OLHO E OUVIDO OFTALMOLOGIA .......................................................................................... Exame Físico do Olho .............................................................................. Pálpebras ................................................................................................. Anormalidades Conformacionais ....................................................... Inflamação .......................................................................................... Aparelho Lacrimal .................................................................................... Conjuntiva ................................................................................................ Córnea ..................................................................................................... Úvea Anterior ........................................................................................... Glaucoma ................................................................................................. Lente ..................................................................................................... Fundo de Olho ......................................................................................... Retinopatias Hereditárias ................................................................... Coriorretinite ....................................................................................... Órbita ..................................................................................................... Prolapso do Olho ..................................................................................... 351 351 352 352 353 353 354 354 355 356 357 357 357 358 358 359 ONCOLOGIA OFTÁLMICA ........................................................................... Oncologia Oftálmica Bovina ..................................................................... Oncologia Oftálmica Canina .................................................................... Oncologia Oftálmica Eqüina .................................................................... Oncologia Oftálmica Felina ...................................................................... 359 359 360 361 361 CONJUNTIVITE POR CHLAMYDIA ............................................................. 362 UVEÍTE EQÜINA ........................................................................................... 363 VERMES OCULARES ................................................................................... 365 Vermes Oculares de Grandes Animais .................................................... 365 Vermes Oculares de Pequenos Animais ................................................. 367 CERATOCONJUNTIVITE INFECCIOSA ...................................................... 367 SURDEZ ........................................................................................................ 369 DOENÇAS DA ORELHA EXTERNA ............................................................. Doenças da Pina ...................................................................................... Hematoma Auricular .......................................................................... Síndrome Necrótica da Orelha de Suínos ......................................... Otite Externa ............................................................................................ Tumores do Canal Auditivo ...................................................................... 370 370 371 371 372 376 OTITES MÉDIA E INTERNA ......................................................................... 376 OFTALMOLOGIA EXAME FÍSICO DO OLHO O exame ocular inicial deve avaliar a simetria, conformação e lesões macroscópicas; o olho deve ser observado a menos de 1m, com boa iluminação e com mínima Oftalmologia 352 movimentação da cabeça. O segmento anterior do olho e os reflexos da pupila são examinados detalhadamente com luz forte e sob aumento, em um ambiente escuro. O teste de lágrima de Schirmer, coloração com fluoresceína, citologia e cultura da córnea e conjuntiva, medida da pressão intra-ocular (tonometria), eversão das pálpebras para exame e lavagem do duto nasolacrimal são procedimentos auxiliares para avaliar enfermidades do segmento anterior do olho. As doenças do humor vítreo e fundo de olho são detectadas ou avaliadas por oftalmoscopia, freqüentemente executada após indução de midríase e testes de visão (trajeto com obstáculos). O teste de lágrima de Schirmer e as culturas corneoconjuntivais podem ser executados antes da instilação de anestésico tópico. A coloração com fluoresceína e a eversão palpebral não requerem anestésico tópico, mas a medida da pressão intra-ocular (tonometria), o exame da superfície posterior da membrana nictante, as citologias conjuntival e corneal, a gonioscopia e a lavagem do duto nasolacrimal devem ser realizados após instilação deste anestésico. Os exames especiais, tais como a biomicroscopia com lâmpada de fenda ou eletrorretinografia, podem requerer sedação ou anestesia local, regional ou geral. PÁLPEBRAS Anormalidades conformacionais Entrópio – É uma inversão total ou parcial das margens palpebrais que pode envolver uma ou ambas as pálpebras e os cantos. O entrópio geralmente está associado a um defeito hereditário da pálpebra em muitas raças caninas e ovinas, à formação de cicatriz ou a um severo blefarospasmo devido a dor ocular ou periocular. A inversão dos cílios ou dos pêlos faciais cria um desconforto adicional, irritações conjuntival e corneal, e se prolongada, causa cicatrizes na córnea, pigmentação e talvez ulceração. O entrópio espástico precoce pode ser revertido se: 1. a causa inicial for removida; ou 2. a dor for aliviada com eversão dos pêlos palpebrais para fora do olho com suturas em colchoeiro na pálpebra, injeções (por exemplo, de penicilina procaína) na pálpebra adjacente ao entrópio, ou por bloqueio do nervo palpebral. O entrópio estabelecido pode requerer correção cirúrgica. Ectrópio – É uma pálpebra frouxa, de margem evertida, geralmente com uma grande fissura palpebral; é um defeito de conformação bilateral comum em várias raças caninas; a contração de cicatrizes na pálpebra ou paralisia do nervo facial podem produzir ectrópio unilateral em qualquer espécie. A exposição conjuntival resultante leva a uma conjuntivite crônica ou recorrente por irritantes ambientais ou infecção bacteriana. As preparações tópicas de antibiótico-corticosteróide podem controlar temporariamente as infecções periódicas, mas a correção cirúrgica é indicada em muitos casos. Os casos moderados podem ser controlados por lavagens periódicas repetidas com soluções descongestionantes suaves. Lagoftalmia – A incapacidade de fechar as pálpebras e proteger a córnea do ressecamento e de traumatismos pode ser o resultado de órbitas de pouca profundidade, exoftalmia devida a uma lesão orbital que ocupa espaço, ou paralisia do nervo facial. Lesão da córnea, pigmentação e ulceração são resultados gerais de lagoftalmia. A não ser que a causa possa ser corrigida, a terapia consiste em lubrificantes tópicos e redução cirúrgica ou fechamento da(s) fissura(s) permanente ou temporariamente, dependendo da causa. Pregas cutâneas nasais excessivas e pêlos faciais podem agravar o dano causado pela lagoftalmia. Anormalidades dos cílios – Cílios maldirecionados na margem palpebral podem produzir epífora ou lesão corneal e ulceração. Em muitos casos, cílios anômalos são muito finos e não produzem sinais clínicos nem lesão. Entretanto, cílios maldirecionados que penetram através da conjuntiva palpebral são capazes Oftalmologia 353 de produzir sinais de dor profunda. Se os sinais se correlacionam com cílios extras, a excisão ou criortermia dos folículos ciliares é indicada. Anormalidades dos cílios são comuns em algumas raças de cães e provavelmente são hereditárias. Inflamação A blefarite (inflamação das pálpebras) pode resultar da extensão de uma dermatite generalizada, de conjuntivite ou infecções locais, ou de irritantes, tais como óleos vegetativos ou exposição solar. As pálpebras podem ser o sítio original do comprometimento por agentes que progridem para uma dermatite generalizada. Dermatófitos, Demodex canis , e bactérias, tais como os estafilococos, estão freqüentemente envolvidos. A junção mucocutânea da pele e conjuntiva pode ser o sítio de doenças imunomediadas como o pênfigo. Infecções glandulares locais podem ser agudas ou crônicas (hordéolo e calázio). Na blefarite generalizada, é freqüentemente indicada a terapia sistêmica além do tratamento tópico. Terapia de suporte com compressas quentes e freqüente limpeza é comumente indicada em casos agudos. Se as preparações não oftálmicas podem ser usadas para tratar as pálpebras, indica-se cautela na aplicação para evitar-se a irritação da córnea. Esfregaços de pele, culturas e biópsias podem ser necessárias para se chegar a um diagnóstico correto. APARELHO LACRIMAL Hipertrofia e prolapso da glândula da terceira pálpebra (olho de cereja) são comuns em cães jovens. Em estágios agudos, a grande massa vermelha incha, há protrusão da margem da terceira pálpebra e uma secreção mucopurulenta. Embora a tumefação possa retroceder por curtos períodos, ela eventualmente permanece prolapsada, mas raramente produz sinais desfavoráveis nos estágios crônicos. Visto que é uma glândula lacrimal importante, deve ser preservada por uma sutura de apoio à borda orbital, ou por excisão parcial. A excisão completa pode resultar em uma ceratoconjuntivite seca (ver adiante). Dacriocistite é uma inflamação do saco lacrimal normalmente causada por obstrução do duto nasolacrimal proximal por debris inflamatórios, corpos estranhos, ou massas que pressionam sobre o duto. Produz lacrimejamento (epífora) e conjuntivite secundária refratária ao tratamento. Abscedação do saco lacrimal pode ocorrer. A irrigação do duto nasolacrimal revelará uma obstrução do duto ou refluxo de secreção mucopurulenta do orifício, ou ambos. Radiografias do crânio após injeção de contraste dentro do duto podem ser necessárias para estabelecer o sítio e a causa da obstrução. O tratamento consiste na manutenção da abertura do duto e instilação de soluções antibióticas tópicas. Pode ser necessária a implantação de um tubo de polietileno no duto para manter a abertura. Atresia dos orifícios lacrimais é uma causa de epífora no cão e no gato, enquanto a atresia do extremo nasal do duto nasolacrimal é uma causa de dacriocistite em eqüinos e bovinos jovens. A terapia consiste em abrir cirurgicamente o orifício e manter sua abertura. Ceratoconjuntivite seca (CCS) é devida a uma deficiência de lágrimas e geralmente resulta em uma conjuntivite mucopurulenta e cicatrizes e úlceras da córnea. A síndrome é comum em cães, nos quais está freqüentemente associada à adenite auto-imune. Cinomose, tratamento crônico com sulfonamidas e traumatismos são causas pouco freqüentes de CCS. A doença é infreqüente em gatos e rara em cavalos. O tratamento tópico consiste em lágrimas artificiais, e combinações de antibiótico-esteróide se não houver ulceração. Os lacrimogêneos, tais como a pilocarpina misturada à ração podem ser úteis (para um cão de 10 a 15kg, iniciar com 2 a 4 gotas de policarpina a 2%, duas vezes ao dia). Ciclosporina tópica a 2% Oftalmologia 354 (embora não esteja disponível comercialmente como preparação tópica) dada duas vezes ao dia aumenta a produção de lágrima em muitos cães. Os agentes mucolíticos, por exemplo, a acetilcisteína a 10%, lisam o excesso de muco e restauram a capacidade de difusão de outros agentes tópicos. Em casos de CCS crônica, a terapia médica é inadequada para controlar a progressão das cicatrizes da córnea e é indicado o transplante do duto parotídeo. CONJUNTIVA Hemorragia subconjuntival pode surgir de um trauma ou de discrasias sangüíneas; não requer terapia, mas é um sinal que merece ser examinado para determinar se alterações intra-oculares mais importantes ocorreram. Se não há evidências ou história definitiva de trauma, então o exame sistêmico é indicado para se determinar a causa da hemorragia espontânea. Quemose ou edema conjuntival ocorre em algum grau em todas as conjuntivites, mas os exemplos mais dramáticos são vistos nas reações alérgicas, trauma e picada de insetos. A última é tratada com corticosteróides tópicos e normalmente resolvese rapidamente. É indicada a terapia específica para o agente