Unidade: Histórico do
Pensamento Científico
Autoria: Professor Flávio Sousa
Lattes:
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Junho de 20100
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
Idéias científicas
Pensar como um pesquisador é como fazer parte de um clube reservado.
Os critérios para adentrar este clube seleto o indivíduo deve portar-se com
isenção perante os fatos, deve ser questionador, deve estar desapegado de suas
idéias pré-concebidas, deve ser capaz de compreender e se expressar na
linguagem específica da área que pretende estudar, apenas para citar alguns.
Mas quem determinou estes critérios? Até que ponto eles devem ser
seguidos como dogmas, sem questionamento? Estas são perguntas que um
pesquisador certamente faria. Este texto busca subsidiar o leitor na confecção de
sua identidade como pesquisador, apresentando personalidades historicamente
relevantes que influenciaram o pensamento científico. A ciência como
conhecemos hoje baseia-se em dois pilares fundamentais: o racionalismo e o
empirismo. Nesta concepção, alguns períodos históricos são particularmente
relevantes, a antiguidade clássica, o renascimento e o iluminismo, obviamente
com repercussões até a atualidade.
Não interprete este material como um resumo, mas como uma compilação
histórica, uma linha do tempo. Não tente decorar aspectos específicos sobre
René Descartes ou Paul Feyerabend, mas busque compreender a essência e
relevância de suas obras.
Tales de Mileto (~624 a 557 a.C.) foi o primeiro filósofo ocidental de que
se tem notícia. Nasceu em Mileto, atual Turquia e é o marco inicial da filosofia
ocidental.
Tales é apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Considerava
a água como sendo a origem de todas as coisas, e seus seguidores, embora
discordassem quanto à ―substância primordial‖ (que constituía a essência do
universo), concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um
―princípio único" para essa natureza primordial.
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Antiguidade Clássica (600 a.C a 300 a.C.)
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No Naturalismo esboçou o que podemos citar como os primeiros passos
do pensamento teórico evolucionista: "O mundo evoluiu da água por processos
naturais", aproximadamente 2460 anos antes de Charles Darwin. Sendo seguido
por Empédocles de Agrigento na mesma linha de pensamento evolutivo:
"Sobrevive aquele que está melhor capacitado".
Tales foi o primeiro a explicar o eclipse solar, ao verificar que a Lua é
iluminada por esse astro. Segundo Heródoto, ele teria previsto um eclipse solar
em 585 a.C. Segundo Aristóteles, tal feito marca o momento em que começa a
filosofia. Se Tales aparece como o iniciador da filosofia, é porque seu esforço em
buscar o princípio único da explicação do mundo não só constituiu o ideal da
filosofia como também forneceu impulso para o próprio desenvolvimento dela.
Pontos de destaque: primórdios do pensamento evolucionista e
generalização de situações e matemátização dos problemas.
Pitágoras (~570 e 497 a.C.) foi um filósofo e matemático grego. Fundou
uma escola mística e filosófica em Crotona (colônias gregas na península itálica),
cujos princípios foram determinantes para a evolução geral da matemática e da
filosofia ocidental sendo os principais temas a harmonia matemática, a doutrina
dos números e o dualismo cósmico essencial.
Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos
números. Para eles, o número, sinônimo de harmonia, constituído da soma de
pares e ímpares - os números pares e ímpares expressando as relações que se
essência das coisas, criando noções opostas (limitado e ilimitado) e sendo a base
da teoria da harmonia das esferas. Perceba que, mesmo um nome envolvido em
grande avaços da ciência está envolto pelo que, atualmente, chamaríamos de
misticismo.
Segundo os pitagóricos, o cosmo é regido por relações matemáticas. A
observação dos astros sugeriu-lhes que uma ordem domina o universo.
Evidências disso estariam no dia e noite, no alterar-se das estações e no
movimento circular e perfeito das estrelas. Por isso o mundo poderia ser
chamado de cosmos, termo que contém as idéias de ordem, de correspondência
e de beleza. Também concluíram que a Terra é esférica, estrela entre as estrelas
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encontram em permanente processo de mutação -, era considerado como a
que se movem ao redor de um ―fogo central‖. Mas a maior descoberta atribuída a
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Pitágoras deu-se no domínio da geometria e se refere às relações entre os lados
do triângulo retângulo. A descoberta foi enunciada no teorema de Pitágoras.
Pitágoras e os pitagóricos investigaram as relações matemáticas e descobriram
vários fundamentos da física e da matemática.
Durante o século IV a.C., verificou-se, no mundo grego, uma revivescência
da vida religiosa. Pitágoras seguia uma doutrina que concebia que todas as
coisas são números e o processo de libertação da alma seria resultante de um
esforço basicamente intelectual. A purificação resultaria de um trabalho
intelectual, que descobre a estrutura numérica das coisas e torna, assim, a alma
como uma unidade harmônica. Os números não seriam, neste caso, os símbolos,
mas os valores das grandezas, ou seja, o mundo não seria composto dos
números 0, 1, 2, etc., mas dos valores que eles exprimem. Assim, portanto, uma
coisa manifestaria externamente a estrutura numérica, sendo esta coisa o que é
por causa deste valor. Percebam a ironia envolvendo Pitágoras: os números, que
são tidos como a quintecencia da razão, serviram como subsídios para doutrinas
místicas. ―Todas as coisas se assemelham aos números‖.
Pontos de destaque: matemátização dos problemas; considerava a
razão mais poderosa que os sentidos; tendências místicas.
Demócrito de Abdera (~460 – 370 a.C.) nasceu na Trácia (atualmente
Grécia). Sua fama decorre do fato de ele ter sido o maior expoente do atomismo
(tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos).
conceito de um universo infinito, onde existem muitos outros mundos como o
nosso.
Embora amplamente ignorado em Atenas durante sua vida, a obra de
Demócrito foi bastante conhecida por Aristóteles e, no renascimento, muitas de
suas idéias foram aceitas, e tiveram um papel importante durante o iluminismo.
Na concepção de Demócrito, o cosmo não é determinado por um poder que
estivesse acima dele e o submetesse a algum plano ou finalidade, mas sim pelo
movimento imanente do próprio cosmo, sua idéia de necessidade era intrínseca à
de acaso, e a de ordem, intrínseca à de caos. Esse modo de pensar foi
amplamente difundido e permeia toda a filosofia e ciência modernas, desde
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Demócrito sistematizou o pensamento e a teoria atomista. Avançou também o
Giordano Bruno, Galileu Galilei e Espinoza até a física quântica e a cosmologia
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atual, passando pela teoria da evolução das espécies. Muitos consideram que
Demócrito é "o pai da ciência".
Pontos de destaque: advogava à favor da percepção como forma de
conhecer o mundo; não acreditava em uma finalidade para a existência –
esta concepção de acaso + equilíbrio é crucial para o raciocínio científico
moderno. Não se acredita em finalidade, mas em consequências (pense
nisso).
