Especificidades dos Ativos e o Custo de Capital das Companhias Abertas no Brasil Autoria: Beatriz Fátima Morgan, Nálbia de Araújo Santos, Severino Cesário de Lima, Eliseu Martins Resumo O presente estudo objetiva comparar o custo do capital próprio e o custo de capital de terceiros entre grupos de empresas com níveis de especificidade de ativos classificados em baixo e alto, visando detectar diferenças estatisticamente significantes. Para tanto foi utilizada uma amostra de 299 empresas listadas na BOVESPA, cujos dados foram extraídos da base de dados da Economática e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e o período de coleta foi o ano base de 2007. Para identificar o grau de especificidade de ativos das empresas foram utilizadas três variáveis: a medida de concentração Hirschman-Herfindahl (HH), o endividamento de longo prazo e o endividamento geral. A variável custo do capital próprio foi estimada com base no Capital Asset Pricing Model (CAPM) e a variável custo de capital de terceiros foi medida calculando-se o custo nominal pela relação (despesas financeiras mais os juros capitalizados)/passivo financeiro médio. Os dados revelaram que o custo de capital próprio é diferente entre os grupos de empresas, entretanto foi observada igualdade do custo de capital de terceiros entre esses dois grupos. Uma das possíveis explicações para isso é o fato de que o mercado financeiro brasileiro tem uma presença muito forte de crédito privilegiado. Nessa situação, o mecanismo de garantia pode não ser determinante para concessão de crédito. Por fim, foi observado que o custo de capital próprio, em média, é maior que o custo de capital de terceiros nos dois grupos de empresas. 1 Introdução Os ativos que compõem o patrimônio das firmas possuem características peculiares ao seu ambiente de negócios ou ao segmento que atuam. Consequentemente, as distintas estruturas de ativos tendem a ser financiadas ou negociadas de forma diferenciada entre os agentes econômicos dos mercados de crédito e de capitais. O desafio dos gestores, diante do processo de financiamento de seus ativos, reside na combinação apropriada da estrutura de investimento e financiamento da firma, seja com capital próprio ou de terceiros, a custos competitivos, de modo a minimizar os custos de transação e os riscos do empreendimento. Entretanto, as firmas podem ter seu poder de negociação ou de crédito restringido por determinados fatores, entre os quais se destacam níveis de endividamento, especificidades dos ativos, imobilização ou ativos que possam ser usados em garantia, acesso às fontes de financiamento, transparência da informação, capacidade dos agentes financeiros em diferenciá-las como adimplentes ou inadimplentes, entre outros. Nesse sentido, Williamson (1988) argumenta que o financiamento de um projeto, por meio da assunção de uma dívida ou por intermédio de capital próprio, depende especialmente das características dos ativos. Esse argumento de Williamson tem significado porque quem empresta o recurso financeiro espera ser remunerado, obter retorno sobre o montante emprestado e que a contrapartida tenha ativo a ser dado em garantia. Logo, firmas cujo valor de liquidação de seus ativos seja baixo tendem a ter restrições na captação de recursos junto ao mercado de crédito. Por conseguinte, esses recursos, sendo necessários, tendem a ser captados junto aos sócios ou acionistas. Carvalho e Barcelos (2002) reforçam esse contexto por meio de seus achados no qual concluem que as firmas com maior grau de imobilização aumentam a probabilidade de acesso ao crédito de longo prazo. Entretanto, Marquez e Yavuz (2008) afirmam que o poder de 1 barganha, ou de se obter acordos adequados dos gestores com os financiadores é diminuído quando a estratégia da firma é investimentos em ativos especializados ou específicos. Balakrishnan e Fox (1993), observaram que as empresas detentoras de ativos específicos enfrentam dificuldades para conseguir empréstimos, visto que a natureza desses ativos é de não poderem ser reempregáveis em outra indústria e, portanto, perdem valor de garantia. A pesquisa de Mocnik (2001) também constatou esse fato e concluiu que os ativos específicos estão correlacionados com a habilidade de emprestar. As conclusões de Marquez e Yavuz (2008) reforçam o dilema mencionado nos trabalhos anteriores, porque está subentendido nos contratos de financiamento entre as firmas e o mercado de crédito em relação à capacidade dos gestores em dar credibilidade aos investimentos, que criam ativos específicos em razão de seu caráter de baixo valor de liquidação, isto é, por não ser possível sua liquidação ou venda de forma parcial. Além disso, segundo Balakrishnan e Fox (1993), diante da dificuldade de financiar os ativos com capitais de terceiros, os custos de endividamento tendem a ser maiores, especialmente porque o “risco financeiro de novos projetos exige a avaliação da capacidade de assegurar o pagamento das dívidas. Esse tipo de informação afeta diretamente as condições de financiamento” (PINTO JR, 2002, p. 477). Todavia, a minimização desse problema pode ser relacionada à criação de estruturas de governança (BALAKRISHNAN; FOX, 1993; MOCNIK, 2001). Ressaltam-se, nesse