LISIANE SOLDATELI VIDOTTO AVALIAÇÃO DOS RECURSOS DAS COMPETÊNCIAS DO GERENTE DE PRODUÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, pelo Curso de Pós-Graduação em Construção Civil, do Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Aguinaldo dos Santos, PhD. CURITIBA 2003 TERMO DE APROVAÇÃO LISIANE SOLDATELI VIDOTTO AVALIAÇÃO DOS RECURSOS DAS COMPETÊNCIAS DO GERENTE DE PRODUÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Prof. PhD. Aguinaldo dos Santos (Doutorado – University of Salford, UK) Programa de Pós-Graduação em Construção Civil - UFPR Prof. Dr. Sérgio Scheer (Doutorado - PUC-RJ) Programa de Pós-Graduação em Construção Civil - UFPR Prof. PhD. Luiz Fernando Mahlmann Heineck (Doutorado University of Leeds, UK) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – UFSC Curitiba, 28 de outubro de 2003 ii Aos meus pais Daltro e Vera Aos meus irmãos Luciane, Eduardo, Elisa e Gustavo Ao meu marido Rodolfo Ao meu filho Guilherme iii AGRADECIMENTOS Ao Grupo de Trabalho de Gestão e Economia da ANTAC pela participação no método Delphi. AsBEA-PR, CEFET-PR, FAG, IEP, PUCPR, PROGRAMA CONSTRUBUSINESS PARANÁ, UEL, UEM, UEPG, UFPR, UNIANDRADE, UNIFIL, UNIOESTE, UNIPAR, UNOPAR e UTP pelo apoio recebido. CREA-PR e LACTEC pelo apoio e pelos investimentos financeiros na pesquisa. Todos os gerentes de obras que responderam o questionário da pesquisa e que são os autores anônimos de parte deste trabalho. Laboratório de Estatística da UFPR, especialmente aos Professores Fernando Lucambio Pérez e Joel Maurício Corrêa da Rosa e ao estudante Leandro A. Jiomeke. Rolf Eugênio Fischer e Iara Venier, pela revisão realizada. Todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Construção Civil do Paraná (PPGCC) e do Centro de Estudos de Engenharia Civil Professor Inaldo Ayres Vieira (CESEC), especialmente ao Professor Aguinaldo dos Santos e ao Professor Ricardo Mendes Júnior. Luciano Moser, André C. Giandon, Silvana da Silva, Mônica T. Druszcz, Rafael Oliveira e em especial à Susana Fischer pelo apoio, companheirismo e amizade. Soeli, Maristela e Ziza. E, principalmente, ao meu pai Daltro e ao meu marido Rodolfo. iv Saber, e não fazer, ainda não é saber Lao Tsé (640 a.C.) v SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................................viii LISTA DE GRÁFICOS ...............................................................................................ix LISTA DE QUADROS.................................................................................................x LISTA DE TABELAS .................................................................................................xi RESUMO...................................................................................................................xii ABSTRACT..............................................................................................................xiii 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................1 1.1 JUSTIFICATIVA...................................................................................................1 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA................................................................................4 1.3 OBJETIVOS.........................................................................................................4 1.3.1 Objetivo Principal ..............................................................................................4 1.3.2 Objetivo Secundário ..........................................................................................4 1.4 HIPÓTESE...........................................................................................................4 1.4.1 Hipótese Principal .............................................................................................4 1.4.2 Hipótese Secundária .........................................................................................5 1.5 MÉTODO DE PESQUISA....................................................................................5 1.6 LIMITAÇÕES .......................................................................................................6 1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ......................................................................7 2 COMPETÊNCIAS ...................................................................................................8 2.1 CONTEXTO.........................................................................................................8 2.2 SIGNIFICADO DE COMPETÊNCIAS..................................................................8 2.2.1 Definição ...........................................................................................................8 2.2.2 Saber...............................................................................................................11 2.2.3 Saber-Fazer ....................................................................................................13 2.2.4 Saber-Ser........................................................................................................14 2.2.5 Revisão da Literatura Quanto ao Perfil do Gerente........................................15 2.3 O GERENTE......................................................................................................17 2.3.1 Definição de Gerente ......................................................................................17 2.3.2 A Visão de Fayol .............................................................................................18 2.3.3 A Visão de Mintzberg ......................................................................................19 2.3.4 Discussão........................................................................................................21 2.4 O PAPEL DO GERENTE SOB A ÓTICA DA COMPETÊNCIA..........................22 2.4.1 Saber...............................................................................................................22 2.4.2 Saber-Fazer ....................................................................................................27 2.4.3 Saber-Ser........................................................................................................34 2.5 DISCUSSÃO......................................................................................................38 vi 3 O MÉTODO DE PESQUISA .................................................................................40 3.1 O CONTEXTO ...................................................................................................40 3.2 A SURVEY.........................................................................................................40 3.3 A SEQÜÊNCIA DAS ATIVIDADES REALIZADAS ............................................41 3.4 AS ETAPAS PREPARATÓRIAS DA SURVEY..................................................43 3.4.1 A Revisão Bibliográfica ...................................................................................43 3.4.2 O Método Delphi .............................................................................................43 3.4.3 Elaboração do Instrumento de Coleta de Dados (Questionário) .....................47 3.4.4 O Teste Piloto da Survey ................................................................................49 3.4.5 Os Mecanismos de Envio da Survey...............................................................49 3.5 A ESTRATÉGIA DE ANÁLISE...........................................................................52 3.5.1 Estratégia de Análise da Survey .....................................................................52 3.5.2 Estratégia de Análise das Grades Curriculares...............................................53 4 RESULTADOS E ANÁLISES ...............................................................................55 4.1 O CONTEXTO ...................................................................................................55 4.2 RESULTADOS E ANÁLISES DO MÉTODO DELPHI........................................55 4.2.1 Primeira Rodada .............................................................................................56 4.2.2 Segunda Rodada ............................................................................................58 4.2.3 Terceira Rodada .............................................................................................60 4.2.4 Quarta Rodada................................................................................................64 4.2.5 Quinta Rodada ................................................................................................66 4.2.6 Análise Geral...................................................................................................67 4.3 OS RESULTADOS DA SURVEY.......................................................................68 4.3.1 O Perfil dos Gerentes de Obras Amostrados ..................................................69 4.3.2 Questões Relativas aos Recursos das Competências....................................73 4.3.3 Estratégias Utilizadas para Melhorar os Recursos das Competências ...........88 4.4 RESULTADOS DA ANÁLISE DAS GRADES CURRICULARES.......................91 4.4.1 Comparação das Grades Curriculares com a Survey .....................................91 4.4.2 Comparação dos Currículos de Engenharia Civil com as Diretrizes ...............97 4.5 PROPOSIÇÕES DE DIRETRIZES CURRICULARES.......................................97 4.6 CONSIDERAÇÕES GERAIS.............................................................................98 5 CONCLUSÃO .....................................................................................................100 5.1 CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................100 5.2 CONCLUSÃO SOBRE O MÉTODO DE PESQUISA ADOTADO ....................103 5.3 CONCLUSÃO FINAL.......................................................................................103 5.4 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS...............................................104 REFERÊNCIAS.......................................................................................................105 APÊNDICE - QUESTIONÁRIO APRESENTADO AOS GERENTES DE OBRAS NA SURVEY .............................................................................................................111 ANEXO - EMENTA DAS DISCIPLINAS DOS CURSOS DE ARQUITETURA, ENGENHARIA CIVIL E TECNOLOGIA EM CONSTRUÇÃO CIVIL DA RMC ...117 vii LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 2.1 - OS ELEMENTOS FORMADORES DA COMPETÊNCIA....................10 FIGURA 2.2 – A IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS HABILIDADES NOS DIFERENTES NÍVEIS GERENCIAIS ................................................28 FIGURA 3.1 – A SEQÜÊNCIA DAS ATIVIDADES REALIZADAS NA PESQUISA ........................................................................................42 FIGURA 3.2 – SEQÜÊNCIA DE EXECUÇÃO DE UMA PESQUISA PELO MÉTODO DELPHI .............................................................................44 FIGURA 3.3 – CRONOGRAMA DAS RODADAS REALIZADAS NO MÉTODO DELPHI NO PERÍODO DE MAIO A SETEMBRO DE 2002 ..............45 FIGURA 3.4 – NÚMERO DE RESPONDENTES NAS CINCO ETAPAS REALIZADAS NO MÉTODO DELPHI ...............................................46 FIGURA 4.1 – A SEQÜÊNCIA DAS PERGUNTAS EFETUADAS EM CADA RODADA NO MÉTODO DELPHI ......................................................56 viii LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 4.1 – PROFISSÃO DOS GERENTES DE OBRAS DA AMOSTRA ANALISADA ....................................................................................69 GRÁFICO 4.2 – SEXO DA POPULAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA ............................................................70 GRÁFICO 4.3 – TEMPO DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA ...........................................................71 GRÁFICO 4.4 – O GRAU DE INSTRUÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA ............................................................71 GRÁFICO 4.5 – O LOCAL DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA ...........................................................72 GRÁFICO 4.6 – ATIVIDADES CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AMOSTRA ESTUDADA............................74 GRÁFICO 4.7 – TIPOS DE OBRAS GERENCIADAS PELOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA...............................76 GRÁFICO 4.8 – CONTEXTOS TÍPICOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS DA AMOSTRA COLETADA, NO QUESITO PORTE DA OBRA...........................................................................77 GRÁFICO 4.9 – CONTEXTOS TÍPICOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS DA AMOSTRA COLETADA, NO QUESITO MÃO-DE-OBRA ..............................................................................77 GRÁFICO 4.10 – CONTEXTOS TÍPICOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS DA AMOSTRA COLETADA, NO QUESITO ORIGEM DOS RECURSOS DA OBRA...........................................78 GRÁFICO 4.11 – ÁREAS DE CONHECIMENTOS MAIS UTILIZADAS E DE MAIOR CARÊNCIA NO GERENCIAMENTO DE OBRAS DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA ......................80 GRÁFICO 4.12 – HABILIDADES QUE OS GERENTES DE OBRAS PERCEBIAM QUE PRECISAVAM MELHORAR NA AMOSTRA ANALISADA .................................................................83 GRÁFICO 4.13 – HABILIDADES NAS QUAIS OS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA PERCEBIAM QUE POSSUÍAM EXPERIÊNCIA PRÁTICA................................................................84 GRÁFICO 4.14 – HABILIDADES NAS QUAIS OS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA PERCEBIAM QUE POSSUÍAM CONHECIMENTO TEÓRICO .........................................................86 GRÁFICO 4.15 – PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA QUANTO ÀS ATITUDES NO AMBIENTE DE TRABALHO.....................................................................................87 GRÁFICO 4.16 – DATA DA ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA ............................................................89 GRÁFICO 4.17 – MEIOS DE ATUALIZAÇÃO MAIS UTILIZADOS PELOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA...............................90 ix LISTA DE QUADROS QUADRO 2.1 – DEFINIÇÃO DAS ÁREAS FUNCIONAIS DA EMPRESA ................23 QUADRO 2.2 – SUPOSIÇÕES DA TEORIA X E DA TEORIA Y ..............................35 QUADRO 4.1 – PONTOS DE CONSENSO E PONTOS COMPLEMENTARES NA DEFINIÇÃO DO TERMO COMPETÊNCIA...............................................................................57 QUADRO 4.2 – PONTOS DE CONSENSO E PONTOS COMPLEMENTARES NA DEFINIÇÃO DO TERMO COMPETÊNCIAS ............................................................................59 QUADRO 4.3 – PONTOS DE CONSENSO E PONTOS COMPLEMENTARES NOS CONTEXTOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS..............................................................67 QUADRO 4.4 – ABRANGÊNCIA CURRICULAR DOS CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E TECNOLOGIA EM CONSTRUÇÃO CIVIL EM RELAÇÃO ÀS FUNÇÕES EMPRESARIAIS ..............................................................................92 QUADRO 4.5 – RESUMO DAS PROPOSIÇÕES DE DIRETRIZES CURRICULARES PARA A ÁREA DE GERENCIAMENTO DE OBRAS ......................................................................................98 x LISTA DE TABELAS TABELA 4.1 – RELAÇÃO DOS CONHECIMENTOS REQUERIDOS PELOS GERENTES DE OBRAS (TERCEIRA RODADA DO MÉTODO DELPHI) .....................................................................60 TABELA 4.2 – RELAÇÃO DAS HABILIDADES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (TERCEIRA RODADA DO MÉTODO DELPHI)............................................................................62 TABELA 4.3 – RELAÇÃO DAS ATITUDES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (TERCEIRA RODADA DO MÉTODO DELPHI)............................................................................63 TABELA 4.4 - RELAÇÃO DOS CONHECIMENTOS REQUERIDOS PELOS GERENTES DE OBRAS (QUARTA RODADA DO MÉTODO DELPHI)............................................................................64 TABELA 4.5 - RELAÇÃO DAS HABILIDADES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (QUARTA RODADA DO MÉTODO DELPHI)............................................................................65 TABELA 4.6 - RELAÇÃO DAS ATITUDES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (QUARTA RODADA DO MÉTODO DELPHI)............................................................................66 xi RESUMO O objetivo principal deste trabalho consiste em avaliar os recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) requeridos pelos arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em construção civil, que atuam como gerentes de obras na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), procurando contribuir para a melhoria do ensino superior dos cursos relacionados à construção civil e do desempenho destes profissionais. O termo competência consiste no agrupamento dos recursos relacionados aos conhecimentos, habilidades e atitudes. O principal método de pesquisa adotado foi o levantamento (survey). As etapas preparatórias que embasaram a elaboração do instrumento de coleta de dados (questionário) foram a revisão bibliográfica e a aplicação do método Delphi junto aos especialistas do setor. Durante a implementação da survey, foram enviados 2.116 questionários aos gerentes de obras e foram obtidas 100 respostas devidamente preenchidas, resultando em uma taxa de retorno de aproximadamente 5%. A survey foi complementada por uma análise documental nas grades curriculares dos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil da RMC. Os resultados da survey apontam que os profissionais percebiam que possuíam deficiências nos conhecimentos para gerenciar os recursos humanos, nas habilidades para gerenciar a segurança e higiene da obra e para atuar de maneira pró-ativa no ambiente de trabalho. Além disso, a análise documental constatou que os cursos de Engenharia Civil analisados possuíam conteúdos mais abrangentes para atuação como gerentes de obras do que os cursos de Tecnologia em Construção Civil e Arquitetura. Palavras-chave: Competências, Gerente de produção, Construção civil. xii ABSTRACT The main goal of this work is to evaluate the state of the competencies resources among construction professionals focused of production management in the Curitiba Metropolitan Region (RMC), searching to contribute to higher education improvement of construction related courses and professionals performances. The term competency consists on a grouping of professionals attributes related to knowledge, abilities and attitudes. The main research method used was survey. The preparatory stages that based the elaboration of the data collection process (questionnaire) were the bibliographical review and application of Delphi method with construction sector specialists. During the survey, 2116 questionnaires were sent to the production managers and 100 responses returned correctly fulfilled, resulting in a 5% response rate. The survey was completed by a documental analysis of the curriculum of the construction related courses at the RMC. The survey’s results indicate that the professionals perceived they had knowledge deficiencies in human resources management and in security and hygiene management abilities. They also had problems to act proactively at the work environment. Besides that, the documental analysis showed that Civil Engineer courses have more extensive content for construction management than Civil Construction Technology and Architecture courses. Key-words: Competencies, Production manager, Building construction. xiii 1 INTRODUÇÃO 1.1 JUSTIFICATIVA As mudanças constantes no ambiente, as novas tecnologias, o acesso rápido à informação, as mudanças sociais e culturais da população, a escassez de recursos e a maior consciência ambiental, caracterizam uma situação competitiva que impõe o surgimento de novas competências profissionais e o desaparecimento de outras existentes. Neste sentido, o presente trabalho investiga os recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) requeridos aos arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em construção civil, que atuam como gerentes de obras deste setor, procurando contribuir para a melhoria do desempenho dos mesmos e para a definição de planos pedagógicos adequados nas universidades. A preocupação com a questão da competência tem como motivador principal o impacto deste profissional na economia, pois este profissional atua como articulador de interfaces entre outras profissões. Atualmente forma-se grande número de profissionais na área de construção civil. Somente no Estado do Paraná, em 2002, havia 10.820 engenheiros civis, 3.234 arquitetos e 186 tecnólogos em construção civil, totalizando 14.240 profissionais registrados no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR). Deste total, 57,05% (8.124 profissionais) atuava em Curitiba, capital paranaense (CREAPR, 2002). Esta pesquisa é focada no gerente de obras, devido ao fato que estudos na área tem repetidamente apontado deficiências na sua atuação profissional. Uma pesquisa realizada por BRINGHENTI (1995), entre engenheiros (ex-alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – EPUSP - formados de 1961 a 1990), indica que a falta de conhecimentos de administração ou de habilidade para gerenciar é uma das maiores dificuldades enfrentadas no exercício profissional. O autor acrescenta, baseado no mesmo estudo, que estes conhecimentos e a habilidade gerencial estão entre os principais atributos necessários ao profissional da construção civil de hoje. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 2 FARAH (1992) critica a atuação dos profissionais da construção civil no canteiro de obras. Segundo a autora, os profissionais que concebem o produto (arquitetos e engenheiros) não têm, de modo geral, domínio sobre a atividade concreta, sobre cada tarefa realizada no canteiro de obras. Por outro lado, nem o engenheiro da obra detém o domínio do processo de trabalho. A obra é executada, na verdade, pelo mestre e pelos encarregados (de ofícios), cabendo ao engenheiro, via de regra, um controle meramente administrativo da produção. O fato de se pesquisar o trabalho do gerente de obras também se justifica pelo fato de que uma parcela significativa de perdas na construção tem origem nas falhas gerenciais (SOIBELMAN1 apud HIROTA, 2001). Para RUAS (2002), competência é a capacidade de saber agir num contexto profissional, de forma responsável e legitimada, através da mobilização, integração e transferência de conhecimentos e habilidades em geral. O autor enfatiza que não seria apenas um estado de formação educacional ou profissional, nem tampouco se reduz ao saber, ou ao saber-fazer, mas seria a capacidade de mobilizar e aplicar os conhecimentos e as habilidades numa condição particular, onde se colocam recursos e restrições próprias à situação. No setor da educação PERRENOUD (2002) defende o método baseado na construção de competências em contraposição ao ensino ortodoxo. Segundo o autor, o primeiro método considera que os saberes são ferramentas para a ação e que a escola deve ensinar a usá-los, enquanto o segundo método apenas acumula saberes, sem se perguntar muito quando, onde e porque os alunos poderão utilizálos. Conforme ROCHA (1996), o ensino atual deveria ser orientado para a aprendizagem na vida profissional e para capacitar o aluno a praticar essa aprendizagem. Para tal, exige-se o reconhecimento de outras formas igualmente importantes de aprendizagem, além da absorção de fatos científicos, regras e modelos prontos. O ensino precisa ser ampliado para o desenvolvimento de habilidades polivalentes, como ouvir, negociar, comprometer-se com a autoaprendizagem, cooperar, responsabilizar-se, tornar-se honesto e ético (ROCHA, 1996). 1 SOIBELMAN, L. As perdas de materiais na construção de edificações: sua incidência e seu controle. Porto Alegre, 1993. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – UFRGS VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 3 Esta nova visão do aprendizado tem repercutido em novas posturas para o setor da Educação no Brasil. Como exemplo de iniciativas nesta direção, têm-se as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Engenharia. Estas diretrizes refletem as tendências atuais em educação e apontam na direção de cursos de graduação com estruturas flexíveis, permitindo que o futuro profissional, ao se formar, tenha opções de áreas de conhecimento e atuação, articulação permanente com o campo profissional, base filosófica com enfoque nas competências, preocupação com a valorização do ser humano e preservação do meio ambiente, integração social e política do profissional e forte vinculação entre a teoria e a prática (CNE/CES, 2001). Neste mesmo enfoque, o perfil para o engenheiro, mencionado no parecer que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, refere-se a uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas. Esta formação deve considerar os aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade (CNE/CSE, 2002). Face ao exposto, verifica-se a necessidade de desenvolver um nível maior de entendimento sobre a dinâmica, o conteúdo de desenvolvimento de competências do profissional gerente de obras. Neste contexto, a presente pesquisa objetiva contribuir com a identificação do estado quanto aos recursos das competências do gerente de produção na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e, através desta caracterização, apontar proposições para diretrizes de melhoria curricular e pedagógica aos cursos de nível superior. Os resultados desta pesquisa deverão servir de subsídios para revisões curriculares, para a elaboração de estratégias de aprendizagem continuada para os profissionais da construção civil ou, até mesmo, para a realização de diagnósticos regionais. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 1.2 4 PROBLEMA DE PESQUISA Esta dissertação se propõe a responder o seguinte problema de pesquisa: Qual é o nível atual dos recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) na percepção dos arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em gestão de obras na Região Metropolitana de Curitiba? 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Principal Avaliar a percepção dos arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos quanto aos recursos das competências no que tange à gestão de obras na Região Metropolitana de Curitiba. 1.3.2 Objetivo Secundário Verificar os saberes transmitidos pelos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil, em relação às demandas dos profissionais atuantes no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Curitiba. 1.4 HIPÓTESE 1.4.1 Hipótese Principal Tem-se como hipótese principal que os gerentes de obras atuantes na Região Metropolitana de Curitiba percebem que possuem deficiências nos saberes para gerenciar os recursos humanos. Esta hipótese foi estabelecida em função do histórico dos cursos de engenharia civil de enfatizar mais a área técnica. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 5 1.4.2 Hipótese Secundária Os cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil apresentam conteúdos insuficientes nas grades curriculares para o desenvolvimento dos saberes em gestão da construção civil. 1.5 MÉTODO DE PESQUISA O principal método de pesquisa utilizado nesta dissertação foi o levantamento (survey). As características fundamentais da survey são a seleção de uma amostra de indivíduos de uma população conhecida e a coleta de uma pequena quantidade de dados, em um formato padronizado, de um número relativamente grande de indivíduos (ROBSON, 1993). A realização da survey procurou identificar as lacunas do saber, saber-fazer e saber-ser do gerente de obras, atuantes no mercado de trabalho da RMC. Para a sua realização foi necessário executar algumas atividades preparatórias, como uma revisão da literatura e a aplicação do método Delphi. A revisão bibliográfica abordou os temas relacionados às competências, a visão de alguns autores a respeito do trabalho gerencial e também as competências necessárias para desempenhar o papel de gerente de produção da construção civil. O método Delphi foi aplicado junto aos membros do Grupo de Trabalho de Gestão e Economia da Associação Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído (ANTAC). Este método consistiu na obtenção sistemática do consenso, através de rodadas sucessivas de um conjunto de questões que tratavam dos recursos das competências do gerente de obras. Os resultados destas duas etapas embasaram a elaboração do instrumento de coleta de dados (questionário) da survey. Após a elaboração do questionário, foi realizado um teste piloto para detectar possíveis falhas no questionário e no processo de envio do mesmo. Após a conclusão destas etapas preparatórias, iniciou-se a realização da survey propriamente dita com os gerentes de obras atuantes no mercado de trabalho da RMC. Os resultados obtidos na survey receberam tratamento estatístico, a fim de detectar possíveis correlações entre as variáveis da amostra coletada. