Professora Me. Thays Josyane Perassoli Boiko PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS PÓS-graduação mba. em agronegócio MARINGÁ-pr 2012 Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenação de Marketing: Bruno Jorge Coordenação Comercial: Helder Machado Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação de Curso: Silvio Silvestre Barczsz Assessoria Pedagógica: Marcelo Cristian Vieira e Lucélia Leite de Morais Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Jaime de Marchi Junior, José Jhonny Coelho, Luiz Fernando Rokubuiti e Thayla Daiany Guimarães Cripaldi Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi e Maria Fernanda Canova Vasconcelos Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Produção e sistemas agroindustriais/ Thays J. Perassoli Boiko - Maringá - PR, 2012. 75 p. “Pós-Graduação MBA Agronegócio - EaD”. 1. Agronegócio 2. Gestão de sistemas. 3.Agroindustrias. 5. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 338.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 “As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”. Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Professora Me. Thays Josyane Perassoli Boiko APRESENTAÇÃO DO REITOR Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Professor Wilson de Matos Silva Reitor PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 5 Caro(a) aluno(a), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido. Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento. Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa. Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária. Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem! Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR 6 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância APRESENTAÇÃO Livro: PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Professora Me. Thays Josyane Perassoli Boiko Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina Produção e Sistemas Agroindustriais. Sou a Professora Me. Thays J. Perassoli Boiko, Engenheira de Produção Agroindustrial e Mestre em Engenharia de Produção, e é com muito prazer que te apresento o livro que fará parte desta disciplina. Neste livro, que preparei com muito carinho, apresento os principais conceitos e definições relacionados a Agronegócios e aos Sistemas Agroindustriais. Veremos as duas principais correntes metodológicas que norteiam os estudos e/ou a gestão dos Sistemas Agroindustriais, bem como quando, onde e quais contextos surgiram. Veremos também quais os níveis de análise em estudos e/ou em Gestão de Sistemas Agroindustriais, os agentes que os compõem e como se dá a coordenação desses Sistemas. Você irá perceber que dependendo dos propósitos do(a) pesquisador(a) e/ou do gestor(a) em Agronegócio, um nível de análise é considerado. É muito provável que você, querido(a) aluno(a), se identifique como um dos agentes que compõem os Sistemas Agroindustriais. A dinâmica de relacionamento entre os diversos agentes que compõem os Sistemas Agroindustriais determina a dinâmica de funcionamento desses Sistemas. Como os Sistemas Agroindustriais estão inseridos em mercados cada vez mais competitivos, complexos, dinâmicos e globalizados, é frequente que mudanças tecnológicas, de legislação, das exigências dos consumidores e de concorrência ocorram. Essas mudanças alteram a dinâmica de relacionamento entre os agentes e isto exige que os Sistemas Agroindustriais sejam constantemente coordenados, por parte de seus pesquisadores e/ou gestores, para garantir sua organização, eficiência, produtividade, qualidade, eficácia na agregação de valor e, consequentemente, sua competitividade. Um dos níveis de análise em estudos e/ou em Gestão de Sistemas Agroindustriais é o de Cadeias de Produção Agroindustrial, que tem seu conceito associado a um produto final ou família/linha de produtos finais, por isso este nível de análise é bastante usado. Veremos como este termo passou a ser utilizado no Brasil, suas principais definições e aplicações, os mercados tipicamente identificados em uma Cadeia de Produção Agroindustrial, seus setores, seus ambientes institucional, organizacional e empresarial e os aspectos das Cadeias de Produção Agroindustrial, aspectos esses que afetam a coordenação dos Sistemas Agroindustriais. Por fim, iremos discutir a competitividade nos Sistemas Agroindustriais. Inicio esta discussão apresentando as definições de competitividade e concorrência. Em seguida, veremos que a competitividade do Agronegócio brasileiro se dá nos mercados interno e externo e quais os pontos que mais afetam esta competitividade. Depois, apresento a você as estratégicas competitivas utilizadas no Agronegócio, quais são as capacidades competitivas em Sistemas Agroindustriais, a importância da agregação de valor aos produtos das cadeias de produção agroindustrial, os setores de apoio às cadeias de produção PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 7 agroindustrial e finalizo discutindo os principais aspectos dos custos de transação e das relações contratuais no Agronegócio. Assim, este livro está dividido em três unidades. Na primeira, trato de Sistemas Agroindustriais, na segunda, de Cadeias de Produção Agroindustrial e, na última, de Competitividade nos Sistemas Agroindustriais. Meu objetivo ao escrever este livro não foi adotar conceitos e definições, mas sim mostrar os pontos de vista dos principais autores utilizados no Brasil, exemplos e aplicações, de tal maneira que você, aluno(a) do Curso de MBA em Agronegócios, se sinta capacitado(a) a utilizar esses conceitos e definições de maneira prática em seu dia a dia profissional. Tive como objetivo também, fazer você pensar sobre a complexidade e a competitividade nos Sistemas Agroindustriais e como coordenar e competir nestes Sistemas. Para iniciar nossos estudos, quero apresentar sites que são ricas fontes de pesquisa sobre Agronegócio e Sistemas Agroindustriais e que provavelmente vão ajudar muito você, em suas atividades profissionais. Esses sites são: • AGRONLINE - <http://www.agronline.com.br>: apresenta artigos científicos, links, reportagens, divulgação de eventos e softwares relacionados à agropecuária. • AGROSOFT Brasil <http://www.agrosoft.org.br/>: disponibiliza o Jornal Agrosoft, publicação gratuita diária sobre tecnologia, economia e política do agronegócio. • CANAL DO PRODUTOR - <http://www.canaldoprodutor.com.br>: site da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) que apresenta notícias, vídeos, artigos, áudios, guias, legislação e serviços, referentes à produção animal, vegetal e temas específicos. • CEPEA-ESALQ/USP (CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/ USP) - <http://www.cepea.esalq.usp.br/>: site do CEPEA-ESALQ/USP, com divulgação dos indicadores, análises, estudos e pesquisas, realizados pelo Centro em relação ao agronegócio. • EMBRAPA (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA) - <http://www.embrapa.br/>: site da EMBRAPA em que é possível acessar informações, notícias, divulgação de cursos, eventos e programas, a Livraria Embrapa e publicações em geral da EMBRAPA. • GEPAI (GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS AGROINDUSTRIAIS – UFSCar) - <http://www.gepai.dep.ufscar.br/>: site do GEPAI em que é possível acessar as publicações do Grupo. • IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE PESQUISA E ESTATÍSTICA) - <http://www.ibge.gov.br>: site do IBGE em que é possível acessar os indicadores e estatísticas, inclusive referentes ao Agronegócio (Agropecuária e Agroindústria). • MAPA (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO) - <http://www.agricultura.gov.br/>: site do MAPA em que é possível acessar a legislação e políticas referentes à agricultura, pecuária e abastecimento. • PENSA – FEA/USP (CENTRO DE CONHECIMENTO EM AGRONEGÓCIOS – FEA/USP) - <http://www.pensa.org.br/Pensa.aspx>: site do PENSA em que é possível acessar as publicações do Grupo. 8 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância • SOBER (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO DE SOCIOLOGIA RURAL) - <http://www.sober.org.br/>: em que é possível acessar os Anais do Congresso da SOBER. Bem, agora vamos iniciar nossos estudos! Espero contribuir para o seu conhecimento! PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 9 SUMÁRIO UNIDADE I SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS DEFINIÇÕES DE AGRONEGÓCIO 16 DEFINIÇÕES E CORRENTES METODOLÓGICAS DE SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS 17 NÍVEIS DE ANÁLISE EM ESTUDOS E/OU EM GESTÃO DE SISTEMAS AGROINDUTRIAIS 19 OS AGENTES QUE COMPÕEM OS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS 23 PRODUÇÃO PRIMÁRIA 24 AGROINDÚSTRIAS 25 DISTRIBUIÇÃO AGRÍCOLA E AGROALIMENTAR 26 COORDENAÇÃO DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS 27 DINÂMICA DE COORDENAÇÃO DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS E MECANISMOS DE GOVERNANÇA 29 UNIDADE II CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL O INÍCIO DA UTILIZAÇÃO DO TERMO CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL NO BRASIL – UM BREVE HISTÓRICO 37 CONCEITUAÇÃO E DEFINIÇÕES DE CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL 37 APLICAÇÕES DO CONCEITO DE CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL 39 MERCADOS TÍPICOS IDENTIFICADOS EM UMA CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL 41 SETORES DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL 41 AMBIENTES DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS 42 ASPECTOS DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS 43 UNIDADE III COMPETITIVIDADE NOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS DEFINIÇÃO DE COMPETITIVIDADE E DE CONCORRÊNCIA 56 COMPETITIVIDADE NO AGRONEGÓCIO, NOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO 56 ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS UTILIZADAS NO AGRONEGÓCIO 57 BLOCOS DE CAPACIDADES COMPETITIVAS EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS 58 AGREGAÇÃO DE VALOR AOS PRODUTOS DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS 59 SETORES DE APOIO ÀS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL 60 CUSTOS DE TRANSAÇÃO NO AGRONEGÓCIO64 RELAÇÕES CONTRATUAIS NO AGRONEGÓCIO 65 CONCLUSÕES 71 REFERÊNCIAS 72 UNIDADE I SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Professora Me. Thays Josyane Perassoli Boiko Objetivos de Aprendizagem • Discutir as duas principais correntes metodológicas que definem os estudos dos Sistemas Agroindustriais: as noções de commodity system approach (CSA) e agribusiness e de analyse de filière (ou cadeias de produção). • Apresentar as definições de: agronegócio, sistemas agroindustriais, commodity, cadeia de produção agroindustrial e complexo agroindustrial. • Apresentar os níveis de análise em estudos e/ou gestão dos Sistemas Agroindustriais. • Estudar os agentes que compõem os Sistemas Agroindustriais. • Analisar a dinâmica de coordenação dos Sistemas Agroindustriais. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Definições de Agronegócio • Definições e Correntes Metodológicas de Sistemas Agroindustriais • Níveis de Análise em Estudos e/ou Em Gestão de Sistemas Agroindustriais • Os Agentes que compõem os Sistemas Agroindustriais • Produção Primária • Agroindústrias • Distribuição Agrícola e Agroalimentar • O Varejo • O Atacado • Coordenação dos Sistemas Agroindustriais • A Importância da Coordenação dos Sistemas Agroindustriais • Definições de Coordenação dos Sistemas Agroindustriais • Dinâmica de Coordenação dos Sistemas Agroindustriais e Mecanismos de Governança INTRODUÇÃO Estamos começando nosso estudo e, inicialmente, é preciso que você entenda, estude e compreenda as definições relacionadas aos Sistemas Agroindustriais, as correntes metodológicas utilizadas e os níveis de análise em estudos e/ou gestão dos Sistemas Agroindustriais. Neste contexto, são abordados os seguintes conceitos e definições: agronegócio, commodity, sistemas agroindustriais, cadeia de produção agroindustrial e complexo agroindustrial. Exemplos destes conceitos e definições são apresentados, bem como um breve relato da evolução histórica do conceito de Sistemas Agroindustriais. Em seguida, o foco de estudo concentra-se nos agentes dos Sistemas Agroindustriais e, por fim, na dinâmica de coordenação dos Sistemas Agroindustriais, envolvendo estes agentes. O conteúdo apresentando nesta unidade servirá de base para o entendimento das unidades seguintes. Bom estudo! DEFINIÇÕES DE AGRONEGÓCIO Na literatura encontram-se muitas definições de Agronegócio (em inglês Agribusiness), tais como: i) O Agronegócio é um conjunto, entendido como um sistema composto de operações e processos de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização de insumos e produtos agropecuários e agroflorestais, incluindo instituições ligadas pelos objetivos comuns de suprir o consumidor final de produtos de origem agropecuária e agroflorestal (CASTRO, 2000). ii) O Agronegócio é um conjunto de empresas que produzem insumos agrícolas, as propriedades rurais, as empresas de processamento e toda a distribuição (CALLADO, 2006). De acordo com essas definições e conforme afirmam Batalha e Souza Filho (apud BATALHA; SOUZA FILHO, 2009), o Agronegócio compreende as atividades e empresas agropecuárias e agroflorestais e aquelas ligadas aos insumos agropecuários e agroflorestais (defensivos animais e vegetais, adubos, máquinas, equipamentos etc.), à agroindústria de processamento e aos sistemas de distribuição. Desta forma, é possível perceber que o Agronegócio engloba, como detalham Araújo, Wedekin e Pinazza (1990), todos os envolvidos na geração e no fluxo dos produtos agropecuários e agroflorestais até o consumidor final. Sendo esses envolvidos: i) os fornecedores de bens e serviços à agricultura, pecuária e atividades agroflorestais; ii) os produtores agrícolas, pecuários e agroflorestais; PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 15 iii) os processadores; iv) transformadores; v) distribuidores. Araújo, Wedekin e Pinazza (1990) complementam dizendo que também participam do Agronegócio os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, tais como: i) o governo; ii) os mercados; iii) as entidades comerciais; iv) as entidades financeiras; v) as entidades de serviços. Na definição de Castro (2000), você pode perceber que o Agronegócio é entendido como um sistema, formado por sistemas menores ou subsistemas, os chamados Sistemas Agroindustriais. DEFINIÇÕES E CORRENTES METODOLÓGICAS DE SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Os estudos e/ou gestão dos Sistemas Agroindustriais seguem duas principais correntes metodológicas, que surgiram em tempos, locais e contextos diferentes, segundo Zylbersztajn (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) e Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001): i. Agribusiness e Commodity System Approach (CSA, do inglês para o português, Enfoque de Sistema de Commodities). ii. Analyse de Filière (do francês para o português, Cadeias de Produção). Estas duas correntes metodológicas, também entendidas como enfoques teóricos, Zylbersztajn (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) e vertentes metodológicas Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001) representam uma evolução histórica do conceito de Sistemas Agroindustriais Zylbersztajn (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Além disso, estas duas correntes metodológicas são utilizadas para “[...] fundamentar as discussões sobre a utilização de novas ferramentas gerenciais e conceituais aplicadas ao entendimento da dinâmica de funcionamento e a busca da eficiência [...]” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, não paginado). A primeira corrente teve origem nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard, nos trabalhos de Davis e Goldberg, com a criação do conceito de agribusiness, tendo como foco inicial uma análise histórica e evolutiva do caso particular do agribusiness americano e depois no trabalho de Goldberg com a primeira 16 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância utilização de Commodity System Approach. Durante os anos de 1960, na França, foi desenvolvido o conceito de Analyse de Filière. O conceito, que inicialmente não foi desenvolvido para estudar as questões agroindustriais, teve entre os economistas agrícolas e pesquisadores dos setores rurais e agroindustriais seus principais defensores. No Quadro 1 apresenta-se um resumo da origem e dos conceitos principais destas duas correntes metodológicas. Quadro 1- Principais Correntes metodológicas em estudos e/ou gestão de Sistemas Agroindustriais Correntes Metodológicas RESUMO AGRIBUSINESS E COMMODITY SYSTEM APPROACH (CSA) EUA – Universidade de Harvard Origem i) Davis; Goldberg (1957) – conceito de agribusiness; Autores/Ano x Conceito ii) Goldberg (1968) – CSA. i) Davis; Goldberg (1957) – caso particular do agribusiness americano; ii) Goldberg (1968) – estudo do comportamento dos sistemas de produção de laranja, trigo e soja nos EUA. Matéria-prima de base e uma limitação geográfica Foco Inicial do Estudo Ponto de Partida da Análise ANALYSE DE FILIÈRE (OU CADEIAS DE PRODUÇÃO) França – Escola Industrial Francesa Anos 1960 – diferentes definições de Cadeias de Produção Problemática industrial Produto agroindustrial final Fonte: Elaborado a partir de Zylbersztajn (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) e Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001) Estas duas correntes metodológicas apresentam muitas semelhanças, como apresentam Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001): i. Ambas, para estudar a lógica de funcionamento do Sistema Agroindustrial, realizam cortes verticais no sistema econômico, ou a partir de determinado produto final, ou a partir de uma matéria-prima de base. ii. Ambas deixam a divisão do sistema em três setores: agricultura, indústria e serviços. iii. Ambas veem a agricultura dentro de um sistema mais amplo que é composto também pelos produtores de insumos, pelas agroindústrias e pela distribuição/comercialização. iv. Ambas utilizam, em suas análises, a noção de etapas sucessivas de produção, desde a produção de insumos até o produto acabado. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 17 v. Ambas consideram o Sistema Agroindustrial como dinâmico. vi. Ambas, em suas análises fazem prospecções. vii. Ambas analisam o Sistema Agroindustrial de um ponto de vista sistêmico. A principal diferença entre as duas correntes metodológicas “reside na importância dada ao consumidor final como agente dinamizador [...]” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p. 36): i) Na corrente Agribusiness e Commodity System Approach, o ponto de partida para a análise é, normalmente, uma matéria-prima de base. ii) Na corrente Analyse de Filière, o ponto de partida para a análise é sempre um produto acabado, ou seja, o mercado final, em direção à matéria-prima de base que lhe deu origem. No trabalho realizado por Davis e Goldberg (1957), agribusiness era assim definido: “a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles” (DAVIS; GOLDBERG, 1957 apud BATALHA); (SILVA apud BATALHA, 2001, p. 27). Do trabalho de Goldberg (1968), o termo commodity é atualmente utilizado para se referir aos produtos de origem primária, ou seja, em estado bruto, ou com baixo grau de industrialização que são produzidos em grandes volumes por uma diversidade de produtores e que podem ser estocados por um determinado período sem perda de qualidade. O café, o trigo, a soja, são exemplos de commodities agrícolas. A água, o ouro e o petróleo são exemplos de commodities não agrícolas. Embora Filière (ou Cadeias de Produção) sejam divergentes em vários aspectos, existem dois pontos comuns entre elas (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000); (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001): i) “[...] a percepção de que as relações verticais de produção ao longo das cadeias produtivas devem servir de balizador para a formulação de estratégias empresariais e políticas públicas” (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 2). ii) focalização dos Sistemas Agroindustriais sob ótica sistêmica. A partir destes dois pontos comuns, um Sistema Agroindustrial pode ser definido como ... o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção dos insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (queijo, biscoitos, massas etc.) ao consumidor. Ele não está associado a nenhuma matéria-prima agropecuária ou produto final específico (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p. 30). O Sistema Agroindustrial, quando assim definido, apresenta-se como de pouca utilidade como ferramenta de gestão e de apoio à tomada de decisão, como bem afirmam Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001). 18 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Assim, é necessário estabelecer o nível de análise em estudos e/ou em gestão de Sistemas Agroindustriais. NÍVEIS DE ANÁLISE EM ESTUDOS E/OU EM GESTÃO DE SISTEMAS AGROINDUTRIAIS Em estudos e/ou em gestão de Sistemas Agroindustriais, deve ser estabelecido um nível de análise, ou dimensão. Três níveis de análise são apresentados por Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001). Estes níveis estão resumidos no Quadro 2. Quadro 2- Níveis de análise em estudos e/ou em gestão de Sistemas Agroindustriais NÍVEL DE ANÁLISE PONTO DE PARTIDA PARA O CONCEITO ou OBJETO DO PESQUISADOR E/OU GESTOR DE SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Uma matéria-prima de base Complexo Agroindustrial Cadeia de Produção Agroindustrial Agronegócio Um produto final ou uma família/linha de produtos finais Um complemento delimitador: i) uma limitação geográfica; ii) uma matéria-prima de base, e/ou; iii) um produto final ou uma família/linha de produtos finais; Fonte: Elaborado a partir de Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001) Como você pôde visualizar no Quadro 2, o estabelecimento do nível de análise em estudos e/ou em gestão de Sistemas Agroindustriais depende do objeto do pesquisador e/ou gestor. O ponto de partida para o conceito de Complexo Agroindustrial é uma matéria-prima de base. Ou seja, se o pesquisador e/ou o gestor de Sistemas Agroindustriais tiver como objeto de pesquisa e/ou de gestão uma matéria-prima específica, a análise se dará em termos do complexo agroindustrial desta matéria-prima. Assim, pode-se falar em complexo agroindustrial da soja, do leite, do milho e do café, por exemplo. Pode-se definir Complexo Agroindustrial como um conjunto de cadeias de produção agroindustriais, com cada uma delas tendo seu conceito associado a um produto final ou família/linha de produtos finais (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001). No caso, por exemplo, do complexo agroindustrial do leite, podem ser identificadas a cadeia de produção do leite UHT, do requeijão, do iogurte, da margarina entre outros. O ponto de partida para o conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial é um produto final ou família/ PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 19 linha de produtos finais. Logo, se o pesquisador e/ou o gestor de Sistemas Agroindustriais tiver como objeto de pesquisa e/ou de gestão um produto final ou família/linha de produtos finais, a análise se dará em termos da cadeia de produção agroindustrial deste. Cadeia de Produção Agroindustrial pode ser definida, a partir da definição de Cadeia de Produção de Parent (1979 apud BATALHA; SILVA, 2001, p. 41), como a soma de todas as operações de produção e de comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primas agroindustriais de base a um produto agroindustrial final. Pode-se citar como exemplos, a cadeia de produção agroindustrial dos cortes de carne bovina, da farinha de trigo, dos molhos de tomate. No caso do conceito de Agronegócio, quando transcrito para o português, deve apresentar um ou dois complementos delimitadores, dependendo do(s) foco(s) de estudo e/ou gestão. Assim, o conceito pode partir de uma limitação geográfica, de uma matéria-prima de base e/ou de um produto final ou uma família/linha de produtos finais. Fonte: shutterstock.com Por exemplo, se o foco de estudo e/ou gestão do Sistema Agroindustrial fosse o Brasil, ou o Estado do Paraná, a análise seria, então, do agronegócio brasileiro ou agronegócio paranaense. O complemento delimitador nestes casos são limitações geográficas. Já se o foco de estudo ou gestão fosse a soja ou o milho, por exemplo, a análise seria, então, do agronegócio da soja ou agronegócio do milho. Nestes casos, o complemento delimitador são matériasprimas de base. 20 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Fonte: shutterstock.com Fonte: shutterstock.com Caso fosse, por exemplo, o etanol, ou a farinha de trigo, a análise seria do agronegócio do etanol ou agronegócio da farinha de trigo. Aqui o complemento delimitador são produtos finais. Fonte: shutterstock.com E, se os focos fossem, por exemplo, o leite e o Estado de Minas Gerais, a análise seria do agronegócio do leite em Minas Gerais. Neste caso, os complementos delimitadores são uma matéria-prima de base e a limitação geográfica. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 21 Fonte: shutterstock.com Como você pôde perceber, estes diferentes níveis de análise em estudos e/ou em gestão de Sistemas Agroindustriais, embora tratem do mesmo problema, “[...] representam espaços de análise diferentes e prestam-se a diferentes objetivos”. (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p. 32). OS AGENTES QUE COMPÕEM OS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Os agentes, como denomina Zylbersztajn (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), ou atores, como denominam Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001), que compõem os Sistemas Agroindustriais podem ser separados em seis conjuntos: i) produção primária: formada pelos agentes atuantes na geração de matéria-prima para as agroindústrias, sendo subdividida nos seguintes setores e respectivos agentes (normalmente denominados “produtores”): a) agricultura, cujo agente é denominado agricultor (ou produtor rural ou lavrador); b) pecuária – bovinocultura (criação de bois de corte e/ou de leite), suinocultura (criação de suínos), ovinocultura (criação de ovelhas de corte, leite e/ou extração de lã), caprinocultura (criação de cabras), ranicultura (criação de rãs), avicultura (criação de aves de corte e/ou ovos), apicultura (criação de abelhas), sericultura (criação de bicho da seda) - cujo agente é denominado pecuarista. Como existem diversos tipos de gados, os diferentes pecuaristas recebem diversas denominações, como bovinocultor (quem exerce a bovinocultura), suinocultor (quem exerce a suinocultura), avicultor (quem exerce a avicultura), por exemplo; c) pesca, cujo agente é denominado pescador; d) piscicultura (criação de peixes), cujo agente é denominado piscicultor; 22 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância e) extrativismo florestal – coleta de frutos, sementes, cascas, raízes e plantas da mata, derrubada de árvores para obtenção de madeira e celulose, extração de palmito, retirada do látex da seringueira - cujo agente é denominado extrativista. ii) agroindústrias – formadas pelos agentes que atuam na transformação dos produtos da produção primária, naturais ou manufaturados, para a sua utilização intermediária ou final (LAUSCHNER, 1995): a) indústrias alimentares e de bebidas; b) indústrias não alimentares: exploração florestal, indústrias de fumo, couros e peles (roupas, sapatos, objetos em geral), têxtil, móveis, papel e papelão, biodiesel, óleos não comestíveis. iii) distribuição agrícola e agroalimentar: formada pelos agentes que possuem por função distribuir os produtos dos Sistemas Agroindustriais, assim subdivididos: a) varejo, tanto de venda física quanto digital: formado por grandes cadeias transnacionais, cadeias nacionais e locais de distribuição; b) atacado, tanto de venda física quanto digital; c) restaurantes, bares; d) hotéis etc. iv) comércio internacional. v) consumidor: ponto final para onde converge o fluxo dos produtos do Sistema Agroindustrial. vi) indústrias e serviços de apoio: formados pelos agentes que fornecem produtos e serviços que apoiam a produção primária, as agroindústrias e/ou a distribuição: a) transporte; b) combustíveis; c) indústria química; c) indústria mecânica; d) indústria eletrodoméstica; e) embalagens; f) outros serviços. Alguns destes agentes merecem ser detalhadamente analisados, tendo algumas de suas características identificadas e tratadas, pois a análise dos Sistemas Agroindustriais “[...] passa necessariamente pelo PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 23 estudo e identificação dos agentes que o compõem” (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p.16). PRODUÇÃO PRIMÁRIA A produção primária, composta pela agricultura, pecuária, pesca, piscicultura e extrativismo florestal, representa um dos elos com mais conflitos nos agronegócios e de crescente complexidade (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p.19). Alguns motivos apresentados por Zylbersztajn (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), podem justificar os conflitos e a complexidade dos agentes que atuam na produção primária: i) estes agentes estão distantes do consumidor final; ii) possuem informações assimétricas; iii) são, normalmente, dispersos geograficamente; iv) são, normalmente, bastante heterogêneos. A heterogeneidade dos agentes da produção primária se dá, principalmente, porque estes podem ser divididos em dois tipos, conforme a extensão de terra em que produzem e os recursos financeiros que dispõem: i) minifundiários: produtores que contam com áreas pequenas de terra e poucos recursos financeiros são os micros e pequenos produtores, normalmente dedicados à agricultura familiar; ii) latifundiários: produtores proprietários ou arrendatários de grandes extensões de terra e muitos recursos financeiros. A complexidade da produção primária faz com que os seus agentes tenham que lidar com aspectos técnicos, mercadológicos, de recursos humanos e recursos ambientais. AGROINDÚSTRIAS As agroindústrias compostas pelas indústrias alimentares e de bebidas pelas indústrias não alimentares, “trata-se de um conjunto de atividades exercidas por empresas de portes variados, desde empresas familiares até grandes conglomerados internacionais [...]” (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 18). Segundo Araújo (2005), essas atividades correspondem às etapas de beneficiamento, processamento e transformação dos produtos da produção primária, naturais ou manufaturados, até a embalagem, prontos para a comercialização, para a sua utilização intermediária ou final (LAUSCHNER, 1995). 