OS NOVOS ESTATUTOS DO CORPO NO JAPÃO
PROJETO TEMÁTICO DE PESQUISA COLETIVA
Coordenação geral:
P rofa . Dr a. Chr is tin e Gr e ine r
Linh a d e Pesquisa 1
R es umo:
Os ú ltimo s v in te anos te stemunh aram u m curto-circu ito nas rep resen ta çõ es do corpo
no Jap ão. Pesqu isador es j apon eses, em sin tonia co m ou tro s p ensadores or ien tais e
o c iden tais desestab ilizaram me táforas conceb idas tan to pela trad ição asiática (corpo
n acion al) co mo p e la f iloso f ia cen tro eu ropéia dos sécu los 17 e 18 (corpo má quin a).
O obj etivo d este proj eto é an alisar o que oco rre qu ando estas con tr ibu iç ões
atrav e ssam as linh as abissais qu e div id e m Or ien te e Ocid en te (Sou za San tos 2006),
instaur ando me d iaçõ es qu e question a m as v isões ma is u tóp icas dos processo s d e
g lob aliz ação (In ag a 2008 e 2009). O r esu ltado esp er ado é a cr iação d e u ma rede de
d iscu ssõ es e a pub licação de u m livro , onde proponho: ( 1) analisar a produção
b ib l io g r áf ica e a v e icu l a ç ão d e i m a g en s co n c ern en te s ao imp a c t o d o q u e co n c e i tuo
c o mo “jap o n is mo s mid i á t i co s” , ( 2 ) a p r o f u n d ar o d eba te, s alie n tando o s prob le ma s d a
tradução intercu ltu ral atrav é s d e en trev istas co m p esqu isadores japon eses; e (3 )
analisar algu ma s exp er iências sem ader ên cia ao “un iv erso superf la t” do Jap ão pop,
em f un ção d e cer ta obscur id ad e rema n e scen te do mov ime n to angur a (und erground)
q u e ins i s te e m a l i me n t ar u ma v is ão c r í t ic a con te mp o r ân e a, r eco n h e cen d o d ispo s i t iv o s
d e pod er formu lados no Jap ão (Ig ar ashi 2000) e for a d e lá (U ch ino 2009).
I n tro d u ç ão e j u s t i f ic a t iv a
A cu ltura japon esa te m sido tema de d iscussõ es no Ocid ente, sobretudo a par tir da
chamad a Restaur a ção Me ij i (1868-1912), cujo obj etivo pr in cipal fo i a ab er tur a do
J ap ão p ar a o me r c ado in tern ac ion a l. D e sde e n tão, é po ss ív e l r ec onhe c er f as e s
d is tin ta s na r e cep ç ão d a cu ltu ra n ipôn ica no O c iden te c o mo : a f as c in aç ão p elo
e x o t is mo , ma r c ad a p e la i ma g e m d e s a mu r a i s e g u e ix a s ; a sur p r es a d ian t e d a v er s ão
n ipôn ica d as ar te s d e v anguard a (d ada e surr ealismo) ; a cu mp licidade co m o s
ma n ifesto s po líticos e o s filmes de au tor, rod ados prin cip a lmente en tr e 1950 e
1970 ; o encan tamen to co m o asp ecto esté tico min ima lista d a arqu itetura, d a
j ar d inag e m e d a cu l in ár i a ; e, f in al me n t e , a r e v er ên c ia ao s o b j e to s d e co n su mo
( mod a, acessór ios, f ilmes d e an imação , jogos e produ to s nascidos da cu ltur a o taku).
No en tan to, a p ar tir d a segund a me tade do sécu lo 20 , mu itas d e stas represen ta ções
qu e encan tar am o imag in ár io o c iden tal for a m r a d icalme n te d e scon stru íd as, g erando
u ma d esestab ilização marcan te entre os própr ios j a p o n e s e s e o s s e u s int e r lo c u to re s
no O c id en te. O obj etivo p r incip a l d este proj eto é an alis ar alg uns pro cesso s qu e
nor tearam a emer gên c ia do que id en tif ico co mo o s novo s esta tu to s do corpo no
Jap ão e que vem ali men tando en tend imen tos d if eren c ia dos p ar a as no çõ es d e
id en tidad e, d e co mun ica ç ão e d e tra duç ão, tendo e m v is ta mo do s e sp ec íf ico s de ag ir
e estar no mundo.
