ARS VETERINARIA, 16(3):232-236, 2000.
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FUBÁ DE MILHO COMO ADITIVO PARA
ENSILAGEM DE AVEIA
(CORN MEAL AS ADDITIVE TO OAT SILAGE)
R. M. COAN 2, D. FREITAS 2, R. A. REIS 3, L. R. A. RODRIGUES 3
RESUMO
As silagens de aveia preta (Avena strigosa Schreb) e aveia amarela (Avena bysantina C. Koch) cultivares São
Carlos e UPF-3, foram avaliadas na FCAV/UNESP – Campus de Jaboticabal, sob diferentes tratamentos. As forrageiras
foram colhidas no estádio de grãos pastosos a farináceo e submetidas aos seguintes tratamentos: testemunha, testemunha +
5% de fubá de milho, testemunha + 10% de fubá de milho e emurchecimento. O conteúdo de MS das silagens confeccionadas
sem o uso de aditivos ou emurchecimento apresentaram valores variando de 25,0 a 28,2 %. A adição de fubá de milho e o
emurchecimento proporcionaram teores médios de 10,8 % de PB. No que se refere às forrageiras, observou-se silagens
com teores de PB variando de 10,3 a 11,8 %. Observou-se que as silagens de aveia amarela, cultivares UPF-3 e São Carlos
apresentaram os menores teores de FDN, FDA, celulose, hemicelulose e lignina.
PALAVRAS-CHAVE: aveia preta, aveia amarela, composição química, fubá de milho, silagem.
SUMMARY
The silages of black oat (Avena strigosa Schreb), yellow oat (Avena bysantina C. Koch), cultivars São Carlos and UPF-3,
were evaluated in FCAV/UNESP-Campus of Jaboticabal, under different treatments. The forages were harvested at soft
dough to hard dough grain stage, and submitted to the following treatments: control; control + 5% of corn meal; control +
10% of corn meal and wilting (6 hours in the field). The silage without additive or wilting presented DM content from 25.0
to 28.2%. The corn meal addition and wilting produced silage with 10.8% of CP. The CP of different plants was 10.3 to
11.8%. It was observed that yellow oat (UPF-3 and São Carlos) silage presented smaller NDF, ADF, cellulose, hemicellulose
and lignin content.
KEY-WORDS: black oat, chemical composition, corn meal, silage, yellow oat
INTRODUÇÃO
A produção pecuária, anualmente entra em
declínio na época seca do ano, devido a baixa oferta
qualitativa e quantitativa de forragens provenientes das
pastagens. Entretanto o cultivo da aveia forrageira se
apresenta como uma alternativa para a produção de
volumosos de alta qualidade para utilização no período
de estiagem (maio– setembro).
Estudos realizados no Brasil Central (GODOY
2 Pós-Graduandos em Zootecnia, área de Produção Animal na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Rod.
Carlos Tonanni, Km 5 – CEP: 14870-000 – Jaboticabal –SP;
3 Professores da FCAV/UNESP – Jaboticabal-SP
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& BATISTA, 1990; REIS et al.,1993a; REIS et al., 1990b)
com a aveia preta (Avena strigosa Schreb.) e cultivares de
aveia amarela (Avena bysantina C. Koch.) demonstraram
o elevado potencial para produção de forragem com alto
valor nutritivo, durante os meses de inverno.
Os teores de matéria seca e as características
químicas (baixos teores de carboidratos solúveis e elevado
poder tampão) da aveia colhida no estádio vegetativo, não
são favoráveis ao processo de fermentação, o que
proporciona a produção de baixas quantidades de ácido
lático (BERTO & MULBACH, 1997). Dessa forma, há a
necessidade de se adicionar aditivos com o propósito de
se elevar o conteúdo de matéria seca e aumentar a
concentração de carboidratos solúveis da forragem,
permitindo condições adequadas para a atuação das
bactéria láticas (TOSI et al., 1990; LOPEZ & MULBACH,
1994).
BERTO & MULBACH (1997) encontraram para
a aveia, elevado poder tampão (51,9 meq NAOH/100 g
MS) e uma relação poder tampão/carboidrato solúvel de
2,9, a qual é classificada como sendo de probabilidade
incerta para a obtenção de silagem de alta qualidade
(WOOLFORD, 1984). Este autor preconiza que os teores
de MS (25,0 %) e a relação poder tampão/carboidratos
solúveis devem estar acima de 3,0 para a obtenção de
silagem de boa qualidade.
