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REGIÃO CARBONÍFERA, SEXTA-FEIRA, 09 DE SETEMBRO DE 2011
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EDITORIAL | OPINIÃO
Editor: Marcos Barbosa
(51) 8401.2309
No Twitter: @colunadoaranha
Colaboram:
Renato Miller, Rodrigo Ramazzini,
Susana Martins e Viviane Bueno
Editorial
Incoerência e
alienação
É, no mínimo, curiosa a decisão, no município de Rio
Grande, sul do Estado, de ser construído um monumento alusivo aos cem anos de nascimento do general
Golbery do Couto e Silva.
O militar, que nasceu na chamada Noiva do Mar, ocupou posição de destaque na política brasileira entre as
décadas de 50 e 80, porém foi durante o período mais
truculento da ditadura militar imposta ao país, entre 64 e
79, que Golbery atingiu uma grande capacidade de influência em praticamente todas as decisões mais importantes do governo federal de então, valendo-lhe, inclusive
o apelido de “Eminência Parda” do poder ditatorial instituído pelo golpe de estado.
Sem entrar no mérito de questões ideológicas mais
específicas, impõe-se um questionamento diante de um
fato como este. Não estaria a comunidade rio-grandina
na contra-mão da história política nacional? Ressalte-se
que o fato ocorre mais
de um quarto de sécu- Por que uma
lo após o Brasil ter recuperado, diga-se de homenagem a
passagem, a duras pe- alguém tão
nas, seu estado democrático de direito e a representativo
simples referência ao
nome de Golbery ine- de uma das
vitavelmente nos levará para a associação a piores
um período nebuloso, repressões
inseguro e triste de
nosso sistema social. políticas por que
Que já existam outras
formas de homenagens passamos ao
a outros personagens longo de nossa
dos truculentos anos
de chumbo brasileiros, história?
como nomes de rodovias, ginásios, etc, compreende-se, já que tais atos aconteceram durante os anos de vigência do período ditatorial, mas por que uma homenagem, neste momento, a
alguém tão representativo de uma das piores repressões
políticas por que passamos ao longo de nossa história?
Que objetivos pode, uma comunidade pujante e desenvolvida como é a da cidade de Rio Grande, querer alcançar com tal decisão?
O Brasil tem construído, ao longo das últimas três
décadas, uma das democracias mais sólidas da América
Latina e o Rio Grande do Sul, por sua própria história
antiga e recente, tem sido sempre um baluarte de movimentos político-sociais libertários e de considerável
consciência de cidadania e auto-determinação. Nesse
sentido e exatamente por compormos esse perfil cultural, reverenciar pessoas ou instituições que converteram-se em símbolos da opressão ao livre pensamento e à
livre opção de vida constitui-se,talvez, num ato mais que
incoerente, mas de completa alienação à nova realidade
nacional.
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Quem te viu...
PDT x PTB
Brigadianos
Depois que o PT virou governo
e resolveu tentar “controlar a
mídia”, chegou a vez da CUT se
manifestar, agora sobre as mídias
sociais, por meio das quais foi
organizado um protesto contra a
corrupção, no dia 7, que reuniu
mais de 7 mil pessoas em Porto
Alegre. Disse o presidente da
Central Única dos Trabalhadores:
“Não vamos nos somar a um
movimento cuja origem é desconhecida. Não há um caráter de
transparência. Somos contra a
corrupção, mas participamos de
movimentos da sociedade organizada, não de manifestações obscuras”. A Força Sindical, a UNE e o
Cpers seguem a mesma orientação:
estão fora.
Só a OAB se manifesta favoravelmente aos protestos: lançou um
portal (www.agorachega.org.br)
onde um cadastro permite que o
cidadão comum acesse o e-mail dos
par(a)lamentares. “Queremos
entupir as caixas deles”, disse o
presidente Claudio Lamachia.
Em São Jerônimo, a disputa por simpatizantes entre PDT e PTB já é histórica e até
folclórica, com nuances de infidelidade.
Acontece que o ex-prefeito Urbano, que
deixou o PDT em clima nada amistoso (e eu
estava lá, vi e ouvi), tem arregimentado,
oficialmente, integrantes do PDT para o seu
PTB. Dize-se que estaria fazendo uma
verdadeira “limpeza” no PDT. O que não tem
mal nenhum. O problema está nas adesões
não oficiais à causa do ex-prefeito
(pedetistas que não saem, mas também não
ficam). Estes, pela rejeição à adesão ao
governo do prefeito Marcelo Schreinert
(mais porque não ganharam cargos do que
por convicção política), provavelmente farão
como na última eleição, quando muitos
trabalharam, nos bastidores, contra o
candidato do próprio PDT, Claudiomar
Farias. Isso ocorre em todos os partidos,
mas no caso do PDT e PTB, é mais exacerbado porque os dois partidos têm uma eterna
relação de amor e ódio.
