Publicação da associação brasileira de distribuidores volkswagen Ano 32 • n• 281 junho 2O1O Ética começa entre as pessoas É Muita gente acredita piamente que é ética. Mas não é. interessante – e difícil – falar sobre valores. Quando o assunto é ser ou não ser ético, mais ainda. O que é ética para alguns não é para outros. É um valor que se confunde com a maneira de cada indivíduo pensar a vida. Tem gente que fica bem confortável quando é atendido na frente de um idoso por descuido do caixa. Foi sorte, ele pensa. E não se sente constrangido ou na obrigação de dizer: “este senhor estava na minha frente”. Nas organizações, que, afinal, são pessoas interagindo entre elas e atendendo a outras não é diferente. Não comprometer-se, não se manifestar em auxílio a um colega injustiçado, não são consideradas atitudes antiéticas pela maioria das pessoas. Apenas situações normais do trabalho. Ética define-se como “toda a ação que vise o bem-estar do próximo”. Em outras palavras, vale a máxima: “não faça ao outro o que não gostaria que fizessem a você”. É verdade que hoje os departamentos de RH estão implementando programas que valorizem o comportamento ético nas empresas, mesmo porque os casos de queixas e até processos por “assédio moral” - pressão psicológica velada ou evidente (ou chacota) que superiores fazem com os comandados ou que acontece entre colegas - têm crescido sensivelmente. Ora, se a ética, na acepção da palavra, não existe entre as pessoas que trabalham na organização, o que será das relações com os fornecedores, e pior, com os clientes? A verdade é que a imagem do “brasileiro cordial” não tem nada a ver com ser ético. Pesquisas revelam que ainda estamos bem longe de termos como regra um comportamento ético em todas as situações sociais. A declaração de Maria do Carmo Whitaker, professora de ética no MBA e na pós-graduação da FAAP esclarece com maestria a questão: “O discurso não corresponde à prática. Vou a eventos, palestras, converso com as pessoas. Há muito discurso, mas não há correspondência na prática. A obtenção de lucro a qualquer custo é mais sensível que a consciência. O que vem provar que as empresas usam a responsabilidade social só para marketing. Se tivéssemos bons exemplos de cima, dos administradores do País, ajudaria muito a difundir ações éticas de fato.” E encerra: “na dúvida se uma determinada ação ou postura é ética, as pessoas devem se perguntar: isto que estou fazendo é bom, é justo? Prejudica alguém? Eu gostaria que fizessem isso com meu filho?” Reflita. SHOWROOM Conselho Editorial 3 A mensagem do Conselho Editorial. 5 Cartas O que dizem sobre Showroom. 6 Quem Passou Por Aqui Amigos e personalidades que visitaram a Assobrav e as empresas do Grupo Disal. 8 Gente Antonio Carlos Gouveia Jr., jornalista, publicitário, apaixonado por arte e muito bem-sucedido empresário. Alguém, como poucos, que conseguiu unir o sonho, o prazer, a um trabalho bem remunerado. À frente da conhecida - nacional e internacionalmente - Editora Décor, conta, nesta entrevista, como construiu a empresa que lidera o difícil mercado de editar livros de arte no Brasil. O mérito de Gouveia supera os números que lhe garantem o topo do ranking: mais de 130 livros publicados e mais de um milhão de livros vendidos no Brasil e no exterior. Ele e a sócia, Cecília Gouveia, que também é sua mulher e igualmente viciada no ramo editorial, superaram muitos problemas ao longo dos 20 anos hoje celebrados, principalmente a desmotivação de todos à sua volta – família, amigos e colegas jornalistas – que insistiam em dizer: “publicar arte? Isso não vai dar certo.” 12 TechMania 4 REDENEWS A PASSEIO COMPORTAMENTO 3 Recado Os testes em laboratórios e em pistas de provas da indústria automobilística, segundo o jornalista Fernando Calmon. 14 Comportamento A ciência responsável pela interação do homem com a máquina, a ergonomia, analisa as atividades, as posturas assumidas, a movimentação de braços, mãos e pernas, para resolver os problemas decorrentes do desequilíbrio da relação homem/máquina. E exatamente por isso é utilizada no desenvolvimento do interior dos veículos.Tudo é pensado para fazer com que o motorista se sinta bem acomodado e seguro. 18 Capa A ideia de ética e cidadania nos negócios pressupõe que as empresas devam agir como cidadãos, membros da sociedade que são. Empresas não são CNPJs, mas pessoas se relacionando umas com as outras e a ética deveria ser inerente ao ser humano. Infelizmente não é o que acontece ainda. Pelo menos na maioria das empresas. Uma postura ética deve começar dentro de casa, no relacionamento interpessoal. 24 RedeNews Eles são engraçadinhos, interessantes e continuam revolucionários. Agradam a todas as gerações. São os Fuscas, de 30 anos ou mais, que transmitem a história da indústria automobilística e a emoção da história recente da humanidade. 30 A Passeio Mais um destino paradisíaco: San Juan de Puerto Rico. São praias de areias brancas, florestas, desertos e rios. 28 mil hectares de floresta abrigam milhares de pássaros. A Ilha do Encantamento, como é conhecida, atrai gente de todo mundo para viver uma experiência única, onde beleza e diversão misturam-se o tempo todo. 36 Freio Solto A opinião, a ironia e a crítica do jornalista Joel Leite. 38 Efeméride A crônica de Maria Regina Cyrino Corrêa sobre as datas mais significativas do mês de junho. 39 Quando a Bola Rola... O comentário de Marcelo Allendes sobre o que acontece nos gramados, quadras, piscinas, pistas...e em outros espaços também. 40 Novidades O que há de novo em eletrônicos, periféricos de informática e outras utilidades. 41 Livros & Afins Nossas dicas para a sua biblioteca, cedeteca e devedeteca. 42 Vinhos & Videiras A opinião abalizada de Arthur Azevedo, diretor executivo da ABS – Associação Brasileira de Sommeliers – SP. Editor da Revista WineStyle e do site WWW.artwine.com.br 42 Mesa Posta Receitas, segredos e informações sobre a história da gastronomia com o Chef Gustavo Corrêa. Publicação mensal da Ano 31 – Edição 281– junho de 2010 Jovens talentosos Affonso Pastore É sempre um prazer conhecer o pensamento, objetivo e técnico, do professor Affonso Celso Pastore Edição 280 – Maio 2010). Sem rodeios, ele soube transmitir a realidade de nossa economia sem complicar o assunto e sem o pedante “economês”. Parabéns pela escolha do entrevistado. Paulo Junqueira Novos leitores de Showroom Tive a oportunidade, dias atrás, de ter em mãos a Revista Showroom e gostaria, se possível, de receber as próximas edições, já que gostei muito da publicação. Ela tem leitura agradável e certamente seria muito útil para o meu dia a dia profissional. José Maurício Ferraz Gostei muito do texto de Joel Leite na edição 280 (Freio Solto - Maio 2010) da Revista Showroom. E como soube que ele é articulista fixo da revista, gostaria muito de receber os próximos exemplares. Parabéns a todos da redação pelo ótimo trabalho. Marcelo Quintas Conheci a Revista Showroom em uma concessionária GM. Achei incrível vocês, uma publicação da marca VW, estarem presentes na concorrência. É uma evidência de que a revista não tem oba-oba marqueteiro, mas assuntos de interesse geral. Continuem nessa linha. Ângelo Morais N.R.: Recordamos que para receber Showroom mensalmente os interessados devem enviar um e-mail à Redação ([email protected]) informando o seu endereço e solicitando o envio da publicação. Os pedidos serão atendidos por ordem de chegada e conforme a disponibilidade de exemplares. Conselho Editorial Antonio Francischinelli Jr. , Evaldo Ouriques, Juan Carlos Escorza Dominguez, Mauro I.C. Imperatori e Silvia Teresa Bella Ramunno. Editoria e Redação Trade AT Once - Comunicação e Websites Ltda. Rua Itápolis, 815 • CEP 01245-000 São Paulo •SP • Tel (11) 5078-5427 [email protected] Editora e Jornalista Responsável Silvia Teresa Bella Ramunno (13.452/MT) Redação - Rosângela Lotfi (23.254/MT) Projeto Gráfico e Direção de Arte Azevedo Publicidade - Marcelo Azevedo [email protected] Publicidade Disal Serviços - Maria Marta Mello Guimarães Tel (11) 5078-5480 [email protected] Impressão Gráfica Itú Tiragem 6.000 exemplares Revista filiada à ABERJ Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte. As matérias assinadas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição da Assobrav. Registro nº 137.785 – 3º Cartório Civil de Pessoas Jurídicas da Capital de São Paulo. Assobrav Av. José Maria Whitaker, 603 CEP 04057-900 São Paulo – SP Tel: (11) 5078-5400 [email protected] Diretoria Executiva Presidente: Mauro Saddi Vice-presidentes: André Oshiro Carlos Roberto F de Mattos Jr. Elias dos Santos Monteiro Eric Braz Tambasco Francisco Veríssimo S Filho Luis Eduardo B Cruz e Guião Luiz Francisco Viscardi Nilo Moraes Coelho Filho Rogério Wink Diretor Ad-hoc: Bruno Abib Conselho de Ex-Presidentes Sérgio Antonio Reze, Paulo Pires Simões, João Cláudio Pentagna Guimarães, Rômulo D. Queiroz Monteiro Filho, Orlando S. Álvares de Moura, Amaury Rodrigues de Amorim, Carlos Roberto Franco de Mattos, Roberto Torres Neves Osório, Elmano Moisés Nigri e Rui Flávio Chúfalo Guião. SHOWROOM Fábio Nicchi Ramos foto: Felipe Lampe Foi ótima a dica que vocês deram aos jovens que estão no fim da faculdade ou buscando a primeira colocação, com a entrevista das duas moças estilistas na revista de abril (Seção Gente – Nº 279). Tenho certeza de que o árduo caminho de montar um negócio próprio acaba sendo muito mais compensador do que a aparente facilidade de começar como estagiário em uma empresa com o sonho de um dia chegar a presidente. Carreiras meteóricas e brilhantes são exceção e não a regra. Por que não, como bem mostraram vocês, investir em uma ideia, que começa pequena, mas que com determinação e trabalho, pode se tornar uma empresa rentável e de sucesso, trazendo aos seus criadores mais que compensação financeira, mas a incomparável sensação de ser um vencedor? O Brasil é um país com grande mobilidade social e um perfil nato de empreendedorismo. Acredito firmemente que a livre iniciativa é o nosso caminho. 5 Diretora da Fundação Volkswagen, Conceição Mirandola, e sua natural habilidade para conectar pessoas, ideias, projetos e sonhos... Sergio de Oliveira e Silva, representante do SENAC no Estado de São Paulo, organização que desde 1946 desenvolve programas de formação profissional em todo o País e que só em São Paulo tem 56 estabelecimentos e dois Hotéis Escola, reconhecidos pela qualidade técnica internacionalmente, para dar o seu aval de competência ao “Projeto Incluir”, a mais nova iniciativa da Assobrav com outros parceiros... Gente da Casa, Juliana Paravani Duarte, festejando um ano e meio na linha de frente da Assobrav no atendimento à Rede VW com simpatia e dinamismo, hoje às voltas com a hospedagem dos empresários para os próximos dois grandes eventos: a Reunião de Sucessores da Assobrav e a sempre majoritária participação dos concessionários VW no Congresso Fenabrave... 