Sócrates (469 – 399 a.C.) foi um filósofo ateniense, um dos mais
importantes ícones da tradição filosófica ocidental. As informações sobre
Sócrates provém de Platão, Xenofonte e Aristóteles, pois não deixou nenhum
escrito de sua própria autoria. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos,
todavia escalava a beleza entre as maiores virtudes, junto à bondade e à justiça e
dedicava-se ao parto das idéias (maiêutica).
A maiêutica socrática funcionava a partir de dois momentos essenciais: (1)
Sócrates levava os seus interlocutores a apresentarem suas próprias concepções
e teorias acerca de algum assunto; (2) ele conduzia os interlocutores a uma nova
perspectiva acerca do tema. Por exemplo, quando estava sendo julgado por
heresia e por corromper a juventude, demonstrou as crenças errôneas de seus
juízes pelo médodo de Elenchus (envergonhar o debatedor).
Nunca proclamou ser sábio, sempre dizia que sua sabedoria era limitada à
sua própria ignorância (só sei que nada sei). Sócrates acreditava que os atos
pessoas a se sentirem ignorantes de tanto perguntar, problematizando sobre
conceitos que as pessoas tinham como dogmas, verdades. De tanto questionar,
principalmente os sábios, conseguiu vários inimigos.
Sócrates provocou uma grande ruptura na história da Filosofia grega, por
isso ela passou a considerar os filósofos entre pré-socráticos e pós-socráticos.
Os sofistas viajavam pelas pólis, onde discursavam em público e ensinavam suas
artes, como a retórica, em troca de pagamento. Sócrates se assemelhava
exteriormente a eles, mas não em pensamento, e sua pobreza era prova de que
não era um sofista. Para os sofistas tudo deveria ser avaliado segundo os
interesses do homem e da forma como este vê a realidade social (subjetividade).
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errados eram consequências da própria ignorância e sua intenção era levar as
Sob este ponto de vista, as regras morais, as posições políticas e os
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relacionamentos sociais deveriam ser guiados conforme a conveniência
individual.
A questão primordial para o sofista não era a busca pela verdade (uma vez
que acreditam na ralativisação), mas era estar certo; vencer o debate. Para este
fim qualquer pessoa poderia se valer de um discurso convicente, mesmo que
falso ou sem conteúdo. Os sofistas usavam, de fato, complicados jogos de
palavras, no discurso para demonstrar a verdade que se pretendia alcançar, este
tipo de argumento ganhou o nome de sofisma.
Percebam como isto é particularmente prejudicial para o conhecimento
científico; a sofística prejudica os fundamentos do conhecimento, já que tudo
seria relativo e os valores seriam subjetivos, assim como impedia o
estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantissem
os mesmos direitos para todos os cidadãos da pólis.
Sócrates forneceu um contra-ponto (voluntário ou não) à sofística:
defendeu o mote apolíneo "conhece-te a ti mesmo", que pode funcionar para o
pesquisador como uma auto-crítica, em um procedimento que mais tarde veio a
ser denominado falseabilidade.
Ponto de destaque: certamente Sócrates, um dos mais famosos
filósofos de todos os tempos foi relevante em inúmeros aspectos, mas
destacaremos apenas o desapego das certezas pessoais – isso é crucial
para um pesquisador.
autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a
primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Por volta dos 20
anos, ele encontrou o filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte
deste. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão
ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia
ocidental.
Platão desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente
com dois tipos de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira é a realidade
imutável, ideal. A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, que
seriam realidades dependentes, mutáveis e são imagens das realidades
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Platão (427 – 347 a.C.) foi um filósofo e matemático da Grécia Antiga,
inteligíveis.
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O mundo concreto percebido pelos sentidos seria uma pálida reprodução
do mundo das Idéias. O foco de Platão são coisas como o ser humano, o bem ou
a justiça, mas suas idéias podem ser ilustradas com objetos simples. Cada objeto
concreto que existe participa, junto com todos os outros objetos de sua categoria
de uma Idéia perfeita. Um caderno, por exemplo, terá determinados atributos
(cor, formato, tamanho etc). Outro caderno terá outros atributos, mas ainda assim
será um caderno. Aquilo que faz com que os dois sejam cadernos, para Platão, a
―idéia de caderno‖, perfeita, que esgota todas as possibilidades de ser caderno.
Isso implica que Platão não buscava as verdadeiras essências da forma
física como buscavam Demócrito e seus seguidores. Ele buscava a verdade
essencial das coisas e não poderia buscar a essência do conhecimento nas
coisas concretas, pois estas seriam corruptíveis; variam, mudam, surgem e
desaparecem. Como o filósofo busca a verdade plena, deve buscá-la em algo
estável, nas verdadeiras causas, pois logicamente a verdade não pode variar e,
se há uma verdade essencial para os homens, esta verdade deve valer para
todas as pessoas. Logo, a verdade deve ser buscada em algo superior. Esta
busca racional seria contemplativa, no interior do próprio homem, como
participante das verdades essenciais do ser e não através da percepção material.
Quanto ao mundo material, o homem poderia ter somente a doxa (opinião)
e téchne (técnica), que permitia a sua sobrevivência, ao passo que, no mundo
das idéias, o homem pode ter a épisthéme, o conhecimento verdadeiro, o
conhecimento filosófico. Platão não defendia que todas as pessoas tivessem
chegavam à contemplação absoluta do mundo das idéias. Percebam que as
concepções platônicas estão fortemente difundidas na sociedade atual. Foram
idéias que foram adquirindo novas conotações com o passar das épocas, mas
frequentemente ligadas às religiões.
Pontos de destaque: racionalização para chegar à verdade (apesar de
ser uma verdade com que todos possam concordar mas ninguem possa
ver).
Aristóteles (384 – 322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Platão e
professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos são abrangentes e tratam de
física, metafísica, poesia, teatro, música, lógica, retórica, governo, ética, biologia
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igual acesso à razão. Apesar de todos terem a alma perfeita, nem todos
e zoologia.
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Ainda jovem partiu para Atenas para prosseguir os estudos na academia
de Platão, que enfocava preferencialmente a ciência (episteme) como
fundamento da realidade.
Posteriormente, fundou o Lykeion (liceu), onde ensinava ao ar livre, muitas
vezes sob as árvores que cercavam o liceu. O Liceu privilegiava as ciências
naturais e recebia exemplares da fauna e flora das regiões conquistadas por
Alexandre. O trabalho cobria os campos do conhecimento clássico de então,
filosofia, metafísica, lógica, ética, política, retórica, poesia, biologia, zoologia,
medicina e estabeleceu as bases de tais disciplinas quanto à metodologia. Sua
filosofia pretendia rever e corrigir as falhas e imperfeições das filosofias
anteriores. Ao mesmo tempo, trilhou novos caminhos para fundamentar as
críticas, revisões e novas proposições.
Aluno de Platão, Aristóteles discordava de uma parte fundamental de sua
filosofia. Platão concebia dois mundos existentes: o detectado pelos nossos
sentidos, o mundo concreto (em constante mutação) e outro mundo, o das idéias,
acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço.
Aristóteles, ao contrário, defendia a existência de um único mundo: o mundo em
que vivemos. O que está além de nossa experiência sensível é irrelevante.
