Relatório de Sustentabilidade e sua Aplicação no Agronegócio.
CLÉSIA MARIA DE OLIVEIRA
Fundação Universidade Federal de Rondônia
[email protected]
DANILO LIMA MONTEIRO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
[email protected]
JESSICA SIMONE BARBOSA SANTOS
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
[email protected]
FLÁVIO DE SÃO PEDRO FILHO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
[email protected]
Área temática: Indicadores e Modelos de Mensuração da Sustentabilidade.
Relatório de Sustentabilidade e sua Aplicação no Agronegócio.
RESUMO
Este artigo apresenta o estudo de uma iniciativa de agronegócio por uma instituição privada
com foco na funcionalidade de relatórios de sustentabilidade. Por meio de uma pesquisa
qualitativa, elaborada pelo método de estudo de caso com visita in loco e entrevista, buscou-se
demonstrar a importância do relatório de sustentabilidade na identificação do agronegócio.
Com um referencial teórico delineado pelas características das Teorias Contingencial e
Burocrática da Administração, conceitos de agronegócio, aquiculturas e relatórios de
sustentabilidade, a pesquisa foi orientada pela busca de três objetivos específicos: caracterizar
a natureza do relatório funcional da sustentabilidade; contextualizar atividade de agronegócio
no entorno de Porto Velho; e analisar a relação causal entre as ações do agronegócio com um
relatório de sustentabilidade comumente reconhecido. A análise comparativa do Plano
Municipal de Pesca e Aquicultura de Porto Velho, do projeto de restauração de um igarapé
tangente a uma propriedade de uma associação sindical e dados primários coletados, trouxe
como resultados o potencial da região para a aquicultura, atuação da prefeitura no incentivo à
piscicultura, as oportunidades e ameaças encontradas por iniciativas de aquicultura na região e
a relação entre relatórios de sustentabilidade disponíveis e a criação ou manutenção de um
agronegócio de aquicultura.
Palavras Chave: Relatório de Sustentabilidade. Agronegócio. Aquicultura. Piscicultura.
ABSTRACT
This paper presents a study of an agribusiness initiative by a private institution with a focus on
functionality of sustainability reports. Is a qualitative research, prepared by the method of case
study, with procedure as observation by local visit and interview. We sought to demonstrate the
importance of the sustainability report on the identification of agribusiness. Have a theoretical
framework outlined by the characteristics of the Theories Bureaucratic and Contingency
Management. Includes concepts of agribusiness, aquaculture and sustainability reports. This
research was guided by the search for three specific goals: to characterize the nature of the
functional sustainability report (1); seen in the context of agribusiness around Porto Velho (2),
and to analyze the causal relationship between the actions of agribusiness with a sustainability
report commonly recognized (3). As result, we have one comparative analysis of the Municipal
Plan for Fisheries and Aquaculture of Porto Velho, and concept of one project to restore one
stream tangent on one experimental property; the data collected reveal the region's potential
to aquaculture; describes the acting by the leader to encouraging pisciculture; shows
opportunities faced by aquaculture initiatives in the region and the relationship between
sustainability reports available and quality maintenance of aquaculture.
Key words: Sustainability Report. Agribusiness. Aquaculture. Pisciculture.
1 INTRODUÇÃO
Durante as décadas de 1960 e 1970, a visão de desenvolvimento tanto por estudiosos
quanto por investidores era, em sua maioria, baseada no crescimento da produção industrial,
focado em metas macroeconômicas, muitas vezes desvinculadas das necessidades sociais e
ambientais específicas de cada localidade e de sua população (ALMEIDA, 2002). Com a
globalização, as informações, os conhecimentos e o avanço tecnológico mais acessível,
aumentaram exponencialmente o compartilhamento do saber. Ao mesmo tempo, emerge
também a preocupação com os riscos de desequilíbrio ambiental.
Desde os anos 1990 surgiram vários indicadores de sustentabilidade desenvolvidos para
avaliar o progresso social para a sustentabilidade. Estes novos indicadores adicionaram as
dimensões ambiental, cultural, e espacial aos tradicionais indicadores econômicos e sociais,
aumentando a capacidade dos agentes públicos de aferirem a evolução do desenvolvimento.