etiológico. Conjuntivite é uma doença comum em todos os animais domésticos e os agentes etiológicos podem variar de infecciosos a irritantes ambientais. Os sinais de conjuntivite são hiperemia, quemose, secreção ocular, hiperplasia folicular e um leve desconforto ocular. A aparência da conjuntiva geralmente não é distinta o suficiente para sugerir o agente etiológico, e o diagnóstico específico depende do histórico, exame físico, esfregaços da conjuntivite e cultura, teste de lágrima de Schirmer e, às vezes, biópsia. Conjuntivite unilateral indica condição isolada de um olho, tal como corpo estranho, dacriocistite ou CCS (ver adiante). No gato, o micoplasma e aChlamydia cati podem produzir conjuntivite que começa em um olho e torna-se bilateral após , 1semana. O diagnóstico específico é feito pela demonstração de inclusões ou do agente infeccioso em esfregaços conjuntivais. A conjuntivite bilateral é comum em uma variedade de infecções virais em todas as espécies. O herpesvírus produz conjuntivite no gato, na vaca, no cavalo e no porco e passageiramente no cão. Secreção purulenta indica um componente bacteriano, mas este pode ser oportunista devido à debilidade da superfície da membrana mucosa. Os irritantes ambientais e alérgenos são causas comuns de conjuntivite em todas as espécies. Se está presente exsudato mucopurulento, é indicada a antibioticoterapia, mas esta pode não ser curativa se outros fatores predisponentes estão envolvidos. Fatores mecânicos, tais como corpos estranhos, irritantes ambientais e defeitos de conformação devem ser removidos ou corrigidos. A tetraciclina tópica é indicada para o tratamento de infecções causadas por Chlamydia; preparações antivirais tópicas, tais como idoxuridina, são indicadas para as infecções por herpesvírus. CÓRNEA Ceratite superficial é comum em todas as espécies e é caracterizada por vascularização e opacificação da córnea, que podem ser devidas a edema, infiltrado celular, pigmentação ou fibroplasia. Se a ulceração está presente, dor evidenciada por epífora e blefarospasmo é um sinal notável. Ceratite unilateral é freqüentemente de origem traumática. Fatores mecânicos, tais como defeitos de conformação palpebral e corpos estranhos, devem sempre ser eliminados, bem como suas possíveis causas, visto que a melhora não ocorrerá até que os transtornos sejam resolvidos. Ceratite ulcerativa pode ser complicada por uma invasão secundária por bactérias e, nos cavalos, por fungos saprófitas. Ceratite superficial bilateral pode ser imunomediada ou associada à ausência de lágrimas, defeitos conformacionais e agentes infecciosos. Oftalmologia 355 Ceratite superficial crônica (doença de Uberreiter, pannus oftálmico) é uma ceratite superficial bilateral progressiva e proliferativa, que começa lateralmente no limbo e, eventualmente, estende-se a todos os quadrantes para cobrir a córnea. É mais comum no cão pastor alemão. O tratamento específico para a ceratite superficial consiste de antibióticos tópicos, agentes antivirais ou antimicóticos quando apropriados, remoção de irritantes mecânicos quando presentes, suplementação lacrimal quando deficiente e corticosteróide quando a doença é imunomediada. O último tem que ser continuado indefinidamente e a freqüência varia dependendo da resposta. Ceratite intersticial é um envolvimento profundo do estroma e está presente em todos os casos crônicos e em muitos casos agudos de uveíte anterior. A neovascularização da córnea é menos ramificada e profunda que na ceratite superficial e freqüentemente o edema da córnea é marcante se o endotélio tiver sido afetado. Doenças sistêmicas, tais como a hepatite infecciosa canina, febre catarral maligna, micoses sistêmicas e septicemias que se localizam nos olhos, são causas de ceratite intersticial uni ou bilateral. A terapia é direcionada à uveíte anterior, à infecção sistêmica ou a ambas. Ceratite ulcerativa pode ser superficial, profunda, profunda com descemetocele ou perfurante. Dor, irregularidade da córnea, edema e, eventualmente, neovascularização são sinais de ulceração. Um denso infiltrado branco na margem da úlcera indica intensa leucotaxia e envolvimento bacteriano. Para detectar pequenas úlceras, fluoresceína sódica tópica pode ser administrada. No cão e no cavalo, a maioria das úlceras é de origem mecânica; na vaca e na ovelha, agentes infecciosos e causas mecânicas são importantes; no gato, herpesvírus. Todas as úlceras têm potencial para contaminação bacteriana secundária ou "digestão" enzimática endógena do estroma. O tratamento para úlceras superficiais é geralmente medicamentoso, consistindo de antibiótico(s) tópico(s), atropina tópica para iridocicloplegia e correção de qualquer fator mecânico. As síndromes de úlceras superficiais que cicatrizam muito lentamente ocorrem no cão, no gato e no cavalo; no gato, deve se suspeitar do herpesvírus; no cão, elas podem ser devidas a patologias da membrana basal e ser recidivantes. Múltiplos furos na membrana basal com agulha de calibre 25 estimulam a cicatrização da maioria das úlceras indolentes dentro de 7 a 10 dias. “Flaps” da terceira pálpebra (ou suaves lentes de contato) atuam como bandagem de pressão e freqüentemente são terapêuticas. Úlceras profundas são tratadas medicamente de modo similar às úlceras superficiais, mas, além disso, muitas requerem cirurgia para o fortalecimento rápido da córnea. Dermóides são massas carnosas cobertas com pêlos que podem envolver a córnea, o limbo, a conjuntiva, a membrana nictante e as pálpebras em todas as espécies. Estão presentes desde o nascimento do animal e geralmente são detectadas precocemente; a excisão local é curativa. Nódulos inflamatórios da córnea e conjuntiva, como fasciíte nodular em cães e ceratoconjuntivite proliferativa em collies, podem mimetizar neoplasias devido à sua aparência carnosa e às recidivas. O tratamento é à base de corticosteróides tópicos, excisão local, criotermia ou azatioprina. Em gatos, a ceratite eosinofílica apresenta sinais clínicos semelhantes e é tratada com corticosteróides tópicos, acetato de megestrol por via oral ou pela excisão local. ÚVEA ANTERIOR Membranas pupilares persistentes são remanescentes de uma rede vascular congênita que preencheu a região pupilar. A persistência de filamentos pigmentados que cruzam a pupila de uma área da íris a outra, ou para a lente ou córnea, não é rara no cão e ocorre eventualmente em outras espécies. No basenji, a condição é herdada. Oftalmologia 356 Atrofia da íris é comum no cão e pode envolver a margem pupilar ou o estroma. A atrofia da margem pupilar cria uma borda recortada e um enfraquecimento do músculo do esfíncter, que se manifesta como uma pupila dilatada ou reflexos pupilares lentos. A atrofia do estroma resulta em orifícios acentuados na íris e, freqüentemente, deslocamento da pupila. Nenhuma outra forma parece causar prejuízos à função visual. Animais com deficiência no esfíncter funcional da íris podem ter blefarospasmos quando expostos à luz brilhante. Cistos da íris no cão geralmente são esferas pigmentadas flutuantes no humor aquoso. No gato, os cistos freqüentemente são ligados à margem pupilar; no cavalo, estão presentes no estroma da íris. A terapia raramente é necessária, mas a aspiração pode ser feita. A transiluminação demonstrará sua natureza cística e os diferenciará de neoplasias. Uveíte anterior ou iridociclite quando aguda é manifestada por miose, aumento de proteínas e células na câmara anterior, hipotonia, injeção vascular conjuntival seletiva, fotofobia e blefarospasmo. Glaucoma, catarata e opacificação da córnea podem ser complicações da uveíte anterior. Causas de uveíte anterior podem ser separadas em exógenas e endógenas. Traumatismos penetrantes ou não, doenças infecciosas sistêmicas e, raramente, neoplasias e helmintos intra-oculares são causas de uveíte unilateral. Doenças infecciosas sistêmicas e imunomediadas são as causas mais comuns de uveíte bilateral. Exemplos das primeiras são hepatite infecciosa canina, peritonite infecciosa felina, leucemia felina, toxoplasmose, micoses sistêmicas, brucelose canina, leptospirose, febre catarral maligna, rinotraqueíte infecciosa bovina, arterite viral eqüina, cólera suína, ehrlichiose canina e infecções bacterianas neonatais (articulares, umbilicais e intestinais) dos bezerros. Uveíte recidivante, que é ao menos em parte imunomediada, afeta eqüinos (uveíte eqüina, ver pág. 363) e cães (panuveíte com despigmentação dérmica). Um completo histórico, exame da córnea para descobrir lesões, exame físico e centese do humor aquoso para cultura e citologia são auxiliares do diagnóstico. A terapia não específica consiste de atropina atópica em 2 a 4 vezes ao dia, corticosteróides tópicos (se a causa não for bacteriana) 4 a 6 vezes ao dia, ambiente escuro e inibidores de prostaglandinas (tais como, aspirina, flunixin meglumina e fenilbutazona). Se for de origem bacteriana, antibióticos tópicos, sistêmicos e até intra-oculares são indicados. Os processos imunomediados podem requerer corticosteróides sistêmicos ou subconjuntivais, bem como tópicos. GLAUCOMA É um conjunto de sintomas que se manifesta pelo aumento da pressão intra-ocular que lesa a retina e o nervo óptico. Os sinais que o acompanham são: pupila dilatada, fixa ou de reação lenta; injeção conjuntival seletiva; edema corneal e rigidez do globo. O estiramento do globo ocular pode resultar no deslocamento das lentes e no rompimento da membrana de Descemet. A dor normalmente é manifestada por mudanças no comportamento em vez de blefarospasmo. A condição é classificada como primária ou secundária conforme o ângulo de abertura da câmara anterior esteja aberto ou obstruído (fechado). Os glaucomas primários, dos quais se suspeita terem predisposição genética, eventualmente tornam-se bilaterais; o glaucoma primário com ângulo aberto em beagles é hereditário e associado a um gene autossômico recessivo. O cocker spaniel americano e o basset hound também são comumente afetados. Os glaucomas secundários estão associados a doenças intra-oculares adquiridas que interferem no escoamento do humor aquoso. Inflamação intra-ocular é a causa mais comum, mas neoplasias, hifema e deslocamento das lentes são causas adicionais. Visto que a alta pressão intra-ocular pode lesar permanentemente os olhos em poucos dias, o glaucoma agudo deve ser tratado como uma emergência. A terapia Oftalmologia 357 consiste em administrar manitol por via endovenosa, inibidores da anidrase carbônica por via oral, e pilocarpina ou timolol tópicos. A maioria dos animais com glaucoma primário é candidata à cirurgia ou ciclocriotermia, uma vez que a pressão ocular normal não pode ser mantida medicamente por mais de 2 a 3 dias. A terapia para glaucoma secundário varia com a resposta ao medicamento e se a causa secundária pode ser removida cirurgicamente. Os olhos cegos devido ao glaucoma podem ser tratados por enucleação, prótese intra-ocular, ciclocriotermia ou injeção de 10 a 25mg de gentamicina no vítreo. LENTE Catarata é uma opacidade da lente ou de sua cápsula, e deve ser diferenciada do aumento normal na densidade nuclear (esclerose nuclear) que ocorre em animais mais velhos. As cataratas são classificadas geralmente pela sua idade de início (congênita, juvenil ou senil), localização, causa, grau de opacificação (incipiente, imatura, madura e hipermadura) e forma. A maioria das cataratas pode ser detectada por dilatação da pupila e exame da região pupilar contra a retroiluminação do fundo de olho. Os cães sofrem de catarata (freqüentemente hereditária) mais comumente que outras espécies. Outros agentes etiológicos são o diabetes melito, desnutrição, inflamação e traumatismo. No gato e no cavalo, a maioria das cataratas é secundária a inflamações. Em geral, a única terapia para cataratas que são severas o suficiente para provocar cegueira é a remoção cirúrgica do cristalino. Cataratas juvenis podem ser reabsorvidas o suficiente até haver recuperação da visão; cataratas congênitas nucleares podem melhorar com o crescimento das lentes. Animais com cataratas imaturas (incompletas) podem se beneficiar com atropina 2 a 3 vezes por semana, que permite visão ao redor de uma densa zona central. Deslocamento da lente é visto em todas as espécies, mas é comum como um defeito hereditário primário em várias raças de cães terrier. O deslocamento completo da câmara anterior produz sinais agudos e, freqüentemente, é acompanhado