Para Aristóteles, a lógica é um instrumento, uma introdução para as
ciências e para o conhecimento e baseia-se no silogismo, o raciocínio
formalmente estruturado que supõe certas premissas colocadas previamente
para que haja uma conclusão necessária. O silogismo é dedutivo, parte do
universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão,
logicamente, também será.
Aristóteles denominou filosofia primeira a ciência que se ocupa com
realidades que estão além das realidades físicas que possuem fácil e imediata
precepção sensorial. Seu ponto de vista sobre as ciências físicas influenciaram
profundamente o pensamento filosófico e teológico nas tradições judaicoislâmicas durante a Idade Média, e continua a influenciar a teologia cristã,
especialmente a ortodoxa oriental, e a tradição escolástica da Igreja Católica.
Pontos de destaque: defendeu o intelecto como e a reflexão como
fontes de conhecimento, porém, não desprezou a experiência sensível,
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universal para o particular; a indução, ao contrário, parte do particular para o
considerando irrelevante as considerações além desta.
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Epícuro de Samos (342 – 270 a.C.) foi um filósofo grego nascido na Ilha
de Samos. Quando criança estudou com o platonista Pânfilo por quatro anos e foi
bem avaliado. Certa vez ao ouvir a frase de Hesíodo: ―todas as coisas vieram do
caos‖, ele perguntou: e o caos, veio de que?
Com cerca de 60 anos fundou sua própria escola filosófica em Atenas,
chamada O Jardim, onde lecionou até a morte, cercado de amigos e discípulos.
Tendo sua vida marcada pelo ascetismo, serenidade e docilidade.
Epícuro sofria de cálculo renal e isso poderia ser um dado irrelevante,
mas, isso foi crucial para que desenvolvesse sua filosofia, pois sua vida foi
marcada pela dor. O propósito da filosofia para Epicuro era atingir a felicidade,
estado caracterizado pela ausência de dor física e serenidade da alma. Ele
buscou na natureza o embasamento para o seu pensamento: o homem como os
outros animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. Este seria o
melhor critério para assumir o que é bom ou ruim.
A caminho da busca da felicidade, estão as dores e os prazeres. As dores
físicas nem sempre seriam evitáveis, mas são efêmeras e podem ser suportadas
com as lembranças de bons momentos que a pessoa tenha vivido. Piores seriam
as dores da alma, que poderiam doer mesmo muito tempo depois de terem sido
despertadas pela primeira vez. Para essas, Epicuro recomenda a reflexão. As
dores da alma estão frequentemente associadas às frustrações. Em geral,
oriundas de um desejo não satisfeito. Assim, o ponto fundamental de sua
doutrina é o equacionamento entre dores e prazeres.
isso, foi uma doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo. O prazer de
que fala Epicuro é o prazer entendido como quietude da mente e o domínio sobre
as emoções e, portanto, sobre si mesmo. É o prazer da ponderado e não dos
excessos. Se um prazer traz consequencias desagradáveis, deve ser
considerado como algo ruim.
Utilizou a teoria atômica de Demócrito para justificar a constituição das
coisas. Tudo seria formado de átomos, porém de diferentes naturezas. Dizia que
os átomos são de qualidades finitas, de quantidades infinitas e sujeitos a infinitas
combinações (um grande salto na percepção da matéria). A morte física seria o
fim do corpo, que era entendido como somatório de carne e alma, pela
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A doutrina de Epicuro entende que o sumo bem reside no prazer e, por
desintegração completa dos átomos que o constituem. Assim, os átomos, eternos
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e indestrutíveis, estariam livres para constituir outros corpos. Essa teoria tinha a
finalidade de explicar os fenômenos naturais e eliminar os maiores medos
humanos: o medo da morte e o medo dos deuses. Os deuses, segundo ele,
viviam em perfeita harmonia, desfrutando da felicidade divina e deveriam ser
tomados como modelos de bem-aventurança para os homens.
Pontos de destaque: nova abordagem sobre o atomismo, falava de
conservação de matéria (futuramente proposto por Lavoisier) e pregava o
equilíbrio e a qualidade de vida, questões pertinentes em um mundo que
pretende ser sustentável.
Idade Média (300 d.C a 1350 d.C.)
Pensadores cristãos perceberam a necessidade de aprofundar sua fé
harmonizando-a com as exigências do pensamento filosófico. Desse modo a
Filosofia, que até então era marcadamente clássica e helenística, passou a
receber influências judaico-cristãs, incorporando temas como: "Fé", "Salvação",
"Providência e Revelação Divina" e "Criação a partir do nada". A partir do século
IX, desenvolveu-se a principal linha filosófica do período – Escolástica, que
combinava elementos do pensamento de Platão com valores de ordem espiritual,
reinterpretados pelo Ocidente cristão.
Santo Agostinho (354 a 430) foi influenciado pela filosofia neoplatônica
que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal, chegando a
teologia andam juntas e seriam as solucionadoras do problema da vida, ao qual
só o cristianismo poderia dar uma solução integral. Seu interesse central está
portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma. A natureza não entra
nos interesses filosóficos de Agostinho.
Pontos de destaque: marca o enfoque da filosofia medieval. Suas
idéias são consideradas a base do pensamento religioso atual.
Roger Bacon (1214 — 1294), foi um filósofo inglês que deu bastante
ênfase ao empirismo e ao uso da matemática no estudo da natureza e contribuiu
em áreas importantes como a Mecânica, a Filosofia, a Geografia e principalmente
a Óptica.
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uma concepção cristã da vida. Segundo a mentalidade agostiniana, a filosofia e a
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Bacon viveu um período em que os textos vindos do mundo árabe
(cruzadas) revolucionavam a vida intelectual do ocidente europeu, e ele viria a
ser um dos primeiros europeus de seu tempo a ensinar a filosofia de Aristóteles.
Dedicou-se a estudos nos quais introduziu a observação da natureza e a
experimentação como fundamentos do conhecimento natural. Descreveu o
método
científico
como
um
ciclo
repetido
de
observação,
hipótese,
experimentação e necessidade de verificação independente. Ele registrava a
forma em que conduzia seus experimentos em detalhes precisos a fim de que
outros pudessem reproduzir seus experimentos e testar os resultados (essa
possibilidade de verificação independente é parte fundamental do método
científico contemporâneo). Seus estudos da Óptica possibilitaram a invenção dos
óculos e foram imprescindíveis para a invenção de instrumentos como o
telescópio e o microscópio.
Ele propagou o conceito de "leis da natureza", em um período em que
ocorriam constantes modificações no pensamento filosófico e na filosofia da
natureza. Bacon sempre defendeu que a autoridade religiosa não devia ser
seguida irrestritamente, embora seus escritos mostrem as virtudes e não os
vícios da escolástica.
Roger Bacon se destacou pelo seu trabalho de alquimia, prática que ele
exercia em segredo. Após seu trabalho ser descoberto pela Igreja, foi perseguido
e preso por dez anos. Morreu pouco após sua liberdade ser concedida pela
Inquisição, com oitenta anos de idade.
método científico.
