Aro100:q = 5,403, n = 9; p<0,01; Aro500: q =
8,268, p<0,001, n = 10), figura 15.
89
tempo (min)
150
latência
duração
***
100
**
**
50
0
salina Aro20
Aro100 Aro500
Figura 15 – Latência e tempo de sono em animais submetidos
a tratamento com extrato aquoso do Astronium urundeuva.
Fonte: Omena-2003.
90
Figura 16 - Astronium urundeuva Engl.
Fonte: Omena-2003
91

Amburana cearensis (imburana de cheiro)
De acordo com a análise estatística, no teste de campo aberto, o extrato aquoso da
espécie Amburana cearesis não demonstrou resultado significativo em nenhuma das doses
administradas nos animais (20, 100 e 500 mg/kg), para qualquer dos comportamentos
observados, em comparação com o grupo controle. No número de cruzamentos A ANOVA
revelou que (F3,24 = 1,958, p>0,05), para o número de levantamentos (F3,24 = 2,157, p>0,05) e
para os rituais de limpeza (F3,24 = 2,157, p>0,05). Figuras 17, 18 e 19, respectivamente.
30
número de
levantamentos
número de
cruzamentos
100
75
20
50
10
25
0
salina Imb20 Imb100 Imb500
0
salina Imb20 Imb100 Imb500
Figura 18 – Efeito do extrato aquoso da
Amburana cearensis no número de levantamentos
dos animais.
Fonte: Omena-2003.
Fonte: Omena-2003.
número de rituais de
limpeza
Figura 17 – Efeito do extrato aquoso da
Amburana cearensis número de cruzamentos dos
animais.
15
10
5
0
salina Imb20 Imb100 Imb500
Figura 19 – Efeito do extrato aquoso da Amburana
cearensis nos rituais de limpeza dos animais.
Fonte: Omena-2003.
92
No teste de tempo de sono induzido por barbitúricos a A ANOVA revelou que a
espécie Amburana cearensis não mostrou diferença para o tempo de latência (F3,50 = 1,089,
p>0.05), pórem indicou resultado estatístiticamente significativo para o tempo de duração do
sono (F3,51 = 4,430; p<0.05). O teste de Tukey aplicado para avaliar as diferenças entre os
grupos demonstrou que houve significância com o extrato na dose de 20 mg/kg. (Imb20: q =
4,710, p<0,01, n = 20; Imb100:q = 2,747, p>0,05, n = 9; Imb500: q = 3,103, p>0,05, n = 10),
figura 19.
tempo (min)
100
**
75
50
25
0
salina
Imb20
Imb100
Imb500
Figura 20 – Latência e tempo de sono em animais submetidos
ao tratamento com a espécie Amburana cearensis.
Fonte: Omena-2003.
93
Figura 21 – Amburana cearensis Fr. All; Smith
Fonte: Omena, 2003
94

Maytenus rigida (bom nome)
A ANOVA revelou que não há diferença entre o os grupos tratados com o extrato da
espécie Maytenus rigida em nenhum dos comportamentos analisados no teste do campo
aberto. Conforme a análise, para a taxa de ambulação, cruzamentos, (F3,24 = 0,9362, p>0,05),
para o número de levantamentos (F3,24 = 3,24, p>0,05), para os rituais de limpeza (F3,24 =
1,026, p>0,05). Figuras 22, 23 e 24.
40
número de
levantamentos
número de
cruzamentos
100
30
75
20
50
10
25
0
0
salinaBom20
Bom100
Bom500
salina Bom20Bom100Bom500
Figura 23 – Efeito do extrato aquoso da Maytenus
rigida no número de levantamentos dos animais.
Fonte: Omena-2003.
Fonte: Omena-2003.
número de rituais de
limpeza
Figura 22 – Efeito do extrato aquoso da Maytenus
rigida no número de cruzamentos dos animais.
20
10
0
salina Bom20 Bom100 Bom500
Figura 24 – Efeito do extrato aquoso da Maytenus rigida
nos rituais de limpeza dos animais.
Fonte: Omena-2003.
