85 VARIABILIDADE DA FREQUENCIA CARDIACA E DA PRESSÃO ARTERIAL DE GESTANTES EM DIFERENTES PROFUNDIDADES DE IMERSÃO HEART RATE AND BLOOD PRESSURE VARIABILITY OF PREGNANTS AT DIFFERENT IMMERSION DEPTHS Danilo Sales Bocalini 1 Roberta Lukcevicius Rica Igor Maximiano Putarov Ana Martha A. Limongelli2 1 Universidade Federal de São Paulo 2 Universidade São Judas Tadeu [email protected] (Brasil) Resumo Abstract O objetivo do trabalho foi verificar qual a variabilidade da freqüência cardíaca (FC) e da pressão arterial (PA) de gestantes em diferentes profundidades de imersão. Material e métodos foram utilizadas 15 gestantes e submetidas ao seguinte procedimento: 3 minutos em pé fora da água para a avaliação inicial da FC e da PA, em seguida a gestante era encaminhada para a piscina e sendo posicionada nos pontos anatômicos do quadril, abdômen, processo xifóide e ombros com pausa de três minutos em cada posição para aferição da FC e da PA. Resultados: foram encontradas diferenças na FC, PA diastólica, PA media a partir do processo xifóide, já para a PA sistólica a diferença foi identificada a partir do abdômen. Conclusão: os resultados obtidos no presente estudo mostram diminuição da FC e da PA em diferentes pontos de imersão aquática comparada ao ambiente terrestre, podendo assim fazer inferências adequadas para a pratica e prescrição de atividade física nesta população. The aim of this research was to assess the variability of the heart rate (HR) and of the blood pressure (BP) of pregnant at different depths immersion. Material and methods: were used 15 pregnant and submitted to the following procedure: 3 minutes in standing position to the initial evaluation of HR and BP, soon afterwards the pregnant woman was directed for the swimming pool and being positioned in the anatomical points of the hip, abdomen, xiphoid and shoulders with pause of three minutes in each position to verify the HR and BP. Results: were found differences in HR, diastolic BP and mean BP starting from the xiphoid, however, to systolic BP starting from the abdomen. Conclusion: the results obtained in the present study show decrease of HR and BP at different points of aquatic immersion compared to the terrestrial atmosphere. These results could make appropriate inference for practices and prescription of physical activity in this population. Palavras Chaves: gravidez, freqüência cardíaca e pressão arterial. Keywords: pregnancy, heart rate and blood pressure. Recebido em: 10/05/2007 Revisado em: 06/09/2007 Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 3, p. 85-91, set. 2007. 86 INTRODUÇÃO Exercícios na água têm sido bastante procurados devido aos benefícios terapêuticos atribuídos a sua pratica (TAKESHIMA et al 1997) sendo também útil em condições de desabilidade ortopédicas (ROBERT et al. 1983). São também potencialmente viáveis para melhorar a aptidão cardiovascular, pois a água é 700 vezes mais densa que o ar (MOENING et al., 1993), aumentando assim o gasto energético e reduzindo possíveis lesões de impacto (COSTILL, 1971). Em especial nas gestantes, a influência que a prática regular de exercícios realizados no meio líquido pode provocar na pressão hidrostática e nos aspectos circulatórios é considerada uma vantagem. Esse fato, acompanhado pela diminuição do peso hidrostático em imersão provocando maior flutuação, possibilita as gestantes continuarem a se exercitar ate os últimos dias de gestação (KATZ et al, 1990; KATZ et al., 1988). Durante a gestação ocorrem mudanças metabólicas e respiratórias expressivas no repouso garantindo uma adequada vascularização ao feto (LUMBERS, 2002). O controle da PA é de fundamental importância para a gestante devido à associação morbidade e mortalidade materno-fetal (MAGEE et al, 1999, REZENDE, 1998). O comportamento da freqüência cardíaca (FC) bem como da pressão arterial (PA) vem sendo estudada em diferentes profundidades referentes a gênero (KRUEL et al, 2002), faixa etária (KRUEL et al, 2002) e temperatura de água (CRAIG et al, 1966). Entretanto, a literatura é escassa em abordar o comportamento da FC e da PA em gestantes imersas (KENTY et al, 1999; McURRAY et al, 1988). Portanto, o objetivo deste trabalho foi verificar a variabilidade da FC e da PA em grávidas imersas em diferentes pontos anatômicos. MATERIAL E MÉTODOS Foram selecionadas 20 gestantes praticantes regulares de hidroginástica com idade media de 32 ± 2,4 anos e media de idade gestacional de 25 ± 4,5 semanas. De acordo com a resolução 196/96 do conselho Nacional de Saúde só foram admitidas ao estudo as participantes que deram o seu consentimento por escrito. Foi usado como critério de inclusão a idade gestacional superior a 15 semanas, sendo definida pela ultima menstruação. Como critério de exclusão a