Úrsula e A rainha do ignoto:perspectivas discursivas e
ideológicas
Introdução
A este anteprojeto de tese, para o Doutoramento em Literatura Comparada, cabe a
investigação sobre a escrita revolucionária manifesta nos romances Úrsula (1859) e A
rainha do ignoto (1899), cujas autoras são, respectivamente, Maria Firmina dos Reis
(1825-1917) e Emília Freitas (1855-1908).
Com o objetivo de examinar a revolução produzida por aqueles romances, no
âmbito do contexto histórico, do qual fazem parte, será realizada a comparação de seus
discursos com as tendências políticas e ideológicas daquela época, evidenciando a
participação dos oprimidos, cujas manifestações aparecem desarmônicas com o
mandonismo patriarcal e escravocrata, no âmbito da criação literária.
Os discursos das narrativas propõem outras leituras acerca da Literatura Brasileira,
ao que diz respeito aos movimentos estéticos (Romantismo e Realismo/Naturalismo) e à
presença da mulher na produção de bens intelectuais. Os discursos tornaram os livros
indesejáveis para o processo de nacionalização das ideias ufanas de brasilidade. Daí os
livros não aparecerem nos discursos hegemônicos que solidificam a cultura e instauram a
tradição, pela mais-valia dos interesses dominantes (História Literária).
Úrsula e A rainha do ignoto são livros que problematizam a cultura da última
metade do século XIX, por intervirem nos ideais dos indivíduos e criticarem as mazelas
sociais, sua narrativa é documento histórico, manifestação literária e ideológica por
apresentar a movimentação das vozes dos sujeitos discursivos que eram marginalizados
pela regulamentação dos valores políticos e morais. A partir da construção literária de seus
discursos, demonstrar-se-á que as vozes, levadas ao emudecimento pelo poder das classes
dominantes, fizeram com que personagens de ficção e instância de enunciação narrativa
(Narrador) construíssem outras mentalidades, mesmo que Maria Firmina dos Reis e Emília
Freitas, ficassem, com seus romances, desconhecidas por quase todo o século XX.
Definição do objeto de análise
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No Brasil, o romance do século XIX, escrito por mulheres que problematizaram a
relação conflituosa entre literatura e sociedade, torna-se cada vez mais pertinente às
pesquisas que polemizam, utopicamente, com a tradição literária e cultural. O problema
instaurado por elas surge na forma de sopros enunciativos, vindos da História, produzidos
pelo discurso literário inesgotável de significações.
As novidades dos romances Úrsula (1859) e A rainha do ignoto (1899) são
desarmônicas para o contexto histórico em que, respectivamente, foram produzidas por
Maria Firmina dos Reis e Emília Freitas. Os valores políticos e morais das autoras
desdobraram-se em instância de enunciação narrativa, quando elas imprimiram em seus
textos a crítica às injustiças sociais: pois as duas narrativas apresentam ideologias que não
estiveram manifestas no romance brasileiro do século XIX e nem se conciliavam com a
realidade cultural do patriarcado escravocrata. Sua construção ideológica emite ideias, nas
características individuais, coletivas das personagens, na posição delas junto aos
acontecimentos narrativos, e contesta a determinação do mandonismo para a inferioridade
social feminina e escravidão politicoeconômica do negro africano.
O desenvolvimento discursivo do romance Úrsula se realiza a partir da mediação
entre o narrador, as personagens, o contexto elaborado pela própria narrativa e a realidade
cultural; a forma do discurso evidencia a manifestação de vozes oprimidas que elaboram
sua própria concepção de mundo. Essas vozes se materializam na perspectiva das
personagens de descendência africana e na construção de personagens femininas
massacradas pela conjuntura autoritária do poder dominante. O sentido dos discursos
estabelece o confronto com o mandonismo da época, porque, ao dizerem, o negro e a
mulher rompem com as fronteiras do emudecimento e instauram, na literatura brasileira,
suas perspectivas sociais. Desta maneira, o romance Úrsula desestabiliza os valores do
contexto histórico no qual foi escrito e publicado.
