Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina Campus Joinville Curso: CTI - Mecânica e Eletroeletrônica Módulo: IV Unidade Curricular: História III Prof. Anderson dos Santos AULA 2 – BRASIL COLONIAL – ECONOMIA E SOCIEDADE AÇUCAREIRA (SÉC. XVI E XVII) Capitanias Hereditárias: D. João III (1521-1571) – colonização do Brasil (necessidade de novos produtos e proteção do território colonial – ameaça francesa); Capitanias hereditárias – sistema adotado nas ilhas africanas (gastos mínimos com a colonização); Divisão em quinze lotes (capitanias) – doze donatários (pequena nobreza portuguesa); Carta de Doação (regras de conduta e deveres); Foral (direitos tributários e foros); Carta de Doação (regras de conduta e deveres ): 1. A coroa cedia de 10 a 16 léguas de terra ao capitão donatário; 2. A coroa também cedia o direito de jurisdição civil e criminal ao donatário; 3. O donatário teria a posse da terra, e não a sua propriedade; 4. Ao donatário, cabia o direito de aplicar as leis aos colonos, escravizar índios e conceder sesmarias; 5. Com a morte de seu donatário, a capitania passaria para seu filho mais velho, que deveria assumir as responsabilidades do pai; 6. Era obrigação do donatário administrar, proteger e defender a capitania; 7. A capitania não poderia ser vendida nem dividida. Trechos da primeira página da Carta de Doação da Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Portugal): 1. “A quantos esta minha carta virem faço saber que, considerando eu quanto serviço de Deus e meu proveito e bem de meus Reinos e Senhorios e dos naturais e súditos deles é ser a minha costa e terra do Brasil mais povoada do que até agora foi...”; 2. “Duarte Coelho, fidalgo de minha casa, a el-rei, Reinos como nas partes da Índia onde serviu muito tempo e em muitas coisas de meu serviço, nas quais deu de si muito boa conta, havendo como pelos que eu espero que me ao diante fará...”. Foral (direitos tributários e foros): 1. O donatário poderia fundar vilas e cobrar tributos sobre todas as salinas, moendas d’água e quaisquer outros engenhos que só podiam ser construídos com sua licença; 2. O donatário poderia desenvolver a atividade pecuária; 3. O donatário também poderia nomear magistrados; 4. O donatário teria o direito sobre a renda da terra, porém as riquezas do subsolo e da floresta pertenceriam à coroa; 5. O donatário podia conceder sesmarias (lotes de terra) aos colonos; 6. O donatário tinha direito à redízima (1/10) das rendas da Coroa); 7. A Capitania era inalienável; DOAÇÃO DE PERNAMBUCO A quantos esta minha carta virem faço saber que eu fiz ora doação e mercê a Duarte Coelho, fidalgo de minha casa, para ele e todos os seus filhos, netos, herdeiros e sucessores, para sempre, da capitania e governança de sessenta léguas de terra na minha costa do Brasil... E por ser muito necessário haver aí foral dos direitos, foros e tributos e coisas que na dita terra hão de pagar, tanto que a mim e à Coroa de meus reinos pertencerem como do que pertencerem ao dito capitão por bem da sua dita doação, eu, havendo respeito à qualidade da dita terra e se ora novamente ir morar, povoar e aproveitar, hei por bem mandar ordenar e fazer o dito foral... (trecho do Foral de 24 de setembro de 1534, por meio do qual o rei D. João III fixou os direitos e deveres de Duarte Coelho, donatário de Pernambuco). Capitanias Hereditárias: • Sistema ineficaz (insucesso): diversidade do território; Contexto diferente do das ilhas africanas; falta de recursos; ataques indígenas; dificuldades na comunicação; falta de apoio e de contato com a coroa; • Exceções: Pernambuco (Duarte Coelho) e São Vicente (Martim Afonso de Sousa); • Implantação de um governo centralizado (Governo-Geral). Governo Geral: • A partir de 1548; • Manutenção das capitanias hereditárias; • Três governadores gerais: Tomé de Sousa (1549-1553); Duarte da Costa (15551558); e Mem de Sá (1558-1572); • Auxiliares do governador geral: ouvidor-mor (justiça); provedor-mor (cobrança de impostos); e capitão-mor (defesa); alcaide-mor (administração de Salvador, capital do Estado do Brasil); OBS.: a capitania escolhida para sediar o governo foi a Bahia, transformada em capitania real após a morte do donatário, Francisco Pereira Coutinho. Tomé de Sousa (1549-1553): • Incentivo à agricultura e à criação de gado bovino; • Chegada dos primeiros jesuítas; • • • • • Incentivo à vinda de colonos e mulheres; Criação do primeiro bispado; Fundação de São Vicente; Regimento Geral (regulamentação das ações do governador geral); Fundação de Salvador (1549) – primeira capital do Brasil. Trechos do Regimento Geral de Tomé de Sousa (Documento mantido na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro): 1. “Fazer uma fortaleza e povoação grande e forte em um lugar conveniente para daí se dar favor e ajuda às outras povoações e se ministrar justiça”; 2. “por ser informado que na Bahia de Todos os Santos é o lugar mais conveniente”; 3. “que na dita Bahia se faça a dita povoação”. Duarte da Costa (1553-1558): • Chegada de mais jesuítas – entre eles José de Anchieta; • Chegada de colonos; • Instalação dos jesuítas ao redor de um colégio em Piratininga (origem da cidade de São Paulo); • Estímulo à catequização dos índios, necessidade básica para a colonização; • Desentendimentos entre colonos e religiosos (Bispo Pero Fernandes Sardinha X filho do governador (Álvaro da Costa); • Invasão francesa na Baía de Guanabara, liderada por Nicolau Durand de Villegaignon, na tentativa de instalar uma colônia francesa no Brasil (França Antártica). Mem de Sá (1558-1572): • Combate intensivo contra a “vadiagem” dos colonos; • Utilização do escravo africano como mão-de-obra, amenizando a questão entre indígenas, religiosos e colonos; • Estímulo à catequização e ao trabalho ostensivo para sua efetivação; aproximação dos grupos indígenas; • Expulsão dos franceses do Rio de Janeiro; • Contenção das ameaças dos grupos indígenas; • Severidade com índios que não se submetiam à catequização; • Fundação do povoado chamado São Sebastião do Rio de Janeiro em 1º de março de 1565, por Estácio de Sá (sobrinho de Mem de Sá); • Combate à Confederação dos Tamoios, que existia desde o governo anterior. SANTIDADE INDÍGENA Santidade foi o nome pelo qual ficou conhecida a maior rebelião indígena no Brasil durante o século XVI. O nome é devido ao forte caráter religioso do movimento liderado por um pajé chamado Antonio, que tinha fugido de um aldeamento jesuítico da capitania de Ilhéus. Esse indígena dizia que era a encarnação viva do ancestral dos tupinambás, chamado Tamandaré, e tinha o poder de falar com os ancestrais. Pregava que os portugueses seriam todos mortos e os poucos que restassem se tornariam escravos dos tupinambás. Reuniu centenas de seguidores, que puseram fogo em igrejas e engenhos e desafiaram os colonizadores portugueses. No entanto, esse mesmo líder dizia ser o “verdadeiro papa”, seus principais seguidores tinham nomes de santos como São Luiz ou São Paulo e sua mulher era conhecida como “Santa Maria Mãe de Deus”. O movimento acabou destroçado por ordens do governador Manuel Teles Barreto, em 1585. VAINFAS, Ronaldo. et. Al. História: das sociedades sem Estado às monarquias absolutistas, v. 1. São Paulo: Saraiva, 2010. Governo Geral: • Nomeação de um quarto governador que não assumiu (sua esquadra foi destruída por corsários franceses); • O Brasil foi dividido em duas partes (Norte e Sul); • Norte – sede na Bahia (chefiado por D. Luis de Brito e Almeida) • Sul – sede no Rio de Janeiro (chefiado por D. Antônio Salema); • De 1580 a 1640 – União Ibérica (período em que o Brasil gozou de certa autonomia devido ao desinteresse da Espanha em controlar a colônia); O significado da colonização: • Objetivo inicial – encontrar ouro; • Mas o metal precioso não foi encontrado em quantidades satisfatórias; • A colônia passou então a: • Fornecer produtos tropicais; • Comprar manufaturas portuguesas; • Empregar a mão-de-obra excedente, existente na metrópole; O significado da colonização: O Pacto Colonial – tal pacto determinava a exclusividade no comércio com a colônia por parte da metrópole, sendo que à colônia cabia a produção e o fornecimento de matérias-primas (produtos tropicais e agrícolas) à metrópole, enquanto esta fornecia manufaturados, bem como abastecia a colônia com escravos provenientes da África. “(...) A colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem a proveito do comércio europeu. Este é o sentido da colonização tropical. (...) Ele explicará