por glaucoma e edema de córnea. O tratamento é a remoção cirúrgica.O deslocamento posterior na cavidade vítrea é assintomático ou associado a inflamação ocular ou glaucoma. As lentes subluxadas são reconhecidas por uma afacia crescente e tremor da íris (iridodonese). A decisão pela remoção das lentes subluxadas é baseada na severidade dos sinais e no julgamento próprio quanto ao papel que a lente desempenha na produção dos mesmos. O deslocamento das lentes também pode ser causado por traumatismos, estiramento do globo e variações zonulares degenerativas com cataratas crônicas. FUNDO DE OLHO Doenças do fundo de olho (retina, coróide e disco óptico) podem ser isoladas no olho ou podem ser manifestações de doenças sistêmicas. As anormalidades herdadas podem ser congênitas ou aparecer tardiamente, e são importantes na patogenia das retinopatias nos cães. Traumatismo, distúrbios metabólicos, infecções sistêmicas, neoplasias, discrasias sangüíneas e deficiências nutricionais são possíveis causas primárias de retinopatias em todas espécies. Retinopatias hereditárias Anomalia ocular do cão collie é um defeito congênito, recessivamente herdado, com expressão variável. A lesão básica é uma área de hipoplasia coriorretinal lateral ao disco óptico. Os cães afetados mais severamente terão lesões colobomatosas adicionais da papila ou região peripapilar e destacamento da retina. A tortuosidade vascular da retina é comum e pode ocorrer hemorragia intra-ocular. Oftalmologia 358 A visão não é apreciavelmente afetada, a menos que o destacamento da retina esteja presente. Atrofia retinal progressiva (ARP) é um grupo de retinopatias degenerativas que consiste de várias doenças fotorreceptoras herdadas que têm aspecto clínico similar. É uma característica recessiva em várias raças caninas; descreve-se uma doença similar em gatos. A idade de aparecimento dos sinais clínicos varia com o tipo de ARP, variando de 4 a 6 meses nos cães setter irlandeses e collies, 3 a 5 anos em poodles miniatura e outras raças. A cegueira noturna é notada precocemente e progride para cegueira total num período de meses a anos. As lesões oftálmicas são um aumento simétrico bilateral na refletividade do fundo tapetal, diminuição da pigmentação do fundo não tapetal, atenuação e diminuição do número de vasos da retina e, finalmente, atrofia da papila óptica. As cataratas corticais progressivas são comuns tardiamente no curso da ARP e podem mascarar a retinopatia primária. Não existe terapia eficaz. Um segundo tipo de degeneração retinal em cães é a atrofia retinal progressiva central (ARPC), que primariamente envolve o pigmento retinal do epitélio distrófico. As raças mais freqüentemente afetadas são labrador retriever, collies de pêlo crespo e pêlo liso, collies border, shetland sheepdog e briard. ARPC é hereditária em labrador retriever como característica dominante de penetrância variável. Os achados oftalmoscópicos iniciais são pequenos focos de pigmentação irregular no fundo tapetal, que eventualmente coalescem e murcham, conforme sua refletividade aumenta. O fundo não tapetal torna-se mosqueado, os vasos retinais desaparecem e o nervo óptico atrofia-se. Progressiva diminuição da visão ocorre gradualmente após vários anos. Não existe tratamento efetivo. Displasia retinal é um maldesenvolvimento da retina, local ou generalizado, de origem congênita, que pode surgir de um trauma, defeito genético ou lesão intrauterina, tal como uma infecção viral. Áreas focais de maldesenvolvimento retinal podem ser assintomáticas ou interferir na visão central. Displasia grave é manifestada como um destacamento da retina. As cataratas podem acompanhar a síndrome, e no cão labrador retriever pode estar associada à displasia esquelética (encurtamento) dos membros anteriores. Hipoplasia do nervo óptico pode ser hereditária no poodle miniatura; no gato, pode ser resultado de uma infecção de panleucopenia no útero. A condição pode ser uni ou bilateral. O envolvimento bilateral é manifestado por cegueira no neonato. O envolvimento unilateral é com freqüência encontrado incidentalmente na velhice do animal, ou manifesta-se se o olho normal for afetado pela doença. Coriorretinite A coriorretinite freqüentemente é uma manifestação de uma doença infecciosa sistêmica; ela é importante como indício de diagnóstico e como prognosticador da função visual. A menos que as lesões sejam generalizadas ou envolvam o nervo óptico, elas freqüentemente são “silenciosas”. As cicatrizes podem ser diferenciadas das lesões ativas pela turvação e bordas maldefinidas das últimas. A coriorretinite pode estar presente na cinomose canina, micoses sistêmicas, prototecose, toxoplasmose, tuberculose, septicemias bacterianas, peritonite infecciosa felina, meningoencefalite tromboembólica, febre catarral maligna, cólera suína, leptospirose eqüina e oncocerquíase. A terapia geralmente é direcionada à doença sistêmica. ÓRBITA Os sinais de celulite orbital são dor aguda ao abrir a boca, prolapso unilateral da membrana nictante, deslocamento adiante do globo ocular e conjuntivite. A ceratite pode se desenvolver a partir de lagoftalmia (ver pág. 352). A condição é vista Oncologia Oftálmica 359 predominantemente em cães de raças grandes; em pequenos cães, geralmente deve-se a abscessos dentários. Corpos estranhos, como arestas de pasto migratórias e sialadenite zigomática, são causas adicionais. Hemorragia orbital e neoplasia mimetizam a inflamação, exceto quando não há dor ao abrir a boca. Em casos agudos, antibióticos de amplo espectro são geralmente curativos, mas se a tumefação estiver presente atrás do último molar, a drenagem da área é indicada. Recidivas podem ocorrer, e radiografias são indicadas para detectar abscessos dentários. Compressas quentes e lubrificantes tópicos são também indicados para proteger a córnea. PROLAPSO DO OLHO O prolapso agudo do olho é um resultado de traumatismos, sendo mais comum em cães e gatos. Deve-se tentar repor o globo se a condição física do animal permitir a indução de anestesia geral. O canto lateral é incisado e o globo manualmente recolocado. As suturas das pálpebras e membrana nictante previnem recidivas. A lesão traumática é tratada por via sistêmica. O prognóstico para a recuperação da visão é ruim, mas bom para a manutenção do globo. ONCOLOGIA OFTÁLMICA O olho e as estruturas associadas a ele podem desenvolver neoplasias de diferentes tecidos dentro da órbita;eles também podem ser sítios de metástases.Neoplasias oftálmicas variam em freqüência e importância nas diferentes espécies. ONCOLOGIA OFTÁLMICA BOVINA A neoplasia oftálmica mais freqüente em bovinos é o carcinoma de células escamosas e a infiltração orbitária associada ao linfossarcoma. O último, com invasão extensa das estruturas orbitárias, resulta em exoftalmia progressiva, reduzida mobilidade ocular, ceratite e ulcerações na córnea, que podem perfurá-la. O carcinoma bovino de células escamosas do olho (câncer oftálmico) pode afetar pálpebras, conjuntivas e membrana nictante, porém é mais freqüente a partir das regiões medial e lateral do limbo (junção corneosclerótica). As lesões cancerosas ou pré-cancerosas são bilaterais ou múltiplas no mesmo olho em , 28% dos casos. Ocorre mais freqüentemente em herefords, com menos freqüência em simmentals e holstein-friesians, e raramente em outras raças. O carcinoma de células escamosas do olho é a neoplasia mais comum no gado bovino; ele resulta em significante perda econômica devido à rejeição em matadouros e a uma diminuição da vida produtiva. A idade de maior incidência é 8 anos. A etiologia é multifatorial com envolvimento da hereditariedade, luz solar, nutrição e, talvez, viroses. As manifestações das pálpebras têm sido relacionadas à falta de pigmentação, ao passo que as do globo ocular não se relacionam, mas ambas também têm uma base hereditária. Radiação ultravioleta e planos elevados de nutrição são fatores contribuintes. O vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina e do papiloma têm sido isolados de neoplasias, mas sua importância é desconhecida. As lesões geralmente se iniciam como benignas, lisas, com placas brancas na superfície conjuntival, que podem progredir para um papiloma e então para um carcinoma de células escamosas, ou ir diretamente para o estágio maligno. As lesões palpebrais começam, geralmente, como uma lesão ulcerativa e hiperceratótica (pro- Oncologia Oftálmica 360 trusão cutânea). Durante este estágio benigno é estimado que , 30% dos casos podem regredir espontaneamente. O tumor pode tornar-se bastante grande, sem invadir o globo, pois a invasão do olho e da órbita e metástases de linfonodos regionais são estágios mais avançados da doença. O diagnóstico geralmente é feito pela aparência clínica típica, mas a confirmação rápida pode ser feita por exame citológico de impressão dos esfregaços. A invasão intra-ocular do tumor deve ser diferenciada de olhos severamente perturbados após traumatismo e ceratoconjuntivite infecciosa. Carcinomas de células escamosas têm respondido ao tratamento médico, excisão, crioterapia, hipertermia, radioterapia e imunoterapia. Tanto a crioterapia quanto a hipertermia têm produzido excelentes resultados a curto prazo, mas a recidiva no mesmo local ou em local diferente é , 25%. Para lesões avançadas confinadas ao globo ocular, a enucleação é recomendada. Quando tecidos adjacentes também são afetados, deve-se realizar a exenteração (remoção do globo e de todo o conteúdo orbitário). A imunoterapia ainda é experimental e a regressão do tumor pode ser temporária. A radioterapia não é praticada no campo, mas pode ser uma opção para animais valiosos internados. Proprietários de gado com problemas devem ser advertidos quanto ao fator hereditário, e os animais afetados e seus descendentes devem ser descartados para diminuir a incidência. ONCOLOGIA OFTÁLMICA CANINA Neoplasias orbitárias são massas que vão progressivamente ocupando espaço, produzindo exoftalmia, tumefação conjuntival e palpebral, estrabismo, ceratite e incapacidade de retropulsão do globo. Geralmente não causa dor. Devido ao fato de que 90% das neoplasias são malignas e 75% crescem dentro da órbita, o prognóstico para uma sobrevivência a longo prazo é pobre. O tipo de neoplasia deve ser determinado pela biópsia, e a extensão da massa pelo exame físico, radiografias do crânio incluindo procedimentos contrastados e ultra-sonografia antes do tratamento cirúrgico ou radioterapia. Neoplasias palpebrais são o grupo mais freqüente de neoplasias oftálmicas em cães. Adenoma e adenocarcinoma da glândula de Meibom são as neoplasias palpebrais mais comuns; desfiguramento local e irritação associados à massa indicam a necessidade de excisão local, que geralmente é satisfatória. Adenocarcinomas sebáceos são localmente invasivos e histologicamente malignos, mas não sofrem metástase. Melanomas palpebrais que aparecem como massas pigmentadas e difusas nas margens palpebrais devem ser amplamente excisados. Outras neoplasias palpebrais freqüentes incluem histiocitoma, mastocitoma e papiloma. Neoplasias corneais e límbicas são raras em cães e podem ser confundidas com fasciíte nodular e ceratoconjuntivite proliferativa em collies. Melanomas malignos límbicos são massas focais, geralmente superficiais e pigmentadas, que se estendem tanto sobre a córnea e caudalmente através do meio do globo. Após um acurado exame intra-ocular, incluindo gonioscopia, para detectar uma possível penetração da esclera, a excisão cirúrgica em toda a extensão escleral freqüentemente é satisfatória. Se ocorrer invasão intra-ocular, deve-se realizar a enucleação. Melanomas malignos, a neoplasia uveal mais comum, geralmente são pigmentados e freqüentemente envolvem a íris e o corpo ciliar. Os sinais clínicos de melanomas uveais anteriores podem incluir a presença de massa evidente, iridociclite persistente, hifema, glaucoma e dor. Adenoma e adenocarcinoma são as neoplasias epiteliais mais freqüentes da úvea anterior. Os sinais podem incluir hifema, glaucoma e geralmente a presença de uma massa não pigmentada atrás da íris e da pupila. Neoplasias de origem neuroectodérmica são raras. O tratamento geralmente consiste na enucleação. Adenocarcinomas uveais secundários são relativa- Oncologia Oftálmica 361 mente raros e têm origem em sítios distantes. Outras neoplasias como o tumor venéreo transmissível e o hemangiossarcoma podem metastatizar para a úvea anterior. Linfossarcoma