contexto, as conclusões do estudo de Carvalho e Barcelos (2002) que apontaram como possíveis determinantes para elevar o acesso ao crédito de longo prazo, com baixas taxas, o nível de transparência, além do tamanho da firma, o grau de imobilização e a eficiência do judiciário. Os resultados dessa pesquisa sugerem que há oportunidades de desenvolver habilidades de governança na gestão de estrutura de capital, tornando-se um fator chave para a vantagem competitiva (BALAKRISHNAN; FOX, 1993). Segundo Mocnik (2001), o endividamento da empresa reflete fatores estratégicos e de controle. Uma estrutura de governança pode, na presença de contratos incompletos, produzir os resultados esperados. Isso porque os investidores, procurando minimizar custos de governança, são levados a aceitar ótimas promessas de pagamento dos passivos que são função dos ativos específicos, do que resulta uma ótima estrutura de capital. Essa situação, no entanto, faz parte das decisões de financiamento, porque tanto financiamento com capital de terceiros como financiamento com capital próprio representam estruturas de governança distintas e cada uma oferece diferentes formas, com diferentes custos, para obter êxito nas decisões gerenciais (MOCNIK, 2001). Cushing e McCarty (1996) verificaram que quanto menor a especificidade, maior a alavancagem financeira. Nesse contexto, Mocnik (2001) evidenciou que uma empresa financia seus ativos específicos com capital próprio para prevenir futuras dificuldades e evitar comportamentos oportunísticos, bem como preservar uma posição competitiva. Logo, mesmo as firmas com especificidade em seus ativos podem ter mecanismos que possibilitem uma estrutura de financiamento a custos de transações mais baixos. Esta pesquisa visa contribuir com a literatura que enfatiza o papel dos ativos específicos como um aspecto que afeta as características da estrutura de financiamento da firma. Diante do exposto, emerge a seguinte questão de pesquisa: Existe diferença significativa do custo do capital próprio e do custo do capital de terceiros entre as Companhias Abertas Brasileiras com graus diferenciados de ativos específicos? Uma vez formulada a questão de pesquisa, propõe-se uma resposta, provável e provisória como solução prévia do problema. Desse modo, apresentam-se as seguintes hipóteses: Hipótese 1: Empresas com alto grau de ativos específicos apresentam maior custo de capital de terceiros. 2 Hipótese 2: O custo de capital próprio é igual entre empresas com baixo e alto grau de ativos específicos. O principal objetivo deste estudo é verificar o comportamento do custo de capital próprio e de terceiros entre as empresas listadas na BOVESPA segundo o grau de especificidade de seus ativos. Além disso, salientam-se os seguintes objetivos específicos: 1) agrupar as empresas conforme o grau de especificidades de ativos (baixo e alto); e 2) verificar se o custo de capital próprio e de terceiros das empresas é diferente entre os grupos; Além desta seção que tratou das motivações para o estudo, o artigo possui mais quatro seções. A próxima seção faz uma revisão da literatura. A terceira apresenta os procedimentos metodológicos. A quarta apresenta os resultados e discussão. E a quinta e última seção traz as considerações finais. 2 Revisão da Literatura 2.1 Teoria dos Custos de Transação e Ativos Específicos Enquanto alguns ativos possuem ampla utilização, para outros o uso é mais restrito; esses são chamados de ativos específicos (WILLIAMSON, 1981). Ativos específicos referem-se ao grau no qual um ativo pode ser reempregado em usos alternativos ou por outros usuários sem perder o seu valor produtivo. Podem ser assim classificados: (1) especificidade local; (2) especificidade física, ou seja, características necessárias para produzir um componente; (3) especificidade humana, características intelectuais; (4) marca; (5) nível de dedicação – ativo destinado para atender um determinado cliente; (6) especificidade temporal - atendimento oportuno (MASTEN; MEEHAN; SNYDER, 1991 apud WILLIAMSON, 1991). O conceito de ativo específico vem da economia, mais especificamente da Teoria dos Custos de Transação (RUCHALA, 1997), a qual fornece um framework que relaciona estrutura organizacional com estrutura de governança (WILLIAMSON, 1981). A Teoria dos Custos de Transação teve origem com Ronald Coase em 1937, na busca de responder em que situações a empresa produz os seus bens e quando elas procuram no mercado. Para Coase, as diferenças no custo de transação entre mercado e hierarquia foi o principal motivo para usar o mercado para algumas transações e formas hierárquicas de organizações para outras (WILLIAMSON, 1988). Pode-se dizer que a Teoria dos Custos de Transação divide-se em dois focos, um que está interessado na mensuração e outro que enfatiza as relações contratuais de governança (WILLIAMSON, 1985. A Teoria dos Custos de Transação considera a empresa como uma estrutura de governança (WILLIAMSON, 1988), e adota um caminho de eficiência, capaz de explicar o estabelecimento de determinadas estruturas de governança como uma forma de economizar custos de transação (WILLIAMSON, 1981). A transação é vista como a unidade básica de análise e assegura que a atividade