Até meados daquela década, as formas de relatórios existentes eram experimentais e evoluíram
para um modelo padrão, de uso pelas maiores organizações e empresas de todo o mundo (GRI,
2002).
Os relatórios de sustentabilidade têm como papel responder a uma série de pressões
relacionadas à forma de atuação das organizações com relação às suas partes interessadas, ao
meio-ambiente, à sociedade em geral (RESE; CANHADA, 2008). A apresentação dos
relatórios evidenciando práticas realizadas, metas futuras e valores organizacionais visa
alcançar a legitimidade da organização perante seu ambiente com vistas à garantia de sua
competitividade. Isso se dá por meio da conformação às normas e pressões tanto técnicas
(descritas em relatórios anuais) quanto institucionais (iniciativas evidenciadas em relatórios de
sustentabilidade).
O relatório de sustentabilidade visa dar transparência as ações da organização realizadas
para os stakeholders, demonstrando desse modo suas intenções, as quais podem contribuir no
âmbito social, econômico e ambiental, além de evidenciar que é possível ter uma empresa que
gere lucros significativos sem danificar o ambiente no qual está inserida, preservando o presente
e garantindo o futuro das próximas gerações.
Este estudo busca explicar o que vem a ser o relatório e sua importância, por meio da
problemática que se almeja responder: Quais os benefícios da utilização de relatórios de
sustentabilidade para agronegócios na região de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia?
O estudo tem como objetivo geral estudar a importância do relatório de sustentabilidade
na identificação do agronegócio no município de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia.
Para atender a este objetivo geral, adotam-se como objetivos específicos, (1) caracterizar a
natureza do relatório funcional da sustentabilidade, (2) contextualizar uma atividade de
agronegócio no entorno de Porto Velho (3) analisar a relação causal entre as ações do
agronegócio com um relatório de sustentabilidade comumente reconhecido.
2 REVISÃO TEÓRICA E CONCEITUAL
A base teórica de referência tem como abordagem principal os preceitos da Teoria
Burocrática da administração e da Teoria da Contingência levantadas Weber (1982) e Roberts
(2005). A primeira enfatiza o caráter legal das normas e regulamentos e a busca por rotinas e
procedimentos padronizados, princípios inerentes ao estudo de relatórios de caráter formal.
Quanto à seguinte, envolve o conceito de que é o ambiente que molda a necessidade de
ferramentas envolvidas para a realização de determinada tarefa, ou seja, os diversos fatores
encontrados no ambiente ditam o rito de procedimentos e recursos que devem ser utilizados.
2.1
Agronegócio
Desde a década de 50 é discutida a necessidade de a agricultura moderna ser estudada
no contexto das matrizes Inter setoriais, por meio de uma visão agregada da atividade da
indústria de insumos, da indústria de produção e de processamento da estrutura dos produtos
gerados, o que acabou gerando nos Estados Unidos o termo agrobusiness, traduzido como
agronegócio no Brasil (PEDRO FILHO, 2013; SCORVO FILHO, 2004; ARAÚJO, 2007).
2.1.1 Aquicultura
A aquicultura é praticada em todos os estados brasileiros e abrange, principalmente, as
seguintes modalidades: piscicultura (criação de peixes), carcinicultura (criação de camarões),
ranicultura (rãs) e malacocultura (moluscos). Outras modalidades de produção são praticadas,
como o cultivo de algas, entretanto em menor escala (SCORVO FILHO, 2004).
De acordo com informações levantadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, a piscicultura, na classificação nacional por
produção, respondeu em 2002, por uma produção de aproximadamente 158.058 toneladas,
correspondendo a 67.1% da produção total da aquicultura, que foi de 235.640 toneladas
(IBAMA, 2004) como demonstradas na tabela 1.
Tabela 1 - Produção brasileira de aquicultura, por modalidade e participação.
Modalidade
Piscicultura
Carcinicultura
Malacocultura
Ranicultura
Total
Produção (t)
158058,0
64171,5
12813,5
597,0
235640,0
Participação (%)
67,1
27,2
5,4
0,2
100,0
Fonte: IBAMA, 2004, adaptado pelos autores.