é o tumor ocular secundário mais freqüente e geralmente manifesta-se como uveíte anterior e glaucoma secundário. ONCOLOGIA OFTÁLMICA EQÜINA Em eqüinos, tumores da pele, olhos e sistema genital são os mais freqüentes e , 80% das neoplasias oculares são malignas. Neoplasias das pálpebras e conjuntiva são os tumores oftálmicos mais freqüentes em eqüinos; a maioria é carcinoma de células escamosas ou sarcóides. Neoplasias orbitárias são raras e geralmente são extensões de tumores das pálpebras, conjuntiva ou seios. Neoplasias intra-oculares são raras. Carcinomas de células escamosas ocorrem mais freqüentemente em eqüinos idosos (média 9,8 anos) e podem ocorrer frequëntemente naqueles que possuem pálpebras não pigmentadas ou pouco pigmentadas. As pálpebras, conjuntivas, membrana nictante e regiões límbicas podem ser afetadas; um ou ambos os olhos geralmente são envolvidos. O carcinoma de células escamosas dos nictitans invade mais provavelmente a órbita que outros locais. O tratamento do carcinoma de células escamosas oftálmico em eqüinos é semelhante ao dos bovinos, embora a apresentação para o tratamento seja geralmente no início dos sintomas, e exista uma maior preocupação com relação à aparência após a terapia. O sarcóide eqüino geralmente afeta eqüinos jovens (média 3,8 anos) e representa , 40% de todas as neoplasias em eqüinos. Devido ao fato de que os sarcóides são localmente destrutivos e têm uma alta taxa de recidiva após a cirurgia, o tratamento efetivo quando os tecidos perioculares são envolvidos apresenta problemas cosméticos e funcionais. Os sarcóides aparecem inicialmente como massas subcutâneas nas pálpebras ou canto; eles geralmente crescem rapidamente e podem invadir a pele, aparecendo como massas carnosas avermelhadas. O tratamento pela cirurgia, hipertermia, crioterapia e quimioterapia apresenta sucesso limitado. Após tentativas de remoção cirúrgica, a recidiva pode ser rápida, e precede a cicatrização da lesão. A radioterapia para o sarcóide eqüino também tem sucesso limitado. A imunoterapia com BCG (bacilo de Calmette-Guérin) como potencializador do sistema imunocelular é consideravelmente promissora. Após o “debulking” cirúrgico de grandes sarcóides, a preparação do BCG (7,5mg de extrato de parede celular purificado, suspenso em 10mL de solução salina) é injetada diretamente no interior da massa remanescente (2mL/sítio). As injeções podem ser repetidas a cada 2 a 4 semanas até que a massa desapareça. Corticosteróides sistêmicos e antiprostaglandinas podem ser indicados antes e depois do tratamento, uma vez que podem ocorrer reações anafiláticas. ONCOLOGIA OFTÁLMICA FELINA Neoplasias oftálmicas em gatos são menos freqüentes que em cães. Tumores conjuntivais e palpebrais são as neoplasias oftálmicas primárias mais freqüentes. Ao contrário dos cães, estas neoplasias em gatos geralmente são malignas, invasivas e mais difíceis de serem tratadas. Carcinomas de células escamosas são mais comuns em gatos brancos com margens palpebrais despigmentadas e podem envolver pálpebras, conjuntivas e membrana nictante; eles são massas brancas, ásperas, irregulares ou densamente ulceradas. Outras neoplasias incluem adenocarcinomas, fibrossarcomas, neurofibrossarcomas e carcinomas de células basais. O tratamento varia com relação ao tipo de tumor, localização, tamanho, e inclui excisão cirúrgica, radioterapia e criotermia. A neoplasia intra-ocular primária mais comum em gatos é o melanoma maligno. Os sinais clínicos e tratamento são idênticos aos dos cães (ver anteriormente). O sarcoma intra-ocular em gatos pode estar associado a trauma ocular anterior. Oncologia Oftálmica 362 O complexo leucemia-linfossarcoma felino (FeLLC) é a neoplasia secundária mais comum. Gatos com FeLLC ocular apresentam sinais clínicos que vão desde lesões oculares isoladas até severa doença sistêmica; um ou ambos os olhos podem ser afetados. Anomalias corneais podem incluir ceratite, edema, neovascularização, infiltrados corneais e hemorragias dentro do estroma. Pode ocorrer ceratite ulcerativa. Massas podem surgir nas conjuntivas e pálpebras. Anormalidades pupilares incluindo midríase, anisocoria, irregularidades pupilares e perda do reflexo pupilar à luz podem ocorrer. Uveíte anterior é o achado clínico mais comum no FeLLC. Outros sinais incluem hipotonia, alterações na pigmentação da íris, precipitados ceráticos, hifema, sinéquias anterior e posterior, miose e dilatação aquosa. Alterações no segmento posterior incluem hemorragias retinais, vasos dilatados tortuosos, embainhamento perivascular, destacamento e degeneração retinais. CONJUNTIVITE POR CHLAMYDIA É uma doença infecciosa importante em gatos, cordeiros, caprinos e porquinhos-da-índia. Etiologia e epidemiologia – Diferentes cepas de Chlamydia psittaci causam infecção ocular em animais. Estas infecções são ocasionalmente transmitidas ao homem (ver também INFECÇÕES INTESTINAIS POR C LAMÍDIAS, pág. 164). Os microrganismos que causam tracoma e inclusão por conjuntivite no homem pertencem à espécie C. trachomatis. A doença em gatos também é conhecida como pneumonite felina. Este é um nome errôneo, pois a Chlamydia raramente causa pneumonia em gatos; a infecção geralmente envolve o olho e a mucosa do trato respiratório superior (rinite, sinusite, faringite). Estudos sorológicos indicam que 2 a 12% dos gatos, dependendo da idade e da localização geográfica, possuem anticorpos fixadores de complemento para Chlamydia. Ceratoconjuntivite por Chlamydia em caprinos e ovinos pode ter um significante impacto econômico, principalmente no caso de rebanhos confinados, nos quais mais de 90% dos animais podem se tornar infectados. Concomitantemente, cordeiros apresentam com freqüência poliartrite por Chlamydia (ver pág. 565). Aborto por Chlamydia (ver pág. 789) tem sido também observado em rebanhos caprinos afetados simultaneamente com a ceratoconjuntivite. Infecções conjuntivais por Chlamydia, às vezes assintomática, são comuns em rebanhos de porquinhos-da-índia (ver pág. 1242). A conjuntivite geralmente é observada em animais de 4 a 8 semanas de idade. Infecções genitais causam salpingite e cistite em fêmeas e uretrite em machos. Ceratoconjuntivite por Chlamydia tem sido relatada em cães, bovinos, eqüinos e suínos, podendo ser produzida experimentalmente nessas espécies. Achados clínicos – Os sintomas em gatos variam de conjuntivite serosa a mucopurulenta e rinite. Os sinais iniciais são conjuntiva unilateralmente avermelhada e ligeiramente edemaciada. O período de incubação após a exposição é de 3 a 10 dias para o gato infectado. Conjuntivite bilateral desenvolve-se após alguns dias e as conjuntivas tornam-se hiperêmicas e quemóticas, com folículos proeminentes no interior da terceira pálpebra, nos casos mais severos. Os sinais são mais severos 9 a 13 dias após o início e depois diminuem em 2 a 3 semanas depois. Alguns gatos apresentam ceratite vascular, pannus e úlcera de córnea, independentemente da presença de infecções secundárias bacterianas ou por Mycoplasma. Em alguns gatos, os sinais clínicos podem durar semanas, apesar do tratamento. A recidiva é comum. Uveíte Eqüina 363 Lesões oculares semelhantes ocorrem em ovinos e caprinos. Infecções secundárias são comuns nesses animais e, se não são tratadas, podem causar complicações severas. Lesões – Ocorrem reações inflamatórias nas conjuntivas e infiltrados de várias células como neutrófilos, linfócitos, plasmócitos e macrófagos no curso inicial da doença. Estas células, junto com as células epiteliais da conjuntiva contendo inclusões clamidiais, são encontradas em raspados conjuntivais. Células do epitélio gástrico de gatos também são infectadas. Ceratite ulcerativa com penetração resultante da câmara anterior também pode ser encontrada em gatos severamente afetados ou nos que apresentam infecções secundárias. Diagnóstico – O diagnóstico pode ser confirmado pela demonstração de inclusões clamidiais em preparações citológicas esfoliativas ou pelo isolamento da Chlamydia. Os raspados são realizados com uma espátula que é movida ligeira mas firmemente sobre a conjuntiva e o material coletado é colocado sobre uma lâmpada de vidro; a preparação é secada à temperatura ambiente e corada. Os corpos elementares aparecem basofílicos ou púrpuras se corados com Giemsa, e avermelhados se corados com Gimenez. O material também pode ser inoculado em embriões de galinha ou em culturas de células para o isolamento. Um diagnóstico sorológico é difícil e requer amostras pareadas, coletadas durante as fases aguda e convalescente da doença para compararemse os níveis de anticorpos; resultados falsos-negativos ocorrem ocasionalmente. Conjuntivite por Chlamydia em gatos necessita ser diferenciada de infecções por herpes e calicivírus, e em ovinos e caprinos de infecções por Mycoplasma e outras infecções bacterianas (por exemplo, conjuntivite aguda). Profilaxia e tratamento – Vacinas contra clamidiose estão disponíveis para gatos, mas não para outras espécies. A vacina não protege o gato completamente, mas reduz significantemente a severidade e os índices de infecção. Todas as C. psittaci isoladas são suscetíveis à tetraciclina. Em gatos, pomadas oftálmicas que contêm tetraciclina podem ser a única terapia necessária. Entretanto, em casos severos ou recidivantes, é conveniente a utilização de tetraciclinas orais ou parenterais. Gatas gestantes ou com doença renal devem ser tratadas com eritromicina. O tratamento sistêmico é melhor que o tratamento oftálmico, com a utilização de oxitetraciclina (20mg/kg/dia) ou tilosina; deve ser realizado no início da doença em ovinos e caprinos. A administração diária de 150 a 200mg de clortetraciclina na ração de cordeiros afetados também reduz a incidência de conjuntivite e poliartrite. Para reduzir a recidiva, o tratamento em gatos, assim como em ovinos e caprinos, deve se estender por 7 a 10 dias após o desaparecimento dos sintomas clínicos. UVEÍTE EQÜINA (Oftalmia periódica, Iridociclite recidivante, Cegueira noturna) Episódios recorrentes de inflamação de um ou de ambos os olhos encontram-se em eqüinos, jumentos, mulas ou pôneis. Uveíte eqüina tem sido descrita por séculos e, embora a incidência varie geograficamente, é reconhecida mundialmente. Inflamação do trato uveal (íris, corpo ciliar e coróide) é responsável pelos sinais clínicos e seqüelas que fazem desta doença a causa principal de cegueira em cavalos. Etiologia – Muitas causas têm sido propostas, mas poucas verificadas. A leptospirose e as microfilárias de Onchocerca cervicalis têm considerável evidência Uveíte Eqüina 364 de respaldo. Outras influências, como bacterianas, virais, genéticas, nutricionais e lunares, têm sido sugeridas mas não têm suporte em dados científicos embora um trabalho recente sugira que a raça appaloosa apresente predisposição genética. Aparentemente, a maioria dos casos é devida a uma reação inflamatória imunomediada no trato uveal. Isto está de acordo com uveíte em muitas outras espécies, inclusive no homem. Outras causas de uveíte eqüina têm sido confirmadas atualmente, mas o tratamento é similar, sem importar a causa específica. Achados clínicos – Sinais oftálmicos de uveíte eqüina aguda incluem graus variados de blefarospasmos, lacrimejamento, fotofobia, injeções conjuntival e ciliar, edema corneal periférico e vascularização, dilatação aquosa, hipópio ou hifema, miose, íris opaca, hipotonia, inflamação vítrea e vasculite retinal ou inflamação peripapilar. Um só caso não mostrará todos estes sinais. Alguns casos têm baixo grau ou são insidiosos, e podem não ser notados pelo proprietário por um longo período; outros são dolorosos e é óbvio que estes serão observados imediatamente. Casos de uveíte subaguda, crônica ou periódica têm algumas das mesmas lesões e também podem deixar seqüelas (sinéquias anterior e posterior, catarata, luxação do cristalino, alterações na pigmentação da íris, debris vítreos, cicatrizes retinais peripapilares ou destacamento da retina) além das lesões agudas. Cataratas e exclusão ou oclusão papilar são as causas mais freqüentes de cegueira em eqüinos sofrendo de uveíte. Ocasionalmente, glaucoma com buftalmia desenvolvese secundariamente à luxação do cristalino, sinéquia anterior ou exclusão pupilar. A fibrose do trato uveal termina em phthisis bulbi . Qualquer combinação de seqüela é possível em casos crônicos. Em muitos casos, lesões do vítreo ou da retina não podem ser apreciadas