A construção narrativa do romance A rainha do ignoto produz o personagem
espectador (Dr. Edmundo) da utopia sociocultural feminista. A criação da comunidade
baseada em práticas fantásticas, que protegem os seres humanos dos condicionamentos
opressivos, confirma, claramente, a posição ideológica de Emília Freitas, em face da
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realidade cultural do momento histórico da escrita e publicação de seu livro. A
caracterização misteriosa da personagem Rainha do Ignoto e suas ações possibilitam a
intervenção fantástica nos modos de exploração das sociedades organizadas e governadas
pelos homens.
No alinhamento do fantástico com a ideologia de contestação ao mandonismo,
existe o confronto entre o materialismo do patriarcado e a utopia feminina, cujas
proporções são levadas ao extremo, devido às ambivalências de sentido propostas pelos
lugares discursivos, em que se formam os enunciados do romance.
Os anseios característicos das personagens dos romances Úrsula e A rainha do
ignoto partem da estrutura dos acontecimentos narrados para intervirem na construção
histórica da realidade. No entanto, a historicidade da cultura brasileira bloqueou as vozes
dos romances, a construção ideológica, o rompimento com os padrões políticos e morais, e,
ainda muito grave, impediu a revelação de novos sujeitos enunciativos, produtores da forma
romance.
Em termos de temporalidade discursiva, o romance de Maria Firmina dos Reis
consiste no passado colonial, cujo ranço se faz “vivo” no imaginário do Brasil Império; o
romance de Emília Freitas, ao contrário, é o próprio presente republicano sendo pensado,
no seu tempo presente da História.
Relevância do tema
A comparação entre os romances Úrsula e A rainha do ignoto propõe a investigação
acerca das proximidades e dos distanciamentos relacionados a seus enredos e urdiduras
discursivas, assim como, dos aspectos ideológicos que conduzem o enunciado de ambas
narrativas, de suas diferenças contestadoras, diante de “sistemas de pensamentos” históricos
e significações literárias, culturais presentes nas autoras, nos livros, na narrativa dos livros e
na receptividade crítica.
A realidade histórica e literária que circunscrevia aqueles livros comparece
desorganizada na forma narrativa, porque a crítica feita pelos romances transcende à
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estrutura formal do discurso, através da enunciação da escrita que busca, para contestar, o
seu referente concreto e imaginado, no âmbito das localidades culturais da segunda metade
do século XIX. O contexto histórico não apenas faz parte dos acontecimentos narrativos,
como também aparece ideologicamente interpretado pelas autoras.
No âmbito da pesquisa acadêmica de nível Doutorado, no Brasil e no exterior, ainda
não se estudaram, de modo comparativo e sistemático, as semelhanças, diferenças da
produção literária das nordestinas Maria Firmina dos Reis e Emília Freitas, segundo a
forma narrativa do enunciado e suas vozes construtoras, como desorganização da cultura
tradicional efetuada por mentalidades revolucionárias; ainda não se determinaram as
relações transgressoras, entre ambas, diante do século XIX, do qual são frutos indigestos;
nem há ainda estudo que confronte as significações das vozes culturais manifestas nos
romances Úrsula e A rainha do ignoto, situando-as nas preocupações artísticas dos
movimentos literários daquele século.
Diante dos “nãos”, tornam-se necessárias comparações de seus discursos e das
interferências deles nos estilos literários, na ideologia do materialismo e no imaginário
sociocultural do século XIX; principalmente, é importante estabelecer os lugares ocupados
por elas e seus produtos literários, no processo histórico do romance brasileiro.