O Japão apr esen tou, desd e o s seus pr imó rdios, u m car áter h íbr ido ma r c ado por
tr aço s fundame n tais da cu ltu ra chin esa ( med ic ina e escrita) e ind ian a (bud is mo
Mah a yana) En tre os sécu los 19 e 20, ap resentou o s pr ime iros tra ço s d a p re sen ça
o c iden t a l ( so b r e tu d o d a f i lo sof i a e d as v an g u ard as ar t í s tic as f r anc es a s e a l e mã s ) ; e
após 1980, tornou- se v isiv e lmen te p er meado por r ef erên c ia s d a cu ltura pop cor e an a
( n o v e la s, cu l in ár ia e d if er en te s a sp ec to s d a i n d ú s tr ia c u l tu r a l ) e e s t ad u n iden se
( c inema, f ast food s, música e ar tes pop).
P ar a an a l i sa r o s a sp ec t o s e len c ad o s n o r es u mo, o p r o j e to con ta co m u m
l e v a n ta me n to p r e l i mi n a r d e ma t e r ia l a u d iov isu a l (f ilmes, do cu me n tár io s, gr avuras,
po ster s e tc) e p esqu isa b ib liogr áf ica ( livros, artigos e conferên cias) org an izado em
fun ção d e tr ês curs os qu e of er ec i n a Fund aç ão J ap ão de S ão Pau lo,
r esp ectivamen te , de 2005 a 2007. A lém disso, tenho r ealizado en trev istas e
conduzido debates co m ar tistas e prof essor es j apon eses qu e v ieram ao Br asil 1 a me u
conv ite no s ú ltimo s onze anos. Foram p art i c u l a r me n te i m p o r t a n te s o s s e min ár ios
qu e organ izei duran te a exposição “Tok yog aqui, u m Japão imag in ado” (r ealiz ada de
ma r ç o a abr il de 2008 no Sesc Pau lis ta) e o semin á r io /exposição A Revo lta d a
Carne, em ago sto de 2009, no Sesc Conso lação .
E m te r mo s ma is g e ra is, a p e squ is a jus tif ic a- se d ev ido à carê nc ia d e u ma pub lica ção
em lín gua por tugu esa co m r ef erên cias para amp liar o s estudo s do co rpo par a além
d a b ib liograf ia h abitu a lme n te ado tad a no O cid en te ( co mposta por títu los de o r ige m
c en tr o - eu r o p é ia e es t ad u n id ens e) . A l é m d i sso, a o b r a p u b l i cad a e o s i te co m a
v ersão in tegral d as en tr ev is tas deverá au x iliar aqu e le s que pretend e m in iciar seus
estudo s especif icamen te sob re o corpo, a cu ltur a e a ar te j aponesa a p ar tir d e suas
r epr es en ta çõ es míd ia tic a s qu e func ion am c o mo op erado re s de tr adu ção
transcu ltural.
Sín tese d a bib liogr af ia fund amen ta l
O corpo tem s ido r epen sado no Jap ão co mo um d e s af io às d ico to mia s en tr e Or ien te
e O c id en te que aprofund aram as su as f issur as no período do pó s-gu err a, como
exp licou o professor de literatura Edw ard Said (1935-2003) d ivu lgador do termo
“Orien talismo ” . A publicação d e seu liv ro Orie n talismo : O Orien te co mo Inv en ção
d o O c iden te ( 1 9 7 8 ) r ec o n h e c eu o o r i en ta l i smo c o mo u m mo d o d e p en s ar e d e
e xer c er au tor id ade . Outro s au tor e s c o mo Abd el- Ma lek , A.L .T ib aw i e A ij az Ah mad
t a mb é m i d en t if i ca r a m a p r es enç a e a cr i se d o or ien talismo após a I I G rande Gu err a.