6 A sucessora da tradicionalíssima concessionária paulistana VW Marcas Famosas, Adriana Nazzar, para conhecer de perto as empresas do Grupo Disal... Luiz Antonio Pedregal, gerente de Negócios Especiais da Sascar, para rever velhos amigos e estabelecer novas parcerias... A competente...e linda Carmen Verônica Moreira Sousa, psicóloga, profissional de RH, presidente da RHTop – Consultoria e Gestão de Talentos, para viabilizar com todas as letras o Projeto Incluir... O vice-presidente do Fusca Clube do Brasil, o aficionado e expert no Volkswagen mais querido do mundo, William Abdo Naddaf, para comandar mais uma reunião festiva dos sócios e suas famílias na sede da Assobrav... Joel Leite, colunista desta revista, jornalista polivalente que transita em todos os meios, amante da moda de viola, do vernáculo luso, do folclore nacional e defensor indelével do meio ambiente, mas conhecido do grande público como especialista no setor automobilístico, para um bate-papo com os concessionários de São Paulo sobre os rumos desse mercado... SHOWROOM A vocacionadíssima pedagoga Marilda dos Santos Lima, supervisora pedagógica do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, em São Paulo, feliz com o reconhecimento dos concessionários Volkswagen de São Paulo com a qualidade pessoal e intelectual dos alunos preparados pela entidade... Mariana Mattos, jovem proeminente da Itaucard, analista de Vendas do Volkswagen Card, para estabelecer nova parceria... 7 Antonio Gouveia Jr. Fazendo arte Por Silvia Bella 8 Quando Antonio Gouveia Jr lançou o primeiro título de sua incipiente editora, compareceram à festa duas mil pessoas. Foi um sucesso, mas ele e a mulher, Cecília, sócia de primeira hora, só conheciam uma pessoa: um ao outro. Vinte anos depois, a Editora Décor Books comemorou os 130 títulos publicados e o mais de um milhão de livros de arte vendidos no Brasil e no exterior, lançando sua obra mais recente, a 16ª edição do Décor Year Book Brasil. No badalado Club A da capital paulista estiveram reunidos os mais famosos arquitetos, decoradores, artistas plásticos e personalidades ligadas ao sofisticado e exclusivo mundo da arte e decoração. Só que desta vez, os anfitriões conheciam todo mundo. eram poucos na época – tinha uns 50 decoradores atuantes no Brasil. Era um mercado grande, mas no seu profissionalismo, pequeno. sou jornalista, sou publicitário...Hoje sou um Publisher, quer dizer, aquele profissional que entende de todas as áreas da comunicação editorial. Tem que entender desde a redação, do texto jornalístico, até a produção gráfica, que é definir que tipo de papel, formato etc. Agora, essa especialização foi lenta. Demorou um bom tempo. Foi um trabalho árduo, imagino, porque o mercado editorial é um segmento muito difícil. A gente que é do meio sabe quantas revistas, jornais, publicações nascem e fecham antes de um ano. Como foi o seu começo, como você superou essas dificuldades que são comuns a todos neste ramo? Olha, eu comecei absolutamente sozinho. Na época eu dava consultoria de comunicação para algumas empresas e vislumbrei uma oportunidade. Como minha mulher trabalhava na Casa Vogue, a gente circulava no mercado da decoração e eu tive a ideia, na época, original, que foi a de unir em um livro obras de arquitetos e decoradores do Brasil. Pesquisei e constatei que não havia esse tipo de publicação no mundo. Então, a ideia foi construída na minha cabeça e eu acreditei, desde o primeiro instante, que era uma ideia boa, que tinha em mãos uma oportunidade grande, gigante mesmo. Bem, aí você saiu buscando patrocínio... Antes disso eu montei um boneco (no jargão gráfico-jornalístico, simulação em papel muito próxima do que será a futura edição). Depois comecei a bater na porta dos arquitetos, dos decoradores. Todos eles me receberam, mas ninguém quis participar do livro. Nos primeiros seis meses eu não consegui rigorosamente nada. Foi difícil vender o projeto porque não havia uma referência, nem mesmo estrangeira. Todo mundo me dizia: “você é louco, lançar livro no Brasil e ainda mais nesse segmento!” Quem era todo mundo? Os próprios arquitetos? Todo mundo sem exceção. Os próprios decoradores diziam isso. Eles até me recebiam, mas como eu não tinha a menor credibilidade, se retraíram. Além do mais, era um segmento fechado; eram poucos na época – tinha uns 50 decoradores atuantes no Brasil. Era um mercado grande, mas no seu profissionalismo, pequeno. Já existia a Casa Cor, percebia-se que era um segmento em evolução, mas ainda muito fechado. Então, eles me diziam: “se o Sig (Bergamin) entrar, eu entro”. Aí eu ia visitar o Sig, que me dizia exatamente a mesma coisa: “Se o Aguiar (José Eduardo) entrar, eu entro”. Eu fiquei nesse jogo de empurra sete meses... (risos) Diante do impasse, o que você fez? Tive a ideia de convidar todos para um coquetel em minha casa e, surpreendentemente, todos eles foram. De repente, eu via na minha sala os 30 mais prestigiados arquitetos e decoradores brasileiros! E já que eu tinha sido suficientemente ousado para convidar gente famosa de quem não era íntimo, tomei a coragem de colocar um na frente do SHOWROOM Showroom: Sua formação é em administração de empresas? Antonio Gouveia Jr: Na verdade eu 9 outro e dizer: “então, gente, vamos assinar a participação de vocês no livro?” Mas ninguém assinou... (risos) Eles disseram: “vamos pensar um pouco mais, a coisa não é tão simples assim...” Mas no dia seguinte, o José Eduardo de Aguiar (falecido) – que era o mais famoso na época - me chamou ao escritório dele e disse: “passa o contrato. Vou fazer parte do seu livro.” Nossa!, imediatamente comecei a ligar para todos os outros para contar que o Aguiar estava dentro do projeto, e aí os demais assinaram. Em uma semana eu reuni os 30 primeiros arquitetos/ decoradores para lançar o primeiro livro da Editora Décor. Foi assim que tudo começou, e eu não tinha a menor experiência... Teve problemas até estar com a tiragem na mão? E como! Quando cheguei à gráfica para imprimir a edição – e, digase, era uma das maiores gráficas de São Paulo – encontrei as portas fechadas e os funcionários de braços cruzados do lado de fora. A gráfica havia falido, e o pior, eu tinha pago adiantado! Desesperado com o prazo e com o compromisso que tinha assumido com todos os profissionais que participaram do livro, reuni os gráficos e disse: “eu pago o salário de vocês, mas, por favor, rodem o livro”. E assim foi. 10 Você acabou fazendo mais uma venda de sonho. Dessa vez para os funcionários. Você foi muito de novo nesse projeto maluco de livro de arte?” O caso é que eu acreditava na ideia, achava a ideia maravilhosa, e não desisti. Fiz tudo de novo, trabalhei, trabalhei..., aliás, como faço até hoje, e saiu o segundo livro... Você diria que a sua grande sacada foi editar conteúdos nacionais, se especializar em divulgar obras de artistas brasileiros? convincente, persuasivo... Olha, foi um trabalho de venda, foi um trabalho de persuasão, foi um trabalho psicológico, foi um trabalho de emoção, e com todos os públicos envolvidos para que o livro acontecesse. Veja só, eu vendi o projeto para o Credicard! Credicard foi meu primeiro patrocinador. Então, eu posso dizer que a editora começou a partir daquele momento. Lançamos o livro no Museu da Casa Brasileira e duas mil pessoas compareceram, das quais eu só conhecia uma, minha mulher! (risos) Bem, mas depois você ficou conhecendo novos artistas e pode partir para o segundo livro, não? Em teoria sim, mas fazer o segundo livro foi muito mais difícil do que o primeiro, por incrível que pareça. De novo, as pessoas me desestimulavam. Elas diziam: “ah!, você fez o primeiro, mas o segundo não vai conseguir. Quem vai entrar Este é um objetivo pessoal meu. Eu trabalho com artistas brasileiros; e vivos. Salvo duas exceções, todos os demais livros que já editamos são de artistas brasileiros contemporâneos e vivos, porque eu acredito firmemente que todo mundo precisa ter a chance de aparecer, de acontecer... Como se dá o processo de descobrir novos artistas, tratar com eles, selecionar seus melhores trabalhos? Estamos ligados em todos os canais Você tem que ceder muito da sua opinião como Publisher para lidar com o ego dos artistas? Olha, no primeiro contato eu uso muito a praticidade do empresário. Nesse momento eu me visto de empresário e apresento o projeto com objetividade. Eu realmente coloco na frente o lado pragmático, mas sempre, sempre mesmo, incluo os artistas na fase da composição do livro, porque o individualismo não leva a nada. Não funciona. Tem que ter a motivação e o compromisso de todos. Como empresário, o que mais o preocupa no seu negócio? Vou ser sincero, como empresário tenho todos os receios e medos de todos os empresários brasileiros. Especialmente numa empresa pequena como a minha, que não tem crédito, investimento...Você não entra em um banco e pede um milhão de reais. O banco não lhe dá esse crédito, a menos que você dê uma garantia no mesmo valor. Na Europa é totalmente diferente. Uma empresa como a minha tem crédito a hora que quiser. Mas, mesmo assim, incentivos fiscais como a Lei Rouanet e os do próprio Estado de São Paulo, nos favoreceram bastante nos últimos dez anos. Graças a esses incentivos podemos editar entre 30 a 35 livros de arte por ano. Sem esse benefício não passaríamos de três ao ano. Resumidamente, que postura e que atitudes tem que tomar um empresário num segmento difícil e fechado como o seu? Isso é segredo. ( risos) Brincadeira...Olha, é ter foco. Foco e trabalhar muito. Não tem uma fórmula exata, mas é fundamental não se desviar do foco e acreditar firmemente no que se faz. O resto é tudo conquista. Mas quanto à sua empresa em si, ao negócio “Editora Décor Books”, o que lhe tira o sono? Talvez decidir se devemos crescer ou não. Do tamanho que estamos, estamos no limite. Não conseguimos atender mais gente do que já atendemos e eu próprio estou no meu limite. Há cinco anos, minha mulher e eu decidimos priorizar um cronograma de projetos, tentando investir em produtos ainda mais bem elaborados, mais sofisticados e de menor quantidade, mas o resultado é que se acaba trabalhando ainda mais, porque são projetos que exigem mais da gente. Por exemplo, o livro da Brunete Fraccaroli já leva três anos sendo produzido. E vocês têm receio de, ao crescer, deixar de acompanhar de perto os projetos e perder qualidade? Exato. E qualidade nós não podemos perder de jeito algum. Então, o empenho pessoal é total. Eu crio a ideia, monto o projeto, faço todas as reuniões de estratégia e de elaboração. Só me afasto na fase final de produção, praticamente quando o livro está rodando. Mas ainda assim, mesmo pensando em desacelerar um pouco, a gente continua inventando novos projetos, mesmo porque, em cada 100, 200 projetos que temos, realizamos, efetivamente, um terço deles. E é esse o nosso negócio, ter ideias, montar livros bonitos, valorizando os artistas nacionais. Nunca lhe passou pela cabeça mudar de área? Quer dizer, ao invés de editar livros de arte, caros e difíceis de fazer, produzir manuais técnicos ou qualquer outra publicação mais simples de produzir? Já, já pensei várias vezes. (risos) Mudar de ramo, não, porque eu adoro o segmento editorial. Cresci nele e me especializei nele, mas já pensei, sim, em editar outro tipo de título. Só que eu conclui que sou incapaz de levar a termo projetos de que não gosto. Eu só faço o que gosto. Então, insisto na minha ideia original, que continuo achando maravilhosa, e passo umas duas horas do meu tempo todos os dias buscando conteúdos novos, artistas de talento que estão começando. E o melhor é que no meu negócio, hoje, falo com umas 500 pessoas diferentes, que são as pessoas direta e indiretamente relacionadas aos 100 projetos em produção que temos no momento. Isto significa que neste último lançamento (Décor Year Book Brasil – vol 16, dia 25 de maio de 2010, no Club A, em São Paulo) você certamente conhecia todas as pessoas... Conheço, conheço todas sim. (risos) SHOWROOM de informação o tempo todo e ao longo dos anos fomos conhecendo as várias “tribos”. Foi um aprendizado lidar com todos eles, e ainda é. Porque cada livro de arte vai refletir a personalidade, a emoção, o íntimo dos artistas que ali estarão, então, eu acho que fui aprendendo a me relacionar com pessoas, independentemente se são pintores, escultores, arquitetos ou decoradores. 