O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS (PDT)
NA VERTI: UMA EMPRESA DE BASE TECNOLÓGICA
Ricardo Almeida1 ([email protected])
Contextualização
No cenário de negócios atual a busca pela competitividade e diferenciação tem direcionado de
forma crescente as instituições privadas, centros de pesquisa e novos empreendimentos na
corrida pela inovação tecnológica no Brasil. No entanto, o desenvolvimento de tecnologias é
um processo complexo e envolve várias etapas associadas a um elevado risco. É comum
deparar-se com frustrações no desenvolvimento de tecnologias e aversão das empresas ao
risco de P&D.
A inovação tecnológica está intimamente ligada à quebra de paradigmas e mudanças culturais
nas instituições. Ainda são poucas as empresas, no Brasil, que efetivamente investem em
inovação como estratégia. Mesmo assim, muitas delas só o fazem porque recebem incentivos
do governo através de recursos, e não como uma cultura de inovação da empresa.
Comumente grandes empresas e setores permanecem durante décadas estagnadas no
conservadorismo do mercado, ora pelo comodismo natural de alguns setores, ora pela aversão
de lidar com o risco intrínseco ao processo de geração de valor através da inovação.
Entretanto, competir de forma acirrada através de redução de custo ou diferenciação de
produtos não é a solução para competitividade de longo prazo no novo cenário de negócios. É
necessário aprender a gerenciar a inovação, mitigar os riscos envolvidos e gerir o portfólio de
tecnologias para criação de valor e contínua sustentabilidade no longo prazo.
Elaboração de um Processo de Desenvolvimento de Tecnologias (PDT): caso Verti
Elaborar ou adotar uma metodologia para o desenvolvimento de tecnologias é imprescindível
para o contínuo sucesso da inovação tecnológica. Nesse caso, aprender a gerenciar a inovação,
mitigar o risco, reduzir retrabalhos e otimizar o tempo de desenvolvimento de tecnologias são
desafios inerentes ao processo de gestão da inovação que necessariamente precisam ser
sistematizados e trabalhados.
O processo de desenvolvimento de tecnologias precisa ser adaptado à realidade, organização,
cultura e processos internos de cada empresa. Não existe uma fórmula comum de PDT para
qualquer tipo de empresa. No entanto, este deve ser devidamente sistematizado para que se
tenha controle do risco, redução de tempo e otimização do desenvolvimento, como também
ser suficientemente flexível para melhoria contínua e adaptações necessárias às mudanças do
ambiente interno e externo.
Com intuito de explicitar de forma didática a elaboração de um processo de desenvolvimento
de tecnologias, buscou-se exemplificar como ocorre o PDT na Verti. É importante ressaltar que
1
Ricardo Almeida é Engenheiro de Produção e analista responsável pela área de Gestão de Tecnologias e Inovações
da Verti Ecotecnologias.
o processo de desenvolvimento de tecnologias da Verti é adaptado para o seu contexto,
cultura, tipo de organização e tecnologias desenvolvidas. Cada empresa deve estruturar o seu
PDT de acordo com seu contexto, no entanto podem-se gerar alguns insigths apresentando, de
forma sistemática, como foi elaborado o PDT na Verti.
O Processo de Desenvolvimento de Tecnologias (PDT) na Verti está estruturado em fases,
etapas e processos, visando o sucesso no desenvolvimento de tecnologias e contribuindo para
redução do tempo de desenvolvimento e do risco dos projetos. Um papel relevante do PDT é
delinear e organizar as áreas e competências necessárias durante o desenvolvimento
tecnológico, para que a equipe possa trabalhar de forma organizada e com os processos bem
estabelecidos. A figura abaixo apresenta um modelo geral do PDT desenvolvido na Verti.
Figura 1: Modelo Geral do Processo de Desenvolvimento Tecnológico da Verti.