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 6 Uma pesquisa documental nas grades curriculares dos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil foi iniciada após a conclusão da survey, a fim de complementá-la. Assim, foi realizada uma análise comparativa entre as grades curriculares levantadas. As grades curriculares levantadas também foram analisadas a fim de verificar se as mesmas contemplavam as lacunas identificadas na survey. Além disso, as grades curriculares dos cursos de Engenharia Civil foram confrontadas com as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. As análises dos resultados da survey e da comparação entre os currículos deram origem a proposições de diretrizes para revisão curricular para os cursos superiores relacionados à construção civil. 1.6 LIMITAÇÕES As limitações da pesquisa são as seguintes: a) a pesquisa limitou-se a avaliar os recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) percebidos por arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em construção civil apenas em gestão da construção civil na RMC; b) na aplicação do método Delphi, a participação dos especialistas do Grupo de Trabalho de Gestão e Economia da ANTAC nas rodadas realizadas foi voluntária, o que por si só é uma limitação, pois não existia um compromisso assumido pelo respondente. Tal limitação implicou numa certa rotatividade entre os participantes; c) a aplicação da survey também contou com a voluntariedade dos respondentes, caracterizando desta forma uma limitação para a pesquisa; d) as competências inatas do indivíduo foram excluídas do estudo e da análise no método Delphi, pois o escopo da pesquisa direciona-se apenas para os recursos das competências adquiridas durante a formação profissional do indivíduo; VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 7 1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO O Capítulo 1 apresenta o problema de pesquisa e os objetivos/hipóteses associados, as principais justificativas para a realização desta dissertação, o método de pesquisa adotado, bem como as limitações para o seu desenvolvimento. O Capítulo 2 discorre sobre o tema competências, aborda estudos sobre o trabalho gerencial e sobre as competências necessárias para gerenciar sua atividade sob a visão da literatura revisada. O Capítulo 3 descreve o método de pesquisa adotado e explica as etapas preparatórias para a aplicação do mesmo. Além disso, apresenta a estratégia de análise utilizada. O Capítulo 4 trata da apresentação dos resultados obtidos na survey e da pesquisa das grades curriculares dos cursos da Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil da RMC. Este capítulo utiliza na análise da survey, os conceitos descritos no Capítulo 2 e a análise estatística através do método X2 (qui-quadrado). Além disso, apresenta proposições de diretrizes para a revisão curricular dos cursos relacionados à construção civil, sendo estas um dos principais resultados desta dissertação. O Capítulo 5 apresenta as conclusões gerais, as conclusões sobre o método de pesquisa adotado e as recomendações para trabalhos futuros. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 8 2 COMPETÊNCIAS 2.1 CONTEXTO O Capítulo 1 apresentou os principais aspectos que levaram à realização desta pesquisa, como o problema de pesquisa, os objetivos/hipóteses associados, o método de pesquisa e as limitações encontradas. A primeira seção do presente Capítulo define o termo competências, os elementos formadores da competência como o saber, o saber–fazer e o saber-ser e apresenta a questão da avaliação de competências. A segunda seção do capítulo define o conceito de gerente. Na terceira seção é abordado o papel do gerente sob a ótica da competência, apresentando o saber, saber-fazer e saber-ser, necessários para exercer sua atividade. O Capítulo 3, subseqüente, apresenta o método de pesquisa. 2.2 SIGNIFICADO DE COMPETÊNCIAS 2.2.1 Definição Na era da informação, as organizações necessitam adquirir os saberes básicos e as técnicas próprias de sua atividade e, além disso, devem permitir que o trabalhador adquira saberes, atualize-os e mantenha as competências gerais. Nesse contexto, a formação e qualificação dos indivíduos são peças-chave do desenvolvimento e a questão da competência é colocada em relevância. O tema competência se tornou popular com o livro de BOYATZIS (1982) chamado The competent manager. Conforme relatam HOFFMANN (1999), FLEURY e FLEURY (2001) atualmente este tema está associado a diferentes instâncias de compreensão: em termos de pessoa (as competências do indivíduo), das empresas (as competências essenciais) e dos países (sistemas educacionais e formação de competências). RUAS (2002) define competência como a capacidade de saber agir num contexto profissional, de forma responsável e legitimada, através da mobilização, integração e transferência de conhecimentos e habilidades em geral. A competência VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 9 representa a maneira eficaz e eficiente da aplicação do saber, do saber-fazer e do saber-ser. Ela pode ser observada a partir do posto de trabalho e é validada pela performance profissional. Outros autores definem competência como um grupo de padrões de comportamentos que a pessoa incumbida precisa trazer para uma posição a fim de desempenhar suas tarefas e funções com eficiência e eficácia (WOODRUFFE, 1992). É assim um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionadas que afeta parte considerável da atividade de alguém, que se relaciona com o desempenho, que pode ser medido segundo padrões préestabelecidos e que pode desenvolvimento (PARRY 2 ser melhorado por meio de treinamento e apud WOOD, 1997). FLEURY e FLEURY (2001) comentam que as competências devem ser agregadoras de valor social para o indivíduo e de valor econômico para a empresa. A autora compartilha das idéias de LOPES (2002) que detecta algumas convergências da diversidade de interpretações dos conceitos de competências encontrados na literatura: a) as definições de competência aparecem associadas a verbos como: saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber se engajar e assumir responsabilidades; b) a competência não existe por si, mas manifesta-se em ações; c) a competência é apresentada como uma constatação de performance, de cumprimento de resultados ou de resolução de problemas; d) o seu resultado pode ser observado, validado, reconhecido, avaliado e deve permitir demonstrar quais os recursos da competência são mobilizados; e) a competência é situacional, o que significa que se estrutura e se desenvolve em função de situações similares. É contextualizada, específica e contingente (varia de acordo com as situações). 2 PARRY, S. B. The quest for competences. Training, p. 48-54, jul. 1996. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 10 No que se refere à composição da competência, ou seja, aos elementos ou recursos que a constituem, sob a forma de potenciais de mobilização, RUAS (2001) afirma que esta possui três recursos, os conhecimentos (saber), as habilidades (saber-fazer) e as atitudes (saber-ser). LE BOTERF (2003) indica também o saberaprender como recurso da competência, que consiste em saber tirar lições da experiência. Porém, neste trabalho são estudados somente os três recursos da competência descritas nos estudos de RUAS (2001) (ver Figura 2.1). FIGURA 2.1 - OS ELEMENTOS FORMADORES DA COMPETÊNCIA Saber (Conhecimentos) Saber-fazer (Habilidades) Saber-ser (Atitudes) FONTE: Adaptado de: BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. de A. Gestão de competências e gestão de desempenho. In: WOOD JR. T. Gestão empresarial: o fator humano. São Paulo: Atlas, 2002. p. 55-70 Os três recursos são interdependentes à medida que, para a exposição de uma habilidade, se presume que o indivíduo conheça princípios e técnicas específicas. Da mesma forma, a adoção de um comportamento no trabalho exige da pessoa, não raras vezes, a detenção não apenas de conhecimentos, mas também de habilidades e atitudes apropriadas (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2002). Nas seções seguintes estão descritos os recursos da competência. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 11 2.2.2 Saber Entende-se por saber o conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que um determinado indivíduo possui (GUITTET3 apud FONTENELLE, 2002). Para ECHEVESTE et al. (1999) saberes são um conjunto de informações que instrumentalizam as pessoas para as suas atividades, como o conhecimento que o indivíduo deve possuir para que atenda às exigências do mercado. Uma definição mais breve é dada por FERREIRA (1986), o qual define o termo como erudição e instrução. LE BOTERF (2003) distingue os saberes em saberes teóricos, saberes do meio e saberes procedimentais. A seguir, apresenta-se a explicação de cada um destes saberes, conforme o mesmo autor: a) saberes teóricos: servem para entender um fenômeno, um objeto, uma situação, uma organização ou um processo. Visam descrever e a explicar seus componentes ou sua estrutura, a compreender suas leis de funcionamento ou de transformação, a entender seu sentido, sua razão principal. Como exemplos dos conhecimentos teóricos, estão os teoremas fundamentais, os princípios da eletricidade, as legislações; b) saberes do ambiente: compreendem o conjunto dos saberes que se referem ao contexto no qual o profissional intervém. Esses saberes compreendem componentes diversos, como: equipamentos, sistema de gestão, regras e tipos de gerenciamento, cultura empresarial, códigos sociais, características dos clientes, produtos e serviços, entre outros; c) saberes procedimentais: visam descrever como deve ser feito, como proceder para. Esses saberes são descritos com vistas a uma ação a ser realizada. São conjuntos de instruções a serem realizadas em uma ordem estabelecida. Compreendem os saberes dos manuais, dos guias práticos e dos modos de uso. Esses saberes podem ser enriquecidos pela ação, mas são adquiridos por meio de sistemas formais de educação e formação. 3 GUITTET, A. Développer lês compétences: pour une ingénierie de la formation. Paris: ESF Éditeur, 1994. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 12 É possível, ainda, distinguir dois tipos de conhecimentos: o conhecimento explícito e o conhecimento tácito. O conhecimento explícito, ou codificado, refere-se ao conhecimento transmissível em língua formal, sistemática. O conhecimento explícito pode ser expresso em palavras e números e facilmente comunicado e compartilhado sob as formas de dados brutos e fórmulas científicas, enquanto o conhecimento tácito possui uma qualidade pessoal, o que torna sua formalização e comunicação mais difíceis. As conclusões e os palpites subjetivos incluem-se nessa categoria de conhecimento. Além disso, o conhecimento tácito está profundamente enraizado nas ações, no comprometimento e no envolvimento em um contexto específico (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Uma outra visão classifica o conhecimento, assim como os dados e a informação, em níveis hierárquicos. No nível mais baixo estão os dados que podem ser considerados como os fatos brutos, por exemplo, textos e gráficos (MORESI, 2001). O próximo nível é o da informação, a qual LAUDON e LAUDON (1999) definem como o conjunto de dados aos quais seres humanos deram forma para torná-los significativos e úteis. No próximo nível está o conhecimento, o qual pode ser definido como informações que foram avaliadas sobre a sua confiabilidade, sua relevância e sua importância (MORESI, 2001). Pode ser definido também como o conjunto de ferramentas conceituais e categorias usadas pelos seres humanos para criar, colecionar, armazenar e compartilhar a informação (LAUDON; LAUDON, 1999). Segundo esta definição, o conhecimento pode ser armazenado como um artefato em uma biblioteca, como um livro, por exemplo. O conhecimento não é estático: modifica-se por meio da interação com o ambiente e é denominado processo de aprendizado (MORESI, 2001). A aprendizagem pode ser pensada como um processo de mudança provocado por estímulos diversos, mediado por emoções e que pode se manifestar ou não em modificações na atitude de uma pessoa (FLEURY, 2001). VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 13 2.2.3 Saber-Fazer O saber-fazer é o desenvolvimento de um saber ou de uma habilidade para a realização de uma tarefa (GUITTET4 apud FONTENELLE, 2002). ECHEVESTE et al. (1999) entendem por habilidades, as aptidões e capacidades propriamente ditas para o desempenho das atividades profissionais. Para YULK (1994), as habilidades consistem na capacidade de desempenhar vários tipos de atividades cognitivas ou comportamentais de uma maneira efetiva. As habilidades podem ser classificadas como habilidades técnicas, humanas e conceituais (ver 2.4.2.1). LE BOTERF (2003) distingue o saber-fazer em três categorias: formalizado, empírico e cognitivo. A seguir, apresenta-se a explicação de cada uma dessas categorias de saber-fazer: a) saber-fazer formalizado: é constituído por condutas, métodos ou instrumentos, cuja aplicação prática o profissional domina, por exemplo, saber usar um software CAD, conduzir e concluir uma negociação comercial, entre outros. Não se trata de saber descrever um procedimento, mas de dominar a sua aplicação; b) saber-fazer empírico: refere-se ao saber oriundo da ação. Esta compreende as lições tiradas da experiência prática. Este saber-fazer o indivíduo não aprende na escola, mas resulta da formação no local de trabalho, pela impregnação lenta e progressiva da profissão adquirida através do tempo; c) saber-fazer cognitivo: corresponde às operações intelectuais necessárias à formulação, à análise e à resolução de problemas, à concepção e à realização de projetos, à tomada de decisão, à criação ou à invenção. Estas habilidades cognitivas são postas em execução e organizadas entre si por um sujeito em interação com seu meio. 4 GUITTET, A. Op. cit. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 14 2.2.4 Saber-Ser O outro elemento da competência refere-se ao saber-ser, demonstrado pela atitude no ambiente de trabalho. Segundo FERREIRA (1986), o termo atitude derivou do latim attitudine e significa “o modo de proceder ou agir; comportamento; reação ou maneira de ser, em relação à determinada(s) pessoa(s), objeto(s), situações, etc”. Para ECHEVESTE et al. (1999), as atitudes relacionam-se as características referentes à predisposição dos indivíduos, à sua postura e maneira de agir. As atitudes podem ser físicas, intelectuais ou relacionais (GUITTET5 apud FONTENELLE, 2002). LE BOTERF (2003) explica que conhecimentos, habilidades e atitudes devem atuar conjuntamente e compara a competência a um “saber-mobilizar”. Segundo o autor existem pessoas que possuem conhecimentos e habilidades, mas não sabem mobilizá-los de modo pertinente, no momento oportuno, numa situação de trabalho. Por exemplo, pode-se conhecer técnicas ou regras de gestão contábil e não saber aplicá-las no momento oportuno. LE BOTERF (2003) explica que possuir conhecimentos e habilidades não significa ser competente, pois a competência se manifesta na ação, não pré-existe a ela. Se faltarem conhecimentos, habilidades e atitudes para serem mobilizados, não há competência. Se os recursos estão presentes, mas não são mobilizados em tempo útil e conscientemente, então, na prática, é como se eles não existissem (LE BOTERF, 2003). As atitudes são contextualizadas. A competência só pode ser competência em situação. Sempre há “competência de” ou “competência para”. Etimologicamente, o termo competência vem do latim competens: “o que vai com, o que é adaptado a”. Por exemplo, uma pessoa pode ser rigorosa ou pontual em uma situação de trabalho e pouco rigorosa ou pontual na organização de sua vida familiar (LE BOTERF, 2003). 5 GUITTET, A. Op. cit. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 15 2.2.5 Revisão da Literatura Quanto ao Perfil do Gerente A combinação de conhecimentos, habilidades e atitudes forma o conjunto dos recursos das competências necessárias para caracterizar o indivíduo e sua valorização no trabalho. A empresa e os indivíduos, lado a lado, propiciam um processo contínuo de troca de competências. A empresa prepara as pessoas para enfrentar novas situações profissionais e pessoais, dentro ou fora da empresa. As pessoas, por seu turno, ao desenvolverem suas capacidades individuais, transferem para a empresa seu aprendizado, dando-lhes condições para enfrentar novos desafios (DUTRA, 2001). Neste sentido, as empresas, de um lado, avaliam as suas competências chave-estratégicas e os indivíduos, de outro lado, avaliam as suas competências chave-gerais. As competências chave-estratégicas são as competências profissionais específicas e essenciais num determinado setor de atividades. As competências chave-gerais são à base da adaptabilidade dos trabalhadores à evolução técnico-econômica (LOPES, 2002). A avaliação pela empresa e a auto-avaliação pelo indivíduo é muito complexa, face os números de variáveis que existem. Em função disso tem-se aumentado cada vez mais os estudos dedicados à avaliação de competências. A seguir, são apresentados alguns casos que exemplificam os mecanismos utilizados para coletar os dados. O primeiro caso constitui-se de uma pesquisa realizada por ECHEVESTE et al. (1999), cujo objetivo era traçar o perfil do gerente, face às exigências do mercado globalizado. A coleta de dados realizou-se em duas etapas principais. A etapa inicial foi caracterizada pela realização de entrevistas com gerentes pertencentes ao setor de química, petroquímica, farmacêutica, comércio atacadista, comércio varejista, automóveis, peças e alimentos, situados nas regiões sul e sudeste do Brasil e pela revisão da literatura. Os recursos das competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), citados pelos gerentes nas entrevistas, constituíram as variáveis do questionário utilizadas no levantamento. O segundo momento teve como objetivo medir o grau de importância para cada um dos recursos levantados na primeira etapa. No instrumento de coleta de dados (questionário) cada recurso deveria VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 16 receber uma nota de 0 (menos relevante) a 10 (mais relevante), quanto à importância deste na atuação do gerente (ECHEVESTE et al., 1999). O segundo caso constituiu-se de uma pesquisa, cujo objetivo era definir diversos perfis de competências para os estudantes de engenharia do Instituto Superior Técnico (IST) de Portugal. A abordagem utilizada para elaborar o instrumento de coleta de dados foi a pesquisa documental. Esta pesquisa foi realizada em documentos de associações como a Accreditation Board for Engineering and Technology (ABET), Fédération Européenne d’Associations Nationales d’Íngénieurs (FEANI), Ordem dos Engenheiros de Portugal (OE) e em documentos da Instituição de Ensino. Além disso, houve a contribuição dos vários coordenadores dos cursos do IST. A partir deste levantamento, realizou-se uma matriz de competências para detectar o grau de importância dos indicadores, em uma escala de 1 a 4. A matriz se divide em quatro grupos: saber (conhecimento teórico); saber-fazer (habilidades técnicas); saber-fazer (habilidades humanas) e saber-aprender (habilidades cognitivas). A coleta de dados se deu junto aos profissionais formados nos cursos do IST, aos seus empregadores e aos alunos que estavam concluindo os cursos (LOPES, 2002). O terceiro caso trata de uma pesquisa com gerentes de obras australianos, onde foi utilizada a revisão da literatura para elaborar o instrumento de coleta de dados. Além disso, foi formado um grupo para avaliar estes dados levantados. A partir disso, foi elaborado o instrumento de coleta de dados (questionário) para detectar o nível de habilidade e a importância de cada competência, de acordo com a percepção do gerente de obras, em escalas de 1 a 5 (FRASER, 1999). Os três casos relatados apresentam a revisão da literatura como ponto em comum para a elaboração do instrumento de coleta de dados. Além disso, verifica-se também a importância das opiniões dos profissionais atuantes no mercado de trabalho ou nas Instituições de Ensino Superior, nesta etapa da pesquisa. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 17 2.3 O GERENTE Nesta seção discorre-se sobre a função do gerente nas empresas, bem como os principais estudos sobre o trabalho do gerente encontrados na literatura. 2.3.1 Definição de Gerente O termo gerente derivou do latim e significa “que ou quem gere ou administra negócios, bens ou serviços” (FERREIRA, 1986). A essência do trabalho do gerente é tomar decisões sobre problemas divergentes, que não tem respostas simples (SENGE6 apud HIROTA, 2001). Os gerentes não são as pessoas que de fato executam o trabalho; em vez disso, eles são responsáveis por determinar qual trabalho deverá ser feito, onde será feito e com que propósito (LAUDON; LAUDON, 1999). Além disso, BOOG (1991) complementa, afirmando que o gerente faz a ligação entre a empresa e as pessoas que nela trabalham. Na maioria das empresas, os gerentes agrupam-se em três níveis principais, que formam uma hierarquia. No alto da hierarquia, no primeiro nível, encontram-se os diretores. No segundo nível, abaixo dos diretores, encontram-se os gerentes. No último nível, encontram-se os supervisores (MAXIMIANO, 2000). O gerente, que é objeto desta dissertação, enquadra-se no segundo nível, logo abaixo do diretor. Ele é responsável pela coordenação da função produção/operação da empresa. É o gerente que transforma os grandes objetivos da gerência superior em objetivos específicos, define e mobiliza recursos e controla a realização das atividades (MAXIMIANO, 2000). O gerente de produção/operação, mais especificamente, é responsável pela produção dos suprimentos de bens ou serviços nas empresas. Além disso, toma as decisões com respeito à função de operações e dos sistemas de transformação utilizados (SCHROEDER, 1993). Existem vários estudos sobre o trabalho gerencial na literatura, os mais citados são os de FAYOL (1965) e de MINTZBERG (1973), conforme se apresenta na próxima seção. 6 SENGE, The leader’s new work: building learning organizations. In: KOLB, D.A.; OSLAND, J.S.; RUBIN, I.M. The organizational behavior reader. 6 ed. New-Jersey: Prentice-Hall, 1995. p. 76-95. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 18 2.3.2 A Visão de Fayol Um dos estudos que possibilitaram o entendimento das competências requeridas dos gerentes é atribuído a FAYOL (1965). Segundo o autor, as funções gerenciais compreendem as atividades de prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Para FAYOL (1965) gerenciar não é privilégio exclusivo e nem encargo dos dirigentes da empresa, mas é uma função que se reparte entre as funções da empresa. A seguir, definem-se os elementos do gerenciamento, segundo a definição de FAYOL (1965): a) prever consiste em deduzir as possibilidades do futuro a partir de um conhecimento definido e completo do passado. É perscrutar o futuro e traçar o programa de ação; b) organizar é dotar a empresa de tudo que é útil para seu funcionamento, o organismo material (matérias-primas, utensílios, capitais) e o organismo social (pessoal); c) comandar é dirigir o pessoal; d) coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os atos e todos os esforços. É, por exemplo, considerar, em uma operação de produção, as obrigações e as conseqüências que essa operação acarreta para todas as funções da empresa; e) controlar consiste em cuidar para que todas as operações sejam sempre executadas de acordo com o plano adotado, com as ordens dadas e os princípios estabelecidos. Mais recentemente, autores como MEGGINSON, MOSLEY e PIETRI (1998), reduziram estas características a quatro funções gerenciais: planejar, organizar, liderar e controlar, conforme se verifica a seguir: a) planejar é a função do gerente de escolher ou estabelecer a missão da empresa, seu propósito e objetivos e determinar as diretrizes necessárias para atingi-los; VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 19 b) organizar consiste em determinar os recursos necessários para atingir os objetivos da empresa, combinar esses recursos em grupos práticos, designar a responsabilidade a funcionários responsáveis e lhes delegar autoridade necessária para realizar tarefas; c) liderar é a função do gerente de influenciar os funcionários para alcançar os objetivos, o que envolve qualidade, o estilo e o poder do líder, e também suas atividades relacionadas à comunicação, motivação e disciplina; d) controlar é delinear meios para se ter certeza de que o desempenho planejado seja realmente atingido. Controlar envolve estabelecer padrões de desempenho, determinar métodos de medir desempenho, medir o desempenho real, comparar com os padrões pré-estabelecidos e empreender ação corretiva, quando necessário, para que o desempenho real se ajuste ao padrão. Portanto, para haver um controle eficaz, deve existir primeiro planejamento, organização e liderança. Desde os estudos de FAYOL (1965), o entendimento do que vem a ser um gerente evoluiu significativamente, sendo que hoje se percebe o aumento do escopo de atuação e, desta forma, as competências requeridas. Como exemplo desta mudança de paradigma, pode-se citar o estudo de MINTZBERG (1973). 2.3.3 A Visão de Mintzberg MINTZBERG (1973) desenvolveu uma taxonomia composta de dez papéis gerenciais para codificar as atividades observadas em seu estudo sobre os gerentes. Os dez papéis explicam todas as atividades gerenciais e estão divididos em três grupos principais, os papéis interpessoais (representativo, líder, contato), os papéis informacionais (monitor, disseminador e porta-voz) e os papéis decisionais (empresário, solucionador de conflitos, alocador de recursos e negociador). A seguir, estão descritos os dez papéis do gerente segundo MINTZBERG (1973): VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 20 a) papéis interpessoais: - representativo: desempenha funções cerimoniais e simbólicas, como assinar documentos legais (contratos, autorizações de despesas), presidir reuniões, receber visitas oficiais, entre outras; - líder: contrata, orienta, motiva, treina, aconselha, se comunica, promove e demite os subordinados. Além disso, cria condições favoráveis de trabalho; - contato (network): estabelece e mantém uma rede de relacionamentos com indivíduos e grupos externos à empresa. b) Papéis informacionais: - monitor: procura e recebe informações, de várias fontes, através da leitura de periódicos e relatórios, comparecendo a reuniões, mantendo contatos pessoais, entre outras; - disseminador: transmite informações a membros internos e externos à empresa; - porta-voz: transmite informações e expressa declarações de valor para pessoas externas à empresa, por meio de palestras, relatórios e memorandos. c) Papéis decisionais: - empresário: identifica novas idéias e inicia projetos de aperfeiçoamento que ele mesmo pode supervisionar ou delegar aos outros; - solucionador de conflitos: toma atitudes corretivas durante disputas ou crises, resolve conflitos entre subordinados, resolve crises como a perda de um subordinado importante, um incêndio, um acidente, uma greve, entre outras; - alocador de recursos: aloca recursos como dinheiro, pessoal, material, equipamento, instalações e serviços. Decide quem obtém os recursos, prepara o planejamento, o orçamento e a definição de prioridades; VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil - 21 negociador: representa os interesses departamentais durante as negociações de contratos sindicais, contratos com clientes importantes, fornecedores e orçamentos. 2.3.4 Discussão Verifica-se nos dois estudos apresentados que o trabalho gerencial compreende atividades de tomar decisões, principalmente decisões de planejamento, organização, direção e controle de recursos para realizar objetivos e decisões sobre o próprio tempo; atividades de processar informações; atividades de relacionar-se com pessoas, internas e externas à empresa e atividades de comandar pessoas. Percebe-se que as questões sobre o aprendizado organizacional, foco dos estudos de SENGE (1990) não foram mencionadas por esses autores. Verifica-se que os estudos apresentam algumas similaridades e possuem sobreposição de funções. Os papéis interpessoais de MINTZBERG (1973) relacionam-se com as funções de comandar, coordenar e controlar de FAYOL (1965). Além disso, os papéis decisionais de MINTZBERG (1973) relacionam-se em parte com a função de organizar de FAYOL (1965), pois o primeiro apresenta uma visão mais estratégica. As cinco funções gerenciais estudadas inicialmente por Fayol foram reduzidas por desempenhadas alguns em autores qualquer para ordem quatro ou funções. seqüência, Estas mas podem ser costumam ser desempenhadas na seguinte ordem: planejar, organizar, liderar e controlar. Assim sendo, não se pode dizer que uma função seja mais importante do que a outra, todas são necessárias, porém devem ser coordenadas para atingirem um nível ótimo de desempenho. O papel da gerência envolve claramente muito mais que simplesmente planejar, organizar, liderar e controlar. Todas estas funções são desempenhadas, mas não de maneira racional ou seqüencial. Além delas, espera-se que os gerentes estimulem, cuidem, informem, motivem e decidam (LAUDON; LAUDON, 1999). Sob este ponto de vista, Mintzberg desenvolveu um estudo sobre os papéis gerenciais que se aplicam a qualquer gerente, mas a importância relativa pode variar VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 22 de um tipo de gerente para outro e do ambiente em que estão inseridos. Os papéis gerenciais são amplamente pré-determinados pela natureza da posição gerencial. Além disso, os gerentes têm alguma flexibilidade na maneira com que cada papel é interpretado e desempenhado. 