11 Verdadeiro Piloto Automático O contínuo aperfeiçoamento dos métodos de teste tem sido prioridade dos fabricantes de veículos. Em provas dinâmicas estão ao volante pessoas bem treinadas e experientes das equipes de desenvolvimento, mas as habilidades humanas sempre apresentam limitações. Os pilotos não podem reagir com a rapidez, a repetitividade e a precisão exigidas em certas circunstâncias. N Por Fernando Calmon 12 o entanto, avançados sistemas eletrônicos de bordo, em especial os de assistência ao motorista, exigem validação funcional da forma mais abrangente e perto da realidade possíveis. A metodologia de teste deve focar a capacidade de o veículo manter velocidade, trajetória e frenagem com o máximo de exatidão. A possibilidade de aprovar recursos como a direção automatizável – hoje restrita a experiências que mais parecem ficção científica – não pode depender de testadores em carne e osso por questões de segurança no trabalho. Em razão disso, a MercedesBenz desenvolveu um aparato eletrônico-mecânico único para veículos de teste utilizados em instalações internas dedicadas. Na realidade são modelos comuns de produção seriada equipados com robôs que cuidam de dirigir, acelerar e frear. Um computador a bordo controla esse sistema de pilotagem automática para que o percurso pré-programado seja seguido à risca, mesmo se vários carros estiverem envolvidos em uma manobra. Engenheiros especializados monitoram tudo a partir de uma central de controle e podem parar remotamente um automóvel a qualquer tempo. Paralelamente, os veículos em teste fazem autochecagem e freiam, se detectam desvios de programação. Para se imaginar a perfeição do projeto, se o carro faz um percurso pré-planejado diversas vezes, a diferença registrada ao final varia em menos de 2 cm. Em caso de repetidas frenagens até a parada total, as rodas se imobilizam em pontos no chão dentro de um raio de 3 cm! Um das simulações interessantes é uma prova considerada pela marca alemã de alto risco. O carro dirigido a distância sobe uma pequena rampa e mergulha no asfalto. Assim se pode ter certeza de que os airbags não irão inflar nessas condições, ou seja, saltando no ar em função de uma lombada ou avançando sobre uma calçada. Os pilotos de testes, por sua vez, evitam o estresse de guiar nessa condição adversa. Outra condição severa é a simulação dos dispositivos anticolisão. O automóvel em avaliação freia repentinamente para evitar o choque com outro, que só se desvia no último segundo. Situação de quase colisão em cruzamentos também é reproduzida sem o risco de acidente real e de altos prejuízos materiais e humanos. Portanto, há várias aplicações possíveis para o sistema. Os diferentes procedimentos permitem obter resultados com maior confiabilidade e em menor tempo. Entretanto, são complementares aos alcançados em condições de rodagem na vida real. O futuro reserva avanços ainda mais surpreendentes. São tais tipos de testes e controles que viabilizarão a pilotagem verdadeiramente automática em estradas adaptadas para esse fim. Há programas cooperativados em estudo nos grandes polos de produção mundial, mas ainda não se pode prever uma data exata para introdução dessa revolução na mobilidade com segurança. Provavelmente dentro de dez anos. Fernando Calmon ([email protected]) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É reproduzida em uma rede nacional de 65 publicações entre jornais, revistas e sites. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site justauto (Inglaterra). Não há ergonomia que vença a dor do trânsito Por Sophia Zhale 14 Ao criar um novo carro, os projetistas utilizam a ciência ergonômica para definir onde cada elemento no interior dos veículos será colocado. Põem em perspectiva aspectos antropométricos e dimensionais do corpo para propiciar espaço, conforto, visibilidade e segurança. Os cuidados ergonômicos são imprescindíveis para minimizar as consequências sentidas pelos motoristas que ficam horas sentados, executando movimentos repetitivos dentro dos carros, parados nos congestionamentos. ciência responsável pela interação do homem com a máquina, a ergonomia, analisa as atividades, as posturas assumidas, a movimentação de braços, mãos e pernas, para resolver os problemas decorrentes do desequilíbrio da relação homem/máquina. E exatamente por isso, é utilizada no desenvolvimento do interior dos veículos. A posição dos bancos, volante, botões, cintos de segurança, alavancas do câmbio e do freio de estacionamento, as cores, formas, texturas, características físico-químicas, termo-acústicas, a habitabilidade, tudo é pensado para encantar o consumidor, fazer com que se sinta bem acomodado e seguro. “A primeira preocupação ergométrica no design do cockpit é a condução do veículo. Busca-se, através de uma análise global, adequar o interior do veículo ao uso que se fará dele, se de passeio ou comercial, a interação com o volante, o esforço exigido para fazer manobras, a visibilidade entendida como a facilidade de captar informações do meio externo e interno, o conforto do banco do motorista, a caixa de transmissão e muitas outras coisas, principalmente, a possibilidade de ajustar todos os elementos de acordo com sua anatomia”, explica Laerte Snelwar, médico com doutorado em ergonomia e professor de engenharia de produção da POLI-USP. A visibilidade é um elemento fundamental, explica Snelwar. Padrões internacionais estabelecem que o automóvel deve atender a uma faixa média de estatura que vai de 2,5% da população até 97,5% dela, a partir do chamado ponto “H”, uma posição universal que respeita ângulos recomendados para a junção da articulação do tronco com as pernas. O carro tem que ter boa dirigibilidade para uma mulher com 1,49 m de altura e um homem de 1,88 m. Ambos devem alcançar pedais e volante confortavelmente, manter os olhos numa posição ideal para visualizar o painel de instrumentos, os espelhos retrovisores e os quatro cantos do veículo. “A ergonomia deve propiciar a boa dirigibilidade”, ressalta. A tecnologia melhora a ergonomia “A tecnologia instalada no veículo ajuda a reduzir o esforço do motorista e minimiza os problemas de fadiga. A direção hidráulica ou eletricamente assistida reduz a quantidade de giros do volante para fazer uma curva ou manobrar e diminui o esforço. Caixas de câmbio automáticas ou semi-automáticas também influem na ergonomia e na segurança, porque dispensam o motorista de realizar constantemente trocas manuais. Ele pode manter as duas mão no volante e ter mais atenção, é uma opção excelente nos centros urbanos. Ajustes elétricos de retrovisor e vidros elétricos facilitam a ação do motorista, que pode se concentrar só no trânsito”, diz Snelwar. Como as preocupações ergonômicas começam no ser humano com a posição do motorista, o banco é fundamental quando se fala de conforto e segurança. “O motorista precisa poder ajustar o banco para encontrar a sua posição ideal de dirigir, a sua altura, com condições ideais de visibilidade da área externa e de acesso aos comandos.” Geralmente, os bancos possuem encosto regulável e são diferentes dos passageiros, que ficam em posição mais relaxada do que quem dirige. O banco do motorista deve ter uma configuração que abrace o motorista, possuir ângulo de inclinação das guias, do assento do encosto para acomodar corretamente a coluna vertebral, principalmente a zona lombar e o trecho cervical, a fim de evitar esforço. “Acomodar a coluna lombar é mais importante do que os ísquios da nádega”, ressalta Snelwar. Para o professor da POLI, ajustes, regulagens como as de altura do assento do motorista e de altura e profundidade do volante, de modo a permitir a personalização do veículo para o biótipo de cada condutor, já deviam estar em todos os veículos, segmentos de entrada e médios, como já acontece nos modelos de luxo. Barulho, solavancos Ainda nos bancos, a densidade das espumas é variável, sendo maior no assento para que o motorista não afunde, e menor nos encostos - com materiais esponjosos, revestimentos com boa elasticidade, não SHOWROOM A 15 escorregadios - que permitam boa transpiração. O desenho ergonômico do interior do veículo também minimiza fatores que perturbam os motoristas: as vibrações, os solavancos, o alto nível de ruído e a climatização. As esburacadas ruas das cidades brasileiras produzem vibrações geradas sobre as suspensões do veículo que são transmitidas à carroçaria, diminuindo o conforto. Também peças mecânicas, que vibram ou fazem barulho incomodam o motorista que percebe, igualmente, as vibrações da direção e de outros comandos. Em um país tropical é tarefa do design e da engenharia de produção solucionar problemas de climatização e ruído da cabine usando materiais antirruído e antivibração. “Há cada vez mais no mercado soluções interessantes para todas essas questões. A da visibilidade, por exemplo, com o aumento do número de botões integrados ao volante e a projeção de informações relevantes e do GPS no vidro dianteiro”, conta Laerte Snelwar. Os desafios do design do interior são muitos: proporcionar habitabilidade no vaivém diário, propiciar conforto 16 e segurança, refletir e atender o comportamento de usuários em constante mudança, além de, por formas, texturas, características físico-químicas, termo-acústicas e cromáticas, proporcionar uma agradável percepção visual, tátil e olfativa aos veículos em seu contexto de uso. Sem esquecer-se das peculiaridades do mercado e das pressões por custos menores. Pouco amigável Por vezes todo esse esforço parece em vão. A atenção se divide entre as informações internas, do painel, e do exterior, no fluxo de tráfego, no anda-epara, no caminho, nas motos, nos veículos ao lado, nos pedestres, nos ruídos, nos ambulantes, nas nuvens que se avolumam no céu, nas irregularidades das ruas e estradas. As mãos se revezam entre a direção e o câmbio. Os pés num movimento contínuo de freia e acelera. Conforme as horas passam, o equilíbrio entre homem, máquina e sua