econômica da organização é amplamente compreendida em termos de economia dos custos de transação. Tais economias são percebidas pelo alinhamento das estruturas de governança com os atributos de transações discriminadas (RIORDAN; WILLIAMSON, 1985). A Teoria dos Custos de Transação trabalha com dois pressupostos: racionalidade limitada e oportunismo. Racionalidade limitada é a falta de habilidade do indivíduo em encontrar ou processar todas as informações sobre uma transação, fazendo com que as transações ocorram com um certo nível de incerteza. Oportunismo refere-se à busca dos próprios interesses (WILLIAMSON, 1989 apud AUBERT; RIVARD; PATRY, 2004). O primeiro deles gera contratação incompleta, acrescido das deficiências em conseqüência do oportunismo (WILLIAMSON, 1988). A combinação desses pressupostos resulta em 3 informação assimétrica. Quando as partes não têm a mesma informação, elas retêm a que possuem para usá-la estrategicamente. Dessa forma, vendedores escondem as características negativas de seus produtos e compradores escondem quanto eles podem pagar. Sabendo que a outra parte é oportunista, cada uma consumirá esforços para obter as informações da outra. Isso gera custos de transação (AUBERT; RIVARD; PATRY, 2004). A partir disso, conclui-se que os custos de transação não são somente causados pela racionalidade limitada relacionada com a incerteza, mas também pelo comportamento oportunístico dos agentes econômicos. Tal oportunismo é relacionado ao ativo específico nas transações (VOSSELMAN; MEERKOOISTRA, 2006). De acordo com Williamson (1985), os três principais fatores que diferenciam uma transação de outra são: existência de ativos específicos, freqüência de contratação e incerteza do ambiente. Sendo que o primeiro deles é considerado o mais importante e o que distingue os custos econômicos da transação de outros tratamentos da organização. Para Riordan e Williamson (1985), a Teoria dos Custos de Transação sustenta que o principal fator responsável pelas diferenças nos custos de transação são as variações em ativos específicos. Pela Teoria dos Custos de Transação, projetos em que o nível de especificidade dos ativos é baixo ou moderado são mais facilmente financiados por capital de terceiros. Quando o nível de especificidade aumenta, os financiadores previnem-se contra o investimento, devido aos ativos em questão proporcionarem proteção limitada em função das restrições de reempregabilidade. Dessa forma, não somente os custos do financiamento aumentam, mas também uma supervisão mais acurada. Assim, financiar com capital próprio torna-se a forma preferida (WILLIAMSON, 1988). Segundo Choate (1997), a presença de risco e de certo nível de especificidade dos ativos fazem com que uma estrutura ótima de financiamento seja necessária para minimizar custos de governança. Com o exposto, observa-se uma relação de causalidade que parte dos ativos específicos para a estrutura de financiamento da empresa, e posteriormente para a estrutura de governança. 2.2 Mensuração dos Ativos Específicos A apuração do nível de ativos específicos que uma empresa possui depende da singularidade de seus ativos, da proporção dos ativos específicos em relação ao seu ativo total e da existência de mercado secundário eficiente para os ativos. No entanto, o relacionamento entre a natureza qualitativa dos ativos específicos e a estrutura financeira tem limitado a investigação empírica (CUSHING; MCCARTY, 1996). Além disso, a dificuldade de obter informações que representem as características apontadas faz com que diferentes formas de mensuração sejam desenvolvidas e empregadas. O grau de especificidade pode ser mensurado pela diferença entre o custo do ativo e o valor do seu segundo melhor uso (WILLIAMSON, 1981). Nessa concepção, para Cushing e Mccarty (1996) o valor de liquidação é uma boa proxy para ativos específicos. Os autores verificaram o relacionamento entre ativos específicos e alavancagem financeira e encontraram que empresas com menores níveis de especificidade apresentaram maior alavancagem financeira. Balakrishnan e Fox (1993) utilizaram como proxy para mensuração do ativo específico a depreciação, despesas de pesquisas e desenvolvimento e propaganda. Na pesquisa de Mocnik (2001), o ativo específico foi mensurado com a relação entre as despesas propaganda e pesquisa e desenvolvimento com a receita líquida. Anterior a estes estudos é a pesquisa de Titman e Wessels (1988), que também incluiu as despesas com pesquisa e desenvolvimento como proxy para especificidade dos ativos. Segundo Williamson (1988), a análise que envolve a separação de ativos tangíveis e intangíveis para mensuração dos ativos específicos 4 torna-se incompleta, pois apesar de que investimentos em pesquisa e desenvolvimento e propaganda tenham pouca reempregabilidade, isso também pode ocorrer com muitos outros ativos tangíveis. Na pesquisa de Chandler; Mckelvie e Davidson (2008), o ativo específico foi colocado como um moderador do relacionamento entre o crescimento das vendas e o crescimento do emprego. Nesse caso o foco está no capital humano. As variáveis que compunham o ativo específico foram o conhecimento da especificidade do produto, conhecimento das características