2.4 O PAPEL DO GERENTE SOB A ÓTICA DA COMPETÊNCIA A abordagem de competências, definida na primeira seção deste Capítulo possui algumas vantagens em relação às abordagens de FAYOL (1965) e de MINTZBERG (1973). A abordagem de competências distingue conhecimentos, habilidades e atitudes, permitindo, desta forma, um tratamento mais sistemático e analítico dos recursos a serem desenvolvidos. As competências específicas que são necessárias para ocupar um cargo de gerente dependem de suas tarefas, da cultura da empresa, entre outros fatores. A competência gerencial se difere da competência empresarial, pois a primeira é o conjunto de qualidades e características que os gerentes desenvolvem para atingir continuamente os resultados de uma empresa. A segunda consiste no conjunto de qualidades e características que a empresa desenvolve para produzir e aperfeiçoar, com continuidade, bens e serviços que atendam às necessidades de seus clientes e usuários (BOOG, 1991). Nas seções seguintes estão descritos os conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para desempenhar o papel de gerente. 2.4.1 Saber 2.4.1.1 Conhecimentos requeridos para o gerente Os conhecimentos incluem todas as técnicas e informações que o gerente domina e que são necessárias para o desempenho do cargo. Além do conhecimento técnico, outros conhecimentos importantes para um gerente abrangem conceitos sobre o comportamento humano e seus conflitos e sobre técnicas de gerenciamento (MAXIMIANO, 2000). Um bom conhecimento da área de atuação e uma ampla visão de como se operam os negócios são aspectos imprescindíveis para a eficiência de um gerente. Conhecimentos de assuntos financeiros, técnicos ou funcionais também VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 23 são os fundamentais (KLEMP, 1999). Para ECHEVESTE et al. (1999) conhecimentos mais relevantes ao gerente se referem à visão da empresa. A fim de possuir visão da empresa, o gerente deve ter conhecimento das funções da empresa, que incluem, de maneira geral, a gestão empresarial, gestão da produção, gestão de finanças, gestão de marketing, gestão de recursos humanos, gestão de projetos (design), gestão da segurança e higiene do trabalho, gestão ambiental, gestão da qualidade, gestão de suprimentos, gestão da informação e gestão da tecnologia. Dependendo do porte e da complexidade da empresa, algumas destas funções podem estar integradas e realizadas por uma ou mais pessoas. O Quadro 2.1 apresenta a definição de cada uma das áreas funcionais da empresa. QUADRO 2.1 – DEFINIÇÃO DAS ÁREAS FUNCIONAIS DA EMPRESA continua FUNÇÕES Empresarial Produção (ou operações) Finanças Marketing DEFINIÇÃO Consiste em interpretar os objetivos propostos pela empresa e transformá-los em ação empresarial através de planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e níveis da empresa, a fim de atingir tais objetivos. Para tanto, a gerência precisa mapear o ambiente externo e dar condições de eficiência à tecnologia utilizada, através da estratégia empresarial, integrando os recursos e os esforços em todas as áreas e níveis da empresa (CHIAVENATO, 1982). Consiste naquelas atividades orientadas para a produção de um bem físico ou a prestação de um serviço. Neste sentido, a palavra produção liga-se às atividades industriais, enquanto a palavra operações refere-se às atividades desenvolvidas em empresas de serviço (MOREIRA, 1993). As atividades envolvidas na produção de bens ou serviços incluem projetar, operar e controlar um sistema para transformar recursos humanos, financeiros e físicos em produtos ou serviços necessários. Um sistema de produção ou operações consiste em insumos, processos e produtos. Os insumos incluem pessoas, dinheiro, materiais, instalações e outros elementos. Os processos, ou operações envolvem a transformação desses insumos em mercadorias e serviços que as pessoas desejam, ou seja, o produto (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998). Consiste na arte e na ciência de gerenciar recursos financeiros para maximizar a riqueza dos acionistas. Suas funções principais são: planejamento, controle, orçamento, previsões, fluxo de caixa, investimentos, financiamentos, crédito, cobrança, câmbio, operações bancárias e gerenciamento de risco (LEMES; RIGO; CHEROBIM, 2002). Consiste na análise, no planejamento, na implantação e no controle de programas, destinados a levar a efeito as trocas desejadas com públicos visados e tendo por objetivo o ganho pessoal ou mútuo. Ele se baseia fortemente na adaptação e na coordenação de produto, preço, promoção e lugar para alcançar uma reação eficiente (KOTLER, 1986). VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 24 QUADRO 2.1 – DEFINIÇÃO DAS ÁREAS FUNCIONAIS DA EMPRESA conclusão FUNÇÕES Recursos Humanos DEFINIÇÃO Consiste nas atividades que tratam da administração de pessoas. Compreendem as funções de recrutamento, seleção, remuneração, treinamento, desenvolvimento, avaliação do desempenho, pesquisa e auditoria e desligamento (MONTANA; CHARNOV, 2003). Projetos (design) Suas principais atividades compreendem a assessoria para a contratação de projetos, a coordenação e acompanhamento dos projetos e os estudos técnicoseconômicos (VIEIRA NETTO, 1988). Consiste no reconhecimento, avaliação e controle das condições, atos e fatores humanos de insegurança nos ambientes de trabalho, com o intuito de evitar acidentes com danos materiais e principalmente à saúde do trabalhador (WEBSTER, 1996). Consiste na forma como uma empresa gerencia as relações entre suas atividades e o meio-ambiente que as abriga. O foco da gestão ambiental é a empresa e não o meio-ambiente. Somente através de melhorias em produtos, processos e serviços serão obtidas reduções nos impactos ambientais causados pela empresa (VITERBO, 1998). Consiste em melhorar continuamente a produtividade em cada nível de operação e em cada área funcional de uma empresa, utilizando todos os recursos financeiros e humanos disponíveis. A melhoria é direcionada para satisfazer objetivos amplos, tais como custo, qualidade, visão de mercado, planejamento e crescimento da empresa. O gerenciamento da qualidade combina técnicas fundamentais de gerenciamento, esforços de melhoria existentes e inovadores e técnicas especiais para aperfeiçoar continuamente todos os processos. (BROCKA; BROCKA, 1994). É um mecanismo regulador por meio do qual as componentes da qualidade são mantidas num valor ótimo, do ponto de vista da empresa e do ponto de vista do cliente. Visa conciliar dois objetivos fundamentais: a satisfação do cliente e a rentabilidade da empresa (FEY; GOGUE, 1989). Consiste na determinação da necessidade, através do planejamento dos recursos de fabricação. Este planejamento integra dados de outros departamentos, como produção, marketing, finanças, recursos humanos e projetos. Além disso, inclui também o controle de estoque e a relação com os fornecedores (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998). Consiste em um conjunto de seis processos distintos, mas interrelacionados: identificação de necessidades informacionais; aquisição de informação; organização e armazenagem da informação; desenvolvimento de produtos informacionais e 7 serviços; distribuição da informação e uso da informação (CHOO apud TARAPANOFF, 2001). Consiste na seleção, implementação, melhoria e substituição de tecnologias de produção e, também, aquelas relacionadas à tecnologia de informação e comunicação. Segurança e Higiene do Trabalho Ambiental Qualidade Suprimentos Informação Tecnologia 7 CHOO, C. W. Information management for the intelligence organization: the art of scanning the environment. 2. ed. Medford, N.J.: Information Today, 1998. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 25 Os conhecimentos das funções da empresa são imprescindíveis para os gerentes, em todas as áreas de atuação. Os gerentes de obras, por sua vez, atuam em todas essas áreas de gestão. Na indústria de transformação são comuns os departamentos de produção operarem em conjunto com outras áreas de atividades, tais como econômico-financeira e a de marketing, numa atuação sistêmica e integrada, visando atingir os objetivos globais da empresa. Já no setor da construção, isso nem sempre ocorre. Pelo contrário, a análise da literatura permite inferir que, em muitas construtoras, há uma estanqueidade das atividades produtoras, com seus departamentos de engenharia trabalhando isolados das demais atividades da empresa, mantendo relações reduzidas à troca de informações mínimas indispensáveis. Entretanto, o conceito de gerenciamento da produção, que envolve as atividades de planejamento, execução e controle do produto final da empresa deve considerar a atuação integrada do setor de produção às demais atividades e objetivos empresariais (BALARINE, 1990). 2.4.1.2 Aspectos específicos da construção civil Na construção civil, os gerentes possuem deficiências em algumas funções da empresa, em especial nas áreas de gestão de recursos humanos e de gestão da segurança e higiene do trabalho, conforme BALARINE (1990) relata a seguir. A construção é uma indústria que possui usualmente mão-de-obra intensiva em seu processo produtivo. No entanto, é uma das que mais sente dificuldades nesta área. De modo geral, há carência de gerentes especialistas em recursos humanos atuando dentro de construtoras. O despreparo e a inexperiência nesta especialização faz com que as construtoras releguem a segundo plano algumas atividades tais como recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoal, gerando deficiências e dificuldades funcionais (BALARINE, 1990). Na literatura, estudos apontam que, na região sudeste do Brasil, os gerentes de obras (engenheiros) também possuem carência de conhecimento em gerenciamento de recursos humanos (SABOY; JOBIM, 2001). No que se refere à gestão da segurança e higiene do trabalho, BALARINE (1990) comenta que, na construção civil, nos canteiros de obras, existe a necessidade de programas específicos de educação voltada para a segurança no trabalho. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 26 Além dos conhecimentos das funções da empresa, o gerente de obras deve entender do empreendimento como um todo, demonstrando visão e experiência em outros empreendimentos equivalentes (VIEIRA NETTO, 1988). Esta visão é necessária, pois os problemas detectados ao longo do processo de desenvolvimento de um empreendimento têm implicações na sua cadeia de atividades. A análise de causas e repercussões é complexa e abrangente (envolve desde a definição do projeto, a escolha da clientela a ser atendida e a cadeia produtiva) e, muitas vezes, falta percepção, por parte do gerente, da complexidade do problema (HIROTA, 2001). BALARINE (1990) complementa, afirmando que o profissional atuante na construção civil além de dominar a técnica para construir edificações, pontes e outras obras, precisa dominar também extensa área de conhecimento gerencial, financeiro, recursos humanos e economia. Além disso, LEAL (2002) afirma que o gerente de obras deve ter conhecimentos de planejamento e controle da produção, domínio da língua inglesa e de informática e ter conhecimentos gerais. DANNA (1996) relata que o engenheiro deve ter uma visão sistêmica de sua área de formação e de sua interrelação com áreas correlatas, sob o ponto de vista tecnológico, social, econômico e ambiental. Além disso, deve ter pleno domínio sobre qualidade total, segurança, higiene do trabalho e gerenciamento ambiental, bem como compreensão dos problemas administrativos, econômicos, políticos e sociais e dos aspectos normativos. BALARINE (1990), DANNA (1996) e LEAL (2002) concordam que o profissional deve ter conhecimentos de questões jurídicas. No setor da educação, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, prevêem um conjunto de conhecimentos para capacitar os profissionais no exercício das habilidades gerais (ver 2.4.2.2). No núcleo básico destacam-se os seguintes conhecimentos: administração; economia; ciências do ambiente; humanidades, ciências sociais e cidadania. No núcleo profissionalizante destacam-se os seguintes conhecimentos: construção civil; engenharia do produto; ergonomia e segurança do trabalho; estratégia e organização; gerência da produção; gestão ambiental; gestão econômica; gestão da tecnologia; processos de fabricação e qualidade (CNE/CSE, 2002). VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 27 O gerente é o indivíduo que faz a ligação entre a empresa e as pessoas que nela trabalham. Em função disto deve ter conhecimentos das áreas funcionais da empresa. Na literatura, conforme se verifica nos estudos de BALARINE (1990), os gerentes da construção civil têm apresentado deficiências nas áreas de gestão de recursos humanos e de gestão da segurança e higiene da obra. 2.4.2 Saber-Fazer 2.4.2.1 Habilidades requeridas para o gerente Para o gerente executar seu trabalho eficientemente, ele necessita de uma combinação de habilidades técnicas, habilidades humanas e habilidades conceituais (KATZ, 1974). Estas habilidades são descritas a seguir segundo o mesmo autor: a) habilidades técnicas: consistem em utilizar conhecimentos, métodos, técnicas e equipamentos necessários para a realização de suas tarefas específicas, por meio de sua instrução, experiência e educação; b) habilidades humanas: representam a habilidade que o gerente deve ter no trato com as pessoas, compreensão das suas necessidades e atitudes. Como o gerente deve atingir resultados com pessoas, é necessário um trabalho efetivo em equipe, liderança do pessoal com boa comunicação. Além disso, pode ser incluída nestas habilidades a sensibilidade em situações particulares e flexibilidade na adoção dos mais apropriados estilos de gerenciamento; c) habilidades conceituais: envolvem a capacidade de compreender e lidar com a complexidade total da empresa e de utilizar o intelecto para formular estratégias, analisar problemas e tomar decisões. Criatividade, planejamento, raciocínio abstrato e entendimento do contexto são manifestações da habilidade conceitual. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 28 As definições das habilidades técnicas, humanas e conceituais não são rígidas, pois existe um sombreamento entre as mesmas. De acordo com KATZ (1974) estas três habilidades gerenciais, que consistem na capacidade de transformar o conhecimento em ação, mudam de peso relativo em função do nível hierárquico do gerente, de acordo com a Figura 2.2. Níveis empresariais FIGURA 2.2 – A IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS HABILIDADES NOS DIFERENTES NÍVEIS GERENCIAIS Conceituais Gerência superior Gerência média Supervisão Humanas Técnicas Habilidades necessárias FONTE: KATZ, L. R. Skills of an effective administrator. Harvard Business Review, p. 90-102, set./out. 1974 Conforme o gerente sobe na hierarquia da empresa, a importância das habilidades técnicas diminui, enquanto as habilidades conceituais tornam-se mais necessárias. No nível empresarial inferior, os supervisores precisam das habilidades técnicas e humanas para poder usufruir e formar técnicos e demais subordinados. No nível empresarial mais alto, os diretores não precisam conhecer em detalhes as tarefas específicas executadas no nível operacional, mas dominar as habilidades conceituais (KATZ, 1974). Nota-se que no nível da gerência média, no qual se enquadra o gerente de obras, foco desta dissertação, verifica-se a maior necessidade das habilidades humanas e conceituais. As habilidades humanas têm um peso maior, conforme se verifica na Figura 2.2. YULK (1994), MEGGINSON, MOSLEY e PIETRI (1998) distinguem uma quarta categoria de habilidades do gerente, as administrativas. Segundo os mesmos autores as habilidades administrativas se referem ao conjunto de habilidades VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 29 associadas a funções de planejamento, organização, negociação, treinamento, contratação de pessoas e controle. Estas habilidades incluem a habilidade do gerente para se adaptar a diretrizes e procedimentos, para processar os papéis de forma ordenada e equilibrar as despesas dentro dos limites do orçamento. Habilidades administrativas envolvem usualmente uma combinação de habilidades técnicas, cognitivas e humanas. Os estudos sobre as habilidades gerenciais de MINTZBERG (1973) identificam maior número de habilidades que os de KATZ (1974) e estão associados diretamente aos dez papéis gerenciais que criou (ver 2.3.3). A seguir estão descritas as oito habilidades propostas por MINTZBERG (1973): a) habilidades de relacionamento com colegas: neste grupo está toda a capacidade de estabelecer e manter relações formais e informais com os colegas, especialmente do mesmo nível hierárquico, para atender a seus próprios objetivos ou servir a interesses recíprocos; b) habilidades de resolução de conflitos: estão incluídas neste grupo as habilidades humanas de conciliar conflitos entre as pessoas e as habilidades de tomar decisões para resolvê-los; c) habilidades de comunicação e processamento de informações: os gerentes devem aprender a construir redes informais e desenvolver habilidades de comunicação, como expressar eficazmente suas idéias e falar oficialmente como representante da empresa. A comunicação consiste no processo de transferir e receber informações. As informações são dados empresariais que possibilitam a análise de situações e tomada de decisões (MAXIMIANO, 2000). Grande parte do tempo do gerente é gasta com alguma forma de comunicação: lendo, ouvindo, escrevendo ou falando. Comunicação consiste no processo de transferir significado de uma pessoa para outra na forma de idéias ou informação. Uma troca eficaz envolve mais do que a simples transmissão de dados. Exige que o transmissor e o receptor usem habilidades – falar, escrever, ouvir, ler – para que a troca de significado tenha sucesso. Ao conversar, uma verdadeira troca de significado abrange mais do que as VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 30 simples palavras usadas. Inclui certo grau de ênfase, expressão facial, inflexão vocal e todos os gestos involuntários e não-intencionais que sugerem o significado real (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998). A comunicação serve de ponte entre a meta e a criação de padrões de desempenho. A comunicação eficaz é absolutamente essencial para o sucesso gerencial e empresarial, pois se um gerente não conseguir se comunicar com seus subordinados, a atividade gerencial terá pouco sucesso (MONTANA; CHARNOV, 2003); d) habilidades para tomar decisões em condições de ambigüidade: a maioria das situações que os gerentes enfrentam, não é estruturada. São situações imprevistas, que precisam ser diagnosticadas e que exigem do gerente a capacidade de decidir, em primeiro lugar, se é preciso decidir. Além disso, o gerente não lida com uma decisão de cada vez. Freqüentemente, o gerente enfrenta inúmeros problemas e precisa tomar muitas decisões em curtos períodos. Ambigüidade é o que acontece quando o gerente tem poucas informações para lidar com estas situações e esta é inerente a muitas decisões gerenciais. Tomar decisões pode ser definido como a escolha consciente de um rumo de ação entre várias alternativas possíveis para se chegar a um resultado desejado. A tomada de decisão envolve vários aspectos. Primeiro, envolve uma escolha consciente, não uma reação involuntária ou inconsciente. Segundo, deve haver duas ou mais alternativas disponíveis ou não haverá necessidade de decidir. Terceiro, o rumo de ação escolhido leva a um resultado esperado (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998); e) habilidades de alocação de recursos: os gerentes lidam com recursos limitados que devem ser usados para atender às necessidades que concorrem entre si. Eles devem decidir para quais atividades alocar seu tempo, ou para quais projetos alocar funcionários. A delegação consiste no processo pelo qual os gerentes distribuem e dão a incumbência de realizar atividades e a respectiva autoridade para tanto, a outras pessoas na empresa. As principais razões para se delegar são a possibilidade de VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 31 realizar mais do que se tentasse fazer tudo sozinho. Além disso, a delegação permite que os gerentes focalizem sua energia nas tarefas cruciais e de alta prioridade e nas atividades que precisam realizar, tais como planejamento e coordenação da equipe (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998). Assim, a habilidade de alocação de recursos fornece ao gerente os critérios para a definição de prioridades, a fim de que as escolhas sejam as melhores; f) habilidades empresariais: estas habilidades envolvem a busca de problemas oportunidades e a implementação controlada de mudanças empresariais, com inovação e criatividade; g) habilidades de introspecção: relacionam-se com a capacidade de reflexão e auto-análise. O gerente deve ser capaz de entender seu cargo e seu impacto sobre as pessoas e sobre a empresa; h) habilidades de liderança: são necessárias para a realização de tarefas que envolvem a equipe de subordinados do gerente, tais como: orientação, treinamento, motivação, uso da autoridade. Outros aspectos da liderança referem-se à avaliação do desempenho e ao estabelecimento de metas (MONTANA; CHARNOV, 2003). Além disso, KLEMP (1999) indica também a obtenção de resultados, a concentração no cliente e a comunicação como aspectos críticos da liderança. Na literatura, outros autores como MEGGINSON, MOSLEY e PIETRI (1998) definem liderança como um processo de influenciar as atividades individuais e grupais no estabelecimento e atendimento das metas. Sob o ponto de vista prático, liderar envolve comunicar-se com pessoas, organizar equipes, suscitar mudanças e, fundamentalmente motivar empregados. Segundo MAXIMIANO (2000), a palavra motivação (derivada do latim motivus, movere, significa mover) indica o processo pelo qual um conjunto de razões ou motivos explica, induz, incentiva, estimula ou provoca algum tipo de ação ou comportamento humano. A motivação, em contrapartida, se relaciona com a compreensão do porquê do comportamento humano. Se houver conhecimento da razão pela qual as pessoas fazem o que fazem, pode-se compreender melhor, prever e influenciar esse VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 32 comportamento. A motivação, sob a ótica gerencial, é o processo de induzir uma pessoa ou grupo, cada qual com necessidades e personalidades distintas, a atingir os objetivos da empresa, enquanto tenta também atingir os objetivos pessoais (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998). Um aspecto importante da liderança refere-se ao uso do poder para influenciar os outros eficazmente. O poder consiste na habilidade gerencial de influenciar subordinados e colegas por meio do controle dos recursos empresariais. Os tipos de poder empresarial podem ser: legítimo, de recompensa, coercitivos, de especialização, de referência ou de informação, ou ainda uma combinação destas formas de poder. Estes tipos de poder podem ser adquiridos pelos gerentes de várias maneiras, conforme está descrito a seguir (MONTANA; CHARNOV, 2003): a) poder legítimo: este poder é atribuído a um indivíduo que ocupa uma posição específica dentro de uma empresa. Caso o gerente deixe o cargo, o poder continua a existir na posição e não pode seguir o indivíduo; b) poder de especialização: está relacionado com as habilidades de um gerente. Este poder deriva de talentos especiais, do conhecimento, das habilidades e da experiência anterior de um indivíduo. Ressalta-se que o valor colocado sobre uma habilidade dentro da empresa é transitório. Assim, como o tempo passa, o que é necessário e valioso para a empresa também muda; c) poder de recompensa: é também inerente à estrutura da empresa. Pelo fato dos subordinados desejarem as recompensas, eles são influenciados pela possibilidade de recebê-las como produto de seu desempenho. Os gerentes acenam com uma variedade de recompensas para motivar o desempenho no trabalho; d) poder coercitivo: está relacionado à habilidade do gerente em punir um funcionário. A punição se manifesta de várias maneiras, indo de uma simples advertência, até uma suspensão ou o desligamento efetivo; e) poder de referência: também chamado de carisma pessoal, é o poder de um indivíduo de influenciar um outro por sua força de caráter; VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 33 f) poder da informação: deriva da posse de informação importante em um momento crítico quando esta é necessária ao funcionamento da empresa. Verifica-se alguns pontos em comum nos estudos de KATZ (1974) e de MINTZBERG (1973). Estes se referem às habilidades humanas, as habilidades para compreender as necessidades e atitudes das pessoas, as habilidades para liderar o pessoal e as habilidades de comunicação. As habilidades conceituais também foram abordadas pelos dois autores, compreendendo a visão do negócio e as habilidades para tomar decisões. 2.4.2.2 Aspectos específicos da construção civil No setor da construção civil, alguns autores como VIEIRA NETTO (1988) e DANNA (1996) afirmam que as habilidades necessárias ao gerente de obras compreendem a determinação para cumprir e fazer cumprir as tarefas sob sua responsabilidade, ou seja, querer realizar, ter capacidade de mobilização, liderança, iniciativa e poder de persuasão. Além disso, deve ter sensibilidade no trato com os integrantes de sua equipe, a chefia, com os clientes e fornecedores e ter capacidade de delegação. Para LEAL (2002) as habilidades necessárias aos gerentes de obras compreendem a liderança, boa comunicação, habilidades para administrar custos, negociar e saber lidar com clientes. O perfil atual dos gerentes da construção civil, segundo KOSKELA8 apud LANTELME et al. (2002) caracteriza-se como centralizador, orientado a tarefas e aos resultados de curto prazo. De acordo com o mesmo autor, o gerenciamento da construção tem uma forte vertente reducionista que se expressa por uma clara divisão entre as atribuições de planejar (gerente) e de executar (operários) e uma visão não sistêmica, centrada no controle de pessoas e a análise fragmentada dos problemas. O raciocínio sistêmico consiste na capacidade de transcender às limitações posicionais e compreender as relações que caracterizam os sistemas. A tarefa é tornar o complexo inteligível sem reduzir a realidade a relações simplistas (SENGE, 1990). 8 KOSKELA, L. An exploration towards a production theory and its application to construction, 2000, VTT Technical Research Centre of Finland, Espoo. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 34 No setor da educação, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, prevêem um conjunto de conhecimentos citados na seção 2.4.1.2 deste Capítulo, que deve capacitar os profissionais para o exercício das seguintes habilidades gerais: aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à engenharia; projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados; conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos; planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia; identificar, formular e resolver problemas de engenharia; desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas; supervisionar a operação e a manutenção de sistemas; avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas; comunicarse eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica; atuar em equipes multidisciplinares; compreender e aplicar a ética e a responsabilidade profissional; avaliar o impacto das atividades de engenharia no contexto social e ambiental e avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia (CNE/CSE, 2002). 2.4.3 Saber-Ser 2.4.3.1 Atitudes requeridas para o gerente Muitas atitudes gerenciais podem ser confundidas com habilidades. Ressalta-se que as habilidades são os conhecimentos transformados em ação, enquanto as atitudes estão relacionadas à postura e a maneira de agir do indivíduo. Das muitas atitudes que influenciam o comportamento dos gerentes, as atitudes em relação às pessoas têm provavelmente o impacto mais forte. McGREGOR (1992) desenvolveu uma proposição para avaliar esse tipo de atitude, bem como o efeito sobre o estilo gerencial, com base na idéia de que há duas maneiras opostas de interpretar as pessoas. As duas maneiras são chamadas de Teoria X e Teoria Y. O princípio central da Teoria X é direção e controle, através de um sistema empresarial centralizado e do exercício da autoridade, enquanto na Teoria Y o princípio central é a integração dos objetivos individuais e empresariais. O Quadro 2.2 apresenta as suposições destas duas teorias, conforme McGREGOR (1992). VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 35 QUADRO 2.2 – SUPOSIÇÕES DA TEORIA X E DA TEORIA Y SUPOSIÇÕES DA “TEORIA X” SUPOSIÇÕES DA “TEORIA Y” O ser humano tem aversão ao trabalho e o As pessoas irão exercer autodireção e evitará ao máximo; autocontrole para atingir os objetivos estabelecidos; Por causa desta característica, a maioria das O dispêndio de esforço físico e mental no trabalho pessoas deve ser coagida, controlada, dirigida ou é tão natural como a diversão ou o descanso e o ameaçada com punição para ser levada a fazer o ser humano, nas condições adequadas, aprende esforço necessário para atingir os objetivos não só a aceitar, mas a procurar empresariais; responsabilidade; O ser humano prefere ser dirigido, quer evitar A capacidade de usar alto grau de imaginação, responsabilidade, tem relativamente pouca engenhosidade e criatividade na resolução dos ambição e deseja, acima de tudo, segurança. problemas da empresa está amplamente distribuída pela população e o potencial intelectual do ser humano só é utilizado parcialmente dentro das condições da vida industrial moderna. FONTE: McGREGOR, D. O lado humano da empresa. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992 Se um gerente apoiar a Teoria X, ele possuirá um estilo autocrático. Enquanto que se apoiar a Teoria Y ele possuirá um estilo mais participativo. As pressuposições da Teoria Y ressaltam o fato de que os limites da colaboração humana, no ambiente empresarial, não são limites da natureza humana e sim da engenhosidade da direção em descobrir como fazer atuar o potencial representado pelos seus recursos humanos. A Teoria X oferece à direção uma justificatva para um desempenho empresarial ineficiente, que seria devido à natureza dos recursos humanos com os quais se trabalha. Para a Teoria Y, ao contrário, o problema está na direção. Se os empregados são preguiçosos, indiferentes, avessos a assumir responsabilidades, intransigentes, não-criativos e não querem cooperar, a Teoria Y sugere que as causas se encontram nos métodos de organização e de controle empregados na gerência (McGREGOR, 1992). Outro exemplo de atitude que reflete o estilo gerencial em relação ao trato com as pessoas pode ser percebido nos estudos de OUCHI (1986), sobre o gerenciamento no Japão após a Segunda Guerra Mundial. A teoria intitulada de Teoria Z, acentua o planejamento a longo prazo, a decisão por consenso e a lealdade forte e mútua entre chefe e empregados. De acordo com esta teoria a chave para aumentar a produtividade é ter empregados interessados, com o uso de técnicas como a de círculos de qualidade, desenvolvimento de habilidades humanas VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 36 e ampliação das oportunidades e desenvolvimento de carreira (OUCHI, 1986). No que diz respeito à abordagem de competências, atualmente existem dois modelos relacionados com as atitudes que interferem nas práticas de gestão das empresas. No primeiro modelo, herdado das concepções tayloristas e fordistas (1900), o sujeito é considerado como um operador, cuja competência se limita a saber executar operações de acordo com a prescrição. A competência se limita a um saber-fazer descritível em termos de comportamento esperado e observável. Nesse modelo, a competência é objeto de um gerenciamento de controle. No segundo modelo, o sujeito é considerado mais como um ator do que como um operador. O profissional competente é aquele que sabe ir além do prescrito, que sabe agir e, portanto, tomar iniciativas. Diante de ações requeridas, considera-se que existem várias maneiras de ser competente e que diversas condutas podem ser pertinentes. O gerenciamento da competência se dá por condução, ou seja, o gerente procura agir mais sobre o contexto favorável à emergência da competência do que sobre a própria competência (LE BOTERF, 2003). Segundo o mesmo autor, a observação cotidiana revela que os dois modelos coexistem nas empresas. Este ponto de vista não é compartilhado por PERRENOUD (2002), pois ele acredita que o segundo modelo de gestão, descrito por LE BOTERF (2003), já está prevalecendo nas empresas. Isto pode ser evidenciado quando o autor menciona que atualmente não é mais a força pura e simples, mas a inteligência dos operadores que assegura a produtividade das indústrias. A nova organização do trabalho requer que os trabalhadores assumam responsabilidades, façam projetos, envolvam-se, sejam cooperativos, imaginativos e autônomos (PERRENOUD, 2002). Os indivíduos devem estar motivados para irem além do prescrito, agir e tomar iniciativas. Atitudes e interesses são sinônimos de motivação intrínseca, o motor que movimenta internamente as atitudes. A motivação é a disposição de exercitar um nível persistente de esforço na direção de metas empresariais (ROBBINS, 2002). Atitudes favoráveis em relação à empresa ou ao próprio trabalho, por exemplo, influenciam positivamente o desempenho. As pessoas que se sentem atraídas pela carreira gerencial têm grande probabilidade de sucesso como gerentes. Interesses são atitudes favoráveis em relação à profissão, atividades, à VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 37 empresa e a quaisquer aspectos do trabalho. Os interesses orientam o esforço e afetam positivamente o desempenho (MAXIMIANO, 2000). KLEMP (1999) considera a flexibilidade/adaptabilidade e autoconfiança/coragem atitudes importantes dos gerentes. ECHEVESTE et al. (1999) indicam outras atitudes necessárias ao gerente como a atitude pró-ativa. A atitude pró-ativa é representada pelas forças que impulsionam as mudanças nos objetivos e na mobilização de recursos. É a atitude dos gerentes que processam de maneira positiva o feedback que vem do ambiente e de dentro da própria empresa. Essa informação, quando usada pró-ativamente, provoca mudanças que permitem à empresa alterar dinamicamente seus sistemas internos e suas relações com o ambiente (MAXIMIANO, 2000). KLEMP (1999) e ECHEVESTE et al. (1999) concordam que a integridade/sinceridade/ética são atitudes imprescindíveis ao gerente. A ética no gerenciamento consiste nos padrões utilizados para avaliar o que é certo ou errado nas atitudes dos gerentes, em relação aos outros (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998). Os conhecimentos, habilidades e atitudes podem ser desenvolvidos através do treinamento. Segundo MULLINS (1993) o treinamento pode aumentar a confiança, motivação e comprometimento do quadro de funcionários, fornecer reconhecimento, aumentar a responsabilidade, a realização e ajudar a melhorar a disponibilidade e qualidade do quadro de funcionários. Treinamento é o elementochave para melhorar o nível de competência individual e a performance da empresa. Auxilia a conciliar a lacuna entre o que deveria ser esperado, os objetivos desejados, padrões de desempenho, o que está acontecendo e os níveis reais de desempenho do trabalho (MULLINS, 1993). 2.4.3.2 Aspectos específicos da construção civil No setor da construção civil alguns autores relatam as atitudes necessárias ao gerente de produção de obras. Para DANNA (1996) o profissional deve ter senso crítico e ter ética profissional. VIERIA NETTO (1988) indica que o gerente de obras deve ser organizado. FRASER (2000) e LOPES (2002) apontam que o profissional, VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 38 além de ter aspiração na carreira, deve ter uma postura ativa que leve ao desenvolvimento profissional contínuo. Os recursos das competências que são necessárias para um gerente de obras dependem, entre outros fatores, da cultura da empresa. FONTENELLE (2002) explica que as competências são contextuais, exemplificando que nem sempre a competência de um gerente de obras de uma construtora é a mesma almejada para outra. Como a competência é um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, pode acontecer de uma organização exigir do profissional os mesmos conhecimentos e habilidades, entretanto, atitudes compatíveis com a cultura da empresa em que se está trabalhando. As atitudes dos membros de uma empresa são influenciadas por normas de conduta e por regulamentos burocráticos. As normas de conduta representam um dos elementos mais importantes da cultura da empresa, que compreende também os valores, rituais, crenças, hábitos e outros condicionantes das atitudes das pessoas (MAXIMIANO, 2000). A cultura é um padrão de valores compartilhados e suposições sobre como as coisas são feitas dentro de uma empresa. Este padrão é aprendido pelos membros da empresa quando eles enfrentam problemas internos e externos e ensinado aos novos membros como modo correto de perceber, pensar e sentir (DAFT, 1999). No setor da educação, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia deixaram de se referir às atitudes esperadas pelos formandos. Estas atitudes não foram formalmente explicitadas nas Diretrizes (SOUSA, 2002). 2.5 DISCUSSÃO Grande parte do conteúdo dos recursos das competências do gerente de obras encontra-se nos trabalhos de Fayol e Mintzberg, por exemplo, habilidades para relacionar-se com pessoas, para liderar equipes, para alocar recursos, tomar decisões e solucionar conflitos. Contudo, a visão de competências permite distinguir conhecimentos, habilidades e atitudes, possibilitando, desta forma, um tratamento sistemático e analítico dos recursos a serem desenvolvidos. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 39 RUAS (2002), comenta que o nível de complexidade do trabalho do gerente de obras é muito grande e exigir do profissional todos os atributos é desumano. Nenhuma pessoa comum é capaz de desenvolver ou aprimorar todos os recursos das competências gerenciais, citados neste Capítulo. O mais apropriado seria pensar que este conjunto de recursos da competência não é tarefa de um gerente, mas de vários gerentes da empresa. É o somatório dos recursos das competências individuas que irá permitir que a empresa consiga uma performance compatível com os melhores níveis de desempenho. Cada um pode decidir seus percursos de profissionalização, levando simultaneamente em conta as exigências da empresa em que trabalha (LE BOTERF, 2003). Assim, o desenvolvimento dos recursos das competências depende de uma tripla responsabilidade: da própria pessoa, do gerenciamento do trabalho e do sistema de formação. Dentro desta problemática, considera-se fundamental um nível maior de entendimento sobre o desenvolvimento das competências dentro das empresas e nos cursos de formação profissional. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 40 3 O MÉTODO DE PESQUISA 3.1 O CONTEXTO O Capítulo 2 apresentou a revisão da literatura sobre o tema competências, abordou estudos sobre o trabalho gerencial e apresentou as competências gerenciais de maneira geral e no setor da construção. O presente Capítulo apresenta o método de pesquisa escolhido, explica as etapas preparatórias do trabalho desenvolvido e a estratégia de análise adotada. No Capítulo subseqüente, serão apresentados os resultados e as análises obtidas através da aplicação deste método de pesquisa. 3.2 A SURVEY A primeira e mais importante condição para se distinguir entre as diversas estratégias de pesquisa é identificar nelas o tipo de problema proposto (YIN, 2001). Neste sentido a presente pesquisa visa responder ao seguinte problema: qual é o nível atual dos recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) na percepção dos arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em gestão de obras na Região Metropolitana de Curitiba? Desta forma, utilizou-se nesta dissertação o levantamento (survey), pois é o método mais adequado para avaliar as características de uma população. ROBSON (1993) afirma que a survey possui como características fundamentais à seleção de uma amostra de indivíduos de uma população conhecida e a coleta de uma pequena quantidade de dados, em um formato padronizado, de um número relativamente grande de indivíduos. Segundo GIL (2002), neste tipo de estratégia de pesquisa procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de indivíduos acerca do problema estudado. Em seguida, são obtidas as conclusões correspondentes aos dados coletados, mediante análise quantitativa. FLYNN et al. (1990) explica que a survey pode ser aplicada a um grupo homogêneo, com relação a pelo menos uma característica, como por exemplo: uma indústria ou o uso de uma tecnologia comum. Na presente pesquisa, a survey foi aplicada ao grupo dos gerentes de obras, com a intenção de caracterizá-los. Entre VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 41 as principais vantagens deste tipo de estratégia de pesquisa estão o conhecimento direto da realidade, a economia, a rapidez e a quantificação. A survey possui algumas limitações, como a ênfase nos aspectos perceptivos e a limitada apreensão do processo de mudança. Na primeira limitação, a percepção é subjetiva e pode haver distorções nos resultados. Há muita diferença entre o que as pessoas fazem ou sentem e o que elas dizem. A segunda limitação refere-se à visão estática do processo estudado. Esta oferece uma espécie de fotografia de determinado problema, mas não indica suas tendências à variação e nem as mudanças estruturais que podem ocorrer ao longo do tempo. Considerando as vantagens e as limitações expostas, pode-se dizer que a survey é adequada para estudos descritivos (GIL, 2002). As pesquisas descritivas visam estudar as características de determinado grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência e nível de escolaridade. Além disso, incluem-se neste grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. O objetivo primordial deste tipo de pesquisa compreende a descrição das características de determinada população e o estabelecimento de relações entre as variáveis. Uma das características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário (GIL, 2002). Desta forma, a survey realizada teve características descritivas, pois utilizou o questionário como técnica de coleta de dados, descreveu o nível atual dos recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) percebido pelos gerentes de obras da RMC e estabeleceu relações entre as variáveis. 3.3 A SEQÜÊNCIA DAS ATIVIDADES REALIZADAS Durante a realização da presente pesquisa foram executadas diversas atividades, cuja seqüência está apresentada na Figura 3.1. Para a aplicação da survey foi necessário realizar algumas atividades preparatórias, como a revisão da literatura e a aplicação do método Delphi. Os resultados destas duas etapas embasaram a elaboração do instrumento de coleta de dados. Além destas etapas, a aplicação da survey também foi precedida de um teste piloto para detectar possíveis VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 42 falhas no questionário e no processo de envio do mesmo. Após a conclusão das etapas preparatórias colocou-se em prática a survey no universo dos gerentes de obras atuantes no mercado de trabalho na RMC. Os resultados obtidos na survey receberam tratamento estatístico, a fim de detectar possíveis correlações entre as variáveis da amostra coletada. FIGURA 3.1 – A SEQÜÊNCIA DAS ATIVIDADES REALIZADAS NA PESQUISA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Competências e Competências gerenciais MÉTODO DELPHI Identificação dos recursos das competências gerenciais ELABORAÇÃO QUESTIONÁRIO Revisão bibliográfica + Resultados do método Delphi TESTE PILOTO 22 questionários distribuídos SURVEY PESQUISA DOCUMENTAL NOS CURRÍCULOS Amostra de gerentes de obras da RMC Cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil ANÁLISE ESTATÍSTICA ANÁLISE COMPARATIVA 2 Teste X Correlação entre as variáveis Entre os currículos dos cursos. Entre a survey e os currículos. Entre os currículos de Eng. Civil e as novas Diretrizes. PROPOSIÇÕES DE DIRETRIZES CURRICULARES VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 43 Após a conclusão das etapas citadas acima, procedeu-se a uma pesquisa documental nas grades curriculares dos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil. Assim foi realizada uma análise comparativa entre as grades curriculares levantadas. As grades curriculares levantadas também foram analisadas a fim de verificar se as mesmas contemplavam as lacunas identificadas na survey. Além disso, as grades curriculares dos cursos de Engenharia Civil foram confrontadas com as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. As análises dos resultados da survey e da comparação entre as grades curriculares deram origem a proposições de diretrizes curriculares para os cursos de nível superior, relacionados à construção civil, no que tange ao gerenciamento, sendo este o principal produto desta dissertação. 3.4 AS ETAPAS PREPARATÓRIAS DA SURVEY 3.4.1 A Revisão Bibliográfica A revisão bibliográfica abordou o tema competências, os estudos gerenciais e também as competências necessárias ao gerente de produção da construção civil. A leitura de livros, teses, dissertações, anais de encontros científicos (ENTAC, SIBRAGEC) e artigos de periódicos científicos (Construction Management and Economics, Journal of European Industrial Training, Harvard Business Review e Revista de Administração Contemporânea) relacionados ao assunto, deram suporte para este procedimento. 3.4.2 O Método Delphi Na etapa de preparação desta pesquisa, realizou-se o método Delphi. Este método consiste na consulta a um grupo de especialistas, através de um questionário, que é repassado continuadas vezes até que seja obtido um consenso das respostas. Este consenso representa uma consolidação do julgamento intuitivo do grupo. Pressupõe-se que o julgamento coletivo, ao ser bem organizado, é melhor do que a opinião de um só indivíduo. O anonimato dos respondentes e o feedback VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 44 de respostas do grupo para reavaliação nas rodadas subseqüentes são as principais características deste método (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000). O método Delphi passou a ser disseminado no começo dos anos 60, através de pesquisadores da Rand Corporation. O objetivo original era desenvolver um método para aprimorar o uso da opinião de especialistas na previsão tecnológica. A sua utilização é recomendada quando se dispõe de dados não mensuráveis a respeito de um problema que se investiga ou em pesquisas sobre temas recentes (GIOVINAZZO, 2001). A implementação do método consiste no lançamento de questões a um grupo de especialistas de determinadas áreas de conhecimento, conforme ilustra a Figura 3.2. Após o recebimento das respostas, estas são analisadas e tabuladas pelo coordenador da pesquisa. A síntese dos resultados da rodada de questionamento anterior é comunicada aos especialistas que, após nova avaliação, retornam com suas análises críticas do conteúdo. Em cada etapa podem ser introduzidas novas perguntas como forma de estimular a reflexão dos especialistas. As interações se sucedem desta maneira, até que um consenso ou quase consenso, o mais confiável possível, seja atingido (GIUBLIN, 2002). As etapas de perguntas foram chamadas de rodadas nesta dissertação. FIGURA 3.2 – SEQÜÊNCIA DE EXECUÇÃO DE UMA PESQUISA PELO MÉTODO DELPHI Envio via correio eletrônico RODADA ESPECIALISTA ANÁLISE DAS RESPOSTAS Não CONSENSO Sim Feedback RELATÓRIO FONTE: GIUBLIN, C. R. Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra de pavimentação de concreto. Curitiba, 2002. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) - Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná 45 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil O método Delphi, na presente pesquisa, teve como foco questões relacionadas com os recursos das competências necessárias para a gestão da produção na construção civil. Para isso, foram consultados 59 especialistas do setor, pertencentes ao Grupo de Trabalho de Gestão e Economia da ANTAC. Estes especialistas pertenciam a diversas universidades, indústrias e outros segmentos do setor, que estavam situados em todo o território brasileiro. O método foi aplicado pela internet, em uma extranet denominada de Sistema de Gestão de Projetos (SIGEP) <http://solar.cesec.ufpr.br/projetos/sigep>. Esta extranet é uma internet privada de uma instituição que é acessível a pessoas externas selecionadas (LAUDON; LAUDON, 1999). A definição do número de rodadas a serem realizadas no presente trabalho dependia, fundamentalmente, da obtenção de um nível de consenso aceitável para os propósitos da pesquisa. Desta forma, foram realizadas cinco (5) rodadas do método Delphi, através das quais se alcançou um nível de consenso aceitável nas questões que eram colocadas ao grupo. O consenso foi considerado alcançado em cada rodada quando havia concordância em mais de 50% das respostas recebidas. A ausência de respostas à pergunta colocada era interpretada como concordância, porém o nível de consenso era calculado em função do número de respondentes. Os pontos complementares aos pontos de consenso eram identificados para serem comentados pelos participantes na rodada seguinte. Além disso, quando não havia consenso uma nova pergunta era lançada a respeito destes pontos complementares. A seqüência das rodadas realizadas encontra-se ilustrada na Figura 3.3. Note que o tempo médio entre cada rodada foi de vinte e cinco dias. FIGURA 3.3 – CRONOGRAMA DAS RODADAS REALIZADAS NO MÉTODO DELPHI NO PERÍODO DE MAIO A SETEMBRO DE 2002 5 10 1 31 set/02 25 20 15 5 10 1 31 ago/02 25 20 15 10 5 1 30 jul/02 25 20 15 10 5 1 jun/02 31 25 20 RODADAS a 1 rodada a 2 rodada a 3 rodada a 4 rodada a 5 rodada mai/02 15 MESES VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil As questões formuladas para cada etapa, descritas no 46 Capítulo subseqüente, eram lançadas no SIGEP e as respostas eram enviadas para o e-mail pessoal da pesquisadora. As respostas recebidas eram tabuladas e analisadas, a fim de verificar os pontos de consenso e os pontos complementares. Após essa classificação, uma nova pergunta era lançada a todos os participantes, juntamente com os resultados da rodada anterior. O método utilizado obteve a média de onze (11) respondentes por rodada, do total de 59 especialistas participantes, sendo que três (3) respondentes tiveram participação efetiva em todas as rodadas, conforme a Figura 3.4. FIGURA 3.4 – NÚMERO DE RESPONDENTES NAS CINCO ETAPAS REALIZADAS NO MÉTODO DELPHI RODADAS 1a rodada 2a rodada 3a rodada 4a rodada 5a rodada NÚMERO DE RESPONDENTES 8 8 11 13 16 Apesar do anonimato ser uma das características do método Delphi, segundo KAYO e SECURATO (1997), nesta pesquisa optou-se pela revelação dos nomes dos respondentes durante a execução das rodadas e da divulgação das respostas no SIGEP. A razão para tal foi procurar motivar a participação dos especialistas, procurando manter um grupo permanente e permitir maior transparência na análise dos dados obtidos. A participação de pesquisadores de renome neste método foi interpretada como um fator promotor da participação de outros pesquisadores. A pesquisadora procurou consolidar todas as opiniões manifestadas pelos respondentes a cada rodada, através da apresentação das análises das respostas recebidas, manifestando os pontos de consenso e os pontos complementares. A partir dos resultados obtidos no método Delphi e da revisão bibliográfica, procedeuse à elaboração do questionário da survey. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 47 3.4.3 Elaboração do Instrumento de Coleta de Dados (Questionário) Segundo MARCONI e LAKATOS (1999), o questionário é constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. FACHIN (2003) ressalta que o fato do questionário ser preenchido sem a presença do pesquisador garante o anonimato. O anonimato contribui para que o pesquisado se sinta mais seguro e, conseqüentemente, favorece respostas mais confiáveis. O questionário foi constituído por treze (13) questões fechadas. FACHIN (2003) define questões fechadas como aquelas que o pesquisado escolhe sua resposta em um conjunto de categorias elaboradas juntamente com a questão. Este tipo de questão direciona o pesquisado para as alternativas já estruturadas. As questões fechadas elaboradas para o questionário (ver Apêndice) foram distribuídas em quatro (4) grupos distintos, a fim de avaliar os ítens relacionados abaixo, através da percepção do respondente: a) grupo 1 - caracterização da amostra: as cinco (5) questões efetuadas buscaram traçar o perfil dos pesquisados em termos de: profissão, sexo, local de trabalho, tempo de formação e grau de instrução; b) grupo 2 - contexto de atuação do gerente: as três (3) questões formuladas para este grupo visaram indicar as principais atividades do gerente no processo de construção, os tipos de obras mais gerenciadas e os contextos de atuação mais comuns no gerenciamento de obras, com relação ao porte da obra, ao tipo de mão-de-obra e à origem dos recursos; c) grupo 3 - auto-avaliação dos gerentes quanto ao saber, saber-fazer e saber-ser: estas questões buscaram determinar a percepção quanto aos recursos das competências. As três (3) perguntas efetuadas neste grupo foram as seguintes: - No gerenciamento de obras, quais as áreas de conhecimento que você mais utiliza? Em quais conhecimentos/prática? áreas você sente maior carência de VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil - 48 Quais são as habilidades do gerente de obras em que você sente maior confiança? E quais habilidades você sente a necessidade de desenvolver? - Quais são os itens que mais caracterizam as suas atitudes no seu ambiente de trabalho? d) grupo 4 - estratégias utilizadas pelos profissionais para melhorar os recursos das competências: estas questões visaram identificar os meios de atualização e o tempo da última atualização profissional realizada. As duas (2) perguntas efetuadas foram as seguintes: - Quando foi a última vez que você participou de alguma atividade de atualização profissional? - Quais são os meios de atualização profissional que você mais utiliza? Os resultados obtidos pelo método Delphi foram utilizados no questionário para a formulação das questões do grupo 2 e 3. No grupo 2 referiam-se ao contexto de atuação mais comuns do gerente de obras e no grupo 3 referiam-se aos recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser), necessários para o gerenciamento da construção. Segundo a recomendação de MARCONI e LAKATOS (1999), junto com o questionário deve-se enviar uma nota ou carta explicando a natureza da pesquisa, sua importância e a necessidade de obter as respostas, tentando despertar o interesse do destinatário, no sentido de que ele preencha e devolva o questionário dentro de um prazo razoável. FACHIN (2003) explica que apresentar instruções de forma idêntica para toda a população pesquisada, leva à obtenção de respostas mais precisas. A possibilidade que o pesquisado tem de escolher o dia e o horário mais favorável para o preenchimento, também faz com que as respostas aos questionários sejam mais corretas. Seguindo as recomendações acima, foi apresentado um texto no início do questionário que explicava para qual público a pesquisa se endereçava, o objetivo e as contribuições que os resultados da pesquisa poderiam trazer. Além disso, foi estabelecido um prazo para enviar as respostas e também foram incluídos logotipos das instituições de ensino e entidades que realizaram e apoiaram a pesquisa. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 49 3.4.4 O Teste Piloto da Survey Antes da utilização definitiva do questionário, foi realizado um teste piloto, com a finalidade de verificar a compreensão das perguntas, a maneira de respondêlas e o meio de envio (via correio eletrônico). Foram enviados cinco (5) questionários para indivíduos representantes do público-alvo da pesquisa e 17 questionários aos coordenadores e representantes de Instituições de Ensino Superior e Entidades paranaenses que apoiaram a pesquisa, como: a Faculdade Assis Gurgacz (FAG), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o Programa Construbusiness Paraná, a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual de Maringá (UEM), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL), a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), a Universidade Paranaense (UNIPAR) e a Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR). Dentre os questionários enviados como teste, foram obtidas sete (7) respostas. Após serem verificadas as falhas, o questionário foi reformulado. 3.4.5 Os Mecanismos de Envio da Survey Os instrumentos de coleta de dados da survey foram encaminhados para os respondentes por mala direta via correio eletrônico. A ABEMD (1997) define mala direta como um sistema interativo que usa uma ou mais mídias para obter uma resposta ou transação mensurável em algum lugar. Segundo FLYNN et al. (1990), uma abordagem típica de surveys eletrônicas, consiste em enviar questionários para uma amostra relativamente grande de indivíduos, selecionada aleatoriamente e esperar que um número aceitável de questionários retorne. Na presente pesquisa, não foi possível ter acesso ao cadastro dos arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em construção civil registrados no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR). Desta forma, optou-se por realizar uma amostragem por conveniência, pois não se pôde selecionar uma amostra dentro desta população de profissionais. SCHIFFMAN e KANUK (2000) indicam que neste tipo de amostragem o pesquisador seleciona membros da população mais acessíveis. Caso fosse feito um VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 50 dimensionamento da amostra para selecionar uma amostra aleatória simples, com 95% de confiança e com um erro de 0,075 aproximadamente, o tamanho ótimo de amostra seria em torno de 100. Isto considerando a questão mais importante do questionário, que se relaciona com os conhecimentos das áreas de gestão. A survey implementada pela pesquisadora também contou com a colaboração de entidades que apóiam o exercício profissional de arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em construção civil e Instituições de Ensino Superior paranaenses. Esta colaboração ocorreu de duas formas: a primeira, a entidade ou instituição fornecia as listas com os endereços eletrônicos dos profissionais ou empresas do setor e a pesquisadora enviava os questionários; na segunda, a própria entidade ou instituição enviava os questionários para os profissionais ou empresas cadastrados no seu sistema, devido à impossibilidade de tornar público estes dados. Desta forma, descrevem-se abaixo as duas formas de colaboração, indicando as instituições e entidades que contribuíram e o respectivo número de questionários enviados: a) Entidades e Instituições que forneceram as listas dos endereços eletrônicos dos profissionais ou empresas cadastradas: - O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR) colaborou com o fornecimento de um Catálogo Empresarial de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA-PR, 2002). A partir deste catálogo fornecido, a pesquisadora enviou 1058 questionários, via correio eletrônico, aos profissionais e empresas do setor; - A Universidade Federal do Paraná (UFPR) forneceu uma lista de exalunos do Curso de Especialização em Construção Civil e a pesquisadora enviou 35 questionários aos mesmos; - A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) forneceu uma lista de alunos do Curso de Especialização em Fiscalização e Controle de Obras de Engenharia e a pesquisadora enviou 40 questionários aos mesmos. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 51 b) Entidades e Instituições que enviaram os questionários aos profissionais ou empresas cadastradas: - O Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) enviou aos filiados 900 questionários; - A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – Paraná (AsBEAPR) enviou 38 questionários aos escritórios de arquitetura filiados; - O Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR) enviou 45 questionários aos alunos do Curso de Especialização em Gerenciamento de Obras. Ao total foram 2.116 questionários enviados, sendo que os questionários que retornaram por mudança de endereço eletrônico, não foram computados nesta totalização. Alguns fatores podem exercer influência no retorno dos questionários, como a forma atraente de apresentação, o tipo de carta que o acompanha, solicitando colaboração, as facilidades de preenchimento, as facilidades de devolução pelo correio, os motivos apresentados para a resposta e o tipo de classe de pessoas a quem é enviado o questionário (SELLTIZ9 apud MARCONI; LAKATOS 1999). Na presente pesquisa, foram executados os seguintes mecanismos para obter o maior número de respostas: a) para facilitar o preenchimento das respostas foram feitas tabelas, nas quais o pesquisado deveria marcar apenas a letra “x”; b) cada questão (tabela de resposta) do questionário recebeu uma cor diferenciada, a fim de se evitar a monotonia durante o preenchimento das respostas; c) o questionário era facilmente devolvido, visto que era encaminhado por email para o endereço pessoal da pesquisadora, que estava indicado no texto explicativo, no início do questionário. Mesmo para os casos em que os questionários eram enviados por outras instituições e entidades, as respostas eram recebidas diretamente no endereço eletrônico da 9 SELLTIZ, C. et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder, 1965. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 52 pesquisadora; d) procurou-se enviar os questionários diretamente aos gerentes de obras, telefonando para as empresas de construção civil e solicitando os endereços eletrônicos dos profissionais. Nos casos em que não foi possível o fornecimento dos mesmos, os questionários foram enviados para as empresas/entidades/instituições para que elas encaminhassem aos profissionais. Apesar dos mecanismos utilizados para obter o maior número de respostas, nem sempre houve retorno dos questionários enviados. FACHIN (2003) apresenta alguns motivos para a não-obtenção de respostas, como: o desconhecimento ou desinteresse pelo tema da pesquisa, o fato do respondente não ter tempo para responder à pesquisa (por exemplo, trabalha o dia inteiro, viagens) e a falta de cooperação. Como critério de aceite das respostas foi estabelecido que somente poderiam ser computadas as respostas dos gerentes atuantes no gerenciamento de obras na RMC. 3.5 A ESTRATÉGIA DE ANÁLISE 3.5.1 Estratégia de Análise da Survey A análise dos dados obtidos na survey foi realizada através da estatística descritiva e da análise quantitativa, aplicando-se o teste X2 (qui-quadrado) nas questões de uma única escolha, a fim de verificar a correlação entre as variáveis. As análises descritivas servem para descrever o comportamento de uma variável em uma população. Todos os estudos utilizando dados quantitativos, independentemente das questões ou hipóteses da pesquisa, requerem análises descritivas (CONTANDRIOPOULOS et al., 1997). Na análise quantitativa pode-se aplicar o teste X2 (qui-quadrado) quando os dados da pesquisa se apresentam sob forma de freqüências em categorias discretas. Para determinar a significância de diferenças entre dois grupos independentes, analisa-se a hipótese de que dois grupos diferem em relação à VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 53 determinada característica (SIEGEL, 1975). A técnica estatística de correlação permite especificar o grau pela qual diferentes variáveis encontram-se relacionadas, dando ao pesquisador uma visão abrangente do modo como as variáveis estão distribuídas (OLIVEIRA, 2001). Por exemplo, na presente pesquisa procurou-se comprovar se dois grupos de profissionais se diferenciavam nos meios de atualização profissional que utilizavam e se existia diferença relativa ao sexo, na freqüência com que os profissionais procuravam uma atividade de aperfeiçoamento profissional. 3.5.2 Estratégia de Análise das Grades Curriculares A pesquisa nas grades curriculares dos cursos relacionados à construção civil teve como objetivo verificar se as mesmas contemplavam as lacunas identificadas na survey. A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, constituindo o que se denomina de fontes primárias (MARCONI; LAKATOS, 1999). As fontes de documentação utilizadas foram três (3) grades curriculares dos cursos de Engenharia Civil, três (3) grades curriculares dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e uma (1) grade curricular do curso de Tecnologia em Construção Civil da RMC. Além disso, houve dois casos em que as instituições se recusaram a fornecer as grades curriculares. No primeiro caso, procedeu-se uma entrevista com o coordenador de um curso de Arquitetura e, no outro caso, não foi possível marcar uma entrevista. As grades curriculares dos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil foram comparadas entre si, realizando-se, desta forma, uma análise qualitativa. Segundo OLIVEIRA (2001), a análise qualitativa não pretende numerar ou medir categorias homogêneas, mas analisar a interação de certas variáveis. Além disso, as grades curriculares dos cursos de Engenharia Civil também foram confrontadas com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, a fim de verificar se as mesmas atendiam as diretrizes. Na época da pesquisa, o Ministério da Educação ainda não havia elaborado as novas diretrizes para os cursos de Arquitetura e Tecnologia em Construção Civil. Desta forma, não foi possível realizar esta análise. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 54 As análises dos resultados da survey e dos resultados da comparação entre as grades curriculares deram origem a proposições de diretrizes curriculares (ver 4.5), no que tange ao gerenciamento para os cursos de nível superior, relacionados à construção civil, sendo este o principal produto desta dissertação. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 55 4 RESULTADOS E ANÁLISES 4.1 O CONTEXTO O Capítulo 3 apresentou o método de pesquisa, com a seqüência das atividades desenvolvidas e a estratégia de análise adotada. Este Capítulo indica os resultados obtidos com a aplicação do método Delphi, da survey realizada e da comparação entre currículos levantados. Além disso, indica as análises correspondentes a cada uma das etapas acima citadas. Finalmente, são apresentadas algumas proposições de diretrizes curriculares para os cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil. O Capítulo subseqüente finaliza a dissertação com a apresentação das conclusões gerais, as conclusões sobre o método de pesquisa adotado e as recomendações para trabalhos futuros. 4.2 RESULTADOS E ANÁLISES DO MÉTODO DELPHI A aplicação do método Delphi na presente pesquisa teve como objetivo a definição dos recursos (saber, saber-fazer e saber-ser) do gerente de produção da construção civil, a partir da opinião dos especialistas. Alguns resultados obtidos pela aplicação do método foram utilizados na elaboração do instrumento de coleta de dados da survey. Para a realização do método Delphi foram convidados 59 especialistas do Grupo de Trabalho de Gestão e Economia da Associação Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído (ANTAC). Estes especialistas pertenciam a diversas universidades, indústrias e outros segmentos do setor e estavam situados em todo o território brasileiro. A média de participação na aplicação do método foi de 11 especialistas por rodada, sendo que três (3) especialistas participaram efetivamente em todas as cinco (5) rodadas realizadas. Durante a aplicação do método, todos os 59 especialistas receberam os questionários com as análises das rodadas anteriores, juntamente com a nova pergunta. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 56 A seqüência das perguntas efetuadas nas rodadas pode ser visualizada através da Figura 4.1. A primeira e a segunda rodada tiveram como foco a definição do termo competências pelos especialistas. A partir desta definição, procedeu-se à terceira e a quarta rodadas, com a identificação dos conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para se gerenciar a produção da construção civil. A aplicação do método foi finalizada com a quinta rodada, onde se procurou identificar os contextos de atuação mais comuns do gerente de obras. As perguntas efetuadas nas rodadas tiveram como origem informações e conhecimentos compartilhados entre os respondentes na rodada anterior. FIGURA 4.1 – A SEQÜÊNCIA DAS PERGUNTAS EFETUADAS EM CADA RODADA NO MÉTODO DELPHI a 1 Rodada O que é competência? a 2 Rodada A competência pode ser verificada somente com a aplicação conjunta dos conhecimentos, habilidades e atitudes de um indivíduo em suas ações? 3a Rodada Quais são os recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) do gerente de produção da construção civil? a 4 Rodada Indique quais os recursos das competências, definidos na rodada anterior, que você considera mais relevantes e faça outras sugestões caso necessário. a 5 Rodada Quais são os principais contextos de atuação do gerente de obras? 4.2.1 Primeira Rodada Pergunta: O que é competência? 57 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil Resultados: Dos oito (8) respondentes desta rodada, todos concordaram que competência sempre se verifica na ação que um indivíduo executa e pode ser percebida através de uma solução efetiva de um problema existente (Quadro 4.1). QUADRO 4.1 – PONTOS DE CONSENSO E PONTOS COMPLEMENTARES NA DEFINIÇÃO DO TERMO COMPETÊNCIA PONTOS DE CONSENSO (100%) PONTOS COMPLEMENTARES Competência é a capacidade de resolver P1 - As competências são aspectos inatos dos efetivamente um problema em uma determinada indivíduos e/ou podem ser adquiridos. situação. A competência implica sempre em P2 - A competência se caracteriza apenas pelos ação. conhecimentos, habilidades ou atitudes de um indivíduo. Análise: Na literatura, LE BOTERF (2003) compartilha da mesma visão do ponto de consenso, ou seja, a competência se realiza na ação, não pré-existe a ela. Segundo o mesmo autor, o profissional não é aquele que possui conhecimentos e habilidades, mas aquele que sabe mobilizá-los em um contexto profissional. Com relação ao ponto complementar (P1) que se refere à origem da competência: 12,5% mencionaram que estes aspectos podem ser tanto inatos como adquiridos pelo indivíduo; 50% mencionaram que a competência pode ser somente adquirida pelo indivíduo; e 37,5% dos respondentes não mencionaram este aspecto nas suas respostas. No que se refere ao outro ponto complementar (P2), 40 % dos respondentes concordaram que o conceito de competência está vinculado à capacidade de aplicar conjuntamente conhecimentos, habilidades e atitudes, que se referem ao saber, saber-fazer e saber-ser, em uma situação particular. Este ponto de vista pode ser encontrado na literatura. Para BRANDÃO e GUIMARÃES (2002), os três recursos da competência (saber, saber-fazer e saber-ser) são interdependentes à medida que, para a exposição de uma habilidade, se presume que o indivíduo conheça princípios e técnicas específicas. Da mesma forma, a adoção de um comportamento no trabalho exige da pessoa, não raras vezes, a detenção não apenas de conhecimentos, mas também de habilidades e atitudes apropriadas. Para o restante dos respondentes (60%), competência é a capacidade de utilizar conhecimentos ou habilidades em uma determinada situação. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 58 Acordou-se entre os respondentes a consideração apenas do ponto complementar (P2) para o prosseguimento da aplicação do método Delphi, uma vez que as competências inatas ao indivíduo encontram-se fora do escopo desta pesquisa. 4.2.2 Segunda Rodada Pergunta: A competência pode ser verificada somente com a aplicação conjunta de conhecimentos, habilidades e atitudes de um indivíduo em suas ações? Resultados: Esta segunda rodada avançou na formulação do conceito, pois os oito (8) especialistas que responderam, concordaram com a definição obtida na primeira rodada e acrescentaram outro aspecto ao conceito. Conforme o Quadro 4.2 os especialistas convergiram para o seguinte conceito: competência é a capacidade do indivíduo de mobilizar e integrar conhecimentos, habilidades e atitudes para resolver determinado problema numa certa situação. Como os resultados da rodada anterior foram divulgados no questionário desta segunda rodada, alguns participantes teceram comentários a respeito do ponto complementar (P1). De acordo com 62,5% dos especialistas, a competência inclui tanto aspectos inatos do indivíduo como aspectos que podem ser adquiridos e desenvolvidos, através de educação e treinamento. Para 25% dos especialistas a competência refere-se apenas a aspectos que são adquiridos pelos indivíduos e os outros 12,5% dos especialistas não mencionaram este aspecto nesta segunda rodada. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 59 QUADRO 4.2 – PONTOS DE CONSENSO E PONTOS COMPLEMENTARES NA DEFINIÇÃO DO TERMO COMPETÊNCIAS PONTOS DE CONSENSO (100%) PONTOS COMPLEMENTARES P3 - Atualmente o que existe na literatura é uma noção de competências. P4 - As competências se constroem através de A competência é a capacidade do indivíduo de um complexo processo de interação entre os mobilizar e integrar o saber, saber-fazer e saberrecursos do indivíduo, como saber, saber-fazer e ser para resolver um certo problema numa saber-ser e com o ambiente sócio-cultural no qual determinada situação. a situação se apresenta. P5 - A imaginação é um componente fundamental para gerar uma ação transformadora e criativa. Análise: Apesar do conceito formulado nesta rodada ter obtido 100% de consenso, alguns participantes ainda se manifestaram sobre o assunto, através de comentários do ponto P3: 12,5% ainda colocaram que o que existe na literatura é uma noção e não um conceito de competências, sendo que esta noção tem uma dinamicidade ao longo do tempo; 12,5% dos especialistas ressaltaram que existem diversos conceitos de competência na literatura; o restante dos participantes (75%) não se pronunciou sobre o assunto. Na literatura, HOFFMANN (1999) também menciona que o termo competência não tem sido definido claramente. Alguns participantes também apresentaram pontos que complementam a formulação do conceito, como por exemplo: 37,5% relacionou a competência de um indivíduo com o ambiente sócio-cultural, pois o indivíduo, além de lidar com processos, sistemas, ferramentas, deve lidar também com pessoas (P4) e o restante dos 62,5% dos especialistas não se pronunciaram sobre este assunto. Além disso, 12,5% dos especialistas apontaram a imaginação como componente fundamental para gerar uma ação transformadora e criativa (P5) e o restante dos especialistas (87,5%) não abordou este assunto nas suas respostas. Na literatura, ECHEVESTE et al. (1999) comenta que a criatividade pode ser considerada uma atitude gerencial. Nesta segunda rodada, o grupo chegou ao consenso que competência se refere à capacidade do indivíduo de mobilizar e integrar o “saber”, “saber-fazer” e “saber-ser”, para resolver um certo problema numa determinada situação. Este conceito foi considerado mais geral pelos especialistas, a ponto de incorporar os aspectos complementares. Desta forma, partiu-se para a terceira rodada, com o VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 60 objetivo de se identificar quais conhecimentos, habilidades e atitudes são necessárias para se gerenciar obras na construção civil. 4.2.3 Terceira Rodada Pergunta: Quais são os recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) do gerente de produção da construção civil? Resultados: Esta rodada contou com onze (11) respondentes que indicaram os principais recursos das competências (saber, saber-fazer, saber-ser) do gerente de obras, resultando em três listagens: a primeira, com 7 itens que se referem ao saber; a segunda, com 35 itens que se relacionam com o saber-fazer; a terceira, com 20 itens que se referem ao saber-ser, conforme as Tabelas 4.1, 4.2 e 4.3, respectivamente. As porcentagens indicadas nas tabelas referem-se ao nível de consenso obtido entre os respondentes em cada item. Nesta rodada, todos os itens citados pelos respondentes foram aceitos, para realizar uma outra votação na próxima rodada. Nos itens referentes aos conhecimentos, conforme mostra a Tabela 4.1, a maioria dos respondentes (36%) apontou que o gerente de obras deve ter conhecimento de técnicas de planejamento e gerenciamento (C1). TABELA 4.1 – RELAÇÃO DOS CONHECIMENTOS REQUERIDOS PELOS GERENTES DE OBRAS (TERCEIRA RODADA DO MÉTODO DELPHI) SABER % SABER C1 - Ter conhecimentos de técnicas de C4 - Ter educação formal básica na área de 36 planejamento e gerenciamento. gestão e economia das construções. C2 - Ter conhecimentos das potencialidades C5 - Ter conhecimentos do mercado em que 27 tecnológicas de que dispõe sua empresa. atua. C3 - Ter conhecimentos empresariais para C6 - Ter conhecimentos e entendimento do compreender os conceitos de planejamento ambiente empresarial. 18 estratégico e os objetivos que são traçados C7 – Visualizar todas as áreas de gestão do pela direção de sua empresa. empreendimento (projetos, qualidade, segurança e higiene, entre outras). % 18 09 09 09 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 61 Na literatura, LEAL (2002) compartilha das mesmas opiniões dos especialistas quando se refere aos saberes do gerente de obras, indicando que este deve ter conhecimentos de planejamento. BALARINE (1990) complementa, afirmando que o engenheiro, além de dominar a técnica para construir edificações, pontes e outras obras, precisa dominar também extensa área de conhecimento gerencial. Nos itens relacionados às habilidades, indicados na Tabela 4.2, houve 55% de consenso entre os respondentes nas habilidades para liderar equipes e estimulálas a enfrentar desafios (H1). Além disso, outras habilidades também foram consideradas significativas, obtendo-se 36% de consenso, que se relacionam aos seguintes itens: integrar a equipe e mantê-la motivada (H2), requisitar a participação de toda a equipe e gerenciar o conflito pessoal (H3), planejar os recursos humanos (H4), inspecionar a obra periodicamente e ouvir o feedback dos operários (H5) e expressar-se de forma clara e objetiva, ouvir e compreender o contexto da mensagem, argumentar com coerência, usando o feedback para facilitar a interação entre as partes (H6). Os itens mais votados neste recurso se referem às habilidades humanas. Segundo KATZ (1974), estas representam a habilidade que o gerente deve ter no trato com as pessoas, compreensão das suas necessidades e atitudes. Como o gerente deve atingir resultados com pessoas, é preciso um trabalho efetivo em equipe, direção, liderança e boa comunicação. Os itens mais votados pelos especialistas também são citados pelos autores consultados na literatura. Para VIEIRA NETTO (1988), DANNA (1996) e LEAL (2002), a liderança e as habilidades no trato com os clientes, subordinados e fornecedores são imprescindíveis ao gerente de obras. Além disso, VIEIRA NETTO (1988) e DANNA (1996) indicam que o gerente de obras deve ter habilidades para motivar os subordinados e LEAL (2002) indica que ele deve ter boa comunicação. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil TABELA 4.2 – RELAÇÃO DAS HABILIDADES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (TERCEIRA RODADA DO MÉTODO DELPHI) SABER-FAZER % SABER-FAZER H1 - Liderar equipes e estimulá-las a H19 - Realizar a gestão da segurança/ 55 enfrentar desafios. higiene e ambiental da obra (integrar c/ a qualidade). H2 - Integrar a equipe e mantê-la motivada. 36 H3 – Requisitar a participação de toda a equipe e gerenciar o conflito pessoal. H4 – Planejar os recursos humanos. H5 - Inspecionar a obra periodicamente e ouvir o feedback dos operários. H6 - Expressar-se de forma clara e objetiva. Ouvir e compreender o contexto da mensagem. Argumentar com coerência, usando o feedback para facilitar a interação entre as partes. H7 - Estabelecer metas e objetivos para si, para o projeto e para a equipe. H8 - Manter a equipe comprometida com relação às políticas e metas estabelecidas. H9 - Transmitir e vender idéias da obra para a gerência superior, clientes e operários. H10 –Ter visão estratégica global do empreendimento, dos clientes externos e internos e do mundo. H11 -Decidir, com base nos dados e fatos disponíveis. 36 36 36 36 27 27 27 27 27 H12 - Planejar e organizar materiais, projetos 27 e ferramentas para a obra. H13 - Cumprir os objetivos de qualidade, 27 prazos, custos e escopo. H14 – Delegar tarefas e orientar. H15 - Reconhecer e valorizar os talentos dos membros da equipe. H16 - Gerenciar as interfaces obra – finanças. H17 - Identificar e avaliar riscos. H18 - Realizar a gestão da qualidade da obra (implantar e manter este sistema). 18 18 18 18 18 H20 - Gerenciar o tempo da jornada de trabalho, priorizando as atividades de planejamento. H21 - Racionalizar processos construtivos, buscando melhoria nos métodos de trabalho. H22 - Exercer atividades de produção de obras: execução, métodos de ensaio, armazenamento, transporte, operação, uso, manutenção e restauração. H23 - Manter a gerência superior envolvida com os objetivos e necessidades da obra. H24 - Ter capacidade de negociação. H25 - Ter foco no resultado. H26 - Ter capacidade de síntese. H27 - Gerenciar as interfaces da obraprojeto. H28 – Analisar relatórios e dados de desempenho e divulgá-los de forma transparente a todos os interessados. H29 - Subcontratar os trabalhos. H30 - Gerenciar o conflito contratual. H31 - Ter habilidades políticas de conseguir recursos quando necessário. H32 - Preparar pautas de reuniões com antecedência e conduzi-las com objetividade. H33 - Selecionar métodos de trabalho. H34 - Levar as competências além das fronteiras das unidades de negócios. H35 - Compatibilizar os conhecimentos de engenheiro civil com a capacidade gerencial do engenheiro de produção. 62 % 18 18 18 18 18 09 09 09 09 09 09 09 09 09 09 09 09 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 63 A terceira rodada também levantou as principais atitudes do gerente de obras segundo a visão dos especialistas. Os itens das atitudes que obtiveram o maior nível de consenso (27%) entre os respondentes, conforme a Tabela 4.3, foram os seguintes: ser sociável (A1), ter ética nas questões profissionais e aspectos sociais, ou seja, ser honesto e íntegro (A2) e buscar dados e fatos disponíveis para a tomada de decisões (A3). TABELA 4.3 – RELAÇÃO DAS ATITUDES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (TERCEIRA RODADA DO MÉTODO DELPHI) SABER-SER % SABER-SER A1 – Ser sociável. 27 A10 - Ser corajoso. A2 - Ter ética nas questões profissionais e A11 - Ser flexível. 27 aspectos sociais. A12 - Ter controle das suas emoções. A3 - Buscar dados e fatos disponíveis para A13 - Ter necessidade de trabalho. 27 tomar decisões. A14 - Ter satisfação/estar motivado. A4 – Ser criativo. 18 A15 - Ter aspiração na carreira. A5 - Ser receptivo às inovações de produto e A16 - Ter respeito e amizade dos operários 18 processo e novas perspectivas de mercado. e buscar feedback sobre condições de trabalho. A6 - Estar aberto às críticas e sugestões para A17 - Ter senso de organização e 18 melhorar o trabalho. praticidade. A7 - Ter atitude pró-ativa, não adotando A18 – Estar continuamente atualizado. postura conformista em relação às 18 A19 - Ser ágil na implementação das ações dificuldades comuns do setor. decorrentes da tomada de decisão. A8 – Ser tolerante. 09 A20 -Ser transparente nas relações com todos os envolvidos na obra. A9 - Ter iniciativa. 09 % 09 09 09 09 09 09 09 09 09 09 09 Percebe-se que, das muitas atitudes que influenciam o comportamento dos gerentes de obras, as atitudes em relação às pessoas, segundo os especialistas têm provavelmente o impacto mais forte. Na literatura, encontra-se a mesma visão, pois a ética no trato das questões profissionais e aspectos sociais é indicada como uma das atitudes importantes ao gerente (DANNA, 1996; ECHEVESTE et al., 1999; KLEMP, 1999). A partir da obtenção de uma primeira relação dos recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) procedeu-se à quarta rodada para que cada participante indicasse os itens mais importantes. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 64 4.2.4 Quarta Rodada Pergunta: Indique na primeira relação dos recursos das competências do gerente de obras, quais conhecimentos, habilidades e atitudes você considera mais relevantes. Faça outras sugestões, caso necessário. Resultados: Nesta rodada, treze (13) especialistas responderam à questão colocada. A votação realizada proporcionou a obtenção de uma listagem de recursos de competências mais concisa, onde estão compreendidos todos os itens que obtiveram pelo menos 50% de consenso. Alguns desses itens foram agrupados e outros receberam complementos, de acordo com sugestões dos respondentes. Dentre os itens relacionados aos conhecimentos, indicados na Tabela 4.4, o item mais votado entre os respondentes se refere aos conhecimentos de técnicas de planejamento e gerenciamento (C1), que obteve 77% de consenso. TABELA 4.4 - RELAÇÃO DOS CONHECIMENTOS REQUERIDOS PELOS GERENTES DE OBRAS (QUARTA RODADA DO MÉTODO DELPHI) SABERES % SABERES % C1 - Ter conhecimentos de técnicas de C6 - Ter conhecimentos e entendimento do 77 62 planejamento e gerenciamento. ambiente empresarial. C7 – Visualizar todas as áreas de gestão do C5 - Ter conhecimentos do mercado em 54 empreendimento (projetos, qualidade, que atua. 69 segurança e higiene, entre outras). C2 -Ter conhecimentos das potencialidades 54 tecnológicas de que dispõe sua empresa. Com relação à terceira rodada, verifica-se que este item (C1) continuou a ser considerado o mais significativo, sob o ponto de vista dos especialistas. Por outro lado, o item visualizar todas as áreas de gestão do empreendimento (C7), obteve uma porcentagem de consenso bem maior (69%). Este ponto de vista também pode ser encontrado na literatura através de VIEIRA NETTO (1988), que afirma que o gerente de obras deve entender do empreendimento como um todo, demonstrando visão. As habilidades do gerente de obras que obtiveram o maior nível de consenso (77%) entre os respondentes, conforme Tabela 4.5, foram as seguintes: liderar equipes e estimulá-las a enfrentar desafios (H1), integrar a equipe e mantê-la VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 65 motivada (H2), manter a equipe comprometida com relação às políticas e metas estabelecidas (H8), delegar tarefas e orientar (H14), reconhecer e valorizar os talentos dos membros da equipe (H15). TABELA 4.5 - RELAÇÃO DAS HABILIDADES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (QUARTA RODADA DO MÉTODO DELPHI) SABER-FAZER % SABER-FAZER H1 - Liderar equipes e estimulá-las a H22 - Exercer atividades de produção de 77 enfrentar desafios. obras: execução, métodos de ensaio, armazenamento, transporte, operação, uso, H2 - Integrar a equipe e mantê-la motivada. 77 manutenção e restauração. H8 - Manter a equipe comprometida com 77 relação às políticas e metas estabelecidas. H14 – Delegar tarefas e orientar. H5- Inspecionar a obra periodicamente e 77 ouvir o feedback dos operários. H15 - Reconhecer e valorizar os talentos dos H6 - Expressar-se de forma clara e objetiva. 77 membros da equipe. Ouvir e compreender o contexto da mensagem. Argumentar com coerência, H7 - Estabelecer metas e objetivos para si, 62 usando o feedback para facilitar a interação para o projeto e para a equipe. entre as partes. H12 - Planejar e organizar materiais, projetos 62 e ferramentas para a obra. H21 - Racionalizar processos construtivos, H18 - Realizar a gestão da qualidade da 62 buscando melhoria nos métodos de trabalho. obra (implantar e manter este sistema). % 62 54 54 54 Verifica-se que a tendência da terceira rodada se manteve na quarta rodada, com predominância nas habilidades humanas. Estes itens que obtiveram maior consenso estão relacionados com a liderança. Para MEGGINSON, MOSLEY e PIETRI (1998), a liderança é um processo de influenciar as atividades individuais e grupais no estabelecimento e atendimento das metas. Sob o ponto de vista prático, liderar envolve comunicar-se com pessoas, organizar equipes, suscitar mudanças e motivar empregados. Dentre as atitudes do gerente de obras, a que obteve o maior nível de consenso (77%) entre os respondentes, conforme Tabela 4.6, refere-se à ética nas questões profissionais e aspectos sociais (A2). Além disso, a atitude pró-ativa (A7) também apresentou considerável nível de consenso (69%). Verifica-se que a atitude que se refere à ética se manteve como a mais votada em relação à terceira rodada. Por outro lado, a atitude pró-ativa foi mais valorizada nesta rodada. Na literatura ECHEVESTE et al. (1999) compartilham da mesma opinião, pois considera a atitude pró-ativa fundamental para o gerente. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil TABELA 4.6 - RELAÇÃO DAS ATITUDES REQUERIDAS PELOS GERENTES DE OBRAS (QUARTA RODADA DO MÉTODO DELPHI) SABER-SER % SABER-SER A2 - Ter ética nas questões profissionais e A16 - Ter respeito e amizade dos operários 77 aspectos sociais. e buscar feedback sobre as condições de trabalho. A7 - Ter atitude pró-ativa, não adotando A4 -Ser criativo. 69 postura conformista em relação às A17 - Ter senso de organização e dificuldades comuns do setor. praticidade. A9 - Ter iniciativa. 62 A11 – Ser flexível. 62 66 % 62 54 54 Percebe-se que os especialistas estão atentos para a nova abordagem de competências, visto o maior número de itens indicados para as habilidades e atitudes do gerente de obras em relação aos conhecimentos. Os resultados obtidos nesta rodada foram aproveitados para o questionário da survey, para identificar as lacunas nas habilidades e nas atitudes dos gerentes de obras atuantes na RMC (ver 4.3.2.5 e 4.3.2.6). De acordo com a visão dos participantes do método Delphi, a mobilização dos recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser), levantados nesta rodada, dependem do contexto em que se está agindo, por ex: porte da obra, mãode-obra, origem dos recursos. Na literatura, LE BOTERF (2003) comenta que a competência só pode ser competência em situação, pois sempre há competência de ou competência para. Devido a isto, buscou-se identificar na quinta rodada quais são os contextos de atuação mais comuns aos gerentes de obras. 4.2.5 Quinta Rodada Pergunta: Quais são os contextos de atuação do gerente de obras? Resultados: Os contextos de atuação que obtiveram maior consenso nesta rodada se referem aos quesitos porte e origem dos recursos da obra. As obras classificam-se em pequeno, médio e grande porte. Para BRASIL (2000) estas obras possuem área construída até 100,00 m2, entre 100,00 m2 e 400,00m2 e superior a 400,00m2 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 67 respectivamente. Dentre os 16 especialistas que responderam à questão colocada, 80% deles consideraram os empreendimentos de obras de médio porte e os empreendimentos com recursos financiados os mais importantes (Quadro 4.3). Além disso, 60% dos respondentes consideraram os empreendimentos de obras de grande porte, um contexto também importante. Os pontos complementares (P6) e (P7) se referem aos contextos de atuação menos característicos do gerente de obras. Estes obtiveram igualmente 45% de consenso entre os respondentes. QUADRO 4.3 – PONTOS DE CONSENSO E PONTOS COMPLEMENTARES NOS CONTEXTOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS PONTOS DE CONSENSO PONTOS COMPLEMENTARES Empreendimentos c/ recursos financiados. P6 - Empreendimentos de obras rápidas. Empreendimentos de obras de médio porte. P7 - Empreendimentos de obras de pequeno porte. Empreendimentos de obras de grande porte. Análises: Os resultados desta rodada indicaram os contextos mais comuns ao gerente de obras, ou seja, onde possivelmente os profissionais irão mobilizar os recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser). A atuação nestes contextos implica, por exemplo, na interação com determinados perfis de cliente, na escolha da tecnologia e da especificação do material a ser utilizado na obra. Os resultados obtidos nesta rodada foram aproveitados para a formulação da seguinte questão: quais os contextos em que você tem atuado mais freqüentemente no gerenciamento de obras? Indicada no item 4.3.2.3 deste Capítulo. 4.2.6 Análise Geral Os participantes do método Delphi definiram competência como a capacidade do indivíduo de mobilizar e integrar o saber, saber-fazer e saber-ser (recursos da competência) para resolver um certo problema numa determinada situação. A partir desta definição, foram identificados os principais conhecimentos, habilidades e atitudes do gerente de obras, que se referem, respectivamente, ao conhecimento das técnicas de planejamento e gerenciamento, liderança de equipes e a ética nas questões profissionais e aspectos sociais. Todos estes pontos de vista, também podem ser encontrados na literatura, conforme citado anteriormente. Com VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 68 relação às habilidades, constata-se que os especialistas mencionaram itens relacionados com os três grupos de habilidades, as técnicas, as humanas e as conceituais. Além disso, foram identificados os principais contextos de atuação, onde os profissionais provavelmente irão mobilizar os recursos levantados, no que se refere ao porte e à origem dos recursos da obra, como os empreendimentos de obras de médio e grande porte e os recursos financiados. 4.3 OS RESULTADOS DA SURVEY A população de profissionais atuantes na construção civil, considerando somente aqueles que operavam na época do presente estudo na RMC, compreendia cerca de 8.124 profissionais (CREA-PR, 2002). A survey realizada procurou coletar uma amostra deste universo de profissionais. Para isso foram enviados 2.116 questionários aos profissionais atuantes no mercado de trabalho (26,05%). Conforme descrito no Capítulo 3 (ver 3.4.5), a pesquisadora recebeu a contribuição de algumas entidades e instituições no auxílio do envio dos questionários aos profissionais, como: Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR), Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – Paraná (AsBEA-PR), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR). Do total de questionários enviados (2.116), foram devolvidos 105 questionários preenchidos, mas foram consideradas apenas 100 respostas, pois pertenciam aos profissionais atuantes no gerenciamento de obras na RMC. Desta forma, obteve-se um índice de retorno aproximado de 5%. SANT’IAGO (2003) indica que o retorno de uma mala direta é de apenas 4%. A RIC (2003) relata que a mala direta utilizada em um trabalho no Banco Itaú obteve um retorno de 3,3% e foi considerado um índice muito alto para este tipo de ação. Desta forma, considerou-se que o índice de retorno obtido estava adequado. Com isso, partiu-se para a análise dos dados levantados. Os resultados da pesquisa receberam tratamento estatístico, VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 69 através da aplicação do teste X2 (qui-quadrado) na amostra coletada. Para isso, a pesquisadora recebeu o auxílio do Laboratório de Estatística da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os resultados da survey, bem como as correlações encontradas, estão descritos a seguir. 4.3.1 O Perfil dos Gerentes de Obras Amostrados A amostra de profissionais das áreas de Arquitetura, Engenharia civil e Tecnologia em Construção Civil era composta, na sua maioria, por engenheiros civis (82%), conforme o Gráfico 4.1. Certamente, este dado não permite estabelecer que há mais engenheiros civis trabalhando como gerentes de obras do que arquitetos e tecnólogos em construção civil. Na verdade, o número de profissionais atuantes na RMC segue proporção semelhante. Na época da pesquisa existiam 74,73% de engenheiros civis, 24,04% de arquitetos e 1,23% de tecnólogos em construção civil registrados no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR, 2002). GRÁFICO 4.1 – PROFISSÃO DOS GERENTES DE OBRAS DA AMOSTRA ANALISADA Arquiteto 15% Tecnólogo 3% Eng. Civil 82% Buscou-se analisar possíveis correlações entre a profissão dos respondentes e outras características estudadas nesta dissertação, tais como o grau de instrução, o local de trabalho e a última participação em atividades de atualização profissional. A aplicação do teste X2 (qui-quadrado) na amostra não apresentou resultados significativos, por isso não se pode concluir quanto à dependência entre as variáveis acima citadas. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil O perfil dos profissionais da amostra coletada na RMC 70 era predominantemente masculino (76%), como mostra o Gráfico 4.2. Foram analisadas possíveis correlações entre o sexo dos profissionais e outras características estudadas nesta dissertação, como: o grau de instrução, a profissão e a última participação em atividades de atualização profissional. A aplicação do teste X2 (quiquadrado) na amostra identificou duas correlações significativas com relação ao sexo dos profissionais. A primeira correlação procurou identificar se a proporção de engenheiros do sexo masculino é maior do que a proporção de engenheiros do sexo feminino. Os resultados estatísticos apontaram, com 99% de confiança, que as proporções entre o sexo dos profissionais diferem quanto à profissão. Na amostra levantada, identificou-se que 83% dos engenheiros são homens enquanto esta proporção para arquitetos do mesmo sexo é menor, apenas 43%. GRÁFICO 4.2 – SEXO DA POPULAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA Feminino 24% Masculino 76% A correlação entre as variáveis, sexo dos profissionais e a titulação não apresentaram correlação nesta amostra coletada. A amostra dos profissionais revelou um perfil bastante diversificado com relação ao tempo de formação. De acordo com o Gráfico 4.3, 65% dos profissionais possuíam tempo de formação maior que cinco anos e 35% eram recém-formados. Foram analisadas possíveis correlações entre o tempo de formação dos profissionais com outras características estudadas nesta dissertação, como grau de instrução e o local de trabalho. Como as variáveis não apresentaram dependência, não se pode afirmar que a proporção de profissionais especialistas com mais de cinco anos de formação é maior do que a proporção dos profissionais especialistas VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 71 com até cinco anos de formação. GRÁFICO 4.3 – TEMPO DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA > 20 anos 18% < 5 anos 35% 10 - 20 anos 33% 5 - 10 anos 14% Os gerentes de obras da amostra coletada estão buscando aperfeiçoamento profissional, conforme indica o Gráfico 4.4. Verifica-se que 46% dos profissionais possuem grau de especialista, 3% dos profissionais são mestres e 5% está cursando mestrado, especialização ou Master of Business Administration (MBA). Apenas 1% dos profissionais da amostra coletada cursou mais de um (01) curso superior (Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil). GRÁFICO 4.4 – O GRAU DE INSTRUÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA Outros 8% Graduação + Especialização 46% Graduação 46% VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 72 Além das correlações já citadas, tentou-se verificar, se a proporção de profissionais especialistas que trabalham como autônomos é maior do que a proporção de especialistas que trabalham em empresas. Porém, a partir dos resultados obtidos no teste X2 (qui-quadrado) não foi possível estabelecer uma correlação. Dentre os profissionais que responderam à pesquisa verificou-se que a maioria trabalhava em empresas públicas ou privadas (69%), conforme o Gráfico 4.5. Os profissionais, que além de trabalharem em empresas, também atuavam como autônomos no mercado de trabalho, foram incluídos na categoria de empresa, pois esta era a principal fonte de renda. Além das análises descritivas, analisou-se, também, possível correlação entre o local de trabalho e a última participação em atividades de atualização profissional. Através da aplicação do teste X2 (quiquadrado) na amostra coletada, verificou-se que estas variáveis não possuíam dependência. GRÁFICO 4.5 – O LOCAL DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA Autônomo 24% Outros 7% Empresa pública ou privada 69% VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 73 4.3.2 Questões Relativas aos Recursos das Competências 4.3.2.1 Quais atividades do processo de construção em que você mais têm se envolvido? As atividades do processo de construção em que os gerentes de obras amostrados mais se envolveram, até a época da pesquisa, foram a construção (33%) e o projeto (21%), conforme o Gráfico 4.6. Apesar disto, o perfil dos profissionais da amostra sugere que há ainda um grande número de gerentes de obras que se envolveram com estudos de viabilidade técnica e econômica e manutenção corretiva. A opção outras que recebeu 8% do total de indicação dos profissionais, se refere às atividades de licitação, fiscalização de obras, reformas, entre outras. A pesquisa de BRINGHENTI (1995), entre engenheiros (ex-alunos da EPUSP formados de 1961 a 1990), indica que os profissionais trabalharam a maior parte do seu tempo de formado com a atividade de projeto (37,9%). Nesta mesma pesquisa, a atividade de construção recebeu um percentual menor de respostas, 12,7%. Os resultados da presente pesquisa demonstraram que os profissionais normalmente exerciam mais de uma atividade, pois o número de respostas totalizou 232. Nesta questão não foi possível estabelecer correlações estatísticas, devido à possibilidade de mais de uma opção de resposta, por isso foi utilizada apenas a estatística descritiva para analisar os dados. Dentre os 77 profissionais que mais se envolveram com a atividade construção, na amostra estudada, 83,12% (64) eram engenheiros civis, 12,98% (10) eram arquitetos e 3,90% (03) eram tecnólogos em construção civil. Contudo, devido às características da amostra, não se pode afirmar, através dos resultados deste estudo, que engenheiros civis, arquitetos ou tecnólogos em construção civil, apresentam ênfases diferentes no que tange a atuação no gerenciamento da construção. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 74 GRÁFICO 4.6 – ATIVIDADES CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AMOSTRA ESTUDADA Construção 33 Projeto 21 Viabilidade Técnica/Econômica 12 10 Manutenção Corretiva Outras 8 Manutenção Preventiva 7 Avaliação & Perícia 6 3 Demolição 0 10 20 30 40 No de respostas ( % ) Procurou-se verificar também, através da análise descritiva, as atividades que os profissionais exerciam paralelamente à atividade de construção. Verificou-se que, dentre os 77 profissionais que trabalhavam com construção, os casos mais freqüentes eram os seguintes: 11,69% (09) trabalhava com construção, projeto e viabilidade técnica e econômica; 12,99% (10) trabalhava com construção e projetos; 29,87% (23) trabalhava exclusivamente com construção; 45,45% (35) dos profissionais trabalhavam com construção, juntamente com outras combinações de atividades, tais como: construção e manutenção corretiva e preventiva; construção, avaliação e perícia, entre outras. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 75 Além disso, pode-se observar que dentre os profissionais que mais se envolveram com a atividade de construção, 48,05% (37) possuía apenas curso superior, 45,45% (35) dos profissionais possuíam título de especialista, 2,60% (02) dos profissionais possuíam título de mestre e 3,90% (03) dos profissionais estavam se aperfeiçoando através de cursos de especialização ou mestrado. Os dados coletados, junto aos profissionais amostrados indicam, desta forma, uma tendência à realização de aperfeiçoamento em cursos formais. 4.3.2.2 Quais os tipos de obras que você têm gerenciado mais freqüentemente? Através do Gráfico 4.7, verifica-se que os tipos de obras que os profissionais gerenciavam mais freqüentemente eram os edifícios comerciais, de serviços e as habitações unifamiliares. Estes dois tipos de obras obtiveram 19,5% e 19,1% de respostas, respectivamente. Os tipos de obras que receberam o menor número de respostas foram estradas e pontes, com 3,4% e 1,5%, respectivamente. A pesquisa demonstrou que os gerentes de obras normalmente executavam mais de um tipo de obra na vida profissional. A pesquisa de BRINGHENTI (1995), com engenheiros (ex-alunos da EPUSP formados de 1961 a 1990), mostra a mesma tendência levantada, pois indica que os profissionais trabalharam a maior parte do seu tempo de formados com edificações (43,2%). Dentre os 74 gerentes de obras da amostra, que se diziam executores de edifícios comerciais e de serviços e de habitações unifamiliares, verificou-se que 39,19% (29) dos profissionais executam os dois tipos de obras simultaneamente; 31,08% (23) desses profissionais executavam apenas edifícios comerciais e de serviços; 29,73% (22) desses profissionais executavam somente habitações unifamiliares. Verifica-se a importância de se enfatizar, durante o curso, os temas relacionados às habitações unifamiliares e os edifícios comerciais e de serviços. Por outro lado, não se deve ignorar outros tipos de obras, tais como, pontes, estradas, entre outros. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 76 GRÁFICO 4.7 – TIPOS DE OBRAS GERENCIADAS PELOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA Edifício Comercial e de Serviços 19,5 Habitação Unifamiliar 19,1 Habitação Multifamiliar 12,7 Edifícios Industriais 10,1 9,7 Edifícios Públicos 6,0 Saneamento Hospitais e Clínicas Médicas 4,9 Outras 4,5 Edifícios Institucionais 4,5 Habitação Social 4,1 Estradas 3,4 Pontes 1,5 0 5 10 15 20 25 No de respostas (%) 4.3.2.3 Quais os contextos em que você tem atuado mais freqüentemente no gerenciamento de obras? A pesquisa identificou os principais contextos de atuação do gerente de obras amostrados nos quesitos porte, mão-de-obra e origem dos recursos da obra, conforme mostram os Gráficos 4.8, 4.9 e 4.10, respectivamente. No quesito porte da obra, a opção médio porte recebeu 41% das respostas dos profissionais amostrados. Segundo BRASIL (2000) as obras de médio porte possuem área de construção entre 100,00 m2 e 400,00 m2. Os resultados demonstraram que os VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 77 gerentes de obras normalmente atuavam em mais de um contexto, pois o número total de respostas obtido foi maior que 100. GRÁFICO 4.8 – CONTEXTOS TÍPICOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS DA AMOSTRA COLETADA, NO QUESITO PORTE DA OBRA Obras de Médio Porte 41 Obras de Pequeno Porte 38 Obras de Grande Porte 21 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 NO de respostas (%) Comparando este resultado com o resultado obtido na quinta rodada do método Delphi, verifica-se que existe uma convergência de opiniões, pois os especialistas também consideraram as obras de médio porte, o contexto de atuação mais característico do gerente de obras. No quesito mão-de-obra, verifica-se que a opção mão-de-obra empreitada recebeu o maior número de respostas (73%) por parte dos respondentes, conforme mostra o Gráfico 4.9. GRÁFICO 4.9 – CONTEXTOS TÍPICOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS DA AMOSTRA COLETADA, NO QUESITO MÃO-DE-OBRA Empreendimento com Mão-de-Obra Empreitada 73 Empreendimento com Mão-de-Obra Própria 27 0 10 20 30 40 50 No de respostas (%) 60 70 80 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 78 Na literatura existem relatos que confirmam os resultados obtidos. SHIMIZU (2002) afirma que a tendência à subcontratação de serviços no setor da construção é cada vez maior. FARAH (1992) explica que muitas empresas construtoras tentam transferir parte de suas atividades a terceiros, subcontratando serviços, procurando assim, concentrar esforços em outras atividades externas ao processo de produção. Segundo a mesma autora, as empresas atuam desta forma para tornar o processo produtivo mais flexível e para melhor responder às incertezas do mercado. Como os empreendimentos com mão-de-obra empreitada receberam o maior número de respostas nesta questão, sugere-se que, durante a formação profissional, o arquiteto, o engenheiro civil e o tecnólogo em construção civil recebam orientações de como se trabalhar com este tipo de mão-de-obra. Normalmente, estes executam serviços na obra em determinados momentos e a empresa construtora tem pouco tempo para atuar no desenvolvimento de competências. No que se refere ao quesito origem dos recursos da obra, a opção “empreendimentos com recursos do proprietário” recebeu o maior número de respostas dos profissionais (64%), conforme o Gráfico 4.10. GRÁFICO 4.10 – CONTEXTOS TÍPICOS DE ATUAÇÃO DO GERENTE DE OBRAS DA AMOSTRA COLETADA, NO QUESITO ORIGEM DOS RECURSOS DA OBRA Empreendimentos com Recursos Próprios 64 Empreendimentos com Recursos Financiados 36 0 10 20 30 40 N de respostas (%) o 50 60 70 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 79 Comparando estes resultados com os resultados da quinta rodada do método Delphi, verifica-se que os empreendimentos com recursos financiados foram apontados pelos especialistas como o contexto de atuação mais característico do gerente de obras, porém, este contexto foi considerado o segundo mais importante pelos profissionais amostrados. Esta diferença é de grande relevância, pois os especialistas consultados no método Delphi são profissionais atuantes em Instituição de Ensino Superior. Por outro lado, os resultados da survey são lacunas que denotam a importância de desenvolver atividades nas disciplinas dos cursos de construção civil, que se relacionem com estes contextos de atuação. 4.3.2.4 No gerenciamento de obras, quais as áreas de conhecimento que você mais utiliza? Em quais áreas você sente maior carência de conhecimentos/prática? Verifica-se, através do Gráfico 4.11, que a área de conhecimento mais utilizada pelos gerentes de obras da amostra coletada é a gestão de projetos (18%). Percebe-se também que a área de gestão de projetos, talvez por ser a mais utilizada, apresenta o menor percentual (7%) de carência de conhecimentos/prática na percepção dos profissionais. A área de “recursos humanos” apresenta-se com o maior percentual (16%) de carência de conhecimentos/prática entre os gerentes de obras amostrados. Na literatura, estudos apontam que na região sudeste do Brasil os gerentes de obras (engenheiros) também possuem carência de conhecimento em gerenciamento de recursos humanos (SABOY; JOBIM, 2001). A construção é uma indústria que usualmente possui mão-de-obra intensiva em seu processo produtivo. No entanto, é uma das que mais sente dificuldades na área de recursos humanos. De modo geral, há carência de gerentes especialistas em recursos humanos atuando dentro de construtoras. O despreparo e a inexperiência nesta especialização faz com que as construtoras releguem a segundo plano algumas atividades, tais como: recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoal, gerando deficiências e dificuldades funcionais (BALARINE, 1990). VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 80 GRÁFICO 4.11 – ÁREAS DE CONHECIMENTOS MAIS UTILIZADAS E DE MAIOR CARÊNCIA NO GERENCIAMENTO DE OBRAS DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA Gestão da Segurança/Higiene e Ambiental 15 7 14 Gestão da Informação 9 16 Gestão de Recursos Humanos 10 11 Gestão de Suprimentos 12 15 Gestão Empresarial, Finanças e de Marketing 14 13 Gestão da Qualidade 15 10 Gestão da Tecnologia 15 7 Gestão de Projetos 18 0 5 10 15 No de respostas (%) m ais utilizo m aior carência 20 25 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 81 As áreas de gestão da segurança/higiene e ambiental da obra apresentam as maiores diferenças com a mais baixa taxa de utilização (7%) e a maior carência (15%) de conhecimentos/prática. Esta deficiência também pode ser encontrada na literatura. Segundo BALARINE (1990), na construção civil, nos canteiros de obras, existe a necessidade de programas específicos de educação voltada para a segurança no trabalho. A pesquisa também mostrou que a maioria dos profissionais apontou mais de uma área de conhecimento, referente a maior utilização e carência. Outras áreas que foram indicadas como de grande utilização, como a gestão da qualidade, gestão empresarial, gestão de finanças e gestão de marketing, apresentaram percentuais elevados de carência. Isto denota a necessidade de ampliação de conhecimentos nestas áreas. Dentre os 50 profissionais que apontaram a área de recursos humanos como a de maior carência, 76% (38) era engenheiro civil, 22% (11) era arquiteto e 02% (01) era tecnólogo em construção civil. Da mesma forma, dentre os 15% (45) dos profissionais que apontaram as áreas de gestão de segurança/higiene e ambiental da obra como a de maior carência, 71,11% (32) era engenheiros civis, 22,22% (10) era arquiteto e 6,67% (03) era tecnólogo em construção civil. Através da análise desta parcela da amostra coletada, percebe-se a maior carência de engenheiros civis na área de recursos humanos, de tecnólogos em construção civil na área de gestão da segurança, higiene e ambiental da obra e de arquitetos nas duas áreas. Além disso, verificou-se também que dentre os 22 profissionais que indicaram a área de gestão de projetos como a de menor carência, 95,45% (21) era engenheiro civil e 4,55% (01) era tecnólogo em construção civil, enquanto os arquitetos não apresentaram percepção de carência nesta área. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 4.3.2.5 82 Escolha na lista das habilidades do gerente de obras em quais você sente mais confiança. Selecione também as habilidades que você sente necessidade de desenvolver. a) Habilidades que os profissionais percebiam que precisavam melhorar: Conforme ilustra o Gráfico 4.12, as habilidades para realizar a gestão da segurança e higiene da obra receberam o maior número de respostas dos profissionais (11,8%) da amostra coletada. Além disso, os itens que se referem às habilidades para realizar a gestão da qualidade e às habilidades para realizar a gestão ambiental da obra também receberam um número significativo de respostas dos profissionais, 10,0% e 9,8%, respectivamente. Por outro lado, o item que se refere ao planejamento e à organização de materiais, projetos e ferramentas para a obra recebeu o menor número de respostas desses profissionais (4,6%). Estes resultados denotam a necessidade de se enfatizar o desenvolvimento das habilidades para realizar a gestão da segurança e higiene, gestão da qualidade e gestão ambiental durante a formação profissional. Comparando esses resultados com os resultados da quarta rodada do método Delphi, verifica-se que os especialistas não selecionaram as habilidades para realizar a gestão da segurança, higiene da obra como as mais importantes (ver Tabela 4.5). Desta forma, verifica-se divergência entre a opinião dos especialistas e dos profissionais atuantes na RMC. b) Habilidades que os profissionais percebiam que possuíam experiência prática O resultado da pesquisa demonstrou, conforme o Gráfico 4.13, que os gerentes de obras amostrados possuíam mais prática nos itens relacionados à habilidade de liderança. São eles: reconhecer os talentos da equipes (9,8%), estabelecer metas e objetivos para si, para o projeto e para a equipe (9,6%) e liderar equipes e estimulá-las a enfrentar desafios (9,5%). Os itens indicados pelos profissionais como os de menor experiência prática, correspondem às habilidades de realizar a gestão da segurança e higiene da obra (2,2%), gestão ambiental da obra (2,4%) e gestão da qualidade da obra (3,4%). Verifica-se que estes itens correspondem às mesmas opções levantadas como as habilidades que precisavam VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil ser melhoradas, no tópico “A” desta questão. 