interação com o ambiente, acaba, não tem jeito. “A ergonomia não vai encontrar solução para o trânsito intenso, que obriga os motoristas a passarem cada vez mais tempo dentro dos carros”, afirma Laerte Snelwar. Para o especialista em trânsito e ex-presidente da CET-SP (Companhia de Engenharia de Tráfego), Roberto Scaringella, a extensão e a gravidade do problema do trânsito paulistano requerem uma abordagem sistêmica, uma intervenção profunda com visão de longo prazo. “É um desafio tecnológico, político e administrativo que exige um tratamento mais holístico, requer políticas de uso do solo, transporte e trânsito.” Para ele, a média de quilômetros de congestionamento medidos pela CET no sistema viário principal da cidade só vai aumentar e a velocidade de circulação continuará caindo. São Paulo tem 14 mil km de vias, sendo 11,7 mil pavimentados e 2,3 mil de vias de terra. O sistema viário principal, onde a maior parte dos deslocamentos ocorre é de apenas 2,5 mil km de extensão, enquanto a relação carros/habitantes é 3,6, a maior do País, segundo cruzamento de dados do Denatran (frota) e do IBGE (população). “Consequências da irresponsabilidade das autoridades para com o transporte coletivo e pela opção pelo transporte individual. A enorme expansão do número de motocicletas autorizadas pela legislação em vigor a circularem entre as faixas, também contribui para degradar o trânsito”, diz ele. E já que a lei da Física, que diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, não será revogada, o médico especialista em ergonomia aconselha diminuir os problemas posturais, dando um tempo para fazer exercícios. Uma pausa, se possível a cada duas horas, contribui para recuperar os músculos dos olhos e das mãos. Se a pausa for acompanhada de uma série de exercícios de alongamento e relaxamento feitos no início do dia, no meio da manhã e pela tarde, além de exercícios quando se está parado no trânsito dentro do carro, será ainda mais benéfico. éti 18 Para a maioria das empresas nacionais, ica é apenas “cumprir a lei” A noção de ética e cidadania nos negócios, conceitos da Responsabilidade Social Empresarial, é relativamente recente no País. Segundo o Relatório de Sustentabilidade do Instituto Ethos publicado em 2008, em 1997 o movimento RSE já fervilhava nos Estados Unidos, mas era incipiente no Brasil. De lá para cá, muita coisa mudou e, outras tantas, ainda não. recorrente no século VI a.C, discutida na Grécia antiga por A ideia de ética e filósofos que refletiam e cidadania nos negócios teorizavam, procurando pressupõe que as responder não só ao empresas devam agir porquê das coisas, mas como cidadãos, membros como acontecem ou da sociedade que são. “funcionam”. Assim, Empresas não são marcaram a formação CNPJs, mas pessoas se do pensamento humano relacionando umas com até a atualidade. A as outras e a ética deveria ética não é um conceito ser inerente ao ser vago, diz respeito à humano. conduta e a moralidade Ética era um tema humana, ao bem e ao mal. Segundo Aristóteles, “Por ética compreenda-se toda a ação que vise o bemestar do outro indivíduo.” O conceito mais atual, explica Maria do Carmo Whitaker, consultora e professora de ética nas organizações no MBA e na pós-graduação da FAAP, relaciona ética com a liberdade, consciência, intenção e responsabilidade. Maria do Carmo gosta da abordagem da colega norte-americana, Laura Nash, PhD da Universidade de Harvard, quando coloca em SHOWROOM O Por Rosângela Lotfi 19 a preocupação moral nas operações, negócios, produtos e serviços, incorporar o hábito e encontrar questões morais naquilo que fazem rotineiramente. Inclusive na escolha dos colaboradores, pessoas que compartilham os mesmos valores; fornecedores e até clientes. “Precisamos revogar a Lei de Gerson” 20 discussão o seguinte: “na dúvida se uma determinada ação ou postura é ética, as pessoas devem se perguntar: isto que estou fazendo é bom, é justo? Prejudica alguém? Eu gostaria que fizessem isso com meu filho?” Ética é uma postura de vida, não só na empresa. Tem que vir de dentro, da convicção de valores, ressalta Maria do Carmo. As empresas precisam se preocupar com seus públicos de interesse e formar a mentalidade de incluir É uma ação responsável e ética não permitir o trabalho precário em sua cadeia de valor, terceirizar serviços e não se preocupar se o fornecedor escolhido cumpre com suas obrigações trabalhistas. No Brasil, segundo apontam várias pesquisas, a noção de ética na atividade empresarial está quase totalmente presa ao cumprimento da lei. O que é básico e deveria ser inerente a todos. Trabalhos desenvolvidos pela Abamec – Associação Brasileira de Analistas do Mercado de Capitais apontam que o surgimento da questão de responsabilidade social no Brasil ocorre de forma menos dependente de Do cumprimento à convicção Há alguns anos, a professora Laura Nash esteve no Brasil e apontou os estágios pelos quais passa a ética nos negócios. O primeiro é a ética do cumprimento. Começou nos Estados Unidos, em 1977, quando o congresso daquele país promulgou lei contra a prática de atos corruptos no exterior e passou a combater vigorosamente a prática de corrupção interna. No Brasil, empresas que têm ações na Bovespa submetem-se aos critérios de governança e de transparência exigidos para a abertura de capital e têm seus códigos de ética. O segundo estágio aconteceu em paralelo ao do cumprimento e foi o da ética da responsabilidade social, que ganha força aos poucos. De qualquer forma, o tema já é conhecido e a ideia de transparência e compromisso com a sustentabilidade – conceito que defende o equilíbrio dos negócios nos desempenhos econômico, social e ambiental– e com a sociedade já faz parte do discurso corporativo da maioria das organizações, segundo aponta o Relatório de Sustentabilidade do Ethos, que em dezembro de 2008 tinha 1.314 empresas associadas. “Ética não se ensina, transpira” “É um trabalho de formiguinha, mas que precisa ser feito até que as empresas (e os indivíduos) transformem seus valores pessoais em ações. Ninguém muda com palestras. A ética deveria permear todas as atividades. Ética não se ensina, transpira”, ressalta Maria do Carmo Whitaker. Ações de responsabilidade e ética começam dentro das organizações no compromisso com os colaboradores. “A empresa precisa dar ao trabalho um sentido de contribuição. As pessoas que trabalham têm que considerar que isso é importante para si, para a empresa, para os clientes e para a sociedade como um todo. É condição fundamental, antes de qualquer atitude externa, cumprir as leis do trabalho e proporcionar um ambiente de equilíbrio com valores de solidariedade, criando um espírito de cooperação e não de competição desenfreada, equiparando o salário de homens e mulheres na mesma função, entre outras ações.” Ainda resta muito a fazer para que o comportamento ético passe realmente a fazer parte da vida empresarial. Ao mesmo tempo em que esses valores são pregados, em todos os países aumentam as denúncias e processos de assédio moral. Na Europa, estatísticas de trabalhadores afetados só aumentam. O assédio moral, a conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica atinge 16,3% dos trabalhadores do Reino Unido; 10,2% dos funcionários da Suécia; 9,9% da França; 9,4% da Irlanda; 7,3% da Alemanha; 5,5% da Espanha; 4,8% da Bélgica, 4,7% Grécia e 4,2% da Itália. No Brasil não existem estatísticas oficiais, mas juízes do Trabalho confirmam que os processos sobre assédio moral estão crescendo principalmente nas regiões Sul e Sudeste com São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, liderando o ranking nacional em número de queixas. SHOWROOM considerações éticas e mais de uma visão de marketing e de imagem empresarial. No País, tido como solidário e cordial, a tese de que ter uma imagem de preocupação com as questões sociais traz mais clientes e mais lucros é facilmente absorvida. A dúvida é a solidez dessas afirmações e se a abordagem ética prevalece em qualquer circunstância. A professora Maria do Carmo concorda: “O discurso não corresponde à prática. Vou a eventos, palestras, converso com as pessoas. Há muito discurso, mas não há correspondência na prática. A obtenção de lucro a qualquer custo é mais sensível que a consciência. O que vem provar que as empresas usam a responsabilidade social só para marketing. Ainda precisamos revogar a Lei de Gerson. Se tivéssemos bons exemplos de cima, dos administradores do País, ajudaria muito a difundir ações éticas de fato.” 21 FUSCA Mais que um carro, mais que uma marca 24 As histórias são muitas. Sentimentais, divertidas, emblemáticas... e os fãs adoram contá-las. Todo o universo ao redor do Fusca é envolvente e mágico. O carro é muito mais do que o “primeiro carro” de muitas gerações. É um símbolo que atende a vários perfis: o homem do campo, o operário, o estudante, os jovens descolados, os velhinhos saudosistas e os colecionadores. Ah! os colecionadores, estes admiradores apaixonados confessos do “besouro”. Com emoção e alguns exageros, – certamente permitidos –, são os responsáveis por manter o Fusca no top do ranking dos carros mais desejados. A eles cabe o mérito de preservar a tecnologia revolucionária, o design exótico e simpático e a fantasia que complementa todos os acessórios do Fusca, desde o primeiro até o último produzido no mundo. Por Silvia Bella Fusca Clube do Brasil (www.fuscaclube. com.br) – imaginem! – completou 25 anos. E é uma organização como se deve. Com estatuto, comissão técnica de avaliadores, rígidos princípios éticos e de fiscalização. Tal é a seriedade da Entidade, embora seus associados se comportem como uma grande família, que mereceu o aval e alguns patrocínios da Volkswagen do Brasil ao longo do tempo. Assim como da Assobrav. Mensalmente eles se reúnem no pátio da Entidade. A diretoria, devidamente uniformizada – com camisa, jaqueta, boné e botons de gosto primoroso -, circula orgulhosa entre os carros dos aficionados, que vão chegando sem parar todo último sábado de cada mês. Os negócios acontecem. Avaliações, palpites, trocas de informações – onde restaurar, onde conseguir peças – tudo isso faz parte das conversas entre os sócios, mas o que vale mesmo é a curtição. É perfilar todos os Fuscas direitinho, como uma coleção de miniaturas em uma estante de menino. Aliás, meninos é o que não falta na reunião mensal do Fusca Clube do Brasil. Claro, acima de tudo, é uma festa entre as famílias. Tem barracas de sorvete, doces, sanduíches, som alto, souvenirs do Fusca... Um acontecimento. Mas há ainda outras datas que motivam os sócios a reunir-se. No dia 20 de janeiro celebram o Dia Nacional do Fusca no Autódromo de Interlagos – um SHOWROOM O 25 festão. Em fevereiro tem a Festa do Sorvete. Em Maio – como o passado comemoram o Aniversário do Clube. Em junho tem Festa Junina. Em outubro, a Festa da Primavera. Em novembro acontece a Assembleia e em dezembro a Festa do Panetone. É muita programação! E a cada mês, mais gente comparece, “porque o Fusca – como disse um associado – é um vício”. O início 26 Em 1985, durante o II Salão do Automóvel