95
No teste de tempo de sono induzido por barbitúricos a ANOVA revelou que a espécie
Maytenus rigida não mostrou diferença para o tempo de latência (F3,37 = 0,09486, p>0.05),
tampouco para o tempo de duração do sono (F3,37 = 1,668; p>0.05).
tempo (min)
75
latência
duração
50
25
0
salina
Bom20 Bom100 Bom500
Figura 25 – Efeito do extrato aquoso da Maytenus rigida
nos rituais de limpeza dos animais.
Fonte: Omena-2003.
96
Figura 26 – Maytenus rígida Mart.
Fonte: Omena-2003.
97

Líppia mycrophylla (alecrim de vaqueiro)
Através da comparação entre os animais do grupo controle e os tratados com o extrato
da espécie Líppia mycrophylla, a ANOVA revelou diferença em dois dos comportamentos
analisados, número de cruzamentos (F3,36 = 4,339, p<0,05) e número de levantamentos (F3,36 =
6,318, p<0,05). No pós-teste de Tukey, obteve-se para o número de cruzamentos os seguintes
resultados: (Ale20: q = 2,845; p>0,05; n = 7; Ale100: q = 5,082; p<0,01; n = 7, Ale500: q =
2,408; p>0,05; n = 7). Para o número de levantamentos obteve-se que: (Ale20: q = 4,985;
p<0,01; n = 7; Ale100: q = 5,539; p<0,01; n = 7, Ale500: q = 2,408; p>0,05; n = 7). Figuras
27, 28 e 29.
75
número de
cruzamentos
50
25
*
número de
levantamentos
15
10
*
5
**
**
0
0
salina Ale20 Ale100 Ale500
salina
Ale20 Ale100 Ale500
Figura 27 – Efeito do extrato aquoso da Lippia
mycrophylla número de cruzamentos dos
animais.
Figura 28 – Efeito do extrato aquoso da Lippia
mycrophylla no número de levantamentos dos
animais.
Fonte: Omena-2003.
Fonte: Omena-2003.
número de rituais de
limpeza
98
4
3
2
1
0
salina
Ale20 Ale100 Ale500
Figura 29 – Efeito do extrato aquoso da Lippia
mycrophylla no rituais de limpeza dos animais.
Fonte: Omena-2003.
No teste de tempo de sono induzido por barbitúricos a ANOVA não mostrou diferença
para o tempo de latência (F5,80 = 6,92; p>0.05), contudo, revelou diferença para o tempo de
duração do sono (F3,51 = 39,29; p<0.05). As doses de 20, 100 e 500 mg/kg do extrato aquoso
da planta mostraram diferença significativa quando comparadas ao grupo tratado com solução
salina (Ale20: q = 5,808, p<0,01, n = 16; Ale100:q = 5,808, n = 17; p<0,001; Ale 500: q =
8,440, p<0,001, n = 14). Figura 30.
tempo (min)
100
latência
duração
***
***
75
50
**
25
0
salina
Ale20
Ale100
Ale500
Figura 30 – Latência e tempo de sono em animais
submetidos ao tratamento com a espécie Lippia
mycrophylla.
Fonte: Omena-2003.
99
Figura 31 – Lippia mycropylla Cham.
Fonte: Tourinho-2000
100
A análise estatística referentes às quatro espécies de plantas submetidas aos testes
farmacológicos para avaliação de atividade no SNC, a partir dos extratos brutos aquosos,
permite deduzir que: o Astronium urundeuva (aroeira) e a Lippia Mycrophylla (alecrim de
vaqueiro) apresentaram o efeito relatado pela comunidade do povoado Umbuzeiro do matuto,
lócus da pesquisa, dando indícios que as espécies mencionadas possam conter substâncias de
efeito psicoléptico (depressor) ou neuroléptico (tranqüilizante).
A espécie Amburana cearensis (imburana de cheiro), apresentou a ação indicada pelos
informantes apenas na dose 20 mg/kg, indicando que por se tratar de extrato bruto, outras
substâncias podem ter agido antagonizando o efeito, ou seja, o aumento da dose pode ter
ativado substâncias que se contrapuseram às de ação depressora.
Ao ser submetida aos testes para avaliação da atividade depressora, a espécie
Maytenus rigida (bom nome), apresentou indícios de droga psicoativa (estimulante do SNC),
suscitando a realização de testes mais específicos para essa comprovação.