São Tomás de Aquino (1225 — 1274) foi um padre dominicano, teólogo,
distinto expoente da escolástica, proclamado santo pela Igreja Católica.
Seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do
mundo, introduzindo o aristotelismo na Escolástica, obtendo uma base filosófica
para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Definiu o ser humano
como uma unidade formada por corpo e alma.
Defendia que não poderia haver contradição entre fé e razão e acreditava
ser possível demonstrar a existência de Deus pela razão e propôs 5 vias de
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Pontos de destaque: deu os primeiros passos em popularizar o
demonstração: (1) Primeiro Motor Imóvel: Tudo o que se move é movido por
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alguém, logo deve haver um primeiro motor que iniciou o movimento mas que
não foi movido por ninguém. (2) Causa Primeira: é necessário que haja uma
causa primeira que por ninguém tenha sido causada. (3) Ser Necessário: seria
necessário que houvesse um ser que fundamente a existência dos demais seres
e que não exista por causa de outro ser. (4) Ser Perfeito: partindo-se de uma
escala de perfeição, Deus seria o parâmetro máximo. (5) Inteligência
Ordenadora: a ordem no universo seria fruto de uma inteligência; não se chegaria
à ordem pelo acaso ou pelo caos.
Essa perspectiva é aceita atualmente por físicos teóricos que estudam as
causas primeiras ou a origem do universo, questões que se equilibram nos limites
da ciência. Um biólogo evuciocionista, entretanto, não menosprezaria a
capacidade do acaso ―criar‖ ―ordem‖ (termos entre aspas pois o que podemos
identificar como ordem pode ser apenas um período de estabilidade num tempo
geológico – algo como o instante em que um objeto arremessado para cima fica
parado, antes de cair.
Segundo Santo Tomás há uma Lei Divina, revelada por Deus aos homens;
há uma Lei Eterna, pela qual Deus ordena o universo (não necessariamente
divulgada ao homem) e uma Lei Natural, que seriam as concepções humanas
sobre a Lei Eterna. Existe ainda a Lei Positiva, feita pelo homem, para possibilitar
a vida em sociedade. Esta deve estar subordinada à Lei Natural, sob pena de se
tornar uma lei injusta.
Pontos de destaque: sua busca por Deus pela razão e a dualidade
John Duns Scotus (1266 – 1308) foi um dos mais influentes filósofos da
idade média. Trabalhou em diversas áreas da filosofia como: teologia, metafísica,
teoria do conhecimento e ética.
Em seus esforços em compreender Deus, Scotus contradisse Santo
Tomás de Aquino. Scotus acreditava na causa primeira (Deus), mas também
dizia que a origem das coisas poderia afastar-se da sua criação, algo como a
vida de um filho tornando-se independente do pai depois de um tempo. Dizia,
também, que buscar comprovar Deus era como comprovar o infinito.
Percebam a contradição.
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corpo/alma permanecem até os dias atuais.
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Em sua teoria do conhecimento, Scottus postulava que a mente dos recém
nascidos encontravam-se ―em branco‖ (tábula rasa) e que seria, aos poucos,
preenchida pelas informações sensoriais. Negava a ―iluminação‖ como fonte de
conhecimento e dizia que mesmo quando a razão trabalhava, o fazia baseandose no mundo material.
Pontos de destaque: demonstrou, por complexos mecanismos
lógicos, a irrelevância de algumas discussões filosóficas para a ciência e
disse que os conhecimentos se originam a partir dos sentidos.
Renascença (~1350 – 1650)
O Renascimento foi o período histórico marcado por revoluções em vários
aspectos vida medieval. É difícil precisar se a origem da renascença foi
econômica, cultural ou religiosa, mas de uma forma geral, devemos entender
este momento como sendo de muitas críticas às ―verdades‖ estabelecidas
durante a idade média. Obviamente, estas manifestações refletiram em todos os
âmbitos da sociedade.
Para os pensadores da época, a efervecência cultural era vista como a
liberdade de se expressar, depois de mil anos de silêncio. Neste clima, filósofos e
cientistas divulgavam seus pensamentos. Mas, talvez guardassem algumas
idéias para si, pois a inquisição ainda atuava.
Erasmo de Roterdan (Desiderius Erasmus) (1469 — 1536) foi um teólogo
várias caracterísitcas que julgava negativas na Igreja Católica. Ele não era
necessariamente contra a Igreja, mas buscava corrigir algumas de suas
instituições. Erasmo era simpático às idéias de Lutero1, porém não tomou partido
na guerra religiosa que iniciava.
Viajou muito durante sua vida, buscando o conhecimento livre de afiliações
acadêmicas ou religiosas. Inclusive existe um progama de intercâmbio
acadêmico que leva seu nome (Erasmus Mundus).
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e um humanista holandês. Sua vivência como monge fez com que criticasse
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Martinho Lutero (1483 – 1546) foi um padre e professor de teologia alemão a quem se atribui o início da
Reforma Protestante.
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Pontos de destaque: buscava integrar a razão e a espiritualidade,
adequando os dogmas.
Francis Bacon (1561 – 1626) foi um político e pensador inglês. É
considerado por alguns como o fundador da ciência moderna, mas vários
pensadores da renascença receberam este título.
Destacou-se pela exaltação da ciência como benéfica para o homem. Em
suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica e do
empirismo. Ele propôs realizar o que chamou de Grande Resturação, projeto que
visava superar e substituir o método de Aristóteles.
Para Bacon, o conhecimento científico teria a finalidade de servir o homem
e dar-lhe poder sobre a natureza, característica que não era desenvolvida pela
Escolástica. Ele criticava também o conceito de ciência da antiguidade clássica,
porém se inspirou nos escritos de Demócrito. Defendia que a ciência deve ser
algo prático e não meras divagações. Percebam como esta concepção já se
assemelha bastante ao que vemos atualmente.
Analizou, inicialmente, as falsas noções que chamou de ídolos. Estes
ídolos seriam os grandes responsáveis pelos erros dos homens da ciência. Esses
ídolos foram classificados em quatro grupos: (1) Ídolos da tribo: seriam próprios
de todas as pessoas; sera a facilidade com que generalizamos com base nos
casos favoráveis e omitindo os desfavoráveis. Em outras palavras, tomamos
como verdade o que nos é oportuno. (2) Ídolos da caverna: seriam as pressões
na alegoria da caverna platônica. (3) Ídolos da falácia: estes estão vinculados ao
mau uso que fazemos da linguagem em uma alusão aos exercícios de retórica,
onde conseguia-se vencer uma discussão sem necessariamente estar certo. (4)
Ídolos da autoridade: decorrem do abuso e da subordinação irrestrita às
autoridades, filosóficas, religiosas, etc. Ainda hoje devemos considerar estes
ídolos como inimigos da ciência e da pesquisa.