específicas da empresa, serviços personalizados e manutenção das informações da empresa que geram vantagem competitiva. Widener (2004) também considerou capital humano como ativo específico ao relacioná-lo com o design dos sistemas de controle gerencial. Verificou a existência desse ativo por meio de questionário aplicado às empresas. Erkal (2007) estudou como a demanda por investimentos específicos pode afetar a variedade do produto. Para tanto, determinou o grau de especificidade por meio das escolhas dos produtos feitas por todas as empresas do mercado. Justificou tal escolha na concepção de que se os compradores produzem produtos similares, os insumos dos fornecedores tornam-se menos especializados. O estudo de Pohlmann et. al. (2004) baseou-se nas pesquisas de Balakrishnan e Fox (1993), Cushing (1993), Kayo (2002) e Sutton (1988; 1998 apud Rocha (2002) para inferir que a especificidade de ativos é a causa de maior grau de concentração e menor alavancagem. Dessa forma, o grau de concentração industrial pode ser utilizado como uma proxy para medir a especificidade dos ativos, principalmente em situações em que os dados de variáveis tais como valor de liquidação não são possíveis de obter. Pelos estudos, tem-se que a determinação das variáveis que compõem a proxy dos ativos específicos têm relação com o a problemática investigada. 3 Procedimentos Metodológicos da Pesquisa 3.1 Tipologia e Técnicas de Coleta Dados O presente estudo baseia-se na abordagem positivista empírico-analítica e adota a estratégia da pesquisa ex post facto como delineamento para execução do trabalho. Trata-se de uma análise cross-sectional com dados relativos ao exercício de 2007 cuja base de dados foi a ‘Economática’, com 641 empresas, bem como as notas explicativas dos balanços disponibilizados no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Após descartar da amostra os missing data e as instituições financeiras e seguradoras, a amostra final compreendeu em 299 empresas listadas na BOVESPA, segregadas em 36 setores. Utilizou-se para responder ao problema objeto de pesquisa, inicialmente, a análise de cluster cujo objetivo foi formar dois grupos de empresas, distinguindo-se segundo o grau de especificidade de ativos. A identificação das empresas segundo o grau de especificidades dos ativos foi realizada por meio de uma proxy composta pelas seguintes variáveis: grau de concentração, endividamento geral e endividamento de longo prazo. Além disso, com o fito de ratificar a proxy, procedeu-se a uma triangulação metodológica seqüencial (VERGARA, 2008) mediante a execução de uma análise de conteúdo das notas explicativas, do contexto operacional e do imobilizado, divulgadas pelas empresas no site da CVM. Com esse procedimento buscou-se identificar as características das empresas por meio de seus objetivos operacionais e da descrição detalhada do imobilizado, permitindo classificá-las segundo o grau de especificidade de seus ativos. Apesar do caráter subjetivo dessa análise foi possível confirmar 70% da classificação realizada pela proxy. Posteriormente, para avaliar as hipóteses propostas empregou-se a técnica estatística do teste de médias, aplicando-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney para testar o custo 5 de capital próprio uma vez que a essa variável não atendeu o pressuposto da normalidade e o teste paramétrico t-student para o custo de capital de terceiros haja vista que essa variável atendeu aos pressupostos da normalidade e da homocedasticidade da variância. O teste de Mann-Whitney é um teste não paramétrico destinado a verificar se duas amostras independentes provêm de populações com médias iguais, segundo um nível de significância pré-estabelecido. Esse teste consiste na atribuição de postos às observações, como se estas fizessem parte de uma única amostra. Stevenson (1981, p 317) destaca que “se a H0 é verdadeira, os postos baixos, médios e altos devem distribuir-se equilibradamente entre as duas amostras. Se H1 é verdadeira, uma amostra tenderá a ter mais postos baixos (e, assim, uma soma de postos menor) enquanto que a outra tenderá a ter maior soma de postos”. O teste t-student, é um teste paramétrico que, segundo Stevenson (1981, p. 240), “focaliza a diferença relativa entre as médias de duas amostras, uma de cada população. Esta diferença é dividida pelo desvio padrão de uma distribuição amostral”. 3.2 Mensuração das Variáveis Grau de Especificidade de Ativos das empresas foi definido por meio de uma proxy, formada pelas variáveis grau de concentração industrial do setor, endividamento geral e endividamento de longo prazo, permitindo discriminar as empresas em dois agrupamentos (baixo e alto grau de especificidade de ativos). Grau de concentração Industrial do setor representa o nível de comportamento dominante dos agentes que compõem o mercado dentro do influente paradigma da estruturaconduta-desempenho. Para obtê-lo é necessário preliminarmente mensurar a participação de mercado de cada firma ou a porção de participação de mercado da empresa que atua naquele setor (RESENDE; BOFF, 2002). Ressalta-se que o índice de concentração busca capturar o “poder de mercado” individual da firma no mercado ou setor que atua. Esse