presença de uso de medicamento. Protocolo de avaliação e coleta dos dados Altura: foi mesurada utilizando um estadiômetro da marca Cardiomed, modelo WCS com precisão de 115/220 cm. A medida foi realizada com o cursor em angulo de 90° em relação à escala, sendo a estatura avaliada com o indivíduo sendo colocado na posição ortostática com os pés unidos, procurando pôr em contato com o instrumento de medida as superfícies posteriores do calcanhar, região occipital e cinturas pélvica e escapular. As avaliadas foram instruídas a ficar em apnéia inspiratória e com cabeça orientada paralela ao solo. Circunferência abdominal e altura uterina: a circunferência abdominal foi medida em posição ortostática e a altura uterina na posição de decúbito dorsal, para ambas as medidas foram utilizadas fitas métricas de precisão de 1 mm. Massa corporal: foi utilizada balança de marca Filizola, modelo Personal Line 150, com resolução de 100g e capacidade máxima de 150 kg e mínima de 2,5kg, com freqüência de 50/60 hz. O indivíduo avaliado foi colocado em pé de frente para a escala da balança com Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 3, p. 85-91, set. 2007. 87 afastamento lateral dos pés ereto e com o olhar fixo à frente. O índice de massa corporal foi calculado pela equação: IMC= kg/m2. Freqüência cardíaca e pressão arterial: para mensurar a freqüência cardíaca foram utilizados freqüencímetros da marca Polar (modelos Polar Sport Training e Polar S810), sendo a FC foi registrada em intervalos 15 segundos e analisada em médias de um minuto. Já para a pressão arterial (PA) foram utilizados esfigmomanômetros convencionais sendo realizadas três medidas. Para a coleta dos dados em imersão, inicialmente foram demarcados os pontos anatômicos quadril, abdômen (cicatriz umbilical), processo xifóide e ombros em cada gestante avaliada. Em seguida, a gestante deslocava-se para a piscina e se posicionava em pé por três minutos para a avaliação da FC e da PA. A seguir foi realizada a imersão na água (temperatura de 31º C) nas diferentes profundidades demarcadas pelos pontos anatômicos e realizada as medidas da FC e da PA após dois minutos na posição. Análise estatística Os dados são apresentados sob a forma de médias ± erro padrão. Para efeito das comparações foi utilizado a two-way ANOVA com post hoc de Tukey com auxílio do software estatístico GraphPad Prism 4.0 (GraphPad Softwares Inc., San Diego, CA, USA) com nível de significância estabelecido para as análises de p < 0,05. RESULTADOS É possível observar a caracterização da amostra na tabela 1. Foi encontrada diferença estatística entre a posição inicial (94 ± 8,2 bpm) e as posições do processo xifóide (77 ± 5,6 bpm) e ombros (76 ± 7,8 bpm) que não diferiram entre si. Nas demais posições quadril (87 ± 5,6 bpm) abdômen (85 ± 8,5 bpm) não foram encontradas diferenças (figura 1). Tabela 1. Caracterização da amostra. Peso corpóreo (kg) IMC (kg/cm2) Circunferência abdominal (cm) 68 ± 7,5 25,6 ± 4,5 92 ± 7,1 Dados expressos em media ± epm. Figura 1. Valores médios ± desvio padrão da freqüência cardíaca (FC) na submersão dos diferentes pontos anatômicos, inicial (INIC), quadril (QUA), Abdômen (ABD), processo xifóide (PX) e ombros (OMB). Letras minúsculas iguais indicam médias sem diferenças estatisticamente significantes (p ³ 0,05). Letras minúsculas diferentes indicam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). A figura 2 apresenta os resultados da PA. A pressão arterial sistólica (PAS) na posição inicial (110 ± 3,4 mmHg) não diferiu do quadril (105 ± 5,6 mmHg) e foi maior nas posições Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 3, p. 85-91, set. 2007. 88 abdominal (98 ± 6,7 mmHg), processo xifóide (94 ± 7,1 mmHg) e ombros (92 ± 6,7 mmHg) que não diferiram ente si (figura 2A). Já para as pressões diastólicas (PAD) nas diferentes profundidades, só foram encontradas diferenças entre a posição inicial (79 ± 8 mmHg) e as posições do processo xifóide (63 ± 5,6 mmHg) e ombros (62 ± 7,8 mmHg) que não diferiram entre si. Nas demais posições quadril (74 ± 5,6 mmHg) abdômen (72± 8,5 mmHg) não foram encontradas diferenças. Figura 2. Valores médios ± desvio padrão dos dados relativos à pressão arterial na submersão dos diferentes pontos anatômicos, inicial (INIC), quadril (QUA), Abdômen (ABD), processo xifóide (PX) e ombros (OMB). Painel A: pressão arterial sistólica (PAS). Painel B: pressão arterial diastólica (PAD). Letras minúsculas iguais indicam médias sem diferenças estatisticamente significantes (p ³ 0,05). Letras minúsculas diferentes indicam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). Na figura 3 é possível observar o comportamento da pressão arterial media (PAM) na posição inicial (89 ± 3,6 mmHg) foi maior que nas posições do