No J apão , os pro ce ss os de a lte r idad e e m re la ção à Ch in a e ao O c iden te
r e inven tar am o J ap ão pa ra o s próprios j apon es es , co mo u m e xer c íc io de r es is tên c ia,
exp lorando mo dos b astan te p ar tic u lar es d e inter câmb io cu ltur al. Este projeto
propõ e a an ális e deste pro c esso, tendo em v ista id en tif icar de qu e ma n e ira as
conseqüên c ia s destas transfor mações deixar am de in teressar ap enas ao s j aponeses,
g erando d iscussões em mu ito s ou tro s p aíses, in clusiv e o Br asil (onde se concen tra a
ma io r co lôn ia japon esa do mundo). Para tan to, an alis a tóp icos esp ecíf ico s qu e
r e mon tam a p er íodos an ter ior es àqu e le em qu e a cr is e (f inanceir a e f ilosó f ica) foi
r econh e c ida co m ma is c lar e za ; e con tex tua liza o d eb a te em r e la ç ão a d is cus sõ es
po líticas pub licad as no Ocid en te e, recen temen te, tr adu z idas no Jap ão. (e.g:
Ag amb en, 2004, Slo terdijk 2002 , Espó sito 2008)
Fo r ma de aná lis e e mé todo s
E m te r mo s me to do lóg ico s, b a se io es ta pesqu is a na “ e co logia d e saber es”, propo sta
p e lo prof ess or d a Un ive rs id ad e Coimb r a Bo ave n tura de Sou za S an tos. P ara tan to,
pr etendo expor minh as leitur as e in terpr e ta ções a especialistas j apon eses, tendo
c o mo o b j e t ivo ava l i ar as l i mi t a ç õ es e “r e in v enç õ e s” d e cor r en te s d a m i n h a s i tu aç ão
d e p esqu isador a estrang e ira. I sso po rque, ev id en te me n te, po r ma ior que seja a
aprox imação co m o s d iv erso s obj eto s de estudo, esta p esqu isa tamb ém está ma r cada
por u m â ngu lo d e v is ão e po r inú me r as tradu çõe s. É a p ar tir d a í qu e e spero
c o labor ar co m a d iscu ss ão da s h ibr id açõ e s c u ltur ais j á ba s tante e v iden te e m
a l g u ma s d as exp er i ênc i a s r ea l i za d a s p e los p r ó p r io s a r t is t as e p esqu i sad o r e s
j aponeses. N ão se tr ata d e estud ar o Jap ão no Japão , ma s fund amen talmen te d e
a na lisa r os pro ce sso s de con tág io co m a cu ltura o c iden ta l, d en tro e for a d e lá.
P ar a a p u b lic a ç ão q u e d ev er á r esul t a r d e s t a p e squ i sa , o r g an iz ar e i, la d o a l ad o ,
e n s a ios e s cri t o s p o r mi m e f r ag me n tos d as en tr ev is t as c o m p e squ is ad o r es j ap o n es e s,
bu scando dar v isib ilidade às narr ativas, às vozes e às imagen s nem semp r e
apar en tes, dur an te o s pro cesso s d e tran scr iação, como propunh a Haro ldo d e
Camp os, com q uem cr iei o Cen tro d e Estudo s Or ien tais da PU C-SP em 1999,
coorden ado por mi m até hoj e. No site qu e d eve aco mp anh ar e atu a lizar o p rojeto , as
en trev istas serão d isponib ilizadas n a ín te gra, ao la do de ou tro s en saio s,
b ib liogr af ias e f ilmogr af ias.
Bib liogr af ia pr elimin ar sobre o d ebate po lítico en tre Or iente e O c iden te
Ag amb en, Giorg io O que é con tempor âneo e outro s ensaios. Argos, 2009.
1
No Centro de Estudos Orientais que coordeno na PUC-SP, desde 1999, recebemos 10
professores do Japão e de centros de estudos japoneses, sediados em outros paises.
Ag amb en, Giorg io Ho mo Sacer, o pod er sober ano e a v id a nu a I, tr ad. H enr ique
Bur igo. Belo Ho rizon te: U F MG, 2004.
Ah ma d, A ijaz Linh agens do Presen te . Bo itempo, 2003.
Bhabh a Homi O Lo cal d a Cu ltur a. Belo Hor izon te: UFMG, 2003 .
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Slo terd ijk Peter A mob ilização infin ita, p ara uma critica da cinética po lítica (Euro tao ís mo ),
tr ad. Pau lo O sór io d e Ca s tro . L isboa : Re lóg io D’Águ a, 2002.
A luno s que in tegram o proj eto
I n i c ia ç ão c ie n t íf ic a – ( 0 1 ) L a ís J esu s
ME Acad êmico- 05 (Célia To mi ma tsu, Andre Lap a, Andr e Lu is de O liveir a
Teob aldo, Rodr igo do s San tos, Marcela Can izo)
Dou tor ado-02 ( Mar co Sou za, Mich iko Ok ano)
Pó s-dou torado – 01 (Cecília Noriko Saito)
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Christine Greiner - PUC-SP