UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIENCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM GENETICA E BIOLOGIA MOLECULAR
GLAUCOMA E SEUS ASPECTOS GENÉTICOS
Autora: Auta Viviane Rocha
Orientador: Dr. Fabricio Rios
Co-orientador: Dr. Di Pietro
Conselheiro: Dr. Ronan Xavier
Glaucoma é uma neuropatia ocular caracterizada por um padrão específico de danos
ao disco do nervo óptico e ao campo visual. Estes danos são resultantes de diferentes
condições sócio-ambientais que podem afetar o olho1. É a segunda causa mundial de
cegueira. Estima-se que em 2010 haverá cerca de 60,5 milhões de glaucomatosos em
todo o mundo dos quais 4,5 milhões dos portadores do glaucoma primário de ângulo
aberto (GPAA) e 3,9 milhões dos portadores de glaucoma primário de ângulo fechado
(GPAF) serão cegos bilaterais2. A doença está presente em todas as etnias sendo
mais prevalente nos asiáticos e mais lesivo em africanos ou afro-descendentes3.
Atinge todas as idades sendo mais comum após os 40 anos afetando um em cada 100
indivíduos4. A fisiopatologia do glaucoma não é totalmente compreendida já que vários
fatores estão envolvidos, entre eles: a produção e drenagem do humor aquoso, a
malha trabecular, o canal de Schlemm e o próprio nervo ótico. No entanto, o aumento
da pressão intra-ocular (PIO) é o principal fator de risco ocorrendo, na maioria dos
casos, pelo aumento da resistência ao fluxo de drenagem do humor aquoso. Este
aumento da PIO pode levar à degeneração do nervo ótico, existindo três teorias que
tentam explicar este dano: mecânica, vasogênica e de obstrução ao fluxo
axoplasmático. A teoria mecânica atribui o dano à compressão direta ao nervo na
região da lamina crivosa; a vasogênica a uma insuficiência circulatória no disco do
nervo ótico e a do fluxo axoplasmático por um bloqueio desse fluxo através do axônio
das células ganglionares da retina4. Devido a variações na fisiopatologia,
apresentação clinica e tratamento dos diferentes tipos de glaucoma não há uma
classificação uniforme que abranja todas as formas desta doença. Contudo, pode-se
classificar o glaucoma em congênito ou adquirido, se presente desde o nascimento ou
após os 2 anos de idade, respectivamente; em de ângulo aberto ou fechado –
baseado no mecanismo de redução da drenagem ao fluxo do humor aquoso; ou em
primário e secundário, dependendo da presença ou não de fatores causadores do
aumento da PIO5. Qualquer que seja a fisiopatologia, o dano que se estabelece no
disco do nervo ótico é semelhante, com perda de tecido neural de forma progressiva
levando ao aparecimento das lesões características do glaucoma com defeito
congruente no campo visual até a cegueira. A participação de fatores hereditários no
desenvolvimento do glaucoma foi inicialmente descrita por Benedict em 1842 que
observou a ocorrência de famílias com a doença. Após conhecimento dos padrões de
transmissão da hereditariedade vários trabalhos vêm sendo feitos na tentativa de
elucidar as bases genéticas desta doença. Alguns tipos de glaucoma obedecem a
padrões Mendelianos de herança - como o glaucoma congênito primário (GCP) que
apresenta forma de transmissão autossômica recessiva; em outros glaucomas, como
o glaucoma primário de ângulo aberto a herança em geral é poligênica e multifatorial6.
A identificação de genes associados ao glaucoma iniciou-se em 1993 com a
descoberta do primeiro lócus, GLC1A7. Até o momento, 13 regiões do genoma foram
associadas ao GPAA (GLC1A – GLC1M). Nesses 13 potenciais loci relacionados ao
glaucoma, três genes foram identificados: MYOC8 (GLC1A), OPTN (GLC1E) e WDR36
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(GLC1G)8 sendo MYOC considerado atualmente o gene de maior influência no
desenvolvimento do GPAA e no glaucoma juvenil de ângulo aberto (GJAA). Quanto ao
glaucoma infantil, mutações no gene CYP1B1 estão associadas ao glaucoma
congênito primário com padrão de herança recessivo, enquanto mutações nos genes
PITX2, FOXC1 e PAX6 estão presentes em famílias com glaucoma de
desenvolvimento e padrão de herança autossômico dominante, incluindo a síndrome
de Axenfeld-Rieger9. A freqüência de mutações no gene CYP1B1 no glaucoma
congênito primário variou de 20% a 85% em diferentes populações10. Outra
abordagem é a identificação de alelos de suscetibilidade (polimorfismos) associados a
várias doenças. No glaucoma, estudos do tipo caso/controle para investigação de
genes de suscetibilidade no GPAA têm sido realizados, apontando a presença de
polimorfismos em vários genes - p53, p21, IL-1β, TNFα, APOE, NOS311. Essa
abordagem necessita de replicação dos resultados em diferentes populações. A
aplicabilidade desses conhecimentos na prática clínica ainda é restrita. Mutações no
MYOC podem estar presentes em indivíduos não portadores de glaucoma o que limita
o aconselhamento genético. Em pacientes com GCP e glaucoma de desenvolvimento
há maior chance de identificação de mutações nos respectivos genes, o que auxilia
uma eventual orientação genética. No futuro, um melhor entendimento da contribuição
desses diversos genes no desenvolvimento dos diferentes tipos de glaucoma poderá
auxiliar o diagnóstico e o seguimento dos pacientes.
Palavras chave: Glaucoma, genética, MYOC, GPAA, GCP, polimorfismos.
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