Mesmo não existindo trabalho que pense Maria Firmina dos Reis e Emília Freitas
como escritoras equivalentes e ambivalentes, existem ensaios, artigos, verbetes, mesmo
dissertações e teses, que almejam visibilidade cultural para uma ou outra autora. Fazem-se
emergentes as pesquisas que objetivam os pontos, em que os romances se encontram e se
distanciam na forma de expressão do enunciado, no sentido das ideias construídas e no seu
diálogo com o contexto histórico.
Por exemplo: Maria Firmina dos Reis e Emília Freitas são duas escritoras
nordestinas que viveram e produziram durante a segunda metade do século XIX, seus
romances criticaram os costumes da época, neles aparecem o sentimento abolicionista e a
presença não submissa da mulher; seus livros não foram legitimados pela ação canônica de
historiadores, teóricos e críticos da literatura, até a década de 70 do século XX.
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Considerando os mesmos pontos de encontro, percebe-se que eles divergem por
ocasião da particularidade das narrativas, pois o sentimento abolicionista, em Úrsula, visa à
consciência de liberdade dos indivíduos africanos tornados escravos no Brasil, através da
enunciação cultural produzida pelo discurso do próprio africano escravizado; enquanto, em
A rainha do ignoto, o sentimento abolicionista se conforma com a ideologia liberal da
alforria ou manumissão; tal sentimento se expressa no “lugar de fora”: não é o próprio
africano que produz sua identidade e o seu sentido de liberdade, são personagens e
instância narrativa que observam “no outro” a escravidão e se compadecem.
O caráter social da mulher formado nos enunciados que caracterizam a personagem
feminina, no romance Úrsula, produz a realização literária da ironia em face da
subordinação, em que as mulheres viviam; acontece, assim, a significação pelas digressões
do narrador e pela memória das personagens Luiza B., Preta Suzana e o personagem
Tancredo. Ao contrário, em A rainha do ignoto, a ironia se estabelece de maneira concreta,
direta e não digressiva ou rememorada, pois a personagem feminina e o narrador não
apenas falam, mas também agem, alcançam poder, dominam seu próprio destino,
determinam o discurso alheio (dos homens), estabelecem e desfazem fronteiras, decidindo,
inclusive, a morte da Rainha do ignoto.
Quanto ao que se denomina “resgate de escritoras”, o livro Úrsula mereceu apenas
mais três reedições além daquela executada pela autora em 1859: uma fac-similar, em 1975,
organizada por Horácio de Almeida; outra por ocasião dos cem anos da “abolição da
escravidão” no Brasil, em 1988, organizada por Luiza Lobo; e a quarta edição do livro
aconteceu em 2004, por iniciativa de Eduardo de Assis Duarte. O livro A rainha do ignoto,
publicado por Emília Freitas em 1899, mereceu ainda menos reedições, apenas, pois, em
1980 Otacílio Colares republicou-o, seguido, em 2003, por Constância Lima Duarte. Essa
escassez de republicações evidencia o processo de menos-valia cultural a que foram
condenados os livros, sua narrativa e as autoras.
O tema da escravidão dos negros, as funções das personagens femininas e os
problemas de divulgação e receptividade consistem em elementos relevantes, que se
impõem como problemas literários e culturais à pesquisa em Letras, assim também, o
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desdobramento existente entre a autoria e a instância de enunciação narrativa: de que
maneira os valores políticos, éticos e morais dos indivíduos Maria Firmina dos Reis e
Emília Freitas converte-se em narrador, na forma romance? Quais os sentidos históricos e
literários presentes nas vozes das autoras, das narrativas e dos livros? De que maneira,
Úrsula e A rainha do ignoto avançam para a modernidade? Ou que tipo de pesquisa vem se
desenvolvendo sobre um ou outro romance, atualmente?
O posicionamento das escritoras se concentra na contestação da realidade cultural a
que estavam condicionadas, a fim de produzirem enunciados àqueles, que, em sua maioria,
eram, à época, desprovidos de voz; sem que ficassem, as autoras, estéreis das preocupações
estéticas que predominavam na literária brasileira.