poder assume forma aparente por meio de sua participação no mercado (setor) e será medida “a razão entre oferta (ou suas vendas) e a oferta total da indústria (ou vendas totais)” (RESENDE; BOFF, 2002). Logo, o mercado total neste trabalho é representado pela soma total da receita líquida de vendas de todas as organizações participantes de cada setor, conforme disponibilidade de dados da ‘Economática’. Já a participação de cada firma no mercado é definida pela razão entre suas receitas líquidas do período e o somatório da receita líquida do setor em que participa naquele período. O indicador de concentração industrial por setor utilizado foi de HirschmanHerfindahl (HH). A equação para calculá-lo é a seguinte: HH = n ∑ i =1 Si2 (1) Em que: n representa o total de empresas do setor e Si equivale à participação da iésima firma no total do mercado. Observa-se que cada parcela (Si) de mercado é elevada ao quadrado e isto implica em atribuir pesos às firmas. Desse modo, ao elevar ao quadrado cada parcela, será atribuído um peso maior às firmas com participação relativamente maiores. Consequentemente, o efeito nas firmas menores será de redução em virtude de ter menor parcela do mercado, assim quanto mais reduzida sua participação menor será sua parcela proporcional para o valor do índice. O índice de HH varia entre 1/n e 1, seu limite superior é 1 e está associado ao caso de extremo monopólio, no qual apenas uma empresa opera no mercado. O limite inferior é de n → ∞, ou seja, de 1/n e tendendo a zero à medida que aumenta o número de empresas 6 componentes do mercado. Salienta-se que a repartição do mercado foi observada em apenas um período, logo esse indicador pode variar em outros períodos conforme a entrada e saída de firmas no setor (RESENDE; BOFF, 2002). Para obter o índice de HH de cada setor os seguintes cálculos foram promovidos: a) Primeiro somaram-se as receitas líquidas de vendas de todas as empresas de capital aberto componentes do setor; b) Depois, ponderou-se a parcela de cada firma de capital aberto no setor no qual participa em razão da sua receita líquida de vendas e o somatório dessa variável do setor; c) Com o passo anterior obtém-se a participação de mercado de cada firma de capital aberto no qual foi elevado ao quadrado; e d) Desde modo, tem-se o somatório do quadrado da participação de mercado de cada empresa de capital aberto; assim consegue-se o Índice de Concentração Industrial (IHH) por setor. Endividamento de Geral foi mensurado pela divisão do passivo exigível pelo ativo total. Endividamento de Longo Prazo foi obtido pela divisão do passivo exigível a longo prazo pelo passivo exigível total. Custo de Capital Próprio foi calculado com base no Capital Asset Pricing Model (CAPM) segundo metodologia proposta por Assaf Neto (2003). O CAPM é um modelo econômico de precificação de ativos financeiros destinado a avaliar títulos do mercado de capitais, ao relacionar risco e retorno. Sua formulação advém das idéias de Markowitz (1952), ao assinalar que a decisão de investimento se limita à combinação de aplicação ou captação de recursos à taxa livre de risco mais o prêmio oferecido pela carteira de mercado. O CAPM pode ser utilizado para mensurar o retorno esperado (custo de capital) de um ativo individualmente e para a mensuração do retorno esperado de uma carteira de ativos. Contudo, em ambos os casos, o CAPM tem como hipótese fundamental que o prêmio para o investidor seja determinado pelo risco sistêmico. A equação do CAPM é representada pela seguinte fórmula: K = Rf + β(Rm – Rf) (2) Em que: K = taxa de retorno esperado (custo de capital) para o investimento; β = coeficiente beta do título, representando o risco sistemático da carteira (ou do ativo em relação ao risco de mercado), dado pela Cov(K, Rm)/Var(Rm); Rm = taxa de retorno da carteira de mercado; Rf = taxa de retorno de um ativo livre de risco; (Rm - Rf) = prêmio pelo risco de mercado. Assaf Neto, Lima e Araújo (2008) afirmam que “uma mensuração de taxa livre de risco geralmente adotada nos modelos de avaliação são os juros pagos pelos títulos de emissão pública”. No Brasil, o índice mais utilizado como proxy para a representação da taxa livre de risco é o índice SELIC (Sistema de Liquidação e Custódia de Títulos Públicos). Entretanto, Assaf Neto, Lima e Araújo (2008, p. 77) advertem que: [...] a taxa livre de risco utilizada no cálculo do custo de oportunidade do capital próprio é mais bem mensurada tendo como referência as taxas de juros pagas pelos melhores títulos de dívida do mundo. Nesse benchmark, destacam-se os papéis 7 emitidos pelo Tesouro do Governo dos Estados Unidos, considerados como de risco zero. Quanto à taxa de retorno da carteira de mercado, no Brasil é utilizado o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (IBOVESPA), que reflete a evolução das cotações em Bolsa. Martins et. al. (2006, p. 140) destacam que: [...] pelas características brasileiras (os títulos brasileiros não podem ser considerados, totalmente, como livres de risco, principalmente, pelo fato de o Brasil ter decretado moratória duas vezes na história; e não há um índice que represente de forma adequada os pressupostos do modelo), inviabiliza-se o uso do CAPM com índices