A seguir é apresentado um passo a passo do Processo de Desenvolvimento de Tecnologias da
Verti. O primeiro passo é desenvolver o Plano Estratégico de tecnologias da empresa, em
seguida é realizado o passo de prospecção de tecnologias e oportunidades estratégicas no
ambiente externo. A terceira parte é a estruturação as fases de desenvolvimento de
tecnologias, indicadores, e tomada de decisão nas etapas. A última etapa é a implementação
da tecnologia em escala industrial no mercado.
a) Etapa 1: Plano Estratégico
O desenvolvimento do plano estratégico é a etapa do processo que mais se aproxima do nível
estratégico da empresa, sendo esta considerada uma estratégia de posicionamento do negócio
da empresa, alimentada continuamente pelo seu Planejamento Estratégico. A definição das
áreas estratégicas da empresa é feita a partir dos outputs gerados no Planejamento
Estratégico da empresa.
Após definido em quais áreas estratégicas a empresa irá atuar, definem-se os seus
direcionadores estratégicos, podendo ser visto também como um plano para guiar a
prospecção de oportunidades da área. Entre outras palavras, as áreas estratégicas podem ser
vistas como um objetivo de “onde queremos chegar?” e os direcionadores como um plano de
“como chegaremos lá?”. Com isso temos o Plano Estratégico do PDT da Verti definido.
b) Etapa 2: Prospecção
Após definir os Direcionadores Estratégicos, entra-se, então, na etapa de prospecção de
oportunidades tecnológicas de P&D. As oportunidades podem ser provenientes tanto de
problemas identificados no mercado quanto de pesquisas ou tecnologias em desenvolvimento
nos centros tecnológicos e Universidades.
Um exemplo de oportunidade prospectada, no caso da Verti, pode ser um problema ambiental
de grande impacto, com tendência de agravamento no futuro e que tenha grande potencial
para realização de P&D. Nesse caso, essas oportunidades passarão ainda por uma seleção de
acordo com os critérios internos da empresa, a gestão do portfólio, metodologia também
utilizada para mitigação do risco de P&D.
c) Etapa 3: Desenvolvimento - Tomada de Decisão
Muitas vezes, pesquisas nas Universidades que representam boas oportunidades para serem
levadas para o mercado ficam estagnadas em escala de laboratório ou levam muito tempo
para ser feito o scale-up e testes de conceito. O Desenvolvimento - Tomada de Decisão é uma
etapa do PDT da Verti que define e organiza de forma clara e mitigadora o risco de P&D,
evitando grandes investimentos industriais sem comprovações de escala.
A figura 2 apresenta um quadro detalhado com as fases e etapas do Processo de
Desenvolvimento de Tecnologias da Verti. Este processo pode ser visto como o detalhamento
do funil da figura 1, especificamente da fase de Desenvolvimento – Tomada de Decisão, e está
dividido em 4 fases: Laboratório, Pré-Piloto, Piloto e Industrial.
Figura 2: Etapas da fase Desenvolvimento - Tomada de Decisão do Processo de Desenvolvimento
Tecnológico da Verti.
c.1) Laboratório
A fase de laboratório é a primeira etapa após a prospecção de uma oportunidade, sendo,
nesse caso, na maioria das vezes, um problema ambiental relevante ou alguma área de
pesquisa para o futuro. A fase de laboratório é dividida em duas fases, a primeira é de P&D
exploratório, onde são realizados os testes iniciais no laboratório, e a segunda fase é de P&D
direcionado, para aprofundamento e otimização da pesquisa. É importante ressaltar que nessa
fase a pesquisa se encontra em escala laboratorial, sendo produzida na escala de gramas ou
menos.
As oportunidades que são aprovadas para o P&D exploratório são aquelas que estão alinhadas
estrategicamente com a empresa. Nessa fase de P&D exploratório essas oportunidades são
então estudadas: coleta, análise e caracterização dos resíduos, em seguida são feitos os testes
iniciais para estruturação do problema e definição de rotas solucionadoras e por fim, cada rota
é analisada, e assim priorizada, de acordo com suas vantagens e desvantagens.
Após decidida a rota a ser desenvolvida, a pesquisa vai para a etapa de P&D direcionado.
Nessa etapa a rota escolhida é investigada com detalhes, visando entender os gargalos do
processo, resolução de problemas inesperados e otimização da rota em escala de laboratório.
É importante ressaltar que nessa etapa é feito um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica
(EVTE) da tecnologia em fase de pesquisa. Nesse estudo é realizada uma pesquisa para
entender as características do mercado, como tamanho, tendência, estimativa de retorno,
tempo de desenvolvimento, modelo de negócios e etc.