O uso ético e estético que Maria Firmina dos Reis faz do Romantismo dá-se a partir
da tensão dos ideais, de construir a brasilidade, ligados à dinâmica cultural arquitetada na
caracterização de suas personagens. A tensão se realiza na enunciação política mesclada ao
forte sentimentalismo ufano com que os fatos narrados são construídos; o narrador se
sintoniza com os destituídos do poder e condena as vicissitudes do “Estado” escravocrata e
machista.
Os valores culturais expressos pelo romance Úrsula desenvolvem, no plano da
literatura brasileira, a moralidade baseada na caracterização de fundo romântico e
sentimental das personagens que expressam a situação a que os comendadores, fazendeiro e
padres impunham às mulheres e aos negros, através da força ou do poder simbólico de seu
status quo de herdeiros da colonização portuguesa.
O relevante, no romance, é a consciência que rege os enunciados das personagens,
porque, a partir dos discursos de mulheres e negros, surge, na literatura, a interpretação
crítica da História brasileira pelas vozes dos oprimidos. Em linhas gerais, esse é o motivo
da desorganização provocada pelo romance Úrsula ao seu contexto de escrita e publicação.
Sua forma narrativa é um excelente exemplo das tensões existentes entre revolução
sentimental romântica e poder; personagens e ideologias; vozes do romance e discurso
histórico; identidade discursiva e estética literária; e por fim, publicação de livro e exclusão
canônica; sem comentar o mito ancestral da liberdade africana, pois, em Úrsula, o negro
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mimetiza “as africanidades do africano em África”, contrastando-as com a Natureza
brasileira, que assume aspectos de cativeiro.
O Realismo/Naturalismo, em A rainha do Ignoto, começa a se descaracterizar de
suas minúcias de apreensão do real, a partir do uso de lendas e mitos amazônicos, cuja
função, na narrativa, é dar, àquele movimento literário, o conteúdo fantástico de outras
realidades, por exemplo: o hipnotismo e as manifestações míticas do regionalismo, em
personagens pitorescas, tais quais O caçador de Onças e Probo.
O senso de ordem e progresso positivista e seu determinismo condicionador da vida
humana são interpretados de maneira muito original pela criatividade de Emília Freitas,
pois os discursos cientificistas e filosóficos, da época, convivem com a mentalidade da
fantasia, que reorganiza a significação da ciência, da filosofia e da religião, pilares do
positivismo, reinante, no Brasil, ao final do século XIX, ou seja: a objetividade é obrigada a
dividir espaço com o fantástico, o racionalismo se desdobra em acontecimentos delirantes e
a realidade torna-se irreal.
A escrita do fantástico, em A rainha do Ignoto, se revela como a inovação maior
presente no livro, a sua significação, no diálogo do plano narrativo com o contexto
histórico, acontece no engano e no assoalhamento dado ao personagem Dr. Edmundo,
representante máximo dos valores individualistas e intelectuais das duas últimas décadas
daquele século. Esse personagem vislumbra outras realidades que não são a sua, com isto,
parece que a autora quis ensinar, aos leitores/as da época, modos mais igualitários para a
organização do humano na sociedade. Mesmo que haja a hierarquização entre os
indivíduos, o altruísmo, presente na narrativa, revela os fundamentos do positivismo, de
maneira a reorientá-los.
Nesse aspecto, há a contradição entre o dito e o fato, pois: a personagem Funesta ou
Rainha do Ignoto, ou Diana, por mais que almeje a socialização dos direitos e
responsabilidades humanas na Ilha do Nevoeiro, de certa forma, também reproduz o
aspecto mandonista do poder autoritário, em relação às Paladinas, suas serviçais,
mascaradas como personagens bondosas e prestativas, que apenas exercem a práxis,
quando seu líder (a personagem central) permite-lhes.