Percebe-se pelos dados demonstrados na tabela 1 que há um grande potencial para a
piscicultura. Este fato deve-se principalmente pela existência do método extensivo de produção,
onde não se utiliza ração comercial e os organismos aquáticos são alimentados
tradicionalmente, com subprodutos agrícolas, obtendo-se baixa produtividade. Este método é
muito utilizado por pequenos produtores em pequenas áreas de espelho d’água.
2.2 Relatório de sustentabilidade
A mudança de um modelo neoclássico de desenvolvimento para um modelo de
desenvolvimento sustentável exige a criação de novas ferramentas de medição que possam
aferir as novas dimensões do desenvolvimento socioeconômico. As antigas ferramentas
utilizadas para medir o crescimento e desenvolvimento tornaram-se incompletas, ou mesmo
obsoletas diante da maior complexidade do novo modelo desenvolvimentista (ALMEIDA,
2007). Para que essas novas ferramentas sejam construídas, faz-se necessário a escolha e análise
de um outro elemento: os indicadores.
Em projetos sociais, indicadores são parâmetros qualificados e/ou quantificados que
servem para detalhar em que medida os objetivos de um projeto foram alcançados, dentro de
um prazo delimitado de tempo e numa localidade específica (FISCHER, 2006). Como o próprio
nome sugere, são uma espécie de “marca” ou sinalizador, que busca expressar algum aspecto
da realidade sob uma forma que possamos observá-lo ou mensurá-la
Para Azevedo (2006), os anos 1990 são o começo da modernização reflexiva de bemestar e reconsiderada a qualidade de vida, conceitos que são relacionados às novas ideias do
desenvolvimento. É nesta década que os indicadores sintéticos do bem estar apareceram, como
o índice de desenvolvimento humano e o índice do desenvolvimento Sustentável, ligados
principalmente a uma compreensão maior
do público e, consequentemente, para a
gestão/manipulação da assim chamada opinião pública (SOARES JR; QUINTELLA, 2008).
A cada dia novos indicadores de sustentabilidade são elaborados e testados por
acadêmicos e estudantes das ciências sociais aplicadas. A elaboração e utilização correta destes
indicadores dependem do entendimento de como estas ferramentas são construídas. Azevedo
(2006) chama atenção para o fato de que não basta apenas haver uma padronização entre as
empresas, é preciso que os indicadores usados sejam apropriados, para que a avaliação das
práticas se dê da melhor forma possível, segundo os preceitos do desenvolvimento sustentável.
Elaborar relatórios de sustentabilidade é a prática de medir os indicadores, divulgar e
prestar contas para stakeholders internos e externos, do desempenho organizacional rumo ao
desenvolvimento sustentável. “Relatório de sustentabilidade” é um termo amplo considerado
sinônimo de outros relatórios cujo objetivo é descrever os impactos econômicos, ambientais e
sociais (tripple bottom line) de uma organização, como o relatório de responsabilidade social
empresarial, o balanço social, dentre outros. Esse tipo de documento deve oferecer uma
descrição equilibrada e sensata do desempenho de sustentabilidade da organização relatora,
incluindo informações tanto positivas como negativas.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia, segundo Siena (2007) pode ser entendida como a etapa onde são
explicitados as concepções e os procedimentos que serão adotados no desenvolvimento da
pesquisa, de tal modo que outra pessoa possa reaplicá-la. Nesse contexto, os elementos
metodológicos aplicados são apresentados como seguem.
Esta pesquisa possui abordagem de natureza qualitativa, pois permite a flexibilidade na
interpretação do problema de pesquisa. Trata-se de um estudo de cunho exploratório-descritivo
no qual foi feito, inicialmente, um levantamento teórico conceitual documental e bibliográfico
de modo a desenvolver a compreensão sobre o tema aplicado em pesquisa. Adotou-se o método
de estudo de caso conforme recomendações de Yin (2005). O quadro 1 apresenta a descritiva
dos procedimentos utilizados para elaboração do estudo de caso, seguido da figura 1, que mostra
o método e os processos envolvidos.
Quadro 1: Descritiva dos procedimentos utilizados para elaboração do estudo de caso.
Procedimento
1 Levantamento
teórico e conceitual
2 Entrevista
3 Visita in loco
4 Análise dos dados
coletados
5 Elaboração do
documento
Descritiva
1.1 Procedimento onde há pesquisa por elementos teóricos que permitam um maior
domínio aos pesquisadores para o trato da problemática e elaboração dos resultados.