Os ensaios farmacológicos confirmam, dessa forma, a proposição levantada
anteriormente de que Umbuzeiro do Matuto constitui-se num grande potencial a ser explorado
com relação ao uso de plantas para fins medicinais, servindo para consolidar a importância de
que a ciência deve conferir ao saber empírico, no sentido de que as informações obtidas das
comunidades locais possam servir de subsídio para impulsionar a pesquisa cientifica.
Os dados apresentados no apêndice 1, plantas de interesse farmacológico utilizadas na
comunidade, no qual são elencadas 66 plantas, das quais 31 qualificadas como nativas,
conforme classificação apresentada pela ADEMA (s.d), ganham maior relevância quando
comparados à pesquisa de Bispo, realizada no mesmo povoado no ano de 1998, que indicam
42 plantas nativas da caatinga, de uso exclusivo pela comunidade para fins medicinais, e cuja
maioria não apareceram na pesquisa atual.
101
Apenas 15 das plantas identificadas por Bispo (1998) reincidiram neste estudo,
podendo significar que, além das plantas nativas que só foram mencionadas na pesquisa atual,
a comunidade pode, ainda que em menor proporção, fazer uso das 26 plantas que apareceram
exclusivamente no trabalho de Bispo (1998). A soma das plantas nativas que aparecem em
cada uma das pesquisas isoladamente, resulta, em 57 plantas, além das 15 que coincidem nos
dois levantamentos.
A análise leva a inferir que o uso de plantas medicinais no povoado ainda se mostra
bastante significativo. Todavia, é importante não perder de vista que a variação acima
mencionada pode ter ocorrido devido às inúmeras nomenclaturas que geralmente são dadas a
uma mesma planta, inclusive dentro de uma mesma comunidade, razão pela qual é
fundamental se buscar a classificação científica das mesmas.
Bragança (1996) assinala que muitas espécies botânicas recebem o mesmo nome
popular, por semelhança com outras espécies ou por o igual uso empírico, como é o caso do
capim-limão (Cymbopogon citratus), da erva cidreira (Lippia citriodora) e da melissa,
utilizadas como tranqüilizantes, e conhecidas popularmente como “erva-cidreira”.
Ademais, embora os testes realizados com as plantas selecionadas tenham apresentado
resultados que confirmam os relatos da comunidade, é importante ressaltar que grande parte
dos ensaios que avaliam os efeitos dos fármacos no SNC, quer sejam eles sintéticos ou de
produtos naturais, se relacionam ao comportamento de animais e incluem tanto respostas
reflexas atencionais imediatas como as respostas voluntárias típicas. E apesar de amplamente
utilizados, apresentam algumas limitações, pois inúmeros são os fatores externos que podem
de alguma forma alterar seus resultados.
No teste de campo aberto, por exemplo, dentre as situações que provocam aumento na
resposta de medo nos animais, ou seja, maior taxa de defecação e menor taxa de ambulação,
102
estão: iluminação forte da arena, introdução de som de fundo no ambiente, aumento do
tamanho do aparelho e choque nas patas precedente ao teste (NAHAS, 2000).
Outro fator a ser considerado durante a aplicação desses experimentos é a diferença de
comportamento intrínseco ao gênero (masculino ou feminino) do animal testado. Broadhurst;
Gray & Lalljee (1957; 1974 apud NAHAS, 2000) observaram que há desigualdades sexuais
no desempenho de tarefas que envolvem comportamento emocional no rato, a julgar pela
maior taxa de ambulação e menor taxa de defecação em fêmeas. Dessa maneira, os testes
envolvendo substâncias que atuam ao nível do SNC, exige muitas vezes a repetição exaustiva
dos experimentos, a fim de que se eliminem as discrepâncias e se chegue a um resultado
seguro.
Também é importante atentar para o fato de que a tradição sobre o uso medicinal das
plantas, que acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos, expressa através de
técnicas, conhecimentos e práticas, também vem perdendo espaço, num concomitante
processo de degradação ambiental e cultural. Pôde-se perceber entre a população mais jovem
do povoado, principalmente adolescentes, total desinteresse em participar das rodas de
conversas e das entrevistas.