Trabalhos de pesquisa conduzidos sobre
ensilagem de forrageiras de inverno demonstraram que o
emurchecimento ao sol proporcionou aumento no conteúdo
de matéria seca, permitindo a produção de silagens de boa
qualidade (MARSH, 1979; LOPEZ & MUHLBACH,
1991; LOPEZ & MUHLBACH, 1994).
De acordo com CHAMBERLAIN et al (1985), o
emurchecimento restringi a fermentação butírica no silo,
resultando em maior concentração de carboidratos solúveis
da silagem.
No que se refere ao uso de aditivos, VAN
ONSELEN (1983) observou que o uso de fubá de milho
ao nível de 7 %, proporcionou silagens de melhor valor
nutritivo. De maneira semelhante, LOPEZ &
MUHLBACH (1991) ensilaram a aveia branca ( Avena
sativa L. ) no estádio de pré-florescimento sob os seguintes
tratamentos: aveia fresca, aveia fresca com 10 % de fubá
de milho, aveia emurchecida e a mistura de aveia
emurchecida com 30 % de ervilhaca colhidas no início da
formação dos grãos. Os autores obtiveram os seguintes
resultados: MS - 18,8 %, 24,8 %, 32,4 % e 42,4 %, NH3/N
total - 12,9 %, 8,75 %, 10,38 % e 7,45 %, pH - 4,41; 4,52;
5,43 e 6,76; ácido lático - 6,67 %, 4,55 %, 3,57 % e 2,36
%, ácido isobutírico + ácido butírico - 0,65 %, 0,11 %,
0,02 % e 0,09 %. Tem-se que a adição de grãos à forragem
a ser ensilada, além de reduzir o teor de umidade do
material e incorporar carboidratos solúveis, propicia
ARS VETERINARIA, 16(3):232-236, 2000.
melhores condições para o processo fermentativo e
consequentemente, maior valor nutritivo da silagem
resultante (WOOLFORD, 1984).
Assim, o presente estudo teve como finalidade
avaliar as características químicas das silagens de aveia
preta (Avena strigosa Schreb), aveia amarela (Avena
bysantina C. Koch), cultivares São Carlos e UPF-3
submetidas ou não ao emurchecimento e uso de aditivos.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido na UNESP - Jaboticabal
em um latossolo vermelho escuro, textura média, cuja
análise apresentou os seguintes valores: pH em CaCl2 =
5,3; MO = 4,1 %, P (resina) = 10 ug/cm³; K+ = 0,60*; Ca
= 4,4*; Mg² = 2,0; H + Al = 3,4*; capacidade de troca
catiônica = 10,40* (* meq/100 cm³ de TFSA ) e saturação
de bases de 67%. Os cultivares São Carlos e UPF-3 de
aveia amarela e a aveia preta foram semeados no dia 08/
05/96 com uma semeadora-adubadora, mediante aplicação
de 350 kg/ha da fórmula 4-30-16, espaçamento de 0,17
mm entre linhas e 80 sementes/m e após 33 dias, aplicouse 20 kg/ha de N, usando-se Sulfato de Amônio como fonte
de nitrogênio. Após 96 dias da semeadura, efetuou-se o
corte, quando os grãos se encontravam no estádio pastoso
a farináceo, quando as plantas continham em média 26,0%
de matéria seca.
Com base nas informações disponíveis na
literatura (Woolford, 1984) optou-se em avaliar o uso do
emurchecimento e do fubá de milho como tratamentos
alternativos em busca de condições mais apropriadas para
garantir a fermentação lática das silagens resultantes.
As forrageiras foram ensiladas em sacos plásticos
com capacidade de 20 kg e armazenados à temperatura
ambiente, de acordo com os seguintes tratamentos: A:
testemunha- silagem de forragem fresca, B: testemunha +
5% de fubá de milho na base da matéria verde, C:
testemunha + 10% de fubá de milho na base da matéria
verde e emurchecimento ( 6 horas ao sol).
Após um período de 120 dias, os silos foram
abertos e das silagens resultantes, recolheu-se amostras
que foram pesadas e secas em estufa de circulação forçada
de ar à 65 °C pôr 72 horas, obtendo-se assim a 1ª MS e
posteriormente analisou-se os conteúdos de matéria seca
(MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose,
hemicelulose e lignina de acordo com as técnicas
recomendadas pôr SILVA (1991).
Os dados do arranjo fatorial (3 forrageiras de
inverno X 4 tratamentos), foram analisados segundo o
delineamento em blocos casualizados com 3 repetições,
sendo a comparação entre médias feita pelo teste de Tukey
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Tabela 1 - Composição químico-bromatológica das silagens de aveia submetidas a diferentes tratamentos.
