A EDUCAÇÃO DOS INDIOS: UMA LEITURA DAS CARTAS JESUITICAS FLÁVIA EMILIA ZANINI Núcleo de Estudo e Pesquisa: História e Filosofia da Educação - Mestranda Orientador: Prof. Dr. José Maria de Paiva Esta introdução pretende discutir uma época em que é necessária certa destreza para buscar ideias do modo de pensar daquele período. Uma época quinhentista em que o religioso estava sempre presente, principalmente na vida dos portugueses, que de certa forma mantiveram-se fechados diante da Reforma Protestante que estava ocorrendo na Europa. Esta pesquisa teve como objeto de estudos as leituras das cartas jesuíticas e testemunhos de pessoas que vivenciaram todo o período. Não podemos esquecer que são relatos fervorosos de uma visão evangelizadora, de uma Igreja quinhentista, seiscentista e que, através delas, temos a oportunidade de constatar a vida indígena. Como toda leitura dessa época, ela deve ser cautelosa e o pensamento irá interpretar e transmitir a linguagem que dará formação e significado à escrita. A educação indígena é o tema dessa pesquisa. Conhecer e observar essa educação, uma educação que vai além da inclinação espontânea dos jesuítas em ensinar as primeiras letras, ensinar os costumes europeus. É necessário entendermos que educação é muito mais que uma escola, que uma instituição, que um ensino em sala de aula, educação no sentido mais amplo do que simplesmente moldar, orientar, conduzir. Do momento em que nascemos, somos conduzidos a nos tornar humanos e de comportarmos como humanos. Nós estamos sempre num processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral. Nós não nascemos prontos, somos educados, somos inseridos num mundo social, temos valores e crenças. A educação é todo o tempo de nossa vida, a partir dessa percepção que o trabalho enfoca a educação do índio através dos jesuítas, dos seus relatos. Navarro e Anchieta foram os primeiros padres jesuítas que tentaram entender e compreender a língua indígena. Com essa demonstração de preocupação com um mundo novo a ser desbravado, mostram certo respeito ao traduzirem as orações, as músicas, os teatros na língua indígena para assim aproximar-se diretamente dos nativos. Essa aproximação tornara mais acessível o contato entre as duas culturas, criando um vínculo no processo catequético jesuíta e gerando uma transformação na cultura do indígena. Esse período colonial pretende ser aqui articulado com as tendências da história cultural do século XVI e XVII e permitirá uma apreensão desta educação por meio da catequese, que é uma das intenções da imposição da cultura europeia sobre a indígena, modificando seus costumes e suas crenças. Essa compreensão da imposição se dá ao entender a sociedade portuguesa quinhentista que aqui nos chega, preocupados com uma estrutura organizacional europeia já consolidada nos hábitos e costumes e sobre uma forte influência da religião que não pode ser considerada a parte de toda a vida nessa época da história, tamanha é a sua influência. Essa sociedade será mais bem entendida se forem discutidas quais eram as funções dos padres jesuítas, do governador geral, da população chamada branca que colonizava as terras brasileiras e, se achando donos dela, impunham sua cultura aos povos que aqui residiam a detrimento dos hábitos e costumes indígenas. Percebe-se ao ler as cartas que o contado cultural da época é uma imposição. O mais forte impõe seu costume, sua língua sobre o mais fraco, sejam eles os brasileiros que já habitavam o nosso território ou mesmo os indígenas, mesmo sendo mais numerosos cheios de tradições, crenças, organização tribal. Cabe também observar que essa imposição não se dá de maneira totalmente passiva com os europeus. Demonstrando interesse neles e em tudo o que eles traziam como novidades, mas com a imposição dos portugueses em querer igualar esses valores, costumes, houve certa resistência dos índios. Nesse primeiro olhar vemos as adversidades desses povos e a sociedade portuguesa impondo sua cultura aos índios, principalmente através da religiosidade trazida pelos jesuítas que veem nos nativos o pecado mortal, por viverem com muitas mulheres, não confessarem, não saberem a doutrina cristã e não conhecerem o verdadeiro Nosso Senhor. As diferenças existentes e as transformações provocadas pelos portugueses aos nativos deixam muito claro que os costumes indígenas, a organização tribal, suas crenças, seus valores vão sendo modificados com a implantação dos aldeamentos, dos castigos e do indígena sendo usado como escravo. Essa sociedade portuguesa quinhentista cheia de seus valores corretos desenvolve nas terras brasileiras uma sociedade mercantilista, exploradora, individualista cheia de desejos de riquezas e expansionista. A Metrópole, curiosa com a nova terra, resolve investir nesta exploração diante dos relatos dos padres jesuítas sobre a receptividade dos povos indígenas, a falta desses povos em conhecerem o verdadeiro Deus e a necessidade de convertê-los para que as boas almas fossem acolhidas pelo Pai, a necessidade de ensina-los a vida correta e aceitável que era para eles a cristã e todo o modelo social vinculado aos europeus e sua cultura. Tudo isso foi referido como motivo para que houvesse todo o apoio da Coroa em catequizar essa nova nação, ocorrendo um choque entre as culturas indígenas e portuguesas. A Coroa com um novo território a ser explorado, cheio de matérias-primas a serem comercializadas mundialmente, uma nação para ser convertida ao catolicismo e a ela ser ensinada os bons costumes cristãos europeus, o Rei decide investir na colonização utilizando como base a catequese dos nativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, J. Capistrano. Capítulos de História Colonial (1500-1800).Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998. ANCHIETA, José de. Cartas: Informações, fragmentos históricos e sermões.Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1988. GAMBINI, Roberto. Espelho índio: a formação da alma brasileira. 2. Ed. São Paulo: AxisMundi: Terceiro Nome, 2000. NAVARRO, Azpilcueta e outros. Cartas avulsas, 1550-1568.Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. NÓBREGA, Manoel da.Cartas do Brasil, 1549-1560. 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