Antigo, dois “fuscamaníacos”, Eduardo Ohara e Sérgio Eduardo Fontana, começaram a planejar a criação de um Clube para os milhões de brasileiros apaixonados pelo Fusca. Empolgado com a idéia, o amigo Demétrios Bérgamo juntou-se a eles. Assim nascia o Sedan Clube do Brasil. Em 10 de novembro, um passeio até o Pico do Jaraguá marcou o batismo do novo clube. A presença de 70 Fuscas naquele primeiro encontro anunciou para os fundadores o sucesso que o Clube, que depois viria a chamar-se Fusca Clube do Brasil iria ter. Isto porque, sete anos após a sua fundação, o Sedan Clube recebeu autorização da Volkswagen do Brasil para o uso da marca “Fusca”. Foi então que o Clube, devidamente oficializado como entidade cultural, recreativa, desportiva e sem fins lucrativos, deslanchou. Deve-se frisar que o conhecido apaixonado e especialista em Fusca, engenheiro Alexander Gromow, autor de vários livros sobre o Fusca, deu grande impulso à Entidade, atuando em primeira pessoa para a sua consolidação. Hoje o Fusca Clube do Brasil é uma marca registrada e tem um interessante acervo: um VW Sedan 1950, uma Kombi Standard 1972, um Fusca Série Ouro 1996 (o último produzido pela Volkswagen do Brasil) e um New Beetle 1998, estes dois últimos doados pela Montadora. “Ele está sempre sorrindo” É assim que o atual vicepresidente do Clube Fusca do Brasil (a diretoria muda a cada dois anos) William Abdo Naddaf, competente técnico em Informática, define o Fusca. “Por mais que eu conheça a mecânica do Fusca, suas qualidades, a graça do design, o que me encanta nele é a simpatia, é essa frente sorridente, amiga, que é quase a reprodução de um brinquedo”, diz. É incrível, como mesmo William, um homem sério, reservado, consegue falar com ternura sobre Fusca. O mesmo acontece com outro sócio, o administrador de empresas Eduardo Ohara, um dos fundadores do Fusca Clube do Brasil: “Vivi dois anos no Japão e eles me consideravam um milionário, porque disse que no Brasil eu tinha um Fusca. Lá, o carro é valorizadíssimo. Muito mais caro do que aqui.” Recuperar é uma coisa. Restaurar é outra Os critérios do Clube são tão rígidos que a diretoria, cujos membros têm, no mínimo, 15 anos de associados, fazem questão de frisar que “restaurar é diferente do que recuperar”. “Para ganhar a Placa Preta (destinada aos carros de coleção e isentos da Inspeção Veicular) os proprietários precisam apresentar Fuscas com pelo menos 30 anos e 80% da planilha de itens usada para a avaliação técnica preenchida com 80% de originalidade”, diz o presidente William Naddaf. Quem pode opinar com muita propriedade sobre isso é o médico urologista Reinaldo Abrahão, que roubou a cena ao entrar com o seu Fusca azul reluzente com a direção do lado direito. Exato!, um Fusca produzido na Alemanha em 1965 para as colônias inglesas na África. Simplesmente maravilhoso. A história deste carro e do seu dono são igualmente fantásticas. E comoventes. Sem ser piegas. Que história! Reinaldo foi um menino interessado em automóveis desde sempre. Tanto é que conseguiu ter a Carteira Nacional de Habilitação aos 17 anos, por conta de uma Lei que o permitia durante um breve período nos anos 60 e que foi logo em seguida revogada. Sua paixão por carros também tinha outro motivo: a proximidade. Seu pai foi um próspero e conhecido comerciante de carros na capital paulista. Sua loja, na Conselheiro Nébias, chamavase Sócrates Autos. O Fusca 65 de Reinaldo foi arrematado em um leilão. O carro chegou ao Brasil quando o seu primeiro dono, um cônsul americano na África do Sul, conseguiu importar seus pertences algum tempo depois de ter fugido apenas com a roupa do corpo no ápice do Regime Apartheid. Reinaldo recorda o dia do leilão com precisão de repórter: “Fiquei frustadíssimo porque o meu lance ficou em segundo lugar. Liguei para o meu pai, mas ele foi taxativo:´não aumente o lance. A pessoa que ofereceu mais é um comerciante de carros que conheço. Ele deu um preço muito acima do valor de mercado, esperando revender em seguida o carro para algum colecionador. Espere que esse carro ainda vai ser seu`. “E foi exatamente isso o que aconteceu”, conta o médico, visivelmente emocionado ao recordar a sabedoria e competência do pai. ”Como em 24 horas o dono do maior lance não apareceu com o dinheiro, eu fiquei com ele. Paguei 7.555 cruzeiros por esse carro”, diz, orgulhoso. Mas a história do “rapaz que dirigia um Fusca com a direção ao contrário” não termina aí. “Um dia, circulando com o carro fui abordado por um senhor. Ele me disse: ´tenho um filho com talidomida, que só tem um braço. Por favor, me venda o seu carro.´ Falei com o meu pai, que prontamente ordenou: ´vamos vender para esse rapaz, pelo preço exato que você pagou. Ele só tem um braço. Você tem dois”, recorda Reinaldo, novamente muito emocionado. “Confesso que me senti mais uma vez frustrado, mas naturalmente concordei, e ganhei um Karmann Ghia no lugar. Só que disse ao rapaz: ´prometa que você nunca vai vender esse carro. Quando não o quiser mais, me avise, eu o compro de volta. E, de fato, foi assim. Oito anos depois, ele já advogado, pôde comprar um carro automático e adaptado.” Reinaldo o restaurou e continua circulando altaneiro com o seu Fusca Azul reluzente, com estofamento original quase impecável e cheio de charme. Um carro que não tem preço, e por mais que tenha passeado em outras mãos, sempre foi e será de um dono só. SHOWROOM Reinaldo Abrahão e seu Fusca com direção inglesa 27 Além das suposições pré-históricas O achado pré-histórico encontrado há alguns anos, um mamute de 3,7 cm de comprimento, pesando 7,5 gramas, esculpido em marfim, guardado na Universidade de Tübingen (Alemanha) (acesso: www.uni-tuebingen.de/ uni/qvo/highlights/h54-eiszeit. html), datado de 35.000 anos, pode promover a reflexão e compreensão acerca dos nossos antepassados, e também revelar o quanto ainda nos aproximamos deles, mesmo depois de vasto tempo na escalada evolutiva. C Por Armando Correa de Siqueira Neto hama a atenção cada detalhe do feitio do animal, fazendo levantar hipóteses de certas capacidades presentes nos humanos que habitaram o planeta há considerável tempo. Contrariamente ao que se pregou até então, percebe-se refinada habilidade laboral no dito “selvagem” pré-histórico. Tal Homo sapiens, além de sobreviver caçando e coletando, procriando e descobrindo novas formas de prosseguir na sua jornada, dedicava-se, ao que tudo indica, à produção tecnológica e artística, incluindo a escultura, além da pintura e música. Ou seja, geravase naquela época longínqua cultura com significativo nível de qualidade. A breve análise do mamute de Tübingen faz emergir as seguintes observações: o seu artesão possuía, primeiramente, a capacidade simbólica de representação dos registros cotidianos 28 armazenados na memória, levando-o a reproduzir, através da escultura, o enorme animal que lhe era comum à época. Percebese, ainda, a utilização de técnicas no feitio da escultura. Em segundo lugar, nota-se proporcionalidade em relação à referência (o mamute biológico) e a escultura, haja vista os estudos atuais demonstrarem o formato de tal animal a partir das ossadas encontradas em algumas regiões do globo terrestre. Um terceiro ponto também merece destaque: a tromba é esculpida rente à parte frontal do mamute e encerra-se em contato direto à perna, facilitando o trabalho, pois o entalhe que faz separar um membro do outro é simples, além de eficiente na conservação do produto encontrado intacto. Há ainda linhas que contornam o animal esculpido, dando-lhe a perspectiva de articulação e mobilidade, de acordo com a realidade da própria referência registrada e reproduzida pelo artista em questão. Por fim, evidencia-se certo refinamento e compreensão técnica acerca dos instrumentos empregados no feitio, possíveis ferramentas de pedra, conforme sugerem os estudiosos. Não obstante, acrescenta-se o fato de que na produção de esculturas, quando pequenas como é o caso, as ferramentas devem ser igualmente delicadas, pois, do contrário, dificilmente se chegaria ao resultado que se alcançou. Porquanto, a partir dos itens apreciados, é possível inferir que o nosso ancestral era dotado de capacidades intelectuais presentes na contemporaneidade do século 21, as quais apresentam qualidades relacionadas à inteligência cinestésica, através da coordenação motora fina. Parece-nos que o ontem e o hoje se aproximaram demasiadamente. A mão pré-histórica pôde nos tocar sutilmente por meio da pequena análise da escultura do mamute encontrado na Alemanha. Desta forma, vale perguntar: o passado está tão longe de quanto imaginávamos? Mais: O que o futuro ainda nos promete? Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Co-autor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: [email protected] Joannes Est Nomen Eius João é seu nome Por Carolina Gonçalves Do Apocalipse ao Após O brasão de armas de Porto Rico é o mais antigo em uso na América. Foi concedido pela Coroa Espanhola em 1511. É dedicado a São João Baptista, ao cordeiro de Deus e ao livro do Apocalipse. Nele está escrito “João é o seu nome”, porque San Juan foi o primeiro nome dado à ilha, e ainda é nome da Capital. 30 Por Carolina Gonçalves M as se o assunto for bíblico, Porto Rico está mais para o Paraíso do que para o fim do mundo. São praias de areias brancas, florestas, desertos e rios. 28 mil hectares de floresta abrigam milhares de pássaros. A Ilha do Encantamento, como é conhecida, atrai gente de todo mundo para viver uma experiência única, onde beleza e diversão misturam-se o tempo todo. Além da ilha principal, há muito o que ver e aproveitar nas ilhas menores como Culebra, Vieques, Desecheo, Caja de Muertos e Mona. A temperatura fica em torno de 26ºC, durante todo o ano. Mas a ilha bomba entre dezembro e abril. Portanto, escolha quando ir baseado na sua personalidade... Hospede-se em San Juan, que é um porto muito importante e o centro turístico da região. E comece visitando a parte antiga da cidade, com áreas tombadas pela UNESCO como patrimônio da humanidade, conhecida como San Juan National. Vá primeiro a La Fortaleza, construída em 1533, para defender o porto de San Juan. Também conhecida como o Palácio de Santa Catalina, hoje é a residência oficial do SHOWROOM Calipso... 