24 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Estes agentes podem ser classificados nos seguintes tipos (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) e (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001): i) agroindústrias de primeira transformação: que adicionam atributos ao produto, sem transformá-lo; ii) agroindústrias de segunda transformação: quando o produto sofre uma transformação física; iii) agroindústrias de terceira transformação. Para exemplificarmos agroindústrias de primeira, segunda e terceira transformação, tomemos, por exemplo, o Sistema Agroindustrial de Frutas. A extração da polpa e do suco concentrado, assim como o processamento mínimo desta fruta - lavagem, processamento (descasque, corte, fatiamento), sanitização, embalagem entre outros, a depender do produto, conforme Oliveira, Srur e Vacari (2003), são exemplos de agroindústrias de primeira transformação. A produção de sucos prontos para consumo, doces, geleias e frutas em compota ou em calda, são exemplos de agroindústrias de segunda transformação. Já como exemplos de agroindústrias de terceira transformação, podem-se citar os bolos recheados com doces, geleias e frutas em compota ou em calda. DISTRIBUIÇÃO AGRÍCOLA E AGROALIMENTAR A distribuição agrícola e agroalimentar “[...] passou a ser altamente especializada e realizada por agentes com diferentes características” (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 17), que podem ser subdivididos em: varejo; atacado, restaurantes, bares e hotéis. No caso da ligação entre a agroindústria e o consumidor final, têm-se tanto as grandes cadeias transnacionais, quanto cadeias nacionais e locais de distribuição. Além disso, esta distribuição ocorre tanto por meio da venda física quanto da digital. Entre os agentes da distribuição agroalimentar, merecem destaque o varejo e o atacado. O Varejo O varejo agroalimentar é formado por diversos agentes e caracterizado por intensa competição entre as empresas. Pode-se citar como exemplos desses agentes os hipermercados, supermercados, padarias, panificadoras, mercearias, açougues, adegas, feiras do produtor, empórios, lojas de conveniência e postos de combustível entre outros. A importância do varejo no Sistema Agroindustrial reside no fato de que este agente tem grande contato PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 25 com o consumidor final, o que “[...] permite ao agente especializado ter grande poder de coordenação do Sistema Agroindustrial, seja por exercer poder de barganha, seja por ter acesso privilegiado às informações a respeito das preferências dos consumidores” (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 17). O Atacado A função do atacado na distribuição agroalimentar é “concentrar os produtos e permitir que os agentes varejistas se abasteçam”, por isso são entendidos como centrais de distribuição ou plataformas centrais de distribuição (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 18). Estas centrais de distribuição podem ser tanto públicas quanto privadas. Quanto à variedade de produtos que distribuem, podem classificar-se em: • centrais de distribuição multiprodutos; • centrais de distribuição especializada em produtos (também denominada mercados alternativos especializados em produtos específicos). Nos últimos anos, o agente atacadista tem sofrido algumas transformações (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 18): • muitas cadeias varejistas passaram a ter sua própria central de distribuição; • surgiram muitas centrais de distribuição especializadas em produtos; • cresceu a formação de contratos entre os supermercados e os agentes da produção primária, em especial de produtos frescos; • cresceu o número de contratos entre as agroindustriais e o varejo. Estas duas últimas mudanças indicam uma diminuição do atacado na distribuição agroalimentar, enquanto que a primeira mudança indica uma redução das centrais públicas. Quanto às centrais de distribuição especializada em produtos, essas passam a ter maior eficiência quando comparadas com as centrais de distribuição multiprodutos. A dinâmica de relacionamento entre os diversos agentes que compõem os Sistemas Agroindustriais determina a dinâmica de funcionamento desses Sistemas. Na medida em que as relações entre os agentes que compõem os Sistemas Agroindustriais mudam, seja por intervenções externas, seja por mudanças tecnológicas, de legislação, por exigências dos consumidores ou devido à concorrência, os Sistemas Agroindustriais mudam. As mudanças constantes nos Sistemas Agroindustriais exigem que estes sejam constantemente coordenados, por parte de seus pesquisadores e/ou gestores, para garantir sua organização, eficiência, produtividade, qualidade, eficácia 26 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância na agregação de valor e, consequentemente, sua competitividade. COORDENAÇÃO DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS IMPORTÂNCIA DA COORDENAÇÃO DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS O consumidor é o ponto para onde convergem os produtos dos Sistemas Agroindustriais. Esse adquire os produtos finais para atender suas necessidades, “[...] que variam de acordo com a renda, preferências, faixa etária e expectativa entre outros aspectos [...]” (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 16). Os consumidores têm apresentando algumas mudanças nos seus hábitos e padrões de consumo nos últimos anos, tais como as apontadas por Zylbersztajn (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES 2000): • globalização dos hábitos e padrões de consumo; • preocupação com qualidade e aspectos de saúde; • valorização do tempo; • preocupação ambiental, tanto com a embalagem do produto quanto com sua tecnologia de produção; • preocupação com criação e abate de animais; • preocupação com padrões de produção socialmente equilibrados. Assim, qualidade, aspectos de saúde, questões ambientais, de tecnologia, de criação e abate animal, trabalho infantil e questões de responsabilidade social passam a fazer parte do processo de compra por parte do consumidor. As mudanças nos hábitos e padrões de consumo fazem com que os atributos que os consumidores valorizam nos produtos, para decidir a comprar, se alterem. Essas mudanças também levam a uma maior exigência por informação por parte do consumidor. Isto tudo, aliado ao fato de que os consumidores normalmente estão distantes da etapa de produção, demanda grande coordenação entre os agentes dos Sistemas Agroindustriais e o estabelecimento de relações bastante complexas entre eles (ZYLBERSZTAJN apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). A coordenação dos agentes dos Sistemas Agroindustriais está diretamente relacionada à competitividade dos Sistemas, pois permite receber, processar, difundir e utilizar informações sobre o Sistema e seus agentes, de modo a definir e viabilizar estratégias competitivas, reagir a mudanças no meio ambiente e aproveitar oportunidades de mercado (CORRÊA; SILVA, 2006). Assim, a coordenação tem maior importância em Sistemas Agroindustriais inseridos em mercados PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 27 internacionais ou expostos a constantes pressões por parte dos consumidores. DEFINIÇÕES DE COORDENAÇÃO DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Quando o nível de análise dos Sistemas Agroindustriais se der em termos de Cadeias de Produção Agroindustriais, a coordenação do Sistema Agroindustrial (ou coordenação da Cadeia de Produção Agroindustrial) pode ser entendida como: i) “[...] um processo dinâmico para promover explicitação de normas de relacionamentos vigentes” (CORRÊA; SILVA, 2006, não paginado); ii) a habilidade de transmitir estímulos, informações e controles ao longo de um Sistema Agroindustrial (ZYLBERSZTAJN; FARINA, 1999). A partir destas definições, é possível perceber que a eficácia em promover as normas dos relacionamentos entre os agentes e em transmitir este fluxo de estímulos, informações e controles garante a harmonia entre os agentes envolvidos, ou seja, garante a eficácia da coordenação. DINÂMICA DE COORDENAÇÃO MECANISMOS DE GOVERNANÇA DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS E Os mecanismos de coordenação dos Sistemas Agroindustriais, como afirmam Corrêa e Silva (2006), são usados por todos os agentes da Cadeia para definir suas estratégias competitivas, podendo ser usados também para sustentar cooperações interorganizacionais. O processo de coordenação pode ser alcançado pela aplicação de mecanismos de governança, usados nas interações entre todos os agentes de um Sistema Agroindustrial (CORRÊA; SILVA, 2006). Os mecanismos de governança são utilizados para regular as transações entre os agentes e têm por função os custos de transação (assunto que iremos ver detalhadamente na unidade III do nosso Livro) (AZEVEDO, 1999). Os mecanismos de governança podem ser divididos em cinco categorias, adaptadas das categorias de coordenação vertical propostas por Peterson e Wysocki (1997): i) relações mercado spot – mercado em que a realização de transações multilaterais se dá por meio de leilão eletrônico de contratos padronizados de curto prazo, para compra e venda de produtos e de capacidade de transportes destes produtos; ii) relações contratuais, de curto, médio e longo prazos; iii) alianças estratégicas; 28 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância iv) cooperação formal; v) integração vertical. Para Peterson e Wysocki (1997), a adoção de um mecanismo ou outro depende: • dos interesses dos agentes; • das características de curto ou longo prazo das relações entre os agentes envolvidos; • do comportamento oportunístico ou divisão de benefícios; • da disponibilidade de informações; • da flexibilidade versus estabilidade econômica dos agentes, e/ou; • da independência versus interdependência entre os diferentes agentes dos Sistemas Agroindustriais, quanto as suas necessidades de recursos. Quanto mais bem definida for a Coordenação dos Sistemas Agroindustriais, mais organizados, eficientes, produtivos e de qualidade os Sistemas serão. CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramos esta unidade, que teve como um dos seus objetivos apresentar as definições utilizadas em estudos e/ou na gestão dos Sistemas Agroindustriais. No Quadro 3, por mim elaborado, relembramos essas definições. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 29 Quadro 3 - Definições utilizadas em estudos e/ou gestão dos Sistemas Agroindustriais Termos Autores Castro (2000) AGRONEGÓCIO Callado (2006) Davis e Goldberg (1957 apud BATALHA; SILVA, 2001, p. 27). COMMODITY Goldberg (1968) SISTEMA AGROINDUSTRIAL (SA) Batalha e Silva (apud BATALHA 2001, p.30) COMPLEXO AGROINDUSTRIAL Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001) CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL (CPA) Parent (1979, apud BATALHA; SILVA, 2001, p. 41) COORDENAÇÃO DO SA (ou DA CPA) Corrêa; Silva (2006) Zylbersztajn; Farina (1999) Definição Um conjunto, entendido como um sistema composto de operações e processos de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização de insumos e produtos agropecuários e agroflorestais, incluindo instituições ligadas pelos objetivos comuns de suprir o consumidor final de produtos de origem agropecuária e agroflorestal. Um conjunto de empresas que produzem insumos agrícolas, as propriedades rurais, as empresas de processamento e toda a distribuição. “a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles”. Os produtos de origem primária, ou seja, em estado bruto, ou com baixo grau de industrialização que são produzidos em grandes volumes por uma diversidade de produtores e que podem ser estocados por um determinado período sem perda de qualidade. “[...] o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção dos insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (queijo, biscoitos, massas etc.) ao consumidor”. Um conjunto de cadeias de produção agroindustriais, cada uma delas tendo seu conceito associado a um produto final ou família/linha de produtos finais. A soma de todas as operações de produção e de comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primas agroindustriais de base a um produto agroindustrial final. “[...] um processo dinâmico para promover explicitação de normas de relacionamentos vigentes, trazendo uma harmonia entre os agentes dos segmentos envolvidos [...]” a habilidade de transmitir estímulos, informações e controles ao longo de um Sistema Agroindustrial. Fonte: elaborado pelo autor Estudamos, também, as correntes metodológicas utilizadas em estudos e/ou na gestão dos Sistemas Agroindustriais. Foi possível perceber que essas correntes metodológicas estabelecem as origens históricas dos estudos dos Sistemas Agroindustriais e remetem às definições e conceitos utilizados no dia a dia dos profissionais do Agronegócio. Nesta unidade, você pôde entender a dinâmica de coordenação dos Sistemas Agroindustriais e as relações entre os agentes envolvidos. Entender esta dinâmica e essas relações é extremamente importante para o 30 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância profissional do Agronegócio, pois