devido a inflamação severa do segmento anterior, ou seqüelas. Em casos de agressões múltiplas, as lesões são bilaterais. Diagnóstico – Sinais oftálmicos são suficientes para o diagnóstico. Doenças ulcerativas da córnea devem ser descartadas por coloração com fluoresceína. Além dos sinais oftálmicos, o soro deve ser submetido à titulação para leptospira e para outros microrganismos que possam ser suspeitados (vírus, Toxoplasma spp). Se microfilárias de Onchocerca cervicalis (pág. 978) forem suspeitas como causa de ceratoconjuntivite no quadrante temporal da córnea ou granulomas conjuntivais, a biópsia conjuntival ou esfregaços úmidos são indicados. Títulos de anticorpos de Leptospira pomona > 1:1.600 no teste de microaglutinação são sugestivos de infecção recente ou crônica (ver também pág. 429). É importante considerar estes 2 patógenos quando a uveíte é endêmica dentro de um estábulo ou grupo de cavalos. Estudos recentes da doença de Lyme (ver pág. 434) como causa potencial da uveíte em eqüinos podem necessitar de sorologia para o diagnóstico. Eqüinos com a doença de Lyme apresentam geralmente enfermidade sistêmica assim como uveíte. Tratamento – O tratamento deve ser agressivo para reduzir rapidamente a inflamação ocular, prevenir o maior número possível de seqüelas e reduzir a probabilidade de uma inflamação ativa crônica ou episódios que se repetem rapidamente. Os corticosteróides tópicos de alta qualidade e alta potência são indicados desde que outros esteróides não sejam eficazes em reduzir a inflamação no trato uveal. Os produtos tópicos devem conter 0,1% de dexametasona ou 1% de acetato de prednisolona e devem-se administrá-los de 4 a 12 vezes ao dia, dependendo da severidade da inflamação e da preparação. A atropina tópica é outra medicação essencial; ela não somente dilata a pupila como também promove analgesia através de sua ação cicloplégica, prevenindo espasmo ciliar doloroso. Atropina (1%) deve ser usada freqüentemente (4 a 8 vezes ao dia) até que a pupila se dilate e, então, diminuída a aplicação para 2 ou 3 vezes ao dia. Injeções subconjuntivais de corticosteróides de depósito, por exemplo, acetato de metilprednisolona (0,5 a 1,0mL) ou betametasona, são muito úteis se injetados Vermes Oculares 365 abaixo da conjuntiva bulbar. Os antiinflamatórios não esteróides sistêmicos, tais como fenilbutazona, aspirina ou flunixin meglumina, podem ser usados nas dosagens normais para proporcionar atividade antiinflamatória contra a porção da inflamação ocular mediada por prostaglandina e promover analgesia.Os corticosteróides sistêmicos raras vezes são indicados, exceto nos casos severos ou quando microfilárias de Onchocerca tenham sido identificadas como causa, e todos devem ser usados criteriosamente para evitar indução de outros problemas médicos. Os antibióticos sistêmicos geralmente não são indicados, a não ser que a uveíte pareça ser séptica, o cavalo esteja febril ou leptospirose ou doença de Lyme tenham sido identificadas como causas. Na uveíte causada por O. cervicalis, medicação larvicida é indicada depois que a inflamação ativa tenha sido controlada. Ivermectina (200µg/kg, dose única) ou uma dose diária de dietilcarbamazina (4,4 a 6,6mg/kg VO por 21 dias) também tem sido usada, apesar de a ivermectina não ser completamente efetiva; com qualquer uma das duas drogas, os olhos devem ser tratados topicamente com corticosteróides durante o decorrer da terapia larvicida para prevenir a inflamação associada a morte das microfilárias. O efeito microfilaricida da ivermectina permanece por dias, e a terapia com esteróides deve ser prolongada de acordo com a permanência desses efeitos. A freqüência do tratamento tópico pode ser reduzida quando ocorrer melhora clínica, mas ela deve continuar por, no mínimo, 3 a 4 semanas. Isto vai além da melhora clínica aparente, mas considera a evidência histológica da inflamação e pode prevenir a rápida recidiva observada em alguns eqüinos que tiveram pouco tempo de terapia. Prognóstico e prevenção – O prognóstico varia diretamente com a duração dos sinais antes da instituição de uma terapia adequada; após decorridos vários dias, podem-se desenvolver seqüelas permanentes, como sinéquias e perda de visão. Em uveítes crônicas de baixo grau, o proprietário pode ter ignorado a severidade do problema até que seqüelas permanentes já existam. Em casos superagudos, com tratamento imediato, prolongado e intensivo, o prognóstico para preservação da visão é de favorável a bom. Isto também requer uma instrução do cliente para que este fique atento ao aparecimento de ataques futuros em um ou ambos os olhos em intervalos não previstos. Com ataques repetidos ou inflamação ativa crônica, as seqüelas são inevitáveis. Em qualquer avaliação de saúde, deve ser recordada e julgada a evidência presente ou passada de uveíte. Quando L. pomona tiver sido identificada como causa de uveíte endêmica em um grupo de cavalos, a vacinação dos animais resistentes com bacterina dá bons resultados no controle de novos casos. Todos os cavalos (inclusive os acometidos) devem ser vacinados duas vezes para se estabelecer imunidade primária e receber vacinações a cada 6 a 12 meses. VERMES OCULARES (Telazíase) VERMES OCULARES DE GRANDES ANIMAIS Etiologia e epidemiologia – Vermes oculares (Thelazia spp) são parasitas comuns de eqüinos e bovinos em muitos países, inclusive em algumas áreas da América do Norte. Os cavalos são infectados principalmente por uma espécie, T. lacrymalis ; os bovinos, principalmente por três, T. gulosa, T. skrjabini e T. rhodesii. A última é mais comum e nociva para bovinos em muitos países, mas tem estado Vermes Oculares 366 ausente em informes recentes sobre gado bovino do leste da América do Norte. Thelazia spp também são encontradas em suínos, ovinos, caprinos, veados, búfalos d'água, dromedários, coelhos, cães, gatos (ver adiante), pássaros e no homem. Várias espécies de moscas muscida servem como hospedeiros intermediários. A mosca da face, Musca autumnalis, é um vetor comum. Os hábitos alimentares destas moscas incluem uma propensão para secreções oculares, o que proporciona uma relação ideal para a transmissão. Os detalhes do ciclo de vida das Thelazia spp são escassos: as fêmeas são ovovivíparas e descarregam suas larvas nas secreções oculares; as larvas são ingeridas pela mosca e tornam-se infectantes em < 2 a > 4 semanas. As larvas infectantes são depositadas nos olhos do hospedeiro pela mosca, mecanicamente, durante sua alimentação. O desenvolvimento dos vermes sexualmente maduros no hospedeiro vertebrado leva de 3 a 4 semanas para T. rhodesii e 6 semanas para T. gulosa nos bovinos, e 10 a 11 semanas para T. lacrymalis em pôneis. Infecções são encontradas por volta de um ano, mas os surtos da doença clínica, particularmente nos bovinos, em geral estão associados às atividades das moscas durante a estação quente. Animais jovens são relativamente mais suscetíveis. Patogenia – A glândula lacrimal e seus dutos são sítios comuns para T. lacrymalis e T. gulosa ; as glândulas da membrana nictante e dutos nasolacrimais são menos afetados. As localizações superficiais na córnea, no saco conjuntival e sob as pálpebras e membrana nictante são mais típicas para T. skrjabini e T. rhodesii, mas T. lacrymalis e T. gulosa estão freqüentes nestes sítios também. Os vermes também se encontram nos pêlos periorbitais ou pele durante a anestesia ou após migração post mortem. Uma hipótese tem responsabilizado a irritação e a inflamação sobre a cutícula serrada dos vermes, especialmente T. rhodesii. A invasão da glândula lacrimal e dos dutos excretores pode causar inflamação e exsudação necrótica; a oclusão dos dutos reduz a produção de lágrimas. Inflamação de dutos e sacos lacrimais tem sido relatada nos cavalos. São comuns conjuntivites e blefarites de moderadas a severas. Ceratite, incluindo opacidade, ulceração, perfuração e fibrose permanente, pode se desenvolver em casos severos, particularmente em infecções por T. rhodesii em bovinos. Achados clínicos e diagnóstico – Infecções assintomáticas em eqüinos e bovinos parecem ser típicas de telazíase na América do Norte. A infecção pode ser encontrada incidentalmente durante a cirurgia, e relatos recentes indicam uma surpreendente e elevada prevalência quando uma pesquisa específica é feita na necropsia. Na Europa e na Ásia, a telazíase é comumente associada a manifestações clínicas severas, incluindo conjuntivite, fotofobia e ceratite. Caracteristicamente, há conjuntivite crônica com hiperplasia linfóide e um exsudato seromucóide. Não existe uma técnica clinicamente possível para uma detecção segura do verme ocular adulto. A inspeção macroscópica dos olhos pode revelar os vermes e é geralmente recomendada para T. rhodesii, comumente encontrada no saco conjuntival. No entanto, T. gulosa e T. skrjabini nos bovinos, e T. lacrymalis nos eqüinos tendem a ser mais invasivas e menos prováveis de serem observadas. Anestésicos tópicos são úteis para a detecção e a recuperação das últimas espécies, por promoverem a liberação e a movimentação para sítios mais superficiais. Exame microscópico dos fluidos lacrimais para larvas pode ser tentado. Os sinais clínicos podem ajudar no diagnóstico diferencial. Telazíase tende a ser uma conjuntivite crônica. Nos bovinos, a ceratoconjuntivite infecciosa (ver adiante) é uma infecção aguda da córnea, que se dissemina rapidamente. Nos cavalos, as larvas infectantes de vermes do estômago, Draschia e Habronema spp, podem produzir lesões nas pálpebras que são estabelecidas próximas ao canto medial e são elevados granulomas ulcerativos, freqüentemente contendo placas amarelas características com “grânulos de enxofre” de 1 a 2mm de diâmetro. Microfilárias de Onchocerca sp invadem o olho e podem resultar em uma variedade de manifesta- Ceratoconjuntivite Infecciosa 367 ções. A presença de nódulos pequenos (< 1mm), elevados e brancos na conjuntiva pigmentada adjacente ao limbo temporal é patognomônica de infecção por Onchocerca. Despigmentação de conjuntiva bulbar nesta área também ocorre com freqüência. Outras lesões de oncocerquíase envolvem a córnea e incluem edema e opacidade em pontos ou riscos do estroma, erosões superficiais da córnea e uma ceratite esclerosante em forma de cunha derivando do limbo temporal. Estruturas intra-oculares também podem ser afetadas por microfilárias de Onchocerca sp (ver pág. 978). Tratamento e controle – Remoção mecânica com fórceps após instilação de um anestésico local é útil para T. rhodesii em bovinos. Isto também pode ser utilizado para as mais invasivas T. gulosa ou T. skrjabini nos bovinos, ou T. lacrymalis nos eqüinos. Irrigação dos olhos com 50 a 75mL de solução aquosa de 0,5% de iodo e 0,75% de iodeto de potássio tem sido recomendada para T. gulosa e T. skrjabini. Isto também pode ser eficaz para T. lacrymalis em eqüinos. Aplicação tópica de 0,03% de iodeto de ecotiofato ou de 0,02% de isoflurofato tem obtido sucesso para T. lacrymalis em eqüinos. O uso concomitante de uma pomada antibiótica-esteróide para combater a inflamação e invasores secundários é recomendado. Estes agentes tópicos devem também ser úteis para T. gulosa e T. skrjabini nos bovinos. Certos anti-helmínticos administrados sistematicamente têm mostrado ação contra vermes oculares, embora nenhum seja aprovado para Thelazia spp em bovinos ou eqüinos nos EUA. No entanto, levamisol em vários níveis de dosagem e ivermectina a 0,2mg/kg têm mostrado atividade contra as 3 espécies de Thelazia nos bovinos. Para T. lacrymalis em cavalos, doses únicas de anti-helmínticos comumente usados, incluindo ivermectina a 0,2mg/kg, apresentam efeito limitado, ou nenhum, contra vermes oculares; ao passo que o regime de multidoses de fenbendazol (10mg/kg, durante 5 dias consecutivos) é eficaz contra este verme. As medidas de controle das moscas, dirigidas especialmente contra a mosca da face, ajudam no controle da telazíase, tanto em eqüinos quanto em bovinos. VERMES OCULARES DE PEQUENOS ANIMAIS Thelazia californiensis e T. callipaeda são encontradas em cães, gatos e outros animais, incluindo o homem, no oeste dos EUA e outras áreas do mundo. Elas têm uma cutícula serrada, medem de 7 a 19mm e deslocam-se com rápidos movimentos em serpentina através do olho. Até 100 vermes podem ser vistos no saco conjuntival, dutos lacrimais e na conjuntiva sob a membrana nictante e as pálpebras. Moscas da sujeira (Musca spp, Fannia