O salário dos
brigadianos está como está
porque senadores, deputados e vereadores só
pensam nos seus. Não
defendo que os PMs
queimem pneus, mas devem
protestar, sim. E se há a
ideologização dos protestos é porque ela sempre
existiu e não é fato novo.
Os mesmos que hoje
querem “controlar a mídia”
lideravam os “caraspintadas” contra Collor, nos
anos 1990. A corrupção
daquela época era diferente
da de hoje? Não creio.
Apenas os lados que se
inverteram (saíram os
corruptos de direita para
entrarem os corruptos de
esquerda). É tudo ideologia.
ISAÍAS
[email protected]
DO LEITOR
Eleições do Sindimetal
Leitores comentaram, no Facebook, a reeleição de Jorge Luiz
Silveira de Carvalho (Luizão) para a presidência do Sindicato
dos Metalúrgicos (Sindimetal), no final do mês passado:
Maurio Souza - O Luizão tem história sindical, originário
da luta popular, dispensa comentários. Boa gestão, os
metalúrgicos estão bem conduzidos.
Cintia Ramos de Souza - Ele deveria ser o presidente da
República! Não conheço ninguém melhor pra representar o
povo!
Franciane Souza - Nada mais justo!
Carvão e desenvolvimento regional
Everton Pereira*
faça uma espécie de resumo, síntese e
análise mais crítica e profunda da proMais uma vez, o carvão mineral prova blemática carvão. Uma problemática que
ser uma fonte não só de energia elétrica, vai muito além de si mesma e que passa
mas também de aglutinação e de discus- necessariamente não por discussões,
sões apaixonadas em nossa região. A por horas apaixonadas e extremadas, do
polêmica em torno da ampliação, manu- simplesmente contra ou a favor, mas que
tenção ou mesmo exclusão desta fonte parta de uma questão essencial para ende energia dos leilões energéticos do tender a história da Região Carbonífera:
Ministério de Minas e Energia causou, a Economia de Monocultura.
mais uma vez, posicionamentos dos
Assim como na história econômica
mais diferentes setores
nacional, que teve e
da sociedade. A histó- Monoculturas
tem sua base na
ria se repete e basicamonocultura, inicialmente pode-se dividir colocam em risco mente com o pau-brasil,
as visões em três: de um
passando pela canalado os defensores da a economia local
de-açúcar, o café, difonte energética a qual- como um todo em versos grãos e o minéquer custo, de outro os
rio de ferro, por aqui a
“ambientalistas” con- épocas de crise
coisa não foi diferente.
trários e críticos do carA própria geografia do
vão como fonte de
local levou o nome de
energia “suja” e, por fim, aqueles que ba- sua principal monocultura: carbonífera,
seiam seu posicionamento em questões oriunda do carvão. Atualmente, se conpessoais como, por exemplo, trabalhar siderarmos a região como um todo, perdireta ou indiretamente em empresas liga- ceberemos a permanência da economia
das a extração do carvão ou então os que de monocultura como característica
se dizem lesados com o carvão por residi- principal. Carvão, madeira e fumo forrem próximo as áreas mineradas.
mam as três matrizes econômicas das
Acredito, como cidadão e secretário quais depende nossa região. A questão,
Municipal de Agricultura e Proteção ao no meu entendimento, não é usar disMeio Ambiente, que uma quarta via ou cursos radicais ou sectários, cegos. Jarposição deve ser considerada neste de- gões do tipo “fora aquilo” ou “fim a isto”
bate. Uma via que considere as demais e não nos levarão a um debate produtivo
8/9/2011, 19:43
e resolutivo. Devemos sim utilizarmonos de estratégias produtivas que se
voltem para a diversificação econômica
e, para isso, mesmo parecendo contraditório, a monocultura pode, temporariamente, ser uma grande aliada.
Falo da criação de um Fundo Regional
de Desenvolvimento Econômico e Social
que vise justamente através da riqueza
acumulada com as monoculturas, fomentar o desenvolvimento de outras matrizes
econômicas estratégicas como a pecuária
e a agricultura familiar, a pequena e média
empresa e, também, destinar recursos
para a preservação ambiental. Com a socialização e investimento destes recursos
oriundos do carvão, da madeira e do cultivo do fumo nestes setores, poderemos
a médio e longo prazo ampliar nossa capacidade produtiva e diversificar nossa
base econômica regional. Com um fundo
desta natureza poderemos fazer do limão,
uma limonada. Transformando nossas
hoje monoculturas - que por sua própria
essência colocam em risco a economia local como um todo em épocas de crise - em
apenas mais um elo da economia regional. Não precisando desta forma serem
excluídas mas sim contribuir, ao lado de
outras atividades, para nosso tão sonhado desenvolvimento sustentável.
(*) Secretário de Agricultura e Meio
Ambiente de Butiá
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