A constatação de fatos verdadeiros não dependeria meramente do
silogismo mas da observação e da experimentação regida pelo raciocínio
indutivo. O conhecimento verdadeiro seria resultado da observação dos padrões
dos fenômenos, que apontariam suas causas reais. Para isso, deve-se descrever
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culturais que por vezes nos impedem de ver algo desprezado pela maioria, como
os fatos observados com o maior nível de detalhamento possível para, em
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seguida, confrontá-los com três tábuas que disciplinarão o método indutivo: (1) a
tábua da presença: onde se registrarão as evidencias do fenômeno que se
investiga. (2) a tábua de ausência: onde se registrarão as circunstâncias onde o
fenômeno é ausente. E (3) a tábua da comparação: onde se registram as
variações dos fenômenos. Assim busca-se eliminar ruídos entre causas e efeitos
e diferenciam a observação anedótica (realizadas ao acaso) da observação
escriturada (metódica e passível de verificações empíricas).
Como todo pioneirismo, seu método possui algumas falhas, mas tem seu
mérito pela compilação inédita e pela excelente escrita.
Pontos de destaque: Efetivamente, Bacon não realizou nenhum
grande progresso nas ciências naturais. Seu grande mérito foi ter esboçado
uma metodologia racional para a atividade científica. Neste sentido, foi um
exemplo de homem da renascença.
Galileu Galilei (1564 — 1642) foi um físico, matemático, astrônomo e
filósofo italiano que teve um papel preponderante na chamada revolução
científica.
Galileu desenvolveu os primeiros estudos sistemáticos do movimento
uniformemente acelerado e do movimento pendular. Descobriu leis precursoras
da mecânica de Newton. Galileu melhorou o telescópio refrator, fez várias
descobertas em astronomia e passou a defender o heliocentrismo. A Inquisição
pronunciou-se sobre o heliocentrismo, declarando-o herético, uma vez que
alguns
julgamentos,
que
culminaram
na
sua
condenação
em
abjurar
publicamente as suas ideias e à prisão por tempo indefinido. Apesar de seus
livros terem sido incluídos na ―lista negra‖ da Igreja Católica‖ continuaram a ser
publicados em países protestantes.
O físico desenvolveu, ainda, vários instrumentos como a balança
hidrostática, um de compasso geométrico para medir ângulos e áreas, o
termómetro de Galileu e o precursor do relógio de pêndulo. Pela sua abordagem
matemática nos estudos, foi denominado o pai da física e da matemática.
Contudo a principal contribuição de Galileu foi para o método científico. O método
empírico, defendido e praticado por Galileu, constituiu um rompimento com o
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
afirmar que a Terra se move estava "teologicamente" errado. Foram realizados
14
método aristotélico mais abstrato utilizado à época. Devido a isto, ele é
considerado como o "pai da ciência moderna" (também).
Pontos de destaque: promoveu desenvolvimento efetivo da física
(mecânica e astronomia) e contribuiu enormemente para o método
científico. É considerado como um marco do rompimento da ciência com a
filosofia.
René Descartes (1596 — 1650) foi um filósofo, físico e matemático
francês.
É famoso principalmente pelo seu trabalho revolucionário na filosofia e na
ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da
álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de
coordenadas que hoje leva o seu nome (coordenadas cartesianas). Descartes foi
uma das figuras-chave na Revolução Científica e é tido como fundador da
filosofia moderna e "pai da matemática moderna". Descartes mostrou como
traduzir problemas de geometria para a álgebra (que eram considerados ramos
completamente distintos da matemática), abordando esses problemas através de
um sistema de coordenadas.
Estudiosos da filosofia da ciência afirmam que a partir de Descartes
inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. O pensamento de Descartes foi
revolucionário para a sociedade feudalista em que nasceu, em que a influência
da Igreja era muito forte e não existia uma tradição de "produção de
conhecimento". Suas inspirações e motivações, devem-se, provavelmente, ao
um período marcado pela rivalidade entre Protestantes e Católicos. Como ele
viajou muito e viu que sociedades diferentes têm crenças diferentes, teve
dificuldade em tomar partido nesta disputa, pois assumia determinadas
―verdades‖ como relativas. Em outras palavras, o que é tido como verdade em
uma região pode ser herético ou mesmo ridículo em outra, pois a tradição cultural
de um povo influencia o pensamento e crenças das pessoas.
Esta mentalidade influenciou o método cartesiano, que consiste no
Ceticismo Metodológico em que duvida-se de cada ideia que não seja clara e
distinta. Descartes instituiu a dúvida, contrariando esssencialmente os gregos e
escolásticos, afirmando que só se pode dizer que existe aquilo que puder ser
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
momento social em que viveu e a sua experiência pessoal. Descartes viveu em
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provado. O leitor provavelmente identifica esta premissa como algo ualmente
associado à postura científica.
Seu método consiste de quatro regras básicas: (1) verificar se existem
evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada; (2) dividir
ao máximo os fenômenos ou coisas estudadas em suas unidades mais simples e
estudar essas unidades (perspectiva denominada futuramente de reducionismo);
(3) reagrupar as unidades estudadas em um todo verdadeiro; (4) enumerar todas
as conclusões e princípios utilizados, mantendo a linha de pensamento.
Ele dividia a realidade em mente matéria, mantendo as atribuições
imateriais à cognição. Acreditava no determinismo de uma inteligência criadora
(Deus) que teria criado o universo como um perfeito mecanismo que funcionava
sem intervenção desde então.
Decartes publicou ―Os Princípios da Filosofia‖, onde resumiu os princípios
filosóficos que formariam o esqueleto do que conhecemos como ciência. Mas
vale resaltar que apesar de ter elaborado um método para buscar a verdade, não
tinha pretenções de que seu médodo fosse definitivo, como destaca em ―Discurso
do método‖: ...―meu propósito não é ensinar aqui o método que cada um deve
seguir para bem conduzir sua razão, mas apenas mostrar de que maneira
procurei conduzir a minha.‖ Razoável, não?
Pontos de destaque: defende o método matemático como modelo
para a aquisição de conhecimentos em todos os campos. Contribuiu
enormemente para o método científico, acreditando nos sentidos, porém
Iluminismo (cerca de 1650 – 1800)
Sir Isaac Newton (1643 – 1727) foi um cientista inglês, mais reconhecido
pelos seus trabalhos como físico e matemático, embora tenha sido também
astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo.
Pelas suas realizações e pelo poder unificador e profético de suas leis foi
respeitado como nenhum outro cientista e sua obra marcou efetivamente uma
revolução científica, difundindo a noção de que a investigação racional pode
revelar o funcionamento mais intrínseco da natureza. Assim, seus estudos foram
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
não muito.
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vistos como chaves que abriram portas para diversas áreas do conhecimento
cujo acesso era impossível antes de Newton.
Newton obteve êxito não apenas em utilizar o método proposto por seus
predecessores, mas também divulgar com precisão seus feitos, entre eles estão
o Teorema Binomial, o cálculo, a Lei da Gravitação Universal e a natureza das
cores.
Pontos de destaque: criou um modelo de ciência pautado na
utilização da análise e da síntese, por meio da indução para explicar os
eventos naturais. Partiu da observação para elaborar hipóteses testáveis.
David Hume (1711 – 1776) foi um filósofo e historiador escocês.