spp) aparentemente funcionam como hospedeiros intermediários e depositam larvas infectantes no olho enquanto se alimentam de secreções oculares. Os sinais clínicos incluem lacrimejamento excessivo, conjuntivite, opacidade da córnea, ulceração e raramente cegueira. Após anestesia local, o diagnóstico e o tratamento são rapidamente realizados pela observação e remoção dos parasitas com uma pinça. Soluções oculares (levamisol a 2%) ou ungüentos (levamisol a 1% ou morantel a 4%) também podem ser efetivos. CERATOCONJUNTIVITE INFECCIOSA (Oftalmia infecciosa, Conjuntivite ) É uma doença infecciosa dos bovinos, ovinos e caprinos caracterizada por blesfarospasmo, conjuntivite, lacrimejamento e vários graus de opacidade e ulcera- Ceratoconjuntivite Infecciosa 368 ção da córnea. As síndromes clínicas nas 3 espécies são distintas e aparentemente causadas por agentes específicos para cada espécie. Nos bovinos, Moraxella bovis é a causa mais comum, embora o vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina (RIB) e o Mycoplasma tenham se mostrado capazes de produzir conjuntivite e opacidade transitória da córnea; os 2 últimos podem potencializar a doença da M. bovis . Nos ovinos, Neisseria ovis , rickéttsias e micoplasmas têm sido associados à ceratoconjuntivite. Embora muitas das síndromes dos caprinos jovens sejam causadas pelo Mycoplasma agalactiae (ver AGALACTIA CONTAGIOSA, pág. 796), são também causadas por Moraxella capri e Mycoplasma conjunctivae. Achados clínicos – A doença é geralmente aguda e tende a disseminar-se rapidamente. Um ou ambos os olhos podem ser afetados. Nos bovinos, ambientes secos e com poeira, estresse de transporte, luz solar brilhante e agentes irritantes como pólens, grama e moscas tendem a predispor e a exacerbar a doença. As moscas também servem como vetores. Nos bovinos e caprinos, os animais jovens são mais freqüentemente afetados; nos ovinos, somente os adultos são acometidos, e a doença freqüentemente segue rebanhos fechados ou à época da parição. Os sinais iniciais são fotofobia, blefarospasmo e lacrimejamento excessivo; posteriormente, a secreção ocular pode tornar-se mucopurulenta. Conjuntivite, com ou sem variados graus de ceratite, está sempre presente. Geralmente, os animais têm somente uma leve diminuição do apetite quando afetados. O curso clínico varia de poucos dias a várias semanas, salvo se complicado por outras doenças. Lesões – As lesões variam em severidade. Nos bovinos, uma ou mais pequenas úlceras ocorrem próximas ao centro da córnea (mas ocasionalmente próximas ao limbo) sem opacidade corneal. Inicialmente, a córnea está clara ao redor da lesão, mas em poucas horas uma turvação leve aparece, e, subseqüentemente, passa a ficar mais densa. A regressão pode ocorrer nos estágios mais precoces ou as lesões podem continuar a progredir. Após 48 a 72h em casos severos, a córnea inteira pode estar opaca e o animal estar cego daquele olho. Aproximadamente 7 dias após o aparecimento da primeira lesão, os vasos sangüíneos começam a invadir a córnea (vascularização adventícia) a partir do limbo em direção à úlcera. Raramente, a ação ulcerativa continuada pode causar a ruptura da córnea. Em ovinos e caprinos, a doença raramente progride, além de uma suave opacidade da córnea, acompanhada por úlcera e conjuntivite. A recidiva pode ocorrer em qualquer estágio de recuperação, mas lesões posteriores não são tão severas quanto as iniciais. Diagnóstico – Deve-se tomar cuidado para garantir que as lesões não sejam devidas a corpos estranhos ou parasitas (ver VERMES OCULARES EM EQÜINOS E BOVINOS, anteriormente). Na rinotraqueíte infecciosa bovina (RIB), predominam sinais respiratórios superiores e conjuntivite, enquanto a ceratite acompanhada por ulceração é rara. No catarro maligno bovino, são proeminentes sinais respiratórios e a ceratite resolve-se a partir do centro da córnea; na ceratoconjuntivite infecciosa bovina, as lesões da córnea resolvem-se do limbo para o centro. Lesões causadas somente por micoplasmas não envolvem a córnea dos bovinos. Em ovinos e bovinos, o diagnóstico normalmente é feito com base nos sinais clínicos. O envolvimento da esclera tem sido considerado patognomônico nos ovinos. O isolamento e a identificação dos agentes causadores nas 3 espécies animais também são úteis no diagnóstico diferencial. Profilaxia e tratamento – Bovinos recuperados parecem ser imunes, embora possam permanecer portadores de M. bovis. Vacinas preparadas a partir de antígenos de M. bovis parecem oferecer alguma proteção, mas ainda não foi provada sua segurança. Vacinas contra RIB conferem imunidade ocular a bovinos vacinados. As infecções por Moraxella bovis podem ser controladas por vários antibióticos (penicilina, nitrofurazona, tetraciclina ou gentamicina), a menos que Surdez 369 cepas resistentes tenham se desenvolvido. Eles podem ser administrados topicamente como soluções ou ungüentos, ou por injeções subconjuntivais; a aplicação ocular repetida pode ser necessária, e animais afetados devem ser colocados em áreas com sombra. Os corticosteróides injetados por via subconjuntival com antibióticos têm sido eficazes em alguns casos. Injeções subconjuntivais e blefarorrafia envolvendo ambas as pálpebras e as membranas nictantes são eficazes em muitos casos de ulceração corneal severa. A blefarorrafia é feita usando-se uma sutura intermarginal com fio absorvível. Em ovinos e caprinos, antibióticos eficazes contra Mycoplasma e Chlamydia (tetraciclina e cloranfenicol), bem como penicilina, estreptomicina e nitrofurazona são recomendados. O tratamento geralmente é limitado aos casos nos quais há óbvio envolvimento da córnea. SURDEZ A surdez adquirida pode ocorrer devido à oclusão bilateral dos canais auditivos externos, como na otite externa crônica, ou porque houve destruição do ouvido médio ou interno. Outras causas de surdez são traumatismo do osso temporal petroso, ruídos de alta potência (por exemplo, disparo de canhão), condições desmielinizantes, drogas ototóxicas (por exemplo, antibióticos aminoglicosídios [gentamicina, canamicina, neomicina, estreptomicina] ou salicilatos), neoplasias do ouvido ou cérebro, e idade avançada. A surdez unilateral e/ou perda parcial da audição é possível em alguns dos casos anteriores. A surdez congênita ocorre a partir de uma característica hereditária ou de um dano no desenvolvimento do feto (devido a um agente tóxico ou viral). Um gene autossômico em gatos provoca pelagem branca, olhos azuis e surdez; é dominante, com completa expressão na produção de pêlos brancos e expressão incompleta para surdez e íris azul. A surdez é, neste caso, devida a alterações degenerativas cocleossaculares que ocorrem na primeira semana de vida. A pelagem merle e a branca estão associadas à surdez congênita em cães e em outros animais. As raças comumente afetadas incluem dálmata, heeler australiano, setter inglês, shepherd australiano, boston terrier, old english sheepdog, great dane e boxer. A lista das raças afetadas sofre alterações com o tempo devido à popularidade racial e à eliminação do problema pela seleção genética; por exemplo, o cocker spaniel apresentava com freqüência surdez hereditária, o que não é mais comum nessa raça. O diagnóstico requer observação cuidadosa da resposta do animal ao som. É importante considerar a descrição do proprietário em relação ao comportamento do animal e realizar uma anamnese apropriada. A resposta aos estímulos visuais, táteis e olfatórios deve ser diferenciada da resposta ao som. Em animais jovens ou animais mantidos em grupos, a surdez pode ser difícil de se detectar, pois o indivíduo suspeito seguirá a resposta dos outros integrantes do grupo. Se o animal for observado individualmente após uma idade em que as respostas aos estímulos auditivos são perceptíveis (, 3 a 4 semanas para cães e gatos), a surdez poderá ser detectada. O sinal primário é a deficiência para responder ao estímulo auditivo. Um exemplo disso é a dificuldade para acordar o cão com a produção de ruídos ou dificuldade para alertá-lo com relação a uma fonte sonora. Outros sinais incluem comportamento incomum, como latido excessivo, voz anormal, hiperatividade, confusão quando são dados comandos vocais e perda dos movimentos reflexos de alerta e atenção das pinas. Um animal que gradualmente foi se tornando surdo, como um cão idoso, pode não responder ao meio ambiente e ao chamado do proprietário. A surdez unilateral é difícil de ser detectada, exceto pela observação Surdez 370 cuidadosa ou por procedimentos eletrodiagnósticos. O exame otoscópico da orelha externa, radiografia da bula timpânica e o exame neurológico podem revelar a causa, principalmente nos casos de surdez adquirida. Na surdez congênita, estes procedimentos geralmente revelam estrutura normal, mas sem sinais de audição, exceto nos casos de surdez unilateral. Um teste eletrodiagnóstico da resposta aos estímulos auditivos (BAER) pode ser usado para determinar a presença e o nível de um defeito auditivo em uma ou em ambas as orelhas. A audiometria de impedância pode avaliar a integridade da orelha média e do sistema de condução. A surdez devida à oclusão do canal auditivo externo geralmente responde ao tratamento médico ou cirúrgico apropriados. A surdez devida a infecções bacterianas da orelha média e interna pode responder ao tratamento antibiótico apropriado. A recuperação da surdez devida a barulho intenso, trauma ou infecções virais pode ser completa, parcial ou nula. Qualquer recuperação está na dependência do tempo. A recuperação de surdez causada por drogas ototóxicas é rara. A surdez hereditária pode ser eliminada de uma raça pelo afastamento dos portadores do programa de cruzamento. O modo da herança da surdez característica pode ser determinado pelo estudo de pedigrees ou pelo teste de acasalamento. Mais recentemente, o BAER tem sido usado para identificar cães afetados uni e bilateralmente, que podem ser eliminados do programa de cruzamento. DOENÇAS DA ORELHA EXTERNA DOENÇAS DA PINA Várias doenças por ectoparasitas causam lesões na pina. Escabioses canina e felina estão associadas a descamação e escoriações das margens da pina e extremo prurido. Dermatite por picada de moscas em cães é causada pela mosca de estábulo, Stomoxys calcitrans, que se alimenta na ponta da orelha de cães com orelha ereta, no verão. Os sinais incluem agitação e coceira nas orelhas. As lesões consistem na presença de crostas hemorrágicas e escoriações nas pontas das pinas. O tratamento consiste em manter o cão em local fechado durante o dia ou na aplicação freqüente de inseticidas repelentes na ponta das orelhas. Placas aurais de eqüinos (uma variação da papilomatose eqüina, ver pág. 1036) podem estar associadas a uma resposta de hipersensibilidade crônica a antígenos salivares de moscas negras que se alimentam na superfície interna das pinas. As lesões consistem de placas cinza-esbranquiçadas, planas, bem circunscritas e não pruriginosas, que geralmente são cobertas com uma crosta ceratinosa pálida. A dermatose auricular marginal afeta dachshunds. A causa é desconhecida, mas pode estar associada à microcirculação anormal na pina. As lesões iniciais consistem de alopecia, crostas e escamas ao redor das margens das pinas. Em casos crônicos, a pina inteira pode se tornar alopécica e podem ocorrer ulceração precoce, fissuras e liquenificação ao redor das margens. Várias doenças imunomediadas, incluindo pênfigo foliáceo, pênfigo eritematoso, penfigóide bolhoso, lúpus eritematoso sistêmico, lúpus eritematoso discóide, doença por aglutinina fria e erupções por drogas causam alopecia, crostas e ulceração na pina. Inflamação e prurido na pina são freqüentes na atopia canina e na hipersensibilidade alimentar. Ulceração pelo frio pode causar descoloração da extremidade das orelhas. Lesões actínicas da pina podem ocorrer em gatos brancos que são cronicamente expostos à luz solar intensa. As lesões inicialmente aparecem como eritema e Doenças da Orelha Externa 371 escamação nas extremidades das orelhas. Crostas, exsudação e ulceração podem se desenvolver como uma ceratose actínica que sofre transformação para carcinoma de células escamosas. Durante os estágios iniciais da doença, o tratamento consiste na redução da exposição à luz ultravioleta através do confinamento ou do uso de protetores solares tópicos. Carcinomas de células escamosas das pinas são tratados pela remoção cirúrgica, sozinha ou em