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27, 28 e 29 de outubro de 2009
XVII Congresso de Iniciação Científica
I Congresso de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
PREVALÊNCIA DE GLAUCOMA EM PACIENTES REABILITADOS
NA CLÍNICA DE PRÓTESE-BUCO-MAXILO-FACIAL DA UFPE
Juliana Sabrina Accioly de Araujo (1); Silvana Maria Orestes Cardoso2
1
2
Estudante do Curso de Odontologia- CCS – UFPE; E-mail: [email protected],
Docente/pesquisador do Depto de Cirurgia e Prótese Buco- Maxilo- Facial – CCS – UFPE. E-mail:
[email protected]
Sumário: No contexto da Odontologia, conhecer os fatores do glaucoma que apresentem
repercussões buco-maxilo-faciais e psicossociais é essencial para que medidas preventivas
e tratamentos oportunos sejam efetivados. O objetivo do presente estudo retrospectivo e
quantitativo consistiu em determinar a prevalência de cegueira e perda do globo ocular por
glaucoma, a partir de prontuários de pacientes mutilados faciais da Clínica de Prótese
Buco-Maxilo-Facial da UFPE. Nossos resultados evidenciaram que a amostra se constituiu
de 80 pacientes com patologias oculares. Destes, foram diagnosticados 22 com glaucoma.
Constatou-se maior prevalência nas mulheres (27,3%) e na faixa etária acima de 61 anos
(32%). Diferenças estatisticamente significantes não foram observadas para estas duas
variáveis analisadas (p > 0,05). Quanto à procedência, a prevalência foi maior entre os
pacientes residentes no interior do estado de PE/outros estados com o percentual de 32,4%.
Os autores concluem que o glaucoma é uma doença de interesse para os profissionais da
saúde porque, apesar de poder ser tratado, ele não tem cura e pode evoluir para cegueira e
perda do globo ocular. Nesse contexto, esforços devem ser feitos para que a população
receba mais informações acerca da doença e das modalidades de tratamento disponíveis.
Palavras–chave: glaucoma; patologia ocular; prótese ocular
INTRODUÇÃO
O glaucoma abrange um grupo heterogêneo de desordens do globo ocular, caracterizado
por um aumento na pressão intra-ocular, suficiente para causar degeneração da papila
óptica e perda progressiva do campo visual (Vaughan; Asbury, 1990; Thylefors; Negrel,
1994). Convém salientar que, apesar da pressão intra-ocular ser considerada o principal
fator de risco, pode haver glaucoma com pressões intra-oculares consideradas dentro dos
padrões de normalidade (Urbano et al., 2003). Clinicamente, o glaucoma pode ser
classificado em dois tipos: glaucoma primário (GP) e glaucoma secundário (GS). O GP se
caracteriza pela presença de alteração no nervo óptico (NO) e alteração no campo visual.
Este tipo de glaucoma pode ainda ser subdividido em cinco tipos: glaucoma primário de
ângulo aberto (GPAA), glaucoma primário de ângulo estreito (GPAE), glaucoma de
pressão normal (GPN), glaucoma juvenil e glaucoma congênito. O Glaucoma secundário
inclui aumento de pressão intra-ocular, sem necessária lesão no nervo óptico ou do campo
visual para o diagnóstico (Urbano et al; 2003). Do ponto de vista epidemiológico, o
glaucoma é considerado uma das patologias oculares mais comuns, responsável por 15%
de cegueira mono-ocular ou bilateral em todo o mundo (Thylefors; Negrel, 1994). É a
segunda principal causa de cegueira no mundo e, do início da década de 90 do século
passado até o ano de 2000, as estimativas indicavam que de 66,8 a 70 milhões de
indivíduos estariam afetados em toda a população mundial, com cerca de 8 milhões
apresentando cegueira bilateral devido à lesão irreversível do nervo óptico (Tielsch et al.,
1991; Coleman, 1999). Para o ano de 2020 a expectativa é de que o número de pacientes
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portadores de glaucoma deva crescer de 60,5 milhões para 79,6 milhões (Quigley; Broman,
2006). No caso do Brasil, apesar das dificuldades enfrentadas para a obtenção de dados