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Contudo, a contraposição valorativa — entre a Ilha do Nevoeiro (lugar insólito,
onde tudo se harmoniza, mesmo que haja o exercício do poder centralizado) e o vilarejo de
Rio das Pedras (espaço da verossimilhança dos valores históricos das últimas décadas do
século XIX e de conturbado Realismo) — faz com que a narrativa proponha uma outra
percepção da realidade, porque há a reinvenção dos hábitos culturais e das formas de
manipular o poder.
Na utopia matriarcal e no seu exagero da ausência masculina tanto política, quanto
sexual, existem, em A rainha do ignoto, desde o discurso mercantilista do materialismo até
a socialização dos bens materiais; desde a elaboração ideal à ação revolucionária; desde a
sociedade organizada à imersão dela no caos das diferenças sociais; desde o discurso mítico
amazônico aos discursos científicos, religiosos e filosóficos ocidentais. Esses discursos
interpenetram-se na crítica do romance aos valores patriarcais, à formação positivista dos
indivíduos e aos desajustes sociais da nova República, mesclando o fantástico com o
Realismo/Naturalismo, predominante na literatura fin de siécle no Brasil.
Os dois romances propõem novas situações de sentido para a Literatura Brasileira
do século XIX, uma vez que eles pensam e criticam a organização das classes sociais e das
identidades definidas pela cultura, de maneira a proporem a transformação da sociedade.
Não foi pela ignorância do desconhecimento que Maria Firmina dos Reis e Emília Freitas
foram excluídas do cânone historiográfico brasileiro, foi pela perspectiva reacionária, uma
vez que as autoras criticaram a regulamentação da cultura baseada na exploração do
trabalho e na alienação coletiva dos indivíduos, ao produzirem enunciados abertos para a
significação das denúncias às injustiças, sem construírem, simplesmente, o ufanismo
idealizador da brasilidade ou a análise psicológica e social do homem, contextualizado em
centros urbanos.
Úrsula e A rainha do ignoto se configuram originais para as perspectivas estéticas
do Romantismo e Naturalismo/Realismo, pois inovam essas escolas literárias, ao usá-las
como veículo para ideias perturbadoras à época. Enquanto o Romantismo tradicional visa à
construção heróica do índio, Maria Firmina dos Reis constrói a identidade crítica do
africano, em relação ao trabalho e à liberdade; como também ironiza a situação submissa da
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mulher e ridiculariza o comportamento patriarcal. Enquanto o Realismo/Naturalismo exige
a análise profunda dos quadros psicológicos e sociais da realidade brasileira, Emília Freitas
absorve os ideais positivistas e decompõe-nos através da prática comunista; sua intervenção
na realidade histórica se apoia na construção irônica do discurso fantástico, como
interpretação da realidade, não sendo fiel à verossimilhança em si, mas depurando o real
pela fantasia, não pela obcecada apreensão.
Os livros das autoras são manifestações contra o materialismo histórico formador da
cultura e literatura brasileiras, porque sua forma narrativa estabelece outras maneiras de
perceber a sociedade; outros vieses, que, nem no discurso literário do século XIX, nem no
histórico, até a segunda metade do século XX, estavam presentes.
Na condição de mulheres que ultrapassaram a barreira da educação limitada, do
emudecimento imposto e da subserviência aos modelos masculinos, foram revolucionárias
ao lerem a sociedade e produzi-la, ficcionalmente, combatendo o poder hegemônico da
classe dominante: portanto, apenas lhes restaria a marginalização e o preconceito, por parte
da crítica dos historiadores e teóricos aliados à formação tradicional do discurso literário,
presos a moldes de estilos e mantenedores da hegemonia histórica dos grandes autores e
acontecimentos.
Base teórico-metodológica
O ponto de partida, para a entrada teórica nos diálogos abertos pelos livros Úrsula e
A rainha do ignoto, serão os prefácios escritos pelas próprias autoras, pois, ali, elas
demonstram consciência crítica diante do seu posicionamento em uma sociedade, em que
as práticas intelectuais recebem mais-valia, se produzidas pelos homens.