No que se refere ao desinteresse dos jovens Amorozo (1996, p.56) destaca que,
Assimilando a ideologia da sociedade ocidental de forma ampla, este saber começa a
ser percebido, sobretudo pelos mais jovens, como algo inferior, em contraste com o
corpo de novas informações que se tornam acessíveis pelo contato com o mundo
exterior, seja por agentes sociais, seja pelos meios de comunicação [...] O
conhecimento tradicional também acaba se perdendo, na medida em que a educação
formal retira os jovens do convívio com os mais velhos durante uma parte
significativa de tempo e fomenta seu desinteresse por este saber.
103
Entre os benzedores também não foi percebido maior interesse com relação à
transmissão de ensinamentos. Quando indagados a esse respeito dois, dos três identificados no
povoado, assim responderam: “Pode ser que a pessoa pra quem eu ensinar mate o povo, só
vou dar o saber quando ficar bem velhinha” (D. Enide); “Já tive vontade de ensiná aos meus
filhos ou meu neto, mas condi a gente se vê mais velho a gente num pensa condi morre, conte
mais a gente veve, mais pensa que veve.” (Sr. Lourival).
A constatação é preocupante, haja vista não apenas a idade avançada das pessoas que
denominam esse conhecimento e ao importante papel por elas exercido no povoado, mais
ainda devido à importância econômica das plantas utilizadas como medicinais para a
população que delas necessita e faz uso.
104
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na troca de conhecimentos com membros do povoado Umbuzeiro do Matuto, ficou
evidenciada a possibilidade de se estabelecer uma relação dialética entre conhecimento
científico oficial e conhecimento empírico, assim como sugere IBAMA (1996). As entrevistas
revelaram que a comunidade faz uso de uma imensa diversidade de plantas para fins
terapêuticos. De acordo com os relatos 66 espécies são utilizadas de forma isolada para esse
fim e outras ainda são usadas de forma combinada, a depender do resultado que se espera.
Os dados levantados constituíram-se elemento essencial na seleção das plantas com
suposta atividade no SNC submetidas aos testes, e a partir dos quais foi possível constatar que
apenas uma das espécies, a Maytenus rigida Mart (bom nome.), deixou de apresentar o efeito
compatível com droga depressora do SNC, mencionado pelos moradores do povoado.
Considerando o fato de os ensaios farmacológicos terem confirmado duas das questões
problematizadoras que conduziram esta pesquisa, cabe refletir sobre a possibilidade de
conciliar a prática do uso de plantas na comunidade Umbuzeiro do Matuto com a utilização
sustentável da biodiversidade. E nesse sentido, é importante esclarecer que, conforme a
apreensão da fala dos atores envolvidos, o conhecimento acerca dos potenciais florísticos do
povoado tem se configurado unicamente em termos de exploração dos recursos naturais, não
tendo sido verificado nenhuma estratégia social e cultural para a manutenção dos benefícios
gerados, tampouco iniciativas locais e sustentáveis de desenvolvimento.
Compreende-se pois que, para pôr em prática estratégias socioculturais a comunidade
deva estar consciente tanto do potencial terapêutico das plantas nativas existentes no povoado,
como do valor da preservação da cultura popular e ainda da importância conferida ao manejo
sustentado a fim de garantir a manutenção da floresta. Os três aspectos mencionados devem
105
configurar-se em fatores essenciais à continuidade do aproveitamento dos recursos ambientais
da região.
Contudo, para que uma mudança de concepção possa ocorrer de fato é necessário que
as informações sejam disseminadas, tendo como principal meio difusor o sistema educacional,
que deve objetivar a formação ampla do indivíduo, dentro de um ambiente cultural que o
estimule a ser o autor de seu desenvolvimento. Nesse sentido, o espaço do povoado
dispensado à educação formal (escola), da mesma forma que aqueles onde se realiza a
educação não formal, como é o caso da igreja e associação de moradores, deve exercer papel
fundamental na formação ambiental da comunidade.
É certo que para se desenvolver um programa de formação ambiental faz-se
necessário, além de pessoas competentes na área, o estabelecimento de políticas capazes de
assegurar sua continuidade. Dessa maneira, cabe o envolvimento da administração pública
municipal e de órgãos como IBAMA e universidade, objetivando, posteriormente, incluir a
Educação Ambiental na escola, inserida no planejamento de todos os professores, se possível,
como sugerido por Cascino (2000); Guimarães (2000); Medina (2000), de maneira
interdisciplinar, conforme exige a temática.