totalmente brasileiros. Para os propósitos deste trabalho utiliza-se a metodologia proposta em Assaf Neto (2003) que introduz na fórmula do CAPM o risco-país adequando sua aplicação para mercados emergentes. Assaf Neto, Lima e Araújo (2008, p. 79) sugerem que: [...] a remuneração adicional paga pelo título brasileiro em relação aos T-Bonds é entendida como um spread pelo risco de default, ou seja, o risco país. Ao se obter o custo de oportunidade do capital próprio, tendo-se como referência o mercado dos Estados Unidos, deve-se acrescentar, ao percentual calculado, essa taxa de risco da economia. Dessa forma, a equação do CAPM segundo a metodologia apresentada fica representada da seguinte forma: K = Rf + β(Rm – Rf) + αBR (3) Em que: Rf é a taxa livre de risco representada pela remuneração do bônus do governo norteamericano; β é o coeficiente beta representado pela média dos betas de empresas norte-americanas por setor da economia; (Rm – Rf) é prêmio pelo risco de mercado, sendo adotada a taxa do mercado dos Estados Unidos considerada como de risco mínimo e adotada como referência para os demais mercados; αBR é o risco-país, obtido pela diferença entre as taxas de remuneração do bônus do governo norte-americano (T-Bond) e o bônus do governo brasileiro (C-Bond). Custo do Capital de Terceiros representa o custo de financiamento concedido às empresas. Na visão de Damodaran (2007, p.41): o custo da dívida mede o custo corrente da empresa em tomar empréstimos para financiar os seus ativos. Em termos gerais, deveria ser uma função do risco de inadimplência que os credores percebem na empresa. À medida que aumenta a percepção do risco de inadimplência, os credores cobrarão spreads por inadimplência mais alta (acima da taxa livre de risco) para dar crédito à empresa. O custo de capital de terceiros ou kd é calculado com base na seguinte fórmula: Kd = DF + JC PFm (4) Em que: 8 DF representa as despesas financeiras nominais criadas pelos passivos financeiros; JC corresponde aos juros capitalizados no ativo imobilizado ou nos estoques; PFm Representa o passivo financeiro médio. Ressalta-se que os juros capitalizados no ativo imobilizado e nos estoques foram extraídos das notas explicativas das empresas disponibilizadas no site da CVM. Representam os juros incorridos e os demais encargos financeiros relacionados aos financiamentos obtidos de terceiros, usados para construção de bens integrantes do ativo imobilizado ou na produção de estoques de longa maturação. Segundo a deliberação da CVM n.º 193/96, os valores dos eventos dessa natureza devem ser evidenciados e classificados no mesmo grupo de ativo que lhe deu origem e sua alocação ao resultado do exercício deverá ser feita na medida dos prazos de depreciação, amortização, exaustão ou baixa de tais ativos. Diante disso, esses encargos financeiros foram apurados e considerados no cálculo da variável Custo de Capital de Terceiros. 4 Análise e Interpretação dos Resultados 4.1 Identificando os Clusters A análise de cluster ou análise de agrupamentos, de acordo com Hair et. al. (2007, p. 384), “é a denominação utilizada para um grupo de técnicas multivariadas cuja finalidade primária é agregar objetos com base nas características que eles possuem”. A análise de agrupamentos classifica objetos, tais como respondentes, produtos, entidades, dentre outros, de modo que cada objeto é muito semelhante aos outros no agrupamento em relação a algum critério de seleção predeterminado. Os agrupamentos resultantes devem então exibir elevada homogeneidade interna (within-cluster) e elevada heterogeneidade externa (between-cluster). A análise de cluster, diferentemente de outras técnicas multivariadas, exige apenas o pressuposto da multicolinearidade entre as variáveis, ou seja, a correlação entre as variáveis utilizadas para formar os clusters. Para identificar o cumprimento desse pressuposto, empregamos a análise de correlação de Pearson e constatamos níveis baixos ou aceitáveis de correlação, revelando que o nível de auto-correlação existente entre as variáveis não prejudica a formação da estrutura de agrupamento. O agrupamento das empresas sob estudo foi efetuado com base no cluster nãohierárquico (k-means), o qual permite estabelecer a priori o número de clusters naturais, tendo em vista o objetivo da pesquisa. Para os fins deste estudo, estabelecemos a priori 2 clusters. Após o processamento da análise de cluster, com o auxílio do SPSS 16, obteve-se as empresas classificadas em cada um dos grupos formados, bem como as respectivas médias ou centróides conforme evidencia a tabela 1. Tabela 1- Centróides e Tamanho dos Clusters Cluster 1 Cluster 2 Grau Concentração 18% 30% Endividamento de LP 64% 28% Endividamento Geral 61% 45% Tamanho do Cluster 155 144 Quanto à significância estatística das variáveis na formação dos clusters, apresentamos a tabela ANOVA a seguir contendo o teste F de significância para cada variável. Tabela 2 - Análise da Variância Cluster Error F Sig. 9 GRCONC ENDVLP ENDVGER Mean Square 1,029 9,675 1,878 df 1 1 1 Mean Square ,043 ,019 ,032 df 297 297 297 24,045 503,027 59,392 ,000 ,000 ,000 Os dados da tabela 2 revelam o alto poder das variáveis em discriminar os dois clusters