Os prefácios marcam a ideologia da mulher intelectualizada do século XIX, porque
definem, de certa maneira, a saída dela do espaço doméstico para o espaço público da
consciência ideológica produzida na prática da literatura. Nesta perspectiva, o romance,
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para as escritoras, passou a ser não mais a receita de ocupação do tempo ocioso, a leitura
deixou de ser a contenção no espaço privado e o romance ganhou a forma e o sentido da
rebeldia, da atitude contestatória e da intervenção da mulher na sociedade, os prefácios
significam, portanto, a introdução utópica concretizada na intervenção ideológica da forma
narrativa.
Com o intuito de identificar a realidade cultural, em que as autoras estavam
inseridas, estudar-se-ão as pesquisas de Heleieth Iara Bongiovani Saffioti e Maria Lúcia
Rocha-Coutinho, respectivamente, A mulher na sociedade de classes: mito e realidade
(1976) e Tecendo por trás dos panos: a mulher brasileira nas relações familiares (1994),
que demonstraram, diferentemente dos discursos hegemônicos, pequenas e grandes
intervenções efetuadas pelo feminino dentro do condicionamento patriarcal da cultura
brasileira.
Ajudar-nos-á o estudo Da monarquia à república: momentos decisivos (2007), de
Emília Viotti da Costa, porque, no capítulo “Patriarcalismo e patronagem: mitos sobre a
mulher no século XIX” há a reflexão acerca dos mecanismos historiográficos que
determinaram a desvalorização da mulher e a consolidação das formas representativas dos
modelos dominantes.
A historiografia manteve excluída a produção da mulher e, de certa maneira,
contribuiu para que romances como Úrsula e A rainha do ignoto ficassem marginalizados,
pois eles são manifestações críticas produzidas por ficcionistas, que, por serem mulheres,
transgrediam às imagens “culturais femininas” mantidas pelo patriarcado.
Mikhail Bakhitin (2008), ao examinar a movimentação polifônica do romance de
Dostoiéviski, desenvolveu o procedimento de análise da forma narrativa, baseado nas vozes
expressas pelo narrador, por personagens e heróis, demonstrando as possibilidades dos
pontos de vista, suas funções e aspectos, junto às significações produzidas pelo autor e
continuadas pelos leitores. Percebe-se, no método elaborado por Bakhtin, fértil aparato
teórico para a compreensão das vozes manifestas nos romances de Maria Firmina dos Reis
e Emília Freitas. Pode-se desenvolver a polifonia específica na estrutura daquelas
narrativas, através do material e dos procedimentos originais que as autoras inventaram em
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relação à época de suas escritas e publicações, ao que diz respeito às ideologias manifestas
por diversas perspectivas presentes nos romances, então, demonstrar-se-á, os
desdobramentos da manifestação narrativa da monofonia histórica em polifonia literária, a
partir das concepções de História e Literatura, que envolvem os romances.
O dialogismo, presente na consciência das personagens, não se fecha no enredo de
Úrsula e de A rainha do ignoto, mas se abre, ideologicamente, para a representação que a
estrutura narrativa faz da realidade dos discursos culturais da História brasileira, porque o
diálogo dos elementos narrativos é baseado na contestação presente no enredo, na trama
discursiva, nos caracteres espaciais, nas características culturais dos personagens e,
principalmente, na significação de todos esses elementos com a condição de menos-valia
das autoras.
Cada passagem, cada gesto, ou todo o movimento discursivo se expande para fora
do texto, mantendo-o, entretanto, coeso em sua integridade formal. Sob esse ângulo, o
aspecto dialógico e polifônico são fundamentais, porque muitas identidades se chocam na
caracterização das vozes expressas pelas personagens, que se convertem em tipos
individuais e coletivos, possuidores de ideologias diversas, que se comportam de modo
diferente e pensam de maneira ainda mais diferente, gerando várias significações para a
literatura e para a cultura brasileiras.