possibilita analisar tendências em qualquer segmento do Agronegócio ou em qualquer Cadeia de Produção, tornando-o capaz de selecionar e aplicar as ferramentas empresariais mais adequadas à gestão do Agronegócio. Acesse o link: <http://www.youtube.com/watch?v=9PgTMdgvpEE>,evejaquenestareportagemépossívelver uma descrição do Sistema Agroindustrial do leite, em termos da Cadeia de Produção do leite. Nesta descrição, épossívelidentificarváriosagentesdesteSistema:produçãoprimária–pecuária–bovinoculturadoleite,do tipo agente minifundiário; agroindústria – laticínio; distribuição agroalimentar – panificadoras, supermercados emercearias;consumidor.TambémépossívelidentificarnareportagemváriosprodutosderivadosdoSistema Agroindustrial do leite, quando o nível de análise se dá em termos do Complexo Agroindustrial do Leite, além de aspectos técnicos da produção primária, como a ordenha. APLIcAÇÕES DA NOÇÃO DE cADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL • “No Brasil, as aplicações recentes da noção de cadeia agroindustrial podem ser divididas, grosso modo, em dois grupos principais” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p.26). • “O primeiro deles reúne uma série de estudos situados no espaço analítico delimitado pelos contornos externos da cadeia produtiva” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p.26). • “Essestrabalhosbuscamidentificareventuaisdisfunções(comerciais,econômicas,tecnológicas,logísticas elegaisetc.)quecomprometamofuncionamentoeficientedacadeia”(BATALHA;SILVAapud BATALHA, 2001, p.26). O segundo grupo: estudos sobre a coordenação e governança das Cadeias de Produção Agroindustrial • “Grande atenção tem sido dada aos mecanismos de coordenação da cadeia e sua estrutura de governança” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p.26). • “[...] Os principais resultados desses estudos têm sido a proposição de políticas públicas e privadas que teriam como objetivo aumentar o nível de competitividade do conjunto da cadeia produtiva” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p.26). NOÇÃO DE cADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL cOMO FERRAMENTA DE GESTÃO EMPRESARIAL • “Uma faceta menos explorada na utilização da noção de cadeia produtiva é seu emprego como ferramenta degestãoempresarialdasfirmasagroindustriais”(BATALHA;SILVAapud BATALHA, 2001, p.26). • Nestas citações de Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001, p. 26), os autores expõem que: no Brasil, a noção de Cadeia de Produção Agroindustrial e, consequentemente, de Sistemas Agroindustriais e Agronegócio, temsidopoucousadacomoumaferramentadegestãoempresarialdasfirmasagroindustriais. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 31 Destaforma,reflitaetenteseresponder: 1) QualaimportânciadoCursodeMBAemAgronegócioquevocêestácursando? 2) Comoutilizarasdefiniçõeseconceitosqueestudamosnestaunidade,emseudiaadiaprofissional? Fonte:BATALHA,MárioOtávio;SILVA,AndreaLagoda.GerenciamentodeSistemasAgroindustriais:Definições e Correntes Metodológicas. In: BATALHA, Mário Otávio (Coord.) Gestão Agroindustrial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 2v. v.1. Sinopse: Os dois volumes desta obra apresentam uma abordagem sistêmica dos estudos e/ou gestão dos Sistemas Agroindustriais, o que é uma tendência em estudos e/ou gestão do agronegócio. No Volume I, são inicialmenteapresentadasasprincipaisdefiniçõesecorrentesmercadológicasligadasaoestudodosSistemas Agroindustriais. Depois, os nove capítulos seguintes tratam da gestão do Sistema Agroindustrial, discutindo os principaisaspectosdestagestão,apresentando,conceitos,definições,atividadeseoperaçõesdegestão,bem como técnicos, ferramentas e métodos aplicados ao estudo e/ou gestão dos Sistemas Agroindustriais: comercialização de produtos agroindustriais; marketing estratégico aplicado ao agronegócio; logística agroindustrial; gestão estratégica do comércio varejista de alimentos; planejamento e controle da produção; sistemas de apuração de custos; gestão da qualidade na agroindústria; projeto de produtos agroindustriais; gestão da produção rural no agronegócio. Além disso, no Volume I trata-se, em capítulos, de desenvolvimento agrícola sustentável, agronegóciocooperativo,finalizandocomumcapítulosobreasconcepçõessobreodesenvolvimentodaagricultura brasileira. ZYLBERSZTAJN,Décio;NEVES,MarcosFava(Org.)Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. 32 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Sinopse: Nesta obra, o Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa) da Universidade de São Paulo (USP) discute, em 18 capítulos e um apêndice, os aspectos Econômicos e de Competitividade e Gestão dos Negócios Agrolimentares, em sua dimensão contemporânea, numa perspectiva de cadeia de produção. A evolução do assunto no Brasil e no mundo e seus desdobramentos na atualidade são apresentados. São apresentados os conceitos necessários para a compreensão das cadeias de produção. Apresenta-se também, os vários aspectos do funcionamento e da gestão das cadeias de produção: organização industrial; concorrência; política financeira; marketing; competitividade; perfil organizacional; transporte e logística; mercados futuros; cooperativismo; gestão ambiental; gerenciamento de tecnologia; leilões; licitações públicas; produtos diferenciados; presença internacional. Fonte: BATALHA, Mário Otávio. (Coord.) Gestão Agroindustrial. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2007. 2v. v.1. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO Para melhor fixação e aprendizagem do conteúdo, conceitos e definições desta unidade, responda as questões a seguir. 1)QuaisasduasprincipaiscorrentesmetodológicasquedefinemosestudosdosSistemasAgroindustriais? 2) Defina: agronegócio; commodity; sistema agroindustrial; complexo agroindustrial e cadeia de produção agroindustrial. 3)Quaissãoosníveisdeanáliseemestudose/ouemgestãodeSistemasAgroindustriais?Quaisos pontosdepartidaparaosconceitosrelacionadosaestesníveisdeanálise? 4)QuaissãoosagentesquecompõemosSistemasAgroindustriais? PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 33 34 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância UNIDADE II CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL Professora Me. Thays Josyane Perassoli Boiko Objetivos de Aprendizagem • Enfatizar a origem e a importância do conceito de cadeia de produção. • Apresentar as definições e conceitos de cadeia de produção e Cadeia de Produção Agroindustrial. • Listar as aplicações do conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial. • Apresentar os mercados típicos identificados em uma Cadeia de Produção Agroindustrial. • Apresentar os ambientes de Cadeias de Produção Agroindustriais. • Analisar os aspectos que envolvem o conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • O Início da Utilização do Termo Cadeia de Produção Agroindustrial no Brasil – Um Breve Histórico • Conceituação e Definições de Cadeia de Produção Agroindustrial • Aplicações do Conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial • Mercados Típicos Identificados em uma Cadeia de Produção Agroindustrial • Setores das Cadeias de Produção Agroindustrial • Ambientes das Cadeias de Produção Agroindustrial • Aspectos das Cadeias de Produção Agroindustriais INTRODUÇÃO Na unidade I, nós estudamos sobre Sistemas Agroindustriais, correntes metodológicas, os principais conceitos e definições utilizados, sobre os agentes dos Sistemas Agroindustriais e sobre a coordenação desses Sistemas. Entre os conceitos e definições estudados, estava o de Cadeia de Produção Agroindustrial. O conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial parte da identificação de um produto final, por isto é bastante usado nos estudos e/ou na gestão do Agronegócio. Por isso, nesta unidade o seu estudo estará focado nos conceitos e definições de Cadeia de Produção Agroindustrial, nas aplicações desses conceitos, nos mercados típicos identificados em uma Cadeia, nos setores, nos seus ambientes e nos aspectos das Cadeias, que influenciam diretamente em sua gestão. Vamos iniciar esta unidade vendo um breve histórico da utilização do termo Cadeia de Produção Agroindustrial no Brasil. Então, vamos aos nossos estudos. Espero que você aproveite! O INÍCIO DA UTILIZAÇÃO DO TERMO CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL NO BRASIL – UM BREVE HISTÓRICO O conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial foi utilizado pela primeira vez no Brasil nos Anos de 1990, no processo de planejamento estratégico da Embrapa. Neste momento, segundo Castro, Lima e Cristo (2002), a Embrapa buscava um foco conceitual para lidar com o ambiente externo e determinar o seu planejamento estratégico, buscando uma mudança institucional. O objetivo central era rever quem eram os seus clientes, para incluir novos agentes. O conceito de agribusiness do trabalho de Davis e Goldberg (1957) foi utilizado e, nos anos seguintes, introduzido no Brasil com as seguintes denominações: complexo agroindustrial, negócio agrícola e agronegócio. Assim, o conceito de Agronegócio passou a ser definido no Brasil em relação ao que ocorre em todos os processos interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura e não apenas em relação ao que ocorre dentro dos limites da propriedade rural. CONCEITUAÇÃO E DEFINIÇÕES DE CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL A definição de Cadeia de Produção Agroindustrial parte da definição de Cadeia de Produção, termo PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 37 adotado por Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001), também denominada, na literatura, de Cadeia Produtiva, termo adotado por Castro (2000) e Souza et al. (2003). Neste Livro adota-se o termo Cadeia de Produção, que pode ser definido como: “a soma de todas as operações de produção e de comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primas de base a um produto final, isto é, até que o produto chegue às mãos de seu usuário (seja ele um particular ou uma organização)” (PARENT, 1979 apud BATALHA; SILVA, 2001, p. 41). “[...] uma sucessão linear de operações técnicas de produção” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p. 41). A partir dessas definições, você pode perceber que as Cadeias de Produção podem ser entendidas como um conjunto de componentes interativos, que incluem sistema de produção, fornecedores de insumos e serviços, indústrias de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização. Assim, a partir da definição de Cadeia de Produção, pode-se definir Cadeia de Produção Agroindustrial como a soma de todas as operações de produção e de comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primas agroindustriais de base a um produto agroindustrial final. Na Figura 1, apresenta-se uma ilustração de uma Cadeia de Produção Agroindustrial típica e genérica. MERCADOS ENTRE OS PRODUTORES DE INSUMOS E SERVIÇOS DE APOIO E OS PRODUTORES RURAIS FORNECEDORES E INSUMOS E SERVIÇOS DE APOIO SETOR ANTES DA PORTEIRA PRODUTORES RURAIS Sistemas de produção 1, 2, ..., n. SETOR DENTRO DA PORTEIRA MERCADOS ENTRE OS PRODUTORES RURAIS E AS AGROINDÚTRIAS AGROINDÚSTRIAS MERCADOS ENTRE AS AGROINDÚSTRIAS E OS DISTRIBUIDORES DISTRIBUIDORES MERCADOS ENTRE OS DISTRIBUIDORES E OS CONSUMIDORES FINAIS CONSUMIDOR Fluxo de Materiais SETOR DEPOIS DA PORTEIRA Fluxo de Capital Figura 1 - Uma Cadeia de Produção Agroindustrial Típica e Genérica Fonte: Adaptado de Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001) Nas Cadeias de Produção Agroindustriais, os sistemas de produção (ou sistemas produtivos) 38 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância correspondem a um conjunto de componentes interativos, que tem por objetivo a produção de alimentos, fibras, recursos energéticos e outras matérias-primas de origem agroindustrial, sendo um subsistema da Cadeia (CASTRO, 2000). APLICAÇÕES DO CONCEITO DE CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL Entender o conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial é extremamente importante, devido às várias aplicações deste conceito. Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001), baseando-se em Morvan (1988), afirmam que a literatura aponta cinco principais utilizações para o conceito de Cadeia de Produção. Assim, eles listam e detalham as seguintes aplicações: i) Cadeias de Produção Agroindustriais como metodologia de divisão setorial do sistema produtivo: esta utilização do conceito de Cadeias de Produção Agroindustrial consiste na tentativa de explicar a formação de ramos e setores, dentro do sistema produtivo. ii) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de formulação e metodologia de análise de políticas públicas e privadas: esta utilização consiste fundamentalmente em “[...] identificar os elos fracos de uma cadeia e incentivá-los através de uma política adequada”, conforme Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001, p. 40) e ter uma visão global da Cadeia, evidenciando como ter uma melhor coordenação entre seus agentes. iii) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de formulação e metodologia de análise de estratégias organizacionais e setoriais: esta utilização busca analisar como as organizações (agentes), dentro de uma Cadeia de Produção Agroindustrial, formulam suas estratégias frente à concorrência, buscando defender-se ou colocar-se em uma melhor situação. Esta utilização também busca analisar as relações tecnológicas e econômicas entre os agentes de uma cadeia. iv) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de descrição técnica e econômica: esta utilização busca descrever as questões técnicas – “[...] operações de produção responsáveis pela transformação da matéria-prima em produto acabado ou semi acabado” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, pp. 40-41). E analisar as “[...] relações econômicas que se estabelecem entre os agentes formadores da cadeia” (BATALHA; SILVA apud BATALHA, 2001, p. 41). v) Cadeias de Produção Agroindustriais como metodologia de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisão tecnológica: esta utilização busca estudar como se dá o processo de inovação tecnológica ao longo das Cadeias, quais os mecanismos utilizados no processo de inovação tecnológica e como ela altera a dinâmica de concorrência. Castro, Lima e Cristo (2002) listam as seguintes aplicações do conceito: i) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de desenvolvimento setorial. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 39 ii) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de formulação de políticas públicas. iii) Cadeias de Produção Agroindustriais como fóruns e câmaras de negociação entre elos das cadeias produtivas. iv) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de gestão de pesquisa e desenvolvimento e inovações tecnológicas. v) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de gestão de eficiência (produtividade e custo). vi) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de gestão da qualidade (diferenciação). vii) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de gestão da sustentabilidade ambiental. viii) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de gestão de mercados e oportunidades. ix) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de gestão de contratos. x) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de gestão da comunicação e da informação. xi) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de melhoria da base de informações (bibliografia, sites, bases de dados). xii) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de conscientização de lideranças. xiii) Cadeias de Produção Agroindustriais como ferramenta de melhoria da imagem e sustentabilidade institucional. Após analisar as aplicações do conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial, podemos perceber que estas podem ser resumidas em três grupos de aplicações: i) Ferramentas: de formulação, desenvolvimento, gestão, melhoria e de conscientização. ii) Metodologia: divisão setorial e análise. iii) Fóruns e câmaras de negociação. Além de ser importante estudar Cadeias de Produção Agroindustrial, devido às várias aplicações deste conceito, é importante também estudá-las, pois este estudo, como afirma Souza et al. (2003), leva à compreensão da estrutura, do funcionamento, dos mercados e agentes das Cadeias, bem como compreender a interação entre estes agentes. 40 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância MERCADOS TÍPICOS IDENTIFICADOS EM UMA CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL Em uma Cadeia de Produção Agroindustrial típica podem, segundo Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001), ser identificados, no mínimo, quatro mercados com diferentes características: i) mercados entre os produtores de insumos e os produtores rurais; ii) mercados entre os produtores rurais e as agroindústrias; iii) mercados entre as agroindústrias e os distribuidores (atacadistas e varejistas); iv) mercados entre os distribuidores e os consumidores finais. Atualmente, é bastante comum as empresas distribuírem seus produtos diretamente aos consumidores, por meio de lojas e venda próprias, o que caracterizaria um quinto mercado: v) um mercado entre agroindústrias e consumidores finais. SETORES DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL As atividades das Cadeias de Produção Agroindustrial podem ser agrupadas em setores ou seguimentos, quando o foco de estudo for a produção rural. O seguinte agrupamento, que representa uma concepção de Cadeias de Produção Agroindustrial, proposta por Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001), é utilizado: i) antes da porteira: se caracteriza pelos insumos e serviços indispensáveis à produção rural, tais como própria pesquisa científica, a extensão rural, os fertilizantes, defensivos, os corretivos, as sementes, as máquinas e equipamentos, o crédito e o seguro rural; ii) dentro da porteira: engloba o conjunto de atividades desenvolvidas dentro das propriedades rurais, é a produção rural propriamente dita, envolvendo preparo e manejo de solos, tratos culturais, irrigações, colheitas, criações etc; iii) depois da porteira: contém o transporte da produção, sua armazenagem, a industrialização, embalagem, distribuição e comércio interno ou externo. A definição de Cadeias de Produção Agroindustriais parte do mercado, ou seja, do cliente, se encadeando de jusante a montante passando por todas as operações de produção, técnicas, comerciais e logísticas que originam um produto final agroindustrial, ponto de partida para a análise das Cadeias (SOUZA et al., 2003). Sendo que a jusante é o ponto para onde convergem os produtos de uma Cadeia de Produção Agroindustrial, ou seja, o consumidor. Enquanto que a montante é o ponto em que inicia uma ou mais PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 41 Cadeias de Produção Agroindustrial. Para realizar uma análise de Cadeias de Produção Agroindustriais, deve-se considerar a existência de seus ambientes. AMBIENTES DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS Os ambientes institucional, organizacional e empresarial são descritos por Souza et al. (2003) como sendo das Cadeias de Produção Agroindustriais. Na Figura 2 esses ambientes estão representados. Ambiente institucional Universidades e escolas técnicas Instituições governamentais (Três poderes) Órgão de normalização e fiscalização Ambiente empresarial Instituições de fomento e investidores Centro de pesquisa e tecnologia CADEIA PRODUTIVA Pequenas, médias e grandes empresas Economia informal Organizações nãogovernamentais Comunidade e mercado local Associações, cooperativas e sindicatos Ambiente organizacional Figura 2 – Ambientes institucional, organizacional e empresarial das Cadeias de Produção Agroindustriais Fonte: Extraída de Souza et al. (2003, p.4) O Ambiente Institucional compõe-se dos fatores que diferenciam a sociedade, tais como leis federais, estaduais e municipais, políticas setoriais, além dos costumes, cultura, etnia e tradições. O Ambiente Institucional envolve o Ambiente Organizacional. O Ambiente Organizacional é constituído das estruturas criadas para dar suporte/apoio às Cadeias de Produção Agroindustriais, tais como universidades, órgãos de pesquisa, de normalização e de fiscalização, associações, cooperativas, sindicatos e as próprias empresas. Estas estruturas atuam de forma coordenada, em grupo e coletiva, discutindo seus interesses no âmbito do Ambiente Institucional. 42 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância O Ambiente Empresarial é formado pelos subsistemas internos das empresas, representados pelos recursos humanos, materiais, financeiros e tecnológicos, pela gestão utilizada diariamente, pelos procedimentos operacionais e pelos sistemas de qualidade e rastreabilidade dos produtos. Entender a dinâmica entre esses ambientes é importante, pois “nesses ambientes encontram-se as oportunidades e ameaças a serem aproveitadas ou neutralizadas pelos agentes da cadeia produtiva” (SOUZA et al., 2003, não paginado). ASPECTOS DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS Castro (2001), Batalha e Souza Filho (apud BATALHA; SOUZA FILHO, 2009) destacam como principais aspectos das Cadeias de Produção Agroindustriais: 1. aspectos climáticos; 2. aspectos de fornecimento; 3. aspectos ambientais; 4. aspectos de armazenagem e transporte; 5. aspectos de qualidade; 6. aspectos de rastreabilidade; 7. aspectos de tecnologia e inovações na produção e processamento; 8. aspectos de comercialização dos produtos e subprodutos. As principais implicações destes aspectos para a Gestão do Agronegócio são descritas a seguir. 1) Aspectos climáticos Um dos aspectos que mais afetam a gestão da produção em Cadeias de Produção Agroindustriais é a dependência da produção rural em relação aos fatores climáticos. Existem dois aspectos em relação aos fatores climáticos: i) fatores ou eventos climáticos que são conhecidos; ii) fatores ou eventos climáticos imprevisíveis, ou seja, que ocorrem por causa de eventos aleatórios, como tempestades e períodos de seca, por exemplo. Esses fatores aumentam os custos de transações entre os agentes dos Sistemas Agroindustriais, pois envolvem questões de risco e incertezas nas relações contratuais. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 43 No caso dos fatores climáticos conhecidos, cada região tem suas próprias condições climáticas, apresentando períodos de safra e de entressafra, ou seja, períodos de abundância de produtos alternados com períodos de falta de produção, salvo raras exceções. Isto leva às seguintes implicações: • variações de preços: mais elevados na entressafra e mais baixos nos períodos de safra; • necessidade de infraestrutura de estocagem e conservação; • períodos de maior utilização de insumos e fatores de produção; • características próprias de processamento e transformação das matérias-primas; • logística mais exigente e mais bem definida. 2) Aspectos de Fornecimento As implicações dos aspetos climáticos da produção rural, juntamente com os aspectos ambientais, de armazenagem e transporte, de qualidade, de identificação e rastreabilidade afetam o fornecimento de insumos e produtos ao longo das Cadeias de Produção Agroindustrial. 3) Aspectos ambientais Um dos aspectos das Cadeias de Produção Agroindustrial que passaram a ser uma das grandes prioridades são os aspectos ambientais, devido a exigências do mercado, regulamentações nacionais e internacionais e possibilidade de esgotamento de alguns recursos. Isto exigirá o que Giordano (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) denomina de Sistema de Gerenciamento Ambiental. O Sistema de Gerenciamento Ambiental é o item geral da administração que se refere aos impactos que os produtos, serviços e operações têm sobre o meio ambiente a curto e longo prazo, envolvendo o comportamento dos seguintes agentes: • consumidores; • o marketing verde: “[...] atividades de marketing que reconhecem o cuidado ambiental como uma responsabilidade no desenvolvimento dos negócios e como uma oportunidade de crescimento nesses negócios” (GIORDANO apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p. 267); • os distribuidores (atacadistas e varejistas); • os produtores de insumos à produção rural; • a produção rural; 44 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância • os serviços de apoio aos Sistemas Agroindustriais; • órgão de certificação e assistência técnica. O Sistema de Gerenciamento Ambiental pode ser composto de três módulos (GIORDANO apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000): i) Planejamento: estabelecimento de prioridades e recursos a serem utilizados em cada atividade. ii) Gerenciamento de Resíduos: cadastramento e classificação (quantitativa e qualitativa) dos resíduos gerados e estocados e seu acondicionamento, escolhendo as alternativas técnicas e econômicas para o destino final. iii) Monitoramento: aferição dos resultados obtidos, controle dos padrões de qualidade alcançados e atendimento das agências de controle ambiental. 4) Aspectos de armazenagem e transporte Os aspectos de armazenagem e transporte estão relacionados à disponibilidade e aos custos dos insumos e produtos das Cadeias de Produção Agroindustrial, afetando diretamente a competitividade em Sistemas Agroindustriais, como afirmam Batalha e Souza Filho (apud BATALHA; SOUZA FILHO, 2009). 5) Aspectos de qualidade A qualidade em Cadeias de Produção pode ser definida como o conjunto de “propriedades e características de um produto, serviço ou processo, que contribuem para satisfazer necessidades explícitas ou implícitas dos clientes intermediários e finais de uma cadeia produtiva e seus componentes” (CASTRO, 2000, não paginado). Essas propriedades e padrões são traduzidos, normalmente, em normas e padrões a serem atingidos pelos produtos e serviços das Cadeias, pelas entradas e saídas dos sistemas de produção e pelas entradas e saídas dos processos administrativos ao longo das Cadeias. Essas propriedades e padrões podem referir-se: • a um atributo necessário para o uso adequado do produto e seu manejo; • propriedades físicas (como peso, cor, método de conservação, embalagem etc); • propriedades químicas (como pureza, teor de açúcar); • propriedades nutricionais; • estabilidade do produto; • propriedades organolépticas (apresentação visual, aroma, sabor, textura); PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 45 • atributos especiais: saudável, social e ecologicamente correto, com propriedades funcionais especifícas (como acréscimo de vitaminas e sais minerais). 6) Aspectos de identificação e rastreabilidade Os aspectos de segurança e qualidade dos alimentos passaram a ser uma constante preocupação por parte dos consumidores. Essa preocupação teve sua origem na “doença da vaca louca” (Bovine Spongiform Encephalopathy - BSE), na Europa, na polêmica sobre os organismos geneticamente modificados, nos riscos de proliferação da Influenza Aviária (H5N1) e demais problemas de contaminação de alimentos (LEONELLI; TOLEDO, 2006). Esta constante preocupação com a segurança e qualidade dos alimentos tem estimulado a adoção de mecanismo de identificação e rastreabilidade nas Cadeias de Produção Agroindsutrial (JANK apud ZYLBERSTAJN, 2003). A definição mais utilizada nos trabalhos, que de alguma forma tratam de rastreabilidade, é a da International Organization for Standardization (ISO) (apud VILHOLIS; AZEVEDO, 2002, não paginado), que define rastreabilidade como a “capacidade de recuperação do histórico, da aplicação ou da localização de uma atividade, ou um processo, ou um produto ou uma organização, por meio de identificações registradas”. A seguinte tipologia, descrita por Leonelli e Toledo (2006), dos sistemas de identificação e rastreabilidade, constituem um sistema integrado de rastreabilidade para as Cadeias de Produção Agroindustrial: a) Rastreabilidade de Produto: cujo objetivo é determinar a localização física do produto em qualquer estágio da Cadeia. b) Rastreabilidade de processo: cujo objetivo é identificar o tipo e a sequência de atividades pelas quais o produto percorreu, incluindo as etapas da produção primária, descrevendo o que foi feito, quando e onde. c) Rastreabilidade genética: cujo objetivo é determinar a constituição genética do produto, seja de origem vegetal ou animal. d) Rastreabilidade de insumos: cujo objetivo é determinar o tipo e a origem (características e fornecedor) dos diversos insumos utilizados na produção primária. e) Rastreabilidade de pestes e doenças: cujo objetivo é traçar a epidemiologia de pestes e doenças, presença de bactérias, viroses e outros que possam contaminar os produtos. f) Rastreabilidade de medidas: cujo objetivo é averiguar o resultado de medidas individuais, aceitas como referência-padrão. Este sistema integrado de identificação e rastreabilidade, seja ele informatizado ou não, possibilita, segundo Vinholis e Azevedo (2000), seguir e rastrear diferentes tipos de informações (referentes ao processo, produto, recursos humanos e/ou serviços), a jusante e/ou a montante de um elo da Cadeia ou 46 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância de um departamento interno de uma organização. 