Sua obra, ―Tratado da Natureza Humana‖ foi uma (talvez a primeira)
tentativa de introdução do método de raciocínio experimental nas ciências morais
(que atualmente chamariamos de humanas). Ele parte do princípio de que todas
as idéias são subprodutos da percepção, porém corrompida pelas emoções e
paixões.
Sua conclusão é que não existiria nenhuma percepção autêntica da
realidade, apenas manifestações do hábito e das espectativas. Assim, como a
percepção da realidade seria explicada como uma ilusão psicológica, não teria
valor de verdade.
Hume ironizava a forma pela qual somos corrompidos pelos nossos
preconceitos e acabamos tentados a acreditar em coisas que racionalmente
milagre é impossível porque contraria a experiência, as leis da natureza. Em
compensação, a crença popular nos milagres (explicável pelas leis que governam
a imaginação crédula dos homens) é muito natural. "A ignorância humana é tão
frequente, que alguém acreditaria que os acontecimentos mais extraordinários
nascem do milagre, ao invés de admitir uma inverossímil violação das leis da
natureza".
A perspectiva de Hume pode, a princípio parecer retornar às discussões
clássicas sobre a realidade, mas, admiravelmente pode ser corroborada por
vários experimentos atuais que questionam nossa capacidade de perceber e
interpretar a nossa realidade. Para o pesquisador esta visão de mundo é
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
sabemos impossíveis. Em seu célebre Ensaio Sobre os Milagres, afirma que o
particularmente interessante pois leva-o a questionar suas premissas, seus
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experimentos e mesmo seus resultados. Isso é bom para a manutenção da
―verdade‖ mas pode ser frustrante individualmente, pois o perquisador deve se
colocar em uma situação de constante fragilidade perante suas certezas.
Pontos de destaque: defendeu que os conhecimentos provinham dos
sentidos, mas acrescentou que as idéias sobre o mundo eram meras
consequencias
das
associações
mentais
sobre
a
percepção.
Particularmente importante para a formação da mentalidade do cientista.
Denis Diderot (1713 – 1784) foi um filósofo e escritor francês. A primeira
obra relevante em sua carreira literária foi ―Cartas sobre os cegos para uso por
aqueles que veem‖. Nesta obra, ele sintetiza a evolução de seu pensamento
desde o deísmo até o ceticismo e materialismo ateu. Por esta obra, ele foi preso.
Dedicou-se, posteriormente, à editoração do "Dicionário lógico das
ciências, artes e ofícios" que preparou ideologicamente a Revolução Francesa.
Mas a sua obra prima foi a edição da Encyclopédie (1750-1772), maior
compilação do conhecimento acumulado da humanidade até então.
Diderot tinha fé no progresso contínuo, com a certeza de que a ciência
elucidará os enigmas do mundo e de que a religião deve se circunscrever a uma
modesta tarefa de regrar o comportamento prático do homem, de que a
tecnologia irá construir o futuro econômico das sociedades e de que a política é a
arte de eliminar as desigualdades sociais.
Preocupava-se sempre com a condição humana e seus problemas morais.
homem só será livre quando o último déspota for estrangulado com as entranhas
do último padre", tornada célebre durante a Revolução Francesa.
Pontos de destaque: elaborou uma concepção de aprendizagem
baseada na ciência, tipica dos dias atuais.
Modernidade (cerca de 1800 – 1945)
Auguste Comte (1798 — 1857) foi um filósofo francês, fundador da
Sociologia e do Positivismo.
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
Seu pensamento sobre a nobreza e o clero se exprime na seguinte frase: "o
18
A filosofia positiva de Comte nega um princípio único para explicar os
fenômenos naturais e sociais. O Positivismo desconsidera as causas dos
fenômenos, sejam elas naturais ou sobrenaturais, mas pesquisa suas leis, que
seria as manifestações constantes entre os fenômenos observáveis. Comte
assinalou quatro acepções para a palavra ―positivo‖: real, útil, certo e preciso.
A Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia eram
ciências pois adotavam critérios históricos e sistemáticos. Comte, em sua nova
ciência, a Sociologia, usaria a observação, a experimentação, a comparação e a
classificação como métodos para o conhecimento da realidade social. Ele
assumiu que os fenômenos sociais podem e devem ser percebidos como
fenômenos da natureza, obedecendo a leis gerais, lembrando que os fenômenos
sociais são um tipo específico de realidade teórica e que devem ser explicados
em termos sociais.
Partindo do presuposto de que o ser humano estaria progredindo
intelectualmente, Comte elaborou a ―Lei dos Três Estados‖. As sociedades
passariam pelos seguintes estados ―evolutivos‖: (1) teológico ou fictício: onde os
fatos observados são explicados pelo sobrenatural. (2) metafísico ou abstrato: se
pesquisa diretamente a realidade, mas com resquícios de explicações
sobrenaturais. E (3) científico ou positivo: os fatos são explicados por leis gerais
abstratas, de ordem positiva.
O método positivo caracteriza-se pela observação do que é real. No
entanto, deve-se perceber que cada tipo de fenômeno tem suas particularidades,
diferente.
Não é possível fazer ciência sem a participação ativa da subjetividade
individual (imaginação), mas é importante que essa subjetividade seja a todo
instante confrontada com a realidade, supostamente objetiva.
Aliando estas perspectivas, haveria um método geral para a ciência
(imaginação subordinada à observação), mas não um método único para todas
as ciências.
O Positivismo defende a idéia de que o conhecimento científico é a única
forma de conhecimento verdadeiro. Desconsiderando as outras formas de
conhecimento humano que não possam ser comprovadas cientificamente, que
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
de modo que o método específico de observação para cada fenômeno será
acabam relegadas ao domínio teológico-metafísico.
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Para os Positivistas o progresso da humanidade depende única e
exclusivamente dos avanços científicos, único meio capaz de transformar a
sociedade e o planeta Terra no paraíso utópico reconizado pelas gerações
anteriores. O conhecimento positivo busca conhecer a realidade e realizar
previsões a partir de nossas ações, para que o ser humano possa melhorar sua
realidade, segundo o mote "ver para prever, a fim de prover".
Apesar
das
boas
intenções
positivistas,
existem
muitas
críticas
desfavoráveis. O positivismo criou a idéia de que o conhecimento científico é
perfeito, de que a ciência caminha sempre em direção à melhoria e de que a
tecnologia desenvolvida pela ciência responderá a todas as necessidades
humanas. Segundo os críticos, bastaria observar os desmandos ambientais e
sócio-culturais realizados em prol do progresso para verificar que nem sempre o
progresso é sinônimo de melhora.
Além disso, o positivismo elevou o cientista a um estado de superioridade
pois ele, através do método científico, seria o único capaz de captar a verdade
por trás de um fenômeno. O que não seria verdade, pois a ciência é uma
atividade humana, movida por interesses e paixões, escolhas e objetivos prévios,
sempre marcada pela ideologia do pesquisador e/ou da comunidade científica
que o fomenta.