83 Estes resultados denotam a necessidade de se melhorar o desenvolvimento das habilidades para gerenciar a segurança e higiene, a qualidade e para realizar a gestão ambiental da obra durante a formação dos profissionais. GRÁFICO 4.12 – HABILIDADES QUE OS GERENTES DE OBRAS PERCEBIAM QUE PRECISAVAM MELHORAR NA AMOSTRA ANALISADA Realizar a gestão da segurança e higiene da obra 11,8 10,0 Realizar a gestão da qualidade da obra Realizar a gestão ambiental da obra 9,8 Racionalizar processos construtivos, buscando melhoria nos métodos de trabalho 8,6 Exercer atividades de produção de obras: execução, métodos de ensaio, armazenamento, transporte, operação, uso, manutenção e restauração 8,2 7,1 Comunicar-se eficientemente 6,2 Integrar a equipe e mantê-la motivada Delegar tarefas e orientar o trabalho 5,9 Inspecionar a obra periodicamente e ouvir o feedback dos operários 5,9 Liderar equipes e estimulá-las a enfrentar desafios 5,7 Estabelecer metas e objetivos para si, para o projeto e para a equipe 5,7 Manter a equipe comprometida com relação as políticas e metas estabelecidas 5,7 Reconhecer talentos da equipe 4,8 Planejar e organizar materiais, projetos e ferramentas para obra 4,6 0 2 4 6 8 10 No de respostas (%) 12 14 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 84 GRÁFICO 4.13 – HABILIDADES NAS QUAIS OS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA PERCEBIAM QUE POSSUÍAM EXPERIÊNCIA PRÁTICA Reconhecer talentos da equipe 9,8 Estabelecer metas e objetivos para si, para o projeto e para a equipe 9,6 Liderar equipes e estimulá-las a enfrentar desafios 9,5 Delegar tarefas e orientar o trabalho 9,3 Manter a equipe comprometida com relação as políticas e metas estabelecidas 9,2 Inspecionar a obra periodicamente e ouvir o feedback dos operários 9,2 Planejar e organizar materiais, projetos e ferramentas para obra 8,7 Integrar a equipe e mantê-la motivada 8,6 8,3 Comunicar-se eficientemente Exercer atividades de produção de obras: execução, métodos de ensaio, armazenamento, transporte, operação, uso, manutenção e restauração 5,1 Racionalizar processos construtivos, buscando melhoria nos métodos de trabalho 4,7 3,4 Realizar a gestão da qualidade da obra Realizar a gestão ambiental da obra 2,4 Realizar a gestão da segurança e higiene da obra 2,2 0 2 4 6 8 10 N de respostas (%) o 12 14 85 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil c) Habilidades que os profissionais percebiam que possuíam conhecimento teórico: Conforme ilustra o Gráfico 4.14, as habilidades relacionadas à liderança receberam o menor número de respostas dos profissionais da amostra coletada. Os itens se referem ao reconhecimento de talentos da equipe (3,7%) e à integração e motivação da equipe (4,0%). Estas habilidades estão entre os itens que receberam um número considerável de respostas com relação à experiência prática. Percebese que apesar dos profissionais possuírem pouco conhecimento teórico sobre liderança, a necessidade de liderar pessoas fez com que os mesmos adquirissem experiência prática. Porém, os resultados indicam a necessidade de maior aprimoramento deste tema nas disciplinas dos cursos de Engenharia Civil, Arquitetura e Tecnologia em Construção Civil. Os itens relacionados à gestão da segurança/higiene e ambiental e gestão da qualidade da obra, que foram indicados pelos profissionais respondentes como as habilidades que mais precisavam ser melhoradas, apresentaram um grande percentual de respostas, 15% e 13%, respectivamente, em relação à carência de conhecimentos teórico-práticos (ver 4.3.2.4). Como a habilidade consiste na transformação dos conhecimentos em ação, ressalta-se que os profissionais não possuíam conhecimentos suficientes sobre os temas acima citados para mobilizar nas situações de trabalho. Estes resultados demonstram o quão importante é o desenvolvimento integrado dos recursos das competências (saber, saber-fazer e saber-ser) na formação do profissional, conforme se evidencia nas idéias de LE BOTERF (2003). Para este autor os conhecimentos, habilidades e atitudes devem atuar conjuntamente e compara a competência a um saber-mobilizar. Existem pessoas que possuem conhecimentos ou habilidades, mas não sabem mobilizá-los de modo pertinente, no momento oportuno, numa situação de trabalho. Possuir conhecimentos ou habilidades não significa ser competente. Não há competências se faltam conhecimentos, habilidades e atitudes para serem mobilizados. Se os recursos estão presentes, mas não são mobilizados em tempo útil e conscientemente, então, na prática, é como se eles não existissem (LE BOTERF, 2003). VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 86 GRÁFICO 4.14 – HABILIDADES NAS QUAIS OS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA PERCEBIAM QUE POSSUÍAM CONHECIMENTO TEÓRICO Racionalizar processos construtivos, buscando melhoria nos métodos de trabalho 10,5 Planejar e organizar materiais, projetos e ferramentas para obra 9,8 Exercer atividades de produção de obras: execução, métodos de ensaio, armazenamento, transporte, operação, uso, manutenção e restauração 9,8 Realizar a gestão ambiental da obra 9,5 Realizar a gestão da segurança e higiene da obra 9,2 Realizar a gestão da qualidade da obra 9,2 Inspecionar a obra periodicamente e ouvir o feedback dos operários 7,4 Estabelecer metas e objetivos para si, para o projeto e para a equipe 6,2 Liderar equipes e estimulá-las a enfrentar desafios 5,9 Manter a equipe comprometida com relação as políticas e metas estabelecidas 5,9 Delegar tarefas e orientar o trabalho 4,6 Comunicar-se eficientemente 4,3 Integrar a equipe e mantê-la motivada 4,0 Reconhecer talentos da equipe 3,7 0 2 4 6 o 8 10 N de respostas (%) 12 14 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 87 4.3.2.6 Escolha na lista os itens que mais caracterizam as suas atitudes no seu ambiente de trabalho. Em relação às atitudes, verifica-se na amostra estudada que os gerentes de obras percebiam que eram éticos nas questões profissionais e aspectos sociais, visto o maior número de respostas recebidas por este item (19,1%), conforme mostra o Gráfico 4.15. Além disso, salienta-se que a atitude pró-ativa, frente aos problemas comuns do setor da construção, como baixo nível de qualificação da mão-de-obra e rotatividade, foi o item menos votado (9,3%). A pesquisa demonstrou que os profissionais normalmente indicavam mais de uma atitude característica do ambiente de trabalho. GRÁFICO 4.15 – PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA QUANTO ÀS ATITUDES NO AMBIENTE DE TRABALHO Ter ética nas questões profissionais e aspectos sociais 19,1 Ter respeito pelos operários e buscar feedback sobre as condições de trabalho 16,1 Ter iniciativa 15,7 Ser organizado e prático 14,5 Ser criativo 13,0 Ser flexível 12,3 9,3 Ter atitude pró-ativa 0 5 10 15 No de respostas (%) 20 25 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 88 Comparando estes resultados com os resultados da quarta rodada do método Delphi, verifica-se que os especialistas consideraram a ética no trato das questões profissionais e aspectos sociais como a atitude mais importante do gerente de obras. Verifica-se uma convergência entre a opinião dos especialistas e as atitudes que os profissionais percebiam que utilizavam mais freqüentemente. Na literatura DANNA (1996), ECHEVESTE et al. (1999) e KLEMP (1999) também citam a ética como uma atitude fundamental ao profissional. As novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia indicaram a compreensão e aplicação da ética e da responsabilidade profissional como uma habilidade (CNE/CSE, 2002). Porém, SOUSA (2002) comenta que apesar desta atitude não estar formalmente explicitada nas Diretrizes, pode-se deduzir que as mesmas requeriam um compromisso com a ética e a responsabilidade social. Além disso, no método Delphi a atitude pró-ativa foi considerada a segunda mais importante do gerente de obras, porém na survey foi a menos percebida pelos profissionais. A atitude pró-ativa é citada na literatura por ECHEVESTE et al. (1999) como importante ao gerente. SOUSA (2002) comenta que as novas Diretrizes requeriam a manutenção de uma postura pró-ativa e empreendedora, apesar da mesma não ter explicitado formalmente esta atitude. Este resultado demonstra um conformismo dos profissionais face às dificuldades do setor, indicando a necessidade de se trabalhar este aspecto na sua formação. 4.3.3 Estratégias Utilizadas para Melhorar os Recursos das Competências 4.3.3.1 Quando foi a última vez que você participou de alguma atividade de atualização profissional? A pesquisa realizada demonstrou que os profissionais da amostra coletada na RMC estavam se atualizando profissionalmente. Conforme pode ser visualizado no Gráfico 4.16, 62% dos profissionais buscaram atualização num período inferior a seis (06) meses. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 89 Analisou-se possível correlação entre a data da última atualização profissional com outras características estudadas nesta dissertação, tais como sexo, profissão e o local de trabalho. A aplicação do teste X2 (qui-quadrado) na amostra identificou uma correlação significativa com relação à data da última atualização profissional. A correlação buscou identificar a proporção de homens e mulheres na busca de atualização profissional. Os resultados estatísticos obtidos mostraram, com 90% de confiança, que 67% dos profissionais do sexo masculino procuraram se atualizar no período de até um ano, enquanto esta proporção para as mulheres é maior, sendo 86%. Em contra-partida, pode-se afirmar que 33% dos profissionais do sexo masculino procuraram alguma atividade de atualização profissional no período superior a um ano, enquanto que para o sexo feminino a proporção foi menor, apenas 14%. GRÁFICO 4.16 – DATA DA ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ESTUDADA Há menos de 1 mês 37 Entre 1 e 6 meses 25 15 Entre 1 e 2 anos 12 Entre 2 e 5 anos 10 Entre 6 e 12 meses Há mais de 5 anos 1 0 10 20 30 40 No de respostas (%) A correlação entre a data da última atualização profissional e outras variáveis estudadas nesta dissertação, como a profissão e o local de trabalho, não apresentaram associação nesta amostra coletada. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 4.3.3.2 90 Quais são os meios de atualização profissional que você mais utiliza? A amostra coletada identificou que os principais meios de atualização dos gerentes de obras são a leitura de livros, revistas (28,5%) e palestras (24,5%), conforme mostra o Gráfico 4.17, enquanto os cursos à distância foram à opção menos escolhida pelos profissionais (1,3%). Note que os gerentes de obras normalmente utilizavam mais de um meio de atualização simultaneamente. GRÁFICO 4.17 – MEIOS DE ATUALIZAÇÃO MAIS UTILIZADOS PELOS PROFISSIONAIS DA AMOSTRA ANALISADA Literatura: Livros, Revistas 28,5 Palestra 24,5 16,1 Curso de Especialização 15,5 Congressos, Simpósios 8,4 Extensão Universitária Curso Técnico em Instituição 5,7 1,3 Curso à Distância 0 5 10 15 20 25 30 35 No de respostas (%) Os resultados demonstraram que os meios de atualização profissional de maior peso, como os cursos de especialização, congressos, cursos de extensão universitária e cursos técnicos em instituição, estavam sendo utilizados pelos profissionais com menos freqüência que as palestras e a leitura de livros, devido ao reduzido número de respostas indicadas naquelas opções. Estes meios de aperfeiçoamento profissional deveriam ser os mais utilizados para reduzir as deficiências nos recursos das competências. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 91 Percebe-se que os profissionais estavam buscando meios de atualização profissional de curta duração e que pudessem ser realizados paralelamente com as atividades do trabalho. Apesar dos cursos à distância permitirem uma flexibilidade de tempo e local para a realização, esta opção foi a menos escolhida, devido à falta de cursos direcionados aos profissionais do setor. 4.4 RESULTADOS DA ANÁLISE DAS GRADES CURRICULARES 4.4.1 Comparação das Grades Curriculares com a Survey A análise das grades curriculares dos cursos relacionados à construção civil na RMC teve como objetivo verificar se estas contemplavam as lacunas identificadas na survey. Para isso, foram analisadas três (03) grades curriculares dos cursos de Engenharia Civil, quatro (04) dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e uma (01) do curso de Tecnologia em Construção Civil. Foram analisados somente os temas que estavam formalmente apresentados nas ementas das disciplinas dos cursos em questão (ver Anexo). O Quadro 4.4 relaciona as funções empresariais e indica seu grau de abrangência nos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil. As áreas funcionais das empresas compreendem: a gestão empresarial, a gestão da produção, a gestão de finanças, a gestão de marketing, a gestão de recursos humanos, a gestão de projetos (design), a gestão da segurança e higiene, a gestão ambiental, a gestão da qualidade e a gestão de suprimentos. Através da comparação entre as grades curriculares, percebe-se que as maiores deficiências sobre temas relacionados ao gerenciamento encontram-se nos cursos de Arquitetura, principalmente nas áreas de gestão empresarial, gestão de finanças, gestão de marketing, gestão de recursos humanos, gestão da segurança e higiene no trabalho, gestão da qualidade e gestão de suprimentos. Por outro lado, no curso de Engenharia Civil, as deficiências são bem menores, destacando-se apenas as áreas gestão da qualidade e gestão de projetos (design). VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 92 QUADRO 4.4 – ABRANGÊNCIA CURRICULAR DOS CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E TECNOLOGIA EM CONSTRUÇÃO CIVIL EM RELAÇÃO ÀS FUNÇÕES EMPRESARIAIS FUNÇÕES ENGENHARIA CIVIL TECN. ARQUITETURA EMPRESARIAIS ENG01 ENG02 ENG03 TEC01 ARQ01 ARQ02 ARQ03 ARQ04 1. Empresarial 2. Produção 3. Finanças 4. Marketing 5. Recursos humanos 6. Projetos (design) 7. Segurança e higiene 8. Ambiental 9. Qualidade 10. Suprimentos Fonte: Grades curriculares dos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil da Região Metropolitana de Curitiba, 2003. Nota: Sinais utilizados: Abrangente Pouco abrangente - Não contempla O curso de Tecnologia em Construção Civil analisado possuía menor número de lacunas que os cursos de Arquitetura, porém em algumas áreas, os conteúdos são pouco abrangentes, como a gestão empresarial, gestão de finanças, gestão de marketing, gestão de recursos humanos, gestão de projetos (design) e gestão de suprimentos. De uma maneira geral, verifica-se nas oito (08) grades curriculares analisadas uma forte preocupação com a gestão da produção da construção e a gestão ambiental. Por outro lado, constatam-se deficiências nas áreas de gestão de marketing, recursos humanos, gestão da qualidade e de suprimentos. A seguir, é realizada uma análise curso a curso para verificar se estes possuíam os conhecimentos para desenvolver os recursos das competências que foram percebidos pelos profissionais como deficientes na survey. Com relação ao conhecimento teórico, a survey identificou que os profissionais percebiam que possuíam carências na gestão de recursos humanos e na liderança. Além disso, foram apontadas também as habilidades que precisavam ser melhoradas, como a gestão da segurança e higiene da obra. Por final, a atitude pró-ativa que necessitava ser desenvolvida. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 4.4.1.1 93 Curso ENG01 Na época da investigação, o curso ENG01 possuía uma disciplina onde eram abordados temas relacionados à gestão de recursos humanos, gestão de finanças, gestão de marketing e logística. Os tópicos relacionados à gestão de recursos humanos eram apresentados de forma bem detalhada no programa, como: planejamento, previsão e auditoria de recursos humanos (RH); recrutamento, descrição de trabalhos e cargos, fontes de recrutamento, seleção (etapas do processo, seleção de gerentes, centros de avaliação); orientação ou socialização, programas de treinamento e desenvolvimento, avaliação do desempenho (informal, sistemática formal); promoções, transferências, rebaixamentos e desligamentos; administração de RH e pressões ambientais, modelo para avaliação de RH. Além disso, nesta disciplina também eram abordados temas relacionados à liderança, motivação e satisfação no trabalho. Existia uma disciplina intitulada de segurança do trabalho que abordava temas sobre a gestão da segurança e higiene no trabalho. Os seguintes temas eram apresentados na ementa da disciplina: introdução à segurança e higiene do trabalho; normas regulamentadoras; inspeção de segurança; higiene do trabalho; primeiros socorros; equipamentos de proteção individual; proteção contra incêndio; prevenção e controle de riscos em máquinas, equipamentos, instalações e em obras de engenharia; segurança em atividades extra-empresa; cuidados em cada fase da obra; qualidade na segurança e higiene do trabalho; série SHT 9000 – Normas para gestão e garantia da segurança e higiene do trabalho; armazenagem, estocagem, manuseio e transporte. Conclui-se que o curso ENG01 possuía disciplinas que discutiam os temas que foram identificados na survey como deficientes, com exceção da atitude próativa. Ressalta-se que esta análise foi realizada na nova grade curricular do curso, que entrou em vigor a partir do ano 2000. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 4.4.1.2 94 Curso ENG02 No curso ENG02 verifica-se a existência de uma disciplina implantada no ano de 1981, que abordava temas relacionados com o gerenciamento, como: conceitos fundamentais, funções empresariais, organização industrial, noções de direito e legislação. Os tópicos do programa que se referiam à gestão de recursos humanos eram os seguintes: organização e recursos humanos, divisão do trabalho, organograma, critérios de departamentalização, cadeia de comando, análise do trabalho, recrutamento, seleção, treinamento, planejamento de carreira profissional e patologias empresariais. Nesta disciplina também eram abordados temas como a liderança, negociação, comportamento empresarial, motivação e comunicação. Existia também uma disciplina optativa que abordava temas relacionados à segurança e higiene no trabalho, como: introdução à engenharia e higiene do trabalho, estudo de causas dos acidentes do trabalho, acidentes do trabalho, avaliação dos acidentes do trabalho, mapeamento de riscos, saúde ocupacional e higiene do trabalho. O objetivo da disciplina era analisar os problemas de segurança, relativos a acidentes na construção civil e sua aplicação em obras, serviços e condições de trabalho. Os temas relacionados à atitude pró-ativa não estavam formalmente apresentados nas ementas das disciplinas deste curso. 4.4.1.3 Curso ENG03 Na época da pesquisa, o curso ENG03 possuía uma disciplina que abordava questões de economia e de gerenciamento. Na área de gerenciamento eram trabalhados os seguintes tópicos: introdução ao gerenciamento, história do gerenciamento como ciência, as grandes áreas da empresa, planejamento, gerenciando a excelência e a qualidade, formas de propriedade e de associação entre empresas. A gestão de recursos humanos era abordada junto ao tópico das grandes áreas da empresa, porém os conteúdos não estavam explicitados. A liderança e as atitudes no trabalho eram discutidas numa disciplina de humanidades e legislação profissional, onde eram abordados temas a respeito do comportamento humano no trabalho, através dos seguintes tópicos: fundamentos do VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 95 comportamento empresarial (o trabalho e as pessoas, modelos de comportamento empresarial), motivação e sistemas de recompensa (razões básicas da motivação, motivação dos empregados, avaliação e compensação do desempenho, atitudes dos empregados e seus efeitos), liderança e mudança empresarial (liderança e supervisão), perspectivas do comportamento empresarial (modelos, limitações e seu futuro). Além disso, eram estudadas as imposições jurídicas nas atividades da engenharia civil, sob os paradigmas da sociedade tecnológica e do código de ética. Com relação à gestão da segurança e higiene, havia uma terceira disciplina que abordava questões a respeito da construção civil e segurança, cujos objetivos eram capacitar o aluno a atuar sobre o processo construtivo, minimizando suas perdas, otimizando os resultados e reduzindo os riscos de segurança em canteiro. Porém, os tópicos relacionados à segurança não eram explicitados. Através da análise realizada, pode-se constatar que este curso apresenta formalmente todos os conhecimentos identificados como deficientes na survey. 4.4.1.4 Curso TEC01 No curso TEC01 não havia disciplinas que tratavam da gestão de recursos humanos, na época da pesquisa. Porém, havia uma disciplina que discutia questões de empreendedorismo, que abordava alguns recursos das competências do empreendedor como liderança, visão da empresa, persistência, atualização e senso de oportunidade. A gestão da segurança e higiene da obra era tratada em uma disciplina de segurança no trabalho, através dos seguintes temas: legislação e normas, higiene e medicina no trabalho, ergonomia, primeiros socorros, EPI (equipamentos de proteção individual) e EPC (equipamentos de proteção coletiva), psicologia e segurança no trabalho. Os temas relacionados à atitude pró-ativa não estavam formalmente apresentados nas ementas das disciplinas deste curso. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 4.4.1.5 96 Cursos ARQ01, ARQ02 e ARQ03 A análise da grade curricular do curso ARQ01, ARQ02 e ARQ03 demonstrou que as áreas de recursos humanos, gestão da segurança e higiene, apontadas pelos profissionais da survey como as mais deficientes, em relação aos conhecimentos teóricos e as habilidades, não possuíam disciplinas que apresentavam formalmente estes temas nas ementas. Porém, no curso ARQ03 as habilidades de liderança e de trabalhar em equipe eram desenvolvidas nas atividades de um Escritório Modelo. Além disso, os temas relacionados à atitude próativa não estavam formalmente apresentados nas ementas das disciplinas destes cursos. 4.4.1.6 Curso ARQ04 No curso ARQ04 também não existiam disciplinas que abordavam temas relacionados à gestão de recursos humanos e a liderança. Com relação à gestão da segurança e higiene da obra, existia uma disciplina que abordava questões sobre sistemas construtivos, planejamento, controle e execução de obras, segurança, otimização de recursos e identificação de problemas no canteiro de obras. Porém, os tópicos relacionados à segurança no trabalho não estavam sendo detalhados. Ressalta-se que nesta disciplina eram realizadas aulas práticas em canteiro de obras, a fim de acompanhar as diversas fases de execução de obra. Além disso, os temas relacionados à atitude pró-ativa não estavam formalmente apresentados nas ementas das disciplinas deste curso. De uma maneira geral, conclui-se que as maiores deficiências dos cursos em relação às lacunas identificadas na survey estão relacionadas aos conhecimentos sobre a gestão de recursos humanos e a atitude pró-ativa. Além disso, constata-se também uma séria deficiência nos cursos de Arquitetura em gestão da segurança e higiene do trabalho. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 97 4.4.2 Comparação dos Currículos de Engenharia Civil com as Diretrizes As grades curriculares dos cursos de Engenharia Civil foram comparadas com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, a fim de verificar se as grades contemplavam as mesmas. Na época da redação desta dissertação, o Ministério da Educação ainda não havia elaborado as Diretrizes para os cursos de Arquitetura e Tecnologia em Construção Civil. Desta forma, não foi possível realizar esta análise para estes últimos cursos citados. Verifica-se que os conteúdos profissionalizantes previstos nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Engenharia, como construção civil; ergonomia e segurança do trabalho; estratégia e organização; gerência da produção; gestão ambiental; gestão econômica; gestão da tecnologia; processos de fabricação e qualidade apresentam-se formalmente explicitados nas ementas das disciplinas dos cursos analisados. Apenas os conhecimentos relacionados à gestão da qualidade necessitam ser melhorados. 4.5 PROPOSIÇÕES DE DIRETRIZES CURRICULARES As análises das deficiências levantadas na survey, a verificação se estas lacunas eram também presentes nos currículos dos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil, a comparação entre os currículos dos cursos e a confrontação entre o currículo do curso de Engenharia Civil com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Engenharia deram origem a proposições de diretrizes para revisão curricular dos cursos superiores relacionados à construção civil, estratégias de aprendizagem continuada e para a realização de diagnósticos regionais. A seguir, o Quadro 4.5 apresenta um resumo das proposições de diretrizes apresentadas neste Capítulo. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 98 QUADRO 4.5 – RESUMO DAS PROPOSIÇÕES DE DIRETRIZES CURRICULARES PARA A ÁREA DE GERENCIAMENTO DE OBRAS ITEM PROPOSIÇÃO DE DIRETRIZES CURRICULARES Atividades do - enfatizar, durante o curso, principalmente os temas relacionados às habitações processo de unifamiliares e os edifícios comerciais e de serviços; construção. - não se deve ignorar outros tipos de obras, tais como, pontes, estradas, habitação social, etc. Contexto: porte - realizar atividades voltadas para obras de médio porte, durante o curso. da obra Contexto: mão- orientar os alunos sobre como se trabalhar com mão-de-obra empreitada. de-obra Contexto: origem - orientar os alunos sobre como se trabalhar com obras, cujos recursos são do dos recursos obra proprietário. Conhecimentos - ressaltar os conhecimentos de gestão de recursos humanos e gestão da segurança e higiene do trabalho; - ampliar os conhecimentos nas áreas de gestão da qualidade, gestão empresarial, gestão de finanças, gestão de marketing, gestão da informação e gestão de suprimentos; - aprimorar os conhecimentos sobre liderança. Habilidades - enfatizar o desenvolvimento das habilidades para realizar a gestão da segurança e higiene, gestão da qualidade e gestão ambiental da obra. Atitudes - desenvolver a atitude pró-ativa nos alunos. 4.6 CONSIDERAÇÕES GERAIS A aplicação do método Delphi junto aos especialistas resultou na formulação do conceito de competências, que auxiliou na identificação dos principais conhecimentos, habilidades e atitudes do gerente de obras. Pode-se perceber que nem sempre as opiniões dos especialistas que trabalhavam nas Instituições de Ensino Superior (IES) eram convergentes com as dos profissionais que atuavam no mercado de trabalho. Isto pode ser constatado, pois a survey identificou que os profissionais percebiam que possuíam conhecimento teórico/prático na gestão de projetos, possuíam também habilidades de planejar e organizar materiais, projetos e ferramentas para a obra. Enquanto que os especialistas das IES indicaram como relevantes o conhecimento das técnicas de planejamento, gerenciamento e a habilidade para liderar equipes. Porém, com relação às atitudes, houve convergência, pois os profissionais percebiam que eram éticos nas questões profissionais e aspectos sociais e os especialistas das IES consideraram a ética a atitude mais importante. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 99 A aplicação da survey verificou que os profissionais percebiam que possuíam deficiências na gestão de recursos humanos. Analisando as grades curriculares, percebe-se que esta área de gestão é uma das menos abordadas pelos cursos. A survey também identificou que os profissionais percebiam que possuíam lacunas nas habilidades para realizar a gestão da segurança e higiene da obra, cujo domínio de conhecimento teórico era considerado o segundo mais deficiente pelos profissionais que responderam a survey. A análise das grades curriculares identificou que esta área de gestão apresenta uma séria deficiência nos cursos de Arquitetura. Além disso, a aplicação da survey identificou que os profissionais percebiam que não estavam tendo atitude pró-ativa frente aos problemas comuns do setor da construção civil, como baixo nível de qualificação da mão-de-obra e rotatividade. Analisando as grades curriculares dos cursos relacionados à construção civil, verifica-se que a maioria delas não apresentava formalmente este tema nas ementas das disciplinas. Por isso, é necessário ir além da transmissão de conhecimentos e oferecer oportunidades para que os estudantes possam desenvolver e aprimorar suas habilidades e atitudes durante a formação profissional. Através das análises das grades curriculares pode se concluir, de uma maneira geral, que as maiores deficiências dos cursos estão relacionadas aos conhecimentos sobre a gestão de marketing, gestão de recursos humanos, gestão da qualidade e gestão de suprimentos. Além disso, verifica-se que os cursos de Engenharia Civil podem levar a uma melhor preparação dos profissionais para exercer a atividade de gerenciar obras, em comparação com os cursos de Arquitetura e Tecnologia em Construção Civil, tendo em vista a maior abrangência em todas as áreas funcionais das empresas. A formação do arquiteto e do tecnólogo em construção civil deve ser similar a do engenheiro civil, visto que os três profissionais possuem habilitação para gerenciar obras. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 100 5 CONCLUSÃO 5.1 CONCLUSÕES GERAIS Os resultados e análises obtidos através da aplicação da survey contribuíram no sentido de alcançar o objetivo de pesquisa que visava avaliar a percepção dos arquitetos, engenheiros civis e tecnólogos em construção civil quanto aos recursos das competências no que tange à gestão de obras da construção civil, assim respondendo ao problema de pesquisa levantado. Os resultados principais apontam as seguintes conclusões a respeito da percepção dos profissionais quanto ao saber, saber-fazer e saber-ser: a) saber (conhecimentos): a pesquisa revelou que a população amostrada percebia o tópico gestão de recursos humanos como sendo o item de maior carência de conhecimento teórico (16%). Em contrapartida, a pesquisa também apontou que os profissionais de gerenciamento amostrados percebiam a gestão de projetos como o tópico de menor carência de conhecimento teórico (7%) e, ao mesmo tempo, este tópico era o que os profissionais revelaram maior experiência prática (18%); b) saber-fazer (habilidades): o trabalho indicou que os gerentes de obras amostrados percebiam a gestão da segurança e higiene como o item que mais precisava ser melhorado (11,8%) e, ao mesmo tempo, este item era percebido como a de menor experiência prática (2,2%). De maneira similar, este item foi considerado o segundo maior referente à carência de conhecimento teórico (15%). Por outro lado, o trabalho também indicou que os gerentes de obras percebiam o tópico organizar materiais, projetos e ferramentas para a obra como o item de maior habilidade (4,6%) e, ao mesmo tempo, este tópico foi considerado o segundo maior referente ao domínio de conhecimento teórico (9,8%); c) saber-ser (atitudes): a pesquisa revelou que a população amostrada percebia que não tinha atitude pró-ativa, frente aos problemas comuns do setor da construção, pois esta opção recebeu o menor percentual de respostas (9,3%). Por outro lado, a pesquisa revelou que os profissionais VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 101 amostrados percebiam que eram éticos nas questões profissionais e aspectos sociais, pois este item recebeu o maior número de respostas (19,1%), em relação às atitudes tomadas no ambiente de trabalho. Assim como a ética foi a atitude considerada mais importante pelos especialistas que participaram na etapa de aplicação do método Delphi. A hipótese de que os profissionais percebiam que possuíam deficiências nos saberes para gerenciar os recursos humanos foi confirmada, através dos resultados referentes aos conhecimentos obtidos na aplicação da survey, conforme descrito anteriormente. Estas lacunas indicam que as práticas de recrutamento, seleção e desenvolvimento do pessoal não têm sido eficazes. Por isso, existe a necessidade de formar profissionais com maiores conhecimentos nesta área, a fim de diminuir a rotatividade de pessoal, melhorando o rendimento operacional das empresas da construção civil. Os dados mostrados a seguir foram importantes para o alcance do objetivo que visava avaliar os saberes transmitidos pelos cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil, em relação às demandas dos profissionais atuantes no mercado de trabalho na RMC. Analisando as grades curriculares, verificou-se que a área de recursos humanos, a que apresentou maior carência de conhecimentos teóricos, foi justamente a menos abordada pelos cursos. Conhecimentos em recursos humanos eram transmitidos de forma abrangente por apenas 25% dos cursos. Da mesma forma, a análise das grades curriculares identificou que a área de gestão da segurança e higiene da obra, a que apresentou maior necessidade de desenvolvimento de habilidades na survey, apresentou uma séria deficiência nos cursos de Arquitetura, pois este conteúdo era abordado por apenas 25% deles. Finalmente, a analise efetuada identificou que a atitude pró-ativa, a menos característica, não era apresentava formalmente nas ementas das disciplinas pela maioria dos cursos (75%). A hipótese secundária desta dissertação, que supunha que os cursos de Arquitetura, Engenharia Civil e Tecnologia em Construção Civil da RMC apresentariam conteúdos insuficientes nas grades curriculares para o desenvolvimento dos saberes em gestão da construção civil foi confirmada. A análise das oito (8) grades curriculares levantadas demonstrou que as maiores VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 102 deficiências encontravam-se nas áreas de gestão de recursos humanos, gestão da qualidade, gestão de suprimentos, pois estas áreas eram abordadas de forma abrangente por apenas 25% dos cursos, além da gestão de marketing que era abordada de forma abrangente em apenas 37,5% dos cursos. Os temas sobre gestão de recursos humanos e de suprimentos eram abordados principalmente pelos cursos de Engenharia Civil. Os temas relacionados à gestão da qualidade apresentaram deficiências principalmente nos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura. As lacunas sobre os temas de gestão de marketing encontram-se principalmente nos cursos de Tecnologia em Construção Civil e Arquitetura. Concluise, desta forma, que os cursos de Engenharia Civil podem levar a uma melhor preparação dos profissionais para exercer a atividade de gerenciar obras, em comparação com os cursos de Tecnologia em Construção Civil e de Arquitetura. Os dados mostram o quão importante é uma visão de competência no desenvolvimento do profissional. A abordagem de competências permite visualizar o saber, saber-fazer e saber-ser distintamente. Com isso, pode-se detectar aonde reside a deficiência que deve ser desenvolvida. Pode-se verificar que os recursos da competência não têm sido desenvolvidos de forma integrada pelos cursos, visto as lacunas detectadas. Da mesma forma, as áreas de gestão estão sendo abordadas pelos cursos de forma incompleta. Com isso, verifica-se a necessidade de maior disseminação dos conceitos de competências e da maior abordagem das áreas de gestão nos cursos, a fim de melhorar o ensino. Além disso, considera-se necessário o desenvolvimento integrado dos recursos da competência, durante a formação acadêmica, para que o profissional tenha os conhecimentos, as habilidades e as atitudes para mobilizar nas diversas situações complexas que surgem durante a sua vida profissional. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 5.2 103 CONCLUSÃO SOBRE O MÉTODO DE PESQUISA ADOTADO A aplicação do método Delphi junto aos especialistas, na fase inicial da pesquisa acelerou o entendimento do tema competência, com discussões que levaram à compreensão dos seus aspectos principais. Na realização de surveys, recomenda-se a assessoria de profissionais da área da estatística, desde as fases iniciais de elaboração do instrumento de coleta de dados. Além disso, considera-se necessário haver um convênio entre as Instituições interessadas na pesquisa, a fim de facilitar o acesso aos dados do público-alvo, permitindo, desta forma, a seleção da amostra. Apesar das Instituições de Ensino Superior e das entidades do setor da construção civil contribuírem com o envio de questionários aos seus alunos e filiados, a falta de divulgação da pesquisa em revistas e jornais do setor, bem como a utilização da internet para implementar a survey acarretou algumas limitações na pesquisa, como contar principalmente com a voluntariedade e o interesse dos pesquisados. Assim, para a aplicação do instrumento de coleta de dados (questionário) de surveys eletrônicas sugere-se contatar brevemente, pelo telefone, as pessoas pertencentes ao público-alvo, a fim de fazer com que o indivíduo conheça a pesquisa, se interesse por ela e responda ao questionário. Os consultores da área de estatística sugerem a elaboração de um questionário simplificado a fim de possibilitar o aumento no número de respostas e com questões que permitam apenas uma opção de resposta para facilitar a aplicação de técnicas que identifiquem a correlação entre as variáveis. 5.3 CONCLUSÃO FINAL Em face das lacunas identificadas na presente pesquisa, verifica-se a necessidade de reduzi-las, através de revisões curriculares nos cursos superiores relacionados à construção civil. Constata-se também a necessidade de se realizar avaliações regulares dos gerentes de obras que atuam no mercado de trabalho, através das Entidades que apóiam o exercício destes profissionais, a fim de comprovar na ação as experiências VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 104 adquiridas pelos mesmos. A metodologia aqui empregada oferece um instrumento para ser utilizado neste tipo de avaliação. Para a realização de reformas curriculares nos cursos de nível superior, sugere-se que além de considerar a visão acadêmica dos especialistas atuantes nas Instituições de Ensino Superior, deve-se realizar também surveys com os profissionais atuantes no mercado de trabalho, a fim de captar a percepção destes profissionais, que possuem uma visão prática da sua atividade. Desta forma, obter uma visão completa, tanto teórica, como prática da atividade profissional. 5.4 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS A partir das análises e resultados obtidos nesta dissertação e ao longo de sua execução, pode-se indicar sugestões para o desenvolvimento de pesquisas futuras na área, como: a) Correlacionar os resultados obtidos na pesquisa com as competências gerenciais de excelência, a nível mundial, em relação às áreas automobilística e da computação; b) Realizar uma revisão dos conceitos evolutivos do pensamento em gestão e situar o gerente de produção da construção civil nesta linha evolutiva; c) Elaborar métodos para instrumentalização dos recursos da competência nos planos pedagógicos dos cursos, por exemplo, a liderança; d) Realizar avaliação dos recursos da competência de gerentes da construção civil, de outros níveis hierárquicos; e) Elaborar metodologia para auto-avaliação dos profissionais da construção civil; f) Formular planos pedagógicos para os cursos superiores relacionados à construção civil, baseados em competências; g) Replicação do método nos conteúdos dos cursos de especialização, extensão, técnicos, entre outros, verificando se contemplam as deficiências identificadas na pesquisa. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 105 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MARKETING DIRETO. O código de ética da ABEMB. Disponível em: <http://www.abemd.org.br/materias_conteudo.asp?coddocumento=20 > Acesso em: 25 fev. 2004. BALARINE, O. F. O. Administração e finanças para construtores e incorporadores. Porto Alegre: EDIPUC, 1990. BOOG, G. G. O desafio da competência: como enfrentar as dificuldades do presente e preparar sua empresa para o futuro. São Paulo: Nova Cultural, 1991. BOYATZIS, R. E. The competent management: a model for effective performance. New York: Jonh Wiley, 1982. BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. de A. Gestão de competências e gestão de desempenho. In: WOOD JR. T. Gestão empresarial: o fator humano. São Paulo: Atlas, 2002. p. 55-70. BRASIL. Lei n. 9.800, de 03 de janeiro de 2000. Dispõe sobre o zoneamento, uso e ocupação do solo do município de Curitiba e dá outras providências. Legislação de Uso do Solo, Prefeitura Municipal de Curitiba, 2000. BRINGHENTI, I. Perfil do ex-aluno da escola politécnica da USP: pesquisa visando o aprimoramento curricular. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1995. BROCKA, B.; BROCKA, M. S. Gerenciamento da qualidade. São Paulo: Makron Books, 1994. CHIAVENATO, I. Administração de empresas: uma abordagem contingencial. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. Parecer n. 1.362 de 12 de dezembro de 2001. Estabelece as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em engenharia. Diário Oficial da União, Brasília, 25 fev. 2002. Sec. 1, p.17. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. Resolução CNE/CSE 11 de 11 de março de 2002. Institui as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em engenharia. Diário Oficial da União, Brasília, 9 abr. 2002. Sec. 1, p.32. CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DO ESTADO DO PARANÁ. Catálogo empresarial de engenharia, arquitetura e agronomia do estado do Paraná. Curitiba, 2002. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 106 CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DO ESTADO DO PARANÁ. Rel qtdade prof 1810.doc. Quantidade de profissionais cadastrados no CREA-PR, com situação regular e endereço atualizado. Curitiba, 18 out. 2002. Arquivo (55 kbytes). Excel. CONTANDRIOPOULOS, A. P. et al. Saber preparar uma pesquisa: definição, estrutura e financiamento. 2. ed. São Paulo – Rio de Janeiro: Hucitec Abrasco, 1997. DAFT, R. L. Administração. 4. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. DANNA, F. L. O perfil do engenheiro no século XXI. In: PONTE, M. X.; BELLESI, L. M. O ensino de engenharia para o século XXI. Belém: Associação de Universidades Amazônicas, UNESCO, Universidade Federal do Pará, 1996. DUTRA, J. S. Gestão de pessoas com base em competências. In: DUTRA, J. S. Gestão por competências: um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. 2. ed. São Paulo: Gente, 2001. ECHEVESTE S. et al. Perfil do executivo no mercado globalizado. Rac, Curitiba: ANPAD, v. 3, n. 2, p. 167–186, maio/ago. 1999. FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. FARAH, M. F. S. Tecnologia, processo de trabalho e construção habitacional. São Paulo, 1992, 297p. Tese (Doutorado em Sociologia) – Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo. FAYOL, H. Administração industrial e geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1965. FEY, R.; GOGUE, J. M. Princípios da gestão da qualidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FLEURY, M. T. L. Aprendizagem e gestão do conhecimento. In: DUTRA, J. S. Gestão por competências: um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. 2. ed. São Paulo: Gente, 2001. FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Desenvolver competências e gerir conhecimentos em diferentes arranjos empresariais: o caso da indústria brasileira de plástico. In: FLEURY, M. T. L.; OLIVEIRA JR. M. de M. Gestão estratégica do conhecimento: integrando aprendizagem, conhecimento e competências. São Paulo: Atlas, 2001. p. 189-211. FLYNN, B. B. et al. Empirical research methods in operations management. Journal of Operations Management, v. 9, n. 2, p. 250-283, 1990. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 107 FONTENELLE, M. A. M. Desenvolvimento de competências didáticas dos gerentes de obras e técnicos de segurança na modalidade de formação à distância. Florianópolis, 2002. Exame de qualificação (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina. FRASER, C. A non-results-based effectiveness index for construction site managers. Construction Management and Economics, n. 17, p. 789-798, 1999. FRASER, C. The influence of personal characteristics on effectiveness of construction site managers. Construction Management and Economics, n. 18, p. 29-36, 2000. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2002. GIOVINAZZO, R. A . Modelo de aplicação de metodologia Delphi pela internet: vantagens e ressalvas. Administração On Line, v. 2, n. 2, abr./maio/jun. 2001. Disponível em: <http://www.fecap.br/adm_online/art22/renata.htm> Acesso em: 02 maio 2003. GIUBLIN, C. R. Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra de pavimentação de concreto. Curitiba, 2002. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) - Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná. HIROTA, E. H. Desenvolvimento de competências para a introdução de inovações gerenciais na construção através da aprendizagem na ação. Porto Alegre, 2001. 217f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. HOFFMANN, T. The meanings of competency. Journal of European Industrial Training. Austrália, v. 23, n. 6, p.275-286, 1999. KATZ, L. R. Skills of an effective administrator. Harvard Business Review, p. 90102, set./out. 1974. KAYO, E. K.; SECURATO. J. R. Método Delphi: fundamentos, críticas e vieses. Cadernos de Pesquisa em Administração, São Paulo, v. 1, n. 4, p. 51-61, 1997. Disponível em: <http://www. ead.fea.usp.br/cad-pesq/index.htm> Acesso em: 25 abr. 2003. KLEMP JR., G. O. Competências de liderança. HSM Management, São Paulo, n. 17, p. 132-140, nov./dez. 1999. KOTLER, P. Administração de marketing: análise, planejamento e controle. São Paulo: Atlas, 1986. LANTELME, E. M. V.; HIROTA, E. H.; FORMOSO, C.T. Desenvolvimento de competências gerenciais para a tomada de decisão através da abordagem da aprendizagem na ação. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 9, 2002, Foz do Iguaçu. Anais eletrônicos... p. 15351544. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 108 LAUDON, K. C.; LAUDON, J. P. Sistemas de informação: com internet. 4. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. LEAL, U. Profissão: engenheiro civil. TÉCHNE, São Paulo, n. 66, p. 42-46, set. 2002. LE BOTERF, G. De la compétence. Paris: Les Editions d´Organisation, 1995. LE BOTERF, G. Desenvolvimento a competência dos profissionais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. LEMES JR. A. B.; RIGO, C. M; CHEROBIM, A. P. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2002. LOPES, H. Perfil de competências dos licenciados em engenharia do IST. Disponível em: <http://secreta.ist.utl.pt/gep/inicio.htm> Acesso em: 22 ago. 2002. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. McGREGOR, D. O lado humano da empresa. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. MEGGINSON, L. C.; MOSLEY, D. C.; PIETRI JR., P. H. Administração: conceitos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Habra, 1998. MINTZBERG, H. The nature of managerial work. New York: Harper & How, 1973. MONTANA P. J.; CHARNOV, B. H. Administração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. MOREIRA, D. A. Administração da produção e operações. São Paulo: Pioneira, 1993. MORESI, E. A. D. Gestão da informação e do conhecimento. In: TARAPANOFF, K. Inteligência organizacional e competitiva. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. MULLINS, L. J. Management and organizational behaviour. 3. ed. London: Pitman Publishing, 1993. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. OLIVEIRA, S. L. de. Tratado de metodologia científica. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. OUCHI, W. Teoria Z: como as empresas podem enfrentar o desafio japonês. 10 ed. São Paulo: Nobel, 1986. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 109 PERRENOUD, P. O que fazer da ambigüidade dos programas escolares orientados para as competências? Pátio revista pedagógica, Porto Alegre, n. 23, p. 8-11, set./out. 2002. Disponível em: <http://www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php_main/php_2002/2002_28.h tml > Acesso em: 16 abr. 2003. REDE INDEPENDÊNCIA DE COMUNICAÇÃO. Cases premiados no marketing best 2002. Disponível em: <http://www.ric.com.br/cases_pbest_itau.asp> Acesso em: 15 set. 2003. ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2002. ROBSON, C. Real world research: a resource for social scientists and practitioners. Oxford: Blackwell, 1993. ROCHA, I. Reengenheirando o ensino de engenharia no Brasil. In: PONTE, M. X.; BELLESI, L. M. O ensino de engenharia para o século XXI. Belém: Associação de Universidades Amazônicas, UNESCO, Universidade Federal do Pará, 1996. RUAS, R. Desenvolvimento de competências gerenciais e contribuição da aprendizagem organizacional. In: FLEURY, M. T. L.; OLIVEIRA JR., M. de M. Gestão estratégica do conhecimento: integrando aprendizagem, conhecimento e competências. São Paulo: Atlas, 2001. p. 242-269. RUAS, R. A atividade gerencial no século XXI e a formação de gestores: alguns nexos pouco explorados. Revista Eletrônica de Administração. Porto Alegre, v. 06, n. 03, 2002. Disponível em: <http://www.read.ea.ufrgs.br/anterior/anterior.htm> Acesso em: 22 ago. 2002. SABOY, R. M.; JOBIM, M. S. S. O impacto da industrialização na mão-de-obra da construção civil brasileira. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO DA QUALIDADE E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 2, 2001, Ceará. Anais eletrônico... SANTI’IAGO, M. Comitê quer regulamentar o e-mail marketing. O Estado de São Paulo, São Paulo, SP, 14 jul. 2003. C. Informática, 1f. Disponível em: http://www.estado.estadao.com.br/suplementos/info/2003/07/14/info032.html Acesso em: 15 set. 2003. SCHIFFMAN, L. G.; KANUK, L. L. Comportamento do consumidor. 6 ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2000. SCHROEDER, R. G. Operations management: decision making in the operations function. 4. ed. Singapore: McGraw-Hill, 1993. SENGE, P. M. A quinta disciplina: arte, teoria e prática da organização de aprendizagem. 15 ed. São Paulo: Best Seller, 1990. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 110 SHIMIZU, J. Y. Os processos gerenciais internos de empresas subempreiteiras do subsetor edificações da região metropolitana de São Paulo. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO. 9, 2002, Foz do Iguaçu. Anais. p. 1535-1544. 1 CD ROM. SIEGEL, S. Estatística não paramétrica: para as ciências do comportamento. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975. SOUSA, A. C. G. de. Diretrizes curriculares nacionais dos cursos de engenharia: e agora? In: ENCONTRO EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA, 8, 2002, Petrópolis-Juiz de Fora. Anais... Disponível em: <www.educeng.ufjf.br/Pdf/eee45.pdf> Acesso em: 25 abr. 2003. TARAPANOFF, K. Referencial teórico: introdução. In: TARAPANOFF, K. Inteligência organizacional e competitiva. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. VIEIRA NETTO, A. Como gerenciar construções. São Paulo: Pini, 1988. VITERBO JR. E. Sistema integrado de gestão ambiental: como implementar um sistema de gestão que atenda à norma ISO 14.000 a partir de um sistema baseado na norma ISO 9.000. São Paulo: Aquariana, 1998. WEBSTER, M. F. Princípios de segurança e higiene do trabalho. In: VIEIRA, S. I. Medicina básica do trabalho. Curitiba: Genesis, 1996. p. 257-268. WOOD, JR. T. Remuneração por habilidades e competências. São Paulo: Atlas, 1997. WOODRUFFE, C. What is meant by a competency? In: BOAM, R.; SPARROW, P. Designing and achieving competency. Berkshire – England: McGraw-Hill, 1992. p. 16-30. WRIGHT, J. T. C.; GIOVINAZZO, R. A. Delphi: uma ferramenta de apoio ao planejamento prospectivo. Cadernos de Pesquisa em Administração, São Paulo, v. 1, n. 12, p. 54-65, 2000. Disponível em: <http://www.fia.com.br/profuturo/seminarios/fitoterapicos/delphi.pdf> Acesso em: 04 mar. 2003. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. YUKL, G. Leadership in Organizations. New Jersey: Prentice-Hall International, 1994. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 111 APÊNDICE - QUESTIONÁRIO APRESENTADO AOS GERENTES DE OBRAS NA SURVEY VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 112 LEVANTAMENTO DO PERFIL DO GERENTE DE OBRAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Caro(a) Arquiteto(a), Engenheiro(a) Civil, Tecnólogo(a) em Construção Civil, Se você atua ou pretende atuar no gerenciamento de obras na Região Metropolitana de Curitiba, solicitamos sua colaboração no fornecimento de informações para este levantamento, o qual tem por objetivo principal fornecer subsídios para as iniciativas de revisão curricular nas universidades paranaenses e, também, fornecer subsídios para o planejamento dos cursos a serem ministrados através do PRO-CREA e outras iniciativas de educação continuada apoiadas pelo CREA-PR. Por gentileza, preencha este questionário e envie-o para Lisiane Soldateli Vidotto pelo e-mail [email protected], no prazo de uma semana. Você vai ver que poucos minutos podem trazer grandes resultados! Realização: UFPR e PRO-CREA Apoio: GT de Gestão & Economia da ANTAC, Programa Construbusiness Paraná, FAG, PUCPR, UEL, UEM, UEPG, UNIFIL, UNIOESTE, UNIPAR, UNOPAR Dados pessoais: Nome: Cidade: Sexo: a) F b) M Qual a sua profissão? a) Engenheiro Civil c) Tecnólogo em Construção Civil b) Arquiteto e Urbanista d) Outra. Qual? VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 113 Há quanto tempo você está formado(a)? a) Há menos de 1 ano e) Entre 20 e 30 anos b) Entre 1 e 5 anos f) Entre 30 e 40 anos c) Entre 5 e 10 anos g) Entre 40 e 50 anos d) Entre 10 e 20 anos h) Há mais de 50 anos Qual o seu grau de instrução? a) Superior c) Mestre b) Especialista d) Doutor Onde você trabalha? a) Empresa privada c) Sou autônomo b) Empresa pública d) Outros. Onde? Quais as atividades do processo de construção em que você mais tem se envolvido? a) Viabilidade técnica econômica e) Projeto b) Construção f) Demolição c) Manutenção Preventiva g) Manutenção Corretiva d) Avaliação & Perícia h) Outras. Quais? Quais os tipos de obras que você têm gerenciado mais freqüentemente? a) Habitação unifamiliar g) Edifícios públicos b) Habitação multifamiliar h) Hospitais e clínicas médicas. c) Habitação social i) Saneamento d) Edifício comercial e de serviços j) Estradas e) Edifícios industriais k) Pontes f) Edifícios institucionais l) Outras. Quais? VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 114 Quais os contextos em que você tem atuado mais freqüentemente no gerenciamento de obras? a) Empreendimentos de pequeno porte 2 área construída até 100,00m b) Empreendimentos de médio porte – 2 área construída entre 100,00 m e 400,00 m 2 c) Empreendimentos de grande porte – 2 área construída superior a 400,00 m f) Empreendimentos de obras rápidas g) Empreendimentos com recursos financiados h) Empreendimentos com recursos do proprietário d) Empreendimentos com mão-de-obra própria i) Empreendimentos a preço de custo e) Empreendimentos com mão-de-obra empreitada j) Empreendimentos por administração No gerenciamento de obras, quais as áreas de conhecimento que você mais utiliza? Em quais áreas você sente maior carência de conhecimentos/prática? Mais utilizo Maior carência Mais utilizo Maior carência a) Gestão de finanças, administrativa e de clientes e) Gestão da segurança/ higiene e ambiental da obra b) Gestão de recursos humanos f) Gestão de fornecedores c) Gestão de tecnologia g) Gestão da qualidade d) Gestão do projeto h) Gestão da informação VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 115 Escolha na lista abaixo as habilidades do gerente de obras nas quais você se sente mais confiante. Selecione também as habilidades que você sente a necessidade de desenvolver. a) Liderar equipes e estimulá-las a enfrentar desafios. b) Estabelecer metas e objetivos para si, para o projeto e para a equipe. c) Manter a equipe comprometida com em relação às políticas e metas estabelecidas. d) Delegar tarefas e orientar. e) Reconhecer talentos da equipe. f) Integrar a equipe e mantê-la motivada. g) Expressar-se de forma clara e objetiva. Ouvir e compreender o contexto da mensagem. Argumentar com coerência, usando o feedback para facilitar a interação entre as partes. h) Planejar e organizar materiais, projetos e ferramentas para a obra. i) Racionalizar processos construtivos, buscando melhoria nos métodos de trabalho. j) Realizar a gestão da qualidade da obra. k) Realizar a gestão de segurança e higiene da obra. l) Realizar a gestão ambiental da obra. m) Inspecionar a obra periodicamente e ouvir o feedback dos operários. n) Exercer atividades de produção de obras: execução, métodos de ensaio, armazenamento, transporte, operação, uso, manutenção e restauração. Tenho conhecimento teórico Tenho experiência prática HABILIDADES DO GERENTE DE OBRAS Preciso melhorar Sinto confiança VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 116 Escolha na lista abaixo os itens que mais caracterizam as suas atitudes no seu ambiente de trabalho. ATITUDES a) Ser criativo b) Ter iniciativa c) Ser flexível d) Ser organizado e prático e) Ter ética nas questões profissionais e aspectos sociais f) Ter respeito pelos operários e buscar feedback sobre as condições de trabalho g) Ter atitude pró-ativa, não adotar postura conformista em relação às dificuldades comuns no setor da construção SIM Quando foi a última vez que você se participou de alguma atividade de atualização profissional? a) Há menos de 1 mês d) Entre 1 e 2 anos b) Entre 1 e 6 meses e) Entre 2 e 5 anos c) Entre 6 e 12 meses f) Há mais de 5 anos Quais são os meios de atualização profissional que você mais utiliza? MEIOS DE ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL a) Extensão universitária b) Curso técnico em instituição c) Curso à distância d) Curso de especialização e) Literatura: livros, revistas f) Congressos, simpósios g) Palestras MAIS UTILIZO VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil ANEXO - EMENTA DAS DISCIPLINAS DOS CURSOS DE ARQUITETURA, ENGENHARIA CIVIL E TECNOLOGIA EM CONSTRUÇÃO CIVIL DA RMC 117 VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil CURSO DISCIPLINA ENG01 Planejamento e Engenharia Civil gestão da PUCPR produção IV Segurança do trabalho ENG02 Gerenciamento e Engenharia Civil organização de UFPR empresas de engenharia Introdução à engenharia de segurança no trabalho (optativa) ENG03 Economia e Engenharia Civil gerenciamento UTP Humanidades e legislação profissional Construção civil e segurança 118 EMENTA Função financeira na empresa. Função comercial e marketing na empresa. Função logística na empresa. Função de Recursos Humanos na empresa. Introdução à segurança e higiene do trabalho. Normas regulamentadoras. Inspeção de segurança. Higiene do trabalho. Primeiros socorros. Equipamentos de proteção individual. Proteção contra incêndio. Prevenção e controle de riscos em máquinas, equipamentos, instalações e em obras de engenharia. Segurança em atividades extra-empresa. Cuidados em cada fase da obra. Qualidade na segurança e higiene do trabalho. Série SHT 9000 – Normas para gestão e garantia da segurança e higiene do trabalho. Armazenagem, estocagem, manuseio e transporte. Gerenciamento: conceitos fundamentais; funções empresariais, financeiras e comerciais da empresa. Organização Industrial: noções fundamentais; estudo do fator humano; do fator material. Noções de direito e legislação: introdução; regulamentação e legislação profissional; posturas públicas; litígios. Apresentação da disciplina. Introdução à engenharia e higiene do trabalho. Estudo de causas dos acidentes do trabalho. Acidentes do trabalho. Avaliação dos acidentes do trabalho. Mapeamento de riscos. Saúde ocupacional. Higiene do trabalho. Matemática financeira. Rendas uniformes e variáveis. Planos de amortização de empréstimos e financiamentos. Princípios de avaliação projetos de investimento. Noções de Microeconomia. Introdução ao gerenciamento. História do gerenciamento como ciência. As grandes áreas da empresa. Planejamento. Gerenciando a excelência e a qualidade. Formas de propriedade e de associação entre empresas. Estudo do comportamento humano no trabalho, particularmente, na produtividade. Estudo das imposições jurídicas nas atividades da Engenharia Civil, sob os paradigmas da sociedade tecnológica e do Código de Ética. Classificação geral das construções. Fases de execução da obra. Perdas na construção. Segurança na obra. VIDOTTO, L. S. Avaliação dos Recursos das Competências do Gerente de Produção da Construção Civil 119 CURSO DISCIPLINA EMENTA TEC01 Empreendedorismo O mercado atual. As bases da empregabilidade. Tecnologia em Empreendedorismo. As características do empreendedor Construção Civil (liderança, atualização, visão de organização, senso de CEFET-PR oportunidade e persistência). A inovação como fator diferencial (inovação de produto, de serviço e tecnológica). Plano de negócios. Segurança no Legislação e normas. Higiene e medicina no trabalho. trabalho Ergonomia. Prevenção e combate a sinistros. Primeiros socorros. EPI (Equipamentos de Proteção Individual) – EPC (Equipamentos de Proteção Coletiva). Psicologia e segurança no trabalho. ARQ01 Arquitetura PUCPR ARQ02 Arquitetura UFPR ARQ03 Arquitetura Uniandrade ARQ04 Tecnologia da Estudo dos sistemas construtivos e seus elementos. Arquitetura construção II Planejamento, controle e execução de ações de coordenação UTP de equipes de trabalho, visando à segurança e a otimização de recursos materiais e de mão-de-obra. Identificação de problemas nos canteiros de obras.