SBFTE Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental Florianópolis, 14 de Outubro, 2005 Para: Comissão Especial de Estudos nomeada pelo CNPq, CAPES e FINEP para propor uma Nova Tabela das Áreas do Conhecimento. Referência: Implicações da nova Tabela das Áreas de Conhecimento à Farmacologia. Prezados Senhores, A Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE; portal oficial em http://www.sbfte.org.br), entidade que congrega a ampla maioria dos profissionais que atuam em atividades de pesquisa e de ensino em nível de Graduação e Pós-Graduação em Farmacologia no país, vem manifestar-se acerca da Nova Tabela das Áreas do Conhecimento proposta pela comissão, no que diz respeito à Farmacologia. Após o recebimento de inúmeras manifestações individuais de nossos sócios, bem como de Colegiados de Departamentos de Farmacologia de IES públicas e de Programas de PósGraduação em Farmacologia credenciados pela CAPES e integrantes do nosso Fórum Permanente de Programas de Pós-Graduação em Farmacologia, a SBFTE apresenta abaixo sua preocupação com diversos pontos da proposta. 1. Passagem da área de Farmacologia das Ciências Biológicas (Grande Área 3) para as Ciências Médicas e da Saúde (Grande Área 4 – Área 8) - É verdade que os conhecimentos gerados pela Farmacologia muitas vezes encontram aplicações diretas nas Ciências Médicas e na Saúde. Porém, a alavancagem deste processo implica, obrigatoriamente, na aquisição de conhecimentos de Farmacologia afins à Grande Área de Ciências Biológicas. Neste sentido, a exemplo do que se verifica em escala mundial, a Farmacologia interage fortemente com a Fisiologia, a Bioquímica, a Biofísica, a Imunologia (que a comissão também propõe mudar para a Grande Área 4) e outras áreas atualmente dispostas na Grande Área de Ciências Biológicas. Nós farmacologistas temos absolutamente claro que a ampla maioria dos conhecimentos que a Área gera são atinentes a diferentes aspectos de Farmacologia Pré-Clínica (i.e. estão diretamente voltados às Ciências Biológicas), voltados à compreensão de ações de moléculas naturais ou sintéticas sobre funções biológicas. Por vezes, tais estudos resultam no desenvolvimento de drogas que, ao atuarem sobre novos alvos moleculares e celulares e mostrarem perfil adequado de segurança e eficácia em ensaios de Farmacologia Clínica (inclusive toxicológicos), ampliam e aprimoram o arsenal terapêutico disponível para o tratamento de fisiopatologias humanas. Apenas a partir da sua aprovação para uso terapêutico é que estas poucas moléculas passam a constituir interesse direto à Grande Área das Ciências Médicas e da Saúde, e/ou da Medicina Veterinária (Área 4 da Grande Área de Ciências Agrárias e Veterinárias, na tabela proposta). Uma análise das Áreas que integram a Grande Área de Ciências Médicas e da Saúde proposta pela comissão revela Diretoria (2004-2005): Presidente: Giles A. Rae (UFSC); Vice-Presidente: Regina P. Markus (USP), Secretário Geral: François G. Noel (UFRJ); 1º Secretário: Isac A. Medeiros (UFPB):, Tesoureiro: Mauro M. Teixeira (UFMG). Endereço para correspondência: Secretaria Executiva da SBFTE (a/c Sandra R. S. da Cruz), Rua Donizetti T. de Lima, 274, 02404-100, São Paulo, SP , Brasil. Telefone/Fax: [55-11] 6976-2793 e-mail: [email protected] homepage http://sbfte.org.br SBFTE Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental que todas, à exceção da Farmacologia e da Imunologia, estão voltadas para a geração de conhecimentos e procedimentos que impactam direta e especificamente sobre o bem estar de pacientes. Por fim, não recebemos quaisquer manifestações individuais ou colegiadas favoráveis à proposta de transposição da Farmacologia das Ciências Biológicas às Ciências Médicas e da Saúde. Também não tivemos acesso às justificativas que levaram a comissão especial a propor a mudança. Em vista destas considerações, a SBFTE manifesta oficialmente sua firme convicção de que a Área de Farmacologia continue a integrar a Grande Área das Ciências Biológicas. 