A partir do EVTE são gerados os indicadores para tomada de decisão na Gestão de Portfólio,
como: se a pesquisa deve seguir para fase pré-piloto, ou deve ser abortada, ou congelada, ou
ainda, patenteada e transferida para outro mercado.
c.2) Pré-Piloto
Uma vez que a pesquisa direcionada foi aprovada para continuidade do desenvolvimento da
tecnologia, segue-se para fase Pré-Piloto. Algumas vezes, se a tecnologia já é passível de ser
patenteada, isso deve ser feito. O Pré-Piloto visa fazer o primeiro aumento de escala da
pesquisa direcionada. Nessa fase desenvolvem-se os equipamentos que serão utilizados para
produção em quilogramas. Busca-se identificar também todas as falhas, riscos, necessidades
de melhoria do processo, projeto de segurança, impactos ambientais e logística de materiais.
No final dessa fase é feito um relatório que é agregado ao EVTE da tecnologia. É importante
ressaltar que nessa etapa é feito um refinamento da análise de investimento, pois nesse
momento tem-se uma idéia mais real dos custos de matéria-prima. Após o refinamento da
análise de investimento, a tecnologia passa mais uma vez pela etapa de tomada de decisão na
Gestão de Portfólio, respondendo, novamente, se ela deve ir para a etapa Piloto, abortar,
congelar ou ser transferida.
c.3) Piloto
Após o projeto ter sido aprovado na etapa Pré-Piloto, inicia-se a etapa Piloto. Nesta etapa,
busca-se profissionalizar o processo, corrigindo erros da planta Pré-Piloto, projeto de
engenharia dos equipamentos de forma otimizada, e realização do teste de conceito da
tecnologia ou dos produtos gerado no processo. Ao mesmo tempo é feito um estudo de
fornecedores, análise da modelagem de negócios, e mais uma vez um refinamento da análise
de investimento, obtendo resultados ainda mais confiáveis para tomada de decisão. Após esse
estudo, mais uma vez a tecnologia é avaliada na Gestão de Portfólio, para tomar decisão ainda
mais arriscada, se deve ou não investir em um projeto industrial e lançar a tecnologia no
mercado, se aborta ou congela o projeto, ou ainda se faz uma transferência da tecnologia (T.T)
para algum comprador no mercado.
c.4) Industrial
Nesta etapa a análise de investimento é uma etapa crítica e decisiva. Espera-se que os
resultados da análise de investimento sejam muito confiáveis para tomada de decisão de
investimento industrial. Nessa fase é feita a gestão do negócio. Caso o negócio seja um spinout, estrutura-se uma equipe com perfil para gestão do novo negócio desenvolvido pela
empresa. Todavia, se a tecnologia não apresentar um potencial para tal, procura-se uma
estratégia de negócio como transferência ou prestação de serviço com a tecnologia.
É importante salientar que, nessa etapa, deve-se ter total domínio da tecnologia, seja um
processo ou um produto. Deve-se ter conhecimento de todas as áreas de risco do projeto e
garantir a robustez da tecnologia como forma preventiva de eventuais problemas,
principalmente de segurança, que estão envolvidos com a tecnologia.
Conclusão
Apesar de ter sido apresentada uma metodologia para o processo de desenvolvimento de
tecnologias na Verti, é importante também ressaltar as dificuldades e desafios que foram
encontrados na implantação desse processo. A dificuldade de minimizar o caráter acadêmico
da equipe no desenvolvimento tecnológico, a gestão da informação e a tomada de decisão na
gestão do portfólio de projetos foram pontos críticos e que demandaram um tempo de
adaptação e aprendizado da equipe Verti.
Entretanto, recomenda-se continuamente a busca por melhorias no processo e adaptações de
acordo com as mudanças do ambiente externo. Para o sucesso da competitividade através da
inovação tecnológica é fundamental a quebra de paradigmas competitivos, mudanças culturais
e organizacionais nas empresas. Como foi apresentado, o risco é intrínseco ao próprio
processo de inovação, no entanto a excelência na diferenciação contínua para competitividade
no longo prazo está em saber gerenciar esse risco para maximizar o retorno do portfólio de
tecnologias.
Download

da Publicação