2.1 Técnica de coleta de dados para a obtenção de informações de um entrevistado,
sobre determinado assunto ou problema.
3.1 Neste procedimento o pesquisador entra em contato com o ambiente estudado o
que possibilita uma maior obtenção de dados e informações pertinentes ao problema.
4.1 Análise crítica dos dados e informações colhidos onde a realidade encontrada é
confrontada com os conceitos teóricos previamente estudados.
5.1 Elaboração do documento de exposição dos resultados obtidos com a pesquisa,
onde há a descritiva dos materiais e procedimentos utilizados no trabalho.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Figura 1- Relacionamento entre fatores envolvidos na elaboração do estudo.
Levantamento
teórico e
conceitual
Elaboração do
documento
Método
de Estudo
de Caso
Análise dos
dados
coletados
Entrevista
Visita in loco
Fonte: elaborada pelos autores.
Os procedimentos empregados em pesquisa envolveram levantamento conceitual e
teórico para o trato dos elementos, a aplicação de entrevista junto a representante ocupante de
cargo de chefia na organização objeto deste estudo. Adotou-se ainda como procedimento
metodológico a investigação in loco, de modo a avaliar as condições e atuação dos atores
investigados, bem como possibilitou o estudo do ambiente analisado, além da obtenção dos
dados necessários e outros fatos que foram observados que integram a formulação dos
resultados e conclusões da pesquisa.
4 ESTUDO SOBRE A APLICAÇÃO DO RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE NO
AGRONEGÓCIO
A partir dos tratamentos metodológicos realizados neste estudo, a seguir serão
apresentados os resultados que buscam atender aos objetivos específicos propostos. Tratou-se
como objetos de estudo o Plano Municipal Sustentável de Pesca e Aquicultura, elaborado pela
prefeitura municipal de Porto Velho utilizado como base de comparação para o projeto de
restauração de um igarapé tangente a uma propriedade localizada na Avenida Rio Madeira na
municipalidade de Porto Velho.
4.1 Caracterização do relatório de sustentabilidade
O Plano Sustentável de pesca e Aquicultura tem por objetivo promover o
desenvolvimento do setor pesqueiro e aquícola, agindo de forma sustentável na agricultura
familiar e na segurança alimentar dos produtores, aumentando renda e gerando melhorias na
qualidade de vida (PORTO VELHO, 2011). O plano foi desenvolvido em 2011 pela prefeitura
de Porto Velho, em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura, e as secretarias de
Desenvolvimento Econômico e Social – SEDES, de Agricultura do Estado – SEAGRI e a
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER/RO. Tem como base a exposição
de indicadores que demonstram as oportunidades e ameaças à prática da aquicultura na
municipalidade. As principais oportunidades destacadas podem ser acompanhadas no quadro
2.
Quadro 2 - Principais oportunidades apontadas no relatório de sustentabilidade da
Prefeitura de Porto Velho.
Oportunidade
Descritiva
1 Potencial
hídrico
1.1 A topografia do município favorece instalação de projetos aquícolas.
2 Aproveitamento
total do peixe
2.1 Além da comercialização da carne, as vísceras podem ser utilizadas para fabricação
de farinha de peixe, ou farinha de pescado, diversificando o produto.
3 Demanda do
mercado
3.1 Nota-se um aumento da demanda por alimentos saudáveis, funcionais, práticos e de
boa qualidade. Estudos apontam vantagens da carne de peixes sobre a de bovinos.
4 Políticas
públicas
4.1 Políticas públicas de incentivo para pesca e aquicultura na matriz do governo
federal, estadual e municipal.
Fonte: Plano Municipal de Pesca e Aquicultura 2011, adaptado pelos autores.
O quadro 2 demonstra a utilização dos recursos oferecidos pelo ambiente, como o
potencial hídrico, aproveitamento total do peixe, demanda do mercado e políticas públicas – o
que corrobora com a literatura, sobretudo na abordagem à Teoria das Contingências. São
oportunidades de melhorar a comunidade na qual se está inserido e ao mesmo tempo, a
qualidade de vida das pessoas – o que leva a inferir que a sustentabilidade pode realmente
coexistir com outros interesses, como o econômico, social e ambiental.