2. Desvinculação da sub-área Neurofarmacologia da Área da Farmacologia, para integrá-la à nova Área de Neurociências (Grande Área 3 – Área 9) – É muito evidente que as Neurociências vem crescendo e ampliando aceleradamente sua presença no cenário científico mundial. Tendo como foco principal de estudo o sistema nervoso, é compreensível que a proposição da comissão de criar essa nova Área tenha sido acompanhada da simples agregação de sub-áreas com o prefixo “Neuro”, entre as quais a Neurofarmacologia. Entretanto, não estão enquadradas nas Neurociências as subáreas Neurologia, Neurocirurgia, Genética Neurocomportamental, Fisioterapia Neuromuscular, e Neuropsicologia Cognitiva, Psiquiatria e sub-áreas de prefixo “psico”, entre as quais a Psicofarmacologia, sub-área não incluída da proposta da comissão (como, aliás, não foi a de Neuroimunomodulação). Utilizando abordagens experimentais específicas à sua subárea, a Neurofarmacologia gera conhecimentos especializados que contribuem para a compreensão do sistema nervoso. Contudo, é igualmente verdadeiro que a Neurofarmacologia também elucida mecanismos importantíssimos ao funcionamento de múltiplos sistemas orgânicos, incluindo, por exemplo, as regulações dos sistemas cardiovascular, endócrino, gastrintestinal, respiratório, reprodutor, renal, imune, entre outros. Diversos farmacologistas e programas de Pós-Graduação em Farmacologia ressaltaram seu veemente desagrado com relação à proposta de excluir a Neurofarmacologia da Área de Farmacologia. A SBFTE subscreve integralmente tais manifestações e solicita oficialmente à comissão que reverta a desvinculação da Neurofarmacologia da Farmacologia. Ainda que a SBFTE julgue pertinente a proposta de criação da Área de Neurociências, pelas suas características multidisciplinares e interfaces com diferentes Grandes Áreas, talvez fosse prudente que a ela fossem agregadas algumas especialidades, ao invés de sub-áreas per se. 3. A inclusão das sub-áreas de ‘Produtos Naturais e Fitoterápicos’ e de ‘Toxicologia’ na Área de Farmácia (Grande Área 4 – Área 3) – As Áreas de Farmácia e a Farmacologia apresentam interface muito significativa, ainda que as particularidades de cada qual sejam, na maior parte das vezes, perfeitamente discerníveis. Não é o caso das sub-áreas de Produtos Naturais e Fitoterápicos e da Toxicologia. Parte expressiva dos farmacologistas do país dedicam-se a estudar a Farmacologia de Produtos Naturais (de origem microbiana, vegetal ou animal), na busca de moléculas com perfis inéditos de atividade biológica. Também há farmacologistas dedicados a estudos de Toxicologia, Diretoria (2004-2005): Presidente: Giles A. Rae (UFSC); Vice-Presidente: Regina P. Markus (USP), Secretário Geral: François G. Noel (UFRJ); 1º Secretário: Isac A. Medeiros (UFPB):, Tesoureiro: Mauro M. Teixeira (UFMG). Endereço para correspondência: Secretaria Executiva da SBFTE (a/c Sandra R. S. da Cruz), Rua Donizetti T. de Lima, 274, 02404-100, São Paulo, SP , Brasil. Telefone/Fax: [55-11] 6976-2793 e-mail: [email protected] homepage http://sbfte.org.br SBFTE Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental ainda que a SBFTE reconheça que esta sub-área necessita ser expandida consideravelmente e requer maior atenção, esteja ela enquadrada na Farmacologia ou na Farmácia. De qualquer maneira, a SBFTE propõe à comissão que, na tabela final, a “Farmacologia de Produtos Naturais” e a “Toxicologia” (talvez Farmacologia Toxicológica fosse uma alternativa cabível) figurem como sub-áreas da Farmacologia. 