MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 34 Complementos de Cálculo Diferencial A noção de derivada foi introduzida no ensino secundário. Neste capítulo pretende-se relembrar algumas de…nições e resultados já conhecidos e complementar os conhecimentos adquiridos com vista ao cálculo integral que será dado no capítulo seguinte. Anteriormente foram estudadas as funções trigonométricas e respectivas derivadas, mas não foram estudadas as funções inversas das funções trigonométricas. Aqui serão apresentadas as funções inversas das quatro principais funções trigonométricas, seno, co-seno, tangente e cotagente, para as quais serão também calculadas as derivadas. Ao longo deste capítulo todas as funções consideradas são funções reais de variável real. Revisões Algumas derivadas conhecidas: Para 2 R, (x )0 = x 1 (ex )0 = ex Para a 2 R+ , (ax )0 = ax ln a 1 (ln x)0 = x 0 (sen x) = cos x (cos x)0 = sen x 1 (tan x)0 = cos2 x 1 (cot x)0 = sen2 x Fórmula fundamental da trigonometria cos2 x + sen2 x = 1 Da fórmula fundamental podem-se deduzir, tg2 x + 1 = 1 (se cos x 6= 0) cos2 x cotg2 x + 1 = 1 (se sen x 6= 0) sen2 x De…nição Uma função é diferenciável em x 2 R se tiver derivada …nita em x: Teorema Se uma função f é diferenciável em x 2 R, então f é contínua em x: MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 35 Derivada da soma e do produto: Se f e g são funções diferenciáveis em x 2 R, então as funções f + g e f g também são diferenciáveis em x e: (f + g)0 (x) = f 0 (x) + g 0 (x) [abreviadamente (f + g)0 = f 0 + g 0 ] (f g)0 (x) = f 0 (x) g (x) + f (x) g 0 (x) [abreviadamente (f g)0 = f 0 g + f g 0 ] Exemplos: Se f (x) = sen x e g (x) = cos x então: (sen x + cos x)0 = (sen x)0 + (cos x)0 = cos x sen x (sen x cos x)0 = (sen x)0 cos x + sen x (cos x)0 = cos x cos x + sen x ( = cos2 x sen x) = sen2 x: Derivada do produto escalar: Se k 2 R e f é uma função diferenciável num ponto x 2 R, então a função kf também é diferenciável em x e: (kf )0 (x) = k (f 0 (x)) 0 0 Exemplo: (3x2 ) = 3 (x2 ) = 3 (2x) = 6x: Derivada do cociente: Se f e g são funções diferenciáveis em x 2 R e se g (x) 6= 0, então f também é diferenciável em x e: g f g 0 f 0 (x) g (x) f (x) g 0 (x) (x) = [abreviadamente (g (x))2 f g 0 = f 0g + f g0 ] g2 Exemplo: Se f (x) = sen x e g (x) = cos x então: (tan x)0 (x) = = sen x cos x 0 = cos x cos x sen x ( (sen x)0 cos x sen x (cos x)0 = 2 cos2 x (cos x) sen x) cos2 x + sen2 x: 1 = 2 cos x cos2 x Derivada da função composta: Se f e g são funções, g diferenciável em x 2 R e f diferenciável em g (x), então a função f (f g)0 (x) = f 0 (g (x)) g 0 (x) Exemplo: Se f (x) = ln x e g (x) = x2 g) (x) = ln (x2 ) e, então: 1 2x 0 0 (ln (x2 )) = 2 : (x2 ) = 2 x x 2 (g f ) (x) = (ln x) e então: 2 ln x 0 (ln x)2 = 2 ln x: (ln x)0 = x (f g é diferenciável no ponto x e: = MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 36 Funções trigonométricas inversas Função inversa da função seno f (x) = sen x Domínio: R Contradomínio: [ 1; 1] Grá…co: y 1 0.5 0 -5 -2.5 0 2.5 5 -0.5 x -1 sen x Como a função seno não é injectiva, para de…nir a inversa temos de restringir h i a função a um intervalo em que seja injectiva. Para isso escolhemos o intervalo ; , no qual a 2 2 função seno é estritamente crescente e assume todos os valores do seu contradomínio. Ao valor da função inversa do seno num ponto x deste intervalo chama-se habitualmente arco cujo seno é x; simbolicamente arcsen x: Como sen x e arcsen x são funções inversas, é claro que sen(arcsen x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arcsen x Domínio: [ 1; 1]h i Contradomínio: ; 2 2 Grá…co: y 1.5 1 0.5 0 -1 -0.5 0 0.5 1 x -0.5 -1 -1.5 arcsen x MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 37 Função inversa da função co-seno f (x) = cos x Domínio: R Contradomínio: [ 1; 1] Grá…co: y 1 0.5 0 -5 -2.5 0 2.5 5 -0.5 x -1 cos x Também neste caso, para de…nir a função inversa temos de restringir a função co-seno a um intervalo em que seja injectiva. Para isso escolhemos o intervalo [0; ], no qual a função co-seno é estritamente decrescente e assume todos os valores do seu contradomínio. Ao valor da função