Pontos de destaque: criador do Positivismo, doutrina ideológica que
assume que apenas o conhecimento científico é verdadeiro.
a comunidade científica propondo uma teoria que explica como se dá a evolução
por meio da seleção natural e sexual.
Raramente lembrado como um pensador, Darwin certamente foi um dos
pesquisadores mais relevantes de todos os tempos ao estabelecer o paradigma
central para explicação de diversos fenômenos na Biologia e, ao mesmo tempo,
promover uma mudança na perspectiva mundial para uma das perguntas
essenciais: de onde viemos?
O grande marco de sua vida foi a viagem de cinco anos a bordo do HMS
Beagle. Sua eficácia como observador, a qualidade de seus registros e sua
capacidade de organização levaram-no, em 1838, ao desenvolvimento da teoria
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
Charles Darwin (1809 — 1882) foi um naturalista britânico que convenceu
da Seleção Natural. Consciente de que outros antes dele tinham sido
20
severamente ridicularizados por sugerir idéias como aquela, ele compilou uma
enorme quantidade de evidências antes de divulgar sua pesquisa tentando
antecipar prováveis objeções. Contudo, paralelamente aos seus estudos, Alfred
Russel Wallace, outro naturalista, tinha desenvolvido uma ideia similar. Como ele
teria os louros, apesar de Darwin possuir mais e mais bem documentados dados,
suas teorias foram publicadas em conjunto em 1858.
Pontos de destaque: exemplo de sistemata do conhecimento; gerou e
organizou uma enorme quantidade de dados que embasaram a formulação
de uma das mais importantes teorias da humanidade. Suas análises se
provaram tão eficazes, que mesmo diante de um cenário desfavorável
suplantaram a resistência inicial.
Circulo de Viena (entre 1929 e 1937, aproximadamente). No início do
século XX, na Áustria, surgiu um movimento de filósofos, cientistas, economistas
e juristas responsável pela criação de uma corrente de pensamento denominada
positivismo lógico. Este movimento de investigação tentava buscar nas ciências a
base de fundamentação de conhecimentos tidos como verdadeiros. O grupo
constatou que o conhecimento possui valor de verdade devido à sua vinculação
empírica, ou seja, o conhecimento científico é verdadeiro quando se relaciona à
experiência. Entretando, estes pensadores assumiram que não poderiam
abandonar a lógica e a matemática, e seus avanços na virada do século.
Desta forma, o grupo definiu sua busca da verdade como a descrição da
(positivismo lógico ou empirismo lógico).
A principal contribuição do Círculo de Viena é o conceito de
verificabilidade, onde determinada proposição só possui significado para os que
são capazes de indicar em que condições ela seria verdadeira, e em quais seria
falsa. Isso equivale a apontar as possibilidades empíricas de verificar a verdade
ou falsidade da proposição em questão, mas não permite conferir verdade a
nenhuma proposição ou lei de caráter geral, dado que a experiência só apresenta
casos particulares. Assim, embora não haja possibilidade de atingir uma
confirmação absoluta, quanto mais evidências empíricas se obtiver a seu favor,
maior o grau relativo da dita lei, proposição ou teoria em questão. Fala-se, então,
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
experiência, auxiliada pelas regras da lógica e dos procedimentos matemáticos
em verdades relativas ou melhores verdades para determinadas condições.
21
Em decorrência da verificabilidade, tópicos metafísicos com "ser" e "nada"
não são passíveis de verificação, dada sua generalidade e ambiguidade, o que
torna sua discussão sem significado.
Pontos de destaque: definiu o empirismo lógico e o princípio da
verificabilidade.
Contemporaneidade (entre poucas décadas e a atualidade)
Karl Popper (1902 — 1994) foi um filósofo da ciência austríaco
naturalizado britânico. Ele é talvez mais bem conhecido pela sua defesa do
falsificacionismo como um critério da demarcação entre a ciência e a não-ciência,
e pela sua defesa da sociedade aberta.
A filosofia de Popper foi definida como Racionalismo Crítico, um indício da
sua rejeição ao empirismo clássico e ao observacionalismo-indutivista da ciência.
Ele argumentou que a teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não
é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que
os resultados de uma previsão efectuada com base naquela teoria se verificaram.
Se partimos de uma premissa que até então foi confirmada pelos fatos, é só isso
que esta premissa o é, nada mais.
A tarefa do cientista em sua busca pela verdade, seria buscar provas da
falsidade daquela teoria. Assim, uma teoria científica pode ser falsificada por uma
única observação negativa, mas nenhuma quantidade de observações positivas
Existem críticas contundentes quanto a esse aspecto e, nos dias de hoje,
verifica-se que o falsificacionismo popperiano é, tão somente, a atribuição de
graus de confiança ao objeto passível do crivo científico. Mais uma vez: melhores
verdades, uma vez que, para Popper, a verdade seria inalcançável, mas
devemos nos aproximar dela por tentativas.
O estado atual da ciência é sempre provisório e ao encontrarmos uma
teoria ainda não refutada pelos fatos e observações, devemos nos perguntar,
será que é isso mesmo? Ou devo pensar em uma forma de demonstrar que isso
é falso?
Pontos de destaque: criticou o princípio da verificabilidade e propôs
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
poderá garantir sua veracidade eterna e imutável.
o princípio da falseabilidade.
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Ernst Mayr (1904 – 2005) foi um dos maiores biólogos e filósofos da
ciência do século XX. A despeito de suas grandes contribuições para a biologia
evolutiva, trataremos apenas de uma de suas contribuições para a filosofia das
ciências. Mayr definiu que existe nas ciências um ramo que se dedica às ciências
exatas, que farão uso de várias ferramentas matemáticas, com fácil comprovação
empírica e reprodutibilidade. Em outro extremo existiriam as ciências históricas,
mais baseadas em comparações e analogias entre eventos, de reprodutibilidade
difícil ou impossível.
Esta concepção provavelmente advém do fato de a biologia (sua área de
estudos) ser muito diversa e apresentar situações bastante matemáticas e
reducionistas como as enfrentadas pela biologia molecular e, por outro lado,
existem situações onde apenas explicações históricas e sistêmicas seria
satisfatórias, como no caso da biologia evolutiva.
Mayr foi um grande crítico do que considerava como um autoritarismo das
ciências físicas sobre as demais ciências, pois a visão de ciência estaria restrita à
verificação e reprodutibilidade, típicos das áreas exatas.
Pontos de destaque: discute as idéias de Kuhn (a seguir) sobre
revolução científica e paradigma. Criticou o método científico atual que
prioriza as ciências exatas em detrimento de outras áreas do conhecimento.
Thomas Kuhn (1922 – 1996) foi um físico norte-americano cujo trabalho
incidiu sobre a História e filosofia da ciência, tornando-se um marco no estudo do
processo do desenvolvimento científico com a publicação do livro Estrutura das
A repercussão do livro foi tão grande na comunidade acadêmica que, na
segunda edição, Kuhn apresentou um pós-escrito, no qual seus pontos de vista
são, em alguma medida, refinados e modificados. A polêmica sobre sua obra gira
em torno da noção de paradigma científico e da falta de parâmetros comuns
entre os paradigmas.
