O negro e o trabalho no Brasil imperial Reinaldo Nishikawa CONTEXTUALIZAÇÃO É inegável a importância da mão-de-obra negra no Brasil imperial. Sendo tratados como ferramentas – substituíveis – pelos donos de engenhos e cafeicultores no país, esses trabalhadores imigrantes1 ajudaram a transformar a nossa cultura, a nossa sociedade, enfim, a nossa própria identidade. Mas como podemos compreender a escravidão utilizando-se das imagens retratadas no período? A própria historiografia, apenas tardiamente começou a analisar o negro enquanto agente de sua própria história. Tratado como um elemento de miscigenação racial (FREYRE, 2008), o negro visto sob esta ótica era simplesmente um dos elementos de compuseram nossa identidade, ao lado do europeu e do indígena e a própria escravidão ganhava conotações mais amenas. De outro lado, a partir da década de 1960, a historiografia tratou de “coisificar” o negro, mostrando-o como um ser passivo, sem atitudes perante o cruel tráfico de escravos e os duros trabalhos desempenhados por todo nosso território (CARDOSO, 2004). Apenas nas últimas décadas do século XX é que se começou a olhar para o negro como um ser que soube lidar com sua situação, obviamente, numa queda-de-braço desigual, conseguiu certa maleabilidade nos duros caminhos da escravidão (CHALHOUB, 2003). Mas se a historiografia partilhou de diversas interpretações, como os artistas da época viam a escravidão, ou melhor, retratavam esse momento? Vale lembrar que, a escravidão e todo seu processo eram considerados com algo “natural”, normal para toda sociedade. CONTEÚDO - escravidão; imagens de viajantes; 1 Vale ressaltar a importância de se compreender o fenômeno da escravidão ao Brasil como um processo imigratório. Os negros foram, depois dos portugueses o maior contingente de imigrantes a aportarem no Brasil entre os séculos XVI ao XIX, entretanto, é fundamental que se destaque que a imigração foi forçada (trabalho escravo); mas nem por isso, descaracteriza a imigração. ANÁLISE DA IMAGEM Viajantes, principalmente da Europa, partilhavam sua visão sob o cotidiano do negro em diversos quadros. Debret e Rugentas são dois importantes pintores do século XIX e nos ajudam a compreender melhor o Brasil daquele período. Nesse momento, é importante conhecer um pouco sobre esses dois renomados viajantes (veja os links abaixo) Na aquarela Casa de Rugendas é possível notar uma relação de proximidade entre os seus moradores (brancos e negros). Esse suposto convívio, entretanto, não indicava aproximações ou intimidades. Rugendas demonstra uma relação harmoniosa entre os membros da imagem, mas cabe uma questão: será que a relação entre brancos e negros partilhavam uma harmonia racial? É possível perceber 13 personagens, 12 retratados dentro do ambiente privado (casa) e um aguardando na porta de entrada; percebendo também que, no período colonial não havia diferenciações entre o que era ambiente privado e público. Percebam que a casa não possui repartições, indicando a não existência de ambientes separados do convívio familiar. 1) Ao tratar com os alunos sobre a imagem peça para que eles olhem atentamente para a pintura e peça uma primeira impressão. 2) Discuta a relação entre o universo público e privado. Como eles imaginam essas diferenças? O que é público e o que é privado? 3) Descreva quais elementos podemos destacar na imagem (móveis; hierarquia dos participantes; roupas trajadas. 4) Qual a imagem da relação entre os negros e os brancos a imagem apresenta? Segundo qual autor acima (Freyre, Cardoso e Chalhoub) melhor descreve essa visão? Textos de apoio: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Índios mestiços e selvagens civilizados de Debret reflexões sobre relações interétnicas e mestiçagens. Varia história, Belo Horizonte, v. 25, n. 41, jun. 2009. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752009000100005&lng=pt&nrm=iso DIAS, Elaine. A representação da realeza no Brasil: uma análise dos retratos de D. João VI e D. Pedro I, de Jean-Baptiste Debret. Anais do museu paulista, São Paulo, v. 14, n. 1, jun. 2006. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sciarttext&pid=S0101-47142006000100008&lng=pt&nrm=iso Referências: CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Cia das Letras, 2003. FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala – formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2008.