31 Geografia privilegiada 32 governador das ilhas. A arquitetura militar do século 16 com requintes de século 20, pode ser visitada todos os dias. O prédio é um dos mais antigos na função de residência do executivo, em nosso hemisfério. Visite o Castillo de San Cristóbal, construído em 1785, a quase 150 metros acima do nível do mar. Foi projetado para ser uma grande dificuldade para o inimigo, que teria que enfrentar várias barreiras defensivas antes de ultrapassar a rede de fortificações diferentes. Dali saiu o primeiro tiro da Guerra EspanholaAmericana, em 1898. De suas muralhas se vê El Morro, a cidade e o cais. Depois, vá ao Forte San Felipe del Morro, uma das maiores fortificações do Caribe. Forte espanhol construído em 1591 para defender a entrada do Porto de San Juan, tem túneis secretos e masmorras. Imponente em seus seis andares e paredes espessas com mais de meio metro, ocupa uma área de 74 acres. Comece a visita pelo pátio principal para conhecer as condições de vida dos habitantes da época, sua pequena capela e os canhões que eles usavam. Tem um exposto, construído em Barcelona, que precisava de, no mínimo, oito artilheiros pra funcionar e disparava duas bolas por minuto. Caminhando pelo forte, pode-se chegar ao alto e ter uma vista fantástica da cidade, da ilha e do mar. Porto Rico é formado por várias ilhas. O arquipélago é um território autônomo dos Estados Unidos, em pleno mar das Caraíbas. Além da ilha principal, que dá nome ao arquipélago, há outras ilhas menores, destacando-se Vieques, Culebra e Mona. A ilha maior faz parte das quatro grandes Antilhas, ao lado de Cuba, Hispaniola e Jamaica. Num referendo em dezembro de 98, a população optou por manter-se como Estado Livre Associado, ao invés de virar o 51º estado dos EUA ou ser totalmente independente. Como em qualquer viagem para os Estados Unidos, é preciso visto norte americano para entrar em Porto Rico. Compras e maravilhas Vá às compras no Plaza Las Americas Shopping, o maior do Caribe, com marcas consagradas como JC Penny, Sears e Macy, ancorando outras mais de 300 lojas. Tem tudo lá. Se você é mais exigente, vá a Área do Condado, onde estão as grandes marcas como Dior e Gucci. Grandes compras pra família toda? Tem dois grandes shoppings: Route 66 Outlet Mall em Canovanas e o Prime Outlets, em Barceloneta. Todo mundo já tomou um Cuba Libre na vida... Pois em San Juan você pode visitar a destilaria Bacardi e ver o rum sendo feito enquanto aprende sobre a história da famosa marca. E já que falamos em bebidas, reza a lenda que a Piña sub-tropical. As águas claríssimas permitem o melhor mergulho com snorkel, onde você enxerga até uns 150 m de profundidade. A abundante vida marinha e a diversidade ecológica do mar são deslumbrantes. E você ainda vê, durante o inverno, golfinhos e baleias jubarte. Fiesta, fiesta! Porto Rico é uma festa constante. Os festivais acontecem o tempo todo, com muita música, comida, artes e artesanato. O festival LeLoLai é um grande exemplo, organizado para turistas. Criado há mais de três décadas, é extremamente atual no conceito do turismo cultural. Promove a cultura de Porto Rico através da sua música e ritmos e das heranças taino, africana e espanhola. São seis shows folclóricos semanais, durante o ano todo. Já os festivais da Padroeira acontecem o ano inteiro em diversas localidades da ilha. A natureza religiosa da festa SHOWROOM Colada foi inventada no Hotel Hilton de San Juan. Se uns drinques não fizerem você ver estrelas, tente o Observatório de Arecibo, onde está um dos maiores radiotelescópios do mundo. Está aberto ao público somente alguns dias da semana e por algumas horas. Por isso, vale a pena agendar a visita. Alugue um carro e dirija uns 90 minutos em direção ao noroeste, até o Parque Nacional Cavernas do Rio Camuy. É uma região de terreno irregular causado pela erosão do calcário da ilha, o que resulta num enorme sistema de cavernas subterrâneas e abriga o terceiro maior rio subterrâneo do mundo. É uma visita muito interessante. Indo na direção oposta, visite El Yunque National Forest, floresta tropical com 240 espécies de plantas e árvores, animais selvagens e 10 espécies de pássaros muito raros. São mais de 11 mil hectares, com condições climáticas que vão do deserto à floresta e valem a pena ser explorados. Na costa nordeste da ilha tem uma cidade chamada Luquillo. Tem uma das mais belas praias que você já viu, pontuada por coqueiros e boa para body surf. Conta com boa infraestrutura para passar o dia. Lembra das outras ilhas? Vá mergulhar em Mona. A ilha não habitada, há uns 80 km da costa oeste, tem clima seco não impede que haja muita animação com bandas ao vivo e jogos. Aliás, jogos são muito populares numa ilha que tem muitos cassinos. Ao lado de bares e discotecas, fazem uma noite fervilhante pra quem gosta de agito. E não só em San Juan, mas em outras partes, como Ponce, Mayaguez e Dorado. Quer balancear as atividades? Jogue golfe olhando o mar, ou dispute uma partida de tênis bem pertinho da praia. É bom mesmo fazer esportes, pra poder abusar da comida criolla, fantástica, que é servida em toda ilha. Com fortes influências da Espanha e da África, e da cozinha típica dos índios Tainos – nativos das ilhas – a cozinha crioula usa ingredientes locais como mandioca, batata doce e inhame, além do milho. Dos espanhóis vêm a cebola, o alho, coentro, berinjela, grão de bico, coco e bebidas como o rum. Da África, veio a banana verde. Entradas fritas fazem as vezes de petiscos pra abrir o apetite. Tente 33 Para curtir, relaxando... 34 os tostones, bananas verdes fritas servidas com arroz. Mas não deixe de comer as empanadillas, os bacalaítos e os surullitos – feitos com farinha de milho e queijo. E as imperdíveis batatas recheadas. Próximo passo, sopas. A sopa nacional é um guisado de frango com arroz, que também é feita com lagostas, camarões ou outros frutos do mar. Os frutos do mar estão na excelente companhia das carnes de boi e porco, sempre servidos com arroz e feijão – Parece familiar? Pois é, eles também adotam a dieta mais saudável do mundo! O mofongo é um dos pratos mais populares e consiste em banana verde frita com carne ou frutos do mar num delicioso molho de alho e tomate. Os doces e as frutas são muito parecidos com os nossos, mas dizem que as mangas são melhores. Para quem vai a Porto Rico interessado em gastronomia, a pedida é o programa Mesones Gatronomicos, criado em 1987. De origem espanhola, deu muito certo na Ilha. Os restaurantes participantes garantem excelente serviço, boa comida e preços justos. Em qualquer posto de turismo é possível obter a lista dos restaurantes credenciados. Vá passear em Old San Juan, o lugar mais interessante de Porto Rico, que é a parte mais antiga e histórica da cidade. É uma graça, toda colorida, cheia de bares, restaurantes animados, lojinhas de artesanato, roupas e chapéus “panamás” maravilhosos! Além de galerias de arte, pequenas lojas de antiguidades e souvenires. Caminhe no Paseo de La Princesa, uma passarela do século 19, ladeada de árvores, candeeiros antigos, bancos, fontes e artistas de rua. O Paseo leva a uma fonte com uma escultura de bronze que retrata a diversidade das raízes culturais da ilha. Restaurada em 1990, a passagem de novas pedras rosa leva à baia de San Juan. Relaxe e observe as pessoas. A brisa do mar da baía refresca e torna a caminhada ainda mais agradável. Vá para Port Caribe, ao sul da ilha. É pouco explorado e tem muitas atrações. Comece pela cidade de Ponce, cosmopolita e chamada a “Pérola do Sul”, fundada em 1692. A rica arquitetura abriga museus e faz da cidade um importante centro cultural da ilha. Port Caribe tem em torno de 15 cidades aninhadas na orla, ao pé de serras e vales. Não perca o Museu de Arte de Ponce. Fundado por um industrial e mecenas de arte, conta com boas obras de pintores da Europa. Aberto ao público em 1959, ganhou sua sede atual em 1965. Iniciado com 24 pinturas, conta hoje com um acervo de mais de 3.500 obras de arte, com destaque para a pintura dos pré-rafaelitas ingleses, a pintura barroca italiana e da escola francesa. A obra mais famosa do museu é “Sol Ardente de junho” – Fleming June – de Frederic Lord Leighton. Troque a direção rumo ao oeste em direção a Porta Del Sol. São várias cidades onde estão as melhores praias para o surf. Além disso, você pode andar de bicicleta, observar pássaros, mergulhar, pescar, caminhar… Lá está a cidade de Rincón, palco do famoso por de sol, cantado pelos The Beach Boys no hino não oficial dos surfistas “Surfing Safari”. Lá, bons surfistas encontram mariscos ainda melhores… Onde ficar São muitas as opções de hospedagem, para todos os gostos e bolsos. Começam com grandes resorts espalhados pela ilha, com cassinos, campos de golfe, restaurantes e baladas. A maioria das grandes grifes estão lá. Há também pequenas pousadas e hotéis. Uma opção bem interessante são os Paradores, nos arredores da ilha, fora do agito de San Juan. M parador é um pequeno hotel privado, que participa de um programa do governo que garante o nível de qualidade. Os preços são atrativos, estão quase sempre em locais muito bonitos e históricos e oferecem a gastronomia local. Do outro lado da balança, os hotéis butique, que oferecem luxo e personalização. Mas se você quer ver Porto Rico ferver, marque já sua passagem e vá para o 14 Porto Rico Salsa Congress, que acontece entre 24 e 31 de julho, no San Juan Hotel & Casino. É uma festa sem comparação. Tem gente de todas as idades e de todos os lugares que vão lá para ...dançar! Pode haver motivo melhor pra viajar e encontrar de alemães a japoneses, de 8 a 80 anos? As Américas parecem confluir para San Juan para rebolar feliz. Vêm bailarinos de todo lugar para competir nos quesitos grupo e dupla. Presença de palco, coreografia, visual, técnica e execução são os critérios que elegem os melhores do mundo. Para participar, é só se inscrever. Tem workshops e aulas pra quem não é – ainda – fera na salsa. Diversão em estado bruto. 35 O povo não entende esse portinglês, right? L Outro dia, no intervalo de um congresso, um colega me convidou para tomar um “cofe brake”. Meu motorista preferiu almoçar no restaurante de “seve-serve... Por JOEL LEITE evei uma bronca do Sr. Matinhos, editor do “Luso Americano”, jornal onde eu trabalhava em New Jersey, EUA. Eu recebia diariamente notícias da comunidade portuguesa em várias cidades do país, escritas normalmente à mão, e enviadas pelo correio. Minha função era dar um formato jornalístico ao texto, colocar o título e mandar para a edição. Certa vez, recebi um comunicado onde se lia: “A comunidade portuguesa de Boston “negoceia” com a prefeitura a reforma da escola local”. Ri da ignorância alheia e, naturalmente, substituí a palavra por “negocia”. O Sr. Matinhos ameaçou me demitir caso eu continuasse a escrever em “brasileiro”. “Aqui s´screve em prtuguês, ô gajo!” Nunca tinha pensado na possibilidade de o Brasil falar a língua “brasileira”. Nem acho que, quinhentos e tantos anos depois, alteramos tanto a língua dos conquistadores. Uma pronúncia diferente aqui, uma palavra surpreendente ali, mas, de uma forma geral, falamos no Brasil e em Portugal uma língua compreensível para ambos os povos. Mesmo depois de 500 anos! Incompreensível é a 36 língua que o Brasil construiu após a Segunda Guerra, quando nossas raízes europeias, alimentadas pela força da imigração portuguesa, italiana e espanhola, entre outras, foram substituídas pelo lifestyle estadunidense, padrão dos vencedores da II Guerra. Para você que tem intimidade com a língua inglesa - que vive o mundo dos negócios, da moda, da informática, enfim, que tem atividades próprias da classe média - as expressões estrangeiras são facilmente absorvidas. Mas o brasileiro comum sofre com a incompreensão. Passa por situações difíceis. Como empurrar a porta quando a placa indica push? Até os iniciados vacilam. É uma agressão, uma humilhação