Paradigma é a representação de um padrão a ser seguido. Em ciências,
consideramos o paradigma como um pressuposto filosófico ou um conhecimento
prévio que embasa a concepção de uma realização científica. Assim, se um
indivíduo pretende desenvolver trabalhos científicos em uma determinada área
do conhecimento, deve, antes, se familiarizar com os pressupostos (ou
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
Revoluções Científicas.
paradigmas) desta área.
23
Segundo Kuhn, a ciência se desenvolve historicamentenas seguintes
fases: (1) Estabelecimento de um paradigma: perspectiva que se aceita de forma
geral por toda a comunidade científica. (2) Ciência normal: período durante o qual
se desenvolve uma atividade científica baseada num paradigma, trabalhando sua
solidez. (3) Crise: quando o paradigma não é capaz de resolver todos os
problemas, que podem persistir longos períodos de questionamento do
paradigma. (4) Ciência Extraordinária: quando se criam novos paradigmas que
competem entre si. (5) Revolução científica: quando um dos novos paradigmas
substitui o paradigma tradicional.
Para Karl Popper (tratado anteriormente) a aproximação da verdade é feita
pela substituição de paradigmas que seriam, objetivamente melhores que os
anteriores. Kuhn critica esta idéia e afirma que dois paradigmas são
incomensuráveis, pois quando analizamos um novo paradigma, utilizamos,
frequentemente, o paradigma anterior como parâmetro.
Pontos de destaque: desenvolveu o conceito de paradigma,
propondo a idéia de que a ciência avançava em saltos quando os
pradigmas mudavam e porpôs a tese da incomensurabilidade dos
paradigmas.
Imre Lakatos (1922 – 1974) foi um filósofo húngaro que se dedicou à
matemática e à ciência.
A contribuição de Lakatos para a filosofia da ciência foi a tentativade de
resolver o conflito entre o falsificacionismo de Popper e as revoluções científicas
A teoria de Popper implica em uma substituição gradual de uma hipótese
―falseada‖ por uma mais poderosa. Kuhn, por sua vez, assume que os cientistas
permanecem utilizando um paradigma, mesmo em face de anomalias, até um
momento de revolução.
Para Lakatos, o que chamamos de teoria pode ser, na verdade, uma
sucessão de teorias sutilmente diferentes (programas de pesquisa), mas que
compartilham uma idéia comum, que ele chamou de ―hard core‖. Assim, algums
programas de pesquisa seriam melhores que outros e o pesquisador justificaria
sua escolha com base na idéia comum. Desde que o programa de pesquisa não
contrarie o hard core, poderia ser utilizado.
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
propostas por Kuhn.
24
Cada hard core está protegido com cinturão protetor que é justamente o
número de hipóteses auxiliares que o corroboram, o que vai definir o quão forte é
aquele programa de pesquisa. E este cinturão de hipóteses vai proteger o
programa, buscando explicar eventuais anomalias. De qualquer forma, os
cientistas devem ser céticos mesmo em relação às suas melhores teorias, pois o
comprometimento com uma teoria não seria uma virtude, mas um crime
intelectual.
Lakatos esteve particularmente preocupado com a distinção entre ciência
e superstição, ideologia ou pseudo-ciência; um problema de relevância política e
social. Algo pode ser pseudo-ciência mesmo que seja plausível e todos acreditem
ou pode ser ciência mesmo que ninguém acredite ou entenda.
Concluiu que um bom programa de pesquisa seria um que trouxesse a
descoberta de alguma novidade nunca antes considerada. Em programas
pseudo-científicos, entretanto, as hipóteses serviriam apenas para cooroborar
antigos ―paradigmas‖ e refutar novidades.
Como crítica a Lakatos, Paul Feyerabend, seu amigo pessoal, agumentou
que sua metodologia era apenas uma soma de palavras que soavam como
metodologia, mas que, na verdade, ele defendia um anarquismo metodológico,
posição defendida pelo próprio Feyerabend. Outra crítica é que, o critério de
cientificidade de Lakatos é praticamente utópico e altamente subjetivo.
Pontos de destaque: aprimorou o conceito de paradigma de Kuhn.
Paul Feyerabend (1924 — 1994) foi um filósofo da ciência austríaco. Suas
(1978). Feyerabend tornou-se famoso pela sua visão anarquista da ciência e por
sua suposta rejeição à existência de regras metodológicas universais.
Feyerabend teve seu primeiro contato com Karl Popper, que foi seu
orientador e teve uma influência muito grande em seus trabalhos posteriores, de
uma maneira positiva inicialmente, mas em seguida negativa.
Desenvolveu uma visão crítica da ciência, a qual mais tarde descreveria
como "anarquista" ou "dadaísta" para ilustrar sua rejeição ao uso dogmático das
regras. Sua posição era incompatível com a cultura racionalista contemporânea
na filosofia da ciência. Em Londres ele conheceu outro aluno de Popper, Imre
Lakatos. Eles planejaram escrever um diálogo intitulado A favor e contra o
Unidade: Histórico do Pensamento Científico
principais obras são Contra o método (1975) e Ciência em uma sociedade livre
método, em que Lakatos defenderia uma visão racionalista da ciência e
25
Feyerabend a atacaria. Como Lakatos morreu (1974), Feyerabend publicou
sozinho Contra o método em 1975. O livro é uma famosa crítica às visões
filosóficas da ciência e provocou muitas reações.
Feyerabend defende a idéia de que não há regras metodológicas
obrigatórias que devam ser utilizadas pelos cientistas. A fundamentação
restritiva do método científico limitaria as atividades dos cientistas, restringindo o
progresso científico. Desta forma, ele sugere que o anarquismo teórico seria
desejável por ser mais humanitário do que outros sistemas de organização. Ele
não afirma, entretanto, que os cientistas não devam utilizar a normalização ou os
métodos, e afirma que tais métodos são essenciais para o progresso científico.
Sua crítica está direcionada às determinações que pretendam julgar a
qualidade das teorias científicas pela comparação destas com os fatos. Segundo
ele uma teoria estabelecida pode influenciar a interpretação natural de um
fenômeno observado. Os cientistas fazem suposições implícitas quando
comparam teorias científicas aos fatos que observam. As suposições precisam
de ser mudadas de maneira a tornar uma nova teoria compatível com as
observações, e não negar o método porque o fato não se adequou à teoria
vigente.
Em sua opinião, a ciência tornou-se uma ideologia repressiva, embora
tenha surgido como um movimento de libertação. Uma sociedade pluralística
deve proteger-se de ser muito influenciada pela ciência, assim como por outras
ideologias, pois a ciência está permeada de ideologias ocultas nas entrelinhas.
restringe o desenvolvimento científico e propôs ressalvas quanto às
influências ideológicas das ciências.
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Pontos de destaque: criticou a metodologia científica quando ela
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Referências
APPOLONÁRIO, Fábio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo:
Makron Books, 1996.
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de
metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
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WIKIPÉDIA. Foi utilizada para encorpar as narrativas sobre alguns pensadores.
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Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Flávio Luis Leite Sousa
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