Quadro 3 - Principais ameaças apontadas no relatório de sustentabilidade da Prefeitura
de Porto Velho.
Ameaça
1 Qualificação de
profissionais
2 Pressão social
3 Cadeia produtiva
Descritiva
1.1 Dificuldade de atração e retenção de profissionais qualificados e de assistência
técnica aos piscicultores.
2.1 A crescente pressão de segmentos da sociedade no contexto dos impactos da
piscicultura sobre o meio ambiente podendo resultar em diminuição os investimentos
para o setor.
3.1 Desorganização das cadeias produtivas podendo limitar o desenvolvimento no
setor.
4 Sistema fiscal e
4.1 Ineficiências no sistema de controle fiscal e vigilância sanitária.
vigilância sanitária
Fonte: Plano Municipal de Pesca e Aquicultura 2011, adaptado pelos autores.
Percebe-se que as principais ameaças que o setor da piscicultura sofre são relacionadas
à falta de preparo dos agentes envolvidos, a proliferação de tecnologias que proporcionem
melhorias na cadeia produtiva e a pressão social que a atividade acarreta. Outro ponto a
considerar é que apesar do município propor apoio à criação de aquíferos e à atividade da
piscicultura é reconhecido o déficit que os sistemas de controle fiscal e de vigilância sanitária
apresentam. Para que exista um cenário de fomento real à essa atividade faz-se necessária a
correção destes problemas.
4.2 Contextualização da atividade de agronegócio em Porto Velho
Como foco de estudo tratou-se o acompanhamento da iniciativa de revitalização de um
igarapé localizado próximo à Avenida Rio Madeira sentido ao Parque Ecológico no município
de Porto Velho. O projeto fora idealizado pela presidência de uma associação sindical que
possuí no local uma área de recreação para os associados. Sua localização geográfica em função
do igarapé pode ser visualizada na figura 2.
Figura 2 - Imagem via satélite do local.
2
4
3
Legenda: 1 – Nascente do Igarapé
2 – Clube da Associação Sindical
3 – Primeiro ponto de represa
1
4 – Segundo ponto de represa
Fonte: Ferramenta Google Maps, adaptado pelos autores.
Como pode ser percebido pela figura 2, o curso do igarapé segue em três direções
distintas, sendo que, uma delas é a que banha a propriedade do sindicato. Entretanto ao chegar
na direção que banha a propriedade da associação sindical, as águas do igarapé são represadas
em dois pontos. Este cenário configura um pequeno lago na área de represa, que tangencia em
sua totalidade a propriedade do sindicato.
O sindicato possui essa propriedade há mais de 15 anos, entretanto, não houve qualquer
investimento por parte das gestões anteriores de presidência do sindicato quanto à manutenção
e preservação da água. O cenário atual é de abandono e completo descaso. Não há via de acesso
do clube para as águas, e suspeita-se, não havendo estudos que confirmem o fato, que aquelas
águas estão impróprias para o consumo humano. Todavia, de acordo com relatos, populares que
moram naquela região banham-se nas águas do igarapé e pescam alguns poucos peixes.
Constatou-se, porém, que os mesmos moradores que utilizam a água despejam lixo e esgoto no
igarapé.
Diante deste cenário, tendo recebido diversas reclamações dos próprios associados,
surgiu a iniciativa por parte da presidência da associação de recuperar as águas do lago formado.
O objetivo seria a recuperação daquele trecho específico para melhorar o ambiente e torna-lo
mais agradável, entretanto, graças à percepção de que o igarapé ainda poderia ser explorado
para a pesca foi levantada a inciativa de fomentar a criação de uma cooperativa entre os
moradores que circundam o terreno do clube e utilizam as águas do igarapé.
O projeto surgiu como ideia de um dos membros da presidência da organização, segundo
ele, por experiências pessoais com o tipo de empreendimento e por ter conhecimento prévio da
existência do Plano Municipal Sustentável de Pesca e Aquicultura, fator que incentivou a
tomada de decisão no sentido de empreender no lago e não apenas conserva-lo. Esta iniciativa
poderia, em teoria, conscientizar os moradores para a preservação e manutenção das águas, ter
cunho social em forma de apoio ou patrocínio, embelezaria o estabelecimento e ao criar novos
empregos para os moradores de baixa renda da região, ser um estímulo à diminuição da
criminalidade na região.