combinação com a radioterapia. Hematoma auricular É uma tumefação preenchida por líquido que se desenvolve na superfície côncava da pina em cães, gatos e suínos. As lesões podem se desenvolver como resultado da ruptura de vasos sangüíneos dentro da pina, devido aos meneios de cabeça ou ao ato de coçar a orelha com a pata em virtude do prurido auricular. Ocorre mais comumente em cães com pinas pedunculares. Também tem sido proposto que as lesões resultam de uma doença auto-imune dos tecidos das pinas em vez de trauma pinal. Em suínos, sarna sarcóptica, pediculose e alimento digerido nas orelhas (comedores cheios) têm sido implicados como causas de meneios de cabeça que levam aos hematomas aurais. Mordidas de outros suínos também podem ser uma causa (ver também SÍNDROME NECRÓTICA DA ORELHA, adiante). O tratamento é cirúrgico para permitir a drenagem e o debridamento. Causas de base de desconforto ótico, como doenças parasitárias e hipersensibilidade, devem ser identificadas e tratadas para prevenir a recidiva. Síndrome necrótica da orelha de suínos (Necrose da orelha, Dermatite auricular necrótica) É uma condição caracterizada por necrose uni ou bilateral das pinas que ocorre esporadicamente em porcos desmamados e em crescimento, criados sob todos os tipos de sistemas de tratamento. Porcos afetados crescem pouco e freqüentemente desenvolvem artrite séptica ou morrem devido a uma septicemia bacteriana secundária. Etiologia, transmissão e patogenia – As causas não têm sido conclusivamente determinadas. Uma evidência circunstancial sugere que a doença seja devida a traumatismos (brigas) e subseqüente invasão bacteriana da lesão tecidual. As lesões desenvolvem-se passando por uma dermatite superficial leve até uma inflamação profunda severa com exsudação, ulceração, trombose e necrose. Nos casos leves, a resolução ocorre sem perda tecidual da orelha. Nos casos severos, as margens, as extremidades ou ainda a pina inteira podem ser perdidas. Os resultados de exames histológicos e bacteriológicos sugerem que a lesão erosiva agressiva seja devida à infecção bacteriana secundária. Nas fases precoces da doença, um grande número de Staphylococcus hyicus e um baixo a moderado número de estreptococos β-hemolíticos são encontrados no exsudato superficial; mais tarde, durante o estágio ulcerativo e necrótico, um grande número de estreptococos é encontrado profundamente nas lesões. Existe a hipótese de que o S. hyicus colonize o tecido traumatizado e prepare o caminho para os estreptococos altamente invasivos, e que estes induzam alterações que levem a ulcerações e necrose. Tentativas para reproduzir a doença por inoculação experimental dos 2 microrganismos não têm sido bem-sucedidas. Achados clínicos, lesões e diagnóstico – A natureza e a extensão dos sinais clínicos dependem da severidade da lesão local e do desenvolvimento de septicemia bacteriana secundária. Assim, pode-se ver um espectro de sinais incluindo incapacidade de crescer, inapetência, febre, artrite séptica, colapso e morte. Lesões leves consistem de arranhaduras superficiais cobertas com crostas marrons, secas e finas. Edema ou eritema leves podem estar presentes próximo aos Doenças da Orelha Externa 372 arranhões. Nos casos mais severos, crostas marrons, espessas e úmidas cobrem as úlceras profundas. Na maioria dos casos severos, há extensa necrose. O diagnóstico é feito pela aparência das orelhas afetadas. Controle – Tintura de iodo aplicada topicamente 2 vezes ao dia, por 7 dias, tem reduzido a incidência e a severidade da doença. Drogas antibacterianas administradas na alimentação são eficazes em alguns casos, mas não trazem benefícios em outros. A falta de eficácia pode ser devida à resistência à droga. Em casos nos quais os agentes antibacterianos são ineficazes, devem-se colher as amostras assepticamente a partir da porção mais profunda da lesão ulcerativa, fazer a cultura e determinar sua sensibilidade antimicrobiana. Os acontecimentos traumatizantes devem ser minimizados. Fatores de manejo (ventilação, localização e funcionamento dos bebedouros, projeto dos boxes, tamanho do grupo e mistura) e os fatores nutricionais (ingestão de sal e proteína) têm sido sugeridos como contribuintes para incidência de mordidas nas orelhas (ver também INTERAÇÃO MANEJO-DOENÇA: SUÍNOS, pág. 1358). OTITE EXTERNA É uma inflamação aguda ou crônica do epitélio do meato auditivo externo, às vezes envolvendo a pina, e se caracteriza por eritema, aumento da descamação do epitélio e graus variados de dor e prurido. É a doença mais comum do canal auditivo de cães e gatos, tendo geralmente uma etiologia multifatorial. É rara em grandes animais e ocasionalmente observada em coelhos, sendo geralmente devida ao ácaro Psoroptes cuniculi. Etiologia – Determinando-se se a causa é primária, predisponente ou perpetuante, pode-se fornecer um prognóstico mais acurado e formular um plano terapêutico seguro e específico. Causas primárias – Fatores internos e externos podem induzir diretamente inflamação e prurido no canal auditivo externo. Fatores externos geralmente são identificados com facilidade, e se prontamente removidos, freqüentemente resultam em cura. Entretanto, infelizmente, muitos casos refratários são devidos a causas primárias decorrentes de problemas metabólicos de vida longa. Causas primárias incluem parasitas, corpos estranhos, hipersensibilidade, distúrbios da ceratinização e doenças auto-imunes. Causas predisponentes – Pequenas mudanças no microclima ótico podem alterar o delicado balanço das secreções normais e da microflora, resultando em infecções oportunistas. Estas causas incluem conformação, maceração do canal auditivo, erros de tratamento, doenças auriculares obstrutivas, pirexia e doença sistêmica. Fatores perpetuantes – Uma vez que o ambiente do canal auditivo foi alterado por uma combinação de fatores primários e predisponentes, podem ocorrer infecções oportunistas e alterações patológicas, que impedem a resolução da doença. Estes fatores incluem bactérias, leveduras, otite média e alterações patológicas progressivas. Achados clínicos e diagnóstico – A menos que todas as causas sejam identificadas e tratadas, podem-se esperar recidivas. Alterações patológicas crônicas nas orelhas podem também ser reflexo de uma doença cutânea ou sistêmica generalizada. Uma história dermatológica completa pode fornecer muitas informações e pode ser sugestiva de outros problemas, por exemplo, hipersensibilidade ou distúrbios de ceratinização. Os sinais são importantes; certas raças de cães são predispostas a distúrbios conformacionais do canal auditivo, hipersensibilidade e distúrbios de ceratinização. Doenças da Orelha Externa 373 Um exame físico e dermatológico completo deve preceder o exame profundo das orelhas. Distúrbios hormonais, endócrinos e imunes podem estar aparentes em outros locais do corpo e afetar as orelhas. Raspados cutâneos, exame sob lâmpada de Wood e cultura para dermatófitos podem fornecer informações sobre uma dermatose generalizada que se disseminou para os canais auditivos. As pinas e as regiões periauriculares devem ser inspecionadas para evidenciar a presença de traumatismo auto-inflingido, eritema e lesões cutâneas primárias e secundárias. Deformações da pina sugerem desconforto ótico crônico e meneios de cabeça. Para animais com sinais unilaterais, a orelha não afetada deve ser examinada primeiro: 1. o problema pode, de fato, ser bilateral, sendo um lado mais severamente afetado; 2. o animal pode se tornar mais obediente ao se inspecionar a orelha afetada posteriormente; 3. isto pode prevenir contaminação iatrogênica da orelha não afetada por microrganismos, por exemplo, Pseudomonas aeruginosa ou Proteus mirabilis, que podem estar presentes na orelha doente. Podem ser necessárias sedação ou anestesia para um exame otoscópico completo, se a orelha estiver dolorida ou se o canal estiver obstruído com exsudato ou com tecido inflamatório proliferativo. Recomendações semelhantes devem ser feitas para todos os animais com sinais recidivantes uma vez que corpos estranhos profundos, infecções leves por Otodectes cynotis e membranas timpânicas rompidas podem não ser observados durante um exame mais superficial. Durante um exame otoscópico, o canal auditivo deve ser inspecionado com relação a alterações no diâmetro, alterações patológicas na pele, quantidades de cerume, quantidade e tipo de exsudato, presença de parasitas (principalmente Otobius megnini [carrapato espinhoso da orelha de grandes animais], Otodectes cynotis ,e ocasionalmente Psoroptes cuniculi ou outros), corpos estranhos, neoplasias e alterações na membrana timpânica. Exames laboratoriais feitos a partir de materiais coletados do canal auditivo horizontal podem fornecer informação diagnóstica imediata. Culturas microbianas e citológicas, quando indicadas, são realizadas antes da otoscopia ser completada. Em cães grandes, devem-se inserir os "swabs" quando o cone do otoscópio estéril for primeiramente inserido no interior do canal horizontal. A membrana timpânica deve ser examinada para evidenciar doença ou ruptura da mesma antes do "swab" ser introduzido, já que o mesmo pode empurrar debris para o canal e obscurecer a membrana. Pode ser impossível passar um "swab" através de um cone usado para cães pequenos e gatos; pode ser preferível para remover o cone e introduzir delicadamente um pequeno "swab" no interior do canal para coletar uma amostra. Culturas citológicas são feitas esfregando-se o "swab" sobre uma lâmpada de vidro, e deixando-as secar à temperatura ambiente. Coloração de Wright modificada é adequada para estas preparações. Após exame sob magnificação de baixa potência, as amostras devem ser avaliadas sob alta potência (preferencialmente utilizando-se óleo de imersão) com relação ao número e à morfologia das bactérias, leveduras e leucócitos; evidência de fagocitose de microrganismos; parasitas; cerume; corpos estranhos; hifas fúngicas e células neoplásicas. O canal auditivo externo da maioria dos cães e gatos abriga pequenos números de bactérias comensais e potencialmente patogênicas; entretanto, a cultura pode determinar rapidamente se o crescimento microbiano está presente. Microrganismos na forma de cocos geralmente são estafilococos ou estreptococos. Microrganismos na forma de bastonetes geralmente são Pseudomonas aeruginosa ou Proteus mirabilis, e sua aparência deve ser observada pela cultura bacteriana e teste de sensibilidade, devido à sua resistência a muitos agentes antimicrobianos. A presença de muitos neutrófilos fagocitando bactérias confirma a natureza patogênica dos microrganismos. Doenças da Orelha Externa 374 A levedura Mallassezia canis é encontrada em pequeno número no canal auditivo de muitos cães e gatos normais. Devido ao fato delas colonizarem a superfície do canal auditivo, elas são mais facilmente encontradas aderidas às células escamosas esfoliadas. Não mais que 2 a 3 microrganismos devem estar presentes sobre qualquer agregado de células em um animal normal. São comuns infecções bacterianas concomitantes, principalmente com cocos Gram-positivos. O material citológico deve ser examinado com relação à presença de ovos, larvas ou adultos do ácaro auricular Otodectes cynotis, já que uma pequena população de ácaros pode ser perdida no exame otoscópico. Da mesma forma, o material citológico de coelhos e caprinos deve ser examinado com relação à presença do Psoroptes cuniculi. Raramente, a otite externa ceruminosa refratária pode estar associada à proliferação de Demodex spp no canal auditivo externo de cães e gatos. Grandes números de ácaros adultos podem ser observados no exame do cerume. A cultura e o antibiograma auxiliam na seleção dos agentes antimicrobianos sistêmicos quando a otite externa crônica é complicada por infecções bacterianas oportunistas. Alguns acreditam que o insucesso no uso da terapia antimicrobiana é uma causa predisponente e perpetuante importante da doença auditiva crônica em cães. Achados que estimulam a utilização do teste de sensibilidade e cultura microbiana incluem uma infecção bacteriana profunda na pele do canal auditivo externo, uma história de insucesso terapêutico com agentes antimicrobianos tópicos ou a presença de infecções auriculares crônicas recidivantes, a presença de muitos bastonetes ou microrganismos Gram-negativos em esfregaços citológicos e de uma otite média. Os "swabs" para cultura devem ser feitos a