formados, consoante comprovam os valores F e os níveis de significância de cada variável. Quanto maior o valor da estatística F calculada, maior é o poder da variável em discriminar os grupos, indicando haver alta variabilidade da variável entre os clusters (Cluster Mean Square) e baixa variabilidade dentro do cluster (Error Mean Square). O nível de significância apresentado revela um grau de confiança de 100%, isto é, as duas variáveis em conjunto demonstraram alto poder de discriminação dos clusters formados. Observando os dados da tabela 1, verifica-se que o cluster 1 apresenta um grau de concentração inferior ao 2. Por outro lado, o cluster 1 apresenta maior índice de endividamento geral e de longo prazo em relação ao 2. Assim, diante dessas evidências e considerando os fundamentos teóricos discutidos, os clusters podem ser assim classificados: Cluster 1: Empresas com baixo grau de especificidade de ativos - por atuar em um mercado com menor grau de concentração e apresentar alto índice de endividamento geral e de longo prazo em relação ao cluster 2. Cluster 2: Empresas com alto grau de especificidade de ativos - por atuar em um mercado com maior grau de concentração e apresentar baixo índice de endividamento geral e de longo prazo em relação ao 1. 4.2 Testando o custo de capital próprio entre os clusters Dentro do contexto do problema de pesquisa, a hipótese a ser testada sobre se existe diferença significativa do custo de capital próprio (Ke) entre as empresas com graus diferenciados de ativos específicos estatisticamente é representada por: H0: Ke cluster 2 = Ke cluster 1 H1: Ke cluster 2 ≠ Ke cluster 1 A hipótese nula infere que a média do custo de capital próprio é igual entre os dois grupos de empresas. A hipótese alternativa demonstra que o custo de capital próprio é diferente entre os dois grupos de empresas. Nesse tipo de teste as médias são independentes, pois, embora calculadas com base em uma mesma variável, “custo de capital próprio”, representam grupos diferentes de empresas. Previamente ao teste das hipóteses evidenciam-se a seguir as estatísticas descritivas dos valores obtidos para o custo de capital próprio. Tabela 3 – Estatísticas Descritivas do Ke Cluster 2 Cluster 1 15,20 Mínimo 15,20 23,40 Máximo 23,40 18,46 Média 16,88 16,50 Mediana 16,30 3,11 Desvio-Padrão 1,49 Para a aplicação de testes paramétricos de diferença de média, inicialmente foram realizados os testes de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk para verificar se 10 o teste t-student seria aplicado nesse caso. Conforme evidencia a tabela 4, a variável “Custo de Capital Próprio-Ke”, em ambos os clusters, não atende ao pressuposto da normalidade, não sendo cabível o teste t-student nesse caso. Tabela 4 - Teste de Normalidade da Variável Custo de Capital Próprio Kolmogorov-Smirnov Shapiro-Wilk Cluster Statistic DF Sig. Statistic df Sig. 1 ,262 144 ,000 ,756 144 ,000 2 ,271 155 ,000 ,751 155 ,000 Em alternativa ao teste t-student foi aplicado o teste de Mann-Whitney. Trata-se de um teste não-paramétrico adequado para comparar as funções de distribuição de uma variável medida em duas amostras independentes. Para a aplicação do teste de Mann-Whitney, considerou-se uma probabilidade de 5% para a ocorrência do erro do tipo I, ou seja, rejeitar a hipótese nula caso ela seja verdadeira. A tabela 5 apresenta os resultados encontrados. Tabela 5 - Teste de Mann-Whitney Mann-Whitney U Wilcoxon W Z Asymp. Sig. (2-tailed) 8221,000 18661,000 -3,971 ,000 Os resultados apresentados na tabela 5 não permitem afirmar que o custo de capital próprio é igual para os dois grupos de empresas com diferentes graus de especificidade de ativos, rejeitando, portanto a hipótese nula de igualdade entre as médias. 4.3 Testando o custo de capital de terceiros entre os clusters A segunda hipótese a ser testada afirma existir diferença significativa do custo de capital de terceiros (Kd) entre as empresas com graus diferenciados de ativos específicos, sendo estatisticamente representada por: H0: Kd cluster 2 › Kd cluster 1 H1: Kd cluster 2 = Kd cluster 1 A hipótese nula infere que a média do custo de capital de terceiros é maior no grupo de empresas com maior grau de especificidade de ativos. A hipótese alternativa demonstra que o custo de capital de terceiros é igual entre os dois grupos de empresas. Previamente ao teste das hipóteses evidenciam-se, na Tabela 6, as estatísticas descritivas dos valores obtidos para a variável “custo de capital de terceiros-Kd”. As estatísticas descritivas referem-se apenas a 82 observações do cluster 1 e 92 observações do cluster 2, uma vez que para as demais observações não foi detectado custo de capital de terceiros ou verificou-se despesa financeira negativa em decorrência de ganho na variação de câmbio, sendo, portanto, excluídas da análise. Tabela 6 – Estatísticas Descritivas do Kd Cluster 2 Cluster 1 0,87 Mínimo 0,45 35,18 Máximo 35,23 15,67 Média 15,76 15,42 Mediana 15,29 11 Desvio-Padrão 8,03 7,89 Para a aplicação de testes de diferença de média paramétricos, inicialmente foram realizados os testes de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk para verificar se o teste t-student é aplicado nesse caso. Conforme a tabela 7, a