HORTO DO CAMPO GRANDE MAGAZINE 74 Loteamento Comercial da Amadora arquitectura paisagista Projecto de Qualquer projecto de paisagismo exige um estudo minucioso de forma a serem encontradas as melhores soluções que garantam o equilíbrio final. Tratando-se de um espaço com uma enorme dimensão, que envolve diferentes intervenientes e que apresenta condicionantes naturais tão específicas, o desafio torna-se ainda mais exigente. Falamos do projecto de arquitectura paisagista do Loteamento Comercial da Amadora, onde se insere o maior centro comercial da Europa – Dolce Vita Tejo. HORTO DO CAMPO GRANDE MAGAZINE 75 O Loteamento Comercial da Amadora, pertencente ao grupo francês Auchan, é composto por seis lotes. Até ao momento, apenas o lote de maior dimensão está construído – o edifício Dolce Vita Tejo – um projecto promovido pela Chamartín Imobiliária em parceria com o ING Development, e que agora se apresenta como o maior centro comercial do país. O projecto de arquitectura paisagista deste grande Parque Comercial é da autoria do arquitecto paisagista Óscar Knoblich, e diz respeito às respectivas áreas públicas e a uma área periférica exterior, abrangida pela delimitação da Reserva Ecológica Nacional (REN) dos concelhos da Amadora e de Odivelas. A área verde pública projectada para o Loteamento Comercial da Amadora distribui-se por espaços com utilizações distintas, sendo que o maior objectivo foi enquadrar, integrar e valorizar as áreas comerciais projectadas. Assim, estes espaços verdes públicos vêm estabelecer uma articulação entre o novo tecido urbano e a paisagem envolvente, quer através da criação de zonas verdes funcionais e atractivas a serem utilizadas pela população, quer através da concepção de espaços verdes que apenas funcionam como elementos enquadrantes dos lotes, garantindo uma maior coesão entre o conjunto. É importante referir que, estando este Parque Comercial localizado numa área abrangida pelo Plano de Urbanização da Amadora – Zona Nascente (PUAZN), o projecto de revitalização das áreas de utilização pública deste loteamento obedeceu a critérios de naturezas distintas, ou seja, grande parte destes terrenos estavam classificados como REN (Reserva Ecológica Nacional) e como RAN (Reserva Agrícola Nacional), o que exigiu um estudo minucioso de requalificação e tratamento paisagístico das margens do Rio da Costa e das linhas de água que atravessavam toda a superfície. Falamos de obras de regularização hidráulicas que levaram à criação do Parque Urbano da bacia de Amortecimento e do Percurso Ribeirinho. Estes dois projectos de cariz hidráulico, aos quais se junta o projecto das rotundas que integram o novo sistema viário, constituem assim o total da área de intervenção prevista pelo projecto global de arquitectura paisagista. A área verde pública projectada para o Loteamento Comercial da Amadora distribui-se por espaços com utilizações distintas, sendo que o maior objectivo foi enquadrar, integrar e valorizar as áreas comerciais projectadas. Espaços verdes públicos Coberto vegetal A opção recaiu sobre as espécies climáticas da região (pinheiro manso, carvalho e olival) e sobre outras espécies com uma boa adaptação edafoclimática às condições locais. Estrutura verde urbana (arruamentos, separadores e rotundas) São nove as rotundas integradas nas áreas de utilização pública do Loteamento Comercial da Amadora, concebidas como unidades físicas referenciais da leitura do espaço. A solução adoptada para o conjunto de rotundas e separadores verdes baseou-se numa filosofia comum no que respeita à concepção formal e aos materiais inertes e vegetais utilizados, o que torna quase inexistente a necessidade de qualquer tipo de manutenção e potencia a sua conservação ao longo do tempo. Nas rotundas, os desenhos concebidos surpreendem pela originalidade, tendo cada rotunda o seu desenho específico. Um trabalho executado pela Teleflora, que também será responsável pela realização de outros trabalhos no âmbito do projecto de paisagismo do Loteamento Comercial da Amadora. Nos arruamentos, a estrutura verde principal é constituída por formações arbóreas caducifólias e perenifólias, de copa variável e de crescimento rápido, em agrupamento/alinhamento adaptado às características urbanas. Para assegurar uma