às pessoas que não têm o domínio do idioma. Dentro do seu próprio país o sujeito se defronta com expressões incompreensíveis, em língua estrangeira, informações as quais necessita para o seu dia a dia. Sale, airbag, site, bluetooth, player, CEO, feedback, coffee breake, facelift, call center, upgrade, happy hour, fast-food, drive-thru, são palavras que povoam o nosso dia a dia, e incompreendidas por grande parte da população. O inglês domina a comunicação brasileira. Os nomes das coisas foram substituídos. Lembra do vestido estilo Tomara que Caia? e a blusa Frente Única, a calça Boca de Sino ou a Pantalona? Hoje é blusa baby look, calça bag, camiseta é T-shirt. O mercado imobiliário exagera. Trocou churrasqueira por grill, sala por living, armário embutido por closet. Parque infantil é playground. Questionar esse exagero é questão de sobrevivência, não se trata (apenas) de resistência ao domínio cultural estrangeiro. Outro dia, no intervalo de um congresso, um colega me convidou para tomar um “cofe brake”. Meu motorista preferiu almoçar no restaurante de “seveserve”. Numa sala de aula, o aluno não sabia o que era “doravante”. O colega respondeu prontamente: “quer dizer: fora da classe”. Percebeu a relação com o inglês? Não? “Door avante” (da porta pra fora). Não é piada, isso aconteceu numa aula do professor Clóvis de Barros Filho, na USP. O brasileiro de classe média já pensa em inglês. Não se trata de simples aceitação dos estrangeirismos. Se assim fosse, as expressões em outras línguas também seriam absorvidas. Não são. Se o sujeito pronunciar Leroy Merlin em francês, “lerroá merrlã”, vai ser taxado de pedante, isso se for compreendido. O mesmo com Magneti Marelli: a pronúncia aceita é em português, Maguinéti, e não no italiano Manheti. São dois pesos para a mesma medida. Há duas formas de exercer o poder. Pela força física ou pelo controle social. Antigamente a força física era usada em qualquer situação. Hoje só é usada se for preciso. Mas o controle social está dando conta, se está! Joel Leite é jornalista, formado pela Fundação Cásper Líbero, com pós-graduação em Semiótica, Comunicação Visual e Meio Ambiente. Diretor da Agência AutoInforme, assina colunas em jornais, revistas, rádio,TV e internet. Não tem nenhum livro editado e nunca ganhou nenhum prêmio de jornalismo. Nem se inscreveu. Santo Antônio e os namorados Eu cresci ouvindo minha mãe dizer que ia pedir ajuda ao Toninho. Se a gente perdia alguma coisa em casa, ou se precisava de alguma coisa muito importante e quase impossível. Se tinha alguém doente, ou triste, ou sem perspectiva, ela logo dizia que o Toninho ia dar um jeito. Que ele sempre dava. O Toninho em questão era o Santo Antonio, que minha mãe adorava do jeito dela, bem informalmente. Por Maria Regina C 38 Cyrino Corrêa elebrado em 13 de junho, é considerado o “Santo Casamenteiro”, que vem em auxílio das solteiras e – talvez – dos solteiros. O imaginário popular conhece muitas simpatias e adivinhas que devem ser feitas na noite de 12 de junho. A resposta pode ser tiro e queda. Lembro que, na minha adolescência, todo mundo escrevia quatro nomes de pretendentes em quatro pedaços de papel. Depois, a gente dobrava em quatro e colocava um em cada canto do quarto. O papel que amanhecesse mais aberto indicava o nome do próximo namorado. Lógico que a gente dava uma roubadinha, deixando a dobra do preferido mais frouxa... Também são muitas as histórias de mocinhas em idade de casar que põem o pobre do santo de ponta cabeça, como forma de forçá-lo a arrumar-lhes um marido. Ouvi dizer até de Santo Antonio mantido no congelador, enquanto não trouxesse um marido. E dizem que tem que se ganhar a imagem pra arranjar um amor. Não vale comprar! Santo Antonio nasceu em Lisboa e foi contemporâneo de São Francisco de Assis, tendo convivido com ele intensamente na ordem Franciscana. Protetor dos noivos, até hoje se celebram casamentos coletivos em sua igreja no dia 13 de junho em Portugal. Morreu perto dos 40 anos e logo começaram a lhe atribuir milagres. Foi canonizado um ano depois da sua morte e tornouse um dos doutores da Igreja. Imagina só! Ele convivia com São Francisco! Eu fico pensando que tipo de conversa maravilhosa eles teriam... De qualquer maneira, junho pra nós é o mês dos namoros. Ainda que hoje pouca gente pareça disposta a dividir alguma coisa, todo mundo diz que quer namorar. O dia dos namorados na maior parte dos lugares é celebrado em 14 de fevereiro, que é dia de São Valentim. Aqui, foi mudado para perto do dia de Santo Antonio por razões bem mais práticas do que românticas: importado para ajudar o comércio, alojou-se em junho, mês tradicionalmente fraco para vendas. Hoje, depois do Natal e do Dia das Mães, faz os comerciantes rirem de orelha a orelha. Um bom lugar pra se encontrar um namorado é uma festa junina. Sempre friozinho, faces coradas de quentão, correio elegante, fogueira... Em São Paulo vem ficando cada vez mais difícil encontrar uma boa festa. Mas no Nordeste, as tradições são mantidas e as festas são quase tão boas e famosas quanto o Carnaval. São João, o mais celebrado, ganha as festas como forma de agradecimento pelas chuvas no sertão. A grande atração são os foguetórios! Eu simplesmente adoro fogos de artifício! Mais um presente dos chineses para nos maravilhar, como o biscoito da sorte e o frango xadrez. Um aparte: fui cinco vezes pra China e nunca comi – ou encontrei no cardápio – qualquer coisa parecida com o nosso bom e velho frango xadrez... Mas os fogos de artifício, assim como a pólvora, são mesmo chineses. Quando eu era criança, adorava me vestir de caipira, com falsas tranças que o meu cabelo, muito liso, não seguram. Ia pras festas do colégio bem feliz, dançar quadrilha e me entupir de doces e amendoim. Que delícia ser criança e comer amendoim sem culpa. Tenho uma foto muito legal em que estou uma legítima caipirinha, cheia de babadinhos e sem os dentes da frente! Foi a única vez que me senti adequada naquele período em que passei trocando dentes aos 6, 7 anos. As festas juninas são celebradas no mundo todo. Dedicadas aos santos populares, coincidem com a festa pagã do solstício de verão no hemisfério norte, celebrado em 24 de junho, dia de São João. A tradição da fogueira vem daí. Já os balões serviam pra sinalizar que a festa estava começando. Hoje, estão proibidos, pelo perigo. Mas a gente ainda lembra como eram bonitos... “O balão vai subindo, vem caindo a garoa, o céu é tão lindo e a noite é tão boa...” Maria Regina Cyrino Corrêa é jornalista, publicitária e, apesar de não ser católica, tem uma linda imagem do Toni... ops! Santo Antonio em casa. [email protected] http://felllikeaqueen.blogspot.com/ www.2showcomunicacao.com.br Pisada na bola O que fazer quando o problema não é resolvido por email, por telefone ou pessoalmente? No papel de cliente, quase nada. A não ser esperar a boa vontade do atendimento terceirizado e da própria empresa. Ou abandonar definitivamente a marca. Enquanto isso, meu celular novo continua hibernando... uitas empresas ainda não perceberam que, para garantir um ciclo de vida com os consumidores, é necessário que o consumidor seja, antes de tudo, cliente da marca. Um caminho ideal é compreender as necessidades daquele que consome o produto (ou serviço) e supri-las de forma positiva e inesperada. A partir daí, o vínculo e a confiança estabelecida atingirão um nível tão elevado que uma única venda gerará naturalmente outros relacionamentos comerciais. Porém, uma gama ainda maior de empresas não consegue sequer oferecer o mínimo possível. Ou seja, um atendimento básico para sanar problemas gerados pela própria empresa. Infelizmente fui e continuo sendo vítima e testemunha dessa afronta imperdoável. Tudo começou no estande de vendas de celulares de uma famosa marca asiática, que gasta milhões em merchandising esportivo, mas coloca em segundo plano o treinamento de seus empregados e dos demais prestadores de serviço terceirizados. Na conversa inicial com o vendedor, ele exibiu as ferramentas e as maravilhas do aparelho, destacando a qualidade da manufatura e dos materiais utilizados na fabricação. “Nossos produtos são únicos no mercado. A performance é garantida”, complementou o representante. Orgulhoso com tanta tecnologia embarcada à disposição, tive que recorrer a meu antigo celular um dia depois da aquisição, pois a então suposta super bateria arriou em algumas horas de uso. E não voltou a dar sinal de vida depois. A decepção não é com o problema técnico, mas sim com os caminhos tortuosos para encontrar uma solução. O site oficial da empresa esconde a página de atendimento ao cliente, como pedindo “por favor” para não ser contatada. Os e-mail de reclamação são tratados por meio de resposta automática, que promete retorno em até 48 horas. E só promete. E a central telefônica (não gratuita) orienta procurar alguma assistência técnica “mais perto de sua cidade”. O grande pilar do atendimento é atender! Depois satisfazer. E, por último, surpreender os clientes. A teoria não é minha. Está registrada nas literaturas especializadas. Nas últimas semanas, no entanto, tenho sido transformado em bolinha de pinguepongue. Do call center para a sala de recepção da autorizada que, terceirizada, afirma seguir os procedimentos da empresa. E a ela reclamar, se assim quisermos. Como consumidor, aí vai minha singela contribuição às empresas que insistem em maltratar os clientes: a relação comercial é como a relação amorosa. Se não cuidarmos com carinho, alguém fará isso por nós. E aí já será tarde para lamentos. Eu já troquei de celular. E de marca, definitivamente. Marcelo Allendes é jornalista e colaborador do Banco Volkswagen. email: [email protected] SHOWROOM M Por Marcelo Allendes 39 Multimídia e conectado Bonitos e acessíveis Cada vez mais multimídias e conectados, os celulares são não só extensão do corpo, mas dos computadores, do som, das câmeras, das filmadoras. É caso do novo celular Sony Ericsson Vivaz que permite gravar filmes em HD e fazer upload para o Youtube ou Picasa via Wi-Fi. O recurso de filmagem tem foco automático contínuo, que garante capturar com nitidez imagens mesmo em movimento. O recurso câmera tem lente de 8.1 megapixels com zoom digital de até 4x e autofoco - função que detecta o rosto que encontra e regula automaticamente o foco para a face no visor. As fotos podem ser vistas no modo retrato ou paisagem, bastando girar o telefone para alternar os modos. O Vivaz está integrado com o Facebook e, na tela do telefone, vê-se as atualizações de status dos amigos e é possível enviar as fotos tiradas diretamente para a sua página do Facebook. O recurso Media Go facilita a transferência de arquivos de mídia entre o telefone e o PC, arrastando e soltando, além de converter filmes e arquivos de música para a melhor qualidade possível. A tela de 3,2” é sensível ao toque. Vem com GPS incorporado e funciona em qualquer região do Brasil em operadoras que operam com GSM. Pode ser habilitado com Chip Pós Pago ou Pré Pago. Monitores LED LCD mais acessíveis e com excelente custo/benefício é a