processo xifóide (73 ± 5,6 mmHg) e ombros (72 ± 7,6 mmHg) que não diferiram das demais posições quadril (84 ± 6,6 mmHg) abdômen (80± 8,5 mmHg). Figura 3. Valores médios ± desvio padrão da pressão arterial media (PAM) na submersão dos diferentes pontos anatômicos, inicial (INIC), quadril (QUA), Abdômen (ABD), processo xifóide (PX) e ombros (OMB). Letras minúsculas iguais indicam médias sem diferenças estatisticamente significantes (p ³ 0,05). Letras minúsculas diferentes indicam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). DISCUSSÃO Estudos (KENTY et al, 1999; KATZ et al, 1988; McURRAY et al, 1988) variando entre a 15ª a 35ª semana encontraram diminuição de aproximadamente de 8 a 17 batimentos por minutos em temperatura de 30ºC a 31,5ºC variando nos pontos da axila (KENTY et al, 1999) e do processo xifóide e dos ombros (KATZ et al, 1988; McURRAY et al, 1988). Em nosso estudo encontramos diminuição de 17 batimentos na região do PX e 19 batimentos na região dos ombros em temperatura de 31ºC. Dados semelhantes ao nosso foram Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 3, p. 85-91, set. 2007. 89 encontrados por (KRUEL et al, 2002) em diferentes profundidades de indivíduos de ambos os sexos. Fica claro com os nossos resultados bem como os de outras pesquisas que a FC tende a reduzir conforme aumenta a profundidade de imersão. Estima-se que durante a imersão ocorra aumento do volume sanguíneo na região central de aproximadamente 700 ml, sendo que um quarto desse volume se concentra na câmara cardíaca aumentando cerca de 180 a 247 ml de sangue (ARBORELIUS et al, 1972), gerando aumento da pré-carga (CHRISTIE et al, 1990). A ação da pressão hidrostática (WATENPAUGH et al, 2000) e da termodinâmica (CRAIG et al, 1966) são as prováveis responsáveis pela redistribuição sanguínea, resultando em um aumento do retorno venoso e do volume sanguíneo central (CHRISTIE et al, 1990). Diferentes estudos com não gestantes, quando analisado na região do quadril tal efeito pode ter sido atenuado, devido ao fato da regulação do tônus vascular e da resistência vascular periférica ter seu papel potencializado na gravidez (CARBILLON et al, 2000) e pelo aumento do fluxo uterino. Estudos com gestantes e não gestantes têm evidenciado aumento (SRÁMEK et al, 2000; WATENPAUGH et al, 2000), redução (ASAI et al, 1994; CRAIG et al, 1966) e nenhuma alteração (WATENPAUGH et al, 2000; KENTY et al, 1999; CRAIG et al, 1966) nos valores da PAS, PAD e da PAM imersas em diferentes profundidades, variando de acordo com a temperatura da água bem como o tempo de permanência em imersão. Em relação à PAM estudos mostraram redução de 10 mmHg (KATZ et al, 1988) a 18 mmHg (KATZ et al, 1990) na região dos ombros em temperatura de 30ºC e em 34ºC (AIRES et al, 2001). Diferente dos demais estudos, em nosso trabalho encontramos redução de 16 mmHg a partir do processo xifóide. Hipóteses foram estabelecidas para poderem explicar a redução da PA. Estudos (ASAI et al, 1994) sugerem que a diminuição da renina plasmática e aumento da concentração de peptídeo natriurético atrial pode ser o responsável pela diminuição, outros (SRÁMEK et al, 2000) sugerem que a imersão em temperatura termoneutra pode estimular barorreceptores, já em água fria estimularia termorreceptores. Dessa forma diferentes mecanismos reguladores podem estimular a resposta e assim diminuir ou aumentar a PA. CONCLUSÂO Os resultados obtidos no presente estudo mostram diminuição significativa da FC e da PA a partir dos pontos processo xifóide e ombros na imersão aquática comparada ao ambiente terrestre, podendo assim contribuir para fundamentar a reflexão sobre a necessidade da adequação e prescrição das atividades aquáticas para esta população. Referências Bibliográficas AIRES, C. E.; MUAD-FILHO, F.; FERREIRA, A. C.; GOMES, U. A.; PINHEIRO-FILHO, L. S. 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Doutorando em Ciências pela Disciplina de Clinica Medica do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. Roberta Lukcevicius Rica – Graduada em Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santo André (2003). Especialização em Personal Trainer pela FMU (2006). Professora da Academia Planet Sport. Igor Maximiano Putarov - Graduado em Educação Física pela Universidade do Grande ABC (2002). Professor da Academia Planet Sport. Ana Martha A. Limongelli - Licenciada em Educação Física pela UNISA (1985). Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP (1998). Doutora em Educação pela PUC-SP (2006). Docente do Curso de Educação Física da Universidade São Judas Tadeu. Endereço: Danilo Sales Bocalini Rua General Chagas Santos 392 Cep: 04146-050 – Saúde – SP – São Paulo E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 3, p. 85-91, set. 2007.