nacionais precisos, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) estimou que,
aproximadamente 500 mil brasileiros maiores de 40 anos eram portadores de glaucoma
(Silva, 2001). Estudos prévios reportaram que a idade avançada é um fator de risco
importante para os defeitos no campo visual causados pelo glaucoma (Phelps, 1979;
Quingley et al., 1994). No que diz respeito à distribuição do glaucoma, de acordo com o
sexo, estudo realizado em Juiz de Fora (MG, Brasil), observou-se maior prevalência de
glaucoma em indivíduos do sexo feminino (70%) com idade média de 61,3 Anos
(Ramalho; Ribeiro; Olivieri, 2007). Outra pesquisa realizada em Campinas (São Paulo,
Brasil) identificou uma prevalência de 55% no sexo feminino, com média de idade de
60,92 anos (Oliveira; Paranhos Júnior; Prata Júnior, 2003). Em um estudo realizado em
São Paulo, a idade média foi de 61,4 anos, com cerca de 90% dos pacientes nas faixas
etárias de 40 a 59 anos e acima de 60 anos. O sexo feminino esteve representado em
53,64% dos casos do mesmo estudo. (Lee; Walt; Doyle et al, 2006). Cintra; Costa;
Tonussi; José, 1998, realizou um estudo também em São Paulo que se observou que a
idade média dos glaucomatosos foi de 59,6 anos e que o grau de instrução era baixo (74%
dos portadores de glaucoma analfabetos ou com primeiro grau incompleto). A ocupação
prevalente foi a de doméstica (34%), sexo feminino (52%), raça branca (76%). Dentro
desse contexto, o objetivo do presente estudo consistiu em determinar a prevalência de
cegueira e perda do globo ocular, por glaucoma em pacientes atendidos na Clínica de
Prótese Buco-Maxil-Facial da Universidade Federal de Pernambuco, instituição de ensino
superior que oferece este tipo de reabilitação à população.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo, retrospectivo, transversal, quantitativo e analítico, portador do registro
CEP/CCS/UFPE n° 118/08, foi realizado na Clínica de Prótese Buco-Maxilo-Facial da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As fichas clínicas foram obtidas na Clínica
de Prótese Buco-Maxilo-Facial de pacientes com mutilação na região ocular, no período de
2001 a 2008. Para análise dos dados, foram obtidas técnicas de estatística descritiva e foi
utilizado o teste estatístico Qui-quadrado de Pearson e o teste Exato de Fisher. O programa
utilizado para a digitação dos dados e da obtenção dos cálculos estatísticos foi o SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences) na versão 13. A margem de erro utilizada para
a decisão dos testes estatísticos foi de 5,0%.
RESULTADOS
No que diz respeito à prevalência de glaucoma, não se verificam diferenças elevadas entre
os sexos, onde a diferença foi de dois pacientes femininos a mais que os masculinos e as
faixas etárias, uma vez que o valor 21.1% a 32,0% entre as faixas etárias, não se
comprovando associação significante entre essas duas faixas etárias para a ocorrência de
glaucoma (p > 0,05). Com relação à raça, a maior diferença percentual de glaucoma
ocorreu entre os de cor negra e os brancos (40,0% x 19, 2%, respectivamente), entretanto
também não se comprovou associação significante entre essas duas variáveis e a ocorrência
de glaucoma (p>0,05). Do mesmo modo, não houve diferença significante entre os estados
civis, cujo valor variou de 22,0% a 37,0%. Quanto à procedência, a prevalência foi maior
entre os pacientes residentes no interior do estado de PE/outros estados com o percentual
de 32,4%. De acordo com os dados sócio-econômicos foi possível determinar que a maior
diferença percentual de pacientes com glaucoma ocorreu entre aqueles que apresentavam renda
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individual com menos de 1 SM e entre os que tinham renda com mais de 2 SM (38,9% x 10,0%),
entretanto, não se comprovou associação significante entre a ocorrência de glaucoma com
nenhumas das variáveis investigadas(p > 0,05).