7) Aspectos de tecnologia e inovações na produção e processamento Os aspectos de tecnologia e de inovações são, segundo Batalha e Souza Filho (apud BATALHA; SOUZA FILHO 2009) e Waack (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), fatores cruciais para a competitividade em Cadeias de Produção Agroindustrial. As seguintes mudanças nos padrões de conhecimento científicos e tecnológicos são apontadas por Reis e Viégas 2009) como as que mais têm afetado a gestão do Agronegócio nos últimos anos: i) biotecnologia; ii) nanotecnologia; iii) energias eólicas; iv) produtos transgênicos; v) bioengenharia de plantas e animais; vi) bioenergia; vii) desenvolvimento sustentável. Destaca-se também que, atualmente, os conhecimentos científicos e tecnológicos estão praticamente ao alcance de todos os produtores rurais. Existem ainda as tecnologias que afetam os padrões de consumo por parte dos consumidores, como a tecnologia de informação que permite a compra on line via acesso à internet. 8) Aspectos de comercialização dos produtos e subprodutos Os aspectos de comercialização de produtos e subprodutos de Cadeias de Produção Agroindustriais são afetados por três grupos principais de fatores: i) fatores do lado da demanda: • fatores de exigência de qualidade, disponibilidade, diversidade e de informação; • fatores de sazonalidade da demanda, como quando a demanda aumenta em datas específicas, como páscoa, natal ou reveillon, ou de acordo com variações climáticas nas estações do ano (alternância de períodos de seca ou chuva). O impacto dessas variações de demanda compromete diretamente a gestão do Sistema Agroindustrial, afetando o abastecimento dos produtos para o varejo e o atacado. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 47 ii) fatores do lado da concorrência em um mercado globalizado; iii) fatores do lado dos distribuidores varejistas: • fatores oriundos do poder do varejo no canal de distribuição de produtos; • fatores oriundos das diversidades de formatos/tipos de lojas de varejo diferentes; • fatores oriundos da proximidade do varejo com o consumidor final. iv) fatores de perecibilidade e dos prazos de validade dos produtos e subprodutos: A Gestão do Agronegócio envolve o conhecimento e a gestão dos aspectos das Cadeias de Produção Agroindustrial. Esses aspectos afetam a coordenação dos Sistemas Agroindustriais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, nosso estudo focou-se no conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial. Vimos várias definições que são utilizadas em estudos e/ou gestão de Cadeias de Produção Agroindustrial. No Quadro 4, por mim elaborado, podemos relembrar estas definições. Vimos também, nesta unidade um breve histórico que mostra como este conceito passou a ser utilizado no Brasil. Estudamos, ainda, as aplicações do conceito, os mercados típicos identificados em uma Cadeia, os setores, os seus ambientes e os aspectos das Cadeias que influenciam diretamente em sua gestão. Podemos perceber ao fim desta unidade que o entendimento destes pontos possibilita a você compreender e determinar os fatores ou elementos-chave a serem gerenciados nas Cadeias de Produção Agroindustriais, elaborando alternativas estratégicas para o alcance da organização, eficiência, produtividade, da qualidade e da eficácia da agregação de valor em cada segmento das Cadeias, de forma coordenada. O alcance da organização, eficiência, produtividade, qualidade e da eficácia da agregação de valor estão relacionados às necessidades das empresas de conseguirem vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes nos Agronegócios em que estão inseridas. 48 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Isto tudo nos leva ao assunto que vamos tratar na próxima unidade do nosso Livro, a competitividade nos Sistemas Agroindustriais. Quadro 4 - Definições utilizadas em estudos e/ou gestão de Cadeias de Produção Agroindustriais Termos Autores Parent (1979 apud Batalha; Silva, 2001, p.41) CADEIAS DE PRODUÇÃO ou CADEIAS PRODUTIVAS (CP) Batalha e Silva (apud BATALHA 2001, p.41) ------ CP AGROINDUSTRIAL ------ SISTEMAS DE PRODUÇÃO ou SISTEMAS PRODUTIVOS Castro (2000) QUESTÕES TÉCNICAS DAS CP Batalha e Silva (apud BATALHA, 2001, p.41) SISTEMA DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL Definição “a soma de todas as operações de produção e de comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primas de base a um produto final, isto é, até que o produto chegue às mãos de seu usuário (seja ele um particular ou uma organização)” “[...] uma sucessão linear de operações técnicas de produção.” Um conjunto de componentes interativos, que incluem sistema de produção, fornecedores de insumos e serviços, indústrias de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização. A soma de todas as operações de produção e de comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primas agroindustriais de base a um produto agroindustrial final. Um conjunto de componentes interativos, que tem por objetivo a produção de alimentos, fibras, recursos energéticos e outras matérias-primas de origem agroindustrial, sendo um subsistema da Cadeia. “[...] operações de produção responsáveis pela transformação da matéria-prima em produto acabado ou semi acabado”. Giordano (apud ZYLBERSZTA; NEVES, 2000) Item geral da administração que se refere aos impactos que os produtos, serviços e operações têm sobre o meio ambiente a curto e longo prazo, envolvendo o comportamento dos seus agentes. Giordano (apud: ZYLBERSZTA; NEVES, 2000, p. 267) “[...] atividades de marketing que reconhecem o cuidado ambiental como uma responsabilidade no desenvolvimento dos negócios e como uma oportunidade de crescimento nesses negócios.” QUALIDADE EM CP Castro (2000) “propriedades e características de um produto, serviço ou processo, que contribuem para satisfazer necessidades explícitas ou implícitas dos clientes intermediários e finais de uma cadeia produtiva e seus componentes”. RASTREABILIDADE ISO (apud VILHOLIS; AZEVEDO, 2002) “capacidade de recuperação do histórico, da aplicação ou da localização de uma atividade, ou um processo, ou um produto ou uma organização, por meio de identificações registradas”. MARKETING VERDE PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 49 Acesse o link:<http://www.youtube.com/watch?v=zypIhXGW3M0&feature=related>.Comovimosnestaunidade, unsdosaspectosdasCadeiasdeProduçãoAgroindustrialsãoosaspectosdeidentificaçãoerastreabilidade. Nestevídeo,vocêpoderáver,comoexemplo,comoérealizadooprocessodeidentificaçãoerastreabilidadedo café. A IMPORTÂNcIA EM SE ESTUDAR O cONcEITO DE cADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL • “O estudo da cadeia produtiva agroindustrial possibilita que se compreenda sua estrutura e funcionamento e,queseexaminecadaumdosseussegmentos(...)”(SOUZA et al., 2003). • Nesta citação de Souza et al. (2003), os autores falam da importância em se estudar o conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial. Destaforma,reflitaetenteseresponder: 1) Qualaimportânciaparavocê,aluno(a)doCursodeMBAemAgronegócio,emestudarsobreoconceitode CadeiadeProduçãoAgroindustrial? Pense,reflitasobreumacadeiadeproduçãoagroindustrial emparticular,umaquevocê conheça, atuee/ou participe e responda: 1) Qualaestruturadestacadeia:i)Emqual(is)complexo(s)agroindustrial(s)estacadeiaestáinserida,ouseja, quaismatérias-primasdebasesãoorigemdestacadeia?ii)Quaisosagentesenvolvidosnestacadeia? 2)Oconceitodestacadeiatemsidousadocomquaisaplicações? 3) Quaisatividadessãodesenvolvidasemcadaumdossetoresdestacadeia:i)setorantesdaporteira;ii)setor dentrodaporteira;iii)setordepoisdaporteira? 4) Quaissãoosaspectosdestacadeiaquemaisafetamsuacoordenação? Fonte:SOUZA,MarilucePaesde.et al. Governança em Cadeias Produtivas Agroindustriais. CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA,ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL (XLIII SOBER), 43, 2005. Ribeirão Preto, SP. Anais... 2003. 50 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância ZYLBERSTAJN,Décio.GestãodaQualidadenoAgribusiness–estudosecasos. São Paulo: Atlas, 2003. Sinopse: obra que reúne textos dos pesquisadores do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa) da Universidade de São Paulo (USP). Na obra explora-se as novas dimensões de coordenação dos agronegócios em busca da qualidade, enfatizando a atuação dos agentes do sistema agroindustrial. Desta forma, os seguintes temas são discutidos: gestão da qualidade no agronegócio, padronização em sistemas agroindustriais,certificaçãonoagronegócio,rastreabilidadenoagronegócio,segurançadoalimento,opapeldo Estado.Nosseisprimeiroscapítulos,detotalde11,sãoapresentadosconceitos,definições,funções,custos,o papel do estado, do setor público e privado, dimensões, padrões, sistemas e exemplos relacionados aos temas discutidos na obra. Nos 5 últimos capítulos, cases relacionados à qualidade no agronegócio são apresentados. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO Para melhor fixação e aprendizagem do conteúdo, conceitos e definições desta unidade, responda as questões a seguir. 1. Defina: Cadeia de Produção, Cadeia de Produção Agroindustrial, Sistema de produção e cada um dos ambientes das Cadeias de Produção Agroindustriais. 2.QuaisosmercadosquepodemseridentificadosemumaCadeiadeProduçãoAgroindustrialtípica? 3. De onde parte a definição de Cadeias de Produção Agroindustriais e qual o ponto de partida para a análisedeCadeiasdeProduçãoAgroindustriais? 4. Liste: as aplicações do conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial e os aspectos que envolvem as Cadeias de Produção Agroindustriais. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 51 UNIDADE III COMPETITIVIDADE NOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Professora Me. Thays Josyane Perassoli Boiko Objetivos de Aprendizagem • Definir competitividade e concorrência. • Discutir a competitividade nos Sistemas Agroindustriais. • Apresentar as estratégias competitivas utilizadas no Agronegócio. • Listar os blocos de capacidades competitivas utilizadas no Agronegócio. • Discutir a importância da agregação de valor aos produtos das Cadeias de Produção Agroindustrial. • Listar os setores de apoio às Cadeias de Produção Agroindustriais. • Discutir como se formam os custos de transação nos Sistemas Agroindustriais. • Discutir sobre relações contratuais no Agronegócio. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Definição de Competitividade e de Concorrência • Competitividade no Agronegócio, nos Mercados Interno e Externo • Estratégicas Competitivas Utilizadas no Agronegócio • Blocos de Capacidades Competitivas em Sistemas Agroindustriais • Agregação de valor aos Produtos das Cadeias de Produção Agroindustrial • Setores de Apoio às Cadeias de Produção Agroindustrial • Custos de Transação no Agronegócio • Relações Contratuais no Agronegócio INTRODUÇÃO Até o momento nós estudamos sobre Sistemas Agroindustriais, na unidade I, e sobre Cadeia de Produção Agroindustrial, na unidade II. Na unidade I, estudamos conceitos, definições, correntes metodológicas, exemplos sobre os agentes e sobre a coordenação dos Sistemas Agroindustriais. Podemos perceber, nesta unidade, que o alcance da organização, eficiência, produtividade, qualidade e eficácia na agregação de valor nos Sistemas Agroindustriais, que levam a sua competitividade, dependem de sua coordenação. E na unidade II, estudamos os conceitos e definições de Cadeia de Produção Agroindustrial, suas aplicações, mercados típicos, seus ambientes e seus aspectos das Cadeias. Nesta unidade podemos perceber que muitas são as questões de gestão das Cadeias de Produção Agroindustrial que afetam a competitividade dos Sistemas Agroindustriais. Assim, nesta unidade, vamos discutir a competitividade nos Sistemas Agroindustriais. Os Agronegócios estão cada vez mais competitivos, devido às constantes mudanças nas relações entre os agentes que compõem os Sistemas Agroindustriais, com destaque para as constantes mudanças nas exigências dos consumidores, e devido aos aspectos que afetam a dinâmica de funcionamento das Cadeias de Produção Agroindustrial. Este contexto, de alta competitividade, exige dos agentes inseridos nos Agronegócios a constante busca por vantagem competitiva. Desta forma, o profissional do Agronegócio precisa ser capaz de estudar e/ou formular estratégias de estudo e/ou de gestão da competitividade nos Sistemas Agroindustriais. Assim, vamos iniciar esta unidade vendo a definição de competitividade e concorrência, para, então, estudarmos sobre a Competitividade nos Sistemas Agroindustriais, tanto nos mercados internos quanto externos, as estratégias competitivas utilizadas no Agronegócio e os blocos de capacidades competitivas em Sistemas Agroindustriais. Como a competitividade nos Sistemas Agroindustriais passa pela agregação de valor aos produtos das Cadeias de Produção Agroindustrial, pela gestão do relacionamento com os setores de apoio às Cadeias, gestão dos custos de transação e pela gestão das relações contratuais no Agronegócio, vamos estudar, também, estes assuntos. Bom estudo!!! PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 55 Fonte: shutterstock.com DEFINIÇÃO DE COMPETITIVIDADE E DE CONCORRÊNCIA Ao se tratar da competitividade nos Sistemas Agroindustriais, é extremamente necessário entender as definições de competitividade e concorrência, que são constantemente usadas, erroneamente, como sinônimos: a) Competitividade: “[...] capacidade de uma empresa crescer e sobreviver de modo sustentável, sendo, portanto, a característica de um agente (na empresa)” (AZEVEDO apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p.62) e “... de preferência crescer nos mercados concorrentes ou em novos mercados” (JANK; NASSAR apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p.141). b) Concorrência: “[...] é essencialmente uma característica dos mercados, sendo uma referência à disputa pelas empresas pela renda limitada dos consumidores ou pelo acesso aos insumos” (AZEVEDO apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p.62). A concorrência fornece estímulos para que as empresas reduzam seus custos, aumentem sua qualidade e procurem, constantemente, desenvolvimentos tecnológicos. A competitividade então, “[...] é a capacidade de concorrer de modo sustentável” (AZEVEDO apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, p.62). COMPETITIVIDADE NO AGRONEGÓCIO, NOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO Nos anos de 1980, com a abertura do mercado, o Agronegócio brasileiro passou a concorrer em âmbito internacional. 