4. A proposta das especialidades de ‘Farmacobotânica e Fitoquímica’ e ‘Farmacologia Pré-Clínica e Clínica’ – Nosso entendimento é que Farmacobotânica e Fitoquímica constituem especialidades distintas, e que a especialidade sugerida seja desmembrada. Por outro lado, ao englobar todas as sub-áreas da Farmacologia em uma única especialidade ‘Farmacologia Pré-Clínica e Clínica’, a SBFTE considera esta proposta de especialidade desprovida de sentido ou utilidade. 5. As sub-áreas que integram a Área de Farmacologia tal qual aparecem na proposta – A comissão propôs que a Farmacologia agregue as sub-áreas de Farmacologia Geral, Farmacologia Clínica, Etnofarmacologia, Toxicologia e Farmacologias Especializadas. A proposta de uma sub-área específica de ‘Farmacologias Especializadas’ carece de qualquer lógica, exceto a de pretender enquadrar sub-áreas que porventura não estejam explicitadas na área. Tal estratégia (i.e. a de sub-áreas x, y ou z especializadas) foi proposta em diversas outras áreas da nova tabela. No entendimento da SBFTE, mantê-las na Tabela final só faria sentido se fossem abolidas todas as demais sub-áreas de cada área. Com base nas manifestações individuais e colegiadas que recebeu, a SBFTE recomenda fortemente que a comissão considere a possibilidade de inserir, na Área de Farmacologia, as seguintes Sub-Áreas: a) Farmacologia Geral, b) Farmacologia Autonômica, c) Farmacologia da Inflamação e da Dor, d) Farmacologia de Produtos Naturais e Etnofarmacologia, e) Neurofarmacologia, f) Psicofarmacologia, g) Farmacologia Clínica, h) Farmacologia Toxicológica (ou Toxicologia), i) Farmacologia celular e molecular, j) Farmacologia de Sistemas. A SBFTE sugere ainda, que a comissão analise a possibilidade de inclusão de algumas especialidades adicionais, de modo a melhor acomodar estudos que não se enquadram nas sub-áreas acima mencionadas. Seriam elas: Farmacologia Cardiovascular, Farmacologia Gastrintestinal, Farmacologia Renal, Farmacologia Respiratória, Farmacologia Endócrina, Farmacologia Reprodutiva, Imunofarmacologia e Fitomedicamentos. A SBFTE tem plena consciência das dificuldades e do desafio que representa a construção de uma nova tabela de áreas do conhecimento que possa nortear o desenvolvimento científico e tecnológico do país nas próximas décadas. Ciente do papel que tem a desempenhar nesse processo de melhoria do bem estar nacional, a SBFTE desde já agradece à Comissão a especial atenção dispensada às considerações que apresentamos aqui e externa seus votos de sucesso na conclusão dos trabalhos. Diretoria (2004-2005): Presidente: Giles A. Rae (UFSC); Vice-Presidente: Regina P. Markus (USP), Secretário Geral: François G. Noel (UFRJ); 1º Secretário: Isac A. Medeiros (UFPB):, Tesoureiro: Mauro M. Teixeira (UFMG). Endereço para correspondência: Secretaria Executiva da SBFTE (a/c Sandra R. S. da Cruz), Rua Donizetti T. de Lima, 274, 02404-100, São Paulo, SP , Brasil. Telefone/Fax: [55-11] 6976-2793 e-mail: [email protected] homepage http://sbfte.org.br SBFTE Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental Respeitosamente, Prof. Dr. Giles Alexander Rae Presidente da SBFTE [email protected] Diretoria (2004-2005): Presidente: Giles A. Rae (UFSC); Vice-Presidente: Regina P. Markus (USP), Secretário Geral: François G. Noel (UFRJ); 1º Secretário: Isac A. Medeiros (UFPB):, Tesoureiro: Mauro M. Teixeira (UFMG). Endereço para correspondência: Secretaria Executiva da SBFTE (a/c Sandra R. S. da Cruz), Rua Donizetti T. de Lima, 274, 02404-100, São Paulo, SP , Brasil. Telefone/Fax: [55-11] 6976-2793 e-mail: [email protected] homepage http://sbfte.org.br