variável “Custo de Capital de Terceiros-Kd” em ambos os clusters atende ao pressuposto da normalidade, sendo cabível a aplicação do teste t-student. Tabela 7 - Teste de Normalidade da Variável Custo de Capital de Terceiros Kolmogorov-Smirnov Shapiro-Wilk Cluster Statistic df Sig. Statistic DF Sig. 1 ,077 82 ,200 ,979 82 ,210 2 ,079 92 ,200 ,975 92 ,076 Com o teste t-student obteve-se os outputs a seguir. Tabela 8 - Estatísticas do Teste t-student para testar a igualdade de médias do Kd Teste de Levine t-test F Sig t df sig ,262 ,609 ,076 172 ,939 A tabela 8 revela, segundo o teste de Levene, que a variância entre os dois grupos é homogênea uma vez que o p-value = 0,609 é maior que α = 0,05, demonstrando ser adequada a aplicação do teste t-student. A estatística do teste apresentou a significância de 0,939, revelando que as médias do custo de capital de terceiros entre os dois grupos são significativamente iguais, rejeitando a hipótese de que o custo de capital de terceiros é maior para empresas que apresentam alto grau de especificidade de ativos. 5 Considerações Finais Conforme destacado na plataforma teórica desse estudo, ficou evidenciado que as empresas detentoras de ativos específicos enfrentam dificuldades para captar recursos de terceiros devido esses ativos não serem reempregáveis em outra indústria, perdendo, portanto, valor de garantia. Assim, quando essas empresas conseguem captar empréstimos os custos de capital de terceiros tendem a serem maiores que o custo de financiamento incorrido por empresas não detentoras de ativos específicos devido ao risco financeiro presente. Nesse sentido, o presente trabalho investigou se existe diferença significativa do custo do capital próprio e do custo do capital de terceiros entre as empresas com graus diferenciados de ativos específicos. No processo de investigação as empresas da amostra foram, inicialmente, segregadas em dois grupos conforme as variáveis: grau de concentração industrial do setor, endividamento geral e endividamento de longo prazo. Deste modo, foi possível discriminar as empresas em dois agrupamentos cujos resultados foram os seguintes: Cluster 1: Empresas com baixo grau de especificidade de ativos e Cluster 2: Empresas com alto grau de especificidade de ativos. Além disso, foi realizada uma análise de conteúdo das notas explicativas dos balanços das empresas componentes da amostra, especificamente, as notas relativas ao contexto operacional e ao imobilizado, visando extrair informações sobre os objetivos operacionais das empresas e as características dos ativos imobilizados para possibilitar a classificação dessas empresas nos dois clusters e validar a proxy adotada na análise multivariada de cluster, sendo obtida uma convergência de 70%. 12 Os resultados obtidos na análise de cluster foram utilizados para testar as hipóteses estabelecidas quanto à existência de diferença significativa do custo de capital próprio e de terceiros entre os grupos de empresas com baixo e alto grau de especificidades de ativos. O estudo revelou que o custo de capital próprio é diferente entre o grupo de empresas com alto e baixo grau de ativos específicos, entretanto foi observada igualdade do custo de capital de terceiros entre esses dois grupos. Uma das possíveis explicações para isso é o fato de que o mercado financeiro brasileiro tem uma presença muito forte de crédito privilegiado. Nessa situação, o mecanismo de garantia pode não ser determinante para concessão de crédito. Por fim, foi observado que o custo de capital próprio, em média, é maior que o custo de capital de terceiros nos dois grupos de empresas. Diante dos achados, a hipótese 1 foi rejeitada, logo não existe diferença significativa do custo de capital de terceiros entre os grupos de empresas. Contudo, a hipótese 2 não foi rejeitada, revelando que empresas com maior grau de ativos específicos apresentam maior custo de capital de próprio. Como limitações da pesquisa destacam-se o fato do estudo ser restringido às companhias abertas brasileiras e a delimitação temporal, pois dados analisados referem-se apenas ao exercício de 2007, sendo recomendada a replicação desse estudo envolvendo dados de mais de um exercício financeiro. Outra restrição observada refere-se à ausência em notas explicativas, de grande parte das empresas da amostra, de informações relativas ao ganho na variação de câmbio mesmo quando a despesa financeira era positiva. Por fim, sugerem-se como futuras pesquisas a ampliação da amostra e da visão temporal e um aprofundamento na análise do custo de capital em empresas detentoras desses tipos de ativos, considerando as características do mercado de crédito brasileiro. Referências ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2003. ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G.; ARAÚJO, A. M. P. Uma proposta metodologia para o cálculo do custo de capital no Brasil. Revista de Administração. V. 14, n.1, p. 72-83, jan/fev 2008. AUBERT, B. A.; RIVARD, S.; PATRY, M. A transaction cost model of IT outsourcing. Information & Management, v. 41, p. 921-932, 2004. BALAKRISHNAN, S.; FOX, I. Asset specificity, firm heterogeneity and capital structure. 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