partir do canal horizontal, que é a região onde se desenvolve a maioria dos processos infecciosos e um sítio conveniente para coletar exsudatos da orelha média nos casos de ruptura timpânica. As culturas fúngicas raramente fornecem mais informações que a citologia. Mallassezia canis é prontamente identificada ao exame microscópico e o seu número facilmente determinado; quando fungos ou hifas não identificados são vistos em número significante na citologia, devem-se identificar as espécies através da cultura. Embora as alterações histopatológicas associadas à otite externa crônica sejam freqüentemente não específicas, a biópsia pode ser indicada para animais com prurido confinado aos canais auditivos, principalmente quando outros testes diagnósticos não revelaram a causa. A evidência histopatológica de uma resposta de hipersensibilidade reforça uma recomendação para o uso de testes alérgicos intradérmicos ou de uma dieta hipoalergênica. Além disso, biópsias de animais com otite externa unilateral, obstrutiva e crônica podem revelar se alterações neoplásicas estão presentes. A radiografia da bula óssea é indicada quando as presenças de cerume, exsudato ou tecidos proliferativos impedem a adequada visualização da membrana timpânica; quando se suspeita de otite média como uma causa da otite bacteriana externa recidivante; e quando sinais neurológicos acompanham a otite externa. A presença de fluidos densos e alterações ósseas líticas ou proliferativas fornece evidências de envolvimento da orelha média. Tratamento – Os seguintes princípios aplicam-se quando se trata de otite externa: 1. Identificar e corrigir os fatores primários de base, predisponentes e perpetuantes. Quando a otite externa é secundária à ventilação e drenagem insuficientes do meato acústico externo, a área periauricular deve ser presa de forma suspensa e o pêlo das orelhas aparado. A maceração do canal auditivo deve ser minimizada pelo uso de adstringentes tópicos em cães que nadam freqüentemente e pela prevenção da entrada de água nos canais auditivos durante o banho. Doenças da Orelha Externa 375 2. Lavar e secar as orelhas antes de iniciar-se o tratamento. A terapia tópica é ineficaz se os exsudatos e o cerume evitarem que os medicamentos atinjam o epitélio ou os agentes infecciosos, e é menos efetiva se um grande número de bactérias e fungos permanecer no canal auditivo infectado. Nos animais com otite externa aguda dolorosa ou crônica, a apropriada limpeza dos canais auditivos requer anestesia geral. As orelhas podem ser lavadas com uma solução anti-séptica como clorexidina ou poliidroxidina, ou com uma solução ceruminolítica como o sulfossuccinato sódico de dioctil (SSD). Se a membrana timpânica estiver rompida, detergentes e SSD são contra-indicados; anti-sépticos leves (por exemplo, peróxido de carbamida, uréia, propilenoglicol) devem ser usados para lavar a orelha. Um enxágüe completo deve sempre ser feito. Após todos os debris terem sido removidos, o canal deve ser lavado com solução salina estéril para prevenir uma irritação química externa e das orelhas médias, e depois secado. 3. Manter a terapia específica e básica. Fatores que contribuem para a doença devem ser tratados específica e agressivamente. Em geral, medicações tópicas que contêm combinações de drogas devem ser usadas para problemas específicos: a) agentes antibacterianos em combinação com corticosteróides devem ser usados no tratamento de otite bacteriana aguda externa. Os corticosteróides reduzem a exsudação, dor, edema e diminuem as secreções glandulares. A resolução pode ser acelerada se os corticosteróides tópicos forem utilizados durante 4 a 7 dias, a menos que o animal tenha um distúrbio hipersensível de base; b) superinfecções bacterianas desenvolvem-se em alguns animais tratados com fungicidas, e crescimentos fúngicos desenvolvem-se em alguns animais tratados com agentes antibacterianos; o tratamento deve ser feito com drogas antibacterianas e antifúngicas quando estas infecções se desenvolvem; c) animais com otite bacteriana externa recidivante e com uma história de infecção por Otodectes cynotis devem ser tratados com um produto tópico que contenha agentes antiparasitários e antibacterianos para assegurar que infecções parasitárias em baixo grau sejam eliminadas. 4. Selecionar a terapia tópica baseada no estágio da doença. Adequadamente aplicada, a medicação ideal cobre o epitélio do canal auditivo externo com um filme delgado. Soluções ou loções não oclusivas devem ser usadas para otite externa exsudativa crônica ou aguda. Ungüentos oclusivos que contêm óleo devem ser usados em lesões secas e escamosas dentro dos canais auditivos. Se houver alteração na pele dos canais auditivos durante o tratamento, pode ser necessário o uso de uma base ou veículo medicamentoso diferente. 5. Tratar por um período adequado. A terapia tópica para infecções bacterianas deve ser administrada por um período ≥ 2 semanas, e para infecções fúngicas ≥ 3 semanas. Animais portadores de infecções por Otodectes cynotis ou Psoroptes cuniculi devem receber tratamento parasiticida apropriado nas orelhas e em todo o corpo por ≥ 4 semanas. Infestações por Otobius megnini são melhor tratadas pela remoção manual dos carrapatos, seguida por uma preparação ótica com um acaricida/corticosteróide. 6. Adicionar terapia sistêmica quando indicada. Por exemplo, a otite externa alérgica resolve-se mais rapidamente quando administram-se anti-histamínicos ou corticosteróides sistêmicos associados aos agentes antibacterianos. 7. Evitar medicações irritantes. Elas causam edema do tecido de revestimento do canal auditivo e um aumento nas secreções glandulares, o que predispõe a infecções oportunistas. Pós formam concreções irritantes dentro do canal auditivo. 8. Manter os canais auditivos secos e bem ventilados. A maceração crônica prejudica a função de barreira da pele, que predispõe a infecções oportunistas. Além disso, a umidade crônica nos canais auditivos estimula as secreções glandulares. Adstringentes óticos profiláticos podem diminuir a freqüência de infecções bacteria- Doenças da Orelha Externa 376 nas e micóticas nos canais auditivos úmidos. Cortar os pêlos do interior da pina e ao redor do meato auditivo externo e do canal auditivo aumenta a ventilação e diminui a umidade das orelhas. TUMORES DO CANAL AUDITIVO São relativamente raros se comparados aos tumores cutâneos em outros locais do corpo; eles podem se desenvolver a partir de qualquer estrutura de revestimento ou de sustentação do canal auditivo, incluindo o epitélio escamoso, as glândulas sebáceas ou ceruminosas ou os tecidos mesenquimais. Eles se desenvolvem mais provavelmente no canal auditivo externo e no meato auditivo que nas cavidades auditivas média e interna. Os sinais incluem secreções óticas crônicas e odor, edema ou abscessos ao redor das orelhas, surdez e sinais de envolvimento da orelha média ou interna, incluindo deambulação lateral, ataxia, nistagmo ou síndrome de Horner. Devido ao fato de que os sinais associados aos tumores do canal auditivo freqüentemente mimetizam os observados na otite externa crônica, as lesões podem estar avançadas no momento em que um diagnóstico definitivo é feito. Carcinomas de células escamosas são mais freqüentes nas pinas e são os tumores mais comuns da orelha média e interna. As lesões geralmente são ulceradas. Quando presentes nas orelhas média e interna de gatos, os sinais incluem paralisia facial, ataxia, deambulação lateral, nistagmo e síndrome de Horner. O prognóstico é ruim. A terapia consiste de uma intervenção cirúrgica combinada com radioterapia para diminuir a progressão da doença local. Para tumores das glândulas ceruminosas, ver página 1033. OTITES MÉDIA E INTERNA São inflamações das estruturas das orelhas média e interna. A otite média ocorre geralmente devido a uma extensão de uma infecção do canal auditivo externo ou penetração da membrana timpânica por um corpo estranho. Ocorre em todas as espécies, mas é mais comum em cães, gatos e coelhos. Extensão de uma infecção desde a trompa de Eustáquio é vista em cães, gatos e suínos. Uma disseminação hematógena da infecção para estas áreas é possível, mas ocorre raramente. A otite média pode levar à otite interna, podendo causar perda do equilíbrio e surdez no lado afetado. Sinais clínicos e diagnóstico – Os sinais de otite média e externa são um tanto semelhantes (ver anteriormente). Meneios de cabeça, esfregação da orelha afetada no chão, giro da cabeça para o lado afetado, dor na orelha, alterações inflamatórias e secreção no canal auditivo geralmente estão presentes. Devido ao fato de o trajeto dos nervos facial e simpático atravessar a orelha média, pode ocorrer paralisia do nervo facial e/ou síndrome de Horner (miose, ptose, enoftalmia) no mesmo lado da otite média. Se há otite interna, a rotação da cabeça para o lado afetado é mais pronunciada. Além disso, o animal anda em círculos, cai para o lado afetado e apresenta incoordenação generalizada – se a incoordenação for muito severa, o animal pode ser incapaz de se levantar. O nistagmo também pode ser observado com a otite interna e, caracteristicamente, é espontâneo, do tipo horizontal a rotatório, com a fase rápida distante do lado afetado. Raramente, a infecção ascende dos nervos vestibulococlear e facial para o tronco cerebral, resultando em meningite, abscesso do tronco cerebral e morte. Otites Média e Interna 377 Deve-se suspeitar de otite média nos casos de otite externa purulenta severa ou quando a membrana timpânica tiver sido perfurada por um objeto estranho, ou tiver sido rompida devido a uma otite externa crônica. O diagnóstico pode ser confirmado por edema, descoloração ou ruptura da membrana timpânica. Presença de fluido na cavidade timpânica ou alterações escleróticas da bula timpânica podem ser detectadas radiograficamente. Exame citológico (coloração de Gram e Wright), cultura e antibiograma do exsudato podem ser benéficos. Deve-se suspeitar fortemente de otite interna quando os sinais vestibulares anteriormente mencionados estiverem presentes. O exame otoscópico e as radiografias da bula timpânica podem confirmar uma otite média concomitante. Tratamento e prognóstico – Devido à possibilidade de diminuição da acuidade auditiva e lesão do aparato vestibular, deve-se instituir uma terapia antibacteriana sistêmica de longa duração (3 a 6 semanas), assim que for feito o diagnóstico. Cloranfenicol, ampicilina, combinações de sulfa-trimetoprim ou tetraciclina devem ser usados até que se saiba o resultado dos testes de sensibilidade bacteriana. Se o tímpano está rompido, a cavidade timpânica deve ser cuidadosamente lavada usando-se um otoscópio, uma pinça longa em forma de jacaré e jatos de solução salina. Pequenas perfurações da membrana irão cicatrizar. Se houver otite externa associada, esta deverá ser tratada cuidadosamente. Além disso, doses antiinflamatórias de glicocorticóides usados nos primeiros 5 a 7 dias de tratamento poderão diminuir as alterações inflamatórias nos nervos vestibulococlear, facial ou simpático. No caso de otite média e interna em que a orelha externa apresenta-se normal e limpa, mas com uma membrana timpânica edematosa ou descolorida, pode ser vantajoso realizar-se uma incisão no tímpano para permitir a cultura do fluido, aliviar a pressão (e portanto a dor) e permitir a remoção do exsudato inflamatório, o qual pode causar uma deficiência auditiva permanente. A terapia antibiótica sistêmica baseada no teste de sensibilidade deve ser continuada por 3 a 4 semanas e possivelmente ≥ 6 semanas na otite interna. No caso de otite média crônica com alterações radiográficas de osteomielite ou presença de fluido na bula timpânica, pode ser necessária uma osteotomia. A otite média com uma membrana timpânica intacta responde bem à terapia antibiótica sistêmica, mas quando há otite externa crônica e uma membrana timpânica rompida, as chances de sucesso no tratamento são reduzidas. Quando houver déficits nos nervos facial e simpático, estes podem persistir mesmo depois que a infecção tiver sido debelada. A otite interna geralmente responde bem a uma terapia antibiótica a longo prazo, mas alguns déficits neurológicos (como incoordenação, meneios de cabeça e surdez) podem persistir por toda a vida do animal. Os animais que se recuperam de uma otite interna devem passar por um tempo de adaptação a algumas deficiências neurológicas persistentes.