Outro problema pensado por Bakhtin (2003), muito importante para o entendimento
das relações das autoras com suas narrativas, consiste na “substituição do contexto
axiológico do autor pelo contexto literário do material”, pois, esta ideia não permite que a
narrativa daqueles romances seja apenas a forma panfletária da contestação, sem um
mínimo de atitude artística, pois as escritoras trabalham a vida através da expressão estética
e os seus estilos determinam a sua relação com mundo, elas superam as formas literárias
para introduzirem perspectivas de sistemas de valores, tanto no universo literário quanto no
social.
O conceito de “a missão revolucionária do escritor e do pensador” (Marx:1979)
torna as narrativas em espécies perturbadoras da forma romance, no âmbito da Literatura
Brasileira produzida no século XIX, pois, inegavelmente, suas tramas discursivas elaboram
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a transformação do mundo, das relações entre o humano e as leis culturais que se
cristalizam durante o correr do processo histórico. As vozes das personagens, seus
contextos narrativos pensam e agem, conforme a ideologia de transformar os bens materiais
e espirituais da cultura em produtos que não estejam restritos apenas aos donos dos meios
de produção, internamente, o discurso cria o universo da possibilidade crítica, propondo a
modificação das estruturas sociais.
Na axiologia dos textos, os valores carregados pelas personagens e narrador são
diferentes dos ideais dos poderosos que se verificam na realidade histórica e na literatura, a
tradição estética e temática dissolve-se no ar de sua própria exclusividade. Maria Firmina
dos Reis e Emília Freitas não solidificaram a Literatura e a História, ao contrário, iniciaram
a participação da mulher como sujeito, no âmbito da prática literária, indicaram outros
rumos de interpretação para o “pensamento brasileiro”, acerca da produção de capital, das
explorações culturais, do desenvolvimento intelectual das camadas da sociedade tidas como
improdutivas intelectualmente e transformaram o emudecimento em discurso contra a
hegemonia do “capitalismo discursivo patriarcal”. As autoras não continuaram a tradição
estética romântica e realista/naturalista, mas impuseram perspectivas rebeldes à História
econômica da formação brasileira, através da criação literária da forma romance.
Este parece ser o movimento mais importante que as narrativas fazem tanto no
plano da literatura, quanto no da cultura: uma espécie de dialética axiológica, fundamentada
no diálogo de contestação, que surge de vozes representativas de indivíduos, na matéria
literária de extração sociocultural, através das deformações das classes dominantes
dialetizadas pelos oprimidos, sugerindo, desta maneira, a reclamação dos historicamente
perdedores e o desmascaremento daqueles que herdaram o poder político, econômico e
cultural dos colonizadores portugueses, e, mais tarde, do liberalismo inglês e positivismo
francês.
Para o desenvolvimento das imbricações entre autoras obra e leitor, recorrer-se-á à
teoria de Antonio Candido (1959) acerca do sistema literário, pois, nessa tríade sociológica
torna-se possível perceber as relações entre o autor, como produtor; a obra como produto
cultural e leitor na condição de consumidor de livros.
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Tendo em vista a ausência, quase que completa de leitores e leitoras do romance
produzido por mulher nos anos dos mil e oitocentos, julga-se pertinente se preocupar em
reconstruir a crítica feita sobre as autoras, nas últimas décadas do século XX até os dias
atuais (tempo em que aparece a receptividade crítica dos romances), a fim de verificar quais
tipos de discurso surgiram a partir daquelas narrativas e determinar se tendem a seguir as
ideologias narradas, ou se há puramente a crítica esteticista; ou se situam os romances no
século XIX e a partir daí vão traçando os elementos de modernidade e pós-modernidade
presentes em Úrsula e A rainha do ignoto; ou se os romances foram apenas objetos de
conveniência acadêmica, cujo modismo se cristalizou na falsa premissa de “resgatar
escritoras”, ao invés de pensar os problemas sociais e artísticos impostos pelas autoras,
pelas narrativas e pelos livros, ao público leitor.