manutenção sustentável, foram propostos sistemas de rega gota-a-gota para as árvores dos alinhamentos e grupos de arbustos plantados nas rotundas. HORTO DO CAMPO GRANDE MAGAZINE 76 HORTO DO CAMPO GRANDE MAGAZINE 77 Nos separadores e nas rotundas, foram instalados sistemas por aspersão, utilizando aspersores e pulverizadores ajustados aos espaços e à vegetação. Nas rotundas sem rede de rega (por falta de abastecimento da rede pública) é assegurada rega manual por autotanque ao longo dos dois anos seguintes, momento a partir do qual se prevê uma adaptação natural das plantações. Integração biofísica e paisagística de linhas de água As características biofísicas de um território são influenciadas por três factores – geologia, solos, disponibilidades hídricas –, e também pela forma como se processou a sua transformação cultural, nomeadamente as actividades agrícola, florestal e a edificação dos aglomerados urbanos. Uma das maiores condicionantes na concepção deste projecto de arquitectura paisagista relacionava-se com a linha de água do Rio da Costa, classificada pela REN como um percurso ribeirinho. Esta linha de água (que desagua no Rio Tejo) tem uma bacia hidrográfica que se estende até Sintra, abrangendo uma grande área que hoje é ocupada urbanisticamente. Existiam também outras linhas de água subsidiárias que atravessavam todo o terreno do loteamento. Foi necessário então Nas rotundas, os desenhos concebidos surpreendem pela originalidade, tendo cada rotunda o seu desenho específico. HORTO DO CAMPO GRANDE MAGAZINE 78 HORTO DO CAMPO GRANDE MAGAZINE 79 realizar um conjunto de obras hidráulicas que valorizassem as linhas de água, não só neste terreno, mas ao longo de toda a sua extensão. É neste âmbito que surgem o Parque Urbano da Bacia de Amortecimento (PUBA) e o Percurso Ribeirinho (PR), duas soluções de integração paisagista que vêm complementar e valorizar o bom funcionamento hidráulico das linhas de água internas e confinantes ao Loteamento Comercial da Amadora. Parque Urbano da Bacia de Amortecimento: Rio da Costa A intervenção biofísica e paisagística do Rio da Costa consiste no tratamento paisagístico da bacia de amortecimento, plataformas do Loteamento Comercial e terrenos do Governo Civil, numa área de aproximadamente quatro hectares e que se passa a designar por Parque Urbano da Bacia de Amortecimento (PUBA). Um espaço que a par de contemplar uma bacia de amortecimento que previne o risco de cheias fluviais, encerra em si uma multiplicidade de outras valências a pensar no bem-estar da população. Assim, o estudo deste projecto pressupôs a criação de um espaço verde multifacetado composto por quatro núcleos distintos: - Núcleo A: Recreio Passivo (com um conjunto de recreio infantil, uma casa-abrigo, mesas de pingue-pongue, bancos de estadia, parque de merendas, papeleiras e receptáculos para resíduos sólidos e fontanário/bebedouro.) - Núcleo B: Desporto (desenvolve-se num amplo espaço verde aberto, revestido por prado permanente e que irá contemplar um campo de futebol, campos de badmington, uma zona de jogos tradicionais, uma casa-abrigo e bancadas/escadas integradas em talude.) - Núcleo C: composto por um passadiço instalado na cota superior à cheia centenária que atravessa o rio da Costa e assegura a ligação a um parque de aventuras do qual fazem parte outros equipamentos de recreio e de lazer. - Núcleo D: um recinto multiusos pautado pela plantação de plátanos e que irá acolher a realização de eventos como feiras e exposições, entre outros. Além do tratamento paisagístico dos diferentes Núcleos, o PUBA apresenta igualmente outros equipamentos como o acesso principal que apenas permite a circulação pedonal e a criação de um pequeno percurso de manutenção que estimula a prática do exercício físico. No que respeita ao plano de plantação do PUBA, a escolha recaiu numa galeria ripicola para a estrutura principal, tendo as estruturas secundárias sido revestidas por agrupamentos de árvores e arbustos, determinantes para garantir o enquadramento do percurso pedonal e dos núcleos de recreio e desporto. Todas as áreas serão cobertas por prado permanente. Percurso Ribeirinho Para o percurso que acompanha a linha de água principal foi idealizada uma estrutura verde, mas sem utilidade pública.