ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 RESERVATÓRIO DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA: PRINCIPAIS ASPECTOS HIDRÁULICOS RELACIONADOS COM A SAÍDA DE ÁGUA Milton Tomoyuki Tsutiya(1) Coordenador de Pesquisa da Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da SABESP. Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP, 1975. Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, 1983. Doutor em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, 1989. Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP. Endereço(1): Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SABESP - Rua Costa Carvalho, 300 - Pinheiros - São Paulo - SP - CEP: 05488-090 - Brasil - Tel: (011) 3030-4265 - Fax: (011) 813-8911 - e-mail: [email protected]. RESUMO A saída de água dos reservatórios de distribuição deve ser bem projetado, pois é nela que acontece os principais fenômenos hidráulicos relacionados com a formação de vórtices. A geração de vórtices e os métodos para o controle de vórtices, são apresentados com base em uma ampla pesquisa bibliográfica. As pesquisas de vórtices nas saídas de água dos reservatórios foram realizadas em reservatórios sem poço de rebaixo e com poço de rebaixo, onde são apresentadas as características, operação do modelo, e os resultados dos ensaios. Também, são apresentados, os dispositivos mais adequados para a diminuição ou eliminação dos vórtices que se formam na saída dos reservatórios. PALAVRAS -CHAVE: Reservatório de Distribuição de Água, Vórtices em Reservatório, Hidráulica de Reservatório. INTRODUÇÃO O reservatório de distribuição de água constitui em elemento do sistema de abastecimento de água destinado a regularizar as variações entre as vazões de adução e de distribuição e condicionar as pressões na rede de distribuição. A saída de água embora seja apenas uma parte do reservatório, é um dos componentes de maior importância, pois é nela que acontece os fenômenos hidráulicos referentes a formação de vórtices. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1096 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 A entrada de ar através de vórtices poderá acarretar no sistema de abastecimento de água os seguintes problemas: ? diminuição da vazão nas adutoras; ? redução da capacidade de armazenamento do reservatório; ? diminuição da eficiência e vazão da bomba; ? vibração e cavitação na bomba. O procedimento tradicional para evitar a formação de vórtices, consiste em se considerar uma submergência mínima na saída de água do reservatório. Entretanto, há uma grande divergência entre os diversos autores com relação aos valores a serem adotados, pois apesar de várias pesquisas a respeito de vórtices, ainda não é um asssunto completamente esclarecido, dada a natureza complexa do fenômeno. OBJETIVOS São apresentados, inicialmente, o resultado de uma ampla pesquisa bibliográfica referente aos aspectos hidráulicos relacionados com a saída de água dos reservatórios de distribuição, tais como: ? geração de vórtices; ? métodos para o controle de vórtices. Em seguida, são apresentados os objetivos principais do presente trabalho, que se refere a pesquisa em laboratório de hidráulica, com a utilização de modelos físicos reduzidos, de reservatórios circulares selecionados pela SABESP, com problemas de vórtices. METODOLOGIA E RESULTADOS DAS PESQUISAS Geração de Vórtices O primeiro estudo que proporcionou um método gráfico para a verificação de vórtice numa tomada de água, foi publicado por Denny e Young (1957). Segundo esses autores, a formação de vórtice deve-se à presença de escoamento rotacional na massa líquida. Existem várias causas que influem no aparecimento do movimento de rotação no escoamento, destacando-se entre elas, a assimetria ou pré-rotação do fluxo (figura 1.a) e a mudança do escoamento, imediatamente a montante da sucção (figura 1.b) 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1097 II - 012 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 1: Movimento de rotação do fluxo devido a assimetria (a) e mudança de direção (b). (b) (a) Durgin e Hecker (1978) definem três tipos fundamentais de fontes de vorticidade, conforme apresentado na figura 2. Figura 2: Fontes de vorticidade: desvio do fluxo (a), gradiente de velocidade (b) e obstrução (c). (a) (b) (c) Em grandes áreas com pequena movimentação de água poderá haver instabilidade no fluxo para a sucção e aumento na probabilidade de entrada de ar pela formação de vórtice ( figura 3 ). Figura 3: Formação de vórtice em área morta. ZONA MORTA Vários outros exemplos de formação de vórtices são apresentados por Knauss (1983), Prosser (1980), Anwar (1968) e Chang (1949). 