inversa do co-seno num ponto x deste intervalo chama-se habitualmente arco cujo co-seno é x; simbolicamente arccos x: Como cos x e arccos x são funções inversas, é claro que cos (arccos x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arccos x Domínio: [ 1; 1] Contradomínio: [0; ] Grá…co: y 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 -1 -0.5 0 0.5 1 x arccos x MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 38 Função inversa da tangente: f (x) = tan x (ou n f (x) = tg x)o Domínio: R +k :k 2Z 2 Contradomínio: R Grá…co: y 10 5 0 -10 -5 0 5 10 x -5 -10 tan x Nestei caso, para h calcular a função inversa da tangente, efectuamos a sua restrição ao intervalo ; no qual a função é estritamente crescente e assume todos os valores do seu 2 2 contradomínio. Ao valor da função inversa da tangente num ponto x deste intervalo chamase habitualmente arco cuja tangente é x; simbolicamente arctan x ou arctg x: Como tan x e arctan x são funções inversas, é claro que tan (arctan x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arctan x (ou f 1 (x) = arctg x) Domínio: R i h Contradomínio: ; 2 2 Grá…co: y 1 0.5 0 -5 -2.5 0 2.5 5 -0.5 x -1 arctan x MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 39 Função inversa da cotangente: f (x) = cot x (ou f (x) = cotg x) Domínio: R fk : k 2 Zg Contradomínio: R Grá…co: y 10 5 0 -10 -5 0 5 10 x -5 -10 cot x Neste caso, para calcular a função inversa da cotangente, efectuamos a sua restrição ao intervalo ]0; [ no qual a função é estritamente decrescente e assume todos os valores do seu contradomínio. Ao valor da função inversa da tangente num ponto x deste intervalo chama-se habitualmente arco cuja cotangente é x; simbolicamente arccot x ou arccotg x: Como cot x e arccot x são funções inversas, é claro que cot (arccot x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arccot x (ou f 1 (x) = arccotg x) Domínio: R Contradomínio: ]0; [ Grá…co: y 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 -5 -2.5 0 2.5 5 x arccot x MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 40 Derivada da função inversa O teorema que se enuncia de seguida permite calcular a derivada da função inversa de uma função dada a partir da derivada da função inicial. Derivada da função inversa: Seja I um intervalo real, f : I ! R uma função monótona 1 e contínua e f 0 : f (I) ! R a inversa de f: Se f é diferenciável num ponto x 2 I e 1 f (x) 6= 0; então f é diferenciável em y = f (x) e: f 1 0 1 (y) = f 0 (f 1 (1) (y)) Exemplos: Os exemplos que apresentamos mostram como utilizar este teorema no cálculo de derivadas já conhecidas. 1. Vamos calcular a derivada da função ln x usando o facto de ser a função inversa de f (x) = ex : Com é sabido f 0 (x) = ex : Neste caso f 1 (y) = ln y: Aplicando a fórmula (1) obtemos: (ln y)0 = f 1 0 (y) = 1 f0 (f 2. Vamos calcular a derivada da função x 3 = p 3 1 1 (y)) 1 = e(ln y) = 1 y x usando o facto de ser a função inversa de f (x) = x3 : Com é sabido f 0 (x) = 3x2 : p Neste caso f 1 (y) = 3 y: Aplicando a fórmula (1) obtemos: 1 y3 0 p = ( 3 y)0 = f 1 0 (y) = 1 f0 1 (f = (y)) 3 1 p 3 y 1 = y 3 2 2 3 Derivadas das funções trigonométricas inversas arcsen x Se f (x) = sen x então f 0 (x) = cos x e f 1 (y) = arcsen y. Aplicando a fórmula (1) da página 40, obtem-se: (arcsen y)0 = 1 cos (arcsen y) = # ve r p g . 3 4 arccos x Se f (x) = cos x então f 0 (x) = sen x e f 1 p 1 1 sen2 (arcsen y) 1 =p y2 1 (y) = arcsen y. Aplicando a fórmula (1) da página 40, obtem-se: (arccos y)0 = 1 sen (arccos y) = # ve r p g . 3 4 1 p 1 cos2 (arccos y) = 1 p 1 y2 MTDI I - 2007/08 - Complementos de Cálculo Diferencial 41 arctan x Se f (x) = tan x então f 0 (x) = da página 40, obtem-se: (arctan y)0 = 1 ef cos2 x 1 1 2 cos (arctan y) 1 (y) = arctan y. Aplicando a fórmula (1) = 1 1 = 2 tan (arctan y) + 1 y +1 2 # ve r p g . 3 4 arccot x Se f (x) = cot x então f 0 (x) = da página 40, obtem-se: 1 1 2 sen (arccot y) (arccot y)0 = Conclusão: (arcsen x)0 = p 1 x2 1 1 (arccos x)0 = p (arctan x)0 = 1 1 + x2 (arccot x)0 = 1 1 ef sen2 x x2 1 1 + x2 1 = # ve r p g . 3 4 (y) = arccot y. Aplicando a fórmula (1) 1 cot (arccot y) 2 1 = 1 y2 1