Conheçam-se, porém, as divergências entre Bakhtin e Lukács (2000) sobre suas
ideias acerca do romance tal qual gênero literário — para o primeiro, o romance existe
desde a mais remota antiguidade; para o segundo, o romance é um tipo de narrativa que
expressa a ascensão da burguesia e o processo de afirmação do capitalismo, por isto, um
gênero novo — mesmo assim, usar-se-á o conceito de herói problemático do crítico
húngaro, a fim de compreender melhor o posicionamento das personagens inseridas em um
mundo sem Deus, onde somente suas próprias atitudes podem salvá-las, uma vez que as
personagens vivenciam suas experiências, a partir do conflito entre a utopia do narrador e a
realidade histórica das vozes desiludidas.
Certamente, para a mentalidade patriarcal do século XIX e boa parte do XX, Maria
Firmina dos Reis e Emília Freitas são escritoras muito indesejáveis para os projetos de
nacionalidade e valorização do Brasil, por motivos, que se justificam apenas, no âmbito do
materialismo histórico ligado aos interesses de forjar a brasilidade sem considerar os
marginalizados.
As duas autoras não praticaram a escrita do romance para estabelecer a brasilidade
conforme os padrões da conveniência, mas escreveram a fim de criar a voz daqueles que
estiveram por debaixo da História dos grandes acontecimentos: os alijados dos meios de
produção, as vítimas dos sistemas de trabalho, os escravos de homens proprietários. Nos
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romances, os heróis são personagens oprimidas, mandadas; não são os que mandam, que
passam à condição de heróis, mas sim os alijados, condenados à obediência e determinados
pela economia alheia.
A mentalidade de fora da História e da Literatura tradicionais torna-se matéria à
prática de produção literária das autoras, com isto, a desorganização histórica da literatura
se efetua nas vozes dos romances, no uso estético de movimentos tradicionais das Belas
Letras brasileiras. A exploração humana é denunciada em níveis simbólicos e práticos pelas
autoras, com isto, as ideias do século XIX ganham outros contornos, ao tornarem os
poderosos desprezíveis. Nisto, há muito daquilo imaginado por Walter Benjamim (1996): a
História construída pelos perdedores, pelos explorados, porque vista pelos seus próprios
olhos e transmitidas pela interpenetração de suas experiências.
Em Úrsula e A rainha do ignoto, tanto o conceito de História, quanto de Literatura
Brasileira são diferentes dos conceitos tradicionais da ciência histórica e da arte literária,
porque, além de produzidas por mulheres, são representações dos que não tinham voz tanto
histórica, quanto literariamente, no âmbito contextual narrativo.
Caberão, neste projeto, as reflexões de Althusser (1988) para compreender,
econômica e politicamente, o posicionamento dos “guardadores da tradição”, que
marginalizam romances, cujas vozes são contra a hegemonia do processo de produção
intelectual estabelecida por teóricos e historiadores da Literatura, legitimadores da
perpetuação dos mecanismos de exclusão daquelas autoras. A marginalização dos
romances, efetuada pela historiografia literária, pode-se, somente, ser compreendida a partir
da crítica ao pensamento criado pelos aparelhos ideológicos (o cânone é aparelho
ideológico da perpetuação do poder das elites dominantes, que fazem das letras espelhos de
sua própria história) que governam, inclusive, o estudo sobre a criação artística.
Não obstante, Maria Firmina dos Reis e Emília Freitas, longe de serem exceções
que confirmam a regra, praticaram e produziram literatura e, muito além, usaram-na como
veículo de contestação às escravidões impostas pelo materialismo histórico e o seu poder de
excluir.
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Anteprojeto doutorado - Revista Brasil de Literatura