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1098 II - 012 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Métodos para o Controle de Vórtices Para o controle de vórtice nos reservatórios, devem ser considerados dois tipos de saída de água: ? sem poço de rebaixo; ? com poço de rebaixo. O controle de vórtice, geralmente é feito através de dois métodos: ? submergência adequada; ? instalação de dispositivo supressores de vórtices. Submergência na Saída dos Reservatórios A escolha da submergência mínima (figura 4) é de fundamental importância, pois influi nos custos de construção dos reservatórios, devido a necessidade do aumento do volume de reservação. Às vezes, o nível mínimo é definido por outras condições, tais como, o NPSH requerido pela bomba. Figura 4: Submergência Mínima. N.A. min N.A. min S d S D d D Como a submergência mínima também depende das condições de aproximação do fluxo e outras fontes de vorticidade existentes, o valor a ser adotado no projeto deverá ser bem estudado. Algumas recomendações de submergência mínimas são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1: Recomendações para a Submergência Mínima. AUTOR Prosser Hitachi NB-590/90 Gordon Paterson e Noble SUBMERGÊNCIA MÍNIMA ( S ) S>1,5D S>1,5d com S? 0,5 m S>1,5d com S? 0,5 m S? CgVd1/2 com Cg=0,543 a 0,324 S/D? a +bF a=1 a 1,5 b=2 a 2,5 d=diâmetro da tubulação de sucção, m; D=diâmetro da entrada em forma de sino, m/s; V=velocidade na tubulação de sucção, m/s; 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1099 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 F=número de Froude 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1100 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 Supressores de Vórtices Denny e Young (1957) apresentam exemplos de placa e parede para eliminação de vórtices (figura 5). A obstrução da rotação livre do líquido com a colocação de placa ou parede, diminui consideravelmente a velocidade do vórtice e, mesmo que seja formado, a peça evita a entrada de ar no núcleo do vórtice e na tubulação de saída do reservatório. Figura 5: Utilização de placas e paredes para prevenir o vórtice superficial. FLUTUANTE Outros autores, tais como, Knauss(1987), Padmanabhan (1982), Pennino e Larsen (1982) e Hydraulic Institute Standards (1983) apresentam diversas alternativas de dispositivo para a supressão de vórtices. Pesquisas em Modelos Físicos das Saídas dos Reservatórios As pesquisas de vórtices nas saídas de água dos reservatórios, foram realizadas na Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica, para os tipos de reservatórios circulares com maiores problemas de vórtices, selecionados pelas áreas operacionais da SABESP. Os reservatórios foram divididos em dois tipos, quanto a saída de água: ? reservatório sem poço de rebaixo; ? reservatório com poço de rebaixo. Reservatório sem Poço de Rebaixo Características do Modelo O modelo reduzido foi construído em um tanque circular metálico com 3,8 metros de diâmetro, e cujo sistema hidráulico de alimentação consiste em uma tubulação ligada a um reservatório de nível constante, provida de medidor de vazão, tipo placa de orifício, que fornece o valor da 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1101 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 vazão com uma incerteza de ?1% do valor da vazão, na faixa prevista de operação do modelo, admitida entre 1 a 4 litros por segundo. A saída da água do modelo, será feita por um sistema adaptável à reprodução das diversas alternativas a serem estudadas, e estará provido de um registro de controle da perda de carga na saída, permitindo o controle de nível de submergência da saída. Operação do Modelo Todos os ensaios foram realizados com o modelo operando em regime permanente, ou seja, a vazão de entrada igual a vazão de saída e a lâmina de água constante. Foram selecionados vários níveis da linha de água, para cada alternativa, visando a caracterização completa das situações estudadas, utilizando-se a vazão denominada vazão máxima possível, calculada em relação ao volume do reservatório. A vazão máxima possível corresponde a 1,5 vezes a vazão média diária. Após a estabilização do nível de água no modelo caracterizando o regime permanente, procedeu-se a uma análise de vorticidade presente junto a saída. Nos casos em que esta vorticidade era perceptível, foi realizada uma caracterização da intensidade desta vorticidade através da classificação contínua segundo a escala Durgin e Hecker (1978), conforme apresentado na figura 6, permitindo a construção de tabelas de permanência dos vários tipos de vórtices detectados. Figura 6: Classificação dos vórtices quanto a intensidade. TIPO 4 - Arraste de Pequenas Particulas Flutuantes TIPO 1 - Rotação Superficial TIPO 2 - Depressão Superficial TIPO 5 - Arraste de Bolhas de Ar TIPO 3 - Nucleo Visivel com Auxilio de Corante TIPO 6 - Nucleo de Ar Completamente Desenvolvido Resultados dos Ensaios A saída de água dos reservatórios sem poço de rebaixo, constitue em uma situação em que é certa a formação de vórtices, sendo de intensidades altas para os níveis mais baixos, necessitando, portanto, de dispositivo anti-vórtice. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1102 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 O dispositivo recomendado nesta pesquisa é constituído de quatro chapas verticais, formando uma cruz em planta (figura 7), que mostrou ter uma boa eficiência na redução dos vórtices, até níveis relativamente baixos. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1103 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 Figura 7: Dispositivo para eliminação de vórtices para reservatório sem poço de rebaixo. PLANTA VISTA LATERAL Reservatório com Poço de Rebaixo Características do Modelo O diâmetro do reservatório, as dimensões do poço de rebaixo, o diâmetro do tubo de saída e a vazão de saída do protótipo têm valores variáveis, em função da capacidade do reservatório. Foram ensaiadas quatro alternativas com o objetivo de avaliar o efeito do poço de rebaixo quanto a vorticidade e, em função de seu desempenho, introduzir modificações visando a otimização de sua geometria. Os ensaios foram realizados para a vazão máxima possível. A vazão de ensaio foi imposta para diversas profundidades da água no reservatório, o que foi conseguido através da manobra de um registro instalado na tubulação de saída. Dessa forma, a vorticidade foi verificada para diferentes submergências da tomada de água, simulando-se as condições com e sem alimentação do reservatório, sendo utilizada na avaliação das intensidades dos vórtices, a classificação de Durgin e Hecker, já citado anteriormente. Operação do Modelo Os ensaios efetuados no modelo simularam duas condições distintas de operação do reservatório no protótipo, ou seja, com e sem alimentação do reservatório. Para a condição com alimentação, a mesma foi imposta através de entrada superior, com jato sendo lançado livremente no interior do reservatório. Neste caso, o regime permanente foi garantido através da imposição de determinada abertura no registro instalado na tubulação de saída. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1104 II - 012 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Para simular no modelo a condição sem alimentação, a entrada de água do reservatório foi efetuada de modo a não provocar perturbações no interior do mesmo, o que foi conseguido através da instalação de tubulação, com saída junto ao fundo do reservatório, provida de um filtro tranquilizador. Resultados dos Ensaios Durante a campanha de ensaios, para a condição de reservatório com poço de rebaixo, foi observada a ocorrência de vórtice de eixo horizontal no interior do poço. Este vórtice, cuja origem está nas correntes de recirculação que se estabelece no reservatório, devido à incidência do jato da alimentação sobre a superfície livre da água, ocorre apenas para pequenas profundidades de água. A figura 8 mostra uma situação em que o jato incidente induz à formação das correntes de recirculação SAÍDA Figura 8: Correntes de recirculação no reservatório. POÇO ALIMENTAÇÃO As correntes de recirculação sobre o poço de rebaixo, compõem-se com as correntes do fluxo convergente direcionado para o tubo de saída, resultando num escoamento helicoidal, cujo eixo se prolonga desde a parede vertical oposta à tomada de água até o interior do tubo de saída (figura 9). A intensidade do fenômeno é elevada, a tal ponto que o ar dissolvido na água se aglutina ao longo do eixo do vórtice , formando um filete visível no modelo. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1105 II - 012 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 9: Formação do vórtice de eixo horizontal. FUNDO DO RESERVATÓRIO POÇO TUBO DE SAÍDA A formação de vórtice de eixo horizontal é eliminada ao se impor a trajetória vertical do jato proveniente da tubulação de alimentação do reservatório. CONCLUSÕES Os vórtices gerados na saída de água do reservatório de distribuição, poderá ocasionar a redução da capacidade de armazenamento do reservatório; diminuir a vazão na adutora; causar vibração, cavitação e diminuir a eficiência e vazão da bomba. Atualmente as pesquisas para determinar a submergência mínima são baseadas em correlações que envolvem o número de Froude. Essas pesquisas, geralmente, tem conduzido a valores de submergência mínima acima de outras recomendações. A saída de água do reservatório sem poço de rebaixo, induz a formação de vórtices intensos, para níveis de submergências pequenos, necessitando sempre de dispositivo anti-vórtices que deve ser instalado na saída de água, junto ao fundo do reservatório. A pesquisa realizada em modelo físico conclui-se que o dispositivo constituído de quatro chapas verticais, formando uma cruz em planta, reduz consideravelmente os vórtices gerados. O estudo efetuado no modelo físico reduzido mostrou que a vorticidade de vórtice de eixo horizontal em reservatório circular com poço de rebaixo é intensa., produzindo os seguintes efeitos: perda de carga na tubulação de saída, tendo em vista o escoamento helicoidal que se prolonga no interior do tubo; redução do coeficiente de vazão da embocadura do tubo de saída, pois a aproximação do fluxo à mesma não se apresenta uniformemente convergente; a ação centrífuga das correntes helicoidais acarreta redução da pressão no eixo do vórtice, o mesmo ocorrendo no interior do tubo de saída. As pesquisas mostraram que em reservatório com poço de rebaixo, o vórtice de eixo horizontal não se forma, quando o jato proveniente do tubo de alimentação, incide sobre a superfície livre da água no reservatório segundo um ângulo de 90 o(jato vertical). A deflexão do jato pode ser imposta através de instalação de um cotovelo de 90 o ou de uma placa defletora na saída do tubo de alimentação. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1106 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 012 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. ANWAR, H. O Prevention of vortices at intakes. Water Power, oct. 1968 CHANG, E. Experimental data on the hydraulic design of intakes and retangular pump sumps. British Hydromechanics Research Association, p. 42, jan. 1949. 3. DENNY, D. F.;YOUNG, G.A J. Na Experimental study of air entraining vortices im pumps sumps. Journal of the Institution of Mechanical Engineer, London,1957. 4. DURGIN, W.W.; HECKER, G.E. The modelling of vortices at intake structures. Joint Symposium on Design and Operation of Fluid Machinery. Fort Collins. Proceedings , 1978. 5. FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE HIDRÁULICA. Estudos de medidas para eliminação de vórtices nos reservatórios de distribuição. 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