56 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Alguns pontos, comentados por Azevedo (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) e Jank e Nassar (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), são os que mais afetaram as empresas brasileiras: i) fim parcial das proteções oferecidas às empresas; ii) abertura de novos mercados; iii) fim da intervenção direta do Estado sobre as estratégias empresariais, como a determinação de preços e estoques reguladores; iv) fim da regulamentação do Estado, por meio das antigas agências de regulamentação, em diversos sistemas, como o do leite, café e trigo; v) reforma da política agrícola brasileira; vi) consolidação dos blocos econômicos; vii) desregulamentação e privatização de setores ligados à infraestrutura, entre os quais, transporte, armazenamento, portos, energia e telecomunicações; viii) estabilidade econômica do país. Mercados abertos são mercados globalizados. Neste contexto, buscando competitividade para não deixar-se vencer pela concorrência, as empresas foram levadas à adoção de estratégias de competitividade, perpassando as fronteiras nacionais. Este padrão de concorrência exige competências e vantagem competitiva em termos de custos, qualidade dos produtos e estratégias de mercado. ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS UTILIZADAS NO AGRONEGÓCIO Estratégias de competitividade no Agronegócio são apresentadas por Silva e Batalha (apud BATALHA, 2001) e por Azevedo (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), que as dividem em dois grupos, de acordo com horizontes do processo de concorrência: 1) processos de concorrência de curto prazo - Estratégias de Concorrência: i) Preço (baixo custo). ii) Inovação (diferenciação). 2 ) processos de concorrência de longo prazo - Estratégias de Crescimento: a) que visam alterar as estruturas dos mercados, permitindo uma posição melhor na concorrência: i) aquisições e fusões: - aquisições: significa adquirir seus concorrentes; PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 57 - fusões: significa unir-se aos concorrentes; ii) diversificação: significa expandir a gama de bens ou serviços oferecidos, ou seja, significa investir em outros mercados e outros produtos; iii) integração vertical: um tipo de diversificação que significa adquirir para produzir em etapas anteriores ou posteriores da cadeia de produção; b) que visam uma posição mais favorável das empresas na disputa pelos consumidores: iv) segmentação de mercado: significa produzir produtos voltados aos mais variados padrões de consumo. v) diferenciação: uma estratégia de marketing que significa distinguir/diferenciar o produto de uma empresa das demais marcas concorrentes, por meio da comparação de marcas e/ou por meio do conceito de qualidade percebida pelo consumidor; vi) especialização: significa concentrar as atividades da empresa em determinado segmento de mercado ou na utilização de dada tecnologia; As estratégias de concorrência estão alinhadas com o conceito de vantagem competitiva de Porter (1997). No entanto, o conceito de competitividade em Sistemas Agroindustriais está diretamente relacionado com a distinção entre produtos com valor agregado ou diferenciados e produtos do tipo commodities (sem diferenciação, como os grãos). A vantagem competitiva deve ser estabelecida de maneira diferente em cada caso. No caso de commodities, a estratégia mais usada é a custos baixos, enquanto que no caso de produtos com valor agregado, a estratégia principal é a diferenciação (CASTRO, 2000). BLOCOS DE CAPACIDADES COMPETITIVAS EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS De modo geral, a competitividade de um determinado Sistema Agroindustrial pode ser dividida em três grandes blocos de capacidades competitivas, conforme Jank e Nassar (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000): i) Capacidade produtiva/tecnológica: relacionada à vantagem de custo, alcançada pela produtividade dos fatores de produção e/ou pelos aspectos logísticos. ii) Capacidade de inovação: relacionada aos investimentos públicos ou privados em ciência e tecnologia e em recursos humanos. iii) Capacidade de coordenação: relacionada à capacidade de lidar com informações na definição e viabilização de estratégias competitivas, no controle e na reação a mudanças no meio ambiente. 58 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Os dois primeiros blocos são compostos de variáveis quantificáveis e mensuráveis sob determinadas hipóteses, enquanto que o terceiro bloco é formado por variáveis qualitativas, nem sempre quantificáveis e mensuráveis, mas tão importantes quanto as demais capacidades. AGREGAÇÃO DE VALOR AOS PRODUTOS DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS Em diferentes Cadeias de Produção Agroindustriais, as empresas têm buscado agregar valor aos seus produtos, por meio da diversificação da oferta de produtos, segmentação do mercado e desenvolvimento de novos produtos. Valor, em termos competitivos, pode ser definido como o montante financeiro que o consumidor está disposto a pagar pelos produtos (ARAÚJO, 2005). Logo, o termo agregação de valor pode ser definido como a tentativa de aumentar o montante financeiro que o consumidor está disposto a pagar pelos produtos (ARAÚJO, 2005). A agregação de valor em Cadeias de Produção Agroindustriais significa “a elevação de preços de um produto em decorrência de alguma alteração em sua forma ou sua apresentação, tanto do produto in natura como agroindustrializado, dentro de cada nível da produção da agroindustrialização e comercialização” (ARAÚJO, 2005, não paginado). Ao buscar a agregação de valor, as empresas objetivam conseguir fidelidade dos consumidores, a partir do conhecimento de suas necessidades e exigência, para aumentar, assim, sua lucratividade. A agregação de valor busca, como afirmam Perez, Rios e Bandeira (2002), atender mercados em que os produtos são valorizados, pelas seguintes características: i) disponibilidade; ii) função principal de uso; iii) valores de estima e estética e/ou; iv) valores do “saudável” e “bom gosto”. Pode-se conseguir agregar valor, segundo Perez, Rios e Bandeira (2002), utilizando das seguintes opções: i) redução dos custos de produção; ii) modificação dos ingredientes do produto; iii) modificação das funções principais de uso do produto; iv) modificação dos atributos do produto; PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 59 v) substituição de itens acessórios, como embalagem de consumo e de transporte; vi) modificação na forma de distribuição, locais de oferta do produto e/ou dos serviços de entrega; vii) lançamento de novos produtos; viii) valorização da marca, e/ou ix) atendimento ao cliente. As duas formas principais de agregação de valor aos produtos são, conforme Perez, Rios e Bandeira (2002): i) Diferenciação: a) pelos atributos: aparência visual, origem, sanidade, qualidade, sabor, teor de ingredientes e insumos, desempenho, durabilidade, estilo, método de produção, livre de modificação genética; b) pelos serviços de entrega: frequência de entrega (regularidade) ou formato de entrega (de uso específico, limpo, embalado, pronto para exposição); c) pela marca; d) pelo atendimento: relações de proximidade com o cliente, competência, reputação, credibilidade e educação. ii) diversificação: pela expansão da gama de bens ou serviços oferecidos, que se apresenta ao mercado por meio do lançamento de novos produtos. A agregação de valor aos produtos das Cadeias de Produção Agroindustriais está diretamente relacionada à sua competitividade. SETORES DE APOIO ÀS CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL Os setores de apoio às Cadeias de Produção influenciam diretamente em seus aspectos de qualidade e competitividade (SOUZA et al., 2003). Em seguida, serão descritos os principais aspectos de atuação dos seguintes setores de apoio, no que diz respeito à gestão da competitividade em Sistemas Agroindustriais: instituições de crédito rural; cooperativas; instituições de pesquisa públicas e privadas; organizações não governamentais. 1) Instituições de crédito rural A Lei nº 4.829, de 5 de novembro de 1965 (BRASIL, 1965), trata do crédito rural no Brasil. Segundo esta lei, considera-se como crédito rural o suprimento de recursos financeiros por entidades públicas 60 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância e estabelecimentos de crédito particulares a produtores rurais ou a suas associações, para aplicação exclusiva em atividades que se enquadrem nos objetivos indicados na legislação em vigor. Fonte: PHOTOS.COM Os objetivos do crédito rural são: - estimular os investimentos rurais, inclusive para armazenamento, beneficiamento e industrialização de produtos rurais, feitos pelos produtores ou por suas associações; - favorecer o custeio oportuno e adequado da produção e comercialização de produtos agropecuários; - fortalecer economicamente o setor rural, em especial, os pequenos e médios produtores; - incentivar a introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da produtividade, a melhoria do padrão de vida das populações rurais e a adequada utilização dos recursos naturais. Na Lei nº 4.829, de 5 de novembro de 1965 (BRASIL, 1965), foi criado o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), constituído por: - Bancos: Banco Central do Brasil, Banco do Brasil S/A; Banco da Amazônia S/A; Banco do Nordeste S/A. - Órgãos vinculados: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), banco privados e estaduais, caixas econômicas, cooperativas de crédito rural e sociedades de crédito, financiamento e investimentos. - Instituições articuladas: os órgãos oficiais de valorização regional e de prestação de assistência técnica. O custeio no crédito rural classifica-se como agrícola, pecuário e de beneficiamento ou industrialização, quando: - destinado, respectivamente, às despesas relacionadas ao ciclo produtivo de lavouras periódicas, de PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 61 entressafra de lavouras permanentes ou da extração de produtos vegetais espontâneos, inclusive o beneficiamento primário da produção obtida e seu armazenamento no imóvel rural ou em cooperativa; - da exploração pecuária; e ao beneficiamento ou industrialização de produtos agropecuários. Podem utilizar o crédito rural: - produtor rural (pessoa física ou jurídica) e suas associações; - a cooperativa de produtores rurais; - pessoa física ou jurídica que, mesmo não sendo produtor rural, se dedique a uma das seguintes atividades: pesquisa ou produção de mudas ou sementes fiscalizadas ou certificadas; pesquisa ou produção de sêmen para inseminação artificial; prestação de serviços mecanizados de natureza agropecuária, em imóveis rurais, inclusive para a proteção do solo; prestação de serviços de inseminação artificial, em imóveis rurais; e exploração de pesca, com fins comerciais. Entender os aspectos do crédito rural, inclusive quanto aos seus aspectos jurídicos, é extremamente importante de acordo com Martins (2010), pois o crédito rural tem implicações na coordenação dos Sistemas Agroindustriais e consequentemente para sua competitividade. 2) Cooperativas O papel das cooperativas no Agronegócio é indiscutível (BIALOSKORSKI NETO apud BATALHA, 2001); (ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS – OCB, 2009). As cooperativas podem ser definidas como “[...] sociedades de pessoas onde há a agregação inicial do fator de produção de trabalho (nas assembléias gerais, cada associado tem direito a um único voto), diferentemente das sociedades de capital, que são caracterizadas pela agregação inicial do fator de produção capital (nas assembléias gerais, o voto é proporcional ao capital de cada investidor)” (BIALOSKORSKI NETO apud BATALHA, 2001, não paginado). Os associados, nas cooperativas, são chamados cooperados. O cooperativismo desenvolve-se de maneira mais intensa na produção primária, devido às estruturas de mercados encontradas (BIALOSKORSKI NETO apud BATALHA, 2001). Os principais papéis das cooperativas nos Sistemas Agroindustriais são, conforme Bialoskorski Neto (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000): i) coordenar as relações contratuais; ii) reduzir os custos de transação para os cooperados; iii) agregar valor às commodities. 62 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância As cooperativas podem ser classificadas, segundo Bialoskorski Neto (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), em: a) Cooperativas singulares ou de primeiro grau: quando congregam apenas associados. b) Cooperativas centrais ou de segundo grau: quando formadas por cooperativas singulares. Nas cooperativas, o cooperado assume, segundo Bialoskorski Neto (apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), ao mesmo tempo, as funções de usuário ou cliente dos serviços prestados e de seu proprietário ou até mesmo de gestor. O cooperado transfere funções da sua economia individual para a cooperativa. 3) Instituições de pesquisa públicas e privadas As instituições de pesquisa estão passando por um processo de mudança em seus aspectos internos e externos, devido às mudanças no papel do Estado, às mudanças nos padrões de conhecimentos científicos e tecnológicos e aos novos padrões de concorrências nos mercados globalizados (REIS; VIÉGAS, 2009). No Brasil, a pesquisa agropecuária é desenvolvida em instituições públicas de pesquisas, sendo predominantemente financiada por fontes governamentais, no entanto, com a diminuição do papel do Estado na economia, tem havido um corte nas verbas para as instituições públicas de pesquisas. O corte nas verbas para as instituições públicas de pesquisas, que ocasionam, principalmente, a redução dos quadros dos pesquisadores e do número de pesquisadores interessados, tem atrasado, e em alguns casos até impedido, o desenvolvimento de novas pesquisas técnico-científicas (REIS; VIÉGAS, 2009). Para enfrentar o corte de verbas, muitas instituições de pesquisa têm vendido produtos, buscando fontes alternativas ao recurso governamental, como faz a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A adequação a esse contexto é viabilizada por uma nova definição de políticas públicas no setor do Agronegócio, em que o Estado, buscando continuar investindo em pesquisas agropecuárias, propõe novas captações de recursos financeiros, como a parceria entre o setor público e o privado, no desenvolvimento de pesquisas e tecnologia de interesse mútuo. Nestas parceirias, o Estado contribuiria com recursos humanos e equipamentos de laboratórios, enquanto o setor privado financiaria o custeio. Nesse sentido, o Terceiro Setor, incluindo as associações e as fundações de amparo à pesquisa, contribui para alavancar recursos financeiros no ramo da agropecuária (REIS; VIÉGAS, 2009). 