A Educação Ambiental pode ser um caminho viável tanto para a adoção de estratégias
que visem valorizar a cultura local, através da legitimação, em detrimento da cristalização dos
saberes, como por meio da conscientização e orientação à comunidade para uma melhor
utilização dos seus recursos naturais. Obviamente, deve-se pensar num projeto de intervenção
educativa cuja metodologia adotada conte com a participação e colaboração de todos os atores
sociais envolvidos na problemática, de modo que conhecendo as tradições, se possa interferir
positivamente na construção do futuro.
106
Também o manejo sustentado, que exerce grande importância nesse processo, poderia
ser orientado em um programa de Educação Ambiental. Dourojeanni (2001) menciona que
para fazer um plano de manejo não é imprescindível que se tenha conhecimento aprofundado
sobre flora, geologia e geomorfologia entre outros. Na sua concepção para a realização de um
plano eficaz e de baixo custo é condição essencial conhecer profundamente a área e aproveitar
os conhecimentos da população local. Dessa forma, órgãos como Escola Agrotécnica,
EMATER e EMBRAPA poderiam estar envolvidos nessas ações.
No que concerne às alternativas de sócio-desenvolvimento, a comunidade poderia
utilizar os recursos biológicos da região com fins à auto-sustentação através de iniciativas
como a criação da farmácia viva e de cooperativas para extração e comercialização de plantas
de ação medicinal comprovada. Para a efetivação dessa idéia, uma das primeiras (senão a
primeira) metas a serem atingidas seria a identificação do potencial de recursos que podem
servir como base para o desenvolvimento local. E nesse caso, torna-se necessária a avaliação
do conjunto de informações disponíveis sobre a base de recursos naturais, para que seu uso
sustentável melhor se adapte aos novos parâmetros de desenvolvimento, como recomenda
Sachs (1997).
Compreende-se que somente por meio da identificação do potencial e do respeito às
características locais se torna possível elaborar iniciativas capazes de traduzir os princípios
gerais de gestão em modelos endógenos de desenvolvimento. A utilização das características
ecológicas e sociais assume, portanto, papel central na configuração das linhas gerais dos
modelos de desenvolvimento a serem implantados.
Visando a conciliação entre ciência e preservação da sóciobiodiversidade, as sugestões
apresentadas configuram-se na verdade em alternativas para apoiar a população local na
“exploração” dos seus recursos, de forma sustentada, estando a pesquisa científica, nesse
107
caso, a serviço da preservação da diversidade biológica e da cultural local. Os conhecimentos
mantidos por comunidades tradicionais, inseridos no contexto social e ecológico, a despeito
do uso das plantas para fins terapêuticos, podem, dessa forma, ser empregados em prol da
própria sociedade, pois compreende-se que um dos grandes desafios da contemporaneidade é
fazer do saber construído pelo homem, um instrumento para o homem.
De acordo com a CDB, a gestão dos recursos naturais deve configurar-se como um
dos componentes essenciais do processo de regulação das inter-relações entre os sistemas
socioculturais e o meio ambiente biofísico, a partir dos quais devem surgir modelos
alternativos de desenvolvimento que se caracterize pelo princípio da autenticidade. Parte-se
desse contexto para concluir que é inviável propor estratégias de conservação da
biodiversidade do semi-árido, se igualmente não for preconizada a proteção da sociedade que
a rodeia, vive e sobrevive dela.
Convém ainda não perder de vista que além da própria fragilidade inerente ao
ecossistema do semi-árido, que por suas características já impõe a necessidade do seu uso
equilibrado, a caatinga já começa a apresentar sinais de depauperamento no povoado
Umbuzeiro do Matuto, vindo a reforçar a idéia da necessidade de se conter seu uso
desordenado. Outro aspecto que também merece destaque é o fato que algumas das espécies
desse ecossistema, das quais a comunidade faz uso para fins medicinais, como é o caso da
aroeira-do-sertão (Astronium urundeuva Engl.), da quixabeira (Brumelia obtusifolia), da
imburana-de-cheiro (Torresea acreana) e da brauna (Schinopsis brasiliensis), encontram-se
incluídas na lista de espécies ameaçadas de extinção de acordo com a Portaria IBAMA Nº 37N, de 3 de abril de 1992, suscitando seu uso racional e equilibrado.