os elementos fundamentais, tanto no econômico como no social, da formação e evolução históricas dos trópicos americanos”. PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 31. O açúcar: • Origem oriental do produto; • Apreciação na Europa; • Cultivo português da cana-de-açúcar nas ilhas africanas (Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé); • Atração à produção no Brasil: • Qualidade do solo (massapê); • Preço elevado do produto na Europa; • Certeza de mercado consumidor (europeu); • Possibilidades de atrair recursos para o investimento; • Geração de uma sociedade e de uma economia específica num local determinado; • Principal produto entre os séculos XVI e XVII. LEMBRETE: O açúcar foi o principal produto da economia brasileira nos séculos XVI e XVII. A produção gradualmente passou a ser feita em larga escala, em grandes propriedades (latifúndios), sendo que a produção era quase totalmente destinada à exportação. Também, o cultivo da cana deveria ser exclusivo (monocultura) e, para tanto, a principal mão-de-obra utilizada foi a escrava africana. Tal sistema recebeu a denominação de PLANTATION. O Engenho: • Produção de açúcar – início em 1532 (São Vicente); • Expansão gradual; engenhos espalhados pelas capitanias; • Instalação e criação dos engenhos dispendiosa; • Material necessário à produção proveniente da Europa; • Funcionamento – necessidade inicial de cerca de 100 escravos e setenta cabeças de gado; • Final do século XVII engenhos com cerca de 1000 escravos. • Formado por várias partes: • Casa grande – onde vivia o senhor e sua família, além dos agregados e dos empregados domésticos (escravos e escravas); • Senzala – abrigo onde viviam os escravos; • Capela – geralmente cada engenho tinha uma para a celebração das missas e outros cultos católicos; • Casa de engenho (onde era feito o fabrico do açúcar); • No processo de produção de açúcar surgiu um subproduto, a aguardente; • Outras atividades na grande propriedade: • Plantação de milho, mandioca, arroz, feijão, fumo, algodão e criação de gado; • Tal produção visava atender às necessidades do próprio engenho, não sendo muito desenvolvidas. Os holandeses: • Empréstimos aos colonos para a constituição de engenhos; • Portugueses – produção do açúcar; • Holandeses – refino e comércio; • Maior lucro aos holandeses; • Enriquecimento dos traficantes de escravos e da burguesia lusitana; A sociedade açucareira: • • • • • • Formação em torno dos engenhos; Composição: duas camadas sociais (senhores e escravos); Existência de um pequeno grupo de homens livres, porém sem expressão enquanto camada social (também vivia em torno da produção açucareira); Rigidez e inflexibilidade social (mobilidade social praticamente inexistente); Senhor de engenho – proprietário das terras e dos escravos, chefe político da região e da família. Escravos – o escravo, capturado na África, era visto como uma “mercadoria” e era responsável por toda a vida produtiva da colônia, atuando em todas as atividades. LEMBRETE: tal sociedade era PATRIARCAL, sendo a autoridade do pai e/ou do marido incontestável. A mulher na sociedade açucareira: • A mulher branca na sociedade açucareira era educada para casar-se, procriar e servir ao senhor (seu marido); • A mulher negra além de trabalhar na lavoura e cuidar dos serviços domésticos, ainda servia de objeto sexual de seu senhor, ama de leite dos seus filhos e serviçal da senhora. PARA LER: ASSUNÇÃO, Paulo de. Os Jesuítas no Brasil Colonial. São Paulo: Atual, 2003. LOPEZ, Adriana. Franceses e Tupinambás na Terra do Brasil. São Paulo: Senac, 2001. MOTTA, Marcus Alexandre. Anchieta: dívida de papel. Rio de Janeiro: FGV, 2000. PRIORE, Mary. Mulheres no Brasil Colonial. São Paulo: Contexto, 2000. PARA ASSISTIR: “Anchieta – José do Brasil”, de Paulo César Sarraceni, Brasil, 1978, 140 min. (Com Ney Latorraca no papel de Anchieta, o filme retrata a vida do apóstolo do Brasil no seu trabalho de catequese dos indígenas). “Desmundo”, de Alain Fresnot, Brasil, 2001, 101 min. PARA NAVEGAR NA INTERNET: http://www.arquivonacional.gov.br/ (informações sobre a história luso-brasileira). http://www.ifcs.ufrj.br/~humanas/anos.htm (documentos sobre o início da História do Brasil, como a Carta de Pero Vaz de Caminha).