4) Organizações não governamentais As principais atuações de Organizações Não Governamentais (ONGs) no Agronegócio são, principalmente, em relação a: PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 63 i) questões ambientais; ii) questões climáticas; iii) organismos transgênicos; iv) exploração de recursos naturais; v) desenvolvimento sustentável; vi) biodiversidade; vii) responsabilidade social; viii) direitos dos animais. Desta forma, as ONGs exercem um papel extremamente estratégico no Agronegócio, suprindo lacunas que deveriam ser atendidas pelos órgãos governamentais. No entanto, a atuação das ONGs pode, também, se tornar limitadora em algumas Cadeias de Produção Agroindustrial. Fonte: PHOTOS.COM CUSTOS DE TRANSAÇÃO NO AGRONEGÓCIO Os relacionamentos entre os agentes dos Sistemas Agroindustriais envolvem transações financeiras. Esses relacionamentos envolvem os custos de transação. 64 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Os custos de transação podem ser definidos como “[...] os custos de fazer funcionar o sistema econômico [...]” (FARINA apud ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000, não paginado). Segundo Kilmer (apud KILMER; ARMBRUSTER, 1987), os custos de transações podem ser divididos em duas categorias: 1) Custos associados ao mecanismo de determinação de preços i) Custos associados à obtenção de informações sobre as condições de oferta e demanda por parte de compradores e vendedores. ii) Custo de buscar o melhor preço por parte do comprador. iii) Custo de negociação de um preço de troca entre vendedor e comprador. 2) Custo de fazer a troca: i) Custo de trazer o produto ao mercado. ii) Custo de classificar o produto. iii) Custo de empacotar o produto. iv) Custo de fazer o contrato. Assim, os custos de transação podem ser entendidos como os custos de negociar, redigir e garantir o cumprimento de um contrato. Logo, a unidade básica de análise dos custos de transação é o contrato. RELAÇÕES CONTRATUAIS NO AGRONEGÓCIO Um fato extremamente importante na Gestão do Agronegócio diz respeito à questão de contrato. Em termos de Gestão do Agronegócio, a análise das relações contratuais permite, conforme Margarido, Lima e Silva (2009): i) compreender o modo como os agentes em uma Cadeia de Produção dividem o risco associado à produção e à variabilidade de preço; ii) compreender a influência de ambos os agentes na distribuição; iii) assegurar a quantidade e a qualidade dos insumos utilizados em cada fase do processo de produção; iv) assegurar a quantidade e a qualidade do produto a ser disponibilizado ao consumidor final. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 65 É possível perceber que a análise de contratos é um dos aspectos de Coordenação dos Sistemas Agroindustriais. Os Sistemas Agroindustriais, sob o enfoque de relações contratuais, podem ser entendidos como um nexo de contratos informais e formais cujo objetivo é fornecer estímulos e controles, além de agilizar o fluxo de informação ao longo de todos os segmentos do Sistema (MARGARIDO; LIMA; SILVA, 2009). O termo contrato pode significar desde um acordo informal até uma complexa definição que trata essencialmente dos direitos de propriedade sobre os resultados de uma transação. Pode definir contrato como “um acordo pelo qual os agentes se obrigam uns aos outros a ceder ou se apropriar, tomando ou não certas decisões, ocorrendo trocas de direitos de propriedade” (NEVES, 1995, p. 29). As relações contratuais no Agronegócio, conforme afirma Neves (1995), envolvem inúmeros riscos e incertezas, que estão associados ao reconhecimento de que as informações relevantes para elaboração dos contratos são incompletas e assimétricas, devido à impossibilidade de previsão exata de eventos futuros que possam afetar as transações em Sistemas Agroindustriais. Desta forma, não é possível, no caso do Agronégocio, se estabelecer cláusulas contratuais que redistribuam os resultados dos impactos externos. Isto adiciona custos às transações, pois os agentes que realizam os contratos (em face à incerteza ou risco) se resguardam de distúrbios inesperados, fazendo salvaguardas contratuais ou monitorando o cumprimento do contrato. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, você estudou sobre a competitividade nos Sistemas Agroindustriais. Este estudo envolveu o conhecimento de diversos termos utilizados quando se trata de competitividade. No Quadro 5, por mim elaborado, podemos relembrar as definições desses termos. Quadro 5 - Definições dos termos utilizados em estudos e/ou gestão da competitividade Termos COMPETITIVIDADE 66 Autores Azevedo (apud ZYLBERSZTA; NEVES, 2000, p. 62) Jank e Nassar (apud ZYLBERSZTA; NEVES, 2000, p. 267) Azevedo (apud ZYLBERSZTA; NEVES (2000, p. 62) Definição “[...] capacidade de uma empresa crescer e sobreviver de modo sustentável, sendo, portanto, a característica de um agente (na empresa)”. e “[...] de preferência crescer nos mercados concorrentes ou em novos mercados”. “[...] é a capacidade de concorrer de modo sustentável”. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância CONCORRÊNCIA Azevedo (apud ZYLBERSZTA; NEVES, 2000, p. 62) “[...] é essencialmente uma característica dos mercados, sendo uma referencia à disputa pelas empresas pela renda limitada dos consumidores ou pelo acesso aos insumos”. AQUISIÇÕES Estratégia de adquirir seus concorrentes. FUSÕES Estratégia de unir-se aos concorrentes. DIVERSIFICAÇÃO Estratégia de expandir a gama de bens ou serviços oferecidos, ou seja, estratégia de investir em outros mercados e outros produtos. INTEGRAÇÃO VERTICAL SEGMENTAÇÃO DE MERCADO DIFERENCIAÇÃO Silva e Batalha (apud BATALHA, 2001) e Azevedo (apud ZYLBERSZTA; NEVES, 2000) Estratégia de adquirir para produzir em etapas anteriores ou posteriores da cadeia de produção. Estratégia de produzir produtos voltados aos mais variados padrões de consumo. Estratégia de marketing que significa distinguir/diferenciar o produto de uma empresa das demais marcas concorrentes, por meio da comparação de marcas e/ou por meio do conceito de qualidade percebida pelo consumidor. ESPECIALIZAÇÃO Estratégia de concentrar as atividades da empresa em determinado segmento de mercado ou na utilização de dada tecnologia. VALOR O montante financeiro que o consumidor está disposto a pagar pelos produtos. AGREGAÇÃO DE VALOR A tentativa de aumentar o montante financeiro que o consumidor está disposto a pagar pelos produtos. Araújo (2005) AGREGAÇÃO DE VALOR EM CADEIAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL CRÉDITO RURAL Brasil (1965) COOPERATIVAS Bialoskorski Neto (apud BATALHA, 2001) “a elevação de preços de um produto em decorrência de alguma alteração em sua forma ou sua apresentação, tanto do produto in natura como agroindustrializado, dentro de cada nível da produção da agroindustrialização e comercialização”. O suprimento de recursos financeiros por entidades públicas e estabelecimentos de crédito particulares a produtores rurais ou a suas associações, para aplicação exclusiva em atividades que se enquadrem nos objetivos indicados na legislação em vigor. “[...] sociedades de pessoas onde há a agregação inicial do fator de produção de trabalho (nas assembléias gerais, cada associado tem direito a um único voto), diferentemente das sociedades de capital, que são caracterizadas pela agregação inicial do fator de produção capital (nas assembléias gerais, o voto é proporcional ao capital de cada investidor)”. PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 67 Farina (apud ZYLBERSZTA; NEVES, 2000) “[...] os custos de fazer funcionar o sistema econômico [...]”. CUSTOS DE TRANSAÇÃO ------ os custos de negociar, redigir e garantir o cumprimento de um contrato. NEVES (1995, p. 29) “um acordo pelo qual os agentes se obrigam uns aos outros a ceder ou se apropriar, tomando ou não certas decisões, ocorrendo trocas de direitos de propriedade” ------ Desde um acordo informal até uma complexa definição que trata essencialmente dos direitos de propriedade sobre os resultados de uma transação. CONTRATO SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Margarido, Lima e Silva (2009) Sob o enfoque de relações contratuais, pode ser entendido com como um nexo de contratos informais e formais. Fonte: elaborado pelo autor Após o término desta unidade do nosso Livro, você pôde perceber que vários são os aspectos que envolvem a competitividade nos Sistemas Agroindustriais e que todos esses aspectos estão diretamente relacionados ao conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial. Você pôde perceber, também, que a formulação de estratégias de gestão da competitividade das empresas está relacionada à gestão dos aspectos das Cadeias de Produção Agroindustrial, à coordenação das relações entre os agentes que a compõem, à coordenação do relacionamento com os setores de apoio, ou seja, à Coordenação dos Sistemas Agroindustriais e que esta coordenação pode ser feita por meio de relações contratuais. 68 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância Vejaovídeo:<http://www.youtube.com/watch?v=j4dF1rOGNUc>. Neste vídeo você verá um depoimento do Coordenador do Núcleo de Gestão em Agronegócio, da Fundação Dom Cabral, Alberto Duque Portugal, falando sobre a importância da Gestão do Agronegócio Brasileiro. Ele introduz seu depoimento explicando o que é gestão e o papel da gestão em países emergentes. Então, ele discute aimportânciadagestãodoagronegócio,destacandoosdesafiosenfrentadospeloagronegócio. Tambémacesseolink:<http://mais.uol.com.br/view/12801806>.Nestelinkvocêpoderáveraentrevistadodiretor de commodities da BMF Bovespa, Ivan Wedekin ao Bandnews, durante a 11ª edição do Fórum “Perspectivas para o Agribusiness em 2012 e 2013”, em São Paulo. Nesta entrevista, ele fala das oportunidades do Agronegócio para o Brasil em tempos de crise internacional. Veja como o Agronegócio é importante para a Economia do Brasil. ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos do Agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005. Sinopse: nesta obra os conceitos básicos e os princípios gerais relacionados ao entendimento do conceito de agronegócios são apresentados. Os seguintes temas são abordados em sete capítulos: conceitos e dimensões PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 69 de agronegócios, sistemas agroindustriais, cadeias de produção; segmentos dos sistemas agroindustriais – antes, dentro e depois da porteira; verticalizações e integrações agroindustriais; agregação de valor e comercialização no agronegócio; coordenação das cadeias de produção; marketing em agronegócio; competência do agronegócio brasileiro. BATALHA,MárioOtávio;SOUZAFILHO,HildoMeirellesde(Org.)Agronegócio no Mercosul: Uma Agenda para o Desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2009. Sinopse: nesta obra, de 10 capítulos, um estudo sobre a competitividade das principais cadeias de produção agroindustrial dos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e da Bolívia e Chile é apresentado. A competitividade é discutida em termos de sua dinâmica de funcionamento, potencialidades, informações relacionadasàprodução,consumoefluxosinternacionaisdecomércio,dosprincipaisproblemasenfrentados, principaispontosfortesefracosedosgargalosidentificados.Asseguintescadeiasdeproduçãoagroindustrial são discutidas: açúcar, arroz, carne de aves, laranja, leite, maçã, milho, soja e trigo. Para cada país analisa-se a competitividade das cadeias que apresentam maior relevância econômica e social. Diretrizes para a eliminação dosgargalosidentificadossãoapresentadas.Inicialmente,umametodologiaparaaanálisedacompetitividade das cadeias de produção agroindustrial é proposta. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO Para melhor fixação e aprendizagem do conteúdo, conceitos e definições desta unidade, responda as questões a seguir. 1. Defina: competitividade e concorrência. 2.QuaisosgruposdeestratégiasdecompetitividadenosAgronegócios? 3. Liste e comente sobre: as estratégias de concorrência e as estratégias de crescimento. 4. Liste os setores de apoio das cadeias de produção. 70 PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS| Educação a Distância CONCLUSÕES Neste Livro, que estamos finalizando agora, tive como objetivos: i) Oferecer a você um referencial teórico, conceitual e técnico, apresentando conceitos, definições e termos que são utilizados ao longo de todo o Curso e que são necessários ao desenvolvimento de atividades de estudo e/ou gestão do Agronegócio. ii) Discutir sobre a complexidade e a competitividade nos Sistemas Agroindustriais. O livro teve como foco o alcance da competitividade nos Sistemas Agroindustriais, por meio da organização, eficiência, produtividade, qualidade e eficácia na agregação de valor nos Sistemas Agroindustriais. Ao oferecer um referencial teórico, conceitual e técnico, não tive, como já ressaltei na introdução deste Livro, a intenção de adotar conceitos e definições, mas tive sim a intenção de mostrar o ponto de vista dos principais autores utilizados no Brasil. Assim, nas considerações finais de cada unidade, apresento um quadro com as definições vistas naquela unidade. Os quadros podem servir como uma fonte de consulta rápida aos termos e definições estudados. Ao longo deste livro, tentei listar aplicações e apresentar exemplos dos conceitos e definições trabalhados. No entanto, é importante que você busque seus próprios exemplos e que tente trazer os conceitos e definições discutidos para o seu dia a dia profissional. Foi pensando em contribuir com suas atividades profissionais, que apresentei, na introdução deste Livro, sites que são ricas fontes de pesquisa sobre Agronegócio e Sistemas Agroindustriais. Para alcançar todos os objetivos de aprendizagem, na unidade I, vimos sobre Sistemas Agroindustriais. Na unidade II, vimos sobre Cadeias de Produção Agroindustrial, que é um dos níveis de análise mais usados em estudos e/ou em Gestão de Sistemas Agroindustriais, pois tem seu conceito associado a um produto final ou família/linha de produtos finais. E por fim, na unidade III, discutimos sobre os vários aspectos da competitividade nos Sistemas Agroindustriais. Assim, querido(a) aluno(a), chegamos ao final do nosso Livro. E eu espero que as definições, conceitos, exemplos e discussões propostas tenham contribuído para o seu conhecimento e para suas atividades profissionais. Sucesso!! Professora Me. Thays J. Perassoli Boiko PRODUÇÃO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS | Educação a Distância 71 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos do Agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005. ARAUJO, N. B; WEDEKIN, I; PINAZZA, L. Complexo agroindustrial: o Agribusiness Brasileiro. 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