Dessa forma, chega-se à conclusão que embora constatando a ação no SNC, de três,
das quatro espécies testadas, de uso na comunidade, esta pesquisa deve servir como base para
108
o desenvolvimento de estudos mais detalhados a respeito da ação das plantas avaliadas, de
forma compartilhada entre profissionais como bioquímicos, farmacólogos, psicologistas e
biofísicos para que os dados obtidos neste estudo possam ser complementados com outras
informações existentes no país.
E, nesse sentido, cabe à Universidade se abrir a novas possibilidades, que incluam o
diálogo de saberes, intensificando as pesquisas nessa área e aproximando as profissões e os
setores que podem efetivamente contribuir para que sejam implementadas ações no sentido de
conservar os recursos culturais e economicamente significativos, considerando sua
contribuição à saúde humana e ao desenvolvimento rural, através de medidas efetivas de
manejo, bem como do desenvolvimento do comércio e do controle dos recursos utilizados.
É necessário ainda se refletir sobre o papel que as pesquisas científicas devem
representar para a sociedade das quais se utilizam para a obtenção de informações no sentido
mesmo de dar-lhes o retorno, “feedback”, para que as sugestões inferidas nos estudos possam,
caso seja do interesse de seus atores, se conformar na prática.
109
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1999.
117
APÊNDICE 1
VARIEDADES DE PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS EM UMBUZEIRO DO MATUTO
Nome vulgar
Fonte de
obtenção
Indicação
Parte da planta
Preparo
cultivo
rins
folha
chá frio
Alecrim de
vaqueiro
nativa
calmante, dor de
cabeça, febre
gripe, pressão,
insônia, tosse
folha, raíz
defumador
chá
Alecrim de
caco
cultivo
dor de cabeça
folha
chá
Alfavaca
cultivo
Gripe
folha
Chá
Agulha de
mocó
adquirida
dor de cabeça
folha
cozida (banho)
Anador
cultivo
analgésico
folha
Angico
nativa
gripe, tosse
folha
nativa
derrame
raiz
Abacate
Araticum
chá
chá
chá
Aroeira
nativa
Babosa
adquirida
dor de cabeça, dor
folha
Um pano envolto na cabeça
de ouvido,
abortiva, diabete,
chá da folha, chá frio da
calmante, gastrite,
folha, entrecasca casca (molho), banho de
gripe, inflamação
assento, defumador
de mulher
batida com leite
gastrite
folha
adquirida
antiinflamatório
folha
batida com leite
nativa
dor de cabeça,
tontura
semente
chá
nativa
DST
raiz
chá
nativa
abortiva
nativa
calmante, fígado,
inflamação,
purgação, rins
folha
chá
adquirida
fígado
folha
chá
nativa
coluna
semente
chá
nativa
gripe, revigorante
entre casca
banho de asseio
Arruda
Barbatimão
Batata de
purga branca
Batata de teiú
Boa noite
Bom nome
Boldo
Braúna
Cajueiro
cultivo
118
da musculatura
vaginal
cultivo
febre
folha
chá
nativa
dor de barriga,
diarréia,
impotência
folha
chá
infusão
nativa
memória cansada
raiz
imersão em cachaça
nativa
derrame
(endurecer os
nervos)
entrecasca
mel
nativa
hemorrída
miolo
molho na água
Erva cidreira
cultivo
calmante, pressão
alta
folha
chá
Espinheira
santa
nativa
gastrite
raiz
chá
cultivo
abortiva
raíz
chá
adquirida
expectorante
folha
chá
nativa
pancada
entrecasca
macerado das raspas
nativa
câncer, tontura
semente
caldo
Capim santo
Catingueira
rasteira
Catuaba
Cedro
Croá
Espirradeira
Eucalipto
Favela
Feijão andu
Gergelin
cultivo
Hortelã
cultivo
Imburana de
cambão
nativa
Imburana de
cheiro
nativa
Jatobá
nativa
Jericó
nativa
Juazeiro
nativa
Jureminha de
caboclo
nativa
Jureminha do
mato
Jurema preta
Jurubeba
coceira,menstruaç
semente
ão atrasada,
sangue novo
gripe, dor de
folha
barriga
febre
folha
calmante,
