REESTRUTURAÇÃO OCUPACIONAL E A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UM ESTUDO DE FHC A LULA Talita Egevardt de Castro (PIBIC/FA-UEM), Maria de Fátima Garcia (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Ciências Econômicas/Maringá, PR. Ciências Sociais Aplicadas - Economia Palavras-chave: previdência social, estrutura ocupacional, ocupação formal. Resumo: No presente estudo empreende-se uma análise sobre a previdência social no Brasil e suas relações com a estrutura ocupacional a partir de uma análise empírica a qual busca estimar possível relação de causalidade entre estrutura ocupacional e receita previdenciária. Com este objetivo formula-se um modelo de regressão simples em que os indicadores da previdência são regredidos contra os indicadores do mercado de trabalho. Com este modelo busca-se responder até que ponto a reestruturação ocupacional brasileira interfere na receita previdenciária pública do Brasil. Introdução O mercado de trabalho brasileiro estruturou-se entre as décadas de 1930 e 1980, período em que a economia brasileira engendrou uma grande capacidade de geração de empregos formais, acompanhando a transformação do Brasil em uma moderna economia urbano-industrial. Segundo Pochmann (1999) tal afirmação de estruturação do mercado de trabalho brasileiro no período especificado, pode ser constatada empiricamente a partir da observação de elevadas taxas de expansão dos empregos formais, e a conseqüente redução da participação relativa das ocupações sem registro em carteira, sem remuneração e por conta própria. Saliente-se ainda a queda na taxa de desemprego a qual contribuiu para a incorporação crescente da parcela da População Economicamente Ativa – PEA. Com efeito, a participação relativa dos trabalhadores com carteira assinada na PEA cresceu de 12% em 1940 para 49% em 1980, enquanto participação relativa dos sem carteira caiu de 30% em 1940 para 13,6% em 1980. Este processo de formalização do mercado de trabalho brasileiro, no entanto, passou por uma inflexão ao longo da década de 1990, de tal modo que os empregos com carteira assinada perderam posição relativa para o conjunto dos empregados sem carteira a autônomos. E isto foi tal que Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. parecia consolidar-se como tendência configurando-se um caráter de inexorabilidade da informalização crescente do mercado de trabalho. Esta perspectiva de inexorabilidade tornou-se mais forte a partir de 1994 com a implantação do Plano Real, cujos efeitos sobre o mercado de trabalho foram devastadores, com a taxa de desemprego assumindo níveis inéditos. Também se observa uma piora nas condições de trabalho, isto porque são as grandes empresas as responsáveis pela maioria das demissões, enquanto as admissões ocorrem nas pequenas empresas, onde as relações de trabalho são mais pessoais e informais e de difícil fiscalização (GARCIA, MALASSISSE, 2001). Tal situação adversa para a classe trabalhadora brasileira foi agravada pelo crescimento do déficit na previdência social pública brasileira resultado do encolhimento da receita previdenciária potencializado pelo crescimento da taxa de desemprego. Este fato foi usado como argumento para se proceder a uma reforma previdenciária no final da referida década, a qual implicou em ampliação do tempo de contribuição, instituição do fator previdenciário, extinção das aposentadorias especiais para professor de nível superior, entre outras mudanças. Em síntese, a reforma previdenciária foi engendrada com base em uma inexorabilidade do déficit na previdência social pública brasileira. Como se este fosse definitivo e crescente ao longo do tempo. No entanto quando se lança o olhar sobre a década de 2000, em especial a partir de 2003, o comportamento dos indicadores do mercado de trabalho parece esvaziar o argumento acima referido, sugerindo uma situação que distoa daquela observada na década de 1990. Ocorre que o mercado de trabalho dá mostras de gestação de uma nova reestruturação ocupacional, a partir da inflexão dos dados das ocupações formal e informal no Brasil, com a reversão da tendência de queda dos empregos com carteira a qual parecia consolidada. Conquanto os empregos sem carteira sofrerem uma desaceleração na primeira metade da referida década e queda a partir de 2005, e os conta própria cresceram em menor ritmo. (GARCIA, ALMEIDA, 2008). Face ao exposto, cabe então indagar se, e até que ponto, o perfil da estrutura ocupacional determina o comportamento da receita previdenciária social no Brasil, de tal modo que, uma relação de causa possa ser admitida entre ocupação formal e receita previdenciária. A resposta a esta indagação constitui o foco da presente pesquisa, cujos objetivos consistem na realização de uma análise sobre os impactos da reestruturação ocupacional no mercado de trabalho sobre a previdência social pública no Brasil desde o governo FHC ao governo Lula, buscando-se a relação de causa entre ocupação formal, crescimento do PIB e receita previdenciária. Materiais e métodos Tratou-se de uma análise baseada em dados qualitativos e quantitativos. Onde os dados qualitativos foram pesquisados em fontes documentais referentes ao histórico da previdência social e do mercado de trabalho no Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Brasil. Os dados quantitativos advêm de pesquisa junto ao Instituto de Pesquisa Econômica e Ministério da Previdência Social. Realizou-se uma análise empírica, para verificar a relação de causalidade entre ocupação formal, crescimento do PIB e receita previdenciária. Resultados e Discussão A partir da análise empírica, observou-se que a hipótese de que existe uma relação de causalidade entre ocupação formal, crescimento do PIB e receita previdenciária, é verdadeira, uma vez que, no período analisado, verificou-se que quando ocorreu uma redução nos empregos com carteira ao longo da década de 1990, isto repercutiu negativamente sobre o saldo da previdência, de tal modo eu ao final do ano de 1999, verificou-se um déficit de R$ -6.694.740,6837 (IPEA - data). Essa redução nos empregos com carteira se deu em virtude dos efeitos do Plano Real, que apesar de ter alcançado seu objetivo de redução da inflação, teve como conseqüência uma piora na estrutura ocupacional, com um aumento da taxa de desemprego formal. Ao longo da década de 2000, ao contrário, verifica-se uma redução na taxa de desemprego, a favor dos empregos formais, o que influenciou diretamente o saldo da previdência, apresentando na referida década uma trajetória ascendente. Deve-se levar em consideração que houve um aumento também no número de benefícios, uma vez que em virtude das reformas previdenciárias aumentou a procura pela aposentadoria, em face da possibilidade de perder direitos constitucionais. Outro motivo que levou a esse aumento está na elevação da expectativa de vida, o qual está maior, ou seja, o número de idosos tem aumentado. Conclusões Diante do exposto é possível empreender que há uma relação de causalidade entre ocupação formal, crescimento do PIB e receita previdenciária, sendo assim quando a economia está aquecida, há uma maior oferta de empregos, logo, ocorre um aumento na receita previdenciária, dado que esta é financiada pela arrecadação que advém das contribuições previdenciárias em uma situação de emprego com carteira assinada. Agradecimentos A autora agradece à Fundação Araucária e a Universidade Estadual de Maringá pelo incentivo à pesquisa, a orientadora Maria de Fátima Garcia pela paciência, dedicação e ensinamentos prestados. Referências Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. I ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=853. Acesso em: 11 fev. 2010. CACCIAMALI, Maria Cristina. Globalização e suas relações com o mercado de trabalho. 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