T ra ta m e n to s
M a té r ia
U P F -3
2 5 ,1
T e s te m u n h a
5 %
4
fu b á
3
P R E T A
2 5 ,0
S e c a (% )
1
S ã o C a rlo s
2 8 ,2
2
M é d ia s
2 6 ,1 B
3 4 ,7
3 1 ,8
3 3 ,2
3 3 ,2 A
3 6 ,4
3 2 ,8
3 3 ,3
3 4 ,1 A
E m u rc h e c id a
3 8 ,3
3 6 ,8
3 2 ,3
3 5 ,8 A
M é d ia s
3 3 ,6 a
3 1 ,6 a
3 1 ,7 a
1 0 %
5
fu b á
T ra ta m e n to s
U P F -3
T e s te m u n h a
3
P r o te ín a B r u ta (%
P R E T A 1
M S )
S ã o C a rlo s
2
M é d ia s
9 ,6
1 1 ,4
1 0 ,3
1 0 ,4 B
1 0 ,5
1 1 ,6
1 0 ,9
1 1 ,0 A B
1 0 ,9
1 2 ,1
1 1 ,0
1 1 ,3 A
E m u rc h e c id a
1 0 ,4
1 2 ,0
1 0 ,2
1 0 ,8 A B
M é d ia s
1 0 ,3 b
1 1 ,8 a
1 0 ,6 b
5 %
4
fu b á
1 0 %
5
fu b á
T ra ta m e n to s
F ib r a
U P F -3
T e s te m u n h a
e m
3
D e te r g e n te N e u tr o
P R E T A
1
(%
M S )
S ã o C a rlo s
2
M é d ia s
6 4 ,3
6 0 ,6
5 8 ,6
6 1 ,1 A
5 4 ,7
5 7 ,8
5 5 ,6
5 6 ,0 B
5 1 ,5
5 2 ,5
5 0 ,5
5 1 ,5 C
E m u rc h e c id a
5 9 ,6
6 1 ,8
5 9 ,2
6 0 ,2 A
M é d ia s
5 7 ,5 a b
5 8 ,2 a
5 6 ,0 b
5 %
4
fu b á
1 0 %
5
fu b á
T ra ta m e n to s
F ib r a e m
U P F -3 3
T e s te m u n h a
5 %
4
fu b á
1 0 %
5
fu b á
D e te r g e n te Á c id o (% M S )
P R E T A 1
S ã o C a rlo s
3 8 ,6
3 4 ,1
3 5 ,0
3 4 ,5
3 4 ,5 C
3 0 ,5
3 1 ,4
3 0 ,3
3 0 ,8 D
3 7 ,0 B
3 6 ,4
3 8 ,1
3 6 ,4
M é d ia s
3 5 ,5 a
3 5 ,9 a
3 5 ,0 a
C e lu lo s e
T ra ta m e n to s
5 %
10 %
fu b á
3
U P F -3
3 4 ,5
4
5
fu b á
(%
PR E T A
3 2 ,8
1
S ã o C a rlo s 2
3 2 ,1
M é d ia s
3 3 ,1 A
2 8 ,7
2 9 ,0
2 8 ,5
2 8 ,7 C
2 6 ,2
2 5 ,7
2 6 ,8
2 6 ,2 D
3 1 ,4 B
3 0 ,9
3 2 ,0
3 1 ,5
M é d ia s
3 0 ,0 a
2 9 ,8 a
2 9 ,7 a
H e m ic e lu lo s e (%
T ra ta m e n to s
3
U P F -3
5
3 9 ,6 A
M S)
E m u rc h e c id a
T e s te m u n h a
M é d ia s
3 9 ,2
E m u rc h e c id a
T e s te m u n h a
2
4 1 ,1
PR E T A
M S)
1
S ã o C a rlo s 2
2 3 ,2
2 1 ,5
2 0 ,0
2 1 ,6 B
2 0 ,6
2 2 ,8
2 1 ,1
2 1 ,5 B
2 1 ,0
2 1 ,0
2 0 ,2
2 0 ,8 B
E m u rc h e c id a
2 3 ,2
2 3 ,7
2 2 ,8
2 3 ,2 A
M é d ia s
2 2 ,0 a b
2 2 ,2 a
2 1 ,0 b
5 %
10 %
fu b á
4
5
fu b á
L ig n in a (%
T ra ta m e n to s
U P F -3
T e s te m u n h a
5 %
10 %
fu b á
fu b á
4
5
3
P R E T A
M S)
1
S ã o C a rlo s 2
M é d ia s
6 ,5
6 ,4
6 ,5
6 ,5 A
5 ,5
6 ,0
6 ,0
5 ,8 A B
4 ,4
6 ,8
3 ,5
4 ,5 B
E m u rc h e c id a
5 ,6
6 ,2
5 ,0
5 ,6 A B
M é d ia s
5 ,5 a
6 ,1 a
5 ,2 a
M é d ia s , n a c o lu n a e n a lin h a , s e g u id a s p o r le tr a s d ife r e n te s s ã o d if e re n te s (P < 0 ,0 5 ) p e lo
te s te d e T u k e y .