A partir do que foi exposto, nota-se que há interesse de uma organização privada em
apoiar a criação de uma cooperativa junto à sociedade, para que a manutenção e conscientização
advinda do empreendimento tragam benefícios para ambas as partes. No entanto, apesar da
presidência da associação acreditar que a iniciativa traria muito mais benefícios do que perdas,
são perceptíveis a falta de estudo apropriado e a busca por indicadores que apontem o
empreendimento como viável. Não há o tracejo de uma análise crítica dos pontos fortes e fracos
da iniciativa.
Em face desta afirmação, fora elaborado pela equipe através das observações in loco e
em comparativo com os indicativos apontados no próprio relatório municipal de
sustentabilidade uma análise dos pontos fortes e fracos do meio interno do empreendimento, tal
análise foi pautada levando-se em consideração como fatores externos as pontuações exibidas
no Plano Municipal Sustentável de Pesca e Aquicultura tratados anteriormente, onde há a
separação entre ameaças e oportunidades para o segmento da aquicultura na região de Porto
Velho. O Quadro 3 que apresenta os possíveis pontos fortes percebidos na análise da iniciativa.
Quadro 4 - Principais pontos fortes do possível empreendimento.
Ponto forte
1 Redução do risco de
doenças na região
Descritiva
1.1 Com a água sendo devidamente preservada e havendo um escoamento do
lago, o número de casos de doenças tropicais na área pode diminuir.
2 Diminuição do
impacto ambiental
2.1 No cenário atual os moradores da região utilizam as águas do igarapé para
despejo de dejetos, o empreendimento mudaria tal situação.
3 Criação de empregos
na região
3.1 Com a viabilização e construção do aquífero os moradores humildes da região
podem ter uma nova oportunidade de emprego, fator que poderia diminuir a
criminalidade na área.
4 Geração de renda
4.1 Uma nova fonte de renda é gerada através da piscicultura.
Fonte: Elaborado pelos autores com base nas entrevistas e visita in loco.
Destaca-se, neste quadro o item 4 – Geração de Renda, que o empreendimento seria
independente à associação, ou seja, a receita gerada pelo empreendimento não beneficiaria o
clube per se.
Portanto, ao lançarmos uma visão crítica neste ponto percebe-se que é clara a
nebulosidade criada pela iniciativa no que tangencia a questão da geração de renda. Entretanto,
este fator não ofusca os demais pontos fortes do empreendimento, apresentando-se como uma
atividade de extremo cunho socioambiental, como pode ser percebido nos itens 1, 2 e 3 do
quadro, onde é explícita a busca pela melhoria do ambiente e os benefícios gerados pela mesma.
No entanto, apesar dos benefícios, entende-se que os custos que tal empreendimento
demandaria não podem ser ignorados.
Tal questionamento pode ser percebido de forma mais clara no quadro 5, onde há a
descritiva dos pontos negativos do projeto.
Quadro 5 - Principais pontos fracos do possível empreendimento.
Ponto fraco
Descritiva
1.1 A revitalização e manutenção do lago demanda grande quantia de
verba, com origem em sua maioria da Associação Sindical.
2.1 Os moradores da região são em sua maioria de origem humilde, não
2 Falta de recurso por parte
possuindo veículos próprios de locomoção. A produção inicialmente
da cooperativa
não possuiria meios de escoamento.
3 Necessidade de treinamento 3.1 Os possíveis funcionários precisariam ser instruídos corretamente no
trato do aquífero.
e capacitação
4.1 Por ser um novo entrante no mercado a cooperativa teria dificuldades
4 Novo entrante
em escoar sua produção.
Fonte: elaborado pelos autores com base nas entrevistas e visita in loco.
1 Operação onerosa
De acordo com o exposto, é perceptível que o investimento, no modelo de cooperativa
como se almeja, não traria receita para a Associação Sindical, e caso não recebesse apoio
governamental a atividade seria extremamente onerosa. Em face deste fator, levanta-se o
questionamento da interação entre a intenção do projeto e os benefícios reais que ele traria certa
vez que não há a necessidade da criação de uma cooperativa para atingir o objetivo maior da
associação que é apenas a manutenção e preservação do lago.