proposta da LG Electronics com o lançamento da linha E40 no mercado nacional. Os modelos E1940S (18,5 polegadas) e E2240S (21,5 polegadas) têm tela LED LCD, que garante alta qualidade de imagem e menor consumo de energia, 30% menos quando comparado a um monitor LCD convencional. Iluminadas por lâmpadas LED, as telas não contém mercúrio - material nocivo ao meio Preço sugerido: R$ 1.399,00 ambiente - em sua composição. O design é simples e elegante, com apenas 1,7 cm de espessura, acabamento em black piano e bordas em acrílico transparente. A linha possui tela widescreen (16:9), índice de contraste dinâmico A Canon traz para o mercado brasileiro, a partir de julho, a Canon PowerShot SD4000, de 2.000.000:1 e tempo de a primeira câmera da linha Elph com o sistema de alta sensibilidade, que soma um resposta de 5ms, recursos que sensor retro iluminado de 10 megapixels e um processador de imagem para melhorar a proporcionam maior nitidez e qualidade das fotos capturadas em situações de pouca luz. Tarefa auxiliada pela lente f/2.0 riqueza de detalhes. que permite maior entrada de luz, velocidades altas do obturador e redução do efeito de Preço médio sugerido: E2240S trepidação da câmera. O resultado são imagens mais claras, com mais qualidade e nitidez, RS 759,00 / E1940S - R$ 619,00. mesmo sem flash ou com ISO elevados. Outra função bacana é a gravação de vídeos em HD, conteúdo que é facilmente transferido da câmara por um cabo USB e reproduzido em HDTV via saída HDMI. Possibilita não só filmar, mas “brincar” trocando, acentuando cores ou assistindo aos vídeos em câmera lenta. A tela da câmera é de LCD, de três polegadas e mostra imagens e menus com facilidade. Tem ainda zoom óptico de 3.8X com estabilizador óptico de imagens. Tudo num design compacto com curvas bem trabalhadas, textura, aparência moderna e leque de cores: vermelha, preta, prata e branca. A câmera é compatível com memory cards SDXC e tem capacidade máxima de 2 terabytes (TB). Pequena criativa 40 Preço sugerido: no Brasil ainda não foi divulgado, mas nos EUA o preço é de US$ 350. Um romance paranoico Comédia romântica gay “Coração apertado” por Marie NDiaye (Cosac Naify Editora, 2010) Preço sugerido: R$ 50,00 SHOWROOM Nas primeiras cenas, o aviso: “isso aconteceu de verdade”. E, à medida que a trama Onde são lançados, os livros da francesa se desenrola tudo parece improvável. Steven Russell, interpretado por Jim Carrey, de origem senegalesa e moradora de cresceu no Texas, tornou-se policial, casou-se, teve uma filha, tudo dentro dos Berlin, Marie NDiaye chamam a atenção parâmetros “normais”, até que ele sobrevive a um grave acidente de carro e decide da crítica e do público. O ano passado ela não mais viver na mentira e se assume gay. Muda-se para Miami, onde adota um ganhou o prestigioso prêmio das letras estilo de vida hedonista e conhece seu primeiro amante sério, Jimmy Kemple, francesas, o Goncourt (que há 11 anos não interpretado por Rodrigo Santoro. era atribuído a uma mulher) por Trois Prazeres custam caro, as contas têm que ser pagas, e Russell passa a violar as leis, Femmes Puissantes, ainda sem tradução aplicando golpes e fraudes, daí o título em português “O golpista do ano”, do no Brasil, mas que será lançado pela Cosac original “I Love You Phillip Morris”. Ele é carismático, inteligente, mas as coisas Naify, a mesma editora que trouxe “Coração saem erradas. Ele vai para a prisão, onde conhece o amor de sua vida: um homem apertado”, romance de estreia de Marie sensível, louro, olhos claros, chamado Phillip Morris (Ewan McGregor). Tem início NDiaye por aqui. “Coração apertado” narra uma sucessão de golpes, intercalados com períodos na prisão e fugas, sempre em primeira pessoa a perturbadora história através de meios engenhosos e não-violentos, tudo em nome do amor para de Nadia e Ange, um casal de professores, estar ao lado de Phillip Morris. É uma comédia romântica, inclusive com as moradores de Bordeaux, que sem nenhum cenas clássicas de encontros e despedidas, só que gay, e só por isso polêmica. motivo aparente começam a serem olhados Tanto que os diretores/roteiristas tiveram que buscar produtores - leia-se de modo diferente por colegas, vizinhos, dinheiro - na Europa porque não encontraram nos EUA. O filme, aliás, não alunos. Como Nadia e Ange, o leitor custa a estreou por lá, os distribuidores norte-americanos prometem para 30 de entender por que eles estão sendo tratados junho, junto com as grandes estreias do verão. assim, e como os personagens, sente-se Muita gente não gosta de Carey; o considera exagerado, careteiro. Mas paranoico. A linguagem é seca, neutra, limpa, ele está na medida para este papel. Não dá para rolar de rir, mas os por vezes, engraçada, só que com um humor 102 minutos de projeção passam rápido. Dá para se divertir, mas a ferino, o que acentua o absurdo da situação e o sensação de incredulidade não desaparece. desespero das personagens. A autora de 43 anos fala da França urbana contemporânea, das tensões “O golpista do ano” (I Love You Phillip Morris, EUA / França, 2009, 102 sociais e violência latente. No romance, questões Minutos). como racismo, integração, imigração, as ex-colônias, Escrito e dirigido por Glenn Ficarra e John Requa com Jim Carrey, Ewan não são verbalizadas, mas estão presentes. “Coração McGregor, Rodrigo Santoro, Leslie Mann e outros. apertado” é um suspense apavorante e sufocante, Estreia prometida: 4 de junho. sensação que é potencializada pelo cenário - Bordeaux e a neblina que encobre a cidade, tão densa, que à certa altura, Nadia se perde e não consegue se orientar por onde vive há tanto tempo. É um livro sobre a intolerância com os imigrantes em tempos de atentados terroristas, globalização e recessão dos países desenvolvidos. 41 “Culto do Cassoulet Amador”, ameaça ao mundo do vinho? Por Gustavo Corrêa Por Arthur Azevedo P quer que seja, e sim de não permitir que inocentes úteis sejam usados pela indústria do vinho para validar produtos de péssima qualidade, que lamentavelmente, se encontram às centenas em Assunto dominante no todos os países. Consumidores evento Wine Future 09, comuns tendem a dar opiniões realizado na Espanha, baseadas no hedonismo, do em novembro último, a tipo “gostei” e “não gostei”, qualidade e a confiabilidade que, em última análise, não das informações disponíveis servem para absolutamente nas diversas redes sociais nada, pois refletem um gosto (Facebook, Orkut, Twitter, pessoal, que pode ou não ser My Space e outras), no You útil para outros consumidores. Tube e em inúmeros blogs e Pior ainda são os blogs de websites que se multiplicam pseudo-especialistas, que são a cada minuto, vêm alimentados por produtores inescrupulosos, onde pessoas despertando o interesse dos que não têm a menor noção especialistas no mundo todo. dos diversos aspectos do vinho e sem nenhuma formação ara uma melhor compreensão do específica, por mínima assunto, vale recapitular a origem do que seja, se travestem de título que abre essa matéria. “Culto profundos conhecedores do Amador” é o nome do livro de de um assunto do qual não Andrew Keen, editado no Brasil pela tem noções rudimentares. Zahar Editora, cujo tema central é As facilidades trazidas pela a celebração do amadorismo, o que permite que qualquer pessoa, por mais internet escondem armadilhas para o consumidor de vinhos, desinformado ou mal-intencionado, que seja, emita sua opinião sobre temas que só poderão ser evitadas os mais diversos possíveis, fazendo com se a fonte das informações for que muitas pessoas, inadvertidamente, cuidadosamente avaliada e as informações criteriosamente recebam informações errôneas, visto filtradas. O “Culto do ser hoje praticamente impossível se Amador” deve sempre estar medir a confiabilidade da informação presente nas considerações postada. Esse fenômeno mundial do amadorismo chegou com força total ao de qualquer consumidor mundo dos vinhos, com consequências consciente, especialmente em assuntos que dependam nefastas, visto o vinho ser uma bebida que envolve diretamente a ciência em de formação específica e bem fundamentada. sua elaboração e apreciação. Não se trata de censura a quem 42 Arthur Azevedo é diretor da Associação Brasileira de Sommelier – SP, editor da revista Wine Style (www.winestyle.com.br) e consultor de vinhos do Angeloni Você sabe a diferença entre o cassoulet e o puchero? O cassoulet é a feijoada francesa, feita com feijão branco e carne de porco, carneiro, ganso ou pato e pouco tempero. Já o puchero é espanhol e feito com carnes e grão-de-bico, mas muito temperada. Boa pedida para os dias frios, servido com arroz branco e pimentas variadas, o Cassoulet é uma ótima oportunidade para reunir amigos e cozinhar, tudo sem pressa, tomando um vinhozinho... Anote: Deixe os fundos prontos com antecedência. Eles são úteis para várias receitas. Faça o fundo (caldo) a partir de carcaças de frango ou ossos e carne de boi, cozidos com cebola, alho, cenoura e ervas finas. Ingredientes: • Cozinhe 480g de feijão branco coberto com água ou fundo de legumes, dentes de alho e um bouquet garni (trouxinha feita com ervas aromática, alho e pimenta em grão). Quando estiverem cozidos, reserve. • Asse 800 g de tomates, tire a pele e corte em cubos pequenos. • Cozinhe 140g de lombo de porco em fundo de frango até que esteja macia (uma hora e meia). Reserve a carne e o fundo separadamente. Não esqueça de retirar o excesso de gordura do fundo. • Em uma panela grande e quente, adicione 450g de cebolas fatiadas bem fininho e 1 colher de sopa de vinho. Salteie até dourar. • Adicione na mesma panela 1 colher de sopa de alho picado e salteie até sair o aroma. Adicione 50g de extrato de tomate e pincele até ficar marrom. • Aí, é só deglacear (remover e aproveitar o sabor dos restinhos de fritura e gordura que aderem no fundo da panela) com mais 80ml de vinho e deixar reduzir até a consistência de um xarope. • Junte uma colher de sopa de tomilho, uma de alecrim e metade dos tomates assados. Cozinhe até o suco dos tomates reduzir. • Adicione o fundo reservado: 370g de tomate concassé (sem pele, cortado em cubos), meio copo de fundo de carne, sal e pimenta. Cozinhe em fogo brando por 15 minutos. • Adicione a carne de porco reservada, 140g de peito de pato defumado, 225g de carne de peru picada e temperada e os feijões cozidos. Teste o sal e adicione o necessário para o seu paladar, sem exageros. • Cozinhe por mais 20 minutos. • Aos poucos, vá juntando o restante dos tomates assados e mantenha quente. • Misture 100g de farinha de rosca com meia colher de ceboulette e meia de salsa picadas. Na hora de servir, coloque porções individuais do guisado quente em cumbucas refratárias e polvilhe com a mistura da farinha de rosca. Finalize no forno 260 oC até formar uma crosta dourada. Tempo de preparo: 2 horas • Rendimento: 6 porções Calorias: em torno de 340 por porção Gustavo Corrêa é chef formado pelo SENAC Águas de São Pedro. Trabalhou em várias regiões brasileiras, em restaurantes renomados internacionalmente. Sua especialidade e prazer são os jantares temáticos. [email protected]