1
A v e ia P re ta
2
A v e ia A m a re la c u ltiv a r S ã o C a rlo s
3
A v e ia A m a re la c u ltiv a r U P F -3 .
4
5 %
5
10 %
d e fu b á d e m ilh o
d e fu b á d e m ilh o
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ARS VETERINARIA, 16(3):232-236, 2000.
a 5 % de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da análise visual após a abertura dos silos,
constatou-se que a fermentação ocorreu de modo
adequado, tendo em vista que a umidade das forragens de
aveia foram adequadas à prática de ensilagem, fato esse
que acarretou odor agradável e ausência de fungos.
A análise dos dados da Tabela 1, evidencia que
as silagens das plantas emurchecidas e as tratadas com 5
ou 10 % de fubá de milho, apresentaram valores mais
elevados de MS que a do tratamento testemunha (P<0,05).
Os resultados das silagens do tratamento
testemunha, quanto aos teores de MS (26,1%) foram
superiores àqueles apresentados por BERTO &
MULBACH, (1997) que encontraram para a aveia fresca,
baixo teor de matéria seca (15,3 %). As silagens do
tratamento testemunha apresentaram em média (26,1 %)
de MS, estando entre os valores de 18,8 a 42,4 % de MS
encontrados nos estudos desenvolvidos por ZOBELL et
al. (1992), LOPEZ & MULBACH (1994) e BERTO &
MULBACH, (1997).
No que se refere às forrageiras, observa-se que
não houve diferença estatística entre as plantas avaliadas.
Em relação aos teores de PB , a análise dos dados
da Tabela 1, evidenciam que as silagens dos tratamentos
com 10% de fubá de milho apresentaram maiores teores
de PB (11, 3 %), diferindo apenas (P<0,05) da testemunha
(10,4 %).
Em relação as forrageiras, a silagem de aveia preta
apresentou o maior (P<0,05) teor (11,8 %) de proteína
bruta, diferindo estatisticamente das demais. DUMONT
et al. (1989) relataram 7,3 % de PB trabalhando com aveia
branca, no estádio de grão pastoso. Enquanto que, TOSI
et al. (1990) encontraram valores mais elevados (15,83
%), trabalhando com aveia preta, no estádio de préflorescimento.
A análise dos dados de FDN, de FDA e de
celulose (Tabela 1), evidenciam que as silagens dos
tratamentos testemunha e emurchecida apresentaram
maiores valores (P<0,05) destes componentes. A adição
de fubá de milho diminuiu a concentração dos componentes
da fração fibrosa das silagens resultantes.
Em relação às forrageiras, a aveia preta
apresentou os maiores (P<0,05) teores de FDN e de FDA
(58,2 e 35,9%) e a cultivar São Carlos de aveia amarela os
menores teores (56,0 e 35,0%). Já a cultivar UPF-3 de
aveia amarela, apresentou o maior (P<0,05) teor de
celulose (30,0 %) quando comparada as demais plantas.
Os dados da Tabela 1, nos mostram que as
silagens do tratamento emurchecida apresentaram maior
(P<0,05) teor de hemicelulose (23,2 %), e as silagens de
aveia preta e cultivar UPF-3 de aveia amarela valores
semelhantes (22,2 e 22,0%), respectivamente.
A análise da Tabela 1, evidencia que houve diminuição
(P<0,05) nos teores de lignina das silagens que receberam
10 % de fubá de milho (4,5 %), quando comparados com
a silagem do tratamento testemunha (6,5%), sendo que as
demais não diferiram estatisticamente.
CONCLUSÕES
As silagens de aveia preta apresentaram os
maiores valores de PB, de FDN, de FDA, de hemicelulose
e de lignina, quando comparado às demais.
A utilização de fubá de milho como aditivo
proporcionou silagens com menores teores de FDN, de
FDA, de celulose e maiores valores de PB, não surtindo
efeito sobre a hemicelulose e lignina. Pode-se concluir que
é viável a ensilagem das plantas avaliadas e colhidas no
estádio de grão pastoso a farináceo, sem emurchecimento
e sem o uso de aditivos.
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fubá de milho como aditivo para ensilagem de aveia.