4.3 Análise da relação causal entre agronegócio e relatório de sustentabilidade
Ao analisar os elementos demonstrados até aqui, percebe-se que o igarapé apresenta-se
como um recurso renovável não muito explorado pelos moradores da região, além de grande
potencial para realização de um empreendimento no local. Contudo, a iniciativa da Associação
Sindical encontra um grande entrave na questão da onerosidade do empreendimento, minando
a possibilidade de concretizar a iniciativa. Cita-se que o projeto ainda está em fase de
elaboração, não havendo, portanto, uma cooperativa montada no local. Salienta-se que não
foram realizadas análises prévias da condição da água ou visita a qualquer órgão regulador
municipal ou estadual para questionar a real aplicabilidade do empreendimento por parte da
associação. Entretanto, noticiou-se que o caseiro que reside na propriedade tem por iniciativa
própria um pequeno viveiro de peixes no lago supracitado.
Quanto à importância de relatórios de sustentabilidade para o empreendimento
específico, percebe-se que a insuficiência de indicadores quantitativos ou qualitativos sobre o
empreendimento e o meio daquela região apresentou-se como uma barreira ao planejamento
lógico e eficaz. É verdade que há o Plano Municipal Sustentável de Pesca e Aquicultura,
documento oficial que apresenta os benefícios do tipo de empreendimento e as oportunidades
presentes no mercado e ambiente, entretanto, ele apresenta-se insuficiente para uma tomada
correta tomada de decisão, tendo em vista que não há um tratamento quantitativo dos aspectos
sociais, ambientais e econômicos adequado.
A apresentação de informações no documento de forma qualitativa tornou a tomada de
decisão da criação de uma cooperativa uma tarefa quase que estritamente empírica. Tendo o
relatório e sua exposição no plano municipal um tratamento estatístico mais acentuado,
facilitaria a tomada de decisão do empreendedor.
4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de uma pesquisa qualitativa, elaborada pelo método de estudo de caso com
visita in loco e entrevista, o presente estudo buscou demonstrar a importância do relatório de
sustentabilidade na identificação do agronegócio, o que foi possível a partir dos dados
coletados em resposta a três objetivos específicos: caracterizar a natureza do relatório
funcional da sustentabilidade; contextualizar atividade de agronegócio no entorno de Porto
Velho; e analisar a relação causal entre as ações do agronegócio com um relatório de
sustentabilidade comumente reconhecido.
Considera-se, ao término do estudo, que a instauração de uma cooperativa ou qualquer
empresa que busque a exploração daquele recurso hídrico representa uma alternativa viável
para a criação de uma atividade de piscicultura ou qualquer outra atividade de aquicultura.
Entretanto, faz-se a ressalva de que todo o processo deve ser acompanhado por órgãos
reguladores que garantam a sustentabilidade e principalmente a legalidade do empreendimento,
não causando danos maiores ao meio ambiente.
Todavia, o projeto idealizado pela associação sindical entrevistada apresenta
disparidades no tocante de seu propósito e do custo benefício envolvido. Ora estabelecida uma
organização independente que usufrua das águas represadas do igarapé o empreendimento não
geraria qualquer receita para a associação. O que nos leva a crer que a interpretação de forma
equivocada do relatório de sustentabilidade disponibilizado pela prefeitura de Porto Velho
através da SEMAGRIC acabou gerando o projeto de forma tendenciosa, baseado na ideia de
que os benefícios gerados pela aquicultura sobrepõem os desafios a serem enfrentados.
Portanto, em face destes argumentos, fica claro que a utilização de relatórios de
sustentabilidade que apresentem de forma quantitativa e precisa os aspectos inerentes ao
ambiente estudado permite ao empreendedor de um agronegócio ferramentas e informações de
grande valia para a instalação e atividade de cooperativas e empreendimentos no setor do
agronegócio, facilitando a tomada de decisão e o cálculo das necessidades, assim como uma
correta percepção das reais oportunidades e ameaças que o cenário oferece.
REFERÊNCIAS
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Janeiro: Elsevier, 2007 – 2. reimpressão. Cap. 4, 5 e 6
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Relatório de Sustentabilidade e sua Aplicação no Agronegócio.