Cumprimento a Sra. Vereadora da Cultura, Prof. Maria José Azevedo Santos, sublinhando a honra que
sinto por se ter associado a esta apresentação.
Agradeço as palavras amáveis do Jorge Castilho, com quem aprendi muito no jornalismo. Não cheguei a
aprender tudo por manifesta falta de tempo…
Um Obrigado muito especial ao Prof. Rui Cádima, pela disponibilidade manifestada para apresentar esta
obra e, acima de tudo, por me ter acompanhado nas tarefas de doutoramento.
Como frisou o Jorge Castilho, o Prof. Rui Cádima foi, em Portugal, o primeiro doutorado no campo do
jornalismo televisivo. Antes do contacto pessoal já o conhecia da obra publicada. E, para além de beber
dos seus ensinamentos, admirava nele o registo escrito sereno, nada catastrofista, pouco apocalíptico, o
que, convenhamos, não é fácil quando falamos, escrevemos e tratamos da televisão, ou do jornalismo
televisivo.
O Prof. Rui Cádima foi o Orientador da tese, a Prof. Isabel Vargues a Co-Orientadora. Para ela também os
meus agradecimentos. É uma amiga de longa data, investigadora de reconhecidos méritos e também uma
amiga dos seus alunos como há poucas.
Um Obrigado muito especial ao Fausto José Correia, amizade cimentada nas salas de aula, obrigado por
todo o apoio dado na impressão dos livros, agradecimento naturalmente extensivo à JOARTES e à VIRIATOS.
Ao Gabinete para Apoio aos Meios de Comunicação Social, organismo estatal a cujo concurso nos
candidatámos com sucesso, em ambos os livros, para a sua publicação.
À editora “Mar da Palavra”, ao Vitalino Santos, incansável na promoção e difusão do livro.
Obrigado ao Eng. José Santos, ao Luís Santos e a todos os colaboradores da Cision. A Cision é uma empresa
de ponta com sede em Coimbra. Por opção, evita a ribalta, o que leva, infelizmente, a que a maior parte
dos conimbricenses desconheçam a jóia que nesta cidade labora. A Cision é, pela natureza do seu objecto
de negócio, um bunker quase impenetrável. Eu consegui descobrir uma fissura na fortaleza, e foi (também)
graças a isso que a tese chegou aos Capelos.
Obrigado ao Luís Pato, pela ilustração da capa, ao Ricardo Almeida pela foto do autor, ao Nuno Beirão pela
produção gráfica.
Agradeço a presença da família, baluarte indispensável nestas tarefas. Obrigado aos Amigos, aos Colegas e
aos Alunos que fizeram questão de marcar presença. Aos que vieram de mais longe, um abraço reforçado.
Este livro é dedicado ao Fausto Correia. Todos gostaríamos que o Faustinho aqui estivesse hoje, connosco.
- // Este é o primeiro dos quatro livros a publicar, obras resultantes do projecto de investigação que culminou
na dissertação de doutoramento “MIMETISMOS E DETERMINAÇÃO DA AGENDA NOTICIOSA TELEVISIVA –
A Agenda-Montra de Outras Agendas”.
Como terão reparado, o livro aqui apresentado sai em simultâneo com outro, “TERCEIRO MUNDO EM
NOTÍCIAS – Em Directo do Inferno”. Isto acontece por imperativos do apoio dado pelo GMCS. Apontamos
a sua apresentação pública para Maio/Junho do corrente ano. Mais dois surgirão, para fechar este ciclo.
“DA MÁQUINA ENFATIZADA À MÁQUINA CONSTRANGIDA – Mal Dita Televisão” será o terceiro. O quarto
terá o título da tese de doutoramento.
Vi, há dias atrás, por sugestão do António Cunha e do Mário Ruivo, a intervenção de Chimamanda Adichie
no TED1. A jovem escritora nigeriana lembrava os seus tempos de criança, quando escrevia contos com
heróis brancos, que comiam maçãs e falavam do tempo. Na Nigéria os heróis eram negros, falar do tempo
para quê e comiam mangas.
Rumou aos Estados Unidos da América para continuar os estudos. A sua colega de quarto, americana, quis
conhecer a “música tribal” ouvida por Chimamanda. A nigeriana lá conseguiu descobrir no fundo do saco
uma cassete da Mariah Carey.
A colega americana arregalou os olhos quando viu Chimamanda utilizar o fogão com desenvoltura. E
manifestou o seu espanto e admiração pelo facto de Chimamanda falar tão bem inglês. É a língua oficial da
Nigéria, mas tudo bem…
Chimamanda passou uns anos nos Estados Unidos e, a certa altura, resolveu visitar o México. Conta que
em Guadalajara deu consigo a estranhar a vida organizada da urbe. Depois de vários anos nos States, ela
que já tinha abandonado os heróis brancos comendo maçãs, conseguiu a custo não se espantar pelo facto
dos mexicanos falarem tão bem espanhol…!
Chimamanda contou-nos tudo isto num manifesto contra a História Única. Quando jovem, a sua história
era única, tinha que meter brancos comendo maçãs e falando do tempo. Para a colega americana, havia
também uma única história sobre a Nigéria ou sobre esse país de seu nome “África”, como aparece por
vezes nos televisores dos aviões da Virgin. Poucos anos nos Estados Unidos foram suficientes para
Chimamanda se distrair e construir uma História Única dos mexicanos – bigodudos, pançudos, assobiando
Cielito Lindo de manhã à manhã seguinte.