derrame, dor de
folha
barriga, febre,
semente
gastrite, pressão,
tontura
nervo, inflamação
folha, casca
de mulher
dentição, diabete
adstringente,
dental, gripe,
gastrite
derrame, dor,
febre, inflamação
de mulher
chá
chá
chá
chá (folha)
chá (semente torrada)
chá
folha
chá
folha
chá
macerado
chá
defumador
nativa
epilepsia
folha seca
defumador
nativa
olhado
folha seca
defumador
nativa
asma, gripe
folha
chá
119
cultivo
calmante,pressão
alta
folha
chá
nativa
sangue
cabeça
torrada
cultivo
coluna,
inflamação
uterina, próstata
folha
chá frio
banho
adquirida
dor de cabeça
semente
cozida-óleo
Mandissoba
adquirida
cólica, dor,
informação
folha
chá
Maracujá de
estalo
nativa
calmante, hérnia
flor roxa
chá
Mastruz
nativa
gripe, verminose,
gastrite, olhos
folha
sumo retirado num pano
Melão de São
Caetano
nativa
abortivo
semente
chá (semente pisada)
nativa
diabete
folha, raiz
imersão em água
nativa
calmante
folha
chá
Mulungu
nativa
calmante
entrecasca
Pau d’arco
roxo
nativa
gastrite
folha
nativa
pancada, sangue
folha, raiz
chá
nativa
abortivo
folha, flor
chá
cultivo
calmante, pressão
alta
folha
chá
nativa
picada de cobra
folha
banho
cultivo
dor de cabeça,
inflamação
nativa
rins
folha, flor
chá
nativa
abortivo, gripe
caule (graveto)
imersão na água
nativa
pancada, rim
entrecasca, folha
molho,
chá
nativa
gastrite
folha
chá
adquirida
câncer, cansaço
folha
chá
nativa
diurético, hérnia
miolo
molho
Laranjeira
Macambira
Malva branca
Mamoneira
Mororó
Mucunã
Pau ferro
Pega pinto
Pinha
Pinhão bravo
Pinhão roxo
Quebra pedra
Quina quina
Quixabeira
Sambacaitá
Trombeta
Urtiga
Velande
branco
Velande de
vaqueiro
nativa
nativa
dor de dente,
inflamação
dor de barriga,
cólica
chá
defumador + couro de jacaré
chá frio
imersão em água
reza, banho
lavagem local
folhas, raiz
folhas, raiz
chá,
infusão
chá,
infusão
120
ANEXO 1
INSTRUMENTAL 1
ROTEIRO PARA ENTREVISTA NA COMUNIDADE
A) DADOS DO INFORMANTE
Nome (opcional):
Idade:
Sexo:
Naturalidade:
Escolaridade:
Ocupação:
Competência cultural/função na comunidade:
B) ASPECTOS SÓCIO CULTURAIS
Saber se é nativo da caatinga ou veio de outro lugar.
Investigar as mudanças que ocorreram na caatinga em comparação com antigamente (20, 30 anos atrás).
Indagar sobre o tipo de vida que leva, se já foi melhor do que é hoje.
Verificar o conhecimento sobre a caatinga.
Saber se reconhece as plantas na caatinga. Como aprendeu?
Verificar se passa esses ensinamentos para alguém. Quem? Como ensina?
Verificar se já foi curado usando alguma planta da caatinga.
Investigar quem recomenda o uso das plantas.
Saber se faz o remédio de planta que utiliza ou se procura o benzedor.
Se só usa plantas quando está doente.
Se acha que remédio de planta funciona
Saber se mistura plantas diferentes no preparo dos remédios..
Questionar se uso da planta errada pode causar problemas de saúde.
Saber a qual religião pertence e se já usou alguma planta na religião.
Investigar se tem médico na comunidade e com que regularidade procura esse serviço.
Perguntar se ganha remédio do posto de saúde.
Qual a renda aproximada da família.
Se os familiares usam plantas para tratar da saúde ou preferem remédios de farmácia.
Se já usou remédio de farmácia junto com remédio de planta, e se fez algum mal.
Se já viu gente de fora procurando plantas para remédio na caatinga, quais os matos mais procurados e em que
quantidade levam.
Saber que vantagens vê no uso de plantas medicinais.
Investigar se já fez remédio para vender e ajudar na renda familiar.
Levantar as plantas que mais utiliza, e para que servem.