DISCUSSÃO
O glaucoma abrange um grupo heterogêneo de desordens do globo ocular, caracterizado por
um aumento na pressão intra-ocular. Do ponto de vista epidemiológico, é considerado uma
das patologias oculares mais comuns, podendo evoluir para cegueira (Thylefors; Negrel,
1994; Coleman, 1999). No caso do Brasil, este tipo de incapacidade preocupa os
profissionais da saúde, principalmente, porque as graves seqüelas atingem mais as
populações de baixa renda devido à dificuldade de atendimento pelo Sistema Unificado de
Saúde (SUS). Nesse sentido, conhecer dados epidemiológicos de nossa realidade é essencial
para que medidas preventivas possam ser implementadas. Dentre as 80 patologias oculares,
foram reabilitados com prótese ocular, por alunos da graduação do curso de Odontologia, 22
pacientes com perda do globo ocular por glaucoma, devido tanto a fatores pessoais quanto a
causas político-econômicas e culturais. Convém salientar que a UFPE é a única instituição
federal de ensino superior, ao nível das regiões norte e nordeste, a oferecer a reabilitação
buco-maxilo-facial gratuita para este tipo de paciente. Do ponto de vista epidemiológico, o
glaucoma é considerado a segunda principal causa de perda do globo ocular mono e bilateral
na população mundial, perdendo apenas para a catarata (Klein et al., 1992; Thylefors;
Negrel, 1994; Quigley; 1996, Freitas, Silva, Bertotti, Costa; 1997). No período
compreendido entre 1990 e 2000, as estimativas indicavam que de 66,8 a 70 milhões de
indivíduos estariam afetados em toda a população mundial, com cerca de 8 milhões
apresentando cegueira bilateral (Tielsch et al., 1991; Coleman, 1999). Para o ano de 2020 a
expectativa é de que o número de pacientes portadores de glaucoma deva crescer de 60,5
milhões para 79,6 milhões (Quigley; Broman, 2006). Segundo nossos resultados, o
glaucoma foi mais prevalente no sexo feminino (27,3%), em pacientes de cor parda (34,1%)
com idade acima de 61 anos (32%), provenientes do interior do estado de
Pernambuco/outros estados (32,4%), com no máximo 8 anos de escolaridade, renda
individual inferior a 1 salário mínimo e com ocupações compatíveis com o nível sócioeconômico. Alguns desses dados estão de acordo com outros estudos, por amostragem,
realizados em cidades de outros estados brasileiros, como em Juiz de Fora (Minas Gerais,
Brasil), no qual foi observada maior prevalência de glaucoma em indivíduos também do
sexo feminino (70%) e com idade média de 61,3 anos (Ramalho; Ribeiro; Olivieri, 2007),
em Campinas (São Paulo, Brasil) com percentuais de 55% para as mulheres com idade
média de 60,92 anos (Oliveira; Paranhos Júnior; Prata Júnior, 2003), em São Paulo, capital,
com 53,64% e idade média foi de 61,4 anos (Lee; Walt; Doyle et al, 2006). No que diz
respeito ao nível sócio-econômico e grupo étnico, nossos achados coincidem com estudo
realizado por Cintra et al. (1998), também na capital de São Paulo, cujos pacientes
glaucomatosos eram predominantemente do sexo feminino 52% versus 27,3% no nosso
estudo, com idade média de 59,6 anos e 32% de acordo com os dados por nós apresentados,
baixo grau de instrução, em ambos os estudos com predominância de portadores de
glaucoma analfabetos ou com primeiro grau incompleto. No entanto, em relação ao grupo
étnico, esses autores identificaram mais pacientes com glaucoma na raça branca (76%),
enquanto na nossa amostra predominaram os pardos com um percentual de 34,1%.
Divergências quanto a esta variável também foram assinaladas por Vaughan e Asbury,
(1990), os quais mencionam que a raça negra apresenta uma prevalência 15 vezes mais
elevada do que em indivíduos brancos na faixa etária de 45-65 anos.
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CONCLUSÕES
Apesar das alterações decorrentes da evolução do glaucoma não serem passíveis de cura, o
tratamento clínico e/ou cirúrgico, quando bem indicado, é capaz de prevenir a cegueira,
desde que seja feito o diagnóstico precoce da doença associado à conscientização da
população sobre a importância de um acompanhamento oftalmológico e tratamento
adequado. No entanto, de acordo com nossos achados com o resultado de outros estudos
um fato inquestionável é que o glaucoma ainda se constitui em um problema de saúde
pública, deixando seqüelas irreversíveis e incapacitantes com repercussões econômicas e
biopsicossociais.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e a PROPESQ pela oportunidade oferecida.
REFERÊNCIAS
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educativo para portadores de glaucoma. Rev. Saúde Pública vol. 32 n°. 2, São Paulo.
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Cristalino, Shock, J. P. P. 148-156, Glaucoma cap. 15, p. 193-210.
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