Convoquei Chimamanda para esta apresentação porque o livro “A Informação ao Serviço da Estação” se
pode constituir modesto contributo contra a História Única. Não estava nas previsões de ninguém que o
seu lançamento coincidisse com o triângulo infernal que nos tem dominado nos últimos tempos, vértices
de nome Política, Media e Justiça. Na vertigem, os vértices viraram vórtices sugadores implacáveis do
mínimo ético indispensável para uma vida em sociedade. Vistas as coisas da foz do vórtice, cegamos, tanta
a lama expelida e com tamanho frenesim.
Perdoem-me a inconfidência, mas acho que há maus malandros a mais em toda esta estória. E, nela, há
alguns passeando-se prazeirosamente por entre os pingos da chuva ácida. Refiro-me aos media, aos jornais,
à rádio, à televisão.
O livro trata apenas de algumas malfeitorias despejadas pelo jornalismo televisivo. No jornalismo televisivo
há promoções a mais, há silêncios comprometedores, verdadeiros apagões noticiosos, e há desvirtuações
graves merecendo lugar de destaque no pelourinho das falhas deontológicas.
Olhando ao produto acabado, rendo-me à evidência, à clarividência educadamente acintosa do pivot de
telejornais que me dizia, aquando das semanas de observação directa nas redacções televisivas: Esta
pergunta, do seu inquérito, não faz sentido. OK, eu vou responder, mas não faz sentido. Se as notícias estão
muito ou pouco contaminadas pelo infotainment? Em televisão é tudo infotainment, é tudo divertimento,
não há como dar a volta a isso…
Lembrei-me de documentário visto tempos antes, e da frase “Se a televisão existisse na Idade Média, os
bobos leriam as notícias”. Olhei para a capa da The Economist, “here is the news”, o palhaço ao centro…
Olho para o jornalismo de follow up, para as estratégias de enchimento noticioso que hoje cada vez mais
se praticam, todos a citarem todos, com as redaçcões exangues homogeneizando conteúdos. Olho para o
predomínio da agenda, do previsível, enquanto acontecimento preparado e encenado para os media”.
Olho para o jornalismo de auricular, mãos-livres de afiadas garras, ouço falar em jornalismo de investigação,
dou comigo a pensar mas que talento têm estes inspectores da PJ e estes Procuradores do Ministério
Público para o jornalismo de investigação!
Pressinto tropel , muitos, mas mesmo muitos esgadanhando-se pelo Prémio Watergate. Invejoso que sou,
praguejo: Haveis de conquistar é a Taça Kenneth Starr.
Olho para os jornalistas trabalhando em estado de necessidade permanente, e noto os barões dos media
incólumes. Da maior parte deles nem o nome sabemos.
Confronto algumas notícias, e pasmo: Não são notícias, são trechos do enredo da Guerra dos Mundos
Mediáticos…
Tenho para mim que o corporativismo é chaga malsã para a vida em sociedade. E se o constato em relação
aos juízes e aos políticos, também tenho de fustigar o corporativismo mediático. A História Única não
existe. A Verdade Única não mora no cofre-forte dos jornais, das rádios e das televisões. As redacções não
são hoje e nunca foram o Paraíso. Os jornalistas não são anjinhos, não conheço um único que saiba tocar
harpa. E que o fossem, ainda há dias tivémos a prova de que Deus (leia-se John Malkovich), se deixa
corromper por uma máquina de Nespresso...2
Permitam-me que conclua, contando-vos uma estória. No Facebook surgiram vários grupos de apoio a
Mário Crespo. Fui parar a um, intitulado “Grupo de Apoio ao Mário Crespo e aos jornalistas independentes
(há poucos)”.
O grupo, já com mais de cinco mil integrantes, pretendia-se “Por uma Sociedade Aberta e evoluída. A favor
do contraditório, e da crítica livre e responsável. ‘Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto
só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo
que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das
realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade”.
Temos Orwell português, pensei eu cá de mim para comigo. Fui testar. Como a noite ia alta e de muito
breu, levei um amigo.
Vos ler-vos o resultado imediato, a inapelável sentença do nosso banimento. Gabriel Maria, responsável
pelo grupo, pôs-nos na rua a pontapé enquanto decretava: “Aqui não há democracia. A que havia acabou
hoje. Este espaço é meu, e aqui mando eu e aqueles a quem dei competências para tal. Portanto, aos que
não estão de acordo, sugiro que vão pregar para outra Freguesia”. Com base nos poderes que tenho, de
imediato graduei o furriel Gabriel Maria em general. General Gabriel Maria decretou a suspensão da
democracia no Facebook, e por muito mais que seis meses…
É apenas uma estória, a de quem acha que contraditório significa conversa entre pessoas que estão 100%
de acordo umas com as outras, e as outras com as umas...
Só que a História Única medra no cadinho destas pequenas estórias.
Em Portugal parece vivermos há meses em regime de Verdade Única, não sei. Bi-Verdade Única não, não
me perdoarão o oxímoro. Verdade Única com vistas alternativas?, pelos fundos e pelo cabeçalho? Talvez
fique mais aceitável.
Há quem agite o facho da Verdade Única junto às saias da Política para a ver esturricar. Há quem o cole à
venda de Thémis ou Diké, vociferando: “Vais ver como é!”. Há quem o pretenda ver flamejante nas
redacções, incendiando algumas, de preferência à sexta-feira. Acontece que a Verdade Única não existe, e
a mana siamesa História Única não existe também.
Lembrei-me de novo de Chimamanda Ngozi Adichie. Não digam a ninguém, mas eu conheço uma senegalesa
que vibra com David Guetta e um transmontano que ouve Salif Keita…
Muito Obrigado.3
Dinis Manuel Alves
Casa da Cultura, Coimbra, 03.03.2010
1. http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html
2. http://www.metacafe.com/watch/3805428/george_clooney_meet_john_malkovich_nespresso_commerical/
3.Texto disponível em http://www.mediatico.com.pt/dmpa-03-03-2010.pdf
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