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121
C) PLANTAS COM AÇÃO NO SISTEMA NERVOSO
Plantas para tratar problema de nervo (acalmar, parar tremores, diminuir a tristeza, curar dor de cabeça).
NOME POPULAR
FINALIDADE
PARTE
UTILIZADA
QUANTIDA
DE
FORMA DE
PREPARO
DOSAGEM E
INTERVALO
DE TEMPO
Verificar:
Como sabe se a planta utilizada resolveu o problema.
Se já ouviu falar de alguém que tenha tido problema por usar a planta errada.
Se uso de alguma dessas plantas tem contra indicação.
Se sabe dizer se o uso de alguma dessas plantas causa reação no doente.
Se já usou duas os mais plantas, indicadas para doenças diferentes, ao mesmo tempo, e se fez algum mal.
D) INFORMAÇÕES BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS
Levantar:
Se as plantas utilizadas são fáceis de encontrar pelas redondezas.
Se existe algumas plantas que são mais difíceis de encontrar do que outras.
Se atualmente está mais difícil encontrar na caatinga plantas para fazer remédio. Por quê?
Se utiliza para remédio somente planta da caatinga ou também cultiva outras ervas no quintal.
Como são as plantas retiradas da caatinga para remédio.
( ) nativas ( ) introduzidas ( )cultivada ( )espontânea
Pesquisar:
Se sabe como e porque algumas plantas são cultivadas e quem as cultiva.
Se tem livre acesso ao ambiente onde se encontram as plantas.
Como reconhece as plantas utilizadas como medicinais no meio de outras.
( ) tipo de folha ( ) altura ( ) ramificação ( ) odor ( ) cor ( ) presença de latex
( ) época de floração ( ) tipo de flor ( ) fruto ( ) local de ocorrência
E) INFORMAÇÕES SOBRE COLETA
Levantar:
Se existe uma forma adequada pra se coletar uma planta.
Qual a parte da planta que deve ser coletada.
Existe uma quantidade certa para coletar.
Existe alguma época preferida para a coleta de plantas medicinais.
Existe um estágio de desenvolvimento preferido para coleta da planta.
Qual a melhor hora para a coleta das plantas medicinais.
Como as plantas coletadas são armazenadas.
122
ANEXO 2
INSTRUMENTAL 2
EXEMPLO DE QUESTIONAMENTOS FEITOS NAS ENTREVISTAS
DADOS DO INFORMANTE
Nome:
Idade:
Sexo:
Naturalidade:
Escolaridade:
Ocupação:
Competência cultural/função na comunidade:
Aspecto sócio-cultural
O(a) senhor(a) mora aqui há quanto tempo?
O(a) senhor(a) conhece a caatinga?
Como o(a) senhor(a) aprendeu sobre plantas?
O(a) senhor(a) usa planta quando está doente?
O(a) senhor(a) acha que remédio de planta serve?
O que acontece se uma pessoa usar a planta errada?
O que seus familiares usam para tratar da saúde?
O(a) senhor(a) já ensinou a alguém a usar planta?
Quem faz o remédio de planta?
123
ANEXO 3
TRIAGEM FARMACOLÓGICA COMPORTAMENTAL
Nome da planta:
Veículo:
Data: /
Grupo:___________________________
/
Dose:
Parte usada:
Via de administração:
Instantes de observação
Atividade
farmacológica
0,5h
1h
2h
3h
4h
1- SNC
a) Estimulante
Hiperatividade
Irritabilidade
Agressividade
Tremores
Convulsões
Piloereção
Mov. Int. vibrissas
b) Depressora
Hipnose
Ptose palpebral
Sedação
Anestesia
Ataxia
Refle. Endireita.
Catatonia
Analgesia
Res. Toque Dimi.
Refl. Corne. Dimi.
Refl. Auri. Dimi.
c) Outros
Ambulação
Bocejo excessivo
Auto limpeza
Levantar
Escalar
Vocalizar
Sacudir a cabeça
Contorção abdominal
Abdução posterior
Pedalar
Estereotipia
2- SNA
Tippo de feses
Respiração forçada
Lacrimejamento
Micção
Salivação
Cianose
Tono muscular
Força para agarrar
Quantificação dos efeitos: (